Assistindo ao jogo entre Itália e Inglaterra, sábado, ocorreu-me calcular os anos que os maiores campeões de Copas do Mundo levaram para conquistar seus títulos. Uma curiosidade interessante que constatei, a qual publiquei em meu perfil do Facebook domingo, é esta: O Brasil foi tricampeão do mundo em 1970 e tetra em 1994, 24 anos depois. A Itália foi tricampeã em 1982 e tetra em 2006, 24 anos depois. A Alemanha foi tricampeã em 1990. Fica a pergunta: a coincidência da "transição" dos tris para os tetras prosseguirá, e a Alemanha será tetra em 2014, 24 anos depois? A julgar pelo seu jogo de estreia, com a goleada que humilhou Portugal, é bem possível. Aliás, é o meu palpite. Alemanha tetra.
17 junho 2014
15 junho 2014
Entre Horrores e Alguns Risos
os homens
acreditam que fazem...
mas nada fazem:
têm a ilusão de que o que é feito
é feito por eles
quando em verdade o que é feito
é feito pelas circunstâncias
o homem não age
é vítima
o que o homem faz
é se arrastar pelo que acontece
desviando-se aqui e ali
com uma hipocrisia
e uma desonestidade
como um verme se desvia na lama
entre horrores e alguns risos
entre infâmias e alegrias
medos erros e cagadas
(seus autênticos feitos)
segue o homem pelo engano
de que o seu nada
é um nada feito
é só um nada acontecido
que estaria onde está
de qualquer jeito:
coisas erguidas tortas
por uma humanidade torta
com objetivos torpes:
explorar seus humanos toscos
para (dizendo) fazer um mundo melhor
que acaba sempre mais torto
o homem pensa
que faz o seu feito
mas o faz
como quem larga um peido:
involuntário e (uma hora) inevitável
que acaba sendo só vento
levado pelo tempo13 junho 2014
O Corte de Pinus na BR 287 e a Genialidade de alguns em Santiago
Em Santiago há muitos gênios incompreendidos. Alguns deles são aqueles que defendem o corte de pinus em trechos entre Santiago e Jaguari nas margens da BR 287. Estão cobertos de razão. Os pinus são plantas mortíferas e traiçoeiras, que se antepõem entre os motoristas e seus naturais desvios de percurso. Além de serem plantas absolutamente feias. Observem, por exemplo, acima, as imagens horríveis e deprimentes onde, em rodovias da atrasada Europa, os pinheiros ameaçadores ficam quase que dentro da estrada. Um absurdo! E percebam ainda que, na Europa, continente onde a educação é desprezada, nem há acostamento naquelas rodovias. O que farão os motoristas quando vier um caminhoneiro enlouquecido invadindo a pista contrária? Ou dirão agora, talvez, que na Europa não existem caminhoneiros enlouquecidos?
Definitivamente, nossos gênios estão certos, os pinus devem ser extirpados. Ou vão querer proibir os homens de bem e progressistas, cultos e conscienciosos, de dirigirem seus carros, de último tipo e potentíssimos, a 160, 170 km/h? E na eventualidade de algum acidente com esses motoristas absolutamente inocentes, para que acidente mais humilhante do que bater o carro em um pinheiro, naquelas plantas exóticas e com clima de cemitério? Melhor é espatifar o carro em uma parede de terra, direto na vívida terra brasileira, ou, melhor ainda, capotar algumas vezes em uma planície aberta. Ou descer barranco abaixo, afundando em um perau. É mais belo e mais emocionante.
Além do mais, árvores estão fora de moda. Ou melhor, a moda são as árvores cortadas, seus tocos à vista, parecendo banquinhos em praças bucólicas. Ou seja, os gênios santiaguenses, além da segurança, também estão preocupados com a beleza, com a estética de nossas rodovias. Por isso que eu os parabenizo e os louvo, e estou certo de que farão bom uso dos troncos dos pinus cortados, enfiando-os naquele lugar propício.
12 junho 2014
da Decadência II – O Sem Sentido
no mundo atual
não há espaço
para o mundo interior:
o lírico foi asfixiado
entre as vitrines da aparência
por isso
não mais falo
do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente
por si mesmo
e nem quer saber do outro?
só há sentido
no sentimento expresso
quando o outro
o reflete e o encontra
expresso no seu ser
mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum09 junho 2014
Opinião Unânime*
desconfio
de toda opinião unânime
ou quase unânime:
pusilânime
desconfio
de tudo que é tido
como já tido
como aceito
do tipo
“isso é o certo
o correto
e não tem jeito.”
desconfio
de tudo que é dado
para se ficar
do lado
do que é dado
como fato
e ato
do que é bom
e sensato
porque isso
me cheira
a enfático
a acrítico
midiático
patriótico
idiótico
mecânico
robótico
porque isso
me cheira
a coisas
empurradas
pela goela
com cobertura
de chocolate
ou enfiadas
mais adiante
(lá embaixo)
bem untadas
com azeite
e lubrificante
*Poema reelaborado e republicado
06 junho 2014
Bêbado
I
ser poeta
é estar enchendo a cara
no final da reta
ter chegado antes
e contemplar já bêbado
a chegada cágada
aos trancos e aos rastejos
do que resta
dos humanos sãos
com seus saudáveis desejos
II
o verso é o outro caminho
do paralelo ao fracasso
onde sopra uma vida de vento
e uma alma de aço
III
ser poeta é um ato infame e vil:
é saber
olhando nos olhos
de cada um
o quanto há de humano
e o quanto há de imbecil04 junho 2014
da Decadência
o que há de mais vazio
do que o discurso de uma autoridade?
o que é perdoável,
sendo o representante
legal oficial
o preparado autorizado
a ser o nada absoluto
que ele interpreta ao absurdo
o que há de mais vazio
do que o decurso desta atualidade?
o que é perdoável,
sendo a época-reflexo
de um espelho
que reflete os vácuos de si-mesmos
um caminho sem-sentido e sem-estrada
entre abismos e desalmas
o que há de mais vazio
do que o percurso desta humanidade?
02 junho 2014
Governo combate cigarro, mas nada faz contra pragas ainda piores: funk e sertanejo universitário
Que o governo tenha eleito o cigarro como bode expiatório e culpado por todos os males da saúde pública é compreensível em um país que, por exemplo, é campeão, há muito tempo, no uso de agrotóxicos e nada faz para acabar com esta situação vergonhosa.
Agora, o que não entendo, é como se permite que pragas degradantes como funk e sertanejo universitário, ambas, degenerações dos gêneros originais, sejam proliferadas indiscriminadamente em nosso país, infectando psiques e causando a liquefação de milhões de cérebros de vítimas com predisposição à imbecibilidade, na maioria das vezes de indivíduos jovens.
Por isso, já que virou moda se fazer todo tipo de campanha, deveriam criar a campanha "CUIDE BEM DO SEU CÉREBRO!" e o Dia Nacional de Combate ao Funk e ao Sertanejo Universitário.
Para tal feito revolucionário, deveria ser criado o Ministério da Inteligência e da Sensibilidade. O problema é que para esse ministério não se poderia colocar nossos conhecidos políticos, devido ao fato de que o cargo exige, como sugere o próprio nome, inteligência e sensibilidade.
Uma sugestão para a campanha seria: "O Ministério da Inteligência e da Sensibilidade adverte: ouvir funk e sertanejo universitário imbeciliza sua psique, degenera suas células cerebrais, deteriora sua capacidade de raciocinar e atrofia suas funções emocionais, podendo causar morte interior precoce." Ou ainda: "Não há níveis seguros para a audição desses coliformes fecais dissimulados em sons".
O mais difícil do problema é convencer as vítimas de que estão ouvindo merda, uma vez que tais degradações sonoras realizam uma insidiosa lavagem cerebral e causam fobia à boa música.
30 maio 2014
Testamento
escrever uma palavra
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema
que um poema nem mais há de ...
mas viver uma palavra
que ao menos não nem nada
pois nem mesmo vai ser lida
e se for: mal compreendida
mas sofrer uma palavra
que já era no que foste
e antes que o dizer se morra
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
construir uma palavra
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse)...
enfim
te deixar uma palavra
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida
e antes que se foda a alma...28 maio 2014
Homem Fraco - Caderno Pragmatha
Poema publicado na edição 57 do Caderno Literário Pragmatha, de Porto Alegre. Para ler, clique na imagem.
25 maio 2014
Final de Sinfonia (e de Humanidade)*
tudo ao mesmo tempo agora
tudo o que já foi
sendo outra vez como não foi
sendo em tons mais abaixo
entrecruzando-se em escalas mais
graves
mais graves
mais baixas
a humanidade agora
é todas as humanidades
ao mesmo tempo
e ao mesmo tempo
não é humanidade alguma
é todos os ideais e todas as ideias
e sendo todas não é nenhuma
vê como tudo que foi feito
tende a ser feito outra vez agora
mas não em um após o outro
mas em um sobre o outro
conversões e convivências
feito de forma que se desfaz
para acabar finalmente não sendo
há de tudo hoje pelo humano mundo
mas esse tudo torna-se um nada
que não leva a mundo humano algum
a humanidade é agora todos os seus
temas
que foram a sua história
todos os temas
ao mesmo tempo agora
toda a orquestra
tudo o que já foi tocado
tudo foi tocado e nada resta
como o final de uma sinfonia
o final de uma sinfonia
em termos artísticos e humanos
vazia
*Poema reelaborado e republicado.
23 maio 2014
A Coisa Taciturna*
Bêbado
de vinho e de noite, outra vez vagava pela madrugada. Mas ao invés do silêncio
noturno esperado, alguma coisa perturbadora, algo como um ritmo lento, macabro,
hipnotizante, surgia de todos os cantos, sem que eu soubesse exatamente de onde
e qual a causa daquelas batidas absurdas.
A
princípio, eu ouvia, ou acreditava ouvir, conforme avançava pela sujeira das
ruas, sapos que batiam seus pés em uníssono. Delírios de um bêbado com a
imaginação exacerbada, pensei. Talvez, se esse fosse o único som que eu
escutasse. Havia outros, e eram piores.
Das
árvores surgia alguma coisa como batidas de bicos de aves, transmitiam a
sensação de que bicavam uns nos outros, ou como se tentassem furar a madeira, e
a madeira propagava o som da carne sendo furada. Mas eu não posso dizer se
realmente era assim. Para mim era como se fosse. Sei que a sensação era
horrível e que o ritmo crescia em velocidade e barulho.
Sons
de baques de pedras enormes em açudes, em abismos, em poças surgiam de todos os
lados. Ruídos agudos de brigas de punhais, de espadas, antigos gonzos
orientais, tudo soava simultaneamente. Ou alguma coisa, alguma força
desconhecida, sobre-humana, absurda, fazia-os soar. Aquele barulho infernal
findou-se, ou deu uma trégua, após eu ouvir se aproximar um gigantesco galope
de cavalos, seguido por pancadas retumbantes, ruídos brutais de machados
quebrando crânios e, por fim, uma série de pauladas cuja categoria de som não
pude determinar, mas das quais o ritmo era
matematicamente perfeito, que se finalizou de súbito com uma espécie de tiro de
canhão muito próximo. E tudo retornou ao silêncio.
Mas
o silêncio era tão insuportável quanto os barulhos. Porque parecia anunciar que
mais horrores viriam. Eu estava absolutamente certo de que em breve desabaria
um temporal, mesmo antes de qualquer sinal de tempestade. De modo que em
questão de poucos minutos, relâmpagos apareceram ao longe, e ouvi sons abafados
de trovão. A tormenta se intensificava e se aproximava rápido. Pensei em ir
para casa, mas não sabia como. Não havia um caminho. Ou melhor, havia um
caminho que não era o caminho de volta. E que eu não sabia para onde me
levaria. Eu estava perdido.
No
escuro completo, aguardando a tempestade, sentei-me desolado sobre uma pedra
úmida, intentando me concentrar para lembrar o caminho. Então uma coisa surgiu
que parecia chorar. Tive a impressão que estava em algum arbusto próximo a mim.
Mas aquele som de choro foi crescendo e percebi que não estava tão perto como
imaginei, mas que advinha de longe e não era um choro, era um violino, ou algo
como um violino, desesperado e fúnebre.
Um
som de um violino transtornado, que aumentava de forma incessante seu volume,
pairando pesaroso pelos ares densos de tempestade. E logo começou a ser
acompanhado por outros violinos, que formavam uma melodia estranha, caótica,
dilacerada. E os violinos passaram a ser acompanhados por outros instrumentos
de cordas, tais como violoncelos e contrabaixos, formando uma apocalíptica
orquestra de cordas cujo ritmo era determinado pelos trovões e relâmpagos da
tormenta que já caía sobre mim. Era como se um dependesse do outro para existir,
a tempestade da orquestra e vice-versa. Pelo menos essa foi minha impressão.
Que se intensificou quando olhei para o alto e vi aquela massa monumental de
tormenta assomando-se sobre onde eu estava, ameaçadora, ao mesmo tempo em que
os sons das cordas amplificavam-se indefinidamente.
Não
havia onde me abrigar da chuva torrencial, e fiquei ali, sentado sobre o
temporal e ouvindo os acordes crescentes e magnéticos daquela orquestra
alucinada. Porém, transcorrido um curto intervalo de tempo, o som orquestral,
ou seja lá o que fosse aquela coisa, sofreu uma substancial modificação.
Os
sons emitidos pareciam agora energizados, elétricos, carregados, como se eles
próprios fossem raios e era praticamente insustentável continuar os ouvindo.
Pensei que iria ensurdecer em definitivo, quando um raio acompanhado pela
orquestra elétrica (ou talvez não fosse que um acompanhasse o outro, mas que
consistissem em essência a mesma coisa...) caiu a algumas centenas de metros de
mim, em um estrondo indescritível, em uma descarga de eletricidade que iluminou
quilômetros e quilômetros de horizontes funestos e desolados. E a tempestade e
a música caótica cessaram-se de súbito.
Após
um breve instante, a chuva retornou, porém era mais uma garoa do que uma chuva,
um gotejar lento e monótono. De maneira simultânea, uma densa névoa
entranhou-se através das árvores e invadiu todo o ambiente. Principiei a ouvir
algo como uma voz ao longe... Sim, agora era realmente uma voz humana, ou, ao
menos, um simulacro de uma. Consistia numa voz arrastada e de uma tristeza
arrepiante, um lamento desesperado. De início, parecia ser apenas uma voz por
entre a cerração, mas em um curto espaço de tempo outras vozes somaram-se à
primeira, de modo que formaram um coro de lamentações. Porém, não conseguia
entender uma palavra do que pronunciavam, ou cantavam, ou choravam, não sei
dizer exatamente o que era aquela coisa.
Caminhei
alguns metros em direção às vozes, talvez, pensei, fosse quem fosse que ali
estivesse, soubesse um caminho para sair daquele lugar. O que vi, no entanto,
foi algo como uma caravana de pessoas com longos palas escuros e encharcados,
com botas atoladas na lama. Apesar da escuridão e da névoa, pude distinguir
todas essas coisas, porque quando perceberam minha presença, aqueles homens, se
é que eram homens, acenderam inúmeros lampiões de uma luz doentia.
Então
uma voz que parecia estar à frente do grupo, ainda que quem a emitia eu não
pudesse ver, gritou, ou rugiu, com uma violência absolutamente monstruosa e
imperativa, que todos nós, inclusive eu, deveríamos seguir aquela coisa que era
nosso destino, o destino de todos nós.
Bem, eu não tinha alternativa. Deram-me um pala negro, vesti-o, e me
incluí na caravana...
(Na imagem, detalhe de "A Tentação de Santo Antônio", de Hieronymus Bosch.)
*Este conto foi escrito a pedido da banda The Taciturn Thing, e também constitui uma forma de homenagem ao trabalho dos amigos Alan, Luiz Paulo e Marlon.
(Na imagem, detalhe de "A Tentação de Santo Antônio", de Hieronymus Bosch.)
*Este conto foi escrito a pedido da banda The Taciturn Thing, e também constitui uma forma de homenagem ao trabalho dos amigos Alan, Luiz Paulo e Marlon.
20 maio 2014
Eu Não me Explico
não me explico
ponto.
por que deveria dar um motivo
para perder ou não o meu siso?
reservo-me o inexplicável direito
(com o que faço
só eu devo estar satisfeito)
de dizer-me ou não
e se assim desejo
se for pelo dizer mais alto
(ou sonho que me tomou de assalto)
de meu eu eu me desdigo
ou nunca falo do meu falo
e não sou meu próprio umbigo
a minha palavra vai
e isso basta:
vai por um longo longe de mim
e por outra maior estrada
se eu tivesse que explicar tudo
melhor seria não dizer nada18 maio 2014
Quatro Chutes na Bunda da Civilização, por Bukowski
o Velho Bukowski sabia o que dizer para esta humanidade, confiram:
Chute 1: “Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?”
Do romance "Factótum"
Chute 2: "Havia alguns turistas, velhos, determinados a aproveitar suas férias. Espiavam ferozmente as vitrines das lojas e caminhavam, batendo os pés contra o pavimento, emitindo raios que anunciavam: tenho dinheiro, temos muito dinheiro, temos mais dinheiro do que vocês, somos melhores do que vocês , nada nos preocupa, tudo está uma merda, mas nós estamos bem e sabemos como funcionam as coisas, olhem para nós.
Com suas camisas rosas e verdes e azuis e corpos brancos e simétricos apodrecendo e calções listrados, olhos esvaziados de olhar, bocas desbocadas, caminhavam por aí, cheio de cores, como se cores pudessem ressuscitar a morte e transformá-la em vida. Eles eram uma espécie de carnaval da decadência americana, um desfile, e não faziam ideia da atrocidade que infligiam a si mesmo."
Do conto "Sem pescoço e ruim como o inferno"
Chute 3: "Como qualquer um pode lhe dizer, não sou um homem muito bom. Sempre admirei o vilão, o fora da lei, o filho da puta. Não gosto dos garotos bem-barbeados com gravatas e bons empregos. Gostos dos homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes arruinadas e caminhos perdidos. São os que me interessam, cheios de surpresa e explosões. (...) Posso relaxar com os imprestáveis, porque sou um imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões, regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade."
Do conto "Colhões"
Chute 4: "Big Bart era o melhor e ele sabia disso.(...) Encontraram uma carroça que fazia sozinha o caminho pela pradaria. Um garoto magricelo de aproximadamente 16 anos com um caso sério de acne estava nas rédeas. Big Bart se aproximou e conduziram lado a lado:
- Qual é, garoto? - ele disse.
O garoto não respondeu.
- Estou falando com você, garoto...
- Vai tomar no cu - disse o garoto.
- Eu sou Big Bart
- Tá, vai tomar no cu, Big Bart - disse o garoto.
Do conto "Pare de olhar para minhas tetas, senhor"
16 maio 2014
A Ti, Sanguinário*
no que há mais força
que na determinação do mosquito?
ele sabe o que há de fazer
e o faz
e nisso se basta
em noites matas chuvas
ares solos grutas
morte caos horror
no fim do humano
será o mosquito ainda senhor
quem o venceu?
quem o subjugou?
quem dobrou sua espinha
e o fez desistir
de aspirar ao teu sangue
e ir repousar a se rir...?
um exército de mosquitos
(o que há de mais firme?
de mais implacável?)
invadiria todas as terras
venceria todas as guerras
e tornaria este mundo
incivilizável
a Ti, Mosquito
minúsculo sanguinário
e às hostes dos insetos deste planeta
a vós
símbolos-deuses do Horror
deixo meu verso miserável
minha amizade inútil
e minha imperturbável dor
*Poema reelaborado e republicado
15 maio 2014
Depois de não querer pagar o básico de R$1100,00 para os técnicos em enfermagem, o HCS, de fachada nova, fica sem pediatra
Retiro do grupo do Facebook "Manifestação Santiaguense" algumas graves informações sobre a falta de pediatras no Hospital de Caridade de Santiago, o que é, no mínimo, um absurdo revoltante, quando se considera que o HCS constrói uma nova fachada e uma clínica, mas deixa a população sem atendimento de pediatras e, há bem pouco tempo, quase causou uma greve entre os técnicos de enfermagem, ao inicialmente se recusar a negociar com o sindicato e pagar o salário básico da categoria, de míseros R$1100,00. Seria ridículo se não fosse trágico estarmos vivenciando tal situação em Santiago.
Textos retirados do Facebook:
"...o hospital de caridade esta sem atendimento de pediatra no hospital, as gestantes estão tendo que se deslocar até Santa Maria para fazer o parto, as crianças que necessitam de internação também estão sendo levadas pela ambulância da saúde, minha filha de 1 ano 9 meses necessitou de uma internação, mas tem um bilhete na parede dizendo que o hospital não tem pediatra ela passou a noite não observação esperando que tivesse alguma melhora para não precisar ir para Santa Maria, ainda bem que reagiu a medicação e vai fazer medicação injetavél em casa, mas pensa as pessoas que não tem condições de se manterem em outra cidade. Gostaria de ver sua atitude em relação a isso. Grata Andréia.
Meus amigos peço que curtam ou compartilhem essa mensagem pois já enviei ela ao senhor Rafael Nemitz e aguardo saber o que ele fará a respeito"
Andreia Renata Almeida
"Pessoal fiquei sabendo que estamos sem pediatra no pronto socorro, meu priminho teve que ir de ambulância para Santa-Maria, uma grávida teve que ir fazer seu parto lá também, fiquei sabendo disso ontem à tarde pela minha tia, parece que os médicos estão tendo um impasse com a direção do hospital, mas como a prefeitura não toma uma atitude e deixa isso acontecer, isso é uma vergonha, não podemos ficar sem pediatra atendendo, se alguém tiver mais informações se manifeste. Obrigada."
Alessandra e Mauro Soares
12 maio 2014
A Época da Aparência III – A Bunda Suja
e a humanidade afunda
porque as pessoas
não se responsabilizam:
ninguém assume seu próprio peso
ninguém se olha no próprio poço
todos querem uma vida leve
com suco sorriso e sombra
sem preço retorno ou culpa
com tudo sem pagar nada
naquela existência fashion
e descolada
onde pensar tornou-se um saco
e sentir tornou-se piada
querem uma vida leve
onde se possa se ter de tudo
e não se paga por nenhum ato
com os lábios até as orelhas
e amputada a mão da consciência
como se não houvesse voltas
nem consequências
enfim
aquela coisa
em que todo mundo caga
e ninguém lava a bunda...
e a humanidade afunda
10 maio 2014
Uma Advertência
há que cuidado
com a sede de vida
que o que se sedia
na sede da alma
tem sede
em maior medida:
sede cauteloso
não se pode saciar ambas
pois que a vida é cordas bambas
entre um lado e outro do poço
e quem morde a carne
com muita ânsia
pode quebrar os dentes
em algum osso
nem tudo é eu posso:
às vezes fica tarde
e noutras – tempestade
e pode (m)olhar granizo
ou seca
sobre o jardim...
pois nem tudo é simples assim
nem sempre se colhe tulipas
para desfolhar nas trilhas
e aparentar aquela imagem
de mil maravilhas
a vida não é só soprar
e fazer espuma:
por trás do arbusto
com a alegria das flores
se oculta o silêncio
do bote do puma...
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