22 abril 2024

Como se não houvesse amanhã...

não espera deste poema mentiras de luz 
aqui é o sangue podre que escorre do prego
cravado sem pena no osso da cruz
a treva que impera no sexo das noites
o toque no pé dos dedos da morte
um beijo arrancado do inferno e da dor 
não espera daqui um só pingo de amor
aqui só há a ira em chamas da íris do tigre
a saliva que pinga do dente sedento do lobo
a implacável amargura do olhar do anjo caído
há um desespero satânico e desmedido 
um sopro brusco de tormenta que arrasta 
as folhas mortas pra dentro de casa
luciféricos lábios de fatais violinos
a risada sarcástica dos risíveis destinos 
o coração extirpado jogado às baratas
o pão que o diabo amassou com suas garras 
aqui só há o verme que apodreceu a maçã 
este é um poema para que tu me odeie
mas me odeie com todas tuas veias
como se não houvesse amanhã.







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