Hoje, o mundo comemora os 123 anos do maior gênio da poesia em língua portuguesa na minha opinião: o inatingível Fernando Pessoa. Sua obra é vastíssima. E algumas delas ainda são bem pouco conhecidas. Por exemplo, as suas "Quadras ao Gosto Popular". Simples, melodiosas e belíssimas, intensamente poéticas. Em homenagem ao nosso maior poeta, deixo algumas dessas quadras. Quase todas são como declarações de amor ternas, melancólicas. Por vezes, amargas e irônicas.
Morto, hei de estar ao teu lado
Sem o sentir nem saber...
Mesmo assim, isso me basta
P'ra ver um bem em morrer.
Se ontem à tua porta
Mais triste o vento passou -
Olha: levava um suspiro...
Bem sabes quem to mandou...
Tens o leque desdobrado
Sem que estejas a abanar.
Amor que pensa e que pensa
Começa ou vai acabar.
Duas horas te esperei
Dois anos te esperaria.
Dize: devo esperar mais?
Ou não vens porque inda é dia?
Trazes a rosa na mão
E colheste-a distraída...
E que é do meu coração
Que colheste mais sabida?
Teus olhos tristes, parados,
Coisa nenhuma a fitar...
Ah meu amor, meu amor,
Se eu fora nenhum lugar!
Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar.
Adivinhei o que pensas
Só por saber que não era
Qualquer das coisas imensas
Que a minh'alma sempre espera.
Rosa verde, rosa verde...
Rosa verde é coisa que há?
É uma coisa que se perde
Quando a gente não está lá.
Há verdades que se dizem
E outras que ninguém dirá.
Tenho uma coisa a dizer-te
Mas não sei onde ela está.
Quem me dera, quando fores
Pela rua sem me ver,
Supor que há coisas melhores
E que eu as pudera ter.
Dei-lhe um beijo ao pé da boca
Por a boca se esquivar.
A ideia talvez foi louca,
O mal foi não acertar.
A tua saia, que é curta,
Deixa-te a perna a mostrar:
Meu coração já se furta
A sentir sem eu pensar.
7 comentários:
Excelente! me encanta Pessoa. Lei mucho acerca de su obra.
Beijo
Pessoa é o meu poeta, querido Reiffer!
Um verdadeiro tesouro é o que você nos oferece neste magnífico post!
Abraço da
Zélia
Pessoa era o poeta que eu gostaria de ter sido contemporânea.
Excelente escolha, à qual acrescento, caso não se incomode:
"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!"
Belo Post!
Beijos
Mirze
Unanimidade (com exceção de um certo brasileiro que acha que o poeta não tinha imaginação), Pessoa é o grande professor de quem tenta fazer poesia hoje. Gosto das quadrinhas, principalmente esta:
Teus olhos tristes, parados,
Coisa nenhuma a fitar...
Ah meu amor, meu amor,
Se eu fora nenhum lugar!
Sem imaginação, pois sim!!
Abraços
PAZ e LUZ
Pessoa na cabeceira minha!
Amo.
Bj e linda semana
Alberto Caeiro é meu joão Pessoa preferido.
Pouco me importa.
Pouco me importa o que? Não sei: pouco me importa.
****
"A água chia no púcaro que elevo à boca.
«É um som fresco» diz-me quem me dá a bebê-la.
Sorrio. O som é só um som de chiar.
Bebo a água sem ouvir nada com a minha garganta."
"Poemas Inconjuntos". Poemas Completos de Alberto Caeiro.
Ótimo post, Reiffer.
Muito boas e as duas ultimas com um humor de primeira.
beijos
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