A tormenta que trago na alma carregou-me para aquela floresta sombria. Isolado da humanidade sinto-me em paz. Com extremada atenção observava todos os seres que surgiam ao meu redor. Sons familiares e estranhos elevavam-me ao sublime. Absolutamente sereno, avançava, até o instante em que um ruído anormal arrancou-me de meu estado de profunda tranqüilidade.
O som perturbador consistia em um borbulhar de água. Mas um borbulhar anormal. Com uma água que fervia ele se aparentava. Extremamente intenso e inusitado, levando-se em conta o interior de um bosque. O ruído provinha de algum ponto à frente.
Avancei.
Na mata fechada o som crescia e alarmava cada vez mais. Avistei a alguns metros uma gigantesca clareira. Cintilava. Tal clareira era um imenso lago no interior da floresta. Lago titânico! Borbulhava e fervia de forma canhestra. Toquei a água. A temperatura era absolutamente normal. Perplexo, contemplei a imensidão aquática.
Alarmei-me.
Suas águas principiaram a atingir meus pés. O avanço era rápido. Penetrei na mata, assustado. E contemplei um terrível espetáculo! Uma explosão no interior do lago. A totalidade das águas jorrou aos céus.
As águas espalharam-se por quilômetros. Imediatamente após, vi uma monstruosa coluna de luz. Surgiu das profundezas do lago, ao espaço infinito dirigia-se. Ofuscava-me intoleravelmente. Ao longe, nos azulados céus, ela desaparecia. Para onde iria a colossal coluna de luz?
Mirar sua luminosidade por mais de alguns exíguos segundos era-me impossível. E o silêncio era absoluto. Porém, ele quebrou-se. Subitamente, uma infinidade mirífica de sons invadiu meus ouvidos. Todos simultâneos. Infinito número de cantos de pássaros. Estranhos e familiares. Rugidos de animais ferozes. Relinchar de cavalos. Palavras de Dante. Harmonias angelicais. Etéreos corais de Bach. Sons de águas correndo, das ondas dos mares. O farfalhar das árvores das matas. O sopro soturno do vento. Grilos e sapos em concerto. Homens, mulheres e crianças, falando, rindo, chorando, cantando. Sempre ininteligível. Sublimes instrumentos musicais. Violinos, órgãos, flautas, pianos. Cantos poéticos. Madonas de Rafael. Líricos versos. Epopéias imensas. Visões pictóricas. Trechos de composições clássicas, todas grandiosas. A 9ª Sinfonia de Beethoven, um exemplo. Outros sons indefiníveis. O brilho da luz alucinava.
Emocionei-me.
Ao limite humano. A um passo da loucura. Algo fervilhou em minha alma. Sonhei e morri, para renascer. Olhei para os céus. Que mistérios imponderáveis seriam o destino da coluna de luz? A luz? Era a Alma do Mundo. Para onde iria agora? Alma que abandonava seu corpo. Alma que abandonava seu planeta...
A Terra morria.
É necessário que eu diga mais?
02 maio 2009
30 abril 2009
Sangue e Sentido
qual o sensato
sentido que há
em enlouquecer-me
sem sentido
sangrando versos
sentidos
a insensíveis olhos sem sangue?
caí-me sem sentidos
após a tormenta
que me sa(n)grou
e que sem esse sangue
que me é sa(n)grado
que me é sentido
a vida
não tem sentido
nenhum
e o meu sentido supremo
é ser um filho precoce
do sangue que há-de-vir
e sa(n)gra(n)do o meu pe(n)sar
meu trabalho é sentir
sentido que há
em enlouquecer-me
sem sentido
sangrando versos
sentidos
a insensíveis olhos sem sangue?
caí-me sem sentidos
após a tormenta
que me sa(n)grou
e que sem esse sangue
que me é sa(n)grado
que me é sentido
a vida
não tem sentido
nenhum
e o meu sentido supremo
é ser um filho precoce
do sangue que há-de-vir
e sa(n)gra(n)do o meu pe(n)sar
meu trabalho é sentir
28 abril 2009
Missão
perdoa-me se fracassei:
se cada verso que escrevi
não foi o que escrevi realmente
e se onde te levei
não foi o máximo que podia levar-te
mesmo saindo de mim
não saí do que não sou
mesmo tocando o alto
não cheguei onde eu estou
perdoa-me se não te fiz chorar
se não foi música
o que te cantei
se não foi vida
tudo que sonhei
perdoa se não estou aqui
perdoa
se não morri
perdoa se sou poeta mau
e não abri teu peito
e não apertei teu coração
e não incendiei tua alma
se não fiz sofreres
o sofrimento que não tens
ou que pensas que não tens
perdoa se não levei teus olhos
ao lado de lá do outro lado
do horizonte
ao longe do depois do espaço
ao depois do longe daqui
perdoa
se meu verso está abaixo
do que senti
perdoa
se não te joguei ao céu
se não te afoguei no mar
perdoa
se ainda foi pouca
a minha suprema dor
e se com minhas palavras-chave
não encontraste o amor
se cada verso que escrevi
não foi o que escrevi realmente
e se onde te levei
não foi o máximo que podia levar-te
mesmo saindo de mim
não saí do que não sou
mesmo tocando o alto
não cheguei onde eu estou
perdoa-me se não te fiz chorar
se não foi música
o que te cantei
se não foi vida
tudo que sonhei
perdoa se não estou aqui
perdoa
se não morri
perdoa se sou poeta mau
e não abri teu peito
e não apertei teu coração
e não incendiei tua alma
se não fiz sofreres
o sofrimento que não tens
ou que pensas que não tens
perdoa se não levei teus olhos
ao lado de lá do outro lado
do horizonte
ao longe do depois do espaço
ao depois do longe daqui
perdoa
se meu verso está abaixo
do que senti
perdoa
se não te joguei ao céu
se não te afoguei no mar
perdoa
se ainda foi pouca
a minha suprema dor
e se com minhas palavras-chave
não encontraste o amor
26 abril 2009
Dele: Fernando Pessoa
Eu poderia deixar aqui o que entendo e o que sinto sobre este magnífico poema de Fernando Pessoa. Porém, creio que isso não deve ser feito. A poesia, qualquer que seja, sempre que possível, deve ser deixada livre para a interpretação e sensação do leitor. Qualquer comentário vai direcionar a leitura para determinada interpretação, no caso, a minha, e isso deve ser evitado. A arte, quando verdadeira, permite os mais variados entendimentos e sensações, e não se pode julgar tal interpretação como correta ou errada, isso é um crime contra a arte. Nem mesmo o autor de determinada obra está ciente de todas as possibilidades interpretativas do que criou. A obra artística, em sua essência, não pertence ao artista. O próprio Fernando Pessoa estava bastante consciente disso.
EROS E PSIQUE
Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
EROS E PSIQUE
Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
25 abril 2009
Catástrofe
na minha cidade
não há catástrofes:
não têm tornados
não vêm ciclones
nem furacões
não têm vulcões
nem terremotos
nem tsunamis
nem bomba atômica
enfim...
é que estão todas elas
Todas!
devastando meu peito
dentro de mim
não há catástrofes:
não têm tornados
não vêm ciclones
nem furacões
não têm vulcões
nem terremotos
nem tsunamis
nem bomba atômica
enfim...
é que estão todas elas
Todas!
devastando meu peito
dentro de mim
23 abril 2009
Ode ao Gato
Sou um verdadeiro amante dos gatos. E de todos os felinos em geral. São seres fascinantes e misteriosos. Sendo assim, sinto-me na obrigação de publicar aqui a magnífica "Ode ao Gato" de autoria de Artur da Távola. O texto já deve ser conhecido de alguns, mas não de todos. Como disse o próprio autor, que ele consiga o milagre de iluminar os corações dos que não gostam e maltratam esses nobres felinos. O que tenho a dizer sobre este texto é que ele é perfeito, e que eu gostaria de o ter escrito.
ODE AO GATO
Artur da Távola
Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso.
Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos.
O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.
Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos.
O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.
O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis. Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?
Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. "Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade.
O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte.Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige. Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.
Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe.
E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver.Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto,é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado.É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento. O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós).
Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali". Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo.Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir. O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.
O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber. Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real,à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação.Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato! Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadoresreservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.
O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.Lição de saúde sexual e sensualidade.
Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones. Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências. O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem."
21 abril 2009
Eu...
queria deixar
meu eu que é
para ser
o ser que sou
sinto-me ser do sonho
nascente dos ocasos
um largo lago de fins
que me sobra sobre
tristeza e vale
sangrei-me de febres
e em tudo que não fui
estive...
dormi-me de mares
lembrando o ar
da tua alma
queria...
sentir tua essência em sede
em crise
mas estou-me em nada
em nada do que é pensável
e se assim digo de mim
minto
dos iminentes venho
e o todo que sinto
é o tudo que tenho
meu eu que é
para ser
o ser que sou
sinto-me ser do sonho
nascente dos ocasos
um largo lago de fins
que me sobra sobre
tristeza e vale
sangrei-me de febres
e em tudo que não fui
estive...
dormi-me de mares
lembrando o ar
da tua alma
queria...
sentir tua essência em sede
em crise
mas estou-me em nada
em nada do que é pensável
e se assim digo de mim
minto
dos iminentes venho
e o todo que sinto
é o tudo que tenho
20 abril 2009
18 abril 2009
Só Uma...
eu poderia dizer
que para mim tu és Noite
escuro-estrela de espaços longe
que me cai nos olhos entre lua infinda
mas uma só coisa que eu diga
já basta...
eu poderia dizer
que para mim tu és Sonho
arcanjo-insânia entre visões do além
mergulho em asas pela luz-mistério
mas uma só coisa que eu diga
já basta...
eu poderia dizer
que para mim tu és Alma
magia-febre entre fantasma em fogo
de vida e morte pelo fim humano
mas uma só coisa que eu diga
já basta:
sim, eu te amo.
que para mim tu és Noite
escuro-estrela de espaços longe
que me cai nos olhos entre lua infinda
mas uma só coisa que eu diga
já basta...
eu poderia dizer
que para mim tu és Sonho
arcanjo-insânia entre visões do além
mergulho em asas pela luz-mistério
mas uma só coisa que eu diga
já basta...
eu poderia dizer
que para mim tu és Alma
magia-febre entre fantasma em fogo
de vida e morte pelo fim humano
mas uma só coisa que eu diga
já basta:
sim, eu te amo.
17 abril 2009
Um Monstro
eu sou um monstro?
sou um monstro
porque sou eu?
desculpa
mas não sou tu
eu não estou ali
eu saí dos trilhos
que me disseste
para segui-los
e fiz os meus
então sou monstro
porque meus olhos
não são os teus?
porque não foi em ti
que eu fui buscar
o que senti?
porque eu fui eu
em tudo aquilo
que eu pensei?
me desculpa
mas te decepcionei
quebrei tua norma
e fiz a minha
da minha forma
voando alto
como o urubu:
posso ser monstro
mas não sou tu
sou um monstro
porque sou eu?
desculpa
mas não sou tu
eu não estou ali
eu saí dos trilhos
que me disseste
para segui-los
e fiz os meus
então sou monstro
porque meus olhos
não são os teus?
porque não foi em ti
que eu fui buscar
o que senti?
porque eu fui eu
em tudo aquilo
que eu pensei?
me desculpa
mas te decepcionei
quebrei tua norma
e fiz a minha
da minha forma
voando alto
como o urubu:
posso ser monstro
mas não sou tu
15 abril 2009
O que é a Inspiração?
A inspiração não se explica. Não há conceito que a defina. Não há teoria que a limite. Por mais que alguém tente dizê-la, jamais a dirá. Dirá a “ciência” que a inspiração pode ser explicada por reações químicas no cérebro, assim como ela tenta explicar o que seria a paixão, por exemplo.
Ainda que tais reações possam ocorrer tanto em um caso como no outro, como se pode afirmar com certeza que são tais substâncias e suas interações as causas profundas da paixão ou da inspiração em um ser humano? Suas manifestações físicas impedem suas manifestações espirituais? Ou são reflexos das últimas?
Por que uma coisa impediria a outra? Um técnico de futebol, por exemplo, explicaria que seu time jogou mal ou bem somente porque seus jogadores interagiram bem ou mal? Não há outras causas menos aparentes? Tudo é assim tão simples?
Vejo tais reações químicas cerebrais como o reflexo de uma causa mais profunda, não mecânica, não material. Ainda que se explique toda a vida através de reações químicas, por que há vida em um gato e não há em um automóvel, se ambos funcionam através de reações químicas e princípios mecânicos?
Se a inspiração se resumisse a reações químicas cerebrais, se não houvesse para ela uma causa maior e mais profunda, bastaria se descobrir uma técnica ou uma droga para promover no cérebro tais reações que se faria de qualquer idiota um novo Beethoven, por exemplo. Logo a “ciência” dirá que pode fazer com que qualquer pessoa se apaixone ou se inspire. Da mesma forma que disse no século XIX que não haveria mais doenças para afetar o ser humano no século XX, que todas seriam curadas e erradicadas. Para esta “ciência” que aí está, tudo é controlável e manipulável... É uma pena que a destruição do planeta fugiu ao controle de sua arrogância... E de sua ignorância.
Ninguém nunca me dirá o que é a inspiração. Alguém que não a tenha poderá passar a vida inteira pensando em criar uma grande obra de arte e não a fará. Alguém que tenha naturalmente em si a inspiração criará a essência da obra de um instante para outro, no momento que tiver o “insight” da mesma, ainda que precise de mais tempo para levá-la às suas consequências finais. E nem mesmo o autor da obra saberá explicar de uma forma satisfatória como surgiu em si a inspiração.
Ainda que muitas vezes a inspiração seja apenas 1% de uma obra, e que o restante seja o trabalho sobre ela, sem esse 1% de inspiração, a obra não existirá, assim como uma criança não nasce sem os minúsculos óvulos e espermatozóides.
De onde surgiu a 9ª Sinfonia de Beethoven, por exemplo? De simples reações químicas? Fico com o que pensava o próprio Beethoven: “do céu estrelado acima de nós...”
Ainda que tais reações possam ocorrer tanto em um caso como no outro, como se pode afirmar com certeza que são tais substâncias e suas interações as causas profundas da paixão ou da inspiração em um ser humano? Suas manifestações físicas impedem suas manifestações espirituais? Ou são reflexos das últimas?
Por que uma coisa impediria a outra? Um técnico de futebol, por exemplo, explicaria que seu time jogou mal ou bem somente porque seus jogadores interagiram bem ou mal? Não há outras causas menos aparentes? Tudo é assim tão simples?
Vejo tais reações químicas cerebrais como o reflexo de uma causa mais profunda, não mecânica, não material. Ainda que se explique toda a vida através de reações químicas, por que há vida em um gato e não há em um automóvel, se ambos funcionam através de reações químicas e princípios mecânicos?
Se a inspiração se resumisse a reações químicas cerebrais, se não houvesse para ela uma causa maior e mais profunda, bastaria se descobrir uma técnica ou uma droga para promover no cérebro tais reações que se faria de qualquer idiota um novo Beethoven, por exemplo. Logo a “ciência” dirá que pode fazer com que qualquer pessoa se apaixone ou se inspire. Da mesma forma que disse no século XIX que não haveria mais doenças para afetar o ser humano no século XX, que todas seriam curadas e erradicadas. Para esta “ciência” que aí está, tudo é controlável e manipulável... É uma pena que a destruição do planeta fugiu ao controle de sua arrogância... E de sua ignorância.
Ninguém nunca me dirá o que é a inspiração. Alguém que não a tenha poderá passar a vida inteira pensando em criar uma grande obra de arte e não a fará. Alguém que tenha naturalmente em si a inspiração criará a essência da obra de um instante para outro, no momento que tiver o “insight” da mesma, ainda que precise de mais tempo para levá-la às suas consequências finais. E nem mesmo o autor da obra saberá explicar de uma forma satisfatória como surgiu em si a inspiração.
Ainda que muitas vezes a inspiração seja apenas 1% de uma obra, e que o restante seja o trabalho sobre ela, sem esse 1% de inspiração, a obra não existirá, assim como uma criança não nasce sem os minúsculos óvulos e espermatozóides.
De onde surgiu a 9ª Sinfonia de Beethoven, por exemplo? De simples reações químicas? Fico com o que pensava o próprio Beethoven: “do céu estrelado acima de nós...”
(Na imagem, "Alegoria do Gênio de Beethoven", de Sigmund Hampel)
13 abril 2009
O Homem
o homem
quando não vive
teoriza
quando não experimenta
acredita
quando é limitado
põe limites
quando é impotente
cria regras
quando não compreende
tem certeza
quando não sente
fala
quando não sabe
discute
quando não vive
teoriza
quando não experimenta
acredita
quando é limitado
põe limites
quando é impotente
cria regras
quando não compreende
tem certeza
quando não sente
fala
quando não sabe
discute
11 abril 2009
Para os Profundamente Decepcionados
Eu sou alguém profundamente decepcionado. Há muito perdi minha esperança na sociedade, na humanidade, pelo simples fato de que a conheço extremamente bem... E o e-mail transcrito abaixo em sua quase totalidade, retirado da coluna do jornalista Juremir Machado da Silva de 10/04/2009, é uma forma de ilustrar a minha radical e definitiva decepção. Parabenizo a professora Simone Varoni pelo melhor desabafo de um profissional que já li. E parabenizo o jornalista Juremir por tê-lo publicado e por sua constante defesa do magistério.
E-mail: “Olá, meu nome é Simone Varoni, tenho 32 anos e leciono desde os 18 anos... Eu gosto do que faço, sinto-me alegre em estar na escola e amo meus alunos como amigos. Mas o que eu penso em relação ao futuro desta profissão é bastante assustador e preocupante. Não pretendo me aposentar nesta profissão... O QUE ENTRISTECE É QUE A SOCIEDADE SABE QUE GANHAMOS MAL E NADA É FEITO. Enquanto falta material nas escolas, espaço físico, tempo para o professor planejar, realizar projetos, tempo para fazer uma educação livre de verdade, assistimos diariamente à roubalheira, a política de que todos têm direito a uma fatia da corrupção, da troca de favores, do jeitinho brasileiro E ISSO ME DECEPCIONA MAIS E MAIS A CADA DIA.”
“Enquanto isso, nas escolas, mendigamos para trabalhar: fazemos festinhas, rifas, risotos, sopas de mocotó, brechó, saímos no comércio esmolando doações para arrecadar fundos para as escolas, pagamos material para os alunos porque muitas famílias sequer sustentam o lápis, a folha de ofício, o xérox, o caderno... Pensando bem, acho que somos verdadeiras idiotas. Somos pais, mães, médicas, psicólogas, amigas e ainda lutamos para ser profissionais da educação. Arcamos com um peso que está nos estressando, adoecendo, enlouquecendo... ainda corremos o risco de ser agredidas fisicamente, porque verbalmente e moralmente já somos vítimas de muito tempo. EU ME DEMITI DO ESTADO DO RS: professora com formação plena e pós-graduação: salário: R$ 533,00.”
“Não recebi por cinco dias de greve, onde o Estado descontou quatorze dias parados. DEVEM-ME OS DIAS DE GREVE QUE NA REALIDADE NUNCA EXISTIU PORQUE GREVE RECUPERADA NÃO É GREVE, É ENGANAÇÃO. Devem-me os dias em que não estive em “greve”. Leio no jornal que um ilustre deputado gaúcho defendia que não devíamos receber os dias parados... E ele, dias após recebia prêmio em solenidade de festa gaúcha. DEMITI-ME POR DECEPEÇÃO PURA. AQUELA DECEPÇÃO QUE DINHEIRO NENHUM PAGA, CONSOLA OU APAGA. Fico pensando se irão restar professores que ministrem aulas aos meus filhos... acredito que não mais restarão escolas”.
É isso. Os grifos são meus. Eu também me decepcionei profundamente com o magistério público. Eu me demiti do magistério municipal também por pura decepção. A diferença é que me demiti em seis meses de trabalho. Para mim foi o suficiente para ver que o magistério público no Brasil está perdido. Está. E ponto final. E o que mais me decepciona é saber que a sociedade, as pessoas em geral, jamais ficam do lado dos professores. Culpam os professores por tudo e ainda defendem a nossa querida governadora Yeda. Melhor seria que ninguém mais lecionasse em escolas públicas, que todos pedissem demissão. Quem sabe então os professores fossem valorizados. Mas como isso não vai acontecer, só direi o seguinte: Brasil: tu nunca vais sair do teu atraso. És um país vergonhoso. E eu tenho vergonha de ser brasileiro.
E-mail: “Olá, meu nome é Simone Varoni, tenho 32 anos e leciono desde os 18 anos... Eu gosto do que faço, sinto-me alegre em estar na escola e amo meus alunos como amigos. Mas o que eu penso em relação ao futuro desta profissão é bastante assustador e preocupante. Não pretendo me aposentar nesta profissão... O QUE ENTRISTECE É QUE A SOCIEDADE SABE QUE GANHAMOS MAL E NADA É FEITO. Enquanto falta material nas escolas, espaço físico, tempo para o professor planejar, realizar projetos, tempo para fazer uma educação livre de verdade, assistimos diariamente à roubalheira, a política de que todos têm direito a uma fatia da corrupção, da troca de favores, do jeitinho brasileiro E ISSO ME DECEPCIONA MAIS E MAIS A CADA DIA.”
“Enquanto isso, nas escolas, mendigamos para trabalhar: fazemos festinhas, rifas, risotos, sopas de mocotó, brechó, saímos no comércio esmolando doações para arrecadar fundos para as escolas, pagamos material para os alunos porque muitas famílias sequer sustentam o lápis, a folha de ofício, o xérox, o caderno... Pensando bem, acho que somos verdadeiras idiotas. Somos pais, mães, médicas, psicólogas, amigas e ainda lutamos para ser profissionais da educação. Arcamos com um peso que está nos estressando, adoecendo, enlouquecendo... ainda corremos o risco de ser agredidas fisicamente, porque verbalmente e moralmente já somos vítimas de muito tempo. EU ME DEMITI DO ESTADO DO RS: professora com formação plena e pós-graduação: salário: R$ 533,00.”
“Não recebi por cinco dias de greve, onde o Estado descontou quatorze dias parados. DEVEM-ME OS DIAS DE GREVE QUE NA REALIDADE NUNCA EXISTIU PORQUE GREVE RECUPERADA NÃO É GREVE, É ENGANAÇÃO. Devem-me os dias em que não estive em “greve”. Leio no jornal que um ilustre deputado gaúcho defendia que não devíamos receber os dias parados... E ele, dias após recebia prêmio em solenidade de festa gaúcha. DEMITI-ME POR DECEPEÇÃO PURA. AQUELA DECEPÇÃO QUE DINHEIRO NENHUM PAGA, CONSOLA OU APAGA. Fico pensando se irão restar professores que ministrem aulas aos meus filhos... acredito que não mais restarão escolas”.
É isso. Os grifos são meus. Eu também me decepcionei profundamente com o magistério público. Eu me demiti do magistério municipal também por pura decepção. A diferença é que me demiti em seis meses de trabalho. Para mim foi o suficiente para ver que o magistério público no Brasil está perdido. Está. E ponto final. E o que mais me decepciona é saber que a sociedade, as pessoas em geral, jamais ficam do lado dos professores. Culpam os professores por tudo e ainda defendem a nossa querida governadora Yeda. Melhor seria que ninguém mais lecionasse em escolas públicas, que todos pedissem demissão. Quem sabe então os professores fossem valorizados. Mas como isso não vai acontecer, só direi o seguinte: Brasil: tu nunca vais sair do teu atraso. És um país vergonhoso. E eu tenho vergonha de ser brasileiro.
09 abril 2009
Motivo
meu sonho
seria cantar o não-cantável
não-vistas visões-mistério
de Dante Alighieri
seria vibrar o arquetípico
vitória sublime e trágica
de Ludwig Van Beethoven
seria voar além da altura
asas de titão e águia
de Wolfgang Von Goethe
seria fitar a luz-sentença
astrais anjos-demônios
de Leonardo da Vinci
seria viver em Deus e sombra
espirituais noites e sóis
de Sebastian Bach
seria ver o ser da alma
labirintos de verdade e dor
de Fernando Pessoa
seria sentir o peito em chamas
ânsias de amor e força
de Johannes Brahms
queria cantar tudo
que realmente importa a mim
e por isso
não sendo Eles
eu canto o Fim.
seria cantar o não-cantável
não-vistas visões-mistério
de Dante Alighieri
seria vibrar o arquetípico
vitória sublime e trágica
de Ludwig Van Beethoven
seria voar além da altura
asas de titão e águia
de Wolfgang Von Goethe
seria fitar a luz-sentença
astrais anjos-demônios
de Leonardo da Vinci
seria viver em Deus e sombra
espirituais noites e sóis
de Sebastian Bach
seria ver o ser da alma
labirintos de verdade e dor
de Fernando Pessoa
seria sentir o peito em chamas
ânsias de amor e força
de Johannes Brahms
queria cantar tudo
que realmente importa a mim
e por isso
não sendo Eles
eu canto o Fim.
07 abril 2009
As Almas do Fantástico na História do RS - História 5ª: O Final Súbito
Durante a Revolução Farroupilha, no ano de 1839, as tropas federalistas assassinaram três indígenas que cruzavam por um local de vastas coxilhas, numa região próxima ao rio Ibicuí. Os índios assassinados eram músicos, dos melhores da época entre os povos indígenas do sul. Haviam aprendido a tocar seus instrumentos, violino, flauta e violão, nas missões jesuíticas instaladas em solo gaúcho. Os corpos dos índios, que foram covardemente baleados por dois cavaleiros que treinavam suas pontarias, permaneceram sobre a coxilha em que tombaram. Ali apodreceram e serviram de repasto aos urubus. No momento em que foram mortos, não portavam seus instrumentos musicais, apenas alguns punhais que foram levados pelos militares.
Em 1886, por volta das 5h da tarde, o tropeiro José Luiz da Costa conduzia o seu gado exatamente pela região onde morreram os três índios músicos. Ao aproximar-se da coxilha onde jazeram seus restos mortais, o tropeiro principiou a ouvir uma estranha música, cuja origem ele não soube identificar. Chegando a uma vila da região, José Luiz relatou o que ouviu ao padre Antônio Ferreira, o qual anotou sua descrição em um diário que chegou aos nossos dias. Abaixo, estão alguns trechos do relato do tropeiro José Luiz da Costa, conforme redigido pelo padre Ferreira:
“O senhor José Luiz da Costa, jovem tropeiro desta localidade, contou-me hoje que ouviu uma música muito estranha ao cruzar uma região de coxilhas próximas ao rio Ibicuí. Disse o senhor José que escutou um som como um concerto de três instrumentos, que ele identificou com certa dificuldade como sendo um violão, um violino e uma flauta. Tal música, segundo o tropeiro, parecia provir do nada, como que do ar, pois ele procurou exaustivamente pela origem do som, pelo local onde poderiam estar os supostos músicos, porém nada encontrou.”
“Disse-me ainda que a música era belíssima, ‘muito bonita e acalmava gente’, segunda suas próprias palavras, e de uma intensa alegria, algo que ele nunca havia ouvido antes. Mesmo achando muito estranho ouvir uma música que não podia saber de onde vinha e sentindo um certo receio, o senhor José Luiz afirmou, quando por mim questionado, que sentiu-se muito bem ao escutar o som dos instrumentos, algo como uma sensação de tranquilidade e alegria de viver. Completou dizendo que não sentiu nada de tristeza ou de qualquer outro tipo de sentimento grave. O tropeiro não acreditava que a música pudesse ser alguma forma de manifestação sobrenatural, até que mencionei sobre os três índios músicos mortos em 1839. Concluiu afirmando que a música não durou mais que 5 minutos e parou de repente.”
O relato do tropeiro José Luiz da Costa é o primeiro conhecido e documentado sobre a audição de estranhas músicas naquela região do pampa gaúcho. Após esse, vários outros habitantes da localidade relataram experiências bastante similares à vivenciada por José Luiz. No entanto, a grande maioria não foi documentada. Algumas ainda hoje são transmitidas oralmente pelas pessoas mais idosas. O que se percebe em praticamente todas as histórias é que a música sempre parecia provir do ar sobre as coxilhas, que era muito bem executada, e que o som parecia ser o dos mesmos instrumentos que eram tocados pelos índios mortos.
Porém, há um ponto discordante nas várias narrativas. Refere-se ao sentimento, às sensações que a música deixava em seus estarrecidos ouvintes. Nas narrativas mais antigas, algumas do final do século XIX e outras do começo do XX, o sentimento despertado pela música é bastante similar aos descritos pelo tropeiro José Luiz: uma profunda alegria, uma luminosa tranquilidade. Porém, os relatos mais recentes, situados por volta dos anos 1940 até os 1980, descrevem uma música bem menos alegre e serena, porém transmitindo certa melancolia, uma bela e vaga tristeza, que causava alguma inquietação nos corações de quem a escutava. No entanto, em nenhuma das narrativas, seus ouvintes declararam ter se sentido mal ou desconfortáveis, pelo contrário. O que também é perceptível nesses relatos mais recentes é que, conforme mais atuais eles são, maior é a descrição dos sentimentos melancólicos irradiados pela música. O último ponto em comum entre todos os relatos é que os instrumentos invisíveis sempre cessavam de soar de forma súbita, deixando nos ouvintes uma duradoura e intensa sensação, a qual sempre era comentada com alguma espécie de receio ou inquietação não explicável.
Entre os raros relatos escritos sobre o caso, há um de 1968 deixado por Maurício Crestani Borges, onde ficam claras as diferenças de sentimentos despertados pela música, quando comparado com o relato de 1886. A descrição realizada por Maurício Borges é bastante precisa e bem elaborada, uma vez que o mesmo era escrivão da polícia civil na cidade de Porto Alegre. Maurício realizava uma pescaria no rio Ibicuí, quando foi surpreendido pelas misteriosas melodias. A seguir, os trechos mais importantes do relato do escrivão:
“Aquela música surgiu de repente, como que do nada, e deixou-me um tanto perplexo. Já havia escutado comentários sobre supostas músicas fantasmais que de tempos em tempos eram ouvidas naquela região do vale do Ibicuí. No entanto, nunca dera real atenção aos boatos. E não é que acabei sendo umas das testemunhas! Por volta das 18h, quando dava uma caminhada pelo campo, ouvi o som de um violão. Olhei atentamente ao meu redor, não vi nada, apenas um céu azul bordado de nuvens, infindas coxilhas que se perdiam no horizonte e, pelo outro lado, uma bela mata verdejante.”
“Segundos após o som do violão, surgiram melodias de flauta (creio que era uma flauta, talvez um clarinete) e violino, todas belíssimas, maravilhosamente executadas. Nesse instante, lembrei-me com certo medo, das narrativas sobre a música fantasmagórica. Procurei pela mata até cansar, subi e desci coxilhas, mas realmente não havia ninguém nas imediações.”
“As melodias permaneceram constantes e intensas por cerca de 5 minutos, ao que cessaram subitamente e de forma muito estranha. A música transmitiu-me uma sensação de dilacerante tristeza, ainda que fosse muito bela. Tocavam o coração de uma maneira esquisita e pungente, e eu teria ido às lágrimas, não estivesse um tanto assustado e confuso. Posso dizer que me sentia bem ouvindo aquelas melodias, porém uma sensação de profunda dor e inquietação espiritual tomou conta de mim após o final inesperado e abrupto que ainda não consigo esquecer e muito menos expressar...”
Esse é o relato do escrivão Maurício Borges. E agora, para finalizar, deixarei o meu relato. Sim, eu estive no local, com a precisa intenção de ouvir os músicos invisíveis. Acampei em agosto de 2008 na região de onde se originaram as narrativas. Vaguei pelas coxilhas supostamente assombradas durante as manhãs, tardes e as noites de quase toda uma semana, até que no princípio da noite do 6º dia de meu acampamento, uma desolada melodia de flauta iniciou a entristecer meus ouvidos.
Em seguida, surgiram as notas lúgubres de um violão desesperado, que foram imediatamente repetidas em cânone, de forma trágica, pela beleza mórbida de um violino. Sentei-me sobre o campo e mergulhei extasiado naquela música de sofrimento indizível. Uma sensação de sangue sendo derramado e um clima absolutamente sombrio de ocaso iminente tornaram-se quase que palpáveis pelos ares densos da noite que iniciava.
Os músicos invisíveis foram intensificando a força de execução, e a música, em um furiosíssimo crescendo, assumiu uma velocidade frenética e sublimemente desesperada. Aquele som enfebrecido encerrou-se de uma forma anômala, canhestramente súbita, deixando uma sensação arrepiante, catastrófica, apocalíptica. Eu estava sentado sobre as coxilhas do pampa. Insano. Chorei.
Em 1886, por volta das 5h da tarde, o tropeiro José Luiz da Costa conduzia o seu gado exatamente pela região onde morreram os três índios músicos. Ao aproximar-se da coxilha onde jazeram seus restos mortais, o tropeiro principiou a ouvir uma estranha música, cuja origem ele não soube identificar. Chegando a uma vila da região, José Luiz relatou o que ouviu ao padre Antônio Ferreira, o qual anotou sua descrição em um diário que chegou aos nossos dias. Abaixo, estão alguns trechos do relato do tropeiro José Luiz da Costa, conforme redigido pelo padre Ferreira:
“O senhor José Luiz da Costa, jovem tropeiro desta localidade, contou-me hoje que ouviu uma música muito estranha ao cruzar uma região de coxilhas próximas ao rio Ibicuí. Disse o senhor José que escutou um som como um concerto de três instrumentos, que ele identificou com certa dificuldade como sendo um violão, um violino e uma flauta. Tal música, segundo o tropeiro, parecia provir do nada, como que do ar, pois ele procurou exaustivamente pela origem do som, pelo local onde poderiam estar os supostos músicos, porém nada encontrou.”
“Disse-me ainda que a música era belíssima, ‘muito bonita e acalmava gente’, segunda suas próprias palavras, e de uma intensa alegria, algo que ele nunca havia ouvido antes. Mesmo achando muito estranho ouvir uma música que não podia saber de onde vinha e sentindo um certo receio, o senhor José Luiz afirmou, quando por mim questionado, que sentiu-se muito bem ao escutar o som dos instrumentos, algo como uma sensação de tranquilidade e alegria de viver. Completou dizendo que não sentiu nada de tristeza ou de qualquer outro tipo de sentimento grave. O tropeiro não acreditava que a música pudesse ser alguma forma de manifestação sobrenatural, até que mencionei sobre os três índios músicos mortos em 1839. Concluiu afirmando que a música não durou mais que 5 minutos e parou de repente.”
O relato do tropeiro José Luiz da Costa é o primeiro conhecido e documentado sobre a audição de estranhas músicas naquela região do pampa gaúcho. Após esse, vários outros habitantes da localidade relataram experiências bastante similares à vivenciada por José Luiz. No entanto, a grande maioria não foi documentada. Algumas ainda hoje são transmitidas oralmente pelas pessoas mais idosas. O que se percebe em praticamente todas as histórias é que a música sempre parecia provir do ar sobre as coxilhas, que era muito bem executada, e que o som parecia ser o dos mesmos instrumentos que eram tocados pelos índios mortos.
Porém, há um ponto discordante nas várias narrativas. Refere-se ao sentimento, às sensações que a música deixava em seus estarrecidos ouvintes. Nas narrativas mais antigas, algumas do final do século XIX e outras do começo do XX, o sentimento despertado pela música é bastante similar aos descritos pelo tropeiro José Luiz: uma profunda alegria, uma luminosa tranquilidade. Porém, os relatos mais recentes, situados por volta dos anos 1940 até os 1980, descrevem uma música bem menos alegre e serena, porém transmitindo certa melancolia, uma bela e vaga tristeza, que causava alguma inquietação nos corações de quem a escutava. No entanto, em nenhuma das narrativas, seus ouvintes declararam ter se sentido mal ou desconfortáveis, pelo contrário. O que também é perceptível nesses relatos mais recentes é que, conforme mais atuais eles são, maior é a descrição dos sentimentos melancólicos irradiados pela música. O último ponto em comum entre todos os relatos é que os instrumentos invisíveis sempre cessavam de soar de forma súbita, deixando nos ouvintes uma duradoura e intensa sensação, a qual sempre era comentada com alguma espécie de receio ou inquietação não explicável.
Entre os raros relatos escritos sobre o caso, há um de 1968 deixado por Maurício Crestani Borges, onde ficam claras as diferenças de sentimentos despertados pela música, quando comparado com o relato de 1886. A descrição realizada por Maurício Borges é bastante precisa e bem elaborada, uma vez que o mesmo era escrivão da polícia civil na cidade de Porto Alegre. Maurício realizava uma pescaria no rio Ibicuí, quando foi surpreendido pelas misteriosas melodias. A seguir, os trechos mais importantes do relato do escrivão:
“Aquela música surgiu de repente, como que do nada, e deixou-me um tanto perplexo. Já havia escutado comentários sobre supostas músicas fantasmais que de tempos em tempos eram ouvidas naquela região do vale do Ibicuí. No entanto, nunca dera real atenção aos boatos. E não é que acabei sendo umas das testemunhas! Por volta das 18h, quando dava uma caminhada pelo campo, ouvi o som de um violão. Olhei atentamente ao meu redor, não vi nada, apenas um céu azul bordado de nuvens, infindas coxilhas que se perdiam no horizonte e, pelo outro lado, uma bela mata verdejante.”
“Segundos após o som do violão, surgiram melodias de flauta (creio que era uma flauta, talvez um clarinete) e violino, todas belíssimas, maravilhosamente executadas. Nesse instante, lembrei-me com certo medo, das narrativas sobre a música fantasmagórica. Procurei pela mata até cansar, subi e desci coxilhas, mas realmente não havia ninguém nas imediações.”
“As melodias permaneceram constantes e intensas por cerca de 5 minutos, ao que cessaram subitamente e de forma muito estranha. A música transmitiu-me uma sensação de dilacerante tristeza, ainda que fosse muito bela. Tocavam o coração de uma maneira esquisita e pungente, e eu teria ido às lágrimas, não estivesse um tanto assustado e confuso. Posso dizer que me sentia bem ouvindo aquelas melodias, porém uma sensação de profunda dor e inquietação espiritual tomou conta de mim após o final inesperado e abrupto que ainda não consigo esquecer e muito menos expressar...”
Esse é o relato do escrivão Maurício Borges. E agora, para finalizar, deixarei o meu relato. Sim, eu estive no local, com a precisa intenção de ouvir os músicos invisíveis. Acampei em agosto de 2008 na região de onde se originaram as narrativas. Vaguei pelas coxilhas supostamente assombradas durante as manhãs, tardes e as noites de quase toda uma semana, até que no princípio da noite do 6º dia de meu acampamento, uma desolada melodia de flauta iniciou a entristecer meus ouvidos.
Em seguida, surgiram as notas lúgubres de um violão desesperado, que foram imediatamente repetidas em cânone, de forma trágica, pela beleza mórbida de um violino. Sentei-me sobre o campo e mergulhei extasiado naquela música de sofrimento indizível. Uma sensação de sangue sendo derramado e um clima absolutamente sombrio de ocaso iminente tornaram-se quase que palpáveis pelos ares densos da noite que iniciava.
Os músicos invisíveis foram intensificando a força de execução, e a música, em um furiosíssimo crescendo, assumiu uma velocidade frenética e sublimemente desesperada. Aquele som enfebrecido encerrou-se de uma forma anômala, canhestramente súbita, deixando uma sensação arrepiante, catastrófica, apocalíptica. Eu estava sentado sobre as coxilhas do pampa. Insano. Chorei.
06 abril 2009
Dor-me
dor mir...
esquecer-me da dor
nos mares mornos da morte
recordar-me de mim
nos dentes-deleite que mordem
que martelam de sonos
nos confins de astros de marte
de amarte
nas asas de um corvo-condor
minha alma de amar amarguras
em mar de noites procura
as chaves dos olhos de lua
que dormem em teu rosto que sonha...
...dor em a dor-me ser
que tu dormes
na minha tristeza de cosmos
e os que pensam
dirão que sou-me insensato
e os que agem
dirão que fujo do mundo
mas eu só
sonho
no que me deixas
Sonho
em que me beijas
esquecer-me da dor
nos mares mornos da morte
recordar-me de mim
nos dentes-deleite que mordem
que martelam de sonos
nos confins de astros de marte
de amarte
nas asas de um corvo-condor
minha alma de amar amarguras
em mar de noites procura
as chaves dos olhos de lua
que dormem em teu rosto que sonha...
...dor em a dor-me ser
que tu dormes
na minha tristeza de cosmos
e os que pensam
dirão que sou-me insensato
e os que agem
dirão que fujo do mundo
mas eu só
sonho
no que me deixas
Sonho
em que me beijas
03 abril 2009
Ir...
e se esvai
veloz
sai
das minhas veias
como vinho
que se vai
velho
pelas mãos
vaso
vazio
derrubado
várias vezes
várias vozes
que me vieram
e se foram
vãs
do meu lado
vinho
mal sangrado
que tu vinhas
às minhas veias
e não vieste
e eu me venho
não te vi
viva
e me vou
vendo
vazo
derramado
veloz
sai
das minhas veias
como vinho
que se vai
velho
pelas mãos
vaso
vazio
derrubado
várias vezes
várias vozes
que me vieram
e se foram
vãs
do meu lado
vinho
mal sangrado
que tu vinhas
às minhas veias
e não vieste
e eu me venho
não te vi
viva
e me vou
vendo
vazo
derramado
02 abril 2009
Schiller e Beethoven: a Força do Romantismo
Em 1782, aconteceu, na Alemanha, a primeira apresentação da genial obra teatral "Os Ladrões", do poeta e dramaturgo alemão Friedrich Von Schiller, um dos pioneiros do Romantismo na literatura. Era então o início do movimento romântico, no auge do "Sturm und Drang" (Tempestade e Ímpeto), e a obra de Schiller surgiu com força titânica ao servir de bandeira contra as injustiças sociais, contra o massacre da liberdade e erguendo o homem com todos os seus sonhos e ideais
O herói da obra, Karl Moor, torna-se líder de um bando de ladrões para lutar contra as injustiças que havia sofrido na sociedade. O fato de Karl não conseguir converter em realidade seus altos anseios e ideais não diminui a força do retrato de Schiller, a imagem emblemática de um único homem lutando para mudar o mundo. O ímpeto, a fúria e o desespero dessa obra revolucionária ficaram profundamente gravados na mente e no coração de seus expectadores.
Este trecho da resenha da primeira apresentação de "Os Ladrões", citada por Lewis Lockwood, deixa bem claro toda a força e impacto da obra:
"O teatro parecia um hospício - olhos esbugalhados, punhos fechados, gritos roucos no auditório. Pessoas se jogavam nos braços de desconhecidos, soluçando, mulheres a ponto de desmaiar se apressavam para a saída. Houve uma comoção universal, como num caos do qual irrompesse uma nova criação."
Anos mais tarde, em 1808, Beethoven, o gênio precursor do Romantismo na música, estreava a sua Quinta Sinfonia, a do Destino, impregnada do mais intenso e devastador espírito romântico. Esse hino à liberdade cheio de fúria e grandeza, trágico e vitorioso, causou em seu público o mesmo choque avassalador que a apresentação de "Os Ladrões", algo como um despertar da consciência.
A força do Romantismo irrompia como uma tempestade naqueles tempos. Na alma de alguns poucos homens, ela ainda continua...
(na imagem acima, Friedrich Schiller)
31 março 2009
Poema Agradável Para Vencer Concursos Literários
Eu sou feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá positivo)
Tu és feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá certinho)
Ele é feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá saudável)
Então
unamos nossos blablablás
para construirmos de mãos dadas
um mar de rosas
de felicidades
mascaradas.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá positivo)
Tu és feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá certinho)
Ele é feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá saudável)
Então
unamos nossos blablablás
para construirmos de mãos dadas
um mar de rosas
de felicidades
mascaradas.
28 março 2009
Meus Pêsames
ser o filho último
da Tragédia e do Crepúsculo
no leito de fins do cosmos
e ver as pombas me golfando sangue
por um surdo céu de gritos longes
lá no extremo de uma dança insana
onde meus olhos te serpeiam em sol
e caem velhos em teu poço frio
e ver-se em vinho afogar-se estrelas
e não tocar aquela luz que sinto
numa tormenta que me cega o cheiro
quando o amor me caiu nas costas
e derrubou-me pela lama rubra
e não voltar meu rosto a quem me derruba
ver voarem águias na montanha em chamas
e na noite lenta que me corre os sonhos
olhar a um anjo que me dá adeus
sem jamais tocar naquela mão que acena
e ver a verdade sorrir...
mas louco
sem poder vivê-la
me fecho os olhos...
dormir
da Tragédia e do Crepúsculo
no leito de fins do cosmos
e ver as pombas me golfando sangue
por um surdo céu de gritos longes
lá no extremo de uma dança insana
onde meus olhos te serpeiam em sol
e caem velhos em teu poço frio
e ver-se em vinho afogar-se estrelas
e não tocar aquela luz que sinto
numa tormenta que me cega o cheiro
quando o amor me caiu nas costas
e derrubou-me pela lama rubra
e não voltar meu rosto a quem me derruba
ver voarem águias na montanha em chamas
e na noite lenta que me corre os sonhos
olhar a um anjo que me dá adeus
sem jamais tocar naquela mão que acena
e ver a verdade sorrir...
mas louco
sem poder vivê-la
me fecho os olhos...
dormir
27 março 2009
Da Genialidade de Poe (Outra Pequena Homenagem aos seus 200 Anos)
A seguir, dois fatos pouco conhecidos sobre Edgar Allan Poe, que demonstram, porém, o alcance de sua genialidade:
1º - Em 1842, em Nova York, ocorreu o assassinato de Mary Cecilie Rogers. Tal crime permaneceu sem solução até novembro do mesmo ano, quando Poe escreveu o conto “O Mistério de Marie Roget”. Nesta obra, o autor, sob o pretexto de relatar a sorte de uma parisiense, seguiu em todas as minúcias os fatos essências do assassinato real de Mary Rogers, enquanto acompanhava os não essenciais. Ou seja, na verdade, Poe tratou em seu conto de tentar solucionar o mistério do crime, o que a polícia não havia feito até então. Escrevendo, pois, uma obra aparentemente fictícia, Poe, distante do cenário do crime e apenas acompanhado o desenrolar dos fatos pelos jornais, reuniu todas as informações possíveis sobre o assassínio. Utilizando-se de sua mente e de sua imaginação fenomenais, de sua espantosa capacidade dedutiva, chegou sozinho à solução do mistério. Mais tarde, foi comprovado que a conclusão geral de Poe sobre quem seria o assassino de Mary Rogers estava corretíssima. E não só isso: absolutamente todos os principais pormenores hipotéticos por meios dos quais foi essa conclusão obtida também foram desenvolvidos de forma integralmente correta.
Impressiona enormemente que Poe tenha chegado sozinho à solução de um crime, muito antes da polícia, e distante do cenário do assassinato. Não é à toa que foi ele o criador do gênero policial na literatura. Se não fosse um gênio da arte, Poe seria um genial detetive.
2º - Poe escreveu um ensaio que une um caráter científico, filosófico, metafísico e poético intitulado “Eureka (Ensaio sobre o Universo Material e Espiritual). Nessa extensa obra, de profunda e densa beleza artística, Poe, entre outros assuntos, transmite-nos a sua visão da origem do universo. Porém, o que mais nos surpreende é que nesse ensaio, escrito durante a primeira metade do século XIX, Poe antecipa-se em mais de um século às teorias científicas do século XX sobre o universo e sua origem. Em “Eureka”, o gênio nos passa a visão de que o universo se originou de um único todo informado, um átomo inicial, como afirma a teoria do “Big Bang”. Poe ainda escreve que, ao fim, tudo o que foi formado no universo voltará ao seu seio inicial, ao “átomo” primordial.
Esses são apenas alguns exemplos da obra de um dos maiores gênios da história da humanidade: Edgar Allan Poe.
1º - Em 1842, em Nova York, ocorreu o assassinato de Mary Cecilie Rogers. Tal crime permaneceu sem solução até novembro do mesmo ano, quando Poe escreveu o conto “O Mistério de Marie Roget”. Nesta obra, o autor, sob o pretexto de relatar a sorte de uma parisiense, seguiu em todas as minúcias os fatos essências do assassinato real de Mary Rogers, enquanto acompanhava os não essenciais. Ou seja, na verdade, Poe tratou em seu conto de tentar solucionar o mistério do crime, o que a polícia não havia feito até então. Escrevendo, pois, uma obra aparentemente fictícia, Poe, distante do cenário do crime e apenas acompanhado o desenrolar dos fatos pelos jornais, reuniu todas as informações possíveis sobre o assassínio. Utilizando-se de sua mente e de sua imaginação fenomenais, de sua espantosa capacidade dedutiva, chegou sozinho à solução do mistério. Mais tarde, foi comprovado que a conclusão geral de Poe sobre quem seria o assassino de Mary Rogers estava corretíssima. E não só isso: absolutamente todos os principais pormenores hipotéticos por meios dos quais foi essa conclusão obtida também foram desenvolvidos de forma integralmente correta.
Impressiona enormemente que Poe tenha chegado sozinho à solução de um crime, muito antes da polícia, e distante do cenário do assassinato. Não é à toa que foi ele o criador do gênero policial na literatura. Se não fosse um gênio da arte, Poe seria um genial detetive.
2º - Poe escreveu um ensaio que une um caráter científico, filosófico, metafísico e poético intitulado “Eureka (Ensaio sobre o Universo Material e Espiritual). Nessa extensa obra, de profunda e densa beleza artística, Poe, entre outros assuntos, transmite-nos a sua visão da origem do universo. Porém, o que mais nos surpreende é que nesse ensaio, escrito durante a primeira metade do século XIX, Poe antecipa-se em mais de um século às teorias científicas do século XX sobre o universo e sua origem. Em “Eureka”, o gênio nos passa a visão de que o universo se originou de um único todo informado, um átomo inicial, como afirma a teoria do “Big Bang”. Poe ainda escreve que, ao fim, tudo o que foi formado no universo voltará ao seu seio inicial, ao “átomo” primordial.
Esses são apenas alguns exemplos da obra de um dos maiores gênios da história da humanidade: Edgar Allan Poe.
25 março 2009
Esquecimento...
um passo de luz pela mata
cegando meu sonho em tormento –
esquecimento esquecimento –
de tudo o que não me lembrei
um astro de som pela noite
esmagando o meu pensamento –
esquecimento... esquecimento –
de tudo o que um dia esperei
um vago sinal destas artes
lá acima de meu sentimento –
esquecimento... ah esquecimento –
de tudo que em mim eu guardei
um sopro de sol dos teus olhos
em lábios de falecimento –
esquecimento... oh Esquecimento!
do que jamais esquecerei..
cegando meu sonho em tormento –
esquecimento esquecimento –
de tudo o que não me lembrei
um astro de som pela noite
esmagando o meu pensamento –
esquecimento... esquecimento –
de tudo o que um dia esperei
um vago sinal destas artes
lá acima de meu sentimento –
esquecimento... ah esquecimento –
de tudo que em mim eu guardei
um sopro de sol dos teus olhos
em lábios de falecimento –
esquecimento... oh Esquecimento!
do que jamais esquecerei..
23 março 2009
Sem Saída
al-cansei-me:
voou anoitecer-me na luz
no reterno do tempo
horando...
anoitecer-me
à minha-noite
em quanto
a humanidade
ao sol se esquenta:
tomara
que venha
uma Tormenta
voou anoitecer-me na luz
no reterno do tempo
horando...
anoitecer-me
à minha-noite
em quanto
a humanidade
ao sol se esquenta:
tomara
que venha
uma Tormenta
22 março 2009
Manifesto contra a Tirania
A Liberdade está acima de tudo. Todos os grandes artistas lutaram incansavelmente pelo liberdade em todos os sentidos. O direito à liberdade individual deve ser sempre a maior bandeira do artista, desde que essa liberdade respeite a liberdade dos outros indivíduos. Agora, que a liberdade de expressão é um dos assuntos em voga em nossa cidade, decidi republicar o texto abaixo, que aborda exatamente a questão da Liberdade. Já me manifestei contra a tirania de Oracy Dornelles, que intenta impor suas regras e valores como as únicas corretas. E é muito estranho que tal senhor assim queira agir, uma vez que Beethoven, gênio que ele tanto admira, foi um dos mais ferrenhos adversários de todos os tipos de tirania. Certamente, desprezaria Oracy pelos seus atos.
O texto abaixo é como um grito pela liberdade em todos os sentidos um protesto contra todos aqueles que julgam que podem estabelecer suas regras como válidas para todos os indivíduos e que acreditam ter o poder de estabelecer o que é certo ou errado.
E Nunca Vou Por Ali...
Vocês sentaram em seus tronos de certeza vazia e de sabedoria inútil para tentar ditar-me as regras de como devo viver. Quem disse que vocês as conhecem? Onde estão as leis que garantem que as suas regras estão corretas? Onde estão as verdades que garantem o que é correto? As suas verdades são a Verdade? Vocês estão certos que chegaram até ela para preconizá-la para todo mundo em absoluta e arrogante segurança? A realidade é exatamente o que vocês vêem? Não há outras realidades, só a que vocês determinam como realidade? Mas que mania de querer convencer-me daquilo que vocês julgam que sabem!
Então quer dizer que vocês chegaram à verdade e eu não? Os caminhos de vocês são os corretos e os meus não? Quer dizer que eu preciso de intermediários para chegar à verdade, e os intermediários são vocês? Então eu devo entre dezenas, centenas de gênios que mortificaram suas vidas em busca do conhecimento escolher dentre eles uns 2 ou 3 como corretos e desprezar todos os outros? E, coincidentemente, esses 2 ou 3 gênios que devo escolher para seguir são os mesmos que vocês escolheram?
Então vocês intentaram com sua sabedoria resolver o mundo, salvar a humanidade, não fizeram nada disso, mas querem que eu acredite que vocês estão certos? Intentaram, com a limitação de seus conhecimentos, limitar o que é infinito, enquadrar tudo o que é misterioso dentro de seus miseráveis conceitos, emparedar o eterno dentro de suas diretrizes egoístas, intentaram podar todos os sonhos, massacrar todas as esperanças, reduzir a vida a um punhado de teorias mecânicas, e agora vêm com esses sorrisos estúpidos e hipócritas me dizer que eu devo segui-los?
O que foi que vocês fizeram com suas sabedorias? O que foi que construíram? Um mundo desesperado? Uma vida sem nenhum sentido? O conhecimento de vocês só serviu para deixar claro que todo o sentido da vida é o dinheiro ou tudo o que ele pode adquirir, isto é, tudo o que é material? Como vocês querem uma humanidade justa, equilibrada, harmoniosa, se vocês pregam que não há justiça, nem equilíbrio, nem harmonia nas existências universais?
Os frutos da sua sabedoria é esse mundo que aí está? Então o mais alto conhecimento é aquele que destrói o planeta? É aquele que aniquila as almas? É aquele que por pregar que a alma é uma ilusão julgou que poderia explorar até o esgotamento toda a vida natural? Combateram crenças fanáticas com outras crenças fanáticas? Tentaram destronar os que ditavam leis para sentar no trono deles e ditar as suas leis? Tentaram sair da escuridão com uma ciência que mergulhou o mundo em treva? A treva do Fim! Fizeram crer que as verdades dos gênios das artes não passam de ilusão e depois ainda vêm falar-me de arte? Querem que eu acredite que a arte é inútil? E a sua ciência materialista a salvação?
Vocês sentem o que eu sinto, vêem o que eu vejo, percebem o que eu percebo? Não? Então por que querem que eu sinta, veja e perceba como vocês? Quer dizer então que se eu tenho asas devo cortá-las porque vocês não as têm? Quer dizer que o que vocês não sabem mais ninguém pode saber? Que se vocês acreditarem que algo não existe, definitivamente esse algo não pode existir?
Na lógica de vocês, muito mais valeria a pena viver para satisfazer prazeres, um absoluto hedonismo, cujos únicos valores seriam o do dinheiro. É assim que vive a humanidade. Sim, para que fazer mais do que isso se tudo irá se perder no dia da morte? Não viver dessa forma seria uma incoerência na sua lógica. E depois ainda vêm me falar de contradições? Na lógica de vocês, a sabedoria não pode valer a pena. Se tudo é injusto, se a lei de ação e reação não age em nossas vidas, se tudo é por acaso, se nada tem um sentido, se a felicidade de uma pessoa é medida pelos bens físicos que adquiriu, pela saúde que teve, pela sua beleza física, pelos prazeres que viveu, para que sabedoria? Para depois de se abarrotar com ela, morrer e jogá-la fora, deixar que ela apodreça com nosso corpo?
Se é assim, não vale a pena buscá-la, e a pessoa de vida mais correta seria alguém como a Gisele Bündchen, ou como o Ronaldinho, ou como qualquer gângster por aí. Sim. Se nada tem sentido, a sabedoria teria muito menos. Sabedoria deve servir para se ensinar a amar. Se no universo não há leis, leis que valem para todas as vidas, se não há justiça, se não há equilíbrio, se não há sentido para as coisas, se tudo veio por acidente, então também não há amor. Se não há amor no universo, então para que amarmos entre nós? E se não se é possível amar, então não há motivos para a sabedoria.
Então, não me venham com as suas sabedorias. A sabedoria que busco é outra. É como disse José Régio:
"Vem por aqui"
- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...”
O texto abaixo é como um grito pela liberdade em todos os sentidos um protesto contra todos aqueles que julgam que podem estabelecer suas regras como válidas para todos os indivíduos e que acreditam ter o poder de estabelecer o que é certo ou errado.
E Nunca Vou Por Ali...
Vocês sentaram em seus tronos de certeza vazia e de sabedoria inútil para tentar ditar-me as regras de como devo viver. Quem disse que vocês as conhecem? Onde estão as leis que garantem que as suas regras estão corretas? Onde estão as verdades que garantem o que é correto? As suas verdades são a Verdade? Vocês estão certos que chegaram até ela para preconizá-la para todo mundo em absoluta e arrogante segurança? A realidade é exatamente o que vocês vêem? Não há outras realidades, só a que vocês determinam como realidade? Mas que mania de querer convencer-me daquilo que vocês julgam que sabem!
Então quer dizer que vocês chegaram à verdade e eu não? Os caminhos de vocês são os corretos e os meus não? Quer dizer que eu preciso de intermediários para chegar à verdade, e os intermediários são vocês? Então eu devo entre dezenas, centenas de gênios que mortificaram suas vidas em busca do conhecimento escolher dentre eles uns 2 ou 3 como corretos e desprezar todos os outros? E, coincidentemente, esses 2 ou 3 gênios que devo escolher para seguir são os mesmos que vocês escolheram?
Então vocês intentaram com sua sabedoria resolver o mundo, salvar a humanidade, não fizeram nada disso, mas querem que eu acredite que vocês estão certos? Intentaram, com a limitação de seus conhecimentos, limitar o que é infinito, enquadrar tudo o que é misterioso dentro de seus miseráveis conceitos, emparedar o eterno dentro de suas diretrizes egoístas, intentaram podar todos os sonhos, massacrar todas as esperanças, reduzir a vida a um punhado de teorias mecânicas, e agora vêm com esses sorrisos estúpidos e hipócritas me dizer que eu devo segui-los?
O que foi que vocês fizeram com suas sabedorias? O que foi que construíram? Um mundo desesperado? Uma vida sem nenhum sentido? O conhecimento de vocês só serviu para deixar claro que todo o sentido da vida é o dinheiro ou tudo o que ele pode adquirir, isto é, tudo o que é material? Como vocês querem uma humanidade justa, equilibrada, harmoniosa, se vocês pregam que não há justiça, nem equilíbrio, nem harmonia nas existências universais?
Os frutos da sua sabedoria é esse mundo que aí está? Então o mais alto conhecimento é aquele que destrói o planeta? É aquele que aniquila as almas? É aquele que por pregar que a alma é uma ilusão julgou que poderia explorar até o esgotamento toda a vida natural? Combateram crenças fanáticas com outras crenças fanáticas? Tentaram destronar os que ditavam leis para sentar no trono deles e ditar as suas leis? Tentaram sair da escuridão com uma ciência que mergulhou o mundo em treva? A treva do Fim! Fizeram crer que as verdades dos gênios das artes não passam de ilusão e depois ainda vêm falar-me de arte? Querem que eu acredite que a arte é inútil? E a sua ciência materialista a salvação?
Vocês sentem o que eu sinto, vêem o que eu vejo, percebem o que eu percebo? Não? Então por que querem que eu sinta, veja e perceba como vocês? Quer dizer então que se eu tenho asas devo cortá-las porque vocês não as têm? Quer dizer que o que vocês não sabem mais ninguém pode saber? Que se vocês acreditarem que algo não existe, definitivamente esse algo não pode existir?
Na lógica de vocês, muito mais valeria a pena viver para satisfazer prazeres, um absoluto hedonismo, cujos únicos valores seriam o do dinheiro. É assim que vive a humanidade. Sim, para que fazer mais do que isso se tudo irá se perder no dia da morte? Não viver dessa forma seria uma incoerência na sua lógica. E depois ainda vêm me falar de contradições? Na lógica de vocês, a sabedoria não pode valer a pena. Se tudo é injusto, se a lei de ação e reação não age em nossas vidas, se tudo é por acaso, se nada tem um sentido, se a felicidade de uma pessoa é medida pelos bens físicos que adquiriu, pela saúde que teve, pela sua beleza física, pelos prazeres que viveu, para que sabedoria? Para depois de se abarrotar com ela, morrer e jogá-la fora, deixar que ela apodreça com nosso corpo?
Se é assim, não vale a pena buscá-la, e a pessoa de vida mais correta seria alguém como a Gisele Bündchen, ou como o Ronaldinho, ou como qualquer gângster por aí. Sim. Se nada tem sentido, a sabedoria teria muito menos. Sabedoria deve servir para se ensinar a amar. Se no universo não há leis, leis que valem para todas as vidas, se não há justiça, se não há equilíbrio, se não há sentido para as coisas, se tudo veio por acidente, então também não há amor. Se não há amor no universo, então para que amarmos entre nós? E se não se é possível amar, então não há motivos para a sabedoria.
Então, não me venham com as suas sabedorias. A sabedoria que busco é outra. É como disse José Régio:
"Vem por aqui"
- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...”
Águas do Fim*
águas em marcha
fúnebre
águas de março
seco
águas alvas
brancas
águas claras
de espuma: de ter gente
águas belas?
águas plásticas
chuvas ácidas
gotas trágicas
água da vida?
água da morte
dá medo
dá peste
e morre
a humanidade
e a água:
perdida
acabada.
e o que tu fazes?
fezes,
sem mágica...
e que água que resta?
a Lágrima.
*Poema ao Dia Mundial da Água: 22/03/2009
fúnebre
águas de março
seco
águas alvas
brancas
águas claras
de espuma: de ter gente
águas belas?
águas plásticas
chuvas ácidas
gotas trágicas
água da vida?
água da morte
dá medo
dá peste
e morre
a humanidade
e a água:
perdida
acabada.
e o que tu fazes?
fezes,
sem mágica...
e que água que resta?
a Lágrima.
*Poema ao Dia Mundial da Água: 22/03/2009
21 março 2009
O Hipócrita*
traz açúcar nos olhos
faz veneno com a alma
colhe flores com os dedos
chuta pedra com os pés
grande amigo nos lábios
vil demônio no peito
canta amor pelas ruas
rói rancor pelos cantos
aponta com a mão a verdade
carrega no bolso a mentira
enxerga o mal que há nos outros
e quebra o espelho em sua face
enfim
o hipócrita é a luz
do fogo-fátuo
da podridão
*poema publicado no jornal Zero Hora, na coluna Almanaque Gaúcho, em 19/03/2009
faz veneno com a alma
colhe flores com os dedos
chuta pedra com os pés
grande amigo nos lábios
vil demônio no peito
canta amor pelas ruas
rói rancor pelos cantos
aponta com a mão a verdade
carrega no bolso a mentira
enxerga o mal que há nos outros
e quebra o espelho em sua face
enfim
o hipócrita é a luz
do fogo-fátuo
da podridão
*poema publicado no jornal Zero Hora, na coluna Almanaque Gaúcho, em 19/03/2009
20 março 2009
Só a Lua...
a lua nasce para todos...
bem mais que o sol
que o sol não sonha
só a lua é sono
ao sim de sinos
sem sangue e susto
só luz e lábio
ser longe e langue
ao som de seres
sonata e lágrima
só a lua alenta
só o sono é santo
que a lua é lenda
por lagos longos
soneto e lobo
suspiro e sinto
sou louco e livro
me leva em lenta
só a lua é lava
e a língua é bela...
se a lua é livre
teu olhar é ela...
bem mais que o sol
que o sol não sonha
só a lua é sono
ao sim de sinos
sem sangue e susto
só luz e lábio
ser longe e langue
ao som de seres
sonata e lágrima
só a lua alenta
só o sono é santo
que a lua é lenda
por lagos longos
soneto e lobo
suspiro e sinto
sou louco e livro
me leva em lenta
só a lua é lava
e a língua é bela...
se a lua é livre
teu olhar é ela...
19 março 2009
Quem é Oracy Dornelles?
Há momentos em que falar é um delito. Há outros, em que o delito é calar. O poeta Oracy Dornelles mais uma vez afirma que não há bons poetas em Santiago. Ou seja, no seu julgamento somente ele é um bom poeta. Tem todo o direito de expor sua opinião. Se bem que suas opiniões são um tanto paradoxais. Há bem pouco tempo, para o Oracy havia, fora ele, somente um bom poeta em Santiago: o poeta Froilam de Oliveira. E sempre se derramava em elogios ao seu livro “Ponteiro de Palavras”. Curiosamente, de uns tempos para cá, por motivos que não me cabe analisar, voltou-se contra o Froilam e agora o considera um mau poeta. Eu pergunto: qual das duas opiniões de Oracy deve ser levada em conta, afinal? Será que suas opiniões têm mesmo algum valor, se são sempre levadas a cabo de acordo com seus interesses pessoais e não de acordo com um julgamento imparcial? Para mim, as opiniões de Oracy são como suas piadas: vazias. No entanto, jamais devemos ficar calados às tentativas da tirania.
Bem, mas eu também tenho o direito de expor a minha opinião. Eu sou o único santiaguense a afirmar sem medo que a poesia atual de Oracy se tornou aquilo que ele se propôs construir: uma piada. Antes de tudo, de que adiantou todo o estudo teórico que ele afirma ter efetuado, se foi para encerrar sua carreira escrevendo piadas com baixíssimo valor literário. Afinal, onde se fala em Oracy hoje em dia? Sinceramente, não vejo nos meios literários do Brasil qualquer alarde sobre sua obra. Somente se fala sobre seu ridículo e inútil circo de pulgas. Agora, somente porque ele vendeu três livros para o exterior, julga-se no direito de ditar o que é bom ou ruim? Convenhamos que para um poeta de quase 80 anos com 10 livros publicados e que se considera um fenômeno literário, ter três livros vendidos no exterior é muito pouco. Eu mesmo vendi alguns de meu livro de contos para Portugal e Uruguai. Só que eu tenho 31 anos. Além do mais, se procurarmos no Google, há 7.750 ocorrências para Alessandro Reiffer e 2.250 para Oracy Dornelles. Isso significa alguma coisa? Claro que não. O fato de eu possuir mais ocorrências no Google que ele não significa absolutamente nada. E muito menos significa alguma coisa ele ter vendido três livros para o exterior, comprados por colecionadores, que sempre adquirem qualquer bobagem. A verdade é que o Oracy como poeta, depois de escrever por 64 anos, mal ultrapassa as barreiras de Santiago.
Tal poeta crê que somente ele estuda poesia, literatura, arte em Santiago, ninguém mais, que só ele sabe o que pode ser feito ou não, crendo que todos os outros nunca ouviram falar em metrificação, por exemplo. Convido o Oracy para conhecer a literatura que é feita hoje pelo mundo, onde cada vez mais se despreza o poema-piada. Além do mais, ele fala como se o poema-piada fosse uma criação sua. Não só todos sabem que não é, como há centenas de poetas no Brasil que cultivam o estilo. Estilo esse cada vez mais caindo em descrédito, uma vez que é algo extremamente pobre em conteúdo, em sensações e em expressividade poética. Assim são os poemas-piada de Oracy. Impecáveis na técnica, vazios de conteúdo. Qualquer conhecedor de literatura e arte que não esteja condicionado pela mentalidade provinciana de Santiago reconhece tal fato imediatamente.
Isso sem falar nas suas caricaturas, as quais qualquer estudante de desenho faz melhor. Que o diga meu amigo PC. Suas micropinturas são outro exemplo de técnica apurada, porém sem nenhuma emoção ou profundidade. Suas esculturas estão absolutamente dentro da média. Há milhares de outros escultores melhores que ele no Brasil. O problema de Oracy Dornelles é que ele pôs na cabeça que é um gênio, e muitos em Santiago acreditaram. Fora daqui, ele cai ao seu verdadeiro valor. Tem talento para escrita, nada mais. Talento esse que ele vem desperdiçando com uma poesia ridícula que ele julga o suprassumo da literatura pós-moderna. Isso é, no mínimo, uma ignorância e uma vergonhosa mania de grandeza.
O que há de mais na poesia de Oracy? Na atual só há de menos, e na antiga, o que há são bons poemas dentro da média da produção brasileira da época. Poemas clássicos ou modernistas, mas absolutamente normais, não vejo realmente nada de fantástico ou fenomenal. O Oracy fala de outros poetas como se ele fosse mundialmente reconhecido como um dos maiores poetas da atualidade. Só ele e alguns santiaguenses ignorantes pensam assim. Onde está o reconhecimento da poesia de Oracy como sendo tudo isso que ele diz? Sinceramente, não vejo em parte alguma. Ah, ele espera ser reconhecido dentro de 50 anos? Ah, isso eu também espero. Vamos ver se alguém vai ser, não é mesmo? A diferença é que quando ele tinha 30 anos ele também devia pensar que seria reconhecido dentro de 50 anos. Lamento informar, senhor Oracy, mas já passaram 50 anos. Veremos então, poeta Oracy, se as suas piadas terão algum valor em 50 anos. Em 50 anos, o mundo não mais terá condições psicológicas de rir de uma piada, não haverá bom humor para suas brincadeiras literárias, que indignariam Beethoven, por exemplo, se ele soubesse que o senhor as classifica como arte. É melhor fazer montes de versos do que montes de piadas.
Bem, mas eu também tenho o direito de expor a minha opinião. Eu sou o único santiaguense a afirmar sem medo que a poesia atual de Oracy se tornou aquilo que ele se propôs construir: uma piada. Antes de tudo, de que adiantou todo o estudo teórico que ele afirma ter efetuado, se foi para encerrar sua carreira escrevendo piadas com baixíssimo valor literário. Afinal, onde se fala em Oracy hoje em dia? Sinceramente, não vejo nos meios literários do Brasil qualquer alarde sobre sua obra. Somente se fala sobre seu ridículo e inútil circo de pulgas. Agora, somente porque ele vendeu três livros para o exterior, julga-se no direito de ditar o que é bom ou ruim? Convenhamos que para um poeta de quase 80 anos com 10 livros publicados e que se considera um fenômeno literário, ter três livros vendidos no exterior é muito pouco. Eu mesmo vendi alguns de meu livro de contos para Portugal e Uruguai. Só que eu tenho 31 anos. Além do mais, se procurarmos no Google, há 7.750 ocorrências para Alessandro Reiffer e 2.250 para Oracy Dornelles. Isso significa alguma coisa? Claro que não. O fato de eu possuir mais ocorrências no Google que ele não significa absolutamente nada. E muito menos significa alguma coisa ele ter vendido três livros para o exterior, comprados por colecionadores, que sempre adquirem qualquer bobagem. A verdade é que o Oracy como poeta, depois de escrever por 64 anos, mal ultrapassa as barreiras de Santiago.
Tal poeta crê que somente ele estuda poesia, literatura, arte em Santiago, ninguém mais, que só ele sabe o que pode ser feito ou não, crendo que todos os outros nunca ouviram falar em metrificação, por exemplo. Convido o Oracy para conhecer a literatura que é feita hoje pelo mundo, onde cada vez mais se despreza o poema-piada. Além do mais, ele fala como se o poema-piada fosse uma criação sua. Não só todos sabem que não é, como há centenas de poetas no Brasil que cultivam o estilo. Estilo esse cada vez mais caindo em descrédito, uma vez que é algo extremamente pobre em conteúdo, em sensações e em expressividade poética. Assim são os poemas-piada de Oracy. Impecáveis na técnica, vazios de conteúdo. Qualquer conhecedor de literatura e arte que não esteja condicionado pela mentalidade provinciana de Santiago reconhece tal fato imediatamente.
Isso sem falar nas suas caricaturas, as quais qualquer estudante de desenho faz melhor. Que o diga meu amigo PC. Suas micropinturas são outro exemplo de técnica apurada, porém sem nenhuma emoção ou profundidade. Suas esculturas estão absolutamente dentro da média. Há milhares de outros escultores melhores que ele no Brasil. O problema de Oracy Dornelles é que ele pôs na cabeça que é um gênio, e muitos em Santiago acreditaram. Fora daqui, ele cai ao seu verdadeiro valor. Tem talento para escrita, nada mais. Talento esse que ele vem desperdiçando com uma poesia ridícula que ele julga o suprassumo da literatura pós-moderna. Isso é, no mínimo, uma ignorância e uma vergonhosa mania de grandeza.
O que há de mais na poesia de Oracy? Na atual só há de menos, e na antiga, o que há são bons poemas dentro da média da produção brasileira da época. Poemas clássicos ou modernistas, mas absolutamente normais, não vejo realmente nada de fantástico ou fenomenal. O Oracy fala de outros poetas como se ele fosse mundialmente reconhecido como um dos maiores poetas da atualidade. Só ele e alguns santiaguenses ignorantes pensam assim. Onde está o reconhecimento da poesia de Oracy como sendo tudo isso que ele diz? Sinceramente, não vejo em parte alguma. Ah, ele espera ser reconhecido dentro de 50 anos? Ah, isso eu também espero. Vamos ver se alguém vai ser, não é mesmo? A diferença é que quando ele tinha 30 anos ele também devia pensar que seria reconhecido dentro de 50 anos. Lamento informar, senhor Oracy, mas já passaram 50 anos. Veremos então, poeta Oracy, se as suas piadas terão algum valor em 50 anos. Em 50 anos, o mundo não mais terá condições psicológicas de rir de uma piada, não haverá bom humor para suas brincadeiras literárias, que indignariam Beethoven, por exemplo, se ele soubesse que o senhor as classifica como arte. É melhor fazer montes de versos do que montes de piadas.
Na Noite... (Conto dedicado à Noite)
Finalmente anoitecera... Há muito que eu esperava que a noite caísse sobre a minha alma exausta. O odioso dia ocultava-se desesperado atrás do sangue dos horizontes enfermos. A noite descia lenta e agonicamente, e com ela meus sonhos eclodiam furiosos e tomavam conta de minha existência destituída de sorte. Infinitas vozes dos céus enegrecidos desciam em voos sobre os meus olhos. Uma alegria espiritual advinda dos meus sonhos em desespero invadia-me como um incêndio invade os campos da humanidade por onde eu perambulava minha solidão.
Não havia lua na escuridão fúnebre de um romantismo absurdo. Minhas pernas avançavam lentamente por entre campos vastos, arbustos imensos, árvores gigantes, flores que eu reconhecia pelos aromas de incensos densos e nervosos que me inebriavam. Insano, eu não sabia para onde iria. Sabia apenas que iria encontrá-la. E somente o silêncio aterrador, o mistério indecifrável, a morbidez sem freios, o desejo infinito e insatisfeito que se alastrava como o pio das corujas pela treva poderia me permitir que eu a encontrasse. Mesmo não sabendo quem ela era, eu saberia a encontrar...
Mais e mais eu me aprofundava na Noite. E a Noite se aprofundava em minha alma. E quanto mais eu anoitecia, mais eu era eu mesmo e sentia-me liberto de toda a sensatez da medíocre vida humana. Rumores do desconhecido e de seres inexistentes cruzavam-se pelos meus lábios, roçavam seus dedos pelos meus olhos e sussurravam canções sensualmente entristecidas nos meus ouvidos.
Eu não sabia para onde me dirigia. Não sabia em que lugar estava, embrenhava-me como um embriagado de sensações em conflito pelas matas sombrias, que de forma lenta, lugubremente lenta, surgiam e se expandiam diante de minha face perplexa que nada enxergava. Apenas sabia que iria encontrá-la por entre a Noite absoluta.
A Noite era a minha felicidade, pois a Noite descia e me afastava dos homens e de seus valores inúteis para mim. A Noite era a minha liberdade única. As canções inflamadas de uma febre sem destino nasciam de todos os cantos da escuridão. Falavam-me de sonhos e desejos cósmicos jamais conhecidos. Sentia um ruflar de asas sobre minha respiração estertorosa. Alguma coisa batia suas asas sobre mim e foi gradativamente se afastando, deixando uma impressão escarlate, como alguém que deixa um sentencioso aviso e parte.
Com esse aviso, senti sua aproximação. Ela estava próxima. Eu bendizia a Noite por permitir-me encontrá-la. Por afastar-me da revoltante vida humana sob a luz inútil do dia. Só na Noite eu poderia sonhar e amar e viver minha vida que não era a vida humana.
Uma sensação de crepúsculo assomou-me aos olhos, quando uma tênue luz de velas surgiu fantasmagórica por entre as densas árvores da mata onde penetrei inebriado de delírio. Foi então que pude distinguir que lá estava ela, envolvida por dezenas de velas rubras de onde resplandeciam, como fogos-fátuos, sublimes chamas azuis. Foi nessa luminosidade que a vi, em êxtase absoluto. Então soprou um vento morno e arrepiante que abriu todo o céu antes carregado com as tempestuosas nuvens. Uma lua cheia e brilhante como os olhos dela surgiu sendo rainha absoluta da escuridão. Estrelas imensas assomaram como por encanto nos céus agora límpidos. Era estranho e belo uma noite anomalamente iluminada por uma lua cheia e por estrelas anormais ao mesmo tempo.
Lenta e misteriosamente ela se aproximou de mim. Abraçou-me em incêndios, beijou-me em lavas vulcânicas e sussurrou-me aos ouvidos palavras ardentes, tais como estas:
- Dize teu adeus definitivo ao dia. Vem comigo e abraça o fogo da Noite, o único que te levará ao amor... O sol, a luz, o calor do dia sempre te farão mal. O dia é o trabalho, o movimento, a sensatez, a turbulência dos afazeres da inútil existência comum dos homens. O dia é tudo que é alegre e aberto, claro e correto, tudo o que é finito e transparente. A Noite é o oposto de tudo isso. Esquece a vida dos homens e dê-me tua mão pelo infinito da Noite. Somente pelas suas sombras castas e protetoras nos será permitido o amor, ocultos dos mesquinhos e miseráveis olhares humanos. Que a treva da noite seja o nosso arcanjo confidente, que conhece e cuida dos nossos mais fundos segredos.
- Vem comigo, que a Noite é o descanso e a paz tão almejados por ti. A Noite é o desconhecido, a Noite é a arte, a Noite é o mistério, a Noite é o amor. Eu te levarei por entre o além das existências e te libertarei de tudo o que é dia... De tudo aquilo que massacra o sonho, de tudo o que perturba as águas tranquilas e cristalinas dos lagos astrais. O mundo diurno das preocupações dos homens mais nada tem a te dizer. Esquece as palavras dos homens e escuta a dos anjos.
A ela somente respondi que a Noite era os olhares e os beijos dela, e por isso eu iria mergulhar-me mais e mais na escuridão noturna.
Nesse instante, ela puxou-me pela mão e levou-me em uma lenta caminhada até uma elevação situada no centro da mata. Escalamos a elevação com uma estranha suavidade e ao atingirmos o topo, percebi que de lá poderíamos avistar infinitos horizontes ao nosso redor. Então ela depositou um intenso beijo em meus lábios, disse-me para observar o que aconteceria nos horizontes e desceu a elevação como que flutuando etericamente.
Ali permaneci, sozinho e em terrível expectativa. Até que ao fundo penumbroso dos montes, um sol de um vermelho febricitante e incendiado surgiu com uma violência e rapidez absurdas. Em questão de minutos, subia ao alto dos céus, enquanto por todos os lugares incêndios se alastraram com velocidade vertiginosa, até onde minha vista alcançava. Pessoas em multidões incontáveis surgiam de todos os cantos, em uma correria desesperada e assustadora.
Tais pessoas destruíam de forma implacável tudo o que viam pela frente, inclusive elas mesmas, utilizando-se de avançadas e mortíferas máquinas. Massacres colossais derramavam oceanos de sangue por todos os campos em chamas, e o vermelho do líquido sanguíneo e das chamas nebulosas se confundiam e imperavam absolutas.
Não havia lua na escuridão fúnebre de um romantismo absurdo. Minhas pernas avançavam lentamente por entre campos vastos, arbustos imensos, árvores gigantes, flores que eu reconhecia pelos aromas de incensos densos e nervosos que me inebriavam. Insano, eu não sabia para onde iria. Sabia apenas que iria encontrá-la. E somente o silêncio aterrador, o mistério indecifrável, a morbidez sem freios, o desejo infinito e insatisfeito que se alastrava como o pio das corujas pela treva poderia me permitir que eu a encontrasse. Mesmo não sabendo quem ela era, eu saberia a encontrar...
Mais e mais eu me aprofundava na Noite. E a Noite se aprofundava em minha alma. E quanto mais eu anoitecia, mais eu era eu mesmo e sentia-me liberto de toda a sensatez da medíocre vida humana. Rumores do desconhecido e de seres inexistentes cruzavam-se pelos meus lábios, roçavam seus dedos pelos meus olhos e sussurravam canções sensualmente entristecidas nos meus ouvidos.
Eu não sabia para onde me dirigia. Não sabia em que lugar estava, embrenhava-me como um embriagado de sensações em conflito pelas matas sombrias, que de forma lenta, lugubremente lenta, surgiam e se expandiam diante de minha face perplexa que nada enxergava. Apenas sabia que iria encontrá-la por entre a Noite absoluta.
A Noite era a minha felicidade, pois a Noite descia e me afastava dos homens e de seus valores inúteis para mim. A Noite era a minha liberdade única. As canções inflamadas de uma febre sem destino nasciam de todos os cantos da escuridão. Falavam-me de sonhos e desejos cósmicos jamais conhecidos. Sentia um ruflar de asas sobre minha respiração estertorosa. Alguma coisa batia suas asas sobre mim e foi gradativamente se afastando, deixando uma impressão escarlate, como alguém que deixa um sentencioso aviso e parte.
Com esse aviso, senti sua aproximação. Ela estava próxima. Eu bendizia a Noite por permitir-me encontrá-la. Por afastar-me da revoltante vida humana sob a luz inútil do dia. Só na Noite eu poderia sonhar e amar e viver minha vida que não era a vida humana.
Uma sensação de crepúsculo assomou-me aos olhos, quando uma tênue luz de velas surgiu fantasmagórica por entre as densas árvores da mata onde penetrei inebriado de delírio. Foi então que pude distinguir que lá estava ela, envolvida por dezenas de velas rubras de onde resplandeciam, como fogos-fátuos, sublimes chamas azuis. Foi nessa luminosidade que a vi, em êxtase absoluto. Então soprou um vento morno e arrepiante que abriu todo o céu antes carregado com as tempestuosas nuvens. Uma lua cheia e brilhante como os olhos dela surgiu sendo rainha absoluta da escuridão. Estrelas imensas assomaram como por encanto nos céus agora límpidos. Era estranho e belo uma noite anomalamente iluminada por uma lua cheia e por estrelas anormais ao mesmo tempo.
Lenta e misteriosamente ela se aproximou de mim. Abraçou-me em incêndios, beijou-me em lavas vulcânicas e sussurrou-me aos ouvidos palavras ardentes, tais como estas:
- Dize teu adeus definitivo ao dia. Vem comigo e abraça o fogo da Noite, o único que te levará ao amor... O sol, a luz, o calor do dia sempre te farão mal. O dia é o trabalho, o movimento, a sensatez, a turbulência dos afazeres da inútil existência comum dos homens. O dia é tudo que é alegre e aberto, claro e correto, tudo o que é finito e transparente. A Noite é o oposto de tudo isso. Esquece a vida dos homens e dê-me tua mão pelo infinito da Noite. Somente pelas suas sombras castas e protetoras nos será permitido o amor, ocultos dos mesquinhos e miseráveis olhares humanos. Que a treva da noite seja o nosso arcanjo confidente, que conhece e cuida dos nossos mais fundos segredos.
- Vem comigo, que a Noite é o descanso e a paz tão almejados por ti. A Noite é o desconhecido, a Noite é a arte, a Noite é o mistério, a Noite é o amor. Eu te levarei por entre o além das existências e te libertarei de tudo o que é dia... De tudo aquilo que massacra o sonho, de tudo o que perturba as águas tranquilas e cristalinas dos lagos astrais. O mundo diurno das preocupações dos homens mais nada tem a te dizer. Esquece as palavras dos homens e escuta a dos anjos.
A ela somente respondi que a Noite era os olhares e os beijos dela, e por isso eu iria mergulhar-me mais e mais na escuridão noturna.
Nesse instante, ela puxou-me pela mão e levou-me em uma lenta caminhada até uma elevação situada no centro da mata. Escalamos a elevação com uma estranha suavidade e ao atingirmos o topo, percebi que de lá poderíamos avistar infinitos horizontes ao nosso redor. Então ela depositou um intenso beijo em meus lábios, disse-me para observar o que aconteceria nos horizontes e desceu a elevação como que flutuando etericamente.
Ali permaneci, sozinho e em terrível expectativa. Até que ao fundo penumbroso dos montes, um sol de um vermelho febricitante e incendiado surgiu com uma violência e rapidez absurdas. Em questão de minutos, subia ao alto dos céus, enquanto por todos os lugares incêndios se alastraram com velocidade vertiginosa, até onde minha vista alcançava. Pessoas em multidões incontáveis surgiam de todos os cantos, em uma correria desesperada e assustadora.
Tais pessoas destruíam de forma implacável tudo o que viam pela frente, inclusive elas mesmas, utilizando-se de avançadas e mortíferas máquinas. Massacres colossais derramavam oceanos de sangue por todos os campos em chamas, e o vermelho do líquido sanguíneo e das chamas nebulosas se confundiam e imperavam absolutas.
E enquanto o dia absurdo chegava ao seu auge, eu ali permanecia em solidão, sendo bombardeado sem proteção pelos raios devastadores do sol. Perguntava-me onde estaria ela, e quando finalmente retornaria a Noite...
17 março 2009
Aquecimento Global
vermelho sol de raios
fez dourar o azul sem nuvens
do céu da minha alma
chuva de fogo em chamas
alagou de incêndios vivos
os campos do meu peito
as geleiras da minha mente
derreteram gota a gota
em mar de pensamentos
ferveram as águas do que sinto
acendeu-se um sonho nos meus olhos
arderam rios pelo meu corpo...
com os teus beijos na minha boca
fez dourar o azul sem nuvens
do céu da minha alma
chuva de fogo em chamas
alagou de incêndios vivos
os campos do meu peito
as geleiras da minha mente
derreteram gota a gota
em mar de pensamentos
ferveram as águas do que sinto
acendeu-se um sonho nos meus olhos
arderam rios pelo meu corpo...
com os teus beijos na minha boca
16 março 2009
Juremir contra Yeda
O colunista do jornal Correio do Povo, Juremir Machado da Silva, sempre muito acertado, incisivo, devastador em suas análises sociais (ainda que isso não aconteça em suas análises artísticas, na minha opinião), mais uma vez foi contundente em suas críticas contra o governo Yeda, no que se refere a sua relação com o magistério, ao tratamento revoltante dado à educação.
A seguir, transcrevo um trecho de sua coluna do dia 14 de março: "A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo em empilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala de aula para fazer economia a curto prazo e agradar o Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver no piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa. A punição foi para os professores grevistas. A recompensa, para o PMDB."
Genial, Juremir, genial! E eu ainda acrescentaria que há uma grande hipocrisia no Brasil. Todos falam que os trabalhadores devem se organizar de forma séria para lutar por seus objetivos, seu direitos, para mostrar à sociedade a importância de sua categoria, de sua profissão, para não serem exploradas pelos governos, o blábláblá de sempre. Porém, quando isso acontece, como é o caso do CPERS, toda a sociedade volta-se contra, dizendo que os professores tem que trabalhar e parar de reclamar. É o que dizem muitos senhores que se julgam cultos. É o que afirmam muitos jornais. E é assim que querem que os trabalhadores obtenham seus direitos? De boca fechada, aguentando quieto, como na ditadura? É por essas e outras que o Brasil é atrasado. E com a categoria de povo que tem, que prefere a acomodação ao protesto, vai continuar assim por muito tempo.
A seguir, transcrevo um trecho de sua coluna do dia 14 de março: "A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo em empilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala de aula para fazer economia a curto prazo e agradar o Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver no piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa. A punição foi para os professores grevistas. A recompensa, para o PMDB."
Genial, Juremir, genial! E eu ainda acrescentaria que há uma grande hipocrisia no Brasil. Todos falam que os trabalhadores devem se organizar de forma séria para lutar por seus objetivos, seu direitos, para mostrar à sociedade a importância de sua categoria, de sua profissão, para não serem exploradas pelos governos, o blábláblá de sempre. Porém, quando isso acontece, como é o caso do CPERS, toda a sociedade volta-se contra, dizendo que os professores tem que trabalhar e parar de reclamar. É o que dizem muitos senhores que se julgam cultos. É o que afirmam muitos jornais. E é assim que querem que os trabalhadores obtenham seus direitos? De boca fechada, aguentando quieto, como na ditadura? É por essas e outras que o Brasil é atrasado. E com a categoria de povo que tem, que prefere a acomodação ao protesto, vai continuar assim por muito tempo.
15 março 2009
Desprezo
quero ser aquele gato
negro bicho tão noturno
que não tem culpa de nada
que com nada mais se importa
que não tem seu rabo preso
pra fugir da humanidade
me ocultar entre o oculto
e miar para o infinito
pra ser sempre vagabundo
vendo almas e fantasmas
sem provar pra todo mundo
pra sonhar sem ter os sonhos
e dormir por entre a lua
quero ser aquele gato
ser sagrado e ser profano
ser um deus ser um demônio
e no fundo bem no fundo...
desprezar o ser humano
negro bicho tão noturno
que não tem culpa de nada
que com nada mais se importa
que não tem seu rabo preso
pra fugir da humanidade
me ocultar entre o oculto
e miar para o infinito
pra ser sempre vagabundo
vendo almas e fantasmas
sem provar pra todo mundo
pra sonhar sem ter os sonhos
e dormir por entre a lua
quero ser aquele gato
ser sagrado e ser profano
ser um deus ser um demônio
e no fundo bem no fundo...
desprezar o ser humano
13 março 2009
A Perversidade Europeia
Uma quadrilha de traficantes de animais foi desarticulada pela polícia ambiental nesta semana em vários estados brasileiros, incluindo o RS. Tal quadrilha roubava das matas de nosso país mais de 500.000 animais por ano (500 mil animais por ano, meus senhores, estão conscientes desse número?). Os animais indefesos eram torturados para servirem aos interesses perversos do tráfico (sendo que mais de 80% deles morrem devido aos maus tratos) e depois vendidos para países europeus.
O pior é que todos esses monstros criminosos que massacram o que há de mais belo e puro em nosso país - seus animais - muito pouco pagarão por seus crimes, tendo em vista a tragédia que é a nossa justiça. Por mim, se aqui houvesse prisão perpétua, teriam prisão perpétua. E se aqui houvesse pena de morte, teriam pena de morte. Mas o Brasil é uma vergonha. Uma piada.
Mas ainda pior que esses traficantes imundos, são os perversos que compram nossos animais, inclusive sabendo como são tratados. E são os europeus, os norte-americanos, os que mais os compram, são os ricos. Para mim, eles também merecem prisão perpétua. No caso dessa quadrilha, seus compradores e cúmplices do crime eram europeus.
Sempre se diz que os países europeus devem servir de exemplo para todo mundo. Mas até que ponto? Como foi que a Europa enriqueceu? Será que foi somente por méritos próprios ou será que também foi pela exploração impiedosa que sempre fez recair sobre os países pobres, porém donos de incomensuráveis riquezas naturais? Todos sabem que países como Inglaterra, Espanha, Itália, Holanda, Portugal, França, Alemanha exploraram o máximo que puderam suas colônias na América, Ásia, África, e grande parte das riquezas que acumularam e permitiram seu desenvolvimento veio dos países hoje pobres.
E acabou essa exploração? Claro que não, hoje permanece através de suas multinacionais e da pilhagem de nossas riquezas naturais através do tráfico de animais e plantas, além de outras formas menos conhecidas. O custo da prosperidade de muitos dos países da Europa, e de vários outros, como os EUA, é a miséria de muitos outros povos ao redor do mundo. Ou alguém acha que o dinheiro que existe no mundo nao é suficiente para acabar com toda a pobreza que existe? É mais do que suficiente, mas se concentra nas mãos de muito poucos. E não vai deixar de ser assim.
E todos sabem, ou deveriam saber, que são esses mesmos países ricos os principais responsáveis pela poluição e degradação ambiental do planeta, pois são os que mais consomem e, assim, os que mais destróem o planeta, direta ou indiretamente.
Claro que a cultura europeia com todos os seus gênios do passado merece nossa mais profunda admiração, bem como o valor que dão a tais questões culturais e educacionais. Porém, a verdade é que nem mesmo a grande Europa salva-se da catástrofe que aniquila nosso planeta. Sua prosperidade custou e custa um alto preço para todo o mundo (incluindo-se aqui os demais países ricos de outros continentes), e a Terra não mais suportará manter seus níveis de consumo e de depredação natural por muito tempo...
(Na imagem acima, estão mais de 400 pássaros mortos pelas maus tratos causados pelo tráfico de animais, pássaros estes que seriam vendidos no mercado europeu)
12 março 2009
Sobre a Secretaria de Cultura...
Fui convidado pelo Júlio Prates para uma reunião, no dia 6 de março, que iria discutir a criação de uma Secretaria de Cultura em Santiago. Não compareci à reunião porque não me encontrava na cidade nesse dia. Mas a criação dessa secretaria sem dúvida merece meu apoio, e o motivo é extremamente simples: cultura nunca é demais, e no Brasil sempre há cultura de menos. Quando se julga que um assunto não merece tanta atenção em termos de governo, une-se uma secretaria a outra. Muito melhor seria para a educação e para a cultura que cada uma contasse com sua própria secretaria. Porém, de nada adiantará haver uma Secretaria de Cultura se ela for apenas de fachada, apenas para constar e para se dizer: vejam, temos uma Secretaria de Cultura. E muito menos deve tal secretaria ser dominada por alguns poucos que se julgam "donos" da cultura em Santiago, coisa muito comum de acontecer em nossas terrinhas de coronelismo rançoso. Espero que seja uma Secretaria de Cultura para todos, não para aqueles de sempre...
11 março 2009
A Nossa Lenta Marcha Fúnebre
Quando todos os temas se unem e existem simultaneamente, prepare-se o final. Quando soa uma grande sinfonia, seus temas apresentam-se um de cada vez ao longo da obra, no decorrer dos seus vários movimentos. Quando cada movimento se aproxima do final, e ainda mais ao fim do último movimento, seus temas retornam com toda força e intensidade, às vezes um pouco alterados, mas reconhecíveis, de forma simultânea, em uma apoteose devastadora. A sinfonia então se encerra, de forma grandiosa e exultante, ou de forma trágica e desoladora.
Assim é com tudo. Em maior ou menor grau. “Assim como é acima, é abaixo.” Assim é com nossa civilização. Aproxima-se o seu final. Um final trágico e desolador.
Hoje todos os temas subsistem ao mesmo tempo em nosso mundo. Nas artes, nas ciências, nas religiões, nas filosofias, nos estilos, nas modas, enfim, em tudo, há uma infinidade de temas coexistindo, entrecruzando-se, em paz ou em conflito, tudo é aceito, há seguidores para todos eles, que se conflitam entre si sem chegar a nenhuma síntese. Já foi mais do que dito que chegamos ao fim da história. Mas o que isso significa? Hoje tudo existe, e nada vale a pena. Todos os temas que existiram e foram criados ao longo da história da humanidade estão presentes em nossa civilização, porém todos esvaziados, desprovidos de significado, não levando a lugar nenhum, combatendo-se mutuamente. É o triste final de uma sinfonia mal feita, mal executada, cujo sentido perdeu-se ao longo da obra. Uma sinfonia criada por Deus ou por nós mesmos? Ou por ambos?
A civilização acaba lenta e lugubremente. Tão lenta que mal se percebe. Uma marcha fúnebre de principio imperceptível se abateu sobre nós. Nós somos os sapos sendo cozinhados lentamente na panela de água que esquenta sem que eles percebam. Como todos devem ou deveriam saber, se colocarmos sapos numa panela com água e esquentarmos a água aos poucos, os sapos não perceberão o aumento da temperatura e morrerão cozinhados sem lutar para sair. Assim é a humanidade dentro da panela de água cada vez mais quente do planeta.
Não, não me refiro somente ao aquecimento global. Refiro-me a tudo, simplesmente a tudo o que ocorre conosco, que nem é necessário que eu diga. Bem, pensando melhor, talvez seja. Mesmo assim, não direi. Até porque eu nem devo saber tudo o que acontece, devem estar ocorrendo coisas terríveis que eu nem suspeito o que é.
Só sei que as coisas não estão bem, não estão bem nem um pouco, e estão cada vez piores. Isso eu sei. E ninguém me tira essa certeza. Porém, tudo o que ocorre o faz de uma maneira tão lenta para as nossas miseráveis capacidades perceptivas que até temos a impressão muitas vezes de que nada está ocorrendo e de que tudo se encontra perfeitamente bem...
Porém, chega um momento em que algo é percebido. Quase sempre é tarde demais. É como algumas doenças fatais. Quando surgem os sintomas, não dá mais para curar. Mas mesmo quando se percebe algo, sempre há os que dizem que não. Acreditam que negando o óbvio, serão inteligentes, serão sábios. Até que as coisas pioram e surge um sinal ainda mais óbvio. E surgem outros sapos sábios para negá-lo com ainda mais inteligência. Até que um dia surge o sinal derradeiro, e o teto desaba sobre nossas cabeças. Certas doenças matam mesmo.
E assim os sapos sábios são cozinhados sem que percebam. Morrem sem nem ao menos saber por quê. Está se encerrando a sinfonia mal-acabada de nossa civilização. O seu último movimento é uma lenta e arrastada marcha fúnebre. Às vezes parece que alguma coisa melhora, porém era tudo ilusão, e o estado de má saúde se agrava. É como um paciente terminal. Muitas vezes parece que ele vai melhorar, recobra o ânimo, apresenta um quadro mais otimista, os médicos se surpreendem... No entanto, isso passa, a doença retorna com toda força e o enfermo agoniza e morre. Não é assim?
É como uma calmaria antes da tempestade. A escura tranquilidade que precede as tempestades. Às vezes parece que vai abrir sol, e o temporal desaba. Uma lenta, muito lenta, lentíssima Marcha Fúnebre. Mas um dia ela acaba. O certo é que tudo que teve um Princípio tem um Fim. E o que há depois do Fim?
Assim é com tudo. Em maior ou menor grau. “Assim como é acima, é abaixo.” Assim é com nossa civilização. Aproxima-se o seu final. Um final trágico e desolador.
Hoje todos os temas subsistem ao mesmo tempo em nosso mundo. Nas artes, nas ciências, nas religiões, nas filosofias, nos estilos, nas modas, enfim, em tudo, há uma infinidade de temas coexistindo, entrecruzando-se, em paz ou em conflito, tudo é aceito, há seguidores para todos eles, que se conflitam entre si sem chegar a nenhuma síntese. Já foi mais do que dito que chegamos ao fim da história. Mas o que isso significa? Hoje tudo existe, e nada vale a pena. Todos os temas que existiram e foram criados ao longo da história da humanidade estão presentes em nossa civilização, porém todos esvaziados, desprovidos de significado, não levando a lugar nenhum, combatendo-se mutuamente. É o triste final de uma sinfonia mal feita, mal executada, cujo sentido perdeu-se ao longo da obra. Uma sinfonia criada por Deus ou por nós mesmos? Ou por ambos?
A civilização acaba lenta e lugubremente. Tão lenta que mal se percebe. Uma marcha fúnebre de principio imperceptível se abateu sobre nós. Nós somos os sapos sendo cozinhados lentamente na panela de água que esquenta sem que eles percebam. Como todos devem ou deveriam saber, se colocarmos sapos numa panela com água e esquentarmos a água aos poucos, os sapos não perceberão o aumento da temperatura e morrerão cozinhados sem lutar para sair. Assim é a humanidade dentro da panela de água cada vez mais quente do planeta.
Não, não me refiro somente ao aquecimento global. Refiro-me a tudo, simplesmente a tudo o que ocorre conosco, que nem é necessário que eu diga. Bem, pensando melhor, talvez seja. Mesmo assim, não direi. Até porque eu nem devo saber tudo o que acontece, devem estar ocorrendo coisas terríveis que eu nem suspeito o que é.
Só sei que as coisas não estão bem, não estão bem nem um pouco, e estão cada vez piores. Isso eu sei. E ninguém me tira essa certeza. Porém, tudo o que ocorre o faz de uma maneira tão lenta para as nossas miseráveis capacidades perceptivas que até temos a impressão muitas vezes de que nada está ocorrendo e de que tudo se encontra perfeitamente bem...
Porém, chega um momento em que algo é percebido. Quase sempre é tarde demais. É como algumas doenças fatais. Quando surgem os sintomas, não dá mais para curar. Mas mesmo quando se percebe algo, sempre há os que dizem que não. Acreditam que negando o óbvio, serão inteligentes, serão sábios. Até que as coisas pioram e surge um sinal ainda mais óbvio. E surgem outros sapos sábios para negá-lo com ainda mais inteligência. Até que um dia surge o sinal derradeiro, e o teto desaba sobre nossas cabeças. Certas doenças matam mesmo.
E assim os sapos sábios são cozinhados sem que percebam. Morrem sem nem ao menos saber por quê. Está se encerrando a sinfonia mal-acabada de nossa civilização. O seu último movimento é uma lenta e arrastada marcha fúnebre. Às vezes parece que alguma coisa melhora, porém era tudo ilusão, e o estado de má saúde se agrava. É como um paciente terminal. Muitas vezes parece que ele vai melhorar, recobra o ânimo, apresenta um quadro mais otimista, os médicos se surpreendem... No entanto, isso passa, a doença retorna com toda força e o enfermo agoniza e morre. Não é assim?
É como uma calmaria antes da tempestade. A escura tranquilidade que precede as tempestades. Às vezes parece que vai abrir sol, e o temporal desaba. Uma lenta, muito lenta, lentíssima Marcha Fúnebre. Mas um dia ela acaba. O certo é que tudo que teve um Princípio tem um Fim. E o que há depois do Fim?
09 março 2009
Finalmente
gostaria de pensar
sobre a minha vida
mas pensar sobre minha vida
é a minha vida não viver
é só gastá-la e não a ter
é sabê-la
mas não a conhecer
que quem pensa não vive
a não ser que pense sentindo
a não ser que sinta vivendo
a não ser que viva morrendo
mas que nunca morra pensando
a Alma pensa sem ter que pensar
e sentindo-se abraça o pensamento
em lição não-pensada e sabida
que afinal viver é não pensar
é sentir sentir sentir
e finalmente amar...
sobre a minha vida
mas pensar sobre minha vida
é a minha vida não viver
é só gastá-la e não a ter
é sabê-la
mas não a conhecer
que quem pensa não vive
a não ser que pense sentindo
a não ser que sinta vivendo
a não ser que viva morrendo
mas que nunca morra pensando
a Alma pensa sem ter que pensar
e sentindo-se abraça o pensamento
em lição não-pensada e sabida
que afinal viver é não pensar
é sentir sentir sentir
e finalmente amar...
04 março 2009
Conto Violento e Inútil
Um raio absurdo e de titânicas ramificações caiu do céu onde uma tempestade nunca antes vista flagelava minha cidade acabada. O raio abriu uma cratera na rua de onde brotou uma fonte de sangue. Ainda não anoitecera, mas era como se fosse noite. Antes fosse apenas noite. Os raios iluminavam um horizonte funestamente escurecido, porém iluminavam de forma deprimente e enferma. Fumaças e vapores de uma tristeza devastadora pairavam como maldições nas atmosferas corrompidas. E eu nada podia fazer. Ergui minha voz pressaga, e minha voz era inútil. Gritei e ninguém me escutou. Esqueletos rangiam e caíam nas fúnebres distâncias. Minhas preces não serviam mais para nada. Antes aquele raio tivesse aniquilado minha voz.
Uma ventania de implacável violência e quente como as labaredas dos desertos arrancou-me os cabelos. Muito antes disso, os sopros do inferno humano já haviam crestado todos os meus sonhos. Agora somente sinto o cheiro de queimando de suas asas sobre o meu pesar. De que serviram todos os meus sonhos? Antes aquele raio tivesse aniquilado também o cheiro das asas inúteis dos meus sonhos...
Eu era um membro da humanidade. Eu era toda a humanidade. Um inútil. Antes aquele raio tivesse caído sobre a minha cabeça. Como agora caem aquelas aves mortas sobre a minha cabeça ardente. Caem aquelas aves sobre as ruas enlameadas por onde perambulo acabado. Mergulhei meus pés descalços e feridos sobre o rio de sangue que jorrava sem cessar das entranhas da terra massacrada. Ergui minhas mãos aos céus tenebrosos, minhas mãos em carne viva, e não consegui sustê-las. Minhas mãos não adiantavam de nada. Antes tivessem sido extirpadas por aquele raio filho da tormenta sem fim.
A chuva ácida que golfejava da boca da morte ardia em meus olhos encovados e sangrentos. Ainda assim em desespero eu lutava para tentar olhar ao meu insuportável redor. Quando os relâmpagos anômalos canhestramente iluminavam os escombros da cidade, eram somente cadáveres de humanos e animais que torturavam os meus olhos.
E uma tormenta de nuvens negras tensamente carregadas despencou sobre a desolação dos meus olhos. Olhei para o sol cinzento e enfermiço que agonizava por trás das nuvens mórbidas e vi que meus olhos eram inúteis. Antes aquele raio tivesse esmagado o meu olhar.
Meu coração cansava-se de bater. De tudo o que tivera sentido, de tudo o que tivera amado, fora tudo absolutamente inútil. Antes aquele raio tivesse devastado o meu coração. E um mar de solidão ao som de trombetas que se alastrou com a chuva férvida e com o vendaval ácido causou profundo e incurável corte em meu peito apunhalado. E o sangue jorrou de meu corpo como as correntezas dos rios hoje negros, fétidos e secos. E fitando o horror que eu havia herdado, chorei condenadamente. E senti na pele inflamada que minhas lágrimas eram inúteis. E desejei que aquele raio houvesse massacrado minhas lágrimas.
E os meus pensamentos incendiaram de súbito quando pensei em tudo o que eu havia feito. Contemplando estarrecido a total ausência de vida, julguei-me culpado de todas as culpas, de todas as mortes, de toda a destruição. E pensei e refleti em desespero em tudo o que fiz e deixei de fazer do mundo e da vida que havia recebido, e minha mente jamais encontraria soluções. E percebi que meus pensamentos eram inúteis. Então pedi aos céus transtornados que aquele raio dizimasse os meus pensamentos.
E aqueles rostos dantescos e apocalípticos dos monstros e fantasmas que eram agora minha única companhia nunca deixavam de fitar minha face tragicamente refletida no céus de todos os desastres. Irradiava-se uma espantosa malignidade daqueles rostos. Eles culpavam-me, julgavam-me, sentenciavam-me como o responsável pelo Fim. Tentei reavivar o cadáver do tigre que antes fora meu amigo. Mas o veneno da água havia ceifado definitivamente sua triste existência. Abri minha boca, e um jato de vômito sanguinolento encharcou a miserável pelagem do tigre.
Estertorando, ajoelhei-me e implorei misericórdia. Mas compreendi que meus joelhos eram inúteis e supliquei para que o raio acabasse com meus joelhos. Restava só eu no mundo, eu era a humanidade inteira.
Foi então que um anjo vermelho desceu como uma flecha incendiada dos céus em eterna tempestade e apontou seu dedo implacável para a minha alma. Os relâmpagos e os trovões o acompanhavam e me cegavam e me ensurdeciam.
O anjo fez sair um sopro de sua boca, e desse sopro formou-se fatal furacão. Nele se debatiam sem trégua as minhas esperanças esquartejadas. O furacão arrancou minha alma de meu corpo. Eu caí inerte no chão de lodo ensanguentado. E minha alma voou conturbada entre a fúria do furacão que se dirigia a um ponto de tênue luminosidade no céu carregado. E um trágico Réquiem desconhecido soou nos meus ouvidos exaustos. Lá estaria Ela para receber minha alma. Ela reuniria os pedaços de minha alma estraçalhada. Minha alma teria alguma utilidade? E a humanidade principiou seu Descanso...
Uma ventania de implacável violência e quente como as labaredas dos desertos arrancou-me os cabelos. Muito antes disso, os sopros do inferno humano já haviam crestado todos os meus sonhos. Agora somente sinto o cheiro de queimando de suas asas sobre o meu pesar. De que serviram todos os meus sonhos? Antes aquele raio tivesse aniquilado também o cheiro das asas inúteis dos meus sonhos...
Eu era um membro da humanidade. Eu era toda a humanidade. Um inútil. Antes aquele raio tivesse caído sobre a minha cabeça. Como agora caem aquelas aves mortas sobre a minha cabeça ardente. Caem aquelas aves sobre as ruas enlameadas por onde perambulo acabado. Mergulhei meus pés descalços e feridos sobre o rio de sangue que jorrava sem cessar das entranhas da terra massacrada. Ergui minhas mãos aos céus tenebrosos, minhas mãos em carne viva, e não consegui sustê-las. Minhas mãos não adiantavam de nada. Antes tivessem sido extirpadas por aquele raio filho da tormenta sem fim.
A chuva ácida que golfejava da boca da morte ardia em meus olhos encovados e sangrentos. Ainda assim em desespero eu lutava para tentar olhar ao meu insuportável redor. Quando os relâmpagos anômalos canhestramente iluminavam os escombros da cidade, eram somente cadáveres de humanos e animais que torturavam os meus olhos.
E uma tormenta de nuvens negras tensamente carregadas despencou sobre a desolação dos meus olhos. Olhei para o sol cinzento e enfermiço que agonizava por trás das nuvens mórbidas e vi que meus olhos eram inúteis. Antes aquele raio tivesse esmagado o meu olhar.
Meu coração cansava-se de bater. De tudo o que tivera sentido, de tudo o que tivera amado, fora tudo absolutamente inútil. Antes aquele raio tivesse devastado o meu coração. E um mar de solidão ao som de trombetas que se alastrou com a chuva férvida e com o vendaval ácido causou profundo e incurável corte em meu peito apunhalado. E o sangue jorrou de meu corpo como as correntezas dos rios hoje negros, fétidos e secos. E fitando o horror que eu havia herdado, chorei condenadamente. E senti na pele inflamada que minhas lágrimas eram inúteis. E desejei que aquele raio houvesse massacrado minhas lágrimas.
E os meus pensamentos incendiaram de súbito quando pensei em tudo o que eu havia feito. Contemplando estarrecido a total ausência de vida, julguei-me culpado de todas as culpas, de todas as mortes, de toda a destruição. E pensei e refleti em desespero em tudo o que fiz e deixei de fazer do mundo e da vida que havia recebido, e minha mente jamais encontraria soluções. E percebi que meus pensamentos eram inúteis. Então pedi aos céus transtornados que aquele raio dizimasse os meus pensamentos.
E aqueles rostos dantescos e apocalípticos dos monstros e fantasmas que eram agora minha única companhia nunca deixavam de fitar minha face tragicamente refletida no céus de todos os desastres. Irradiava-se uma espantosa malignidade daqueles rostos. Eles culpavam-me, julgavam-me, sentenciavam-me como o responsável pelo Fim. Tentei reavivar o cadáver do tigre que antes fora meu amigo. Mas o veneno da água havia ceifado definitivamente sua triste existência. Abri minha boca, e um jato de vômito sanguinolento encharcou a miserável pelagem do tigre.
Estertorando, ajoelhei-me e implorei misericórdia. Mas compreendi que meus joelhos eram inúteis e supliquei para que o raio acabasse com meus joelhos. Restava só eu no mundo, eu era a humanidade inteira.
Foi então que um anjo vermelho desceu como uma flecha incendiada dos céus em eterna tempestade e apontou seu dedo implacável para a minha alma. Os relâmpagos e os trovões o acompanhavam e me cegavam e me ensurdeciam.
O anjo fez sair um sopro de sua boca, e desse sopro formou-se fatal furacão. Nele se debatiam sem trégua as minhas esperanças esquartejadas. O furacão arrancou minha alma de meu corpo. Eu caí inerte no chão de lodo ensanguentado. E minha alma voou conturbada entre a fúria do furacão que se dirigia a um ponto de tênue luminosidade no céu carregado. E um trágico Réquiem desconhecido soou nos meus ouvidos exaustos. Lá estaria Ela para receber minha alma. Ela reuniria os pedaços de minha alma estraçalhada. Minha alma teria alguma utilidade? E a humanidade principiou seu Descanso...
02 março 2009
Tudo que é Tarde
apenas o não do que sinto
aqui pairando nas nuvens
não tente achar nada que tenha
que nada aqui já te fala
não tente pensar ou saber
que há só alma aqui não sabendo
são almas de fim olho em sonho
nunca na vida voando
é tão tarde pra que eu te cante
te canto porque é tão tarde
e tu sabes que asas só voam
sempre no sonho beijando
tu sabes que tudo é tão triste
com o dia a mim não me enganes
eu encerro meu verso na noite
e canto tudo que é Tarde...
aqui pairando nas nuvens
não tente achar nada que tenha
que nada aqui já te fala
não tente pensar ou saber
que há só alma aqui não sabendo
são almas de fim olho em sonho
nunca na vida voando
é tão tarde pra que eu te cante
te canto porque é tão tarde
e tu sabes que asas só voam
sempre no sonho beijando
tu sabes que tudo é tão triste
com o dia a mim não me enganes
eu encerro meu verso na noite
e canto tudo que é Tarde...
28 fevereiro 2009
O Que Realmente me Preocupa...
O que realmente me preocupa não é saber se a estátua do Aureliano foi quebrada por acidente ou por vandalismo, se era de boa qualidade ou não... Não é saber se Santiago merece o título de Terra dos Poetas ou se não merece. Para mim isso não tem a menor importância. Eu não estou nem aí.
O que merece a minha preocupação de verdade, por exemplo, são duas notícias que saíram no jornal Correio do Povo. A primeira afirma que o aquecimento global prossegue firme e forte, apesar de muitos cegos insistirem em negá-lo (é incrível saber como há pessoas que só se dão conta das coisas depois que o teto da casa desaba sobre suas cabeças). Segundo a notícia veiculada no jornal no dia 26/02, o derretimento nas geleiras dos polos Norte e Sul está sendo mais rápido do que o previsto, provocando o aumento do nível dos mares. Foi elaborado um documento por milhares de peritos onde consta que "o aquecimento na Antártida é muito mais extenso do que o previsto e que o derretimento do domo da Groenlândia está se acelerando." Segundo os peritos, já são percebidos "índices de mudanças nas correntes marinhas capazes de produzir um impacto gravíssimo sobre o sistema climático." Esses são os fatos. O resto é conversa fiada.
A segunda notícia que me preocupa é sobre os nossos bugios, tão cantados em verso e música pelos artistas gaúchos e já um dos símbolos naturais do pampa. Pois segundo notícia publicada no Correio do Povo em 27/02, os macacos roncadores estão próximos da extinção no RS. E não é somente devido à febre amarela. Já foram encontrados quase 1.100 bugios mortos no interior gaúcho (um número absurdo, um massacre), mas somente foi confirmado o vírus da febre em 13 deles.
Claro que em vários dos animais o estado avançado de decomposição impediu a análise, mas em muitos outros a causa mortis ainda é desconhecida. Os biólogos acreditam que muitos foram mortos pelo próprio homem, que na sua ignorância e perversidade pensam que são os bugios os culpados pela febre amarela. Na verdade, o culpado pela doença é o homem mesmo, que devastando as matas e causando o aquecimento global cria condições para a procriação dos mosquitos transmissores. Isso sem falar nos bugios que são vítimas da fome, por falta de matas, e dos agrotóxicos.
Quando vou às terras de meu tio na região do rio Itacurubi, sempre ouço seus roncos, procuro-os na mata e sempre os vejo. Lá, nas terras de meu tio, não foi encontrado nenhum morto, até agora. E lá não há os perversos ignorantes que os matam. Na foto acima está uma família de bugios que encontrei na região do rio Itacurubi (clique para ampliar).
São esses tipos de coisas que me preocupam. O resto não vale a pena nenhum um pouco, é perda de tempo.
O que merece a minha preocupação de verdade, por exemplo, são duas notícias que saíram no jornal Correio do Povo. A primeira afirma que o aquecimento global prossegue firme e forte, apesar de muitos cegos insistirem em negá-lo (é incrível saber como há pessoas que só se dão conta das coisas depois que o teto da casa desaba sobre suas cabeças). Segundo a notícia veiculada no jornal no dia 26/02, o derretimento nas geleiras dos polos Norte e Sul está sendo mais rápido do que o previsto, provocando o aumento do nível dos mares. Foi elaborado um documento por milhares de peritos onde consta que "o aquecimento na Antártida é muito mais extenso do que o previsto e que o derretimento do domo da Groenlândia está se acelerando." Segundo os peritos, já são percebidos "índices de mudanças nas correntes marinhas capazes de produzir um impacto gravíssimo sobre o sistema climático." Esses são os fatos. O resto é conversa fiada.
A segunda notícia que me preocupa é sobre os nossos bugios, tão cantados em verso e música pelos artistas gaúchos e já um dos símbolos naturais do pampa. Pois segundo notícia publicada no Correio do Povo em 27/02, os macacos roncadores estão próximos da extinção no RS. E não é somente devido à febre amarela. Já foram encontrados quase 1.100 bugios mortos no interior gaúcho (um número absurdo, um massacre), mas somente foi confirmado o vírus da febre em 13 deles.
Claro que em vários dos animais o estado avançado de decomposição impediu a análise, mas em muitos outros a causa mortis ainda é desconhecida. Os biólogos acreditam que muitos foram mortos pelo próprio homem, que na sua ignorância e perversidade pensam que são os bugios os culpados pela febre amarela. Na verdade, o culpado pela doença é o homem mesmo, que devastando as matas e causando o aquecimento global cria condições para a procriação dos mosquitos transmissores. Isso sem falar nos bugios que são vítimas da fome, por falta de matas, e dos agrotóxicos.
Quando vou às terras de meu tio na região do rio Itacurubi, sempre ouço seus roncos, procuro-os na mata e sempre os vejo. Lá, nas terras de meu tio, não foi encontrado nenhum morto, até agora. E lá não há os perversos ignorantes que os matam. Na foto acima está uma família de bugios que encontrei na região do rio Itacurubi (clique para ampliar).
São esses tipos de coisas que me preocupam. O resto não vale a pena nenhum um pouco, é perda de tempo.
Ecos
que nos resta mais que saudade?
...aldade
de quem é este beijo que sorvo?
...orvo
qual é nossa última sorte?
...orte
e a nossa esperança afinal?
...final.
...aldade
de quem é este beijo que sorvo?
...orvo
qual é nossa última sorte?
...orte
e a nossa esperança afinal?
...final.
27 fevereiro 2009
Soneto a Ela
E paira alta grandeza sobre as nuvens
e pesa mau destino sobre os homens.
Em negro mundo os anos se consomem
e mais clara em tua alma tu nos surges...
Caem raios das horas que refulges,
como sonhos de morte que em mim somem
como fins teus ocultos que há em Beethoven
como sombra em ti fêmea viva em luzes...
Tua voz nas tormentas que há nos céus,
teu olhar cataclísmico nos vela
nos sinais do Infinito dos teus véus...
E por ser Una, arcanamente bela,
alguém dirá talvez que vós sois Deus,
mas eu canto que vós sois no Eterno Ela...
e pesa mau destino sobre os homens.
Em negro mundo os anos se consomem
e mais clara em tua alma tu nos surges...
Caem raios das horas que refulges,
como sonhos de morte que em mim somem
como fins teus ocultos que há em Beethoven
como sombra em ti fêmea viva em luzes...
Tua voz nas tormentas que há nos céus,
teu olhar cataclísmico nos vela
nos sinais do Infinito dos teus véus...
E por ser Una, arcanamente bela,
alguém dirá talvez que vós sois Deus,
mas eu canto que vós sois no Eterno Ela...
25 fevereiro 2009
Silêncio
cruzou-me uma estrela nos olhos
e me virou a cara
como se fosse um arcanjo
ali não-vindo de nunca
como se fosse bafo de flores
me desviando das narinas...
cruzou-me uma estrela nos lábios
e não me disse palavra
como se fosse uma ave
que me deixou uma pena a voar
como se fosse águas de um rio
pelos invernos só a viver...
cruzou-me uma estrela
passou-me um arcanjo
me vieram umas flores
voou-me uma ave
correu-me umas águas
e me viraram a cara
não me disseram nada
partiram quietos e mudos
e deixaram-me só
no silêncio sentença do verso
e me virou a cara
como se fosse um arcanjo
ali não-vindo de nunca
como se fosse bafo de flores
me desviando das narinas...
cruzou-me uma estrela nos lábios
e não me disse palavra
como se fosse uma ave
que me deixou uma pena a voar
como se fosse águas de um rio
pelos invernos só a viver...
cruzou-me uma estrela
passou-me um arcanjo
me vieram umas flores
voou-me uma ave
correu-me umas águas
e me viraram a cara
não me disseram nada
partiram quietos e mudos
e deixaram-me só
no silêncio sentença do verso
24 fevereiro 2009
Oração do Fim-Nosso
Fim-Nosso que estais na Terra,
aniquilado seja o nosso nome,
venha a nós o vosso inferno,
seja a feita a vossa tempestade,
assim na terra como nos céus.
O horror nosso de cada dia
nos dai hoje
acabai com nossa existência,
assim como nós acabamos
com a dos outros seres vivos.
E não nos deixeis sair do furacão
mas mostrai o Final,
Amém.
aniquilado seja o nosso nome,
venha a nós o vosso inferno,
seja a feita a vossa tempestade,
assim na terra como nos céus.
O horror nosso de cada dia
nos dai hoje
acabai com nossa existência,
assim como nós acabamos
com a dos outros seres vivos.
E não nos deixeis sair do furacão
mas mostrai o Final,
Amém.
21 fevereiro 2009
Eu Amo
lobos trovões de sangue pelas sombrias
densas vozes violino em vagas sangrias
sóis de saudade em seios luas noturnas
beijos sede de flores sonatam em soturnas
lagos olhos de belas almas violetas
velas luzes em cruz sussurram secretas
aves longas de preto em sonhos de gatas
ausências de tudo asas em anjos cantatas
noites de Brahms de fantasmas em vinhos
versos de frios rios chovem sozinhos
azul campo de ânsia em realezas finais
e este canto de louco que ama o Jamais...
densas vozes violino em vagas sangrias
sóis de saudade em seios luas noturnas
beijos sede de flores sonatam em soturnas
lagos olhos de belas almas violetas
velas luzes em cruz sussurram secretas
aves longas de preto em sonhos de gatas
ausências de tudo asas em anjos cantatas
noites de Brahms de fantasmas em vinhos
versos de frios rios chovem sozinhos
azul campo de ânsia em realezas finais
e este canto de louco que ama o Jamais...
19 fevereiro 2009
Nós Odiamos os Professores
(Este artigo foi publicado há alguns meses na revista "A Hora". Porém, tendo em vista a recente campanha do Cpers e outros sindicatos contra o governo Yeda, a qual foi mal vista pela sociedade, decidi publicá-lo agora, na íntegra, aqui no blog)
É. Odiamos. E eu já havia dito isso em outro artigo aqui na “A Hora”, mas agora vou comentar um pouco mais, afinal, sempre vale a pena louvar a cultura de nosso país, ou a ausência dela.
Lendo o jornal “Correio do Povo”, deparei-me com a notícia de que os pais apóiam as medidas do governo gaúcho relativas à enturmação, fechamento de escolas e outros descalabros. Eu sei por que eles apóiam: eles não dão aulas. Eu fico boquiaberto quando vejo como a sociedade brasileira quase sempre se posiciona contra os professores. É como se fossem os professores os culpados pelo estado lastimável, decadente, absurdo em que se encontra a educação pública de ensino básico no Brasil. Os alunos? Desinteressados, vulgares, incultos, violentos, à beira da imbecilidade. Os professores? Vergonhosamente mal pagos, desestimulados, tendo que suportar o desrespeito e a violência dos alunos, o clima de hostilidade e autoritarismo dos governos, a incompreensão e arrogância dos pais, enfim, o ódio de toda uma sociedade. E em cada governo que entra, o lema para a educação é sempre o mesmo: “Senhores professores: calem a boca, trabalhem mais, ganhem menos, e tenham turmas piores. E quem reclamar fica de castigo.” Esse é sempre o “jeito novo” de todos governarem.
Os pais são antes de tudo uns ingratos. Não educam em casa seus filhos e querem que os professores eduquem. E se o professor não o faz, ficam enfurecidos, jogando para os mestres a responsabilidade que é deles. Tudo vai contra o professor: salários, governos, alunos, pais, sociedade e até mesmo as leis. Sim, o mestre, devido ao estatuto degenerado da criança e do adolescente, não pode fazer nada para frear a indisciplina do aluno. Qualquer ato na tentativa de estabelecer a ordem na sala de aula pode ser visto como um atentado a esse estatuto idiota. A indisciplina do aluno, para não dizer bestialidade muitas vezes, tem o amparo da lei.
O aluno pode tudo. Confundiu-se liberdade com libertinagem. E depois ainda se questionam sobre o porquê de estar tão alta a criminalidade no Brasil. Os professores podem dar a resposta: é que as escolas estão cheias de marginais, vieram assim de suas casas. Ser professor é profissão de risco, mas não se ganha insalubridade. No entanto, mesmo estando dentro do inferno de uma sala de aula onde não há ordem nem respeito, o professor é obrigado a educar alegre e contente todos os alunos (que não querem ser educados) e a conhecer não só a sua disciplina, mas também ser um pouco de todas as outras profissões. Eu sugeriria também que os professores fossem um pouco policiais e prendessem alguns marginais que estão nas escolas. Ah, e que fossem com coletes à prova de balas, capacetes, escudos e outros instrumentos de defesa.
Mas não bastam essas barbaridades, agora é vez da enturmação. É inacreditável que aqueles que fazem as diretrizes educacionais creiam que é possível no Brasil ministrar-se aulas de boa qualidade para 50 alunos no Ensino Médio. Qualquer professor sabe que dar aulas para 30 alunos numa escola pública nos dias de hoje já é dificílimo, o que dizer então de 50?!! E os pais apóiam! E que o professor se dane. É por isso que eu amo o Brasil. Que cultura magnífica a nossa: odiar professores. Isso já faz parte de nosso inconsciente coletivo. Desde pequeninos somos educados a odiar educadores. Claro, sempre há os professores carrascos e incompetentes, como ocorre com outros profissionais, mas só os mestres não merecem perdão: deve-se odiar todos eles.
Deve-se odiá-los porque só a educação pode realmente desenvolver o Brasil, tirá-lo da miséria social, do vergonhoso atraso cultural, da decadência psíquica que se alastra em nossa população. Mas quem quer que isso aconteça? Não, o povo não quer. Nem os governos, que são o reflexo do povo. O brasileiro é acomodado sim. Não venham com essas patriotadas hipócritas de que o brasileiro é um povo lutador e inconformado. É coisa nenhuma! Brasileiro gosta da cultura do “como está, está bom”. “Big Brother não presta? Não, mas deixa assim que está bom.” Ter cultura de verdade? Pra quê? Se grande parte de nossos jovens hoje quer ser traficante de drogas? Além disso, pra se ouvir funk, não se precisa de cultura. Cultura só atrapalha. Então, morte aos mestres!
E assim caminha o Brasil, rebolando funk. É, o negócio é sacudir a bunda, porque na cabeça não há nada. Aonde vamos? Alunos, completem a atividade: vamos à ......... .... .......! Por favor, não me odeiem por causa disso.
Até aqui o artigo. Percebam, amigos leitores, que na época a polêmica era a questão da enturmação. Depois disso, quantas outras agressões contra o magistério promoveu o governo Yeda? A começar pelo decisão ferrenha e criminosa, uma vez que vai contra uma lei federal, de não pagar os míseros 950,00 para os profissionais responsáveis pela base de qualquer nação. Ainda quer acabar com a democracia nas escolas impedindo a eleição de diretores. Recusa-se a negociar com os professores. Cortou o ponto dos grevistas do magistério, sendo que o mesmo não fez com o de outros profissionais que também fizeram greve no mesmo período, muito embora os professores sejam obrigados a recuperar os dias parados. Ou seja, devem trabalhar de graça.
Ainda fez de palhaço o povo gaúcho, afirmando, a governadora, que não tem dinheiro para nada, que tem que cortar verbas da educação, da saúde, da segurança, mas, paradoxalmente, não falta dinheiro para aumentar seu próprio salário e para adquirir um jato de 26 milhões de doláres para suas viagens.
Ufa, acho que chega! Ou querem mais? Tudo bem. Sinto dizer que o tão propalado déficit zero é uma falácia. O RS ainda deve muito dinheiro...
É. Odiamos. E eu já havia dito isso em outro artigo aqui na “A Hora”, mas agora vou comentar um pouco mais, afinal, sempre vale a pena louvar a cultura de nosso país, ou a ausência dela.
Lendo o jornal “Correio do Povo”, deparei-me com a notícia de que os pais apóiam as medidas do governo gaúcho relativas à enturmação, fechamento de escolas e outros descalabros. Eu sei por que eles apóiam: eles não dão aulas. Eu fico boquiaberto quando vejo como a sociedade brasileira quase sempre se posiciona contra os professores. É como se fossem os professores os culpados pelo estado lastimável, decadente, absurdo em que se encontra a educação pública de ensino básico no Brasil. Os alunos? Desinteressados, vulgares, incultos, violentos, à beira da imbecilidade. Os professores? Vergonhosamente mal pagos, desestimulados, tendo que suportar o desrespeito e a violência dos alunos, o clima de hostilidade e autoritarismo dos governos, a incompreensão e arrogância dos pais, enfim, o ódio de toda uma sociedade. E em cada governo que entra, o lema para a educação é sempre o mesmo: “Senhores professores: calem a boca, trabalhem mais, ganhem menos, e tenham turmas piores. E quem reclamar fica de castigo.” Esse é sempre o “jeito novo” de todos governarem.
Os pais são antes de tudo uns ingratos. Não educam em casa seus filhos e querem que os professores eduquem. E se o professor não o faz, ficam enfurecidos, jogando para os mestres a responsabilidade que é deles. Tudo vai contra o professor: salários, governos, alunos, pais, sociedade e até mesmo as leis. Sim, o mestre, devido ao estatuto degenerado da criança e do adolescente, não pode fazer nada para frear a indisciplina do aluno. Qualquer ato na tentativa de estabelecer a ordem na sala de aula pode ser visto como um atentado a esse estatuto idiota. A indisciplina do aluno, para não dizer bestialidade muitas vezes, tem o amparo da lei.
O aluno pode tudo. Confundiu-se liberdade com libertinagem. E depois ainda se questionam sobre o porquê de estar tão alta a criminalidade no Brasil. Os professores podem dar a resposta: é que as escolas estão cheias de marginais, vieram assim de suas casas. Ser professor é profissão de risco, mas não se ganha insalubridade. No entanto, mesmo estando dentro do inferno de uma sala de aula onde não há ordem nem respeito, o professor é obrigado a educar alegre e contente todos os alunos (que não querem ser educados) e a conhecer não só a sua disciplina, mas também ser um pouco de todas as outras profissões. Eu sugeriria também que os professores fossem um pouco policiais e prendessem alguns marginais que estão nas escolas. Ah, e que fossem com coletes à prova de balas, capacetes, escudos e outros instrumentos de defesa.
Mas não bastam essas barbaridades, agora é vez da enturmação. É inacreditável que aqueles que fazem as diretrizes educacionais creiam que é possível no Brasil ministrar-se aulas de boa qualidade para 50 alunos no Ensino Médio. Qualquer professor sabe que dar aulas para 30 alunos numa escola pública nos dias de hoje já é dificílimo, o que dizer então de 50?!! E os pais apóiam! E que o professor se dane. É por isso que eu amo o Brasil. Que cultura magnífica a nossa: odiar professores. Isso já faz parte de nosso inconsciente coletivo. Desde pequeninos somos educados a odiar educadores. Claro, sempre há os professores carrascos e incompetentes, como ocorre com outros profissionais, mas só os mestres não merecem perdão: deve-se odiar todos eles.
Deve-se odiá-los porque só a educação pode realmente desenvolver o Brasil, tirá-lo da miséria social, do vergonhoso atraso cultural, da decadência psíquica que se alastra em nossa população. Mas quem quer que isso aconteça? Não, o povo não quer. Nem os governos, que são o reflexo do povo. O brasileiro é acomodado sim. Não venham com essas patriotadas hipócritas de que o brasileiro é um povo lutador e inconformado. É coisa nenhuma! Brasileiro gosta da cultura do “como está, está bom”. “Big Brother não presta? Não, mas deixa assim que está bom.” Ter cultura de verdade? Pra quê? Se grande parte de nossos jovens hoje quer ser traficante de drogas? Além disso, pra se ouvir funk, não se precisa de cultura. Cultura só atrapalha. Então, morte aos mestres!
E assim caminha o Brasil, rebolando funk. É, o negócio é sacudir a bunda, porque na cabeça não há nada. Aonde vamos? Alunos, completem a atividade: vamos à ......... .... .......! Por favor, não me odeiem por causa disso.
Até aqui o artigo. Percebam, amigos leitores, que na época a polêmica era a questão da enturmação. Depois disso, quantas outras agressões contra o magistério promoveu o governo Yeda? A começar pelo decisão ferrenha e criminosa, uma vez que vai contra uma lei federal, de não pagar os míseros 950,00 para os profissionais responsáveis pela base de qualquer nação. Ainda quer acabar com a democracia nas escolas impedindo a eleição de diretores. Recusa-se a negociar com os professores. Cortou o ponto dos grevistas do magistério, sendo que o mesmo não fez com o de outros profissionais que também fizeram greve no mesmo período, muito embora os professores sejam obrigados a recuperar os dias parados. Ou seja, devem trabalhar de graça.
Ainda fez de palhaço o povo gaúcho, afirmando, a governadora, que não tem dinheiro para nada, que tem que cortar verbas da educação, da saúde, da segurança, mas, paradoxalmente, não falta dinheiro para aumentar seu próprio salário e para adquirir um jato de 26 milhões de doláres para suas viagens.
Ufa, acho que chega! Ou querem mais? Tudo bem. Sinto dizer que o tão propalado déficit zero é uma falácia. O RS ainda deve muito dinheiro...
17 fevereiro 2009
Soneto Inominado
mas para que dizer que quer que seja
se o nada ou nada adiantará de nada?
deixai cantar pela desgraça inflada
deixai morrer o que de mim deseja...
se queres vida em meu horror me beija
tragédia ao fim de sinfonia alada
em voo e fúria além de um mar de espada
na violência em que tua boca arqueja:
um furacão se ergue em perdões de treva
de grito e febre em tempestuais levantes
a longos fins um vento astral me leva...
buraco-negro me incendiou de Dantes
esquece tudo que te aclara e reza
no lábio em sangue por fatais adiantes...
se o nada ou nada adiantará de nada?
deixai cantar pela desgraça inflada
deixai morrer o que de mim deseja...
se queres vida em meu horror me beija
tragédia ao fim de sinfonia alada
em voo e fúria além de um mar de espada
na violência em que tua boca arqueja:
um furacão se ergue em perdões de treva
de grito e febre em tempestuais levantes
a longos fins um vento astral me leva...
buraco-negro me incendiou de Dantes
esquece tudo que te aclara e reza
no lábio em sangue por fatais adiantes...
14 fevereiro 2009
Soneto Mal Dito
(este soneto inicia com um verso de duas sílabas métricas, avança, verso por verso, por 3, 4, 5, 6, 7 e 8 sílabas, e então regride, voltando de 8 para 2 sílabas métricas em seu último verso. Ao lado de cada verso, entre parêntesis, está o seu número de sílabas)
É tarde. (2)
Lua em frio (3)
de piano em trio: (4)
me voo a encontrar-te. (5)
Grito em sangue de Marte (6)
por lábios bosques sombrios (7)
me enfureço em asas e crio (8)
loucuras pra em canto entregar-te. (8)
Mas ruge o corvo-minuano, (7)
vento do campo insano, (6)
grave urro de sorro... (5)
Por que é que eu clamo? (4)
Eu te chamo (3)
e morro. (2)
É tarde. (2)
Lua em frio (3)
de piano em trio: (4)
me voo a encontrar-te. (5)
Grito em sangue de Marte (6)
por lábios bosques sombrios (7)
me enfureço em asas e crio (8)
loucuras pra em canto entregar-te. (8)
Mas ruge o corvo-minuano, (7)
vento do campo insano, (6)
grave urro de sorro... (5)
Por que é que eu clamo? (4)
Eu te chamo (3)
e morro. (2)
12 fevereiro 2009
Beethoven e a 9ª Sinfonia
A figura que geralmente as pessoas têm de Beethoven, principalmente graças aos filmes americanos sensacionalistas, e muitas vezes baseados em boatos sobre sua vida um tanto misteriosa, é a de um homem explosivo, fechado, mal-humorado, misantropo e dado a bebidas, com o típico temperamento alemão. Não se pode dizer que ele não foi assim, embora existam muitos exageros no cinema, fatos e características suas sugeridos pelos filmes que não estão de acordo com a história conhecida, até porque se conhece muito pouco da vida de Beethoven, principalmente em seus enigmáticos últimos anos.
Mas a verdade é que fora esses traços de sua personalidade, e mais importantes do que eles, é o outro lado de Beethoven, bem menos conhecido, uma vez que ele não daria tanta audiência aos filmes. O maior gênio musical da história era um homem de uma séria e profunda concentração e espiritualidade, possuía um extremo senso de justiça, um coração generoso, um caráter forte, elevado, nobre, avesso a todo tipo de hipocrisia, bajulação e mesquinharias. Sua elevação moral era irrepreensível, e por trás de sua aparência carrancuda havia um imenso coração resplandecente de amor e justiça, e angustiado com o futuro da humanidade.
E foi pensando no futuro da humanidade que em 1824, Beethoven concluiu a sua 9ª Sinfonia, considerada uma das maiores obras musicais de todos os tempos, se não for a maior. A 9ª Sinfonia, juntamente com a Missa Solemnis e com seus últimos quartetos para cordas, constitui seu testamento artístico definitivo. Nela, Beethoven atingiu o ponto culminante de seu gênio e deixou-nos a enigmática mensagem de que o Grande Homem é possível. Conhecida como “A Sinfonia Coral”, por ser a primeira sinfonia na história a apresentar coros e solistas vocais, o gênio utilizou-se, no 4º movimento, de um poema de Schiller intitulado “Ode à Alegria” para transmitir parte de seus propósitos. Mas não se trata aqui da alegria frívola, fútil, mundana, daquela proporcionada pelo prazer, mas de uma alegria divina, espiritual, advinda das profundezas da alma em sua harmonização com todos os homens, com todos os seres da natureza, com o universo e, finalmente, com Deus, seja qual for o conceito que tenhamos do mesmo.
Após o devastador e trágico 1º movimento, de uma força e grandiosidade inigualáveis e avassaladoras; após a energia violenta e luminosa do scherzo; após a densa celestialidade impregnada de mistério, de amor e de luz do adagio, surgem, no 4º movimento, depois de uma trágica introdução, os coros e os solistas a cantar em absoluto êxtase e força espiritual a “Ode à Alegria”, alternando luz e sombras num dos momentos mais sublimes de toda a Arte.
Impossível não se emocionar com a grandeza descomunal e com a sensação de poder e de vitória que a obra nos transmite. É que na música de Beethoven, como afirmou o filósofo Samael Aun Weor, “cada nota tem o seu significado, cada silêncio, é uma emoção superior. Não é a música de formas, mas de ideias arquetípicas inefáveis.” Que profundo mistério o gênio da música intentou nos revelar? Que verdades existem na 9ª Sinfonia? Eu diria que nela, resumidamente, Beethoven quis nos mostrar artisticamente o caminho do Grande Homem, aquele capaz de vencer seus obstáculos, principalmente os que estão dentro dele próprio, e encontrar o caminho do amor, amor em toda sua amplitude, em todo seu significado, em todos os seus sentidos.
O que diria Beethoven, se hoje soubesse que uma imensa parcela da humanidade preferiria ouvir um “funk” ou coisa do tipo a sua Sinfonia, e que ainda chama tais degradações de “música”? O que diria Beethoven se verificasse que a humanidade, ao invés de se tornar uma grande humanidade, está caminhando com passos decididos rumo à destruição do planeta e à autodestruição? Talvez compusesse a “Ode à Tristeza”.
Mas Beethoven cumpriu sua missão, como previu em seu “Testamento de Heiligenstadt”. Escreveu o gênio: “me parecia impossível abandonar o mundo antes de realizar tudo o que me está predestinado...” E ele realizou. Fiquemos com os últimos versos do poema de Schiller, que o coro canta sublimado e com força titânica no final da 9ª Sinfonia: “Mundo, você percebe seu Criador?/ Procure-o mais acima do Céu estrelado!/ Sobre as estrelas onde Ele mora!”
Mas a verdade é que fora esses traços de sua personalidade, e mais importantes do que eles, é o outro lado de Beethoven, bem menos conhecido, uma vez que ele não daria tanta audiência aos filmes. O maior gênio musical da história era um homem de uma séria e profunda concentração e espiritualidade, possuía um extremo senso de justiça, um coração generoso, um caráter forte, elevado, nobre, avesso a todo tipo de hipocrisia, bajulação e mesquinharias. Sua elevação moral era irrepreensível, e por trás de sua aparência carrancuda havia um imenso coração resplandecente de amor e justiça, e angustiado com o futuro da humanidade.
E foi pensando no futuro da humanidade que em 1824, Beethoven concluiu a sua 9ª Sinfonia, considerada uma das maiores obras musicais de todos os tempos, se não for a maior. A 9ª Sinfonia, juntamente com a Missa Solemnis e com seus últimos quartetos para cordas, constitui seu testamento artístico definitivo. Nela, Beethoven atingiu o ponto culminante de seu gênio e deixou-nos a enigmática mensagem de que o Grande Homem é possível. Conhecida como “A Sinfonia Coral”, por ser a primeira sinfonia na história a apresentar coros e solistas vocais, o gênio utilizou-se, no 4º movimento, de um poema de Schiller intitulado “Ode à Alegria” para transmitir parte de seus propósitos. Mas não se trata aqui da alegria frívola, fútil, mundana, daquela proporcionada pelo prazer, mas de uma alegria divina, espiritual, advinda das profundezas da alma em sua harmonização com todos os homens, com todos os seres da natureza, com o universo e, finalmente, com Deus, seja qual for o conceito que tenhamos do mesmo.
Após o devastador e trágico 1º movimento, de uma força e grandiosidade inigualáveis e avassaladoras; após a energia violenta e luminosa do scherzo; após a densa celestialidade impregnada de mistério, de amor e de luz do adagio, surgem, no 4º movimento, depois de uma trágica introdução, os coros e os solistas a cantar em absoluto êxtase e força espiritual a “Ode à Alegria”, alternando luz e sombras num dos momentos mais sublimes de toda a Arte.
Impossível não se emocionar com a grandeza descomunal e com a sensação de poder e de vitória que a obra nos transmite. É que na música de Beethoven, como afirmou o filósofo Samael Aun Weor, “cada nota tem o seu significado, cada silêncio, é uma emoção superior. Não é a música de formas, mas de ideias arquetípicas inefáveis.” Que profundo mistério o gênio da música intentou nos revelar? Que verdades existem na 9ª Sinfonia? Eu diria que nela, resumidamente, Beethoven quis nos mostrar artisticamente o caminho do Grande Homem, aquele capaz de vencer seus obstáculos, principalmente os que estão dentro dele próprio, e encontrar o caminho do amor, amor em toda sua amplitude, em todo seu significado, em todos os seus sentidos.
O que diria Beethoven, se hoje soubesse que uma imensa parcela da humanidade preferiria ouvir um “funk” ou coisa do tipo a sua Sinfonia, e que ainda chama tais degradações de “música”? O que diria Beethoven se verificasse que a humanidade, ao invés de se tornar uma grande humanidade, está caminhando com passos decididos rumo à destruição do planeta e à autodestruição? Talvez compusesse a “Ode à Tristeza”.
Mas Beethoven cumpriu sua missão, como previu em seu “Testamento de Heiligenstadt”. Escreveu o gênio: “me parecia impossível abandonar o mundo antes de realizar tudo o que me está predestinado...” E ele realizou. Fiquemos com os últimos versos do poema de Schiller, que o coro canta sublimado e com força titânica no final da 9ª Sinfonia: “Mundo, você percebe seu Criador?/ Procure-o mais acima do Céu estrelado!/ Sobre as estrelas onde Ele mora!”
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