A Liberdade está acima de tudo. Todos os grandes artistas lutaram incansavelmente pelo liberdade em todos os sentidos. O direito à liberdade individual deve ser sempre a maior bandeira do artista, desde que essa liberdade respeite a liberdade dos outros indivíduos. Agora, que a liberdade de expressão é um dos assuntos em voga em nossa cidade, decidi republicar o texto abaixo, que aborda exatamente a questão da Liberdade. Já me manifestei contra a tirania de Oracy Dornelles, que intenta impor suas regras e valores como as únicas corretas. E é muito estranho que tal senhor assim queira agir, uma vez que Beethoven, gênio que ele tanto admira, foi um dos mais ferrenhos adversários de todos os tipos de tirania. Certamente, desprezaria Oracy pelos seus atos.
O texto abaixo é como um grito pela liberdade em todos os sentidos um protesto contra todos aqueles que julgam que podem estabelecer suas regras como válidas para todos os indivíduos e que acreditam ter o poder de estabelecer o que é certo ou errado.
E Nunca Vou Por Ali...
Vocês sentaram em seus tronos de certeza vazia e de sabedoria inútil para tentar ditar-me as regras de como devo viver. Quem disse que vocês as conhecem? Onde estão as leis que garantem que as suas regras estão corretas? Onde estão as verdades que garantem o que é correto? As suas verdades são a Verdade? Vocês estão certos que chegaram até ela para preconizá-la para todo mundo em absoluta e arrogante segurança? A realidade é exatamente o que vocês vêem? Não há outras realidades, só a que vocês determinam como realidade? Mas que mania de querer convencer-me daquilo que vocês julgam que sabem!
Então quer dizer que vocês chegaram à verdade e eu não? Os caminhos de vocês são os corretos e os meus não? Quer dizer que eu preciso de intermediários para chegar à verdade, e os intermediários são vocês? Então eu devo entre dezenas, centenas de gênios que mortificaram suas vidas em busca do conhecimento escolher dentre eles uns 2 ou 3 como corretos e desprezar todos os outros? E, coincidentemente, esses 2 ou 3 gênios que devo escolher para seguir são os mesmos que vocês escolheram?
Então vocês intentaram com sua sabedoria resolver o mundo, salvar a humanidade, não fizeram nada disso, mas querem que eu acredite que vocês estão certos? Intentaram, com a limitação de seus conhecimentos, limitar o que é infinito, enquadrar tudo o que é misterioso dentro de seus miseráveis conceitos, emparedar o eterno dentro de suas diretrizes egoístas, intentaram podar todos os sonhos, massacrar todas as esperanças, reduzir a vida a um punhado de teorias mecânicas, e agora vêm com esses sorrisos estúpidos e hipócritas me dizer que eu devo segui-los?
O que foi que vocês fizeram com suas sabedorias? O que foi que construíram? Um mundo desesperado? Uma vida sem nenhum sentido? O conhecimento de vocês só serviu para deixar claro que todo o sentido da vida é o dinheiro ou tudo o que ele pode adquirir, isto é, tudo o que é material? Como vocês querem uma humanidade justa, equilibrada, harmoniosa, se vocês pregam que não há justiça, nem equilíbrio, nem harmonia nas existências universais?
Os frutos da sua sabedoria é esse mundo que aí está? Então o mais alto conhecimento é aquele que destrói o planeta? É aquele que aniquila as almas? É aquele que por pregar que a alma é uma ilusão julgou que poderia explorar até o esgotamento toda a vida natural? Combateram crenças fanáticas com outras crenças fanáticas? Tentaram destronar os que ditavam leis para sentar no trono deles e ditar as suas leis? Tentaram sair da escuridão com uma ciência que mergulhou o mundo em treva? A treva do Fim! Fizeram crer que as verdades dos gênios das artes não passam de ilusão e depois ainda vêm falar-me de arte? Querem que eu acredite que a arte é inútil? E a sua ciência materialista a salvação?
Vocês sentem o que eu sinto, vêem o que eu vejo, percebem o que eu percebo? Não? Então por que querem que eu sinta, veja e perceba como vocês? Quer dizer então que se eu tenho asas devo cortá-las porque vocês não as têm? Quer dizer que o que vocês não sabem mais ninguém pode saber? Que se vocês acreditarem que algo não existe, definitivamente esse algo não pode existir?
Na lógica de vocês, muito mais valeria a pena viver para satisfazer prazeres, um absoluto hedonismo, cujos únicos valores seriam o do dinheiro. É assim que vive a humanidade. Sim, para que fazer mais do que isso se tudo irá se perder no dia da morte? Não viver dessa forma seria uma incoerência na sua lógica. E depois ainda vêm me falar de contradições? Na lógica de vocês, a sabedoria não pode valer a pena. Se tudo é injusto, se a lei de ação e reação não age em nossas vidas, se tudo é por acaso, se nada tem um sentido, se a felicidade de uma pessoa é medida pelos bens físicos que adquiriu, pela saúde que teve, pela sua beleza física, pelos prazeres que viveu, para que sabedoria? Para depois de se abarrotar com ela, morrer e jogá-la fora, deixar que ela apodreça com nosso corpo?
Se é assim, não vale a pena buscá-la, e a pessoa de vida mais correta seria alguém como a Gisele Bündchen, ou como o Ronaldinho, ou como qualquer gângster por aí. Sim. Se nada tem sentido, a sabedoria teria muito menos. Sabedoria deve servir para se ensinar a amar. Se no universo não há leis, leis que valem para todas as vidas, se não há justiça, se não há equilíbrio, se não há sentido para as coisas, se tudo veio por acidente, então também não há amor. Se não há amor no universo, então para que amarmos entre nós? E se não se é possível amar, então não há motivos para a sabedoria.
Então, não me venham com as suas sabedorias. A sabedoria que busco é outra. É como disse José Régio:
"Vem por aqui"
- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...”
22 março 2009
Águas do Fim*
águas em marcha
fúnebre
águas de março
seco
águas alvas
brancas
águas claras
de espuma: de ter gente
águas belas?
águas plásticas
chuvas ácidas
gotas trágicas
água da vida?
água da morte
dá medo
dá peste
e morre
a humanidade
e a água:
perdida
acabada.
e o que tu fazes?
fezes,
sem mágica...
e que água que resta?
a Lágrima.
*Poema ao Dia Mundial da Água: 22/03/2009
fúnebre
águas de março
seco
águas alvas
brancas
águas claras
de espuma: de ter gente
águas belas?
águas plásticas
chuvas ácidas
gotas trágicas
água da vida?
água da morte
dá medo
dá peste
e morre
a humanidade
e a água:
perdida
acabada.
e o que tu fazes?
fezes,
sem mágica...
e que água que resta?
a Lágrima.
*Poema ao Dia Mundial da Água: 22/03/2009
21 março 2009
O Hipócrita*
traz açúcar nos olhos
faz veneno com a alma
colhe flores com os dedos
chuta pedra com os pés
grande amigo nos lábios
vil demônio no peito
canta amor pelas ruas
rói rancor pelos cantos
aponta com a mão a verdade
carrega no bolso a mentira
enxerga o mal que há nos outros
e quebra o espelho em sua face
enfim
o hipócrita é a luz
do fogo-fátuo
da podridão
*poema publicado no jornal Zero Hora, na coluna Almanaque Gaúcho, em 19/03/2009
faz veneno com a alma
colhe flores com os dedos
chuta pedra com os pés
grande amigo nos lábios
vil demônio no peito
canta amor pelas ruas
rói rancor pelos cantos
aponta com a mão a verdade
carrega no bolso a mentira
enxerga o mal que há nos outros
e quebra o espelho em sua face
enfim
o hipócrita é a luz
do fogo-fátuo
da podridão
*poema publicado no jornal Zero Hora, na coluna Almanaque Gaúcho, em 19/03/2009
20 março 2009
Só a Lua...
a lua nasce para todos...
bem mais que o sol
que o sol não sonha
só a lua é sono
ao sim de sinos
sem sangue e susto
só luz e lábio
ser longe e langue
ao som de seres
sonata e lágrima
só a lua alenta
só o sono é santo
que a lua é lenda
por lagos longos
soneto e lobo
suspiro e sinto
sou louco e livro
me leva em lenta
só a lua é lava
e a língua é bela...
se a lua é livre
teu olhar é ela...
bem mais que o sol
que o sol não sonha
só a lua é sono
ao sim de sinos
sem sangue e susto
só luz e lábio
ser longe e langue
ao som de seres
sonata e lágrima
só a lua alenta
só o sono é santo
que a lua é lenda
por lagos longos
soneto e lobo
suspiro e sinto
sou louco e livro
me leva em lenta
só a lua é lava
e a língua é bela...
se a lua é livre
teu olhar é ela...
19 março 2009
Quem é Oracy Dornelles?
Há momentos em que falar é um delito. Há outros, em que o delito é calar. O poeta Oracy Dornelles mais uma vez afirma que não há bons poetas em Santiago. Ou seja, no seu julgamento somente ele é um bom poeta. Tem todo o direito de expor sua opinião. Se bem que suas opiniões são um tanto paradoxais. Há bem pouco tempo, para o Oracy havia, fora ele, somente um bom poeta em Santiago: o poeta Froilam de Oliveira. E sempre se derramava em elogios ao seu livro “Ponteiro de Palavras”. Curiosamente, de uns tempos para cá, por motivos que não me cabe analisar, voltou-se contra o Froilam e agora o considera um mau poeta. Eu pergunto: qual das duas opiniões de Oracy deve ser levada em conta, afinal? Será que suas opiniões têm mesmo algum valor, se são sempre levadas a cabo de acordo com seus interesses pessoais e não de acordo com um julgamento imparcial? Para mim, as opiniões de Oracy são como suas piadas: vazias. No entanto, jamais devemos ficar calados às tentativas da tirania.
Bem, mas eu também tenho o direito de expor a minha opinião. Eu sou o único santiaguense a afirmar sem medo que a poesia atual de Oracy se tornou aquilo que ele se propôs construir: uma piada. Antes de tudo, de que adiantou todo o estudo teórico que ele afirma ter efetuado, se foi para encerrar sua carreira escrevendo piadas com baixíssimo valor literário. Afinal, onde se fala em Oracy hoje em dia? Sinceramente, não vejo nos meios literários do Brasil qualquer alarde sobre sua obra. Somente se fala sobre seu ridículo e inútil circo de pulgas. Agora, somente porque ele vendeu três livros para o exterior, julga-se no direito de ditar o que é bom ou ruim? Convenhamos que para um poeta de quase 80 anos com 10 livros publicados e que se considera um fenômeno literário, ter três livros vendidos no exterior é muito pouco. Eu mesmo vendi alguns de meu livro de contos para Portugal e Uruguai. Só que eu tenho 31 anos. Além do mais, se procurarmos no Google, há 7.750 ocorrências para Alessandro Reiffer e 2.250 para Oracy Dornelles. Isso significa alguma coisa? Claro que não. O fato de eu possuir mais ocorrências no Google que ele não significa absolutamente nada. E muito menos significa alguma coisa ele ter vendido três livros para o exterior, comprados por colecionadores, que sempre adquirem qualquer bobagem. A verdade é que o Oracy como poeta, depois de escrever por 64 anos, mal ultrapassa as barreiras de Santiago.
Tal poeta crê que somente ele estuda poesia, literatura, arte em Santiago, ninguém mais, que só ele sabe o que pode ser feito ou não, crendo que todos os outros nunca ouviram falar em metrificação, por exemplo. Convido o Oracy para conhecer a literatura que é feita hoje pelo mundo, onde cada vez mais se despreza o poema-piada. Além do mais, ele fala como se o poema-piada fosse uma criação sua. Não só todos sabem que não é, como há centenas de poetas no Brasil que cultivam o estilo. Estilo esse cada vez mais caindo em descrédito, uma vez que é algo extremamente pobre em conteúdo, em sensações e em expressividade poética. Assim são os poemas-piada de Oracy. Impecáveis na técnica, vazios de conteúdo. Qualquer conhecedor de literatura e arte que não esteja condicionado pela mentalidade provinciana de Santiago reconhece tal fato imediatamente.
Isso sem falar nas suas caricaturas, as quais qualquer estudante de desenho faz melhor. Que o diga meu amigo PC. Suas micropinturas são outro exemplo de técnica apurada, porém sem nenhuma emoção ou profundidade. Suas esculturas estão absolutamente dentro da média. Há milhares de outros escultores melhores que ele no Brasil. O problema de Oracy Dornelles é que ele pôs na cabeça que é um gênio, e muitos em Santiago acreditaram. Fora daqui, ele cai ao seu verdadeiro valor. Tem talento para escrita, nada mais. Talento esse que ele vem desperdiçando com uma poesia ridícula que ele julga o suprassumo da literatura pós-moderna. Isso é, no mínimo, uma ignorância e uma vergonhosa mania de grandeza.
O que há de mais na poesia de Oracy? Na atual só há de menos, e na antiga, o que há são bons poemas dentro da média da produção brasileira da época. Poemas clássicos ou modernistas, mas absolutamente normais, não vejo realmente nada de fantástico ou fenomenal. O Oracy fala de outros poetas como se ele fosse mundialmente reconhecido como um dos maiores poetas da atualidade. Só ele e alguns santiaguenses ignorantes pensam assim. Onde está o reconhecimento da poesia de Oracy como sendo tudo isso que ele diz? Sinceramente, não vejo em parte alguma. Ah, ele espera ser reconhecido dentro de 50 anos? Ah, isso eu também espero. Vamos ver se alguém vai ser, não é mesmo? A diferença é que quando ele tinha 30 anos ele também devia pensar que seria reconhecido dentro de 50 anos. Lamento informar, senhor Oracy, mas já passaram 50 anos. Veremos então, poeta Oracy, se as suas piadas terão algum valor em 50 anos. Em 50 anos, o mundo não mais terá condições psicológicas de rir de uma piada, não haverá bom humor para suas brincadeiras literárias, que indignariam Beethoven, por exemplo, se ele soubesse que o senhor as classifica como arte. É melhor fazer montes de versos do que montes de piadas.
Bem, mas eu também tenho o direito de expor a minha opinião. Eu sou o único santiaguense a afirmar sem medo que a poesia atual de Oracy se tornou aquilo que ele se propôs construir: uma piada. Antes de tudo, de que adiantou todo o estudo teórico que ele afirma ter efetuado, se foi para encerrar sua carreira escrevendo piadas com baixíssimo valor literário. Afinal, onde se fala em Oracy hoje em dia? Sinceramente, não vejo nos meios literários do Brasil qualquer alarde sobre sua obra. Somente se fala sobre seu ridículo e inútil circo de pulgas. Agora, somente porque ele vendeu três livros para o exterior, julga-se no direito de ditar o que é bom ou ruim? Convenhamos que para um poeta de quase 80 anos com 10 livros publicados e que se considera um fenômeno literário, ter três livros vendidos no exterior é muito pouco. Eu mesmo vendi alguns de meu livro de contos para Portugal e Uruguai. Só que eu tenho 31 anos. Além do mais, se procurarmos no Google, há 7.750 ocorrências para Alessandro Reiffer e 2.250 para Oracy Dornelles. Isso significa alguma coisa? Claro que não. O fato de eu possuir mais ocorrências no Google que ele não significa absolutamente nada. E muito menos significa alguma coisa ele ter vendido três livros para o exterior, comprados por colecionadores, que sempre adquirem qualquer bobagem. A verdade é que o Oracy como poeta, depois de escrever por 64 anos, mal ultrapassa as barreiras de Santiago.
Tal poeta crê que somente ele estuda poesia, literatura, arte em Santiago, ninguém mais, que só ele sabe o que pode ser feito ou não, crendo que todos os outros nunca ouviram falar em metrificação, por exemplo. Convido o Oracy para conhecer a literatura que é feita hoje pelo mundo, onde cada vez mais se despreza o poema-piada. Além do mais, ele fala como se o poema-piada fosse uma criação sua. Não só todos sabem que não é, como há centenas de poetas no Brasil que cultivam o estilo. Estilo esse cada vez mais caindo em descrédito, uma vez que é algo extremamente pobre em conteúdo, em sensações e em expressividade poética. Assim são os poemas-piada de Oracy. Impecáveis na técnica, vazios de conteúdo. Qualquer conhecedor de literatura e arte que não esteja condicionado pela mentalidade provinciana de Santiago reconhece tal fato imediatamente.
Isso sem falar nas suas caricaturas, as quais qualquer estudante de desenho faz melhor. Que o diga meu amigo PC. Suas micropinturas são outro exemplo de técnica apurada, porém sem nenhuma emoção ou profundidade. Suas esculturas estão absolutamente dentro da média. Há milhares de outros escultores melhores que ele no Brasil. O problema de Oracy Dornelles é que ele pôs na cabeça que é um gênio, e muitos em Santiago acreditaram. Fora daqui, ele cai ao seu verdadeiro valor. Tem talento para escrita, nada mais. Talento esse que ele vem desperdiçando com uma poesia ridícula que ele julga o suprassumo da literatura pós-moderna. Isso é, no mínimo, uma ignorância e uma vergonhosa mania de grandeza.
O que há de mais na poesia de Oracy? Na atual só há de menos, e na antiga, o que há são bons poemas dentro da média da produção brasileira da época. Poemas clássicos ou modernistas, mas absolutamente normais, não vejo realmente nada de fantástico ou fenomenal. O Oracy fala de outros poetas como se ele fosse mundialmente reconhecido como um dos maiores poetas da atualidade. Só ele e alguns santiaguenses ignorantes pensam assim. Onde está o reconhecimento da poesia de Oracy como sendo tudo isso que ele diz? Sinceramente, não vejo em parte alguma. Ah, ele espera ser reconhecido dentro de 50 anos? Ah, isso eu também espero. Vamos ver se alguém vai ser, não é mesmo? A diferença é que quando ele tinha 30 anos ele também devia pensar que seria reconhecido dentro de 50 anos. Lamento informar, senhor Oracy, mas já passaram 50 anos. Veremos então, poeta Oracy, se as suas piadas terão algum valor em 50 anos. Em 50 anos, o mundo não mais terá condições psicológicas de rir de uma piada, não haverá bom humor para suas brincadeiras literárias, que indignariam Beethoven, por exemplo, se ele soubesse que o senhor as classifica como arte. É melhor fazer montes de versos do que montes de piadas.
Na Noite... (Conto dedicado à Noite)
Finalmente anoitecera... Há muito que eu esperava que a noite caísse sobre a minha alma exausta. O odioso dia ocultava-se desesperado atrás do sangue dos horizontes enfermos. A noite descia lenta e agonicamente, e com ela meus sonhos eclodiam furiosos e tomavam conta de minha existência destituída de sorte. Infinitas vozes dos céus enegrecidos desciam em voos sobre os meus olhos. Uma alegria espiritual advinda dos meus sonhos em desespero invadia-me como um incêndio invade os campos da humanidade por onde eu perambulava minha solidão.
Não havia lua na escuridão fúnebre de um romantismo absurdo. Minhas pernas avançavam lentamente por entre campos vastos, arbustos imensos, árvores gigantes, flores que eu reconhecia pelos aromas de incensos densos e nervosos que me inebriavam. Insano, eu não sabia para onde iria. Sabia apenas que iria encontrá-la. E somente o silêncio aterrador, o mistério indecifrável, a morbidez sem freios, o desejo infinito e insatisfeito que se alastrava como o pio das corujas pela treva poderia me permitir que eu a encontrasse. Mesmo não sabendo quem ela era, eu saberia a encontrar...
Mais e mais eu me aprofundava na Noite. E a Noite se aprofundava em minha alma. E quanto mais eu anoitecia, mais eu era eu mesmo e sentia-me liberto de toda a sensatez da medíocre vida humana. Rumores do desconhecido e de seres inexistentes cruzavam-se pelos meus lábios, roçavam seus dedos pelos meus olhos e sussurravam canções sensualmente entristecidas nos meus ouvidos.
Eu não sabia para onde me dirigia. Não sabia em que lugar estava, embrenhava-me como um embriagado de sensações em conflito pelas matas sombrias, que de forma lenta, lugubremente lenta, surgiam e se expandiam diante de minha face perplexa que nada enxergava. Apenas sabia que iria encontrá-la por entre a Noite absoluta.
A Noite era a minha felicidade, pois a Noite descia e me afastava dos homens e de seus valores inúteis para mim. A Noite era a minha liberdade única. As canções inflamadas de uma febre sem destino nasciam de todos os cantos da escuridão. Falavam-me de sonhos e desejos cósmicos jamais conhecidos. Sentia um ruflar de asas sobre minha respiração estertorosa. Alguma coisa batia suas asas sobre mim e foi gradativamente se afastando, deixando uma impressão escarlate, como alguém que deixa um sentencioso aviso e parte.
Com esse aviso, senti sua aproximação. Ela estava próxima. Eu bendizia a Noite por permitir-me encontrá-la. Por afastar-me da revoltante vida humana sob a luz inútil do dia. Só na Noite eu poderia sonhar e amar e viver minha vida que não era a vida humana.
Uma sensação de crepúsculo assomou-me aos olhos, quando uma tênue luz de velas surgiu fantasmagórica por entre as densas árvores da mata onde penetrei inebriado de delírio. Foi então que pude distinguir que lá estava ela, envolvida por dezenas de velas rubras de onde resplandeciam, como fogos-fátuos, sublimes chamas azuis. Foi nessa luminosidade que a vi, em êxtase absoluto. Então soprou um vento morno e arrepiante que abriu todo o céu antes carregado com as tempestuosas nuvens. Uma lua cheia e brilhante como os olhos dela surgiu sendo rainha absoluta da escuridão. Estrelas imensas assomaram como por encanto nos céus agora límpidos. Era estranho e belo uma noite anomalamente iluminada por uma lua cheia e por estrelas anormais ao mesmo tempo.
Lenta e misteriosamente ela se aproximou de mim. Abraçou-me em incêndios, beijou-me em lavas vulcânicas e sussurrou-me aos ouvidos palavras ardentes, tais como estas:
- Dize teu adeus definitivo ao dia. Vem comigo e abraça o fogo da Noite, o único que te levará ao amor... O sol, a luz, o calor do dia sempre te farão mal. O dia é o trabalho, o movimento, a sensatez, a turbulência dos afazeres da inútil existência comum dos homens. O dia é tudo que é alegre e aberto, claro e correto, tudo o que é finito e transparente. A Noite é o oposto de tudo isso. Esquece a vida dos homens e dê-me tua mão pelo infinito da Noite. Somente pelas suas sombras castas e protetoras nos será permitido o amor, ocultos dos mesquinhos e miseráveis olhares humanos. Que a treva da noite seja o nosso arcanjo confidente, que conhece e cuida dos nossos mais fundos segredos.
- Vem comigo, que a Noite é o descanso e a paz tão almejados por ti. A Noite é o desconhecido, a Noite é a arte, a Noite é o mistério, a Noite é o amor. Eu te levarei por entre o além das existências e te libertarei de tudo o que é dia... De tudo aquilo que massacra o sonho, de tudo o que perturba as águas tranquilas e cristalinas dos lagos astrais. O mundo diurno das preocupações dos homens mais nada tem a te dizer. Esquece as palavras dos homens e escuta a dos anjos.
A ela somente respondi que a Noite era os olhares e os beijos dela, e por isso eu iria mergulhar-me mais e mais na escuridão noturna.
Nesse instante, ela puxou-me pela mão e levou-me em uma lenta caminhada até uma elevação situada no centro da mata. Escalamos a elevação com uma estranha suavidade e ao atingirmos o topo, percebi que de lá poderíamos avistar infinitos horizontes ao nosso redor. Então ela depositou um intenso beijo em meus lábios, disse-me para observar o que aconteceria nos horizontes e desceu a elevação como que flutuando etericamente.
Ali permaneci, sozinho e em terrível expectativa. Até que ao fundo penumbroso dos montes, um sol de um vermelho febricitante e incendiado surgiu com uma violência e rapidez absurdas. Em questão de minutos, subia ao alto dos céus, enquanto por todos os lugares incêndios se alastraram com velocidade vertiginosa, até onde minha vista alcançava. Pessoas em multidões incontáveis surgiam de todos os cantos, em uma correria desesperada e assustadora.
Tais pessoas destruíam de forma implacável tudo o que viam pela frente, inclusive elas mesmas, utilizando-se de avançadas e mortíferas máquinas. Massacres colossais derramavam oceanos de sangue por todos os campos em chamas, e o vermelho do líquido sanguíneo e das chamas nebulosas se confundiam e imperavam absolutas.
Não havia lua na escuridão fúnebre de um romantismo absurdo. Minhas pernas avançavam lentamente por entre campos vastos, arbustos imensos, árvores gigantes, flores que eu reconhecia pelos aromas de incensos densos e nervosos que me inebriavam. Insano, eu não sabia para onde iria. Sabia apenas que iria encontrá-la. E somente o silêncio aterrador, o mistério indecifrável, a morbidez sem freios, o desejo infinito e insatisfeito que se alastrava como o pio das corujas pela treva poderia me permitir que eu a encontrasse. Mesmo não sabendo quem ela era, eu saberia a encontrar...
Mais e mais eu me aprofundava na Noite. E a Noite se aprofundava em minha alma. E quanto mais eu anoitecia, mais eu era eu mesmo e sentia-me liberto de toda a sensatez da medíocre vida humana. Rumores do desconhecido e de seres inexistentes cruzavam-se pelos meus lábios, roçavam seus dedos pelos meus olhos e sussurravam canções sensualmente entristecidas nos meus ouvidos.
Eu não sabia para onde me dirigia. Não sabia em que lugar estava, embrenhava-me como um embriagado de sensações em conflito pelas matas sombrias, que de forma lenta, lugubremente lenta, surgiam e se expandiam diante de minha face perplexa que nada enxergava. Apenas sabia que iria encontrá-la por entre a Noite absoluta.
A Noite era a minha felicidade, pois a Noite descia e me afastava dos homens e de seus valores inúteis para mim. A Noite era a minha liberdade única. As canções inflamadas de uma febre sem destino nasciam de todos os cantos da escuridão. Falavam-me de sonhos e desejos cósmicos jamais conhecidos. Sentia um ruflar de asas sobre minha respiração estertorosa. Alguma coisa batia suas asas sobre mim e foi gradativamente se afastando, deixando uma impressão escarlate, como alguém que deixa um sentencioso aviso e parte.
Com esse aviso, senti sua aproximação. Ela estava próxima. Eu bendizia a Noite por permitir-me encontrá-la. Por afastar-me da revoltante vida humana sob a luz inútil do dia. Só na Noite eu poderia sonhar e amar e viver minha vida que não era a vida humana.
Uma sensação de crepúsculo assomou-me aos olhos, quando uma tênue luz de velas surgiu fantasmagórica por entre as densas árvores da mata onde penetrei inebriado de delírio. Foi então que pude distinguir que lá estava ela, envolvida por dezenas de velas rubras de onde resplandeciam, como fogos-fátuos, sublimes chamas azuis. Foi nessa luminosidade que a vi, em êxtase absoluto. Então soprou um vento morno e arrepiante que abriu todo o céu antes carregado com as tempestuosas nuvens. Uma lua cheia e brilhante como os olhos dela surgiu sendo rainha absoluta da escuridão. Estrelas imensas assomaram como por encanto nos céus agora límpidos. Era estranho e belo uma noite anomalamente iluminada por uma lua cheia e por estrelas anormais ao mesmo tempo.
Lenta e misteriosamente ela se aproximou de mim. Abraçou-me em incêndios, beijou-me em lavas vulcânicas e sussurrou-me aos ouvidos palavras ardentes, tais como estas:
- Dize teu adeus definitivo ao dia. Vem comigo e abraça o fogo da Noite, o único que te levará ao amor... O sol, a luz, o calor do dia sempre te farão mal. O dia é o trabalho, o movimento, a sensatez, a turbulência dos afazeres da inútil existência comum dos homens. O dia é tudo que é alegre e aberto, claro e correto, tudo o que é finito e transparente. A Noite é o oposto de tudo isso. Esquece a vida dos homens e dê-me tua mão pelo infinito da Noite. Somente pelas suas sombras castas e protetoras nos será permitido o amor, ocultos dos mesquinhos e miseráveis olhares humanos. Que a treva da noite seja o nosso arcanjo confidente, que conhece e cuida dos nossos mais fundos segredos.
- Vem comigo, que a Noite é o descanso e a paz tão almejados por ti. A Noite é o desconhecido, a Noite é a arte, a Noite é o mistério, a Noite é o amor. Eu te levarei por entre o além das existências e te libertarei de tudo o que é dia... De tudo aquilo que massacra o sonho, de tudo o que perturba as águas tranquilas e cristalinas dos lagos astrais. O mundo diurno das preocupações dos homens mais nada tem a te dizer. Esquece as palavras dos homens e escuta a dos anjos.
A ela somente respondi que a Noite era os olhares e os beijos dela, e por isso eu iria mergulhar-me mais e mais na escuridão noturna.
Nesse instante, ela puxou-me pela mão e levou-me em uma lenta caminhada até uma elevação situada no centro da mata. Escalamos a elevação com uma estranha suavidade e ao atingirmos o topo, percebi que de lá poderíamos avistar infinitos horizontes ao nosso redor. Então ela depositou um intenso beijo em meus lábios, disse-me para observar o que aconteceria nos horizontes e desceu a elevação como que flutuando etericamente.
Ali permaneci, sozinho e em terrível expectativa. Até que ao fundo penumbroso dos montes, um sol de um vermelho febricitante e incendiado surgiu com uma violência e rapidez absurdas. Em questão de minutos, subia ao alto dos céus, enquanto por todos os lugares incêndios se alastraram com velocidade vertiginosa, até onde minha vista alcançava. Pessoas em multidões incontáveis surgiam de todos os cantos, em uma correria desesperada e assustadora.
Tais pessoas destruíam de forma implacável tudo o que viam pela frente, inclusive elas mesmas, utilizando-se de avançadas e mortíferas máquinas. Massacres colossais derramavam oceanos de sangue por todos os campos em chamas, e o vermelho do líquido sanguíneo e das chamas nebulosas se confundiam e imperavam absolutas.
E enquanto o dia absurdo chegava ao seu auge, eu ali permanecia em solidão, sendo bombardeado sem proteção pelos raios devastadores do sol. Perguntava-me onde estaria ela, e quando finalmente retornaria a Noite...
17 março 2009
Aquecimento Global
vermelho sol de raios
fez dourar o azul sem nuvens
do céu da minha alma
chuva de fogo em chamas
alagou de incêndios vivos
os campos do meu peito
as geleiras da minha mente
derreteram gota a gota
em mar de pensamentos
ferveram as águas do que sinto
acendeu-se um sonho nos meus olhos
arderam rios pelo meu corpo...
com os teus beijos na minha boca
fez dourar o azul sem nuvens
do céu da minha alma
chuva de fogo em chamas
alagou de incêndios vivos
os campos do meu peito
as geleiras da minha mente
derreteram gota a gota
em mar de pensamentos
ferveram as águas do que sinto
acendeu-se um sonho nos meus olhos
arderam rios pelo meu corpo...
com os teus beijos na minha boca
16 março 2009
Juremir contra Yeda
O colunista do jornal Correio do Povo, Juremir Machado da Silva, sempre muito acertado, incisivo, devastador em suas análises sociais (ainda que isso não aconteça em suas análises artísticas, na minha opinião), mais uma vez foi contundente em suas críticas contra o governo Yeda, no que se refere a sua relação com o magistério, ao tratamento revoltante dado à educação.
A seguir, transcrevo um trecho de sua coluna do dia 14 de março: "A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo em empilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala de aula para fazer economia a curto prazo e agradar o Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver no piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa. A punição foi para os professores grevistas. A recompensa, para o PMDB."
Genial, Juremir, genial! E eu ainda acrescentaria que há uma grande hipocrisia no Brasil. Todos falam que os trabalhadores devem se organizar de forma séria para lutar por seus objetivos, seu direitos, para mostrar à sociedade a importância de sua categoria, de sua profissão, para não serem exploradas pelos governos, o blábláblá de sempre. Porém, quando isso acontece, como é o caso do CPERS, toda a sociedade volta-se contra, dizendo que os professores tem que trabalhar e parar de reclamar. É o que dizem muitos senhores que se julgam cultos. É o que afirmam muitos jornais. E é assim que querem que os trabalhadores obtenham seus direitos? De boca fechada, aguentando quieto, como na ditadura? É por essas e outras que o Brasil é atrasado. E com a categoria de povo que tem, que prefere a acomodação ao protesto, vai continuar assim por muito tempo.
A seguir, transcrevo um trecho de sua coluna do dia 14 de março: "A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo em empilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala de aula para fazer economia a curto prazo e agradar o Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver no piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa. A punição foi para os professores grevistas. A recompensa, para o PMDB."
Genial, Juremir, genial! E eu ainda acrescentaria que há uma grande hipocrisia no Brasil. Todos falam que os trabalhadores devem se organizar de forma séria para lutar por seus objetivos, seu direitos, para mostrar à sociedade a importância de sua categoria, de sua profissão, para não serem exploradas pelos governos, o blábláblá de sempre. Porém, quando isso acontece, como é o caso do CPERS, toda a sociedade volta-se contra, dizendo que os professores tem que trabalhar e parar de reclamar. É o que dizem muitos senhores que se julgam cultos. É o que afirmam muitos jornais. E é assim que querem que os trabalhadores obtenham seus direitos? De boca fechada, aguentando quieto, como na ditadura? É por essas e outras que o Brasil é atrasado. E com a categoria de povo que tem, que prefere a acomodação ao protesto, vai continuar assim por muito tempo.
15 março 2009
Desprezo
quero ser aquele gato
negro bicho tão noturno
que não tem culpa de nada
que com nada mais se importa
que não tem seu rabo preso
pra fugir da humanidade
me ocultar entre o oculto
e miar para o infinito
pra ser sempre vagabundo
vendo almas e fantasmas
sem provar pra todo mundo
pra sonhar sem ter os sonhos
e dormir por entre a lua
quero ser aquele gato
ser sagrado e ser profano
ser um deus ser um demônio
e no fundo bem no fundo...
desprezar o ser humano
negro bicho tão noturno
que não tem culpa de nada
que com nada mais se importa
que não tem seu rabo preso
pra fugir da humanidade
me ocultar entre o oculto
e miar para o infinito
pra ser sempre vagabundo
vendo almas e fantasmas
sem provar pra todo mundo
pra sonhar sem ter os sonhos
e dormir por entre a lua
quero ser aquele gato
ser sagrado e ser profano
ser um deus ser um demônio
e no fundo bem no fundo...
desprezar o ser humano
13 março 2009
A Perversidade Europeia
Uma quadrilha de traficantes de animais foi desarticulada pela polícia ambiental nesta semana em vários estados brasileiros, incluindo o RS. Tal quadrilha roubava das matas de nosso país mais de 500.000 animais por ano (500 mil animais por ano, meus senhores, estão conscientes desse número?). Os animais indefesos eram torturados para servirem aos interesses perversos do tráfico (sendo que mais de 80% deles morrem devido aos maus tratos) e depois vendidos para países europeus.
O pior é que todos esses monstros criminosos que massacram o que há de mais belo e puro em nosso país - seus animais - muito pouco pagarão por seus crimes, tendo em vista a tragédia que é a nossa justiça. Por mim, se aqui houvesse prisão perpétua, teriam prisão perpétua. E se aqui houvesse pena de morte, teriam pena de morte. Mas o Brasil é uma vergonha. Uma piada.
Mas ainda pior que esses traficantes imundos, são os perversos que compram nossos animais, inclusive sabendo como são tratados. E são os europeus, os norte-americanos, os que mais os compram, são os ricos. Para mim, eles também merecem prisão perpétua. No caso dessa quadrilha, seus compradores e cúmplices do crime eram europeus.
Sempre se diz que os países europeus devem servir de exemplo para todo mundo. Mas até que ponto? Como foi que a Europa enriqueceu? Será que foi somente por méritos próprios ou será que também foi pela exploração impiedosa que sempre fez recair sobre os países pobres, porém donos de incomensuráveis riquezas naturais? Todos sabem que países como Inglaterra, Espanha, Itália, Holanda, Portugal, França, Alemanha exploraram o máximo que puderam suas colônias na América, Ásia, África, e grande parte das riquezas que acumularam e permitiram seu desenvolvimento veio dos países hoje pobres.
E acabou essa exploração? Claro que não, hoje permanece através de suas multinacionais e da pilhagem de nossas riquezas naturais através do tráfico de animais e plantas, além de outras formas menos conhecidas. O custo da prosperidade de muitos dos países da Europa, e de vários outros, como os EUA, é a miséria de muitos outros povos ao redor do mundo. Ou alguém acha que o dinheiro que existe no mundo nao é suficiente para acabar com toda a pobreza que existe? É mais do que suficiente, mas se concentra nas mãos de muito poucos. E não vai deixar de ser assim.
E todos sabem, ou deveriam saber, que são esses mesmos países ricos os principais responsáveis pela poluição e degradação ambiental do planeta, pois são os que mais consomem e, assim, os que mais destróem o planeta, direta ou indiretamente.
Claro que a cultura europeia com todos os seus gênios do passado merece nossa mais profunda admiração, bem como o valor que dão a tais questões culturais e educacionais. Porém, a verdade é que nem mesmo a grande Europa salva-se da catástrofe que aniquila nosso planeta. Sua prosperidade custou e custa um alto preço para todo o mundo (incluindo-se aqui os demais países ricos de outros continentes), e a Terra não mais suportará manter seus níveis de consumo e de depredação natural por muito tempo...
(Na imagem acima, estão mais de 400 pássaros mortos pelas maus tratos causados pelo tráfico de animais, pássaros estes que seriam vendidos no mercado europeu)
12 março 2009
Sobre a Secretaria de Cultura...
Fui convidado pelo Júlio Prates para uma reunião, no dia 6 de março, que iria discutir a criação de uma Secretaria de Cultura em Santiago. Não compareci à reunião porque não me encontrava na cidade nesse dia. Mas a criação dessa secretaria sem dúvida merece meu apoio, e o motivo é extremamente simples: cultura nunca é demais, e no Brasil sempre há cultura de menos. Quando se julga que um assunto não merece tanta atenção em termos de governo, une-se uma secretaria a outra. Muito melhor seria para a educação e para a cultura que cada uma contasse com sua própria secretaria. Porém, de nada adiantará haver uma Secretaria de Cultura se ela for apenas de fachada, apenas para constar e para se dizer: vejam, temos uma Secretaria de Cultura. E muito menos deve tal secretaria ser dominada por alguns poucos que se julgam "donos" da cultura em Santiago, coisa muito comum de acontecer em nossas terrinhas de coronelismo rançoso. Espero que seja uma Secretaria de Cultura para todos, não para aqueles de sempre...
11 março 2009
A Nossa Lenta Marcha Fúnebre
Quando todos os temas se unem e existem simultaneamente, prepare-se o final. Quando soa uma grande sinfonia, seus temas apresentam-se um de cada vez ao longo da obra, no decorrer dos seus vários movimentos. Quando cada movimento se aproxima do final, e ainda mais ao fim do último movimento, seus temas retornam com toda força e intensidade, às vezes um pouco alterados, mas reconhecíveis, de forma simultânea, em uma apoteose devastadora. A sinfonia então se encerra, de forma grandiosa e exultante, ou de forma trágica e desoladora.
Assim é com tudo. Em maior ou menor grau. “Assim como é acima, é abaixo.” Assim é com nossa civilização. Aproxima-se o seu final. Um final trágico e desolador.
Hoje todos os temas subsistem ao mesmo tempo em nosso mundo. Nas artes, nas ciências, nas religiões, nas filosofias, nos estilos, nas modas, enfim, em tudo, há uma infinidade de temas coexistindo, entrecruzando-se, em paz ou em conflito, tudo é aceito, há seguidores para todos eles, que se conflitam entre si sem chegar a nenhuma síntese. Já foi mais do que dito que chegamos ao fim da história. Mas o que isso significa? Hoje tudo existe, e nada vale a pena. Todos os temas que existiram e foram criados ao longo da história da humanidade estão presentes em nossa civilização, porém todos esvaziados, desprovidos de significado, não levando a lugar nenhum, combatendo-se mutuamente. É o triste final de uma sinfonia mal feita, mal executada, cujo sentido perdeu-se ao longo da obra. Uma sinfonia criada por Deus ou por nós mesmos? Ou por ambos?
A civilização acaba lenta e lugubremente. Tão lenta que mal se percebe. Uma marcha fúnebre de principio imperceptível se abateu sobre nós. Nós somos os sapos sendo cozinhados lentamente na panela de água que esquenta sem que eles percebam. Como todos devem ou deveriam saber, se colocarmos sapos numa panela com água e esquentarmos a água aos poucos, os sapos não perceberão o aumento da temperatura e morrerão cozinhados sem lutar para sair. Assim é a humanidade dentro da panela de água cada vez mais quente do planeta.
Não, não me refiro somente ao aquecimento global. Refiro-me a tudo, simplesmente a tudo o que ocorre conosco, que nem é necessário que eu diga. Bem, pensando melhor, talvez seja. Mesmo assim, não direi. Até porque eu nem devo saber tudo o que acontece, devem estar ocorrendo coisas terríveis que eu nem suspeito o que é.
Só sei que as coisas não estão bem, não estão bem nem um pouco, e estão cada vez piores. Isso eu sei. E ninguém me tira essa certeza. Porém, tudo o que ocorre o faz de uma maneira tão lenta para as nossas miseráveis capacidades perceptivas que até temos a impressão muitas vezes de que nada está ocorrendo e de que tudo se encontra perfeitamente bem...
Porém, chega um momento em que algo é percebido. Quase sempre é tarde demais. É como algumas doenças fatais. Quando surgem os sintomas, não dá mais para curar. Mas mesmo quando se percebe algo, sempre há os que dizem que não. Acreditam que negando o óbvio, serão inteligentes, serão sábios. Até que as coisas pioram e surge um sinal ainda mais óbvio. E surgem outros sapos sábios para negá-lo com ainda mais inteligência. Até que um dia surge o sinal derradeiro, e o teto desaba sobre nossas cabeças. Certas doenças matam mesmo.
E assim os sapos sábios são cozinhados sem que percebam. Morrem sem nem ao menos saber por quê. Está se encerrando a sinfonia mal-acabada de nossa civilização. O seu último movimento é uma lenta e arrastada marcha fúnebre. Às vezes parece que alguma coisa melhora, porém era tudo ilusão, e o estado de má saúde se agrava. É como um paciente terminal. Muitas vezes parece que ele vai melhorar, recobra o ânimo, apresenta um quadro mais otimista, os médicos se surpreendem... No entanto, isso passa, a doença retorna com toda força e o enfermo agoniza e morre. Não é assim?
É como uma calmaria antes da tempestade. A escura tranquilidade que precede as tempestades. Às vezes parece que vai abrir sol, e o temporal desaba. Uma lenta, muito lenta, lentíssima Marcha Fúnebre. Mas um dia ela acaba. O certo é que tudo que teve um Princípio tem um Fim. E o que há depois do Fim?
Assim é com tudo. Em maior ou menor grau. “Assim como é acima, é abaixo.” Assim é com nossa civilização. Aproxima-se o seu final. Um final trágico e desolador.
Hoje todos os temas subsistem ao mesmo tempo em nosso mundo. Nas artes, nas ciências, nas religiões, nas filosofias, nos estilos, nas modas, enfim, em tudo, há uma infinidade de temas coexistindo, entrecruzando-se, em paz ou em conflito, tudo é aceito, há seguidores para todos eles, que se conflitam entre si sem chegar a nenhuma síntese. Já foi mais do que dito que chegamos ao fim da história. Mas o que isso significa? Hoje tudo existe, e nada vale a pena. Todos os temas que existiram e foram criados ao longo da história da humanidade estão presentes em nossa civilização, porém todos esvaziados, desprovidos de significado, não levando a lugar nenhum, combatendo-se mutuamente. É o triste final de uma sinfonia mal feita, mal executada, cujo sentido perdeu-se ao longo da obra. Uma sinfonia criada por Deus ou por nós mesmos? Ou por ambos?
A civilização acaba lenta e lugubremente. Tão lenta que mal se percebe. Uma marcha fúnebre de principio imperceptível se abateu sobre nós. Nós somos os sapos sendo cozinhados lentamente na panela de água que esquenta sem que eles percebam. Como todos devem ou deveriam saber, se colocarmos sapos numa panela com água e esquentarmos a água aos poucos, os sapos não perceberão o aumento da temperatura e morrerão cozinhados sem lutar para sair. Assim é a humanidade dentro da panela de água cada vez mais quente do planeta.
Não, não me refiro somente ao aquecimento global. Refiro-me a tudo, simplesmente a tudo o que ocorre conosco, que nem é necessário que eu diga. Bem, pensando melhor, talvez seja. Mesmo assim, não direi. Até porque eu nem devo saber tudo o que acontece, devem estar ocorrendo coisas terríveis que eu nem suspeito o que é.
Só sei que as coisas não estão bem, não estão bem nem um pouco, e estão cada vez piores. Isso eu sei. E ninguém me tira essa certeza. Porém, tudo o que ocorre o faz de uma maneira tão lenta para as nossas miseráveis capacidades perceptivas que até temos a impressão muitas vezes de que nada está ocorrendo e de que tudo se encontra perfeitamente bem...
Porém, chega um momento em que algo é percebido. Quase sempre é tarde demais. É como algumas doenças fatais. Quando surgem os sintomas, não dá mais para curar. Mas mesmo quando se percebe algo, sempre há os que dizem que não. Acreditam que negando o óbvio, serão inteligentes, serão sábios. Até que as coisas pioram e surge um sinal ainda mais óbvio. E surgem outros sapos sábios para negá-lo com ainda mais inteligência. Até que um dia surge o sinal derradeiro, e o teto desaba sobre nossas cabeças. Certas doenças matam mesmo.
E assim os sapos sábios são cozinhados sem que percebam. Morrem sem nem ao menos saber por quê. Está se encerrando a sinfonia mal-acabada de nossa civilização. O seu último movimento é uma lenta e arrastada marcha fúnebre. Às vezes parece que alguma coisa melhora, porém era tudo ilusão, e o estado de má saúde se agrava. É como um paciente terminal. Muitas vezes parece que ele vai melhorar, recobra o ânimo, apresenta um quadro mais otimista, os médicos se surpreendem... No entanto, isso passa, a doença retorna com toda força e o enfermo agoniza e morre. Não é assim?
É como uma calmaria antes da tempestade. A escura tranquilidade que precede as tempestades. Às vezes parece que vai abrir sol, e o temporal desaba. Uma lenta, muito lenta, lentíssima Marcha Fúnebre. Mas um dia ela acaba. O certo é que tudo que teve um Princípio tem um Fim. E o que há depois do Fim?
09 março 2009
Finalmente
gostaria de pensar
sobre a minha vida
mas pensar sobre minha vida
é a minha vida não viver
é só gastá-la e não a ter
é sabê-la
mas não a conhecer
que quem pensa não vive
a não ser que pense sentindo
a não ser que sinta vivendo
a não ser que viva morrendo
mas que nunca morra pensando
a Alma pensa sem ter que pensar
e sentindo-se abraça o pensamento
em lição não-pensada e sabida
que afinal viver é não pensar
é sentir sentir sentir
e finalmente amar...
sobre a minha vida
mas pensar sobre minha vida
é a minha vida não viver
é só gastá-la e não a ter
é sabê-la
mas não a conhecer
que quem pensa não vive
a não ser que pense sentindo
a não ser que sinta vivendo
a não ser que viva morrendo
mas que nunca morra pensando
a Alma pensa sem ter que pensar
e sentindo-se abraça o pensamento
em lição não-pensada e sabida
que afinal viver é não pensar
é sentir sentir sentir
e finalmente amar...
04 março 2009
Conto Violento e Inútil
Um raio absurdo e de titânicas ramificações caiu do céu onde uma tempestade nunca antes vista flagelava minha cidade acabada. O raio abriu uma cratera na rua de onde brotou uma fonte de sangue. Ainda não anoitecera, mas era como se fosse noite. Antes fosse apenas noite. Os raios iluminavam um horizonte funestamente escurecido, porém iluminavam de forma deprimente e enferma. Fumaças e vapores de uma tristeza devastadora pairavam como maldições nas atmosferas corrompidas. E eu nada podia fazer. Ergui minha voz pressaga, e minha voz era inútil. Gritei e ninguém me escutou. Esqueletos rangiam e caíam nas fúnebres distâncias. Minhas preces não serviam mais para nada. Antes aquele raio tivesse aniquilado minha voz.
Uma ventania de implacável violência e quente como as labaredas dos desertos arrancou-me os cabelos. Muito antes disso, os sopros do inferno humano já haviam crestado todos os meus sonhos. Agora somente sinto o cheiro de queimando de suas asas sobre o meu pesar. De que serviram todos os meus sonhos? Antes aquele raio tivesse aniquilado também o cheiro das asas inúteis dos meus sonhos...
Eu era um membro da humanidade. Eu era toda a humanidade. Um inútil. Antes aquele raio tivesse caído sobre a minha cabeça. Como agora caem aquelas aves mortas sobre a minha cabeça ardente. Caem aquelas aves sobre as ruas enlameadas por onde perambulo acabado. Mergulhei meus pés descalços e feridos sobre o rio de sangue que jorrava sem cessar das entranhas da terra massacrada. Ergui minhas mãos aos céus tenebrosos, minhas mãos em carne viva, e não consegui sustê-las. Minhas mãos não adiantavam de nada. Antes tivessem sido extirpadas por aquele raio filho da tormenta sem fim.
A chuva ácida que golfejava da boca da morte ardia em meus olhos encovados e sangrentos. Ainda assim em desespero eu lutava para tentar olhar ao meu insuportável redor. Quando os relâmpagos anômalos canhestramente iluminavam os escombros da cidade, eram somente cadáveres de humanos e animais que torturavam os meus olhos.
E uma tormenta de nuvens negras tensamente carregadas despencou sobre a desolação dos meus olhos. Olhei para o sol cinzento e enfermiço que agonizava por trás das nuvens mórbidas e vi que meus olhos eram inúteis. Antes aquele raio tivesse esmagado o meu olhar.
Meu coração cansava-se de bater. De tudo o que tivera sentido, de tudo o que tivera amado, fora tudo absolutamente inútil. Antes aquele raio tivesse devastado o meu coração. E um mar de solidão ao som de trombetas que se alastrou com a chuva férvida e com o vendaval ácido causou profundo e incurável corte em meu peito apunhalado. E o sangue jorrou de meu corpo como as correntezas dos rios hoje negros, fétidos e secos. E fitando o horror que eu havia herdado, chorei condenadamente. E senti na pele inflamada que minhas lágrimas eram inúteis. E desejei que aquele raio houvesse massacrado minhas lágrimas.
E os meus pensamentos incendiaram de súbito quando pensei em tudo o que eu havia feito. Contemplando estarrecido a total ausência de vida, julguei-me culpado de todas as culpas, de todas as mortes, de toda a destruição. E pensei e refleti em desespero em tudo o que fiz e deixei de fazer do mundo e da vida que havia recebido, e minha mente jamais encontraria soluções. E percebi que meus pensamentos eram inúteis. Então pedi aos céus transtornados que aquele raio dizimasse os meus pensamentos.
E aqueles rostos dantescos e apocalípticos dos monstros e fantasmas que eram agora minha única companhia nunca deixavam de fitar minha face tragicamente refletida no céus de todos os desastres. Irradiava-se uma espantosa malignidade daqueles rostos. Eles culpavam-me, julgavam-me, sentenciavam-me como o responsável pelo Fim. Tentei reavivar o cadáver do tigre que antes fora meu amigo. Mas o veneno da água havia ceifado definitivamente sua triste existência. Abri minha boca, e um jato de vômito sanguinolento encharcou a miserável pelagem do tigre.
Estertorando, ajoelhei-me e implorei misericórdia. Mas compreendi que meus joelhos eram inúteis e supliquei para que o raio acabasse com meus joelhos. Restava só eu no mundo, eu era a humanidade inteira.
Foi então que um anjo vermelho desceu como uma flecha incendiada dos céus em eterna tempestade e apontou seu dedo implacável para a minha alma. Os relâmpagos e os trovões o acompanhavam e me cegavam e me ensurdeciam.
O anjo fez sair um sopro de sua boca, e desse sopro formou-se fatal furacão. Nele se debatiam sem trégua as minhas esperanças esquartejadas. O furacão arrancou minha alma de meu corpo. Eu caí inerte no chão de lodo ensanguentado. E minha alma voou conturbada entre a fúria do furacão que se dirigia a um ponto de tênue luminosidade no céu carregado. E um trágico Réquiem desconhecido soou nos meus ouvidos exaustos. Lá estaria Ela para receber minha alma. Ela reuniria os pedaços de minha alma estraçalhada. Minha alma teria alguma utilidade? E a humanidade principiou seu Descanso...
Uma ventania de implacável violência e quente como as labaredas dos desertos arrancou-me os cabelos. Muito antes disso, os sopros do inferno humano já haviam crestado todos os meus sonhos. Agora somente sinto o cheiro de queimando de suas asas sobre o meu pesar. De que serviram todos os meus sonhos? Antes aquele raio tivesse aniquilado também o cheiro das asas inúteis dos meus sonhos...
Eu era um membro da humanidade. Eu era toda a humanidade. Um inútil. Antes aquele raio tivesse caído sobre a minha cabeça. Como agora caem aquelas aves mortas sobre a minha cabeça ardente. Caem aquelas aves sobre as ruas enlameadas por onde perambulo acabado. Mergulhei meus pés descalços e feridos sobre o rio de sangue que jorrava sem cessar das entranhas da terra massacrada. Ergui minhas mãos aos céus tenebrosos, minhas mãos em carne viva, e não consegui sustê-las. Minhas mãos não adiantavam de nada. Antes tivessem sido extirpadas por aquele raio filho da tormenta sem fim.
A chuva ácida que golfejava da boca da morte ardia em meus olhos encovados e sangrentos. Ainda assim em desespero eu lutava para tentar olhar ao meu insuportável redor. Quando os relâmpagos anômalos canhestramente iluminavam os escombros da cidade, eram somente cadáveres de humanos e animais que torturavam os meus olhos.
E uma tormenta de nuvens negras tensamente carregadas despencou sobre a desolação dos meus olhos. Olhei para o sol cinzento e enfermiço que agonizava por trás das nuvens mórbidas e vi que meus olhos eram inúteis. Antes aquele raio tivesse esmagado o meu olhar.
Meu coração cansava-se de bater. De tudo o que tivera sentido, de tudo o que tivera amado, fora tudo absolutamente inútil. Antes aquele raio tivesse devastado o meu coração. E um mar de solidão ao som de trombetas que se alastrou com a chuva férvida e com o vendaval ácido causou profundo e incurável corte em meu peito apunhalado. E o sangue jorrou de meu corpo como as correntezas dos rios hoje negros, fétidos e secos. E fitando o horror que eu havia herdado, chorei condenadamente. E senti na pele inflamada que minhas lágrimas eram inúteis. E desejei que aquele raio houvesse massacrado minhas lágrimas.
E os meus pensamentos incendiaram de súbito quando pensei em tudo o que eu havia feito. Contemplando estarrecido a total ausência de vida, julguei-me culpado de todas as culpas, de todas as mortes, de toda a destruição. E pensei e refleti em desespero em tudo o que fiz e deixei de fazer do mundo e da vida que havia recebido, e minha mente jamais encontraria soluções. E percebi que meus pensamentos eram inúteis. Então pedi aos céus transtornados que aquele raio dizimasse os meus pensamentos.
E aqueles rostos dantescos e apocalípticos dos monstros e fantasmas que eram agora minha única companhia nunca deixavam de fitar minha face tragicamente refletida no céus de todos os desastres. Irradiava-se uma espantosa malignidade daqueles rostos. Eles culpavam-me, julgavam-me, sentenciavam-me como o responsável pelo Fim. Tentei reavivar o cadáver do tigre que antes fora meu amigo. Mas o veneno da água havia ceifado definitivamente sua triste existência. Abri minha boca, e um jato de vômito sanguinolento encharcou a miserável pelagem do tigre.
Estertorando, ajoelhei-me e implorei misericórdia. Mas compreendi que meus joelhos eram inúteis e supliquei para que o raio acabasse com meus joelhos. Restava só eu no mundo, eu era a humanidade inteira.
Foi então que um anjo vermelho desceu como uma flecha incendiada dos céus em eterna tempestade e apontou seu dedo implacável para a minha alma. Os relâmpagos e os trovões o acompanhavam e me cegavam e me ensurdeciam.
O anjo fez sair um sopro de sua boca, e desse sopro formou-se fatal furacão. Nele se debatiam sem trégua as minhas esperanças esquartejadas. O furacão arrancou minha alma de meu corpo. Eu caí inerte no chão de lodo ensanguentado. E minha alma voou conturbada entre a fúria do furacão que se dirigia a um ponto de tênue luminosidade no céu carregado. E um trágico Réquiem desconhecido soou nos meus ouvidos exaustos. Lá estaria Ela para receber minha alma. Ela reuniria os pedaços de minha alma estraçalhada. Minha alma teria alguma utilidade? E a humanidade principiou seu Descanso...
02 março 2009
Tudo que é Tarde
apenas o não do que sinto
aqui pairando nas nuvens
não tente achar nada que tenha
que nada aqui já te fala
não tente pensar ou saber
que há só alma aqui não sabendo
são almas de fim olho em sonho
nunca na vida voando
é tão tarde pra que eu te cante
te canto porque é tão tarde
e tu sabes que asas só voam
sempre no sonho beijando
tu sabes que tudo é tão triste
com o dia a mim não me enganes
eu encerro meu verso na noite
e canto tudo que é Tarde...
aqui pairando nas nuvens
não tente achar nada que tenha
que nada aqui já te fala
não tente pensar ou saber
que há só alma aqui não sabendo
são almas de fim olho em sonho
nunca na vida voando
é tão tarde pra que eu te cante
te canto porque é tão tarde
e tu sabes que asas só voam
sempre no sonho beijando
tu sabes que tudo é tão triste
com o dia a mim não me enganes
eu encerro meu verso na noite
e canto tudo que é Tarde...
28 fevereiro 2009
O Que Realmente me Preocupa...
O que realmente me preocupa não é saber se a estátua do Aureliano foi quebrada por acidente ou por vandalismo, se era de boa qualidade ou não... Não é saber se Santiago merece o título de Terra dos Poetas ou se não merece. Para mim isso não tem a menor importância. Eu não estou nem aí.
O que merece a minha preocupação de verdade, por exemplo, são duas notícias que saíram no jornal Correio do Povo. A primeira afirma que o aquecimento global prossegue firme e forte, apesar de muitos cegos insistirem em negá-lo (é incrível saber como há pessoas que só se dão conta das coisas depois que o teto da casa desaba sobre suas cabeças). Segundo a notícia veiculada no jornal no dia 26/02, o derretimento nas geleiras dos polos Norte e Sul está sendo mais rápido do que o previsto, provocando o aumento do nível dos mares. Foi elaborado um documento por milhares de peritos onde consta que "o aquecimento na Antártida é muito mais extenso do que o previsto e que o derretimento do domo da Groenlândia está se acelerando." Segundo os peritos, já são percebidos "índices de mudanças nas correntes marinhas capazes de produzir um impacto gravíssimo sobre o sistema climático." Esses são os fatos. O resto é conversa fiada.
A segunda notícia que me preocupa é sobre os nossos bugios, tão cantados em verso e música pelos artistas gaúchos e já um dos símbolos naturais do pampa. Pois segundo notícia publicada no Correio do Povo em 27/02, os macacos roncadores estão próximos da extinção no RS. E não é somente devido à febre amarela. Já foram encontrados quase 1.100 bugios mortos no interior gaúcho (um número absurdo, um massacre), mas somente foi confirmado o vírus da febre em 13 deles.
Claro que em vários dos animais o estado avançado de decomposição impediu a análise, mas em muitos outros a causa mortis ainda é desconhecida. Os biólogos acreditam que muitos foram mortos pelo próprio homem, que na sua ignorância e perversidade pensam que são os bugios os culpados pela febre amarela. Na verdade, o culpado pela doença é o homem mesmo, que devastando as matas e causando o aquecimento global cria condições para a procriação dos mosquitos transmissores. Isso sem falar nos bugios que são vítimas da fome, por falta de matas, e dos agrotóxicos.
Quando vou às terras de meu tio na região do rio Itacurubi, sempre ouço seus roncos, procuro-os na mata e sempre os vejo. Lá, nas terras de meu tio, não foi encontrado nenhum morto, até agora. E lá não há os perversos ignorantes que os matam. Na foto acima está uma família de bugios que encontrei na região do rio Itacurubi (clique para ampliar).
São esses tipos de coisas que me preocupam. O resto não vale a pena nenhum um pouco, é perda de tempo.
O que merece a minha preocupação de verdade, por exemplo, são duas notícias que saíram no jornal Correio do Povo. A primeira afirma que o aquecimento global prossegue firme e forte, apesar de muitos cegos insistirem em negá-lo (é incrível saber como há pessoas que só se dão conta das coisas depois que o teto da casa desaba sobre suas cabeças). Segundo a notícia veiculada no jornal no dia 26/02, o derretimento nas geleiras dos polos Norte e Sul está sendo mais rápido do que o previsto, provocando o aumento do nível dos mares. Foi elaborado um documento por milhares de peritos onde consta que "o aquecimento na Antártida é muito mais extenso do que o previsto e que o derretimento do domo da Groenlândia está se acelerando." Segundo os peritos, já são percebidos "índices de mudanças nas correntes marinhas capazes de produzir um impacto gravíssimo sobre o sistema climático." Esses são os fatos. O resto é conversa fiada.
A segunda notícia que me preocupa é sobre os nossos bugios, tão cantados em verso e música pelos artistas gaúchos e já um dos símbolos naturais do pampa. Pois segundo notícia publicada no Correio do Povo em 27/02, os macacos roncadores estão próximos da extinção no RS. E não é somente devido à febre amarela. Já foram encontrados quase 1.100 bugios mortos no interior gaúcho (um número absurdo, um massacre), mas somente foi confirmado o vírus da febre em 13 deles.
Claro que em vários dos animais o estado avançado de decomposição impediu a análise, mas em muitos outros a causa mortis ainda é desconhecida. Os biólogos acreditam que muitos foram mortos pelo próprio homem, que na sua ignorância e perversidade pensam que são os bugios os culpados pela febre amarela. Na verdade, o culpado pela doença é o homem mesmo, que devastando as matas e causando o aquecimento global cria condições para a procriação dos mosquitos transmissores. Isso sem falar nos bugios que são vítimas da fome, por falta de matas, e dos agrotóxicos.
Quando vou às terras de meu tio na região do rio Itacurubi, sempre ouço seus roncos, procuro-os na mata e sempre os vejo. Lá, nas terras de meu tio, não foi encontrado nenhum morto, até agora. E lá não há os perversos ignorantes que os matam. Na foto acima está uma família de bugios que encontrei na região do rio Itacurubi (clique para ampliar).
São esses tipos de coisas que me preocupam. O resto não vale a pena nenhum um pouco, é perda de tempo.
Ecos
que nos resta mais que saudade?
...aldade
de quem é este beijo que sorvo?
...orvo
qual é nossa última sorte?
...orte
e a nossa esperança afinal?
...final.
...aldade
de quem é este beijo que sorvo?
...orvo
qual é nossa última sorte?
...orte
e a nossa esperança afinal?
...final.
27 fevereiro 2009
Soneto a Ela
E paira alta grandeza sobre as nuvens
e pesa mau destino sobre os homens.
Em negro mundo os anos se consomem
e mais clara em tua alma tu nos surges...
Caem raios das horas que refulges,
como sonhos de morte que em mim somem
como fins teus ocultos que há em Beethoven
como sombra em ti fêmea viva em luzes...
Tua voz nas tormentas que há nos céus,
teu olhar cataclísmico nos vela
nos sinais do Infinito dos teus véus...
E por ser Una, arcanamente bela,
alguém dirá talvez que vós sois Deus,
mas eu canto que vós sois no Eterno Ela...
e pesa mau destino sobre os homens.
Em negro mundo os anos se consomem
e mais clara em tua alma tu nos surges...
Caem raios das horas que refulges,
como sonhos de morte que em mim somem
como fins teus ocultos que há em Beethoven
como sombra em ti fêmea viva em luzes...
Tua voz nas tormentas que há nos céus,
teu olhar cataclísmico nos vela
nos sinais do Infinito dos teus véus...
E por ser Una, arcanamente bela,
alguém dirá talvez que vós sois Deus,
mas eu canto que vós sois no Eterno Ela...
25 fevereiro 2009
Silêncio
cruzou-me uma estrela nos olhos
e me virou a cara
como se fosse um arcanjo
ali não-vindo de nunca
como se fosse bafo de flores
me desviando das narinas...
cruzou-me uma estrela nos lábios
e não me disse palavra
como se fosse uma ave
que me deixou uma pena a voar
como se fosse águas de um rio
pelos invernos só a viver...
cruzou-me uma estrela
passou-me um arcanjo
me vieram umas flores
voou-me uma ave
correu-me umas águas
e me viraram a cara
não me disseram nada
partiram quietos e mudos
e deixaram-me só
no silêncio sentença do verso
e me virou a cara
como se fosse um arcanjo
ali não-vindo de nunca
como se fosse bafo de flores
me desviando das narinas...
cruzou-me uma estrela nos lábios
e não me disse palavra
como se fosse uma ave
que me deixou uma pena a voar
como se fosse águas de um rio
pelos invernos só a viver...
cruzou-me uma estrela
passou-me um arcanjo
me vieram umas flores
voou-me uma ave
correu-me umas águas
e me viraram a cara
não me disseram nada
partiram quietos e mudos
e deixaram-me só
no silêncio sentença do verso
24 fevereiro 2009
Oração do Fim-Nosso
Fim-Nosso que estais na Terra,
aniquilado seja o nosso nome,
venha a nós o vosso inferno,
seja a feita a vossa tempestade,
assim na terra como nos céus.
O horror nosso de cada dia
nos dai hoje
acabai com nossa existência,
assim como nós acabamos
com a dos outros seres vivos.
E não nos deixeis sair do furacão
mas mostrai o Final,
Amém.
aniquilado seja o nosso nome,
venha a nós o vosso inferno,
seja a feita a vossa tempestade,
assim na terra como nos céus.
O horror nosso de cada dia
nos dai hoje
acabai com nossa existência,
assim como nós acabamos
com a dos outros seres vivos.
E não nos deixeis sair do furacão
mas mostrai o Final,
Amém.
21 fevereiro 2009
Eu Amo
lobos trovões de sangue pelas sombrias
densas vozes violino em vagas sangrias
sóis de saudade em seios luas noturnas
beijos sede de flores sonatam em soturnas
lagos olhos de belas almas violetas
velas luzes em cruz sussurram secretas
aves longas de preto em sonhos de gatas
ausências de tudo asas em anjos cantatas
noites de Brahms de fantasmas em vinhos
versos de frios rios chovem sozinhos
azul campo de ânsia em realezas finais
e este canto de louco que ama o Jamais...
densas vozes violino em vagas sangrias
sóis de saudade em seios luas noturnas
beijos sede de flores sonatam em soturnas
lagos olhos de belas almas violetas
velas luzes em cruz sussurram secretas
aves longas de preto em sonhos de gatas
ausências de tudo asas em anjos cantatas
noites de Brahms de fantasmas em vinhos
versos de frios rios chovem sozinhos
azul campo de ânsia em realezas finais
e este canto de louco que ama o Jamais...
19 fevereiro 2009
Nós Odiamos os Professores
(Este artigo foi publicado há alguns meses na revista "A Hora". Porém, tendo em vista a recente campanha do Cpers e outros sindicatos contra o governo Yeda, a qual foi mal vista pela sociedade, decidi publicá-lo agora, na íntegra, aqui no blog)
É. Odiamos. E eu já havia dito isso em outro artigo aqui na “A Hora”, mas agora vou comentar um pouco mais, afinal, sempre vale a pena louvar a cultura de nosso país, ou a ausência dela.
Lendo o jornal “Correio do Povo”, deparei-me com a notícia de que os pais apóiam as medidas do governo gaúcho relativas à enturmação, fechamento de escolas e outros descalabros. Eu sei por que eles apóiam: eles não dão aulas. Eu fico boquiaberto quando vejo como a sociedade brasileira quase sempre se posiciona contra os professores. É como se fossem os professores os culpados pelo estado lastimável, decadente, absurdo em que se encontra a educação pública de ensino básico no Brasil. Os alunos? Desinteressados, vulgares, incultos, violentos, à beira da imbecilidade. Os professores? Vergonhosamente mal pagos, desestimulados, tendo que suportar o desrespeito e a violência dos alunos, o clima de hostilidade e autoritarismo dos governos, a incompreensão e arrogância dos pais, enfim, o ódio de toda uma sociedade. E em cada governo que entra, o lema para a educação é sempre o mesmo: “Senhores professores: calem a boca, trabalhem mais, ganhem menos, e tenham turmas piores. E quem reclamar fica de castigo.” Esse é sempre o “jeito novo” de todos governarem.
Os pais são antes de tudo uns ingratos. Não educam em casa seus filhos e querem que os professores eduquem. E se o professor não o faz, ficam enfurecidos, jogando para os mestres a responsabilidade que é deles. Tudo vai contra o professor: salários, governos, alunos, pais, sociedade e até mesmo as leis. Sim, o mestre, devido ao estatuto degenerado da criança e do adolescente, não pode fazer nada para frear a indisciplina do aluno. Qualquer ato na tentativa de estabelecer a ordem na sala de aula pode ser visto como um atentado a esse estatuto idiota. A indisciplina do aluno, para não dizer bestialidade muitas vezes, tem o amparo da lei.
O aluno pode tudo. Confundiu-se liberdade com libertinagem. E depois ainda se questionam sobre o porquê de estar tão alta a criminalidade no Brasil. Os professores podem dar a resposta: é que as escolas estão cheias de marginais, vieram assim de suas casas. Ser professor é profissão de risco, mas não se ganha insalubridade. No entanto, mesmo estando dentro do inferno de uma sala de aula onde não há ordem nem respeito, o professor é obrigado a educar alegre e contente todos os alunos (que não querem ser educados) e a conhecer não só a sua disciplina, mas também ser um pouco de todas as outras profissões. Eu sugeriria também que os professores fossem um pouco policiais e prendessem alguns marginais que estão nas escolas. Ah, e que fossem com coletes à prova de balas, capacetes, escudos e outros instrumentos de defesa.
Mas não bastam essas barbaridades, agora é vez da enturmação. É inacreditável que aqueles que fazem as diretrizes educacionais creiam que é possível no Brasil ministrar-se aulas de boa qualidade para 50 alunos no Ensino Médio. Qualquer professor sabe que dar aulas para 30 alunos numa escola pública nos dias de hoje já é dificílimo, o que dizer então de 50?!! E os pais apóiam! E que o professor se dane. É por isso que eu amo o Brasil. Que cultura magnífica a nossa: odiar professores. Isso já faz parte de nosso inconsciente coletivo. Desde pequeninos somos educados a odiar educadores. Claro, sempre há os professores carrascos e incompetentes, como ocorre com outros profissionais, mas só os mestres não merecem perdão: deve-se odiar todos eles.
Deve-se odiá-los porque só a educação pode realmente desenvolver o Brasil, tirá-lo da miséria social, do vergonhoso atraso cultural, da decadência psíquica que se alastra em nossa população. Mas quem quer que isso aconteça? Não, o povo não quer. Nem os governos, que são o reflexo do povo. O brasileiro é acomodado sim. Não venham com essas patriotadas hipócritas de que o brasileiro é um povo lutador e inconformado. É coisa nenhuma! Brasileiro gosta da cultura do “como está, está bom”. “Big Brother não presta? Não, mas deixa assim que está bom.” Ter cultura de verdade? Pra quê? Se grande parte de nossos jovens hoje quer ser traficante de drogas? Além disso, pra se ouvir funk, não se precisa de cultura. Cultura só atrapalha. Então, morte aos mestres!
E assim caminha o Brasil, rebolando funk. É, o negócio é sacudir a bunda, porque na cabeça não há nada. Aonde vamos? Alunos, completem a atividade: vamos à ......... .... .......! Por favor, não me odeiem por causa disso.
Até aqui o artigo. Percebam, amigos leitores, que na época a polêmica era a questão da enturmação. Depois disso, quantas outras agressões contra o magistério promoveu o governo Yeda? A começar pelo decisão ferrenha e criminosa, uma vez que vai contra uma lei federal, de não pagar os míseros 950,00 para os profissionais responsáveis pela base de qualquer nação. Ainda quer acabar com a democracia nas escolas impedindo a eleição de diretores. Recusa-se a negociar com os professores. Cortou o ponto dos grevistas do magistério, sendo que o mesmo não fez com o de outros profissionais que também fizeram greve no mesmo período, muito embora os professores sejam obrigados a recuperar os dias parados. Ou seja, devem trabalhar de graça.
Ainda fez de palhaço o povo gaúcho, afirmando, a governadora, que não tem dinheiro para nada, que tem que cortar verbas da educação, da saúde, da segurança, mas, paradoxalmente, não falta dinheiro para aumentar seu próprio salário e para adquirir um jato de 26 milhões de doláres para suas viagens.
Ufa, acho que chega! Ou querem mais? Tudo bem. Sinto dizer que o tão propalado déficit zero é uma falácia. O RS ainda deve muito dinheiro...
É. Odiamos. E eu já havia dito isso em outro artigo aqui na “A Hora”, mas agora vou comentar um pouco mais, afinal, sempre vale a pena louvar a cultura de nosso país, ou a ausência dela.
Lendo o jornal “Correio do Povo”, deparei-me com a notícia de que os pais apóiam as medidas do governo gaúcho relativas à enturmação, fechamento de escolas e outros descalabros. Eu sei por que eles apóiam: eles não dão aulas. Eu fico boquiaberto quando vejo como a sociedade brasileira quase sempre se posiciona contra os professores. É como se fossem os professores os culpados pelo estado lastimável, decadente, absurdo em que se encontra a educação pública de ensino básico no Brasil. Os alunos? Desinteressados, vulgares, incultos, violentos, à beira da imbecilidade. Os professores? Vergonhosamente mal pagos, desestimulados, tendo que suportar o desrespeito e a violência dos alunos, o clima de hostilidade e autoritarismo dos governos, a incompreensão e arrogância dos pais, enfim, o ódio de toda uma sociedade. E em cada governo que entra, o lema para a educação é sempre o mesmo: “Senhores professores: calem a boca, trabalhem mais, ganhem menos, e tenham turmas piores. E quem reclamar fica de castigo.” Esse é sempre o “jeito novo” de todos governarem.
Os pais são antes de tudo uns ingratos. Não educam em casa seus filhos e querem que os professores eduquem. E se o professor não o faz, ficam enfurecidos, jogando para os mestres a responsabilidade que é deles. Tudo vai contra o professor: salários, governos, alunos, pais, sociedade e até mesmo as leis. Sim, o mestre, devido ao estatuto degenerado da criança e do adolescente, não pode fazer nada para frear a indisciplina do aluno. Qualquer ato na tentativa de estabelecer a ordem na sala de aula pode ser visto como um atentado a esse estatuto idiota. A indisciplina do aluno, para não dizer bestialidade muitas vezes, tem o amparo da lei.
O aluno pode tudo. Confundiu-se liberdade com libertinagem. E depois ainda se questionam sobre o porquê de estar tão alta a criminalidade no Brasil. Os professores podem dar a resposta: é que as escolas estão cheias de marginais, vieram assim de suas casas. Ser professor é profissão de risco, mas não se ganha insalubridade. No entanto, mesmo estando dentro do inferno de uma sala de aula onde não há ordem nem respeito, o professor é obrigado a educar alegre e contente todos os alunos (que não querem ser educados) e a conhecer não só a sua disciplina, mas também ser um pouco de todas as outras profissões. Eu sugeriria também que os professores fossem um pouco policiais e prendessem alguns marginais que estão nas escolas. Ah, e que fossem com coletes à prova de balas, capacetes, escudos e outros instrumentos de defesa.
Mas não bastam essas barbaridades, agora é vez da enturmação. É inacreditável que aqueles que fazem as diretrizes educacionais creiam que é possível no Brasil ministrar-se aulas de boa qualidade para 50 alunos no Ensino Médio. Qualquer professor sabe que dar aulas para 30 alunos numa escola pública nos dias de hoje já é dificílimo, o que dizer então de 50?!! E os pais apóiam! E que o professor se dane. É por isso que eu amo o Brasil. Que cultura magnífica a nossa: odiar professores. Isso já faz parte de nosso inconsciente coletivo. Desde pequeninos somos educados a odiar educadores. Claro, sempre há os professores carrascos e incompetentes, como ocorre com outros profissionais, mas só os mestres não merecem perdão: deve-se odiar todos eles.
Deve-se odiá-los porque só a educação pode realmente desenvolver o Brasil, tirá-lo da miséria social, do vergonhoso atraso cultural, da decadência psíquica que se alastra em nossa população. Mas quem quer que isso aconteça? Não, o povo não quer. Nem os governos, que são o reflexo do povo. O brasileiro é acomodado sim. Não venham com essas patriotadas hipócritas de que o brasileiro é um povo lutador e inconformado. É coisa nenhuma! Brasileiro gosta da cultura do “como está, está bom”. “Big Brother não presta? Não, mas deixa assim que está bom.” Ter cultura de verdade? Pra quê? Se grande parte de nossos jovens hoje quer ser traficante de drogas? Além disso, pra se ouvir funk, não se precisa de cultura. Cultura só atrapalha. Então, morte aos mestres!
E assim caminha o Brasil, rebolando funk. É, o negócio é sacudir a bunda, porque na cabeça não há nada. Aonde vamos? Alunos, completem a atividade: vamos à ......... .... .......! Por favor, não me odeiem por causa disso.
Até aqui o artigo. Percebam, amigos leitores, que na época a polêmica era a questão da enturmação. Depois disso, quantas outras agressões contra o magistério promoveu o governo Yeda? A começar pelo decisão ferrenha e criminosa, uma vez que vai contra uma lei federal, de não pagar os míseros 950,00 para os profissionais responsáveis pela base de qualquer nação. Ainda quer acabar com a democracia nas escolas impedindo a eleição de diretores. Recusa-se a negociar com os professores. Cortou o ponto dos grevistas do magistério, sendo que o mesmo não fez com o de outros profissionais que também fizeram greve no mesmo período, muito embora os professores sejam obrigados a recuperar os dias parados. Ou seja, devem trabalhar de graça.
Ainda fez de palhaço o povo gaúcho, afirmando, a governadora, que não tem dinheiro para nada, que tem que cortar verbas da educação, da saúde, da segurança, mas, paradoxalmente, não falta dinheiro para aumentar seu próprio salário e para adquirir um jato de 26 milhões de doláres para suas viagens.
Ufa, acho que chega! Ou querem mais? Tudo bem. Sinto dizer que o tão propalado déficit zero é uma falácia. O RS ainda deve muito dinheiro...
17 fevereiro 2009
Soneto Inominado
mas para que dizer que quer que seja
se o nada ou nada adiantará de nada?
deixai cantar pela desgraça inflada
deixai morrer o que de mim deseja...
se queres vida em meu horror me beija
tragédia ao fim de sinfonia alada
em voo e fúria além de um mar de espada
na violência em que tua boca arqueja:
um furacão se ergue em perdões de treva
de grito e febre em tempestuais levantes
a longos fins um vento astral me leva...
buraco-negro me incendiou de Dantes
esquece tudo que te aclara e reza
no lábio em sangue por fatais adiantes...
se o nada ou nada adiantará de nada?
deixai cantar pela desgraça inflada
deixai morrer o que de mim deseja...
se queres vida em meu horror me beija
tragédia ao fim de sinfonia alada
em voo e fúria além de um mar de espada
na violência em que tua boca arqueja:
um furacão se ergue em perdões de treva
de grito e febre em tempestuais levantes
a longos fins um vento astral me leva...
buraco-negro me incendiou de Dantes
esquece tudo que te aclara e reza
no lábio em sangue por fatais adiantes...
14 fevereiro 2009
Soneto Mal Dito
(este soneto inicia com um verso de duas sílabas métricas, avança, verso por verso, por 3, 4, 5, 6, 7 e 8 sílabas, e então regride, voltando de 8 para 2 sílabas métricas em seu último verso. Ao lado de cada verso, entre parêntesis, está o seu número de sílabas)
É tarde. (2)
Lua em frio (3)
de piano em trio: (4)
me voo a encontrar-te. (5)
Grito em sangue de Marte (6)
por lábios bosques sombrios (7)
me enfureço em asas e crio (8)
loucuras pra em canto entregar-te. (8)
Mas ruge o corvo-minuano, (7)
vento do campo insano, (6)
grave urro de sorro... (5)
Por que é que eu clamo? (4)
Eu te chamo (3)
e morro. (2)
É tarde. (2)
Lua em frio (3)
de piano em trio: (4)
me voo a encontrar-te. (5)
Grito em sangue de Marte (6)
por lábios bosques sombrios (7)
me enfureço em asas e crio (8)
loucuras pra em canto entregar-te. (8)
Mas ruge o corvo-minuano, (7)
vento do campo insano, (6)
grave urro de sorro... (5)
Por que é que eu clamo? (4)
Eu te chamo (3)
e morro. (2)
12 fevereiro 2009
Beethoven e a 9ª Sinfonia
A figura que geralmente as pessoas têm de Beethoven, principalmente graças aos filmes americanos sensacionalistas, e muitas vezes baseados em boatos sobre sua vida um tanto misteriosa, é a de um homem explosivo, fechado, mal-humorado, misantropo e dado a bebidas, com o típico temperamento alemão. Não se pode dizer que ele não foi assim, embora existam muitos exageros no cinema, fatos e características suas sugeridos pelos filmes que não estão de acordo com a história conhecida, até porque se conhece muito pouco da vida de Beethoven, principalmente em seus enigmáticos últimos anos.
Mas a verdade é que fora esses traços de sua personalidade, e mais importantes do que eles, é o outro lado de Beethoven, bem menos conhecido, uma vez que ele não daria tanta audiência aos filmes. O maior gênio musical da história era um homem de uma séria e profunda concentração e espiritualidade, possuía um extremo senso de justiça, um coração generoso, um caráter forte, elevado, nobre, avesso a todo tipo de hipocrisia, bajulação e mesquinharias. Sua elevação moral era irrepreensível, e por trás de sua aparência carrancuda havia um imenso coração resplandecente de amor e justiça, e angustiado com o futuro da humanidade.
E foi pensando no futuro da humanidade que em 1824, Beethoven concluiu a sua 9ª Sinfonia, considerada uma das maiores obras musicais de todos os tempos, se não for a maior. A 9ª Sinfonia, juntamente com a Missa Solemnis e com seus últimos quartetos para cordas, constitui seu testamento artístico definitivo. Nela, Beethoven atingiu o ponto culminante de seu gênio e deixou-nos a enigmática mensagem de que o Grande Homem é possível. Conhecida como “A Sinfonia Coral”, por ser a primeira sinfonia na história a apresentar coros e solistas vocais, o gênio utilizou-se, no 4º movimento, de um poema de Schiller intitulado “Ode à Alegria” para transmitir parte de seus propósitos. Mas não se trata aqui da alegria frívola, fútil, mundana, daquela proporcionada pelo prazer, mas de uma alegria divina, espiritual, advinda das profundezas da alma em sua harmonização com todos os homens, com todos os seres da natureza, com o universo e, finalmente, com Deus, seja qual for o conceito que tenhamos do mesmo.
Após o devastador e trágico 1º movimento, de uma força e grandiosidade inigualáveis e avassaladoras; após a energia violenta e luminosa do scherzo; após a densa celestialidade impregnada de mistério, de amor e de luz do adagio, surgem, no 4º movimento, depois de uma trágica introdução, os coros e os solistas a cantar em absoluto êxtase e força espiritual a “Ode à Alegria”, alternando luz e sombras num dos momentos mais sublimes de toda a Arte.
Impossível não se emocionar com a grandeza descomunal e com a sensação de poder e de vitória que a obra nos transmite. É que na música de Beethoven, como afirmou o filósofo Samael Aun Weor, “cada nota tem o seu significado, cada silêncio, é uma emoção superior. Não é a música de formas, mas de ideias arquetípicas inefáveis.” Que profundo mistério o gênio da música intentou nos revelar? Que verdades existem na 9ª Sinfonia? Eu diria que nela, resumidamente, Beethoven quis nos mostrar artisticamente o caminho do Grande Homem, aquele capaz de vencer seus obstáculos, principalmente os que estão dentro dele próprio, e encontrar o caminho do amor, amor em toda sua amplitude, em todo seu significado, em todos os seus sentidos.
O que diria Beethoven, se hoje soubesse que uma imensa parcela da humanidade preferiria ouvir um “funk” ou coisa do tipo a sua Sinfonia, e que ainda chama tais degradações de “música”? O que diria Beethoven se verificasse que a humanidade, ao invés de se tornar uma grande humanidade, está caminhando com passos decididos rumo à destruição do planeta e à autodestruição? Talvez compusesse a “Ode à Tristeza”.
Mas Beethoven cumpriu sua missão, como previu em seu “Testamento de Heiligenstadt”. Escreveu o gênio: “me parecia impossível abandonar o mundo antes de realizar tudo o que me está predestinado...” E ele realizou. Fiquemos com os últimos versos do poema de Schiller, que o coro canta sublimado e com força titânica no final da 9ª Sinfonia: “Mundo, você percebe seu Criador?/ Procure-o mais acima do Céu estrelado!/ Sobre as estrelas onde Ele mora!”
Mas a verdade é que fora esses traços de sua personalidade, e mais importantes do que eles, é o outro lado de Beethoven, bem menos conhecido, uma vez que ele não daria tanta audiência aos filmes. O maior gênio musical da história era um homem de uma séria e profunda concentração e espiritualidade, possuía um extremo senso de justiça, um coração generoso, um caráter forte, elevado, nobre, avesso a todo tipo de hipocrisia, bajulação e mesquinharias. Sua elevação moral era irrepreensível, e por trás de sua aparência carrancuda havia um imenso coração resplandecente de amor e justiça, e angustiado com o futuro da humanidade.
E foi pensando no futuro da humanidade que em 1824, Beethoven concluiu a sua 9ª Sinfonia, considerada uma das maiores obras musicais de todos os tempos, se não for a maior. A 9ª Sinfonia, juntamente com a Missa Solemnis e com seus últimos quartetos para cordas, constitui seu testamento artístico definitivo. Nela, Beethoven atingiu o ponto culminante de seu gênio e deixou-nos a enigmática mensagem de que o Grande Homem é possível. Conhecida como “A Sinfonia Coral”, por ser a primeira sinfonia na história a apresentar coros e solistas vocais, o gênio utilizou-se, no 4º movimento, de um poema de Schiller intitulado “Ode à Alegria” para transmitir parte de seus propósitos. Mas não se trata aqui da alegria frívola, fútil, mundana, daquela proporcionada pelo prazer, mas de uma alegria divina, espiritual, advinda das profundezas da alma em sua harmonização com todos os homens, com todos os seres da natureza, com o universo e, finalmente, com Deus, seja qual for o conceito que tenhamos do mesmo.
Após o devastador e trágico 1º movimento, de uma força e grandiosidade inigualáveis e avassaladoras; após a energia violenta e luminosa do scherzo; após a densa celestialidade impregnada de mistério, de amor e de luz do adagio, surgem, no 4º movimento, depois de uma trágica introdução, os coros e os solistas a cantar em absoluto êxtase e força espiritual a “Ode à Alegria”, alternando luz e sombras num dos momentos mais sublimes de toda a Arte.
Impossível não se emocionar com a grandeza descomunal e com a sensação de poder e de vitória que a obra nos transmite. É que na música de Beethoven, como afirmou o filósofo Samael Aun Weor, “cada nota tem o seu significado, cada silêncio, é uma emoção superior. Não é a música de formas, mas de ideias arquetípicas inefáveis.” Que profundo mistério o gênio da música intentou nos revelar? Que verdades existem na 9ª Sinfonia? Eu diria que nela, resumidamente, Beethoven quis nos mostrar artisticamente o caminho do Grande Homem, aquele capaz de vencer seus obstáculos, principalmente os que estão dentro dele próprio, e encontrar o caminho do amor, amor em toda sua amplitude, em todo seu significado, em todos os seus sentidos.
O que diria Beethoven, se hoje soubesse que uma imensa parcela da humanidade preferiria ouvir um “funk” ou coisa do tipo a sua Sinfonia, e que ainda chama tais degradações de “música”? O que diria Beethoven se verificasse que a humanidade, ao invés de se tornar uma grande humanidade, está caminhando com passos decididos rumo à destruição do planeta e à autodestruição? Talvez compusesse a “Ode à Tristeza”.
Mas Beethoven cumpriu sua missão, como previu em seu “Testamento de Heiligenstadt”. Escreveu o gênio: “me parecia impossível abandonar o mundo antes de realizar tudo o que me está predestinado...” E ele realizou. Fiquemos com os últimos versos do poema de Schiller, que o coro canta sublimado e com força titânica no final da 9ª Sinfonia: “Mundo, você percebe seu Criador?/ Procure-o mais acima do Céu estrelado!/ Sobre as estrelas onde Ele mora!”
11 fevereiro 2009
Poemas do Término e Contos do Fim 33
Com um pouco de atraso, hoje será lançada a edição 33 do zine Poemas do Término e Contos do Fim, referente aos meses de janeiro e fevereiro. Nesta edição, está o final do conto "Otacílio e Madalena (ou a Morte do Pampa)", 3º conto da série sobre o fantástico na história gaúcha, além do conto "Em Chamas". Contém ainda 6 poemas insensatos.
Em Santiago, em breve o zine poderá ser encontrado nas locadores Fox e Classic, na Biblioteca Municipal e na Ponto Cópias. A partir de março, poderá ser encontrado, inclusive, na biblioteca da Uri.
Ele também é distribuído nas seguintes cidades: Santa Maria/RS, Santo Ângelo/RS, São Leopoldo/RS, Porto Alegre/RS, São Gonçalo/RJ e Goiana/PE. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, sendo cobradas apenas as despesas de correio.
Em Santiago, em breve o zine poderá ser encontrado nas locadores Fox e Classic, na Biblioteca Municipal e na Ponto Cópias. A partir de março, poderá ser encontrado, inclusive, na biblioteca da Uri.
Ele também é distribuído nas seguintes cidades: Santa Maria/RS, Santo Ângelo/RS, São Leopoldo/RS, Porto Alegre/RS, São Gonçalo/RJ e Goiana/PE. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, sendo cobradas apenas as despesas de correio.
Dengue, Febre Amarela, Leishmaniose
Apenas um pequeno comentário, pois o objetivo deste blog não é realizar análises de fatos do cotidiano, como os leitores já devem ter percebido. No entanto, reservo-me o direito de fazê-lo, quando julgar oportuno.
Há poucos anos atrás, e sou testemunha disso, ouvíamos dizer que o RS estava livre da dengue, uma vez que o clima frio do inverno impedia a proliferação do mosquito transmissor. Pois bem, ano passado tivemos uma epidemia de dengue no estado, que pode se repetir em 2009.
O último caso de febre amarela no RS havia sido em 1966, e a doença sempre foi raríssima aqui. Agora, em poucos meses, vários gaúchos foram vitimados pela doença, sendo ela contraída aqui, em nosso território. Se ainda não é uma epidemia entre os humanos, o mesmo não se pode dizer entre os indefesos bugios, as maiores vítimas do mosquito da febre amarela.
Ainda mais recentemente, em São Borja, surgiram casos de leishmaniose em cães e humanos, outra doença transmitida por mosquitos, o mosquito-palha. Diga-se de passagem que essa era outra doença praticamente inexistente no RS.
Mas o que mais me impressiona é que as autoridades responsáveis pela saúde no Estado parecem não demonstrar o mínimo interesse em procurar as causas do surgimento dessas doenças. Ou será que sabem as causas e não querem divulgar? Por que os mosquitos estão se proliferando tanto? Pela devastação das matas que os abrigavam, que cria ambientes favoráveis para sua multiplicação? Pela aniquilação dos predadores naturais dos mosquitos, em particular as aves, vítimas anônimas dos agrotóxicos, da caça, do tráfico? Pela formação irrefreável de inúmeras barragens de hidrelétricas no interior gaúcho, que além de inundar grandes áreas florestais, cria condições para o desenvolvimento das larvas dos mosquitos?
Ou será pelo aquecimento global, o qual muitos insistem em negá-lo? Todos sabem que quanto mais quente, melhor para os mosquitos, e para os insetos em geral. Ou será todos os motivos reunidos? São respostas? Não, são perguntas. Quem as responderá?
Há poucos anos atrás, e sou testemunha disso, ouvíamos dizer que o RS estava livre da dengue, uma vez que o clima frio do inverno impedia a proliferação do mosquito transmissor. Pois bem, ano passado tivemos uma epidemia de dengue no estado, que pode se repetir em 2009.
O último caso de febre amarela no RS havia sido em 1966, e a doença sempre foi raríssima aqui. Agora, em poucos meses, vários gaúchos foram vitimados pela doença, sendo ela contraída aqui, em nosso território. Se ainda não é uma epidemia entre os humanos, o mesmo não se pode dizer entre os indefesos bugios, as maiores vítimas do mosquito da febre amarela.
Ainda mais recentemente, em São Borja, surgiram casos de leishmaniose em cães e humanos, outra doença transmitida por mosquitos, o mosquito-palha. Diga-se de passagem que essa era outra doença praticamente inexistente no RS.
Mas o que mais me impressiona é que as autoridades responsáveis pela saúde no Estado parecem não demonstrar o mínimo interesse em procurar as causas do surgimento dessas doenças. Ou será que sabem as causas e não querem divulgar? Por que os mosquitos estão se proliferando tanto? Pela devastação das matas que os abrigavam, que cria ambientes favoráveis para sua multiplicação? Pela aniquilação dos predadores naturais dos mosquitos, em particular as aves, vítimas anônimas dos agrotóxicos, da caça, do tráfico? Pela formação irrefreável de inúmeras barragens de hidrelétricas no interior gaúcho, que além de inundar grandes áreas florestais, cria condições para o desenvolvimento das larvas dos mosquitos?
Ou será pelo aquecimento global, o qual muitos insistem em negá-lo? Todos sabem que quanto mais quente, melhor para os mosquitos, e para os insetos em geral. Ou será todos os motivos reunidos? São respostas? Não, são perguntas. Quem as responderá?
08 fevereiro 2009
Trecho de um Instante de Sono
e suas vozes rápidas
me calculavam as distâncias
fala comigo tu que tens olhos
tanto o amor é divino
que não adivinho em amar
um lago de piano em perfumes
mergulhou-me nas árvores
vi tudo que vinha voar lá nos vales
sentir o sonho distante dos vinhos
vagas caladas fluindo tua pele
vi tiros tortuosos nas lápides
não sou aquele que penso
castelo de almas ruiu-me aos teus beijos
cada vez que te passo
me vejo nos verbos
e atrás daquelas luas
são duas tão nuas são tuas
Deus me olha com cara de louco
por dormir-me contigo
um pouco...
me calculavam as distâncias
fala comigo tu que tens olhos
tanto o amor é divino
que não adivinho em amar
um lago de piano em perfumes
mergulhou-me nas árvores
vi tudo que vinha voar lá nos vales
sentir o sonho distante dos vinhos
vagas caladas fluindo tua pele
vi tiros tortuosos nas lápides
não sou aquele que penso
castelo de almas ruiu-me aos teus beijos
cada vez que te passo
me vejo nos verbos
e atrás daquelas luas
são duas tão nuas são tuas
Deus me olha com cara de louco
por dormir-me contigo
um pouco...
07 fevereiro 2009
a Dante Alighieri
o que teus Olhos veem
dentro
de mim?
ó visionário do não-visto
o que teus Olhos veem
no além
de mim?
em trombetas a gritos de nove
sete demônios olham de mim
do sangue que cai da minha noite
lago de morto em tudo que fui
flecha em veneno varou-me do sol
olho de fogo abriu-se de mim
o gelo do fim beijou-me na essência
em meus sonhos de Cérbero os dentes
que veem teus olhos em mim o Inferno?
mas como chegar ao Paraíso
sem morrer no Purgatório?
o que teus Olhos veem
Dante
de mim?
dentro
de mim?
ó visionário do não-visto
o que teus Olhos veem
no além
de mim?
em trombetas a gritos de nove
sete demônios olham de mim
do sangue que cai da minha noite
lago de morto em tudo que fui
flecha em veneno varou-me do sol
olho de fogo abriu-se de mim
o gelo do fim beijou-me na essência
em meus sonhos de Cérbero os dentes
que veem teus olhos em mim o Inferno?
mas como chegar ao Paraíso
sem morrer no Purgatório?
o que teus Olhos veem
Dante
de mim?
04 fevereiro 2009
à Loucura
jamais se sufoca a Loucura
que só ela sente o sonho do sol
antes que nos chore a noite
só ela beija o lilás dessas rosas
antes que as geade o inverno
só ela soa o pulsar do violino
antes que se matem as cordas
só ela traga o sopro do vinho
antes que nos seque o sangue
só ela abraça o infindo da estrela
antes que a tormenta a vele
só ela toca o longe de uns olhos
antes que os beba o Fim...
jamais se sufoca a Loucura:
há que se pousar na Eternidade
antes que o Eterno acabe
que só ela sente o sonho do sol
antes que nos chore a noite
só ela beija o lilás dessas rosas
antes que as geade o inverno
só ela soa o pulsar do violino
antes que se matem as cordas
só ela traga o sopro do vinho
antes que nos seque o sangue
só ela abraça o infindo da estrela
antes que a tormenta a vele
só ela toca o longe de uns olhos
antes que os beba o Fim...
jamais se sufoca a Loucura:
há que se pousar na Eternidade
antes que o Eterno acabe
03 fevereiro 2009
A Relação Demoníaca
Poucos acontecimentos causaram-me uma sensação tão dilacerante de tristeza e fatalidade como a impiedosa maldição que recaiu implacável sob aquela bela menina, a infeliz Daniele. Muitos simplórios insistem em crer que tudo não passou de algum terrível mal meramente orgânico, uma enfermidade desconhecida, de origem unicamente física. Todavia, não apresentam provas do que afirmam, nem mesmo indícios. Todos os exaustivos exames realizados não obtiveram o mínimo esclarecimento, e o caso permanece obscuramente inexplicável, pois nenhum possível agente patogênico foi encontrado no corpo de Daniele, nenhum de seus órgãos apresentava qualquer deficiência, no entanto, a menina enfraquecia cada vez mais...
Conheci muito bem a pobre Daniele. Melhor ainda, o que ocorreu com ela. Quando surgiu das trevas aquele demônio, a menina não tinha mais que 14 anos. Eu, quatro anos mais velho, estava absolutamente fascinado com sua beleza e expressão de ternura e inocência. Mais um passo, e cairia nas garras insanas da paixão. Mas, talvez, Daniele não fosse tão inocente quanto sugeria sua doce fisionomia. Estou firmemente convicto de que a demoníaca maldição foi atraída por sua própria vontade, como funesta conseqüência de seus terríveis e irrefreáveis desejos sexuais, os quais todas as noites a assaltavam até exaurirem miseravelmente sua energia vital. Sei de tudo, porque fui um observador assíduo de sua vida, queria conhecê-la a fundo. Fui a única testemunha da infernal cena. Minha atração pela menina era tão veemente que me utilizei de todos os meios ao meu alcance para retirar o véu de sua existência.
Posso afirmar com segurança que durante quase dois anos soube que a formosa e plena de vida Daniele deitava-se em seu leito, cobria-se com um lençol ou cobertor e principiava a acariciar seus seios e órgão genital durante prolongados minutos, ou seja, masturbava-se com uma tremenda volúpia sexual. Estando Daniele em plena adolescência e sendo ainda virgem, a energia sexual da menina encontrava-se em seu ápice, em seu esplendoroso e arrebatado afloramento. Percebiam-se as correntes energéticas percorrendo em fosforescente eletricidade todo o seu superexcitado organismo, incendiado pelo desejo sexual. Contudo, tal energia poderosa e incontrolável era todas as noites descarregada no ambiente penumbroso de seu quarto através da masturbação. Sua energia sexual, quando ainda em seu corpo físico, antes do orgasmo, oferecia aos olhos uma fulgurante visão que brilhava deslumbrantemente nos canais etéricos de seu formoso organismo. Entretanto, uma vez jorrada no ambiente externo pelo orgasmo, aquela cintilante energia multicolorida tornava-se opaca, avermelhada e sanguinolenta, às vezes pendendo para o negro.
Para onde iria toda aquela energia? De alguma forma ela seria aproveitada... Lembremos da célebre sentença de Lavoisier: “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A energia se transforma, como a energia sexual de Daniele, que se metamorfoseou pela infrene masturbação. De límpida e fulgurante, tornou-se escabrosa e pestilenta.
A energia alastrava-se pelo ambiente astral de seu quarto, e este, com o passar dos dias e com a repetição dos atos masturbatórios, foi acumulando toda aquela energia sexual desperdiçada. Foi acumulando, até que, em certa noite tenebrosa, que ainda sinto calafrios ao recordá-la, uma negra e espantosa presença diabólica penetrou pela porta de seu quarto... Irradiavam-se pestilências e malignidades da coluna vertebral visível daquela coisa. E ela foi lentamente sugando através de asquerosos tentáculos membranosos a densidade energética ali presente.
Aquilo era como um repulsivo espectro que flutuava abjetamente pelo ar. Tinha olhos amarelados e doentios, arregalados e com veias proeminentes. Arrastava uma imensa cauda imunda e, na cabeça, apresentava um par de orelhas desproporcionais e repugnantes que balouçavam constantemente. Sua face envelhecida e impregnada de furúnculos, com um nariz de formato suíno, causava uma repulsão e um medo arrepiantes. Suas mãos escamosas eram enormes e projetadas para frente, com unhas curtas e pontiagudas, de uma nojenta cor arroxeada. Aquela coisa esvaziou o ambiente, sorvendo com repelente prazer a energia sexual despejada na atmosfera por Daniele.
Minha impressão negativa foi tamanha que me retirei do local e somente a ele retornei uma semana depois. Quando o fiz, meu horror foi ainda maior, ao contemplar, no aposento iluminado somente pelo luar, aquele ser diabólico sobre o corpo de Daniele, realizando um revoltante ato sexual com a menina. Esta aparentava sentir um imenso prazer, porém, seguramente, não tinha consciência do imundo demônio que estava sobre ela. Para Daniele, tudo não passava de masturbação. No entanto, o hediondo diabo, astralmente, aproveitava-se de forma perversa da assombrosa luxúria da adolescente, drenando toda sua energia vital e assim mantendo a sua ominosa existência.
Após presenciar tão chocante cena, não tive mais ímpetos de à noite visitar minha admirada menina, tamanha era minha perturbação. Dias depois, caminhando abatido pelas ruas, ocorreu-me o feliz incidente de encontrar Daniele. Como nos conhecíamos, chamei-a para termos uma breve conversa. Disse que a achei um tanto magra e desanimada e perguntei se estava sentindo-se bem. A menina, entristecida, macilenta e com fundas olheiras, respondeu-me que fisicamente sim, mas não psicologicamente. Declarou que sofria de horríveis pesadelos. Em um deles, disse-me que via espiar furtivamente pela porta de seu quarto uma horripilante e repulsiva velha de aparência inominável. A velha ria malignamente de Daniele, em um riso torpe e encatarrado; em seguida, piscava seus enormes olhos dilatados e se ocultava atrás da parede. Daniele contou-me ainda que ouvia seus passos arrastados distanciarem-se lentamente de seu quarto. Então se acordava em estado de indizível pavor. Tais sonhos repetiam-se freqüentemente.
A menina narrou-me também que certo dia, durante o final da tarde, viu, sentado sobre um muro, um homem estranho e muito feio que a olhava fixamente e apontava-lhe o dedo indicador como em um sinal de advertência. Então o homem pulou do muro, sorriu sinistramente e desapareceu de maneira furtiva. Ao dizer isso, vi que os olhos ainda belos de Daniele encheram-se de lágrimas. Senti uma cortante piedade da menina, mas não sabia o que fazer, nem mesmo o que dizer a ela. Despediu-se rápida e nervosamente, e eu ali permaneci como se minha alma estivesse aniquilada.
Meses depois, retornei ao seu quarto e aguardei alguns instantes, enquanto Daniele lia em sua cama. Minutos depois apagou a luz e principiou a se masturbar sob as cobertas. Não demorou muito para que aquele demônio surgisse vagando pela porta e lentamente flutuasse de forma abjeta sobre a adolescente, efetuando outra nauseante relação sexual, explorando a inconsciência da menina. Não mais pude permanecer diante daquela visão deprimente e voltei à minha casa. Passadas algumas semanas, encontrei outra vez Daniele na rua. Estava verdadeiramente acabada, esquelética, como que corroída por uma peste letal. Sua beleza murchara, secara, sua vida esvaí-se como o vinho que escorre de uma taça quebrada. Dias depois, fui ao velório de Daniele.
Semanas após seu falecimento, estando meu corpo adormecido e meu espírito vagueando pela dimensão astral (que era como eu visitava Daniele em seu quarto), tive um encontro com um perverso homem... Possuía uma bela aparência e segurava um cálice que julguei contivesse vinho. Estas foram algumas das palavras que o sinistro homem me dirigiu:
- Pensas que bebo vinho? Não. Bebo sangue, bebo a vida que o sangue espiritualmente contém. Assim mantenho essa aparência física através dos séculos, que não é a real, mas é com ela que me apresento imaginativamente às mulheres, entre elas a tua querida Daniele... Certamente, vira-me na forma real tendo relações com ela, não? Pois a menina via-me em sua mente com um aspecto bem diferente... Ah, suguei toda a sua energia, mais do que normalmente faço, pois ela era muito receptiva. É claro que com a maioria das mulheres, não chego a matá-las, dreno um pouco de energia, e isso é tudo. O máximo que pode ocorrer é elas terem alguma doença, ou serem infelizes no amor, pois não poderão amar devidamente, se é que me entendes... Logicamente, não sou o único a realizar tais ações, tenho colegas, masculinos e femininos. Minhas colegas femininas, é óbvio, sugam os homens. Atuamos não só em masturbadores, mas também em relações sexuais feitas sem nenhum sentimento, sem amor. Ah, quantos belos rostinhos nós já secamos... mesmo que lenta, bem lentamente, quase imperceptivelmente... Mas o que é isso? Não, não chores pela Daniele! Hahahahaha!
Conheci muito bem a pobre Daniele. Melhor ainda, o que ocorreu com ela. Quando surgiu das trevas aquele demônio, a menina não tinha mais que 14 anos. Eu, quatro anos mais velho, estava absolutamente fascinado com sua beleza e expressão de ternura e inocência. Mais um passo, e cairia nas garras insanas da paixão. Mas, talvez, Daniele não fosse tão inocente quanto sugeria sua doce fisionomia. Estou firmemente convicto de que a demoníaca maldição foi atraída por sua própria vontade, como funesta conseqüência de seus terríveis e irrefreáveis desejos sexuais, os quais todas as noites a assaltavam até exaurirem miseravelmente sua energia vital. Sei de tudo, porque fui um observador assíduo de sua vida, queria conhecê-la a fundo. Fui a única testemunha da infernal cena. Minha atração pela menina era tão veemente que me utilizei de todos os meios ao meu alcance para retirar o véu de sua existência.
Posso afirmar com segurança que durante quase dois anos soube que a formosa e plena de vida Daniele deitava-se em seu leito, cobria-se com um lençol ou cobertor e principiava a acariciar seus seios e órgão genital durante prolongados minutos, ou seja, masturbava-se com uma tremenda volúpia sexual. Estando Daniele em plena adolescência e sendo ainda virgem, a energia sexual da menina encontrava-se em seu ápice, em seu esplendoroso e arrebatado afloramento. Percebiam-se as correntes energéticas percorrendo em fosforescente eletricidade todo o seu superexcitado organismo, incendiado pelo desejo sexual. Contudo, tal energia poderosa e incontrolável era todas as noites descarregada no ambiente penumbroso de seu quarto através da masturbação. Sua energia sexual, quando ainda em seu corpo físico, antes do orgasmo, oferecia aos olhos uma fulgurante visão que brilhava deslumbrantemente nos canais etéricos de seu formoso organismo. Entretanto, uma vez jorrada no ambiente externo pelo orgasmo, aquela cintilante energia multicolorida tornava-se opaca, avermelhada e sanguinolenta, às vezes pendendo para o negro.
Para onde iria toda aquela energia? De alguma forma ela seria aproveitada... Lembremos da célebre sentença de Lavoisier: “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A energia se transforma, como a energia sexual de Daniele, que se metamorfoseou pela infrene masturbação. De límpida e fulgurante, tornou-se escabrosa e pestilenta.
A energia alastrava-se pelo ambiente astral de seu quarto, e este, com o passar dos dias e com a repetição dos atos masturbatórios, foi acumulando toda aquela energia sexual desperdiçada. Foi acumulando, até que, em certa noite tenebrosa, que ainda sinto calafrios ao recordá-la, uma negra e espantosa presença diabólica penetrou pela porta de seu quarto... Irradiavam-se pestilências e malignidades da coluna vertebral visível daquela coisa. E ela foi lentamente sugando através de asquerosos tentáculos membranosos a densidade energética ali presente.
Aquilo era como um repulsivo espectro que flutuava abjetamente pelo ar. Tinha olhos amarelados e doentios, arregalados e com veias proeminentes. Arrastava uma imensa cauda imunda e, na cabeça, apresentava um par de orelhas desproporcionais e repugnantes que balouçavam constantemente. Sua face envelhecida e impregnada de furúnculos, com um nariz de formato suíno, causava uma repulsão e um medo arrepiantes. Suas mãos escamosas eram enormes e projetadas para frente, com unhas curtas e pontiagudas, de uma nojenta cor arroxeada. Aquela coisa esvaziou o ambiente, sorvendo com repelente prazer a energia sexual despejada na atmosfera por Daniele.
Minha impressão negativa foi tamanha que me retirei do local e somente a ele retornei uma semana depois. Quando o fiz, meu horror foi ainda maior, ao contemplar, no aposento iluminado somente pelo luar, aquele ser diabólico sobre o corpo de Daniele, realizando um revoltante ato sexual com a menina. Esta aparentava sentir um imenso prazer, porém, seguramente, não tinha consciência do imundo demônio que estava sobre ela. Para Daniele, tudo não passava de masturbação. No entanto, o hediondo diabo, astralmente, aproveitava-se de forma perversa da assombrosa luxúria da adolescente, drenando toda sua energia vital e assim mantendo a sua ominosa existência.
Após presenciar tão chocante cena, não tive mais ímpetos de à noite visitar minha admirada menina, tamanha era minha perturbação. Dias depois, caminhando abatido pelas ruas, ocorreu-me o feliz incidente de encontrar Daniele. Como nos conhecíamos, chamei-a para termos uma breve conversa. Disse que a achei um tanto magra e desanimada e perguntei se estava sentindo-se bem. A menina, entristecida, macilenta e com fundas olheiras, respondeu-me que fisicamente sim, mas não psicologicamente. Declarou que sofria de horríveis pesadelos. Em um deles, disse-me que via espiar furtivamente pela porta de seu quarto uma horripilante e repulsiva velha de aparência inominável. A velha ria malignamente de Daniele, em um riso torpe e encatarrado; em seguida, piscava seus enormes olhos dilatados e se ocultava atrás da parede. Daniele contou-me ainda que ouvia seus passos arrastados distanciarem-se lentamente de seu quarto. Então se acordava em estado de indizível pavor. Tais sonhos repetiam-se freqüentemente.
A menina narrou-me também que certo dia, durante o final da tarde, viu, sentado sobre um muro, um homem estranho e muito feio que a olhava fixamente e apontava-lhe o dedo indicador como em um sinal de advertência. Então o homem pulou do muro, sorriu sinistramente e desapareceu de maneira furtiva. Ao dizer isso, vi que os olhos ainda belos de Daniele encheram-se de lágrimas. Senti uma cortante piedade da menina, mas não sabia o que fazer, nem mesmo o que dizer a ela. Despediu-se rápida e nervosamente, e eu ali permaneci como se minha alma estivesse aniquilada.
Meses depois, retornei ao seu quarto e aguardei alguns instantes, enquanto Daniele lia em sua cama. Minutos depois apagou a luz e principiou a se masturbar sob as cobertas. Não demorou muito para que aquele demônio surgisse vagando pela porta e lentamente flutuasse de forma abjeta sobre a adolescente, efetuando outra nauseante relação sexual, explorando a inconsciência da menina. Não mais pude permanecer diante daquela visão deprimente e voltei à minha casa. Passadas algumas semanas, encontrei outra vez Daniele na rua. Estava verdadeiramente acabada, esquelética, como que corroída por uma peste letal. Sua beleza murchara, secara, sua vida esvaí-se como o vinho que escorre de uma taça quebrada. Dias depois, fui ao velório de Daniele.
Semanas após seu falecimento, estando meu corpo adormecido e meu espírito vagueando pela dimensão astral (que era como eu visitava Daniele em seu quarto), tive um encontro com um perverso homem... Possuía uma bela aparência e segurava um cálice que julguei contivesse vinho. Estas foram algumas das palavras que o sinistro homem me dirigiu:
- Pensas que bebo vinho? Não. Bebo sangue, bebo a vida que o sangue espiritualmente contém. Assim mantenho essa aparência física através dos séculos, que não é a real, mas é com ela que me apresento imaginativamente às mulheres, entre elas a tua querida Daniele... Certamente, vira-me na forma real tendo relações com ela, não? Pois a menina via-me em sua mente com um aspecto bem diferente... Ah, suguei toda a sua energia, mais do que normalmente faço, pois ela era muito receptiva. É claro que com a maioria das mulheres, não chego a matá-las, dreno um pouco de energia, e isso é tudo. O máximo que pode ocorrer é elas terem alguma doença, ou serem infelizes no amor, pois não poderão amar devidamente, se é que me entendes... Logicamente, não sou o único a realizar tais ações, tenho colegas, masculinos e femininos. Minhas colegas femininas, é óbvio, sugam os homens. Atuamos não só em masturbadores, mas também em relações sexuais feitas sem nenhum sentimento, sem amor. Ah, quantos belos rostinhos nós já secamos... mesmo que lenta, bem lentamente, quase imperceptivelmente... Mas o que é isso? Não, não chores pela Daniele! Hahahahaha!
02 fevereiro 2009
Seca
minha poesia
é pesada de tristeza
e paira como chumbo pelo ar
como um peso nas minhas costas
é atmosfera
em prole de pesares
princesa pesarosa
preta pestilência
um pêsame plúmbeo
um pesadelo em pânico
uma peçonha sem paz
minha poesia
é um pecado em prece
relâmpago em pedra
prelúdio de praga
prístina sombra
perturbada
de púrpura pálida
em protesto profundo...
minha poesia
é como a nuvem negra
que ameaça carregada
e toda nuvem negra é benvinda
após a seca massacrante
é pesada de tristeza
e paira como chumbo pelo ar
como um peso nas minhas costas
é atmosfera
em prole de pesares
princesa pesarosa
preta pestilência
um pêsame plúmbeo
um pesadelo em pânico
uma peçonha sem paz
minha poesia
é um pecado em prece
relâmpago em pedra
prelúdio de praga
prístina sombra
perturbada
de púrpura pálida
em protesto profundo...
minha poesia
é como a nuvem negra
que ameaça carregada
e toda nuvem negra é benvinda
após a seca massacrante
31 janeiro 2009
U
mantra do luto
intercessor das corujas
sustentáculo dos túmulos
lúgubre ululo dos galopes
sussurro dos vultos
soluço do fúnebre
púrpura dos ocultos
Hino de Urubu!
Ó U!!!
essência verbal do escuro...
será por acaso
que és a vogal principal
de Futuro?
intercessor das corujas
sustentáculo dos túmulos
lúgubre ululo dos galopes
sussurro dos vultos
soluço do fúnebre
púrpura dos ocultos
Hino de Urubu!
Ó U!!!
essência verbal do escuro...
será por acaso
que és a vogal principal
de Futuro?
29 janeiro 2009
O Réquiem de Brahms (Op.45)
O réquiem é uma composição bastante comum na música clássica. Mozart, Verdi, Schumann, Berlioz, Dvorák, Fauré, Bruckner, Liszt, Palestrina, Lassus, Victoria, entre vários outros, compuseram réquiens.
Brahms também compôs o seu, um dos mais profundos e grandiosos entre todos. Poucas obras na história da música aparecem tão impregnadas de espiritualidade, não apenas no que diz respeito ao texto, mas também no que concerne à própria música. Chamou-o de "Réquiem Alemão", porque é cantado em alemão, e não em latim, como são os outros réquiens.
Nessa obra, potentes e terríficas massas corais e orquestrais duelam com celestiais e serenos coros de anjos, enquanto um barítono e uma soprano sublimam-se por momentos ora luminosos, ora pesadamente sombrios. Em um clima que alterna o tormento e a paz, Brahms realiza uma longa e profunda reflexão sobre a morte, em mais de 75 minutos de um dos mais originais réquiens da história da música.
O fato de que o próprio Brahms designasse esta obra-prima como "ein deutsches Requiem", ou mais exatamente, "eine Art deutsches Requiem (um tipo de réquiem alemão)" obedece ao propósito de configurá-la como uma composição de índole exclusivamente musical e, portanto, alheia à celebração litúrgica, apesar de que "Requiem" é, precisamente, a palavra com a qual inicia-se o Introitus da missa aos mortos da Igreja Católica, a qual, no âmbito musical, deu origem a numerosas obras.
Dois foram os acontecimentos que impulsionaram Brahms a compor o seu réquiem: o falecimento, no verão de 1856 de seu amigo Robert Schumann (o qual, paradoxalmente, também havia se proposto a compor uma obra com o mesmo título) e, principalmente, a morte de sua própria mãe em fevereiro do ano de 1865.
Os primeiros compassos da obra foram escritos por Brahms em 1856 e sua conclusão se prolongou, praticamente, até pouco antes de sua estréia, na catedral de Bremen, na Sexta-Feira Santa do ano de 1868. O texto foi escolhido pelo próprio autor a partir das traduções do Antigo e do Novo Testamentos.
Alguns trechos da letra do "Réquiem Alemão":
II – CORO
Porque toda carne é como a erva e toda a glória do homem é como as flores do campo. A erva seca, e a flor cai.
III - BARÍTONO E CORO
Senhor, mostra-me, então, que devo ter um fim, que minha vida tem um objetivo, e que devo cumpri-lo.
VI - BARÍTONO E CORO
Eis, eu vos revelarei um segredo: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; e isto de repente, num piscar de olhos, no momento da última trombeta.
28 janeiro 2009
O Pesadelo que Dominou um Mundo
Publicarei na íntegra o que ocorreu com aquele jovem naquele distante planeta desconhecido. A partir deste momento, ficaremos com as próprias palavras do estranho ser alienígena:
“Eu, deitado em meu leito por altas horas da noite, tentava dormir, quando, por acaso, principiei a observar dentro de mim, em minha mente, em minha psique, algo como uma série de vozes desencontradas, como se eu fosse internamente habitado por inúmeros seres que falavam ao mesmo tempo. Eu lutava para me concentrar em um único ponto, porém não conseguia, era-me impossível uma verdadeira concentração, pois não obtinha êxito em manter a mente fixa em um só pensamento nem por míseros três minutos. Vários pensamentos conflitantes surgiam-me simultaneamente: lembranças, desejos, sonhos, temores, ódios, cada um acompanhado de seus sentimentos correspondentes, em absurdas vozes que viviam dentro de mim. E tais pensamentos e emoções em mim se manifestavam não pela minha própria vontade, não era eu que os queria, eles surgiam em meu interior involuntariamente, e não conseguia controlá-los. E percebi que isso era o natural de minha espécie, durante todo nosso cotidiano somos vítimas de pensamentos e emoções que não desejamos e não dominamos e disso não nos damos conta.”
“E ocorreu que em determinado momento senti que aquelas vozes que em mim habitavam principiaram a desprender-se de minha psique, pareciam querer assumir uma existência externa, o que de fato confirmou-se. De súbito, fui cercado por uma infinidade de seres que eram todos partes do meu próprio eu, por entidades psíquicas que personalizavam meus erros, minhas fraquezas, meus desejos, a totalidade de meus defeitos. Formavam-se às dezenas, às centenas, aos milhares, todos com faces monstruosas e diabólicas, mas que tenuemente semelhavam-se à minha própria fisionomia. Olhavam-me de forma lugubremente odiosa, rindo sarcasticamente de meu estado de febril alucinação e pavor. E então verifiquei que aquelas seres, na verdade meus próprios filhos, pois vieram de meu interior, iniciaram a fundir-se em apenas uma representação física que possuía o meu exato aspecto. Todos aqueles demônios se transformaram em um único ente, que era o meu sósia em perfeição absoluta. Em seguida, o sósia deixou o meu quarto.”
“Então, de um abismo aberto sob meus pés, surgiram dois diabos com enormes asas de dragão, os quais vieram até mim, agarraram-me pelos braços e carregaram-me para fora de meu aposento. Fui levado à força para um local fantástico, de elevadíssima altura, de onde podia vislumbrar toda a minha cidade e ainda o interior de qualquer residência, como se possuísse alguma espécie de visão raio-x. Os demônios ordenaram-me para observar com detalhada atenção tudo o que acontecia na cidade. Então vi que nela estava meu sósia, a infame união daqueles seres satânicos, que havia assumido o meu lugar existencial. Sim, absurdamente, eles realizavam todas as ações que eu deveria realizar, no trabalho, na família, em toda a sociedade. Contudo, tudo o que aquele sósia executava era terrivelmente perverso, infinitamente maligno, e quem levava toda a culpa, não obstante, era eu.”
“Não suportava mais tamanha tortura e tentei me libertar dos demônios que me subjugavam, protestando e gritando desesperado que não era eu quem cometia aquelas maldades, que era um impostor, porém foi tudo inútil, somente obtive mais deboches dos diabos. Foi nesse instante que percebi que ao meu redor havia outras pessoas no mesmo estado que eu, isto é, que haviam sido trazidas por outros demônios particulares para aquele local de funesta e vertiginosa altura e obrigados a ali permanecer contemplando a cidade. Eram milhares de habitantes da mesma, muitos, conhecidos meus, e, para meu maior assombro, pude verificar estarrecido que todos eles também possuíam seus sósias, os quais usurparam seus lugares no mundo físico e ali viviam cometendo as mais bestiais atrocidades.”
“Em poucas palavras posso dizer que nós, os autênticos humanos, fomos expulsos de nossa própria existência, cedendo lugar a demônios nascidos de nós mesmos, e que agora ocupavam nossas vidas, realizando os mais horrorosos e degradados atos, estando nós absolutamente impotentes e desesperados diante de um pesadelo além de qualquer descrição verbal.”
“No entanto, creio que posso, em poucas linhas, transmitir uma débil idéia do horror catastrófico que presenciei como um escravo dos meus próprios males. Lá embaixo, ocupando o meu lugar e os lugares de todos os meus conterrâneos, nossos sósias demoníacos vivenciavam nossas existências como se tudo fosse absolutamente normal e corriqueiro, como se a perversidade, a inveja, a cobiça, a inversão de valores, o desprezo pela espiritualidade e pelos profundos sentimentos, pela arte e pelo belo fosse uma abominável regra geral. Todos os sósias, sem exceção, tão-somente buscavam o prazer vazio, sem o mínimo de sentido para a vida, em um consumismo impiedoso, alienado e sem freios, aniquilando rapidamente a totalidade dos recursos naturais.”
“Os dias passavam, os anos passavam, e eu e meus desgraçados companheiros de tortura permanecíamos dominados pelos diabos, contemplando o horror, a desolação que tomava conta de toda cidade. Observávamos dilacerados o crime e a violência imperarem absolutos, a baixeza psíquica e o reinado da aparência sendo guias e mestres de toda uma população. Eu fui a testemunha impotente do assassinato por motivos fúteis, do estupro hediondo, da execrável prostituição infantil, da inaceitável exploração humana em todos os níveis e categorias. Vi o horror desfilar diante de meus olhos e eu fazia parte dele, lá estava o meu sósia imbecilizado e depravado como todos os outros, descendo os degraus da mais baixa degeneração, esquecido de toda vergonha moral e orgânica, escravizado por uma mídia vazia e alienante. Eu gritava em completa desesperança para que aqueles diabos me libertassem e permitissem que eu reassumisse minha própria vida, mas minhas forças sucumbiam, e só me restava chorar em negra fatalidade.
Olhei ao meu redor e vi que todos os meus companheiros do inclemente horror faziam o mesmo, enquanto contemplavam o vício, o egoísmo, a ganância, a destruição, que se alastravam desimpedidos e triunfantes por um cenário de perfeita degradação ambiental. Da feral altura em que me encontrava, eu observava todos os nossos rios serem estupidamente poluídos, nossas matas devastadas, nossos animais massacrados, nossos ares contaminados, enquanto a multidão iníqua e inconsciente dos sósias ria e se fartava em festas imbecis, regadas a imundas músicas degradantes, contentes e satisfeitos com seu estado de infernal degeneração e miséria.”
“E após fui levado para outras regiões, para outras cidades e lá vi mais humanos prisioneiros e, abaixo, os seus sósias corrompidos, imperando vitoriosos. Não mais havia uma só gota do que chamávamos de amor. O mundo inteiro fora dominado pelo mais aterrador dos pesadelos, enquanto eu, berrando que meu sósia não era eu, lutava como um louco para me libertar.”
“Foi então que, desvairado, acordei-me. Tudo havia acabado, para meu lancinante alívio. E eu, ainda profundamente transtornado, refletia sobre o absurdo pesadelo que tivera, pensando comigo que não seria possível que em algum planeta do universo uma população vivesse naquele mesmo estado de minha alucinação. Não, impossível um planeta chegar a tão decadente nível de existência... só mesmo em um pesadelo...”
Até aqui as palavras e o pesadelo daquele distante ser alienígena.
“Eu, deitado em meu leito por altas horas da noite, tentava dormir, quando, por acaso, principiei a observar dentro de mim, em minha mente, em minha psique, algo como uma série de vozes desencontradas, como se eu fosse internamente habitado por inúmeros seres que falavam ao mesmo tempo. Eu lutava para me concentrar em um único ponto, porém não conseguia, era-me impossível uma verdadeira concentração, pois não obtinha êxito em manter a mente fixa em um só pensamento nem por míseros três minutos. Vários pensamentos conflitantes surgiam-me simultaneamente: lembranças, desejos, sonhos, temores, ódios, cada um acompanhado de seus sentimentos correspondentes, em absurdas vozes que viviam dentro de mim. E tais pensamentos e emoções em mim se manifestavam não pela minha própria vontade, não era eu que os queria, eles surgiam em meu interior involuntariamente, e não conseguia controlá-los. E percebi que isso era o natural de minha espécie, durante todo nosso cotidiano somos vítimas de pensamentos e emoções que não desejamos e não dominamos e disso não nos damos conta.”
“E ocorreu que em determinado momento senti que aquelas vozes que em mim habitavam principiaram a desprender-se de minha psique, pareciam querer assumir uma existência externa, o que de fato confirmou-se. De súbito, fui cercado por uma infinidade de seres que eram todos partes do meu próprio eu, por entidades psíquicas que personalizavam meus erros, minhas fraquezas, meus desejos, a totalidade de meus defeitos. Formavam-se às dezenas, às centenas, aos milhares, todos com faces monstruosas e diabólicas, mas que tenuemente semelhavam-se à minha própria fisionomia. Olhavam-me de forma lugubremente odiosa, rindo sarcasticamente de meu estado de febril alucinação e pavor. E então verifiquei que aquelas seres, na verdade meus próprios filhos, pois vieram de meu interior, iniciaram a fundir-se em apenas uma representação física que possuía o meu exato aspecto. Todos aqueles demônios se transformaram em um único ente, que era o meu sósia em perfeição absoluta. Em seguida, o sósia deixou o meu quarto.”
“Então, de um abismo aberto sob meus pés, surgiram dois diabos com enormes asas de dragão, os quais vieram até mim, agarraram-me pelos braços e carregaram-me para fora de meu aposento. Fui levado à força para um local fantástico, de elevadíssima altura, de onde podia vislumbrar toda a minha cidade e ainda o interior de qualquer residência, como se possuísse alguma espécie de visão raio-x. Os demônios ordenaram-me para observar com detalhada atenção tudo o que acontecia na cidade. Então vi que nela estava meu sósia, a infame união daqueles seres satânicos, que havia assumido o meu lugar existencial. Sim, absurdamente, eles realizavam todas as ações que eu deveria realizar, no trabalho, na família, em toda a sociedade. Contudo, tudo o que aquele sósia executava era terrivelmente perverso, infinitamente maligno, e quem levava toda a culpa, não obstante, era eu.”
“Não suportava mais tamanha tortura e tentei me libertar dos demônios que me subjugavam, protestando e gritando desesperado que não era eu quem cometia aquelas maldades, que era um impostor, porém foi tudo inútil, somente obtive mais deboches dos diabos. Foi nesse instante que percebi que ao meu redor havia outras pessoas no mesmo estado que eu, isto é, que haviam sido trazidas por outros demônios particulares para aquele local de funesta e vertiginosa altura e obrigados a ali permanecer contemplando a cidade. Eram milhares de habitantes da mesma, muitos, conhecidos meus, e, para meu maior assombro, pude verificar estarrecido que todos eles também possuíam seus sósias, os quais usurparam seus lugares no mundo físico e ali viviam cometendo as mais bestiais atrocidades.”
“Em poucas palavras posso dizer que nós, os autênticos humanos, fomos expulsos de nossa própria existência, cedendo lugar a demônios nascidos de nós mesmos, e que agora ocupavam nossas vidas, realizando os mais horrorosos e degradados atos, estando nós absolutamente impotentes e desesperados diante de um pesadelo além de qualquer descrição verbal.”
“No entanto, creio que posso, em poucas linhas, transmitir uma débil idéia do horror catastrófico que presenciei como um escravo dos meus próprios males. Lá embaixo, ocupando o meu lugar e os lugares de todos os meus conterrâneos, nossos sósias demoníacos vivenciavam nossas existências como se tudo fosse absolutamente normal e corriqueiro, como se a perversidade, a inveja, a cobiça, a inversão de valores, o desprezo pela espiritualidade e pelos profundos sentimentos, pela arte e pelo belo fosse uma abominável regra geral. Todos os sósias, sem exceção, tão-somente buscavam o prazer vazio, sem o mínimo de sentido para a vida, em um consumismo impiedoso, alienado e sem freios, aniquilando rapidamente a totalidade dos recursos naturais.”
“Os dias passavam, os anos passavam, e eu e meus desgraçados companheiros de tortura permanecíamos dominados pelos diabos, contemplando o horror, a desolação que tomava conta de toda cidade. Observávamos dilacerados o crime e a violência imperarem absolutos, a baixeza psíquica e o reinado da aparência sendo guias e mestres de toda uma população. Eu fui a testemunha impotente do assassinato por motivos fúteis, do estupro hediondo, da execrável prostituição infantil, da inaceitável exploração humana em todos os níveis e categorias. Vi o horror desfilar diante de meus olhos e eu fazia parte dele, lá estava o meu sósia imbecilizado e depravado como todos os outros, descendo os degraus da mais baixa degeneração, esquecido de toda vergonha moral e orgânica, escravizado por uma mídia vazia e alienante. Eu gritava em completa desesperança para que aqueles diabos me libertassem e permitissem que eu reassumisse minha própria vida, mas minhas forças sucumbiam, e só me restava chorar em negra fatalidade.
Olhei ao meu redor e vi que todos os meus companheiros do inclemente horror faziam o mesmo, enquanto contemplavam o vício, o egoísmo, a ganância, a destruição, que se alastravam desimpedidos e triunfantes por um cenário de perfeita degradação ambiental. Da feral altura em que me encontrava, eu observava todos os nossos rios serem estupidamente poluídos, nossas matas devastadas, nossos animais massacrados, nossos ares contaminados, enquanto a multidão iníqua e inconsciente dos sósias ria e se fartava em festas imbecis, regadas a imundas músicas degradantes, contentes e satisfeitos com seu estado de infernal degeneração e miséria.”
“E após fui levado para outras regiões, para outras cidades e lá vi mais humanos prisioneiros e, abaixo, os seus sósias corrompidos, imperando vitoriosos. Não mais havia uma só gota do que chamávamos de amor. O mundo inteiro fora dominado pelo mais aterrador dos pesadelos, enquanto eu, berrando que meu sósia não era eu, lutava como um louco para me libertar.”
“Foi então que, desvairado, acordei-me. Tudo havia acabado, para meu lancinante alívio. E eu, ainda profundamente transtornado, refletia sobre o absurdo pesadelo que tivera, pensando comigo que não seria possível que em algum planeta do universo uma população vivesse naquele mesmo estado de minha alucinação. Não, impossível um planeta chegar a tão decadente nível de existência... só mesmo em um pesadelo...”
Até aqui as palavras e o pesadelo daquele distante ser alienígena.
25 janeiro 2009
Sinfonia nº4
pelo outono do inverno de amar
atemporal tempestade
na sede que sedia meu sonho
a tormenta atormenta de sede
vós temporais sede
a sede de minh’alma acabada
a última de Brahms
que brames na última
tempes-tarde demais
não me a(l)mas
como não cometas
do céu caídos
em fim-nados
que vir já há-de
em mar-revolta
revolto
resignado
morrer de sede
na Tempestade
atemporal tempestade
na sede que sedia meu sonho
a tormenta atormenta de sede
vós temporais sede
a sede de minh’alma acabada
a última de Brahms
que brames na última
tempes-tarde demais
não me a(l)mas
como não cometas
do céu caídos
em fim-nados
que vir já há-de
em mar-revolta
revolto
resignado
morrer de sede
na Tempestade
23 janeiro 2009
"E Nunca Vou Por Ali..."
Vocês sentaram em seus tronos de certeza vazia e de sabedoria inútil para tentar ditar-me as regras de como devo viver. Quem disse que vocês as conhecem? Onde estão as leis que garantem que as suas regras estão corretas? Onde estão as verdades que garantem o que é correto? As suas verdades são a Verdade? Vocês estão certos que chegaram até ela para preconizá-la para todo mundo em absoluta e arrogante segurança? A realidade é exatamente o que vocês vêem? Não há outras realidades, só a que vocês determinam como realidade? Mas que mania de querer convencer-me daquilo que vocês julgam que sabem!
Então quer dizer que vocês chegaram à verdade e eu não? Os caminhos de vocês são os corretos e os meus não? Quer dizer que eu preciso de intermediários para chegar à verdade, e os intermediários são vocês? Então eu devo entre dezenas, centenas de gênios que mortificaram suas vidas em busca do conhecimento escolher dentre eles uns 2 ou 3 como corretos e desprezar todos os outros? E, coincidentemente, esses 2 ou 3 gênios que devo escolher para seguir são os mesmos que vocês escolheram?
Então vocês intentaram com sua sabedoria resolver o mundo, salvar a humanidade, não fizeram nada disso, mas querem que eu acredite que vocês estão certos? Intentaram, com a limitação de seus conhecimentos, limitar o que é infinito, enquadrar tudo o que é misterioso dentro de seus miseráveis conceitos, emparedar o eterno dentro de suas diretrizes egoístas, intentaram podar todos os sonhos, massacrar todas as esperanças, reduzir a vida a um punhado de teorias mecânicas, e agora vêm com esses sorrisos estúpidos e hipócritas me dizer que eu devo segui-los?
O que foi que vocês fizeram com suas sabedorias? O que foi que construíram? Um mundo desesperado? Uma vida sem nenhum sentido? O conhecimento de vocês só serviu para deixar claro que todo o sentido da vida é o dinheiro ou tudo o que ele pode adquirir, isto é, tudo o que é material? Como vocês querem uma humanidade justa, equilibrada, harmoniosa, se vocês pregam que não há justiça, nem equilíbrio, nem harmonia nas existências universais?
Os frutos da sua sabedoria é esse mundo que aí está? Então o mais alto conhecimento é aquele que destrói o planeta? É aquele que aniquila as almas? É aquele que por pregar que a alma é uma ilusão julgou que poderia explorar até o esgotamento toda a vida natural? Combateram crenças fanáticas com outras crenças fanáticas? Tentaram destronar os que ditavam leis para sentar no trono deles e ditar as suas leis? Tentaram sair da escuridão com uma ciência que mergulhou o mundo em treva? A treva do Fim! Fizeram crer que as verdades dos gênios das artes não passam de ilusão e depois ainda vêm falar-me de arte? Querem que eu acredite que a arte é inútil? E a sua ciência materialista a salvação?
Vocês sentem o que eu sinto, vêem o que eu vejo, percebem o que eu percebo? Não? Então por que querem que eu sinta, veja e perceba como vocês? Quer dizer então que se eu tenho asas devo cortá-las porque vocês não as têm? Quer dizer que o que vocês não sabem mais ninguém pode saber? Que se vocês acreditarem que algo não existe, definitivamente esse algo não pode existir?
Na lógica de vocês, muito mais valeria a pena viver para satisfazer prazeres, um absoluto hedonismo, cujos únicos valores seriam o do dinheiro. É assim que vive a humanidade. Sim, para que fazer mais do que isso se tudo irá se perder no dia da morte? Não viver dessa forma seria uma incoerência na sua lógica. E depois ainda vêm me falar de contradições? Na lógica de vocês, a sabedoria não pode valer a pena. Se tudo é injusto, se a lei de ação e reação não age em nossas vidas, se tudo é por acaso, se nada tem um sentido, se a felicidade de uma pessoa é medida pelos bens físicos que adquiriu, pela saúde que teve, pela sua beleza física, pelos prazeres que viveu, para que sabedoria? Para depois de se abarrotar com ela, morrer e jogá-la fora, deixar que ela apodreça com nosso corpo?
Se é assim, não vale a pena buscá-la, e a pessoa de vida mais correta seria alguém como a Gisele Bündchen, ou como o Ronaldinho, ou como qualquer gângster por aí. Sim. Se nada tem sentido, a sabedoria teria muito menos. Sabedoria deve servir para se ensinar a amar. Se no universo não há leis, leis que valem para todas as vidas, se não há justiça, se não há equilíbrio, se não há sentido para as coisas, se tudo veio por acidente, então também não há amor. Se não há amor no universo, então para que amarmos entre nós? E se não se é possível amar, então não há motivos para a sabedoria.
Então, não me venham com as suas sabedorias. A sabedoria que busco é outra. É como disse José Régio:
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...”
Então quer dizer que vocês chegaram à verdade e eu não? Os caminhos de vocês são os corretos e os meus não? Quer dizer que eu preciso de intermediários para chegar à verdade, e os intermediários são vocês? Então eu devo entre dezenas, centenas de gênios que mortificaram suas vidas em busca do conhecimento escolher dentre eles uns 2 ou 3 como corretos e desprezar todos os outros? E, coincidentemente, esses 2 ou 3 gênios que devo escolher para seguir são os mesmos que vocês escolheram?
Então vocês intentaram com sua sabedoria resolver o mundo, salvar a humanidade, não fizeram nada disso, mas querem que eu acredite que vocês estão certos? Intentaram, com a limitação de seus conhecimentos, limitar o que é infinito, enquadrar tudo o que é misterioso dentro de seus miseráveis conceitos, emparedar o eterno dentro de suas diretrizes egoístas, intentaram podar todos os sonhos, massacrar todas as esperanças, reduzir a vida a um punhado de teorias mecânicas, e agora vêm com esses sorrisos estúpidos e hipócritas me dizer que eu devo segui-los?
O que foi que vocês fizeram com suas sabedorias? O que foi que construíram? Um mundo desesperado? Uma vida sem nenhum sentido? O conhecimento de vocês só serviu para deixar claro que todo o sentido da vida é o dinheiro ou tudo o que ele pode adquirir, isto é, tudo o que é material? Como vocês querem uma humanidade justa, equilibrada, harmoniosa, se vocês pregam que não há justiça, nem equilíbrio, nem harmonia nas existências universais?
Os frutos da sua sabedoria é esse mundo que aí está? Então o mais alto conhecimento é aquele que destrói o planeta? É aquele que aniquila as almas? É aquele que por pregar que a alma é uma ilusão julgou que poderia explorar até o esgotamento toda a vida natural? Combateram crenças fanáticas com outras crenças fanáticas? Tentaram destronar os que ditavam leis para sentar no trono deles e ditar as suas leis? Tentaram sair da escuridão com uma ciência que mergulhou o mundo em treva? A treva do Fim! Fizeram crer que as verdades dos gênios das artes não passam de ilusão e depois ainda vêm falar-me de arte? Querem que eu acredite que a arte é inútil? E a sua ciência materialista a salvação?
Vocês sentem o que eu sinto, vêem o que eu vejo, percebem o que eu percebo? Não? Então por que querem que eu sinta, veja e perceba como vocês? Quer dizer então que se eu tenho asas devo cortá-las porque vocês não as têm? Quer dizer que o que vocês não sabem mais ninguém pode saber? Que se vocês acreditarem que algo não existe, definitivamente esse algo não pode existir?
Na lógica de vocês, muito mais valeria a pena viver para satisfazer prazeres, um absoluto hedonismo, cujos únicos valores seriam o do dinheiro. É assim que vive a humanidade. Sim, para que fazer mais do que isso se tudo irá se perder no dia da morte? Não viver dessa forma seria uma incoerência na sua lógica. E depois ainda vêm me falar de contradições? Na lógica de vocês, a sabedoria não pode valer a pena. Se tudo é injusto, se a lei de ação e reação não age em nossas vidas, se tudo é por acaso, se nada tem um sentido, se a felicidade de uma pessoa é medida pelos bens físicos que adquiriu, pela saúde que teve, pela sua beleza física, pelos prazeres que viveu, para que sabedoria? Para depois de se abarrotar com ela, morrer e jogá-la fora, deixar que ela apodreça com nosso corpo?
Se é assim, não vale a pena buscá-la, e a pessoa de vida mais correta seria alguém como a Gisele Bündchen, ou como o Ronaldinho, ou como qualquer gângster por aí. Sim. Se nada tem sentido, a sabedoria teria muito menos. Sabedoria deve servir para se ensinar a amar. Se no universo não há leis, leis que valem para todas as vidas, se não há justiça, se não há equilíbrio, se não há sentido para as coisas, se tudo veio por acidente, então também não há amor. Se não há amor no universo, então para que amarmos entre nós? E se não se é possível amar, então não há motivos para a sabedoria.
Então, não me venham com as suas sabedorias. A sabedoria que busco é outra. É como disse José Régio:
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...”
22 janeiro 2009
Meu Canto
virgem em água
que leoa dos abismos
em sol e lua te sinala
o ocultamento catastrófico do verde:
eu canto o que se perde
noiva e sangue
que me insânia pelas ânsias
e te desvaira dos funestos
e o corvo roxo sempre em pânico se esvai:
eu canto o que se vai
verso inlido
devastado na não-alma
o Cristo adeuses pelas 6
e o grito em sonho em grave lepra que te corre
eu canto o que já morre
beijo ou morte
em desespero olho em noite
cheira a lábios de coruja
e o amor medonho em 5º anjo sai do inferno
eu canto o que é Eterno
que leoa dos abismos
em sol e lua te sinala
o ocultamento catastrófico do verde:
eu canto o que se perde
noiva e sangue
que me insânia pelas ânsias
e te desvaira dos funestos
e o corvo roxo sempre em pânico se esvai:
eu canto o que se vai
verso inlido
devastado na não-alma
o Cristo adeuses pelas 6
e o grito em sonho em grave lepra que te corre
eu canto o que já morre
beijo ou morte
em desespero olho em noite
cheira a lábios de coruja
e o amor medonho em 5º anjo sai do inferno
eu canto o que é Eterno
20 janeiro 2009
e o Medo...
sempre haverá uma dúvida
em tudo aquilo que duvidas
nunca não-haverá uma dúvida
nas coisas todas que tens certeza
jamais terás a certeza certa
que sempre restará um resto
um resto de astro do sonho
uma nota de alma do som
uma brisa de dor pelo beijo
um sopro de céus nos teus lábios
achas que bebeste
toda a gota do vinho?
e que não há vinho de sol nos teus olhos?
que não há olhos pra onde tu enxergas?
que não há luz nos cantos que sim?
e que há um sim pra todos os nãos?
olha bem pra onde está mal
vê de tudo que nunca foi dito
que ali do fundo que pensas
da taça sobrou uma gota
de sangue no canto da boca
e esta gota é que bebo
que nela que está a verdade
e o Medo...
em tudo aquilo que duvidas
nunca não-haverá uma dúvida
nas coisas todas que tens certeza
jamais terás a certeza certa
que sempre restará um resto
um resto de astro do sonho
uma nota de alma do som
uma brisa de dor pelo beijo
um sopro de céus nos teus lábios
achas que bebeste
toda a gota do vinho?
e que não há vinho de sol nos teus olhos?
que não há olhos pra onde tu enxergas?
que não há luz nos cantos que sim?
e que há um sim pra todos os nãos?
olha bem pra onde está mal
vê de tudo que nunca foi dito
que ali do fundo que pensas
da taça sobrou uma gota
de sangue no canto da boca
e esta gota é que bebo
que nela que está a verdade
e o Medo...
19 janeiro 2009
200 Anos de Poe
Em 19 de janeiro de 1809, no nº33 da Rua Hollis, em Boston, Massachusetts, EUA, nascia um dos maiores gênios artístiscos de todos os tempos, cuja influência foi e continua sendo definitiva em todos os terrenos da arte: Edgar Allan Poe. Deixo aqui minha humilde e pequena homenagem ao meu maior Mestre literário. Abaixo estão algumas frases encontradas nas geniais obras de Poe. Em seguida, um de seus extraordinários poemas.
Algumas frases de Poe:
"Os homens chamaram-me louco. Mas, talvez, a loucura seja a suprema inteligência, pois muito do que é glorioso, do que é profundo, provém de modos de espírito exaltados e não do intelecto geral."
"Os que sonham acordados enxergam muitas coisas que escapam aos que não conseguem sonhar, a não ser dormindo."
"A lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as amarguras que existem agora têm sua origem nas alegrias que poderiam ter existido."
"Não somente acho paradoxal atribuir a um homem de gênio um caráter mau, como afirmo que o mais elevado gênio é apenas a nobreza moral mais alta."
"Houve sábios que se atreveram a duvidar da propriedade do termo 'progresso' para se referir ao avanço da civilização. Consideravam cada avanço da ciência prática como um retrocesso do espírito."
"Todas as coisas criadas são apenas os pensamentos de Deus."
"O de que estou mais certo do que tudo é de que a narração, mesmo parcial, de tais impressões faria estremecer a inteligência universal da humanidade com a suprema novidade dos elementos postos em ação e das sugestões que deles decorreriam."
"Há seguramente outros mundos além deste... Outros pensamentos além dos pensamentos da multidão."
"Pertenço a uma estirpe notável pelo vigor da imaginação e pelo ardor da paixão."
UM SONHO NUM SONHO
Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.
Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas fogem-me pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?
Edgar Allan Poe
Algumas frases de Poe:
"Os homens chamaram-me louco. Mas, talvez, a loucura seja a suprema inteligência, pois muito do que é glorioso, do que é profundo, provém de modos de espírito exaltados e não do intelecto geral."
"Os que sonham acordados enxergam muitas coisas que escapam aos que não conseguem sonhar, a não ser dormindo."
"A lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as amarguras que existem agora têm sua origem nas alegrias que poderiam ter existido."
"Não somente acho paradoxal atribuir a um homem de gênio um caráter mau, como afirmo que o mais elevado gênio é apenas a nobreza moral mais alta."
"Houve sábios que se atreveram a duvidar da propriedade do termo 'progresso' para se referir ao avanço da civilização. Consideravam cada avanço da ciência prática como um retrocesso do espírito."
"Todas as coisas criadas são apenas os pensamentos de Deus."
"O de que estou mais certo do que tudo é de que a narração, mesmo parcial, de tais impressões faria estremecer a inteligência universal da humanidade com a suprema novidade dos elementos postos em ação e das sugestões que deles decorreriam."
"Há seguramente outros mundos além deste... Outros pensamentos além dos pensamentos da multidão."
"Pertenço a uma estirpe notável pelo vigor da imaginação e pelo ardor da paixão."
UM SONHO NUM SONHO
Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.
Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas fogem-me pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?
Edgar Allan Poe
17 janeiro 2009
O Desaforo de Yeda
O célebre poeta romano Ovídio estava prestes a se tornar um senador de Roma, quando renunciou ao cargo. Motivo? Declarou que sentia repulsa pela política e que havia nascido para ser poeta. Não sacrificaria sua arte em nome de algo tão baixo.
Desde os tempos de Roma, e até antes deles, obviamente, a política vem causando repugnâncias nos homens de sensibilidade. O nojo mais recente que senti proveniente das imundícias da política foi da louvável decisão da governadora paulista do Rio Grande do Sul: comprar um jato de 26 milhões de dólares para suas viagens. Com o dinheiro do povo, é claro.
O colunista do Correio do Povo, Juremir Machado da Silva, ontem, abordou perfeitamente o assunto, com uma incisiva ironia. Mas sempre vale a pena bater mais nessa fétida tecla, ainda que seja com este humilde blog. O que tenho a dizer sobre o fato? Que cada vez tenho mais nojo da política. É no mínimo um DESAFORO que a nossa governadora, alegando que nosso Estado está quebrado e afundado em crise, gaste a bagatela de 26 milhões de dólares para comprar um jatinho para seu uso. E irão permitir isso os nossos deputados? E ninguém fará nada para impedi-la? Não, por favor, não façam nada.
Pois agora está justificado o porquê do governo não querer cumprir a lei e pagar o piso de 950 reais para os professores gaúchos. Está certíssima a governadora. Se pagar, não dá para comprar o jatinho. Façam as contas, quanto pisos de 950 reais são necessários juntar para comprar algo de vital importância ao desenvolvimento do Estado como é o jato da governadora? Tem gente reclamando que o dinheiro para comprar o jato é de um montante superior ao destinado para a segurança no RS. E daí? Que seja. Quem precisa de educação e segurança? Precisa-se de um jatinho.
Antes de mais nada, professor só presta para tentar educar crianças que os pais não se prestam para educar em casa. Não, professor presta também para tentar tirar marginal da marginalidade, como se isso fosse possível. Enfim, professor só presta pra tentar transformar o Brasil num país sério. O Brasil, um país sério? Hehehe!
Quanto à segurança, qual a utilidade dela? Imaginem que vida tediosa teríamos vivendo com segurança... Sair nas ruas sem a tensão de poder ser assaltado ou morto não tem graça nenhuma. Por isso que eu digo: um jatinho vale muito mais a pena, pois reis, rainhas, imperadores e a nobreza em geral, têm todo o direito de ter um povo que trabalhe e se sacrifique para que eles vivam no luxo. Não é assim desde sempre? Quem disse que o mundo mudou? Ouvir essa expressão “o mundo mudou” me causa ânsias de vômito.
Então, deixem a governadora. Ela é política. Precisa voar um pouco para ver se tira do nariz o mau-cheiro das fezes da política em que vive afundada. Ainda bem, Ovídio, que tu não foste senador.
Desde os tempos de Roma, e até antes deles, obviamente, a política vem causando repugnâncias nos homens de sensibilidade. O nojo mais recente que senti proveniente das imundícias da política foi da louvável decisão da governadora paulista do Rio Grande do Sul: comprar um jato de 26 milhões de dólares para suas viagens. Com o dinheiro do povo, é claro.
O colunista do Correio do Povo, Juremir Machado da Silva, ontem, abordou perfeitamente o assunto, com uma incisiva ironia. Mas sempre vale a pena bater mais nessa fétida tecla, ainda que seja com este humilde blog. O que tenho a dizer sobre o fato? Que cada vez tenho mais nojo da política. É no mínimo um DESAFORO que a nossa governadora, alegando que nosso Estado está quebrado e afundado em crise, gaste a bagatela de 26 milhões de dólares para comprar um jatinho para seu uso. E irão permitir isso os nossos deputados? E ninguém fará nada para impedi-la? Não, por favor, não façam nada.
Pois agora está justificado o porquê do governo não querer cumprir a lei e pagar o piso de 950 reais para os professores gaúchos. Está certíssima a governadora. Se pagar, não dá para comprar o jatinho. Façam as contas, quanto pisos de 950 reais são necessários juntar para comprar algo de vital importância ao desenvolvimento do Estado como é o jato da governadora? Tem gente reclamando que o dinheiro para comprar o jato é de um montante superior ao destinado para a segurança no RS. E daí? Que seja. Quem precisa de educação e segurança? Precisa-se de um jatinho.
Antes de mais nada, professor só presta para tentar educar crianças que os pais não se prestam para educar em casa. Não, professor presta também para tentar tirar marginal da marginalidade, como se isso fosse possível. Enfim, professor só presta pra tentar transformar o Brasil num país sério. O Brasil, um país sério? Hehehe!
Quanto à segurança, qual a utilidade dela? Imaginem que vida tediosa teríamos vivendo com segurança... Sair nas ruas sem a tensão de poder ser assaltado ou morto não tem graça nenhuma. Por isso que eu digo: um jatinho vale muito mais a pena, pois reis, rainhas, imperadores e a nobreza em geral, têm todo o direito de ter um povo que trabalhe e se sacrifique para que eles vivam no luxo. Não é assim desde sempre? Quem disse que o mundo mudou? Ouvir essa expressão “o mundo mudou” me causa ânsias de vômito.
Então, deixem a governadora. Ela é política. Precisa voar um pouco para ver se tira do nariz o mau-cheiro das fezes da política em que vive afundada. Ainda bem, Ovídio, que tu não foste senador.
Agradecimento a Márcio Brasil
Agradeço ao meu amigo Márcio Brasil pela publicação de dois poemas meus em seu novo espaço no jornal Expresso Ilustrado. Sim, o espaço é dele, mas o Márcio decidiu abri-lo para que outros jovens escritores santiaguenses divulguem suas obras. Isso só prova a nobreza e a generosidade que sempre fizeram parte do caráter do Márcio. Os poemas publicados foram escolhidos por ele mesmo, retirados aqui de meu blog. Parabéns, Márcio, pela tua louvável atitude. Valeu, amigo!
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