18 fevereiro 2015

Contradição

afirmam alguns
que a vida surgiu do nada

mas o que seria o nada?

de duas
uma:

I
– a toda vida que há
surgiu do nada que não é?
mas como
se até na matemática
qualquer número
vezes zero
é sempre zero?

ou o nada
é só um nome que damos
às causas
que não alcançamos
em nossos limites?

II – ou então o nada
é o nada mesmo
e ponto.

nesse caso
a vida que vemos
também é um nada

se é um nada
não existe

ou existem nadas
que existem?

e quem vê o que não existe
se só acredita vendo
acredita no que não existe

como pode o que não existe
existir?


16 fevereiro 2015

a uma Serpente

entre o sim e o som
silência o céu
e o segredo

a calma de alma
que nunca passa
teu sempre sábio
sol de sonata

adagio largo
a calma da água
que nada
(a)tinge

adagio lago
que pedra alguma
perturba (a)funda
infringe

tranquila alaga
nada em meu nada

a calma da adaga
que ninguém enfrenta
ou afaga

singra o teu sopro
sereno em sereno

sangra o teu sonho
de fogo e de inferno
a que tudo se rende

e és só um silvo
de serpente

que ascende

13 fevereiro 2015

Ninguém é Importante

as pessoas querem ser importantes...
ninguém é importante
não, não é
porque se passa

a não ser que se seja gênio
e mais ninguém é gênio
gênio é quem muda a forma
do mundo mudar
mudando as almas mudas...

e já não há o que ser mudado

as pessoas querem ser importantes...
se querem é porque não serão:
querer é não ter ser
e só o Ser permanece

gênio é quem tem o ser
sem ter que querer

as pessoas querem ser importantes
só porque querem alguns alguéns
que as amem

mas...

amém

11 fevereiro 2015

Aos Deslumbrados (ou O Puma)*

ter-se cuidado
com a sede de vida:
a sede da alma
maior ainda

impossível saciar ambas
pelas cordas bambas:
estrada é fio de navalha
e até mesmo há perigo
em comer pêssego
e soltar o caroço
dentro do poço

nem tudo é eu posso:
às vezes fica tarde
e noutras, tempestade
ou sol de seca

nem sempre há boa colheita
e a vida não é soprar
e fazer espuma:
atrás da mata com flores
se oculta o silêncio
do bote do puma

*Poema reelaborado e republicado.

09 fevereiro 2015

Outro Maldito: Lautréamont - "Eu, sozinho, contra a humanidade"


De vez em quando, comento alguma coisa e apresento algum trecho de uma obra daqueles autores malditos da literatura. Poe, Baudelaire, Rimbaud, Blake,  Fernando Pessoa (que tem seu lado maldito), Augusto dos Anjos, entre outros, já passaram por aqui. Hoje é a vez de Isidore Ducasse, ou Conde de Lautréamont, como ficou conhecido, autor de uma obra terrível, que prima pela lógica do absurdo, e mostra de forma impiedosa a verdadeira face da humanidade:  Os Cantos de Maldoror, uma das mais extremas obras da literatura universal.

Lautréamont nasceu em Montevidéu, no Uruguai, em 1846, mas em 1859 foi para a França estudar, onde morreu em 1870 com apenas 24 anos de idade. Tanto sua vida como sua morte ainda permanecem sob um manto de dúvida e mistério. No seu atestado de óbito consta que não há informações sobre sua morte. Foi um gênio precoce. Na França, escreveu quase toda sua obra, e, entre 1868 e 1869, Os Cantos de Maldoror, que só chegaram ao conhecimento do público em 1874, 4 anos após sua morte.



A obra, inclassificável, escrita num misto de narrativa e de poesia em prosa, tendendo para esta última, chocou a sociedade europeia da época pelas suas doses altíssimas de imaginação e absurdo e por, ao mesmo tempo, dentro de um ambiente de uma selvagem literatura fantástica, desnudar de forma cruel a realidade do negro (e mascarado) interior humano. Outros literatos ao conhecerem sua obra  tomaram-se de um completo entusiasmo, vendo em Lautréamont um gênio "acima das possibilidades humanas", um autêntico precursor do Surrealismo. Já outros, incomodados com a verdade e com os extremos de sua obra, diziam que Isidore Ducasse era apenas um desastre, um fracasso humano total. O que você acha? Alguns trechos de "Os Cantos de Maldoror":

"Tempestades irmãs dos furacões, céus azulados cuja beleza não aceito, mar, hipócrita imagem do meu coração, terra de seio misterioso, habitantes das esferas, universo inteiro, Deus que o criou com esplendor, a ti te invoco: mostra-me um homem bom... Mas nesse caso, que tua graça multiplique meu vigor natural, pois ante o espetáculo de um monstro tal, posso morrer de assombro..."


"Pois bem, que assim seja! Que minha guerra contra o homem se eternize, já que cada um de nós reconhece no outro sua própria degradação... já que somos ambos inimigos mortais. Quer deva eu conseguir uma vitória desastrosa ou sucumbir, o combate será belo; eu, sozinho contra a humanidade".


"Ó ser humano! Eis-te agora, nu como um verme, diante do meu gládio de diamante! Abandona teu método; passou o tempo de te fingires orgulhoso; lanço sobre ti minha oração, em atitude prosternada. Alguém observa os mínimos movimentos de tua vida criminosa; estás envolvido pelas malhas sutis da tua perspicácia encarniçada. Não confies nele quando vira as rédeas, pois te encara; não confies nele quando fecha os olhos, pois ainda te encara."

Para encerrar:


"Eu, como os cães, sinto a necessidade do infinito...Não posso, não posso satisfazer essa necessidade! Sou filho do homem e da mulher, ao que me dizem. Isso me espanta...acreditava ser mais! De resto, que me importa de onde venho? Se dependesse da minha vontade, teria preferido ser antes o filho da fêmea do tubarão, cuja fome é amiga das tempestades, e do tigre, cuja crueldade é reconhecida: eu não seria tão mau”.



07 fevereiro 2015

Quando já não fores o que (não) és*

tens certeza?
não, não tens certeza de nada.
ter certeza é ilusão
projeçao equivocada:
achar que o hoje é o amanhã
e que tu serás sempre
o mesmo de agora
é julgar que não muda o clima
ou que não passa a hora

amanhã serás outro:
e o teu outro eu
(que sempre foi teu)
te dirá: menti!
pensarás o que nem pensas
e o que hoje sentes
não estará mais em ti

amanhã negarás frio
o que já disseste com emoção
viverás planos que não tinhas
e felicidade já serão saudades

tens certeza?
não, não tens de nada.
o tempo confirma ou desmente:
viver é saber
com a alma enganada

nem a morte é certa:
ela pode estar longe
ou pode ser já.
certeza é só o Fim:
por mais sol que tenha o dia
é certo que anoitecerá


*Poema reelaborado e republicado 

06 fevereiro 2015

"Alguma coisa está acontecendo com nosso mundo." É, e não parece ser boa coisa...

A imagem acima mostra a redução drástica de um lago na Argentina em apenas 13 anos. Os cientistas acreditam que a causa são as mudanças climáticas que vem sofrendo nosso planeta. Mudanças rápidas e dramáticas. Postei aqui somente esta imagem, mas há outras 19 bastante reveladoras e, no mínimo, inquietantes. As demais imagens estão no site "O Cientista" e este é o link para que elas sejam conferidas: http://ocientista.com/alguma-coisa-esta-acontecendo-com-o-mundo-e-essas-20-imagens-mostram-isso/#

Sugiro que o façam.

04 fevereiro 2015

Nem todo brasileiro gosta de carnaval

Poema publicado na edição 65 do Caderno Literário Pragmatha, de Porto Alegre. Clique na imagem para ampliar.



02 fevereiro 2015

a sábia-asa-sangue do abutre

I - poeta
é quem sabe ver no escuro:
palavras são escuros
abismos de símbolos

o poeta olha para a palavra
como quem olha
para o céu da noite:
um infinito de possibilidades

II - quem vê o fundo do escuro
não se engana com o brilho das luzes

acima das plumas brancas da esperança
paira a sábia-asa-sangue do abutre
e a garra firme do gavião

III - os melhores vinhos
trazem as trevas da morte
e os piores raios
brilham como o dia

e só o poeta sabe
que há paz
no olho do furacão


30 janeiro 2015

Não Leio mais Jornais

não leio mais jornais...
pra quê? se no outro dia
as notícias serão outras
e logo tudo será passado...

e qual será a palavra
que continuará ao meu lado?

humanidade,
que tens a me dizer?
tuas filosofias?
estão de boca-aberta
tuas esperanças?
são finais de piadas
tuas políticas?
são o princípio delas...

eu ganharia mais
escutando as cadelas

não leio mais jornais:
na história da humanidade
são sempre previsíveis
os seus finais...


28 janeiro 2015

Entre a Noite

entre
o denso da noite
o que há por trás do entre
do negro da mata
que a manhã
desentranha e mata?

é isso talvez que me mata:
esse entre a “manhã dos outros”
em que não sou-me
e meu laço se desata

mas os entes
que no entrás da mata
não existem
para os  que nunca entreveem...

trago entre meu ser
como quem não traga
entre nada
e não podem deixar-me
pois nunca deixo o entre
da minha alma...

(Na imagem, o famosíssimo quadro "A Noite Estrelada" de Van Gogh)

26 janeiro 2015

Noam Chomsky e a iminente Autodestruição da Humanidade

(Nesta imagem, a foto real da primeira explosão nuclear subaquática do mundo, detonado pelos EUA em 1946.)

Escrevi vezes sem conta sobre sobre o caminho autodestrutivo que a humanidade está traçando, e percorrendo rapidamente, seja na forma de poemas, de contos ou de artigos. 


Os otimistas acham que exagero ou que simplesmente não tenho razão. Estão no seu direito. Porém é bom conhecermos o ponto de vista de alguém que é um dos principais intelectuais do mundo, o maior dos EUA nos dias atuais e considerado um dos pensadores mais influentes da contemporaneidade: Noam Chomsky. O texto foi publicado no blog de Leonardo Boff, e pode ser lido na íntegra aqui. Do blog mencionado, retiro os trechos que considerei mais fortes, grifando algumas frases.  Bem poucos lerão. Por motivos como esse, também, caminhamos rumo à autodestruição. Com a palavra, Noam Chomsky:



"O que o futuro trará? Uma postura razoável seria tentar olhar para a espécie humana de fora. Então imagine que você é um extraterrestre observador que está tentando desvendar o que acontece aqui ou, imagine que és um historiador daqui a 100 anos – assumindo que existam historiadores em 100 anos, o que não é óbvio – e você está olhando para o que acontece. Você veria algo impressionante.
Pela primeira vez na história da espécie humana, desenvolvemos claramente a capacidade de nos destruirmos. Isso é verdade desde 1945. Agora está finalmente sendo reconhecido que existem mais processos de longo-prazo como a destruição ambiental liderando na mesma direção, talvez não à destruição total, mas ao menos à destruição da capacidade de uma existência decente.
E existem outros perigos como pandemias, as quais estão relacionadas à globalização e interação. Então, existem processos em curso e instituições em vigor, como sistemas de armas nucleares, os quais podem levar à explosão ou talvez, extermínio, da existência organizada.


Como destruir o planeta sem tentar muito
Têm aqueles que estão tentando ao máximo fazer algo em relação à essas ameaças, e outros que estão agindo para aumentá-las. Se olhar para quem são, esse historiador futurista ou extraterrestre observador veriam algo estranho. As sociedades menos desenvolvidas, incluindo povos indígenas, ou seus remanescentes, sociedades tribais e as primeiras nações do Canadá, que estão tentando mitigar ou superar essas ameaças. Não estão falando sobre guerra nuclear, mas sim desastre ambiental, e estão realmente tentando fazer algo a respeito.


Na Índia, é uma guerra enorme sobre a destruição ambiental direta, com sociedades tribais tentando resistir às operações de extração de recursos que são extremamente prejudiciais localmente, mas também em suas consequências gerais. Em sociedades onde as populações indígenas têm influência, muitos tomam uma posição forte. O mais forte dos países em relação ao aquecimento global é a Bolívia, cuja maioria é indígena e requisitos constitucionais protegem os “direitos da natureza”.
O Equador, o qual também tem uma população indígena ampla, é o único exportador de petróleo que conheço onde o governo está procurando auxílio para ajudar a manter o petróleo no solo, ao invés de produzi-lo e exportá-lo – e no solo é onde deveria estar.
A Venezuela é uma grande produtora de petróleo. O petróleo é praticamente todo seu PIB. Naquele discurso, Hugo Chávez  alertou dos perigos do sobreuso dos combustíveis fóssil e sugeriu aos países produtores e consumidores que se juntassem para tentar manejar formas de diminuir o uso desses combustíveis. Isso foi bem impressionante da parte de um produtor de petróleo. Você sabe, ele era parte índio, com passado indígena. 


Então, em um extremo têm-se os indígenas, sociedades tribais tentando amenizar a corrida ao desastre. No outro extremo, as sociedades mais ricas, poderosas na história da humanidade, como os EUA e o Canadá, que estão correndo em velocidade máxima para destruir o meio ambiente o mais rápido possível. 
O que pensar das crises nucleares Iraniana e Norte-Coreana
Tome o caso do Irã, que é considerado no ocidente – não no mundo árabe, não na Ásia – a maior ameaça à paz mundial. É uma obsessão ocidental, e é interessante investigar as razões disso, mas deixarei isso de lado. Há um jeito de lidar com a suposta maior ameaça à paz mundial? 


No início de novembro, o Irã concordou em comparecer à reunião. Alguns dias depois Obama cancelou a reunião, dizendo que a hora não estava correta. O Parlamento Europeu divulgou uma declaração pedindo que continuasse, assim como os estados árabes. Nada resultou. Então moveremos em direção a sanções mais rígidas contra a população Iraniana – não prejudica o regime – e talvez guerra. Quem sabe o que irá acontecer?

No nordeste da Ásia, é a mesma coisa. A Coréia do Norte pode ser o país mais louco do mundo. É certamente um bom competidor para o título. Mas faz sentido tentar adivinhar o que se passa pela cabeça alheia quando estão agindo feito loucos. Por que se comportariam assim? Nos imagine na situação deles. Imagine o que significou na Guerra da Coréia anos dos 1950’s o seu país ser totalmente nivelado, tudo destruído por uma enorme super potência, a qual estava regozijando sobre o que estava fazendo. Imagine a marca que deixaria para trás.

Tenha em mente que a liderança Norte Coreana possivelmente leu os jornais públicos militares desta super potência na época explicando que, uma vez que todo o resto da Coréia do Norte foi destruído, a força aérea foi enviada para a Coréia do Norte para destruir suas represas, enormes represas que controlavam o fornecimento de água – um crime de guerra, pelo qual pessoas foram enforcadas em Nuremberg. E esses jornais oficiais falavam excitadamente sobre como foi maravilhoso ver a água se esvaindo, e os asiáticos correndo e tentando sobreviver. Os jornais exaltavam com algo que para os asiáticos fora horrores para além da imaginação. Significou a destruição de sua colheita de arroz, o que resultou em fome e morte. Quão maravilhoso! Não está na nossa memória, mas está na deles. (...)


Os EUA e a Coréia do Norte chegaram em 1994 a um acordo que interrompeu seu trabalho nuclear e foi mais ou menos honrado pelos dois lados. Quando George W. Bush tomou posse, a Coréia do Norte tinha talvez uma arma nuclear e verificadamente não produzia mais.
Bush imediatamente lançou seu militarismo agressivo, ameaçando a Coréia do Norte – “machado do mal” e tudo isso – então a Coréia do Norte voltou a trabalhar com seu programa nuclear. Na época que Bush deixou a Casa Branca, tinham de 8 a 10 armas nucleares e um sistema de mísseis, outra grande conquista neoconservadora. 

É bem sabido. Pode-se ler na cultura americana principal. O que dizem é: é um regime bem louco, mas também segue uma política do olho por olho, dente por dente. Você faz um gesto hostil e responderemos com um gesto louco nosso. Você faz um gesto confortável e responderemos da mesma forma.

Ultimamente, por exemplo, existem exercícios militares Sul Coreanos-Americanos na península Coreana a qual, do ponto de vista do Norte, tem que parecer ameaçador. Pensaríamos que estão nos ameaçando se estivessem indo ao Canadá e mirando em nós. No curso disso, os mais avançados bombardeiros na história, Stealth B-2 e B-52, estão travando ataques de bombardeio nuclear simulados nas fronteiras da Coréia do Norte."
Até aqui o texto de Chomsky . Segundo ele, não é só a destruição ambiental, que já é imensa, que ameaça o planeta e a humanidade. É também a destruição nuclear, que está viva, e muito mais do que imaginamos...

24 janeiro 2015

Patrões cada vez mais ricos e Trabalhadores cada vez mais pobres

Chamou-me a atenção o texto publicado ontem pelo escritor, jornalista e professor Juremir Machado da Silva em seu blog no jornal Correio do Povo, sob o título o "Capitalismo do Séc. XXI." Juremir escreve:

"A coisa mais boba que alguém pode dizer é: não faça críticas, apresente soluções.

Trata-se do ressentimento contra a crítica certeira.

Papel de crítico é criticar. O resto é conversa fiada.(...)

O economista francês Thomas Piketty sacudiu a roseira ao provar com números que o capitalismo não vem distribuindo riqueza, como conta a mitologia liberal para enganar inocentes, mas concentrando-a cada vez mais. Até a minha avó, em Palomas, percebia isso, mas não tinha tempo de formar um bom banco de dados para sustentar a sua tese. Ela via o estancieiro local ficar mais rico a cada ano e os 300 habitantes do lugar ficarem sempre mais pobres. Tirava uma conclusão baseada na sua sabedoria empírica: “Dinheiro chama dinheiro”. Não foi desmentida. O estancieiro foi viver de rendas.

Depois de Piketty, a Oxfam praticou um ato terrorista: anunciou que até 2016 a riqueza do mundo estará dividida fraternalmente assim: 1% mais rico com mais de 50% de tudo e 99% mais pobres com o restante. É o que se pode chamar de uma divisão justa, clara e incontestável. Alguns, mais atilados, usam o termo meritocracia para explicar essa partilha aparentemente desequilibrada da riqueza mundial. Segundo a Oxfam, os mais aquinhoados lambuzavam-se com 44% do bolo global em 2009. Em 2014, já dispunham de 49% de tudo que produzem com modesta ajuda dos 99% restantes da população. Claro que essa divisão ligeiramente enviesada nada tem a ver com os males, ressentimentos, guerras, insatisfações e ódios deste mundo. É tudo coincidência. Basta deixar a mão invisível do capitalismo continuar agindo que um dia os 99% citados entregarão tudo o que ainda têm."

O texto pode ser lido na íntegra aqui

Juremir escreve sobre uma verdade clara e terrível, mas da qual raros têm consciência: a de que, de um modo geral, as riquezas do mundo cada vez mais se concentram nas mãos de cada vez menos pessoas, e, pior, de uma forma tão perversa que transmite uma aparência de JUSTIÇA, de MERECIMENTO de meritocracia como mencionou Juremir.

Em outras palavras, podemos dizer que o que ocorre é que os patrões, os donos, os chefes da iniciativa privada o que sempre fazem e sempre procuram fazer é lucrar cada vez mais valendo-se da exploração de seus empregados e da conivência/ignorância/acomodação da sociedade como um todo. Claro que há exceções entre esses patrões. Nem todos são sugadores. Mas,como disse, são apenas exceções.

O certo é que, ao fim das contas, todos são sugados pelos capitalistas: os que trabalham para a empresa, principalmente, mas também aqueles que compram seus produtos, os clientes. O resultado está no título desta postagem. As empresas crescem, se expandem, acumulam mais e mais capital A CUSTA DO QUÊ E DE QUEM? Lembrando que não são só as pessoas que são sugadas, o planeta também é.

Nos países atrasados e paternalistas, como o Brasil, onde a sociedade vê o governo, a autoridade e o "chefe" como "os salvadores da pátria", essa relação predatória entre patrão e empregado é ainda mais cruel. Nesse sentido, nossa cidade de Santiago é um exemplo claríssimo. Criou-se uma visão de que o patrão "REALIZA UM FAVOR" em "dar" um vaga de emprego, e que o trabalhador deve ter a "gratidão" de dar sangue e suor para a empresa, para que seu patrão possa lucrar cada vez em maiores
 escalas e para que a empresa se expanda. 

Não há uma consciência de que a empresa deve seu crescimento ao trabalho dos empregados. Estes são vistos apenas como "massa de manobra" descartável, submissa, oprimida,  que ou obedece ou é despedida. É aí que entra o famoso bordão: "Se não quer, tem quem queira."  Geralmente, o patrão tenta transmitir para a sociedade e para os empregados que é uma pessoa amiga, humana, que está fazendo o que pode para melhorar salários, condições de trabalho, passa um discurso de modernidade, de comprometimento, de sacrifício coletivo... Tudo balela, conversa fiada. No fundo, o que o patrão quer dizer é: "trabalhem assim como tá que tá bom pra vocês e pra mim. Sou um herói porque lhes dei empregos e quem reclamar vai pra rua." 

E as sociedades atrasadas, burras e submissas como é a sociedade brasileira aceita e acha tudo muito certo, muito correto, muito justo. O resultado são os números cruéis e absurdos de uma brutal desigualdade social como os apresentados por Juremir.


22 janeiro 2015

dos Meios de se aplicar uma Lição

I - a única real maneira
de se aprender
que dinheiro não é tudo na vida
é perdendo a vida

II - 90% das pessoas
dizem que dinheiro
não é tudo na vida

e 90% das pessoas
que dizem
que dinheiro não é tudo na vida
se desdizem
logo em seguida

III – hoje
30% da vida do planeta
(ou já foi
na rapidez de quem dá um oi)
ou está em risco
de ser extinta...

quando chegar a 90%
da vida perdida
se aprenderá
(e olhe lá...)
que dinheiro
não é o todo da vida


20 janeiro 2015

Sugestão*

I - nem toda palavra
deve ser dita
tanto para o bem...
tanto para o mal...
um poema que se poeme
não é um bem dito
é só um mau
sinal

II - a melhor maneira de dizer
é (não-) dizer em segredo...

um verso que se diga
sugere como sangue em lâmina
mas nunca aponta o dedo

III - o que é de forma completa explicado
nunca é de forma completa sublime:
quando tudo está claro
nada funciona
desde a arte
até o crime

*Poema reelaborado e republicado.


18 janeiro 2015

Vitória ou Fracasso

a minha parte
do que está
é a parte depois da parte
quando já não estiver
estado

então não posso
estar-me com o que é:
vou-me em outro passo
pé ante pé

nem sei porque digo
que passo...
talvez 
por que tudo e todos passam
e acaba que ninguém percebe
o que passado
e ninguém se vê

no todo formado de parte
tenho a última máxima extrema
onde o sucesso é pleno
por ter se tornado vento
e o tornado tornado pó

por isso
por que eu quereria
que me ouças?
ou esperaria
o que me espera?
o meu objetivo
é ele não ser alcançado
pois ninguém me alcança

e assim já o tenho
colhendo somente o ato
sem ter que entrar na dança

afinal
o que dizem vitória ou sucesso
são máscaras que se colocam
sobre o de ser humano
eterno fracasso


16 janeiro 2015

Ser ou Não-ser

I - um homem
que confia nos outros homens
não se conhece
como homem

II – as pessoas dizem:
acreditem em mim!
e elas mesmas
acreditam em seus si mesmos...
mas em qual mim acreditar?
se elas mesmas
logo depois
já são outros dos seus eus
que vêm a esmos?...

III – razão
tinha Shakespeare:
“ser ou não ser
eis a questão”...

num dia o homem é
no outro não

14 janeiro 2015

do Caminho da Humanidade

o primeiro passo
é perder os ideais

o segundo passo
é perder as ideias

o terceiro passo
é perder até o id
e mesmo assim
aumentar o ego

e assim
passo a passo
caminha a civilização...

sem ideais
sem ideias
ide, humanidade
id
ota

(Na imagem, o quadro "A Parabóla dos Cegos", de Bruegel.)

12 janeiro 2015

da Realidade*

o trono real
sempre passa:
quem é rei hoje
amanhã some
e não passa de um nome
passado
pisado
pela pressa da traça:
a realidade
é só fumaça...

qual a real idade
do que se sabe?
a da folha
ou a do tigre
dente-de-sabre?

o real está em qual
onde?
é dia ou noite?
o que se pensa
ou o que se sente?
ou é aquilo
que se esconde?

talvez o real
seja só símbolo
ou um sinal...
por isso
o que me dizem sê-lo
não vale um selo
de 1 real

*Poema reelaborado e republicado

10 janeiro 2015

De Enfeites, Retornos e Voltas

I - o homem
quando o seu nada
não tem jeito
sempre acha um jeito
de se encher por dentro
a aparentar perfeito
(do tipo
o que eu não-ser
eu enfeito)

II - tudo é retorno:
se a maçã que  colhemos
é bela por fora
mas abichada por dentro
vamos com o giro
da gravidade do tempo
no que for ação-reação:

podemos dar a volta
na macieira
ou em toda a plantação

III - o universo
é movimento contínuo
tudo vai e volta
até o Fim

um dia o Fim foi
agora está revolta