29 julho 2014

Cada Qual é um Tribunal

cada qual
é um tribunal

que crê poder julgar
cada um de todos
como se fosse seu igual

cada qual
parte do princípio
(por exemplo)
que se o qual gosta de sal
todos também o devem:
é um modelo
um padrão
uma regra
definida não se sabe quando
não se sabe onde
nem por quem
nem por quê
mas que se segue
a que se obedece
e se diz amém

cada nariz
é um juiz
que quer que todos sigam
as mesmas “verdades” pessoais
que ele próprio diz

e é dada a sentença:
“só será absolvido
quem comigo pensa.”

(cada qual é um cão
roendo sozinho
o osso da razão)

cada homem
é um tribunal
que deveria se aplicar
a pena do relho
diante do espelho

27 julho 2014

a verdade é um mero detalhe

I – do fim da civilização

a força da humanidade...
mas veio um furacão de Shostakovich
e arrancou o cedilha:
a forca da humanidade.

II – da hipocrisia

o culto de Deus.
oculto de Deus.

III – da morte da poesia

está morta a poesia, agora é o caos
está morta, a poesia agora é o caos

26 julho 2014

A Vossa Lavagem (Cerebral)

a civilização moderna
é uma tentativa  incessante
de nos convencer que merda não é merda

a sociedade do “espetáculo”
arranca dos bobos aplausos
a qualquer custo
e com qualquer bosta
(e o pior
e que quase todo mundo
com um sorriso estúpido
admira e gosta)
fazendo rato passar por lebre
e pé de chinelo por taco de bota

é a ditadura da lixarada
e da chinelagem

ou a humanidade
é dos idiotas
ou eu estou entre os loucos
(provavelmente os dois)
seja como for
deixo a lavagem
para os porcos


24 julho 2014

Fama

alguns querem, eu não, eu
quero fazer o que quer que seja que eu faço
e só.
não quero olhar no
olho adulador,
apertar a mão
suada.
acho que o que eu faço
é da minha conta.
faço porque se não fizesse
estaria acabado.
sou egoísta:
faço por mim mesmo
para salvar o que restou de
mim.
e quando sou
abordado como
herói ou
semi-deus ou
guru
me nego a aceitar
isso.
não quero seus
parabéns,
sua adoração,
sua companhia.

devo ter meio
milhão de leitores,
um milhão,
dois milhões.
não me importo.
escrevo
como tenho
que escrever.

e, no
início,
quando não havia
leitores
eu escrevia
como eu precisava escrever
e se todo
o meio milhão,
o um milhão
os dois milhões,
desaparecerem
continuarei a
escrever
como sempre escrevi.

o leitor é um
a posteriori,
a placenta,
um acidente,
e qualquer escritor que
pense diferente
é mais idiota que
seus
seguidores.

Charles Bukowski

22 julho 2014

Problemática Ambiental


a humanidade tem problemas
aos montes:
um deles é dar um jeito
nos montes de gente
e amontoá-los
de alguma forma:

prédios cidades favelas
ruas igrejas janelas
e ali os montes de gente
enfiados nos montes
que amontoaram
(informações inúteis
quinquilharias fúteis
moedas e merdas
lixos e nadas)...
dali os montes humanos
(pois não passam de montes)
olham ao longe
para o que restou dos montes
devastados

17 julho 2014

Miniconto-Poema em estado febril

eu sinto o cheiro da tua voz de almas
entre palavras que não mais existem:
melhor dizer o que não tem sentido
e ouvir o sim dos esquecidos cravos...

ali morri como se fosse um lobo
e do sedento eu me acenei teus olhos:
estava ao nunca sempre lá cantando
pelos presságios de um planeta doente...

então me disse o que de agora é morto
que tudo foi no que contei sem nada:
fiz uma história em doze versos-febre
não tenho culpa se não me entendeste...

15 julho 2014

Morte da Palavra

não há palavras
a serem ditas
não porque não há
o que ser dito
(há tanto
que é melhor calar)
é que não há
o que ser entendido
no sentido
de que não se entende
o signo

a palavra
que é o que diz
deixa de dizer
quando mesmo dizendo
o que se diz não é captado:
há comunicante
mas não há comunicado

em outras palavras
a palavra se perde
e com ela a verdade:
a cada palavra que some
morre um pouco de fim e de fome

a humanidade

13 julho 2014

A Verdadeira Alemanha: não a de Hitler, mas a de Beethoven, de Brahms, de Goethe, de Bach, de Kant, de Einstein...


Eu não deveria ter trocado de palpite. Escrevi em 17 de junho:
"O Brasil foi tricampeão do mundo em 1970 e tetra em 1994, 24 anos depois. A Itália foi tricampeã em 1982 e tetra em 2006, 24 anos depois. A Alemanha foi tricampeã em 1990. Fica a pergunta: a coincidência da "transição" dos tris para os tetras prosseguirá, e a Alemanha será tetra em 2014, 24 anos depois? A julgar pelo seu jogo de estreia, com a goleada que humilhou Portugal, é bem possível. Aliás, é o meu palpite. Alemanha tetra."

Cumpriu-se a profecia da "Transição dos Tris para os Tetras".

Depois, antes da final, decidi mudar meu palpite, com muitas dúvidas, apostei na Argentina. Único palpite que errei, a final. Mas tudo bem, a Alemanha venceu com méritos, e estou contente com sua vitória, pois sou um admirador do povo alemão, não dos nazistas, como muitos babacas por aí, mas pelos reais grandes homens e gênios.

Achei algo completamente imbecil as piadinhas com Hitler após a goleada da Alemanha sobre o Brasil. Por que logo o Hitler comemorando, enquanto há tantos outros homens muito maiores e mais representativos da Alemanha e da sua grande nação? Por que não Beethoven? Ou Bach? Ou Goethe? ou Kant? Ou Einstein? Ou o meu amado Brahms? Ou tantos outros, na música, na literatura, na pintura, na filosofia, na ciência?

Por que não a Alemanha de Wagner, de Schumann, de Mendelssohn?
Por que não a Alemanha de Heine, de Novalis, de Rilke?
Por que não a Alemanha de Mann, de Hesse, de Schiller?
Por que não a Alemanha de Grünewald, de Dürer, de Altdorfer?
Por que não a Alemanha de Brecht, de Schopenhauer, de Hegels?


Esses homens, e tantos outros, merecem estar junto com a imagem vitoriosa da Alemanha, não Hitler. Parabéns, grande povo alemão.

12 julho 2014

Texto de 2011: "A Pior Seleção Brasileira de Todos os Tempos"


O texto a seguir, escrevi durante a Copa América de 2011, ou seja, há 3 anos. Naquela época, eu já detestava o Neymar e via uma seleção brasileira sem futuro. A coisa piorou de lá para cá? Não, não piorou, foi só a consequência lógica de um time sem grandes jogadores, sem um esquema tático, sem garra. Era a mesma coisa em 2011. Nem Neymar eu acho que seja um grande jogador. E pior ainda é uma seleção jogar para um só jogador que não joga tudo o que dizem que joga. Abaixo, trechos do texto escrito em 18 de julho de 2011:


 "Agora, os jogadores brasileiros, o que fazem em campo? Mas eu entendo, com o salário que ganham, o que poderiam  fazer? Não há como se motivar. Aqueles que já jogam na Europa, já conseguiram o que tanto sonhavam. Afinal, o futebol brasileiro não passa de uma vitrine para a Europa, um gigantesco leilão. Quem dá mais? 


Nunca vi uma seleção tão sem carisma, sem simpatia nenhuma. Craque mesmo, não havia nenhum. Neymar é bom jogador, Pato também, mas não são craques. Neymar até pode vir a ser, se amuderecer e demonstrar mais garra e menos arrogância adolescente. Cai mais do que joga. E se acha mais do que cai. Mas eu acho que craque ele não será nunca. Já está sendo paparicado demais. Já virou estrelinha. Jogar mais para quê? Ah claro, ele ainda não foi para a Europa. Afinal, é para isso que se joga futebol no Brasil, não é? Para se ir para a Europa. Na Argentina também é assim. Mas lá eles ainda conseguem formar craques, aqui nem isso.

Agora, é aguardar o fiasco da Copa de 2014. Ainda mais que temos um imbecil corrupto como presidente da CBF. Adeus futebol brasileiro. Será que teremos outro maracanaço? Acho que não, o Brasil não chega na final."

Para conferir o post de 2011, clique aqui.

11 julho 2014

O ato de fechar a porta

a vida
é somente o agora
(isso todos dizem mas não sabem):
então não há
porque sempre se estar

o aceno de adeus
o ato de fechar a porta
(com estrondo ou leveza
pouco importa)
largar as cartas do jogo
soltar o martelo ou fuzil
guardar o livro na estante...

não há prazer maior
do que renunciar a um agora
por outros depois e instantes

vive melhor
quem está sempre a um passo
da chegada da hora...

o melhor é sempre ir embora

09 julho 2014

Continuo com 100% nos palpites. E agora, o Campeão?


As semifinais acabaram, e eu mantive meu aproveitamento de 100% nos palpites nas fases decisivas. Nas semifinais apostei em Alemanha e Argentina. Agora só falta acertar o campeão para tomar o lugar do polvo Paul. Mas aí é que está o problema. Alemanha ou Argentina? Dificílimo.

O que conta em favor da Argentina? 

1) Messi, que mesmo jogando muito pouco na semifinal, todos sabem que ele pode fazer uma jogada genial a qualquer momento e decidir o jogo.

2) O fato de jogar na América do Sul, pois nunca um europeu ganhou copas por aqui. Aliás nunca um europeu ganhou copas no continente americano. Além disso, a torcida argentina, sempre com enorme presença, será um diferencial. 

3) O equilíbrio em títulos mundiais entre europeus e sul-americanos. Nunca (e podem conferir) o continente europeu ou sul-americano abriu dois títulos mundiais de vantagem sobre o outro. Agora, por exemplo, a Europa está com 1 de vantagem, 10 títulos europeus contra 9 sul-americanos. Se a Alemanha vencer, a Europa abrirá dois. Haverá pela primeira vez na história 3 títulos europeus seguidos (Itália, 2006 - Espanha, 2010 - Alemanha, 2014) e pela primeira vez os europeus abrirão 2 títulos de vantagem. Essas estatísticas contam, não é mera coincidência.

4) A tradicional garra argentina, a tradição de crescerem em jogos decisivos.

O que conta a favor da Alemanha?

1) Um time mais equilibrado e mais entrosado, com grandes jogadores que sabem jogar em equipe, na tradicional organização e força alemãs, dentro de um esquema tático consistente e inteligente.

2) A moral e a confiança elevadíssimas com que entrarão em campo os alemães após o massacre aplicado no Brasil. Caso fosse o contrário, o Brasil goleando a Alemanha, o Brasil poderia entrar de salto-alto. Com os alemães, dificilmente isso acontecerá.

3) O desgaste argentino com a prorrogação e pênaltis contra a Holanda, além da ausência de Di Maria. 


4) Uma curiosidade muito interessante, que calculei e publiquei aqui no início da Copa, logo após estreia da Alemanha, e republico:

"O Brasil foi tricampeão do mundo em 1970 e tetra em 1994, 24 anos depois. A Itália foi tricampeã em 1982 e tetra em 2006, 24 anos depois. A Alemanha foi tricampeã em 1990. Fica a pergunta: a coincidência da "transição" dos tris para os tetras prosseguirá, e a Alemanha será tetra em 2014, 24 anos depois? A julgar pelo seu jogo de estreia, com a goleada que humilhou Portugal, é bem possível. Aliás, é o meu palpite. Alemanha tetra."


Esse era meu palpite no início da Copa. Agora, não sei, estou em dúvida. Qualquer um que vencer será perfeitamente plausível. Qual time é melhor? O da Alemanha, sem dúvida. Mas isso nem sempre decide. A Argentina tem o melhor jogador. Isso também não garante nada. É equilíbrio demais. Em quem apostar? Ok, já que futebol é chute, vou chutar: Argentina. 

08 julho 2014

da Felicidade *

quem busca a felicidade
não a encontra
(se ofusca)
e muito menos
quem a encontra na busca

que a felicidade não se busca
pois não pode ser buscado
o que não está
em um ponto
a ser alcançado

qual é o ponto almejado?
quem é que o alcança?
se quando alcança
logo vê outro ponto
mais adiante
e naquele ponto (não) visto
e não chegado
vê-se a felicidade imaginada:
só miragem
delirante

quem feliz
(futilmente)
 se julga
apenas um largo gole
de vinho traga:
segura uma chama de vela
que queima
e que a primeira ventania
(fatalmente)
 apaga

a felicidade
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um selo raro:
só dura o momento do ato

só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato

*Poema reelaborado e republicado

05 julho 2014

Meus palpites para a Copa: Brasil não passa pela Alemanha, e não é pela ausência do Neymerda

Até agora, acertei todos os meu palpites para os vencedores dos jogos das quartas, que publiquei no meu perfil do Facebook, momentos antes do jogo da Alemanha. Eu já havia acertado todos os palpites das oitavas. Estou com 100% de aproveitamento. Continuando assim, vou acabar ocupando o lugar do polvo Paul que em 2010 acertou todos os resultados da Alemanha na Copa da África do Sul, e também a final, a vitória dos espanhóis. 

No último jogo das quartas, Holanda x Costa Rica, passa Holanda. Depois vêm as semifinais, que serão bem mais imprevisíveis. Mas deixo meu palpite: Argentina x Holanda: Argentina. Brasil x Alemanha: Alemanha. É, na minha opinião, o Brasil não passa pela Alemanha, é não é porque está sem o Neymar.

Pelo contrário, eu até queria que o Neymar continuasse jogando, seria ainda mais fácil para os alemães, e eu continuaria provando minha tese: no início da Copa disse que o Neymar só joga bem mesmo contra times pequenos. E os fatos têm provado o que afirmei. Em qual jogo Neymar jogou bem mesmo nesta Copa? Só contra Camarões, a seleção mais fraca do grupo. Contra a Croácia, jogou meia-boca e contra times mais qualificados, México, Chile, Colômbia, o que o Neymar fez mesmo? Nada, simplesmente nada. Foi um Neymerda. Só não conseguiu ser pior que o poste do Fred, que, aliás, é pior que um poste, porque num poste a bola pode bater e entrar para o gol.

Neymar é muito mais mídia do que craque. Mais papo do que bola. Mais queda do que drible. Não jogou nada na Copa. Veio com toda a bola e voltou de bola murcha. Não porque se machucou, mas porque ele não jogou o que havia prometido. Ou prometeram por ele. O Brasil ganhou da Colômbia pela brilhante atuação da sua zaga, pelo golaço do David Luís, porque o ataque foi de uma nulidade quase que completa. 

Agora, contra a Alemanha, ainda que tivesse Neymar, não passa. Acho até mais difícil SEM o Neymar, porque o time vai jogar mais sério. Mas mesmo assim não passa. O Brasil ainda não pegou uma grande seleção nesta Copa. E quase parou nas seleções médias. Não pegou um time com marcação e ataque eficiente, como é a Alemanha. Porque a Alemanha ataca com força e se defende bem. Não vai dar um show de bola, mas vai passar pelo Brasil, é o meu palpite.

E na FINAL, então, para mim, é Alemanha x Argentina. Quem ganha? Não saberia ir para um lado, mas, tenho que escolher. Então, no chute, Argentina. Tricampeã.

(Na imagem, o polvo Paul prevendo o campeão da Copa de 2010, a Espanha.)

02 julho 2014

Três Antipatias

I

ser poeta
é ser líder e único membro
de sua própria gangue
e preparar-se
para um banho
(entre palavras)
de sangue

II

um poema
além de segredos
é dar nos dedos
e tirar sarro:
é como soltar na cara
de quem não fuma
uma baforada de cigarro

III

o mais corajoso dos soldados
é o que deserda
o mais corajoso dos homens
é o que manda
a tudo e a todos
à merda

29 junho 2014

Diversão e Inteligência

o problema da ironia
é que ela se ri dos imbecis
e os imbecis
por serem imbecis
não entendem ironias

pois uma boa ironia
é o deboche inteligente
(quase sempre)
sobre alguém
que não tem inteligência
para entender o deboche

de forma que a ironia
se torna uma brincadeira ácida
entre sagazes:
a ironia é a diversão
da inteligência

27 junho 2014

A Hipócrita e Midiática Punição de Suárez

O "caso Suárez" na Copa do Mundo não foi uma punição de uma agressão, foi o atendimento estúpido de uma demanda artificial da mídia que, por achar o caso inusitado e ver nele uma forma de "ganhar ibope" deu atenção demasiada a uma agressão sem maiores consequências para a vítima, enquanto vemos em jogos, todos os dias, agressões bem mais sérias, com potencial ofensivo e risco para o agredido muito maior. E que, muitas vezes, não resultam nem em cartões para os agressores. Muito menos em uma punição absurda de 9 jogos, privando uma seleção de seu melhor jogador em uma Copa do Mundo. 

Sim, porque quais as consequências da mordida do Suárez em Chiellini? Uma dor momentânea, passageira e uma marquinha de dentes no ombro. Talvez, sangrasse um pouquinho. Só. Nada mais além disso poderia acontecer. Agora, a cotovelada de Neymar em um jogador da Croácia, por exemplo, poderia ter quebrado os dentes, até mesmo o nariz, da vítima. Poderia lhe lesionar um olho. Mas nem falta foi marcada, e ninguém viu nem se mostrou nada. Porque isso acontece todos os dias.  Não foi algo "diferente", como a mordida de Suárez, que foi tomada como mais um showzinho para a hipócrita "Sociedade do Espetáculo se "impressionar" com a "violência" de Suárez. 

O trecho abaixo, retiro da coluna de Hiltor Mombach, no jornal Correio do Povo:

"... o lance envolvendo Marchisio e Arévalo Rios, aos 14 minutos finais. O italiano levanta a perna, enfia o pé na canela de Arévalo e, não satisfeito, pressiona com a clara intenção de machucar o rival. Machucou, apenas, quando poderia ter quebrado a perna. Pela solada que poderia ter aleijado Arévalo, Marchisio levou o vermelho. Ficou nisto. "

Injustiças como a cometida pela FIFA, no fundo, nem são culpa da entidade. É culpa de uma sociedade que elevou a hipocrisia e a aparência a patamares absurdos, onde o diferente é punido pelo simples fato de ser diferente dos "padrões estabelecidos". A agressão de Suárez foi uma agressão? Claro. Foi violenta? Não, foi diferente, inusitada. O jogador foi punido por isso. E ponto final.

Porém, creio que agora a garra e a força uruguaias, com esse episódio, serão triplicadas para compensar a ausência de Suárez, e, de uma certa forma, vingar a injustiça. É para o Uruguai que torço. Inclusive, se jogar contra o Brasil. 

26 junho 2014

Adeus, Poesia

I

adeus, Poesia

não vês
que o fim te bate a porta?
só os raros ainda vivos
não pensam
que tu estás morta

II

Poesia
não serves para nada
sempre foste muito
para ser (f)útil

sábia demais
para os sermões

e alta
entre os anões

III

da tua última carta
mais ninguém
abrirá o selo.
melhor assim...
o que verdade
(agora)
antes morrer
do que dizê-lo

IV

adeus, Poesia
abandonas o mundo
para ir com a alma
que abandona os homens

e isto ficará escrito
em sangue 
e espírito

22 junho 2014

Sobre Copas

qualquer um que queira
melhorar a humanidade
perderá uma Copa
todos os dias

não adianta
as pessoas não mudam
a não ser de capa

o melhor
é ir para a copa do bar
encher o copo
e a cara

20 junho 2014

dos Homens que Temem a Morte

I

há homens
que temem a morte
porque não se conhecem:
quem não se conhece
não sabe o que faz
quem não sabe o que faz
não sabe o que segue
após o que se fez

II

há homens
que temem a morte
porque se conhecem

III

há homens
que temem a morte
porque não conhecem

IV

há homens
que temem a morte
porque não conhecem
que já estão mortos

V

há homens
que temem a morte
porque só conhecem da vida
aquilo que morre

VI

só não temem a morte
os que conhecem
o que vivem

(Na imagem, "Death on a Pale Horse", de William Blake)