surgiste dos solares das auroras já pronto para ocasos iminentes anoiteceu em tudo o que tu sentes e cavalos galopam tuas horas um sonho de mais vida te devora que é o oposto de sublime ir em frente há um alto nos avisos que pressentes segredos que ameaçam ao ir embora
que deus que morre em teu gênio profético? quem é que escuta teus sopros fatais? que traz de oculto teu cântico hermético? as fúnebres marchas são teus sinais... quem me dera um catastrófico épico para entender-te os anúncios finais (No vídeo, o 2ª movimento da Sonata para Piano nº20 de Schubert, com Alfred Brendel ao piano.)
a céu que não descia pairava um mas aquém do verde negro loucura em vão um álcool lento a lento do que mais fiz um vento em som de adeus do que não vou caída aquela estrela quando me vi desejo insana a vida fracasso e luz sangrar venena a rosa tristeza o sim a noite sinto em ser o que não sou
nos Anos-Novos as pessoas falam em mudanças mas durante os Novos-Anos fazem o que estão certas que devem fazer: não há mudança se não se põe em dúvida o que se faz. sempre achamos que devemos fazer as mesmas coisas e que somos o que fazemos e que cumprimos nossos deveres e os deveres são sempre os mesmos e cumpridos sempre da mesma forma mudança seria admitir que não mudaremos que cometeremos os mesmos erros que continuaremos hipócritas e que cultivaremos as aparências ninguém nunca se questiona nada e no fim das contas o banquete de virada sempre termina em marmelada
imagem que vejo o que tu não foste em teu não-ser é que estou: a felicidade é o que imagino no que não posso ver em ti sou-me no reflexo de mim que reflexiono em tua ausência: tu só podes ser se te sinto na minha consciência
imagem que vejo o que te projeto o meu sonho é o real que tu não és eu que sinto o teu além-sentir e tu vives por sentires em mim e tu sonhas quando vivo em ti sou rio quando povoo a tua ausência tu só podes ser se eu te sou a tua essência imagem que vejo o que desejo há outro mundo em ti que não habitas: sou eu que astro o teu éter eu que violino o teu canto uma lágrima ao que em ti silência imagem do meu alto a minha alma compensa a tua ausência
fazia geada fora e dentro de mim... isso foi há séculos agora sou frio. mas há séculos passei pela floresta e na floresta havia um rio e no rio uma cachoeira e ao lado uma grande pedra e sobre a pedra caía ao eterno um tênue fio de água do lado esquerdo do rio... isso foi há séculos agora sou frio. há dias fui ver a grande pedra não passava de um pequeno cascalho o tênue fio de água ao cair por séculos e séculos a consumiu... isso foi há dias agora sou frio. mas quem ali passou durante esses séculos não percebeu que a pedra aos poucos agonizava sob a água sem nenhum compromisso... o Fim é isso.
as pessoas querem de mensagem de natal qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas votos vazios vazados de (in)verdades vagas algo que fale em paz perdão jesus a ser esquecido antes de ser lido pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia... hoje quando acordei um sabiá cantava na janela e eu prestei atenção no seu canto: essa foi a minha mensagem de natal e não poderia haver melhor
tateei na treva do vinho o Prenúncio e vi que havia Sangue em minha Espera colerizavam nos meus olhos horizontes de hemoglobinas e lia em Goethe e em Blake os sintomas rubros de uma fera a culpa fulva (eu disse fulva) lacrimejou nos cortes do meu fígado e vi que havia Sangue em minha Esfera um sabiá golfejou tuberculoses entre cantos dos cortes do meu Fígaro sendo réquiens de Mozart pelas eras degolei os vendavais no auge
da menstruação e vi que havia Sangue em minha Ópera semeei suas trompas pela terra com a enxada das estrofes furiando aquele incêndio com uma vela pesadelei que sapos e cavalos urinavam líquidos escarlates e vi que havia Sangue em minha Véspera pelas águas amarelas ceifei das tulipas a mais bela entre pulsos pulsares e vinagres entre tragos sentidos e planetas entre cosmos à espera e abutres foiceando pelos ares eu vi que havia Sangue em minha Estrela
o problema é que se acostumaram a andar com a espinha vergada sob o corte do chicote sob o laço da vergasta (a mando de vara) que erguer a cara virou desaforo a toda uma cultura da opressão o problema é que se acostumaram a sempre dizer sim a quem manda com bafos de patrão sob pena de falta de decoro de falta de respeito e de insubordinação o problema é que se acostumaram a ter olhares baixos aniquilados pelo chão pescoços tortos colunas curvadas toda uma vida de submissão sobre os arrebentados ombros todo o peso das gordas manadas toda a baba das infindas mamadas toda uma história de servidão sobre os arruinados escombros de restos de (des)humanos todo um povo brasileiro encilhado à obediência ao servilismo ao cativeiro 500 anos de escravidão! *Poema publicado originalmente em 14 de dezembro de 2016.
1- CAPITALISMO CIVILIZADO: capitalismo selvagem é uma definição equivocada. ele não tem nada de selvagem. os animais não acumulam coisas para si ad infinitum. capitalismo é o espelho da civilização. é a cara do ser humano. é nosso egoísmo nossa perversidade nossa decadência escrachados. o capitalismo é civilizado. 2- EGOCENTRISMO HUMANITÁRIO: diz-se que o planeta tem cerca de 7 bilhões de habitantes. 7 bilhões de humanos. e os animais habitam outro planeta? 3- MACHISMO INSTITUCIONALIZADO: quando se diz em termos históricos: o homem conquistou isso o homem descobriu aquilo o homem inventou tal coisa é como se a mulher não tivesse feito nada.
todos os computadores notebooks celulares todos os aviões foguetes helicópteros todos as naves satélites estações todos os porsches ferraris bmws todos os microscópios autômatos robôs e todas as quinquilharias tecnológicas com que esta civilização vazia possa ainda atulhar o mundo tudo isso não passa de absolutamente nada e jamais alcançará a trilionésima parte da vida que pulsa no olhar da minha gata
a minha parte do que é é a que estará depois do que já não estiver: tenho a última máxima extrema como o canto de um cavalo que se levantasse ensanguentado nos horizontes de outro planeta o meu objetivo será alcançado quando se tiver tornado vento e se transtornado em tornado de pó e nas (re)voltas e retornos do tempo entre os pedaços do meu pleno fracasso... do ser: um raio romperá o limiar da consciência do cosmos: uma garra rasgará o destino do espaço
confesso que não presto que não estou no que me esperam que não sou pelo que é certo: não sou homem de bem sou homem de mal confesso que não faço confesso que nem tento essa coisa de progresso de construir carreira sólida de me assegurar para a velhice de me ser reconhecido e coisas e tal confesso minha angústia admito que ainda sinto que não tornei-me “descolado” que não fingi felicidade ou mentiras de alto-astral mas confesso que me finjo que me bebo escracho e minto a suportar o insuportável da convivência entre gentes e a necessidade social e confesso que escrevo: escrever é isso e ponto final
começa a ser um grande homem quem não reconhece como grande os que se acham grandes só os fortes não ficam do lado dos mais fortes: a força está em não se dobrar à força há poder em quem não se curva ao poder de modo que não convém a um poeta estar do lado dos ricos
I - os otimistas dizem que a vida assim como é vista nem é tão pouca e que a humanidade apesar do que há-de não é tão louca para sair dos seus trilhos mas é a isso que me refiro: o meu pessimismo está no fato de que acham que essa vida é tanto que me encho de espanto e que a humanidade não sairá desses trilhos que a levam ao abismo II - o meu pessimismo não é um desejo de Fim: é um desejo de Novo algo semelhante-análogo ao que o planeta viu lá nos tempos áureos após o fim dos dinossauros
construí meu verso sobre o sangue era tudo que me restava derramado duro pela terra aberta coagulado seco pelo pó da enxada que deserticamente escorre construí meu verso sobre o sangue era uma força que me obrigava de água morta derramada escura sangue visco-negro pela areia que poluidamente escorre construí meu verso sobre o sangue era um destino que me amaldiçoava de seiva-lágrima em derramada queda verde sangue de imensidão tombada que devastadamente escorre construí meu verso sobre o sangue era todo um cosmos que me massacrava do guará atropelado ao horizonte sangue vivo-lago derramado das estradas que extintamente escorre construí meu verso sobre o sangue era o meu sangue o que continuava...
quando digo o que digo não há alguma coisa dita não me procure razões naquilo que nem me soube não me procure lições naquilo que nem me sonha ainda que se diga coisa alguma tudo do que é humano permanecerá sendo o que nunca foi pela miséria de coisa nenhuma que este verso não seja nada uma realidade fora além inexistente distante de tudo o que é (como se fosse...) nem dito para nem feito por (seja lá o que for) por que aqui alguma verdade alguma filosofia alguma fé no que nem é? não procure aqui uma mensagem não queira saber se estou certo há tanto outro tanto eu mesmo sou outra imagem do que nunca nem me vi então que isso não passe de um canto sem letra ou de um cansaço que se lança pelo lago alado do ar pelo lado amargo da dança deixa este verso bem longe de tudo que se aproxima da vida isso é só um aumento da dosagem um longe rubro no horizonte não passa de passagem ao lá do que me esconde e deixo aqui minha alma abismada mas erguida
sempre é pior do que dizem sempre há mais do que é dito: a humanidade tem por princípio e precipício não saber ou não deixar que se saiba governo empresas trabalho são apenas controle: controlar é decidir o que se pode saber o que é o povo além de ignorância agradada? para que o povo não saiba o que não pode às vezes se passa a mão na sua cabeça e dá-se um leitinho quente para que ele durma e sonhe enquanto range os dentes o que é o gênio além de develador de verdades seja em letra em nota em cor? gênio é saber que há mais onde não se suspeita de nada e extrair desse nada o que há de mais ser gênio não é ser grande na humanidade: é NÃO ser a humanidade
I - o bom da ironia (e isso não é uma ironia) é que ela faz graça sem trazer alegria II - percebo que o mundo está em perfeito equilíbrio: há um lado áspero e outro liso... o planeta me causa choro a humanidade me causa riso III - poeta é aceitar a curvatura do espinho para não ter que praticar a curvatura da espinha
a música é um mistério (mas só quando sendo música) e como tal não se pode podê-lo ou sabê-lo há princípio precipício a sete notas acima na escala ou sete palmos abaixo na terra ou qualquer além que seja a mais verbo não-verbalizado sem (des)entendimentos equivocados: é o que se é para cada ser que o seja à música não há necessidade de selo ela não se carta não se mensagem: quem ouve é que deve sê-la e só a si cabe o vale quer seja um algo ou um vago ainda que a música diga dizeres não se pode dizer que foi sendo como dito. o que vale é o que som infinital e arquetípico absoluto desanalítico desde o canto do galo ao galopar do cavalo é um elevado alto escrito de não-dizer que é mister misteriá-lo