13 fevereiro 2013

do Não Viver


I

o que de ti
me mostras
não é o que vejo,
o homem nunca está
onde está:
ou é saudade
ou é desejo

II

aquilo
que o homem faz
ele nunca faz
estando em cem por cento:
aquilo que o homem faz
ele o faz
já estando
(em desejo ou medo)
no próximo momento

III

as pessoas
pre-ocupam-se tanto
tanto
que nunca se ocupam
com o seu tanto

12 fevereiro 2013

Rápida Explicação sobre o O Homem que Tinha a Razão


Tendo em vista que alguns leitores me enviaram e-mails em que demonstram que não estão entendendo o espírito do texto publicado abaixo, levando-o a sério, ao pé da letra, esclareço: esse meio-conto na verdade é uma ironia, um texto completamente sarcástico, uma crítica debochada dirigida àqueles que se imaginam donos da verdade e que acreditam que podem determinar o que é correto ou não, segundo suas próprias opiniões e julgamentos subjetivos.

11 fevereiro 2013

O Homem que Tinha a Razão


Naquela tarde, concluí minha grande ideia revolucionária. Senti-me, então, preparado para conduzir a humanidade a um novo estágio na evolução. Sei que sou o homem correto para isso. Não que eu me considere um ser superior aos demais (não declaradamente, uma vez que conheço o imenso valor da modéstia, porque intimamente estou absolutamente seguro de minha superioridade), mas adquiri, através de longos anos de leituras e estudos os mais diversos e aprofundados, o conhecimento necessário para transmitir a verdade e a sabedoria a toda a humanidade.

O mais dificultoso em minha heroica tarefa foi determinar, entre tantos autores, escritores, gênios, artistas aqueles que apresentavam uma parcela da verdade e os que não sabiam de absolutamente nada. Necessitei ler muito, incessantemente. Lembro que em um ano devorei exatamente 191 livros. Minha capacidade de entendimento, e é mister que se diga a bem da justiça, é simplesmente fantástica. Um livro que um escritor levou cerca de 10 anos para escrever, vivenciando-o, sou capaz de entendê-lo quase que completamente em apenas 24h. De forma que pude ir determinando com absoluta e inquestionável segurança quais obras deveriam ser lidas e estudadas, no sentido de que seriam as únicas que nos ensinariam o correto, o universalmente correto, e quais obras deveriam ser descartadas por estarem completa ou parcialmente equivocadas ou por não acrescentarem nada à verdadeira sabedoria.

Preparei, com infinita paciência, esforço e dedicação, uma lista de todas aquelas obras literárias e filosóficas onde se pode encontrar a verdade. E mais: foi-me possível determinar com cirúrgica exatidão os trechos onde se encontrava alguma parte da verdade e os trechos onde ela já não estava tão presente. Foi um tremendo sacrifício, martirizei-me lendo sem parar e analisando livro sobre livro, mas valeu a pena, tendo em vista a imperiosa necessidade de minha missão.

A lista ainda não foi divulgada, mas o será em breve. Sim, porque não posso permitir que as pessoas continuem lendo escritos insensatos, fantasiosos, absurdos, que não dizem absolutamente nada, que não tratam do que é a verdade, do que é são, palpável, correto, do que é o real. Não posso permitir que pensem o que não deve ser pensando, que sintam o que não deve ser sentido, que elaborem conceitos, opiniões, ideias equivocadas, que não estejam de acordo com a exata visão de vida, que condiz, naturalmente, com a minha visão, uma vez que fui capaz de entendê-la e alcançá-la como nenhum outro homem, conforme está provado pelas opiniões irrefutáveis que tenho emitido sem jamais cometer o mínimo equívoco. Ou qualquer equívoco digno de nota, ao menos.

Através de minha missão histórica, finalmente, poderei estabelecer a minha opinião como a única universalmente aceita, que deve e pode ser aceita sem margens de erro, pois a terei comprovado de maneira definitiva, peremptória, através da validação irrefutável dos autores que concordam comigo. Sim, porque há muitos livros que foram escritos, conscientemente ou inconscientemente, para que a humanidade atingisse o grau de evolução atual do qual eu sou o responsável por, finalmente, estabelecer. E há muitos livros que foram escritos para que não atingisse. Existem obras perversas, daninhas, errôneas, que desejam nos levar à ignorância, como é o caso de muitos poetas degradantes.

Fui incumbido de determinar aos homens o que eles devem ou não ler e, assim, conhecer somente a verdade e tão somente a verdade, nenhuma outra baboseira escrita por algum suposto gênio, ou mesmo gênio em seu campo, mas que deve ser deixado de lado porque, segundo meu infalível julgamento, não nos acrescenta nada em termos de desvendamento da vida e do universo.

Vibro em pensar que em breve, muito em breve, toda opinião equivocada, fruto apenas de imaginações superexcitadas, deixará de ser emitida, qualquer pensamento em desacordo com o que justíssima e eternamente compreendi será banido, qualquer sentimento sem uma base racional que condiga com a minha, ainda que tido por verdadeiro, por mais belo e sincero que seja, não mais atrasará a humanidade rumo à Verdade (sim, em maiúsculas, pois eu tenho a Verdade das verdades).

Então, a humanidade saberá tudo o que deve saber, e tão somente o que deve saber, e eu serei coroado, como há muito já deveria o ter sido, o Grande Sábio Mor. E não haverá mais espaços para divagações absurdas, para fantasias impossíveis ou para sonhos de mentes doentias criadoras de castelos aéreos.

Imaginem se todos pensassem como eu penso, tudo estaria resolvido, e que mundo maravilhoso teríamos...


09 fevereiro 2013

Constatação

o olhar humano
do que agora humano
a olhar o nada
e o nada que olha a esse olhar
entre o nato óleo
do lago astral
derramado entre olho e nada
nada nada
entre um outro e um astro

o olhar sem astro
ou estrela ou estro ou rastro
o olhar sem lago
só raso e barro
a nadar em restos

e um olhar de nada
olho seco e óleo gasto
sem rio e sem raio
vazio desvasto
o olhar sem nada
a desastrar finais

e até mesmo
o que antes melancolia
já nem melancole mais...

08 fevereiro 2013

Poema Antipático para o Carnaval*


um poema feio
seco
prático
sem nenhuma
intenção grandiosa
a não ser
a de ser antipático

versos ranzinzas
tipo aqueles
de mancha em prazeres
talvez um relâmpago
pela janela de uma festa...
num mundo
sem poesia
é o que à poesia
ainda resta

essas coisas
que uma ou outra pessoa
(ou várias e muitas)
não aceita e protesta
não concorda e não gosta
coisas essas
como dizer
que certas culturas populares
(da forma como cultuam)
não passam de bosta

e se alguém
ainda não entendeu
serei mais claro
(pois há muita gente lerda):
sim
estou mandando
o carnaval à merda

e pouco me importa
que me critiquem
um ou dois
ou dez ou mil
serei ainda mais taxativo:
o carnaval
que val
à puta que pariu

*Poema reelaborado e republicado.

06 fevereiro 2013

De Sangue


E duas gotas de sangue.  Olhos avermelhados. À minha frente. Lago coagulado. Açouguento. Urubus gotejosos, dir-se-ia sujos de agoras, agourentos. Sempre fixos. Ou sentença ou sarcasmo. Provável os dois. Sentível, provável. Cheiro quente. De quando se sangra e sangue corre. Grasnar, galhar seco. Urubus rubros.

Ergo-me da grama derramada escarlate. Altos, nimbos laranja-estranho-decadente. Rúbido mórbido, com tendências ao negro. Trovão úmido sangue, como se inflamação nas veias. Sangrosas rosentas.

Tempestade e encharco-me, vermelho. Bafo dos urubus, mas não carniça, sangue morno. Mulher menstruada, talvez, ali morta. Cinco passos. Escorre pelas pernas. Brancas magras magas. Bafo morno. Horizontes e horizontes montes devastados avermelhados. Febres fulvas, vulvas. Férvidas fulgurações fúnebres desfiguradas. Marcha.

Melodia flauta distância. Pulsação abaixo, mas reverberante. Sangue visível epiderme, pele esfolada. Sangue lento. Chuva sanguínea externa-interna. Urubus revoados ordenham.  Hordas. Passadas compassadas. Pelas poças. Som pegajoso-viscoso do pisar-se lagos. Marcha e céu congestionado. Sanguíneo denso.

Hemorragias de ave, coração à mostra. Despencam pelos caminhos. Peito aberto de ave, semelhança Cristo.  Gatos no cio ciciando. Corações de aves gotejo dentes. Caninos. Carnívoros. Caça de tigres. Saliva lobos. Dentes trituradores. Sangue canto. Boca suja. Meus olhos avermelhados.

Metralhadoras.  Rajadas vento encarnado. Minhas mãos alvermelhadas. Um sol de apocalíptico. Febre escarlatina de olhares. Um sol será? Meus olhos congestionados. Um sol de cor-cardíaco? Sorrio. E duas gotas de sangue. Goteja gota gotejo canto do lábio. Sanguino lenta esperança.

            

04 fevereiro 2013

História Mal-Contada


Quando floresta manhã radiante, estado espírito dos melhores. Alegria elevava-me, perfeitamente bem, ambiente puro, mistério e salutar.

Lentamente pela mata de um sol. Exuberância vegetação, canto de uma infinidade. Limpidez ares repletos névoa úmida. Névoas por entre virgem carregadas mistérios

Intenção até riacho cruzava vale. Lagartos, seriemas, bugios. Serpente espécie desconhecida, verde vermelho ao preto amarelo. Esconder-se vegetação.

Riacho de águas cristais. Magia ancestralidade. Animais antigos passado local onde? Homens de séculos ali estado? Tartarugas ocultas água.

Águas frias, mas banho minutos. Então estranho. Mais alguém mata, presença não prevista esperada. Nenhum som visão. Mas me perseguia. Angústia inquietude.

Tenso, sair da mata. Caminho volta, foi-me impossível. Nada encontrado, apesar. Floresta fosse tão extensa? Impressão prolongado, ausência claridade campo. Sensação seguido.

Horas mata infinita. Perdido. Perseguido. No porém, árvores tornaram afastadas imensas. Sem arbustos ou pequeno porte, apenas gramado. Verde absurdo. Muitas floridas.

Celestial beleza. Eu penetrava. E beleza superna. Em pontos verifiquei presença roseiras. Vermelho sangue. Sedutoramente. Ainda outros. Rosas violeta rosas rosa.

Inefável e fatal. Mata sem fim. Seduzia-me fatalidade exalava. E presença me perseguia. Quase material. Sopro de respiração cabelos. Feminino hálito. Fatal. Tranquilizei-me em estranho inexplicável. Invisível.

Insólito jardim. Temperatura morna, céu denso, entre nublado. Tensão de perfumes. Olho alto. Bando aves predominava negro. Pouso entre altos árvores. Havia flores. Não conhecia. Canto inefável e familiar. Bach? No porém... fatal. Hipnotizado vozes femininas. Regiões longínqua. Carregadas onírica. Sensualidade melancolia.

Torpor languidez.  Deitei-me grama perfume orvalho. Canto de penumbra vejo. Imagem mirífica. A que me perseguia. Bela feminina. Túnica sanguínea, assim rosas. Eu, embriaguez anímica. Cabelos negros, assim aves. Voz bachianamente. Olho violeta, olho rosa, assim rosas.

Sono e febricitante. Imagem enevoada. Bela fêmina próxima. O parecer de fantasma. Lábios ouvidos. Hálito rosas, seio nudez e veneno. Cantasse.

Sonho no teu desejo, disse-me. Preso jardim fatal. Tu buscaste, disse-me.

Beijo. Vinho. Fora, humanidade. Sair? Fora, homem em pesadelo. Decadência em lá. Dormência jardim.

Beijo além e despida fêmina. Ela, corpo, eu, falo. Veneno artérias. Sono. Nem digo.

(Na imagem, a "Vênus" de Eugène Duval)

02 fevereiro 2013

Perdendo o Tempo


mas como diria Fernando Pessoa:
“o que é o tempo para que eu o perca?”

ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?

ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?

e se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?

se eu for buscar inspiração
perderei o meu tempo
porque não inspirarei ninguém?

e se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?

se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
e como isso funcionaria?

a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?

ganharei o meu tempo
engendrando planos?
ou ganharei o meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?

e afinal
o que é que eu devo fazer?
algo de útil a mim
e  à humanidade?

mas o que seria
útil para mim
e para a humanidade?

ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho

01 fevereiro 2013

Como fazer se cumprir a lei em um país onde os governantes são criminosos e não a cumprem?

A tragédia ocorrida recentemente em Santa Maria suscitou, como não deveria deixar de ser, uma onda de fortes cobranças para que os responsáveis pelas mais de 200 mortes sejam determinados e exemplarmente punidos. E também para que as leis referentes à existência dos estabelecimentos de shows, lazer e diversão não sejam mais desrespeitadas em nenhum local do Brasil.

Porém, em um país onde os próprios governantes e políticos não cumprem as leis da Constituição Federal e, em grande parte, são corruptos que deveriam estar atrás das grades, torna-se uma missão complicadíssima exigir que a justiça seja concretizada sem imparcialidade.

Como exigir o cumprimento da lei e da justiça em uma nação cujos senadores da República elegem para seu presidente um consumado cafajeste como é o caso do senhor Renan Calheiros (do PMDB, o partido sem cara, ou melhor, com cara de melancia em cima do muro do poder), denunciado pela Procuradoria-Geral da República por três crimes? Eleito com 56 votos contra 18. Maioria absoluta. Ou seja, 56 de nossos senadores não se importam em ser liderados por um corrupto. Não se importam porque também são cafajestes corruptos? Bando de filhos da puta! Desgraça e palhaçada ao mesmo tempo. Mas, quando digo que o Brasil é uma piada, sou criticado e acusado por muitos de antipatriotismo.

E o caso do Calheiros é só o exemplo mais recente. Será que eu preciso citar outros? 

E a Lei da Ficha Limpa? Não veio a calhar para o Calheiros? As leis no Brasil, quando beneficiam o povo, os pobres, são apenas para enfeites, ornamentos de uma nação vergonhosa.  Ou então, só são cumpridas quando beneficiam as elites e os próprios políticos.

Para encerrar, pergunto ao governador Tarso Genro: governador Tarso, já que o senhor agora é um ferrenho defensor do cumprimento da lei, exigindo que os responsáveis pela tragédia de Santa Maria sejam investigados, julgados e punidos, quem sabe o senhor entra também na onda e cumpre a lei que o OBRIGA a pagar o piso para os professores gaúchos. E também pague os precatórios que muitos funcionários do Estado já ganharam na Justiça o direito de receber, e, até agora, o senhor não pagou nada. Governador, faça cumprir a lei e a cumpra. É para isso que o povo lhe paga.


31 janeiro 2013

Homem Fraco*


que mal se aguenta nos cascos
quando lhe dói um dos lados
da imundície do estômago

homem trôpego
pouco mais que macacos
estilhaços
duma mentira aos cacos
pensamento vazio
em vácuos
fraqueza lépida
que não sabe o que faz
sob a falta
de energia elétrica

homem fraco
pedaços magros
de espírito
trancafiado em frasco
palhaço!
homem lerdo
fará o que
no nada
do teu próprio deserto?
vieste de que ontem?
por que vives o que vives?
e vais para qual onde?

o que é que sabes
disso que não sabes?
onde é que sentes
o teu não-sentido?
o teu futuro me dá asco
ergue um túmulo
para o teu si mesmo
e para o meu desprezo
ah quem me dera
ser o teu carrasco
homem fiasco

*Poema respostado com algumas alterações.

30 janeiro 2013

Uma Fatalidade?


não há acidentes
não há acasos
não há fatalidades
tudo o que existe
e tudo o que ocorre
existe ou ocorre
porque se caminhou no sentido
de que existisse ou ocorresse

o que há
são causas
razões
ou motivos
que percebemos
ou não percebemos
até nas coisas menores e menos

mas e o mais e maior dos maiores:
a vida?
a vida surgiu como acidente?
a vida é um mero acaso?
a vida é uma fatalidade?

Então os meus versos têm sentido e o universo não há-de ter sentido?
Em que geometria é que a parte excede o todo?
Em que biologia é que o volume dos órgãos
Tem mais vida que o corpo?”

Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

28 janeiro 2013

do Não Percebido


I

não escrevo
para que os outros me leiam
me entendam
me decifrem...
escrevo
para ler
entender
e decifrar
aos outros

II

não escrevo
para melhorar ninguém
só o si
se melhora a si
escrevo para o meu ser
que saindo de mim
se vá além

III

ser poeta
é perceber
que não se percebe
é dar se conta
de que não se dão conta

27 janeiro 2013

A Tragédia em Santa Maria, a Transitoriedade da Vida e o Lucro dos Blogs

Alguns comentários breves...

1) A tragédia ocorrida na boate Kiss em Santa Maria faz-nos pensar em algumas coisas. Por exemplo, a transitoriedade da vida e a imprevisibilidade da morte. São temas sobre os quais costumo escrever, e os leitores do blog são testemunhas.

Questiono o fato de as pessoas, em geral, preocuparem-se tanto com planos a longo prazo, metas a serem atingidas, em dedicarem-se a trabalhar incessantemente, às vezes, quase sem folgas, para acumular bens, riquezas, status. Em buscar subir na profissão cada vez mais, estudando e trabalhando sem descanso e sem prazer, sem reflexão, sem contemplação da vida, sem sensibilidade, como se viver fosse apenas ter responsabilidades e cumpri-las religiosamente. Eu pergunto? Com qual propósito? Qual o sentido de tudo isso?

Temos a sensação ilusória, mesmo sabendo que iremos morrer, de que somos eternos. Ou somo arrogantes frente à morte ou buscamos nunca tocar no assunto, como se ela fosse um sonho ou pesadelo distante e difuso. Quando somos surpreendidos, chocamo-nos.

2) Aproveito para lembrar que o nossos blogs e jornais noticiosos não perdem a oportunidade de terem mais e mais cliques em suas páginas. Orgulham-se de ostentar milhões de acessos devido ao seu sensacionalismo barato e graças à exploração da tragédia alheia. Agora, colocam fotos e mais fotos, vídeos e mais vídeos com imagens de corpos e de feridos. Estão preocupados com as famílias e com os amigos? Ou com o jornalismo? Não, estão preocupados em "não ficar para trás" na corrida da imprensa sensacionalista, em lucrar ao infinito,  em  ter mais "ibopezinhos" para poderem cobrar mais caro o preço de suas propagandas.

3) Há alguns imbecis fanáticos religiosos na internet dizendo que a tragédia foi merecida porque a boate era um "ambiente do capeta", e que, se estivessem num templo ou igreja, nunca ocorreria o incêndio. Esquecem-se, esses fanáticos, de quantos "cultos" já terminaram em tragédia e mortes no Brasil e em diversos outros países. Sem falar nos infindáveis crimes "em nome de Deus" cometidos por muitos de seus pastores. 





26 janeiro 2013

História de um Ser Humano


na rua
nua de tudo
e tapada de nada
caminha um ser humano
porque tem que caminhar
e é humano porque o dizem que é

vai para o trabalho
porque vai para o trabalho
disseram-lhe que tem que trabalhar

nem sabe por que trabalha
talvez porque todos trabalham
e porque só o trabalho traz o dinheiro
(disseram-lhe)
e que é a lei da vida
mas ele mal sabe da lei
e nunca pensa na vida

caminha pela rua
e mal sabe o que está na rua
e mal sabe por que caminha
muito embora pensa que saiba

mas o que é que ele pensa?
sabe o que pensa enquanto caminha?
sabe o que sente enquanto caminha?
pensou e sentiu tanto
(ou não pensou nem sentiu nada)
que nem sabe por que pensou
nem sabe por que sentiu
nem o que sentiu
nem o que pensou

e quando chegar ao trabalho
terá esquecido
(seja lá que diabos tenha esquecido)
como se nunca tivesse
sentido ou pensado

e talvez morra
como se nunca tivesse vivido

afinal dormiu
porque tinha que dormir
mas nem sabe o que foi
enquanto dormia
e quando viu
outro dia
tinha amanhecido

e afinal morreu
como se nem tivesse morrido


25 janeiro 2013

Prenúncio e Sangue, meu Terceiro Livro

Em breve, mas ainda sem data definida, será lançado meu terceiro livro, o segundo de contos, intitulado Prenúncio e Sangue. Será publicado, a princípio, em formato eletrônico pela editora mineira Estronho, especializada em literatura fantástica. O livro contará com 22 contos escritos entre 2009 e final de 2012.  Alguns já foram publicados aqui no blog, outros sofreram alterações após a publicação inicial e outros são inéditos.

Os contos escolhidos baseiam-se na exploração do absurdo, do caos e do destino de nossa civilização, de questionamentos a respeito do desconhecido e do sentido da existência, transitando pela loucura, pelo crime e pelo onírico.

Assim que o livro for publicado na internet, será realizada sua divulgação aqui no blog.

23 janeiro 2013

de Religião e Ciência


contemplava
A Criação
de Michelangelo...

da falange de Deus
o Verbo
mau-falado
(a)fanado

da falange do homem
o falo
impotente
falido

e a vida
no sentido
de sua
(d)existência?

de religião e ciência
falácia
e falência

22 janeiro 2013

Minha Nota de Deboche e de Repúdio à CPI que atribui crime de responsabilidade à Administração Municipal de Santiago

O blog O Boqueirão publicou (confira aqui) o resumo do relatório da CPI que, de acordo com as próprias palavras do mencionado blog :

"(...) Após as análises dos depoimentos prestados a esta Comissão, bem como da documentação levantada no decorrer dos trabalhos e das demais audiências realizadas, ficaram demonstradas pelo Poder Público Municipal a inobservância de princípios administrativos como o da impessoalidade, moralidade, legalidade, eficiência  e publicidade, em decorrência de supostas irregularidades em relação à utilização de recursos públicos  nas contratações de sonorizações e estruturas para festas , no período apurado de 2011 e 1º semestre de 2012. EM TESE, constata-se a formação de  cartel com o objetivo de fraudar a livre concorrência.(...)

Diante dos fatos apresentados, devidamente comprovados, não tem como não atribuir responsabilidade ao Administrador Municipal  de Santiago, por Crime de Improbidade Administrativa. (...)

SOLICITO ENVIO DE CÓPIAS: Ao Ministério Público Estadual, ao Ministério Público de Contas, ao TCE RS e ao Sr. Prefeito Municipal." (...)

Quanto ao fato, tenho a declarar:

Estou absolutamente convicto de que tudo não passa de uma mentira deslavada, invenções de mentes contaminadas pelas fantasias sem pé nem cabeça da raça triste dos poetas que infectam nossa terra glorificada pela valentia dos coronéis.  É tudo um grande teatro armado com o nefasto propósito de atacar covardemente um partido exemplar, qual seja, o PP, Partido do Povo, o qual sempre mandou com inflexível e límpida mão de ferro sobre o nosso pampa próspero e impoluto, jamais permitindo a procriação da cafajestada deselitizada.

Nós os santiaguenses, somos, com algumas raras exceções não dignas de nota, pessoas ilibadas e de reputação inatacável, irrepreensíveis e incansáveis trabalhadores, principalmente os senhores varões da política, homens-mártires que sacrificam suas vidas em prol do progresso de nosso município e do bem-estar geral de nossa população, recebendo para tanto um ridículo salário de miséria, comparável ao de um professor ou ao de um policial.  Aqui somente, e tão somente, vivem homens que honram cada um dos fios do bigode que ostentam majestosos sobre suas bocas prenhes de verdades e de sabedoria. E mesmo que não tenham bigode, dá no mesmo, todos sabem. 

Agora falam em favorecimento para esta ou aquela empresa. Como é possível tamanho disparate? Desde quando aqui em Santiago há algum tipo de favorecimento, seja público, seja privado? Só o que falta agora é afirmarem descaradamente que aqui, em Santiago do Boqueirão, celeiro dos mais dignos senhores e senhoras da sagrada América do Sul, há apadrinhamentos. Então, definitivamente, chegaríamos ao cúmulo dos cúmulos, e não duvido  de que ciumentos e invejosos, inimigos da paz pública, venham sussurrar nos ouvidos do povo as famosas ladainhas caluniosas de que existem certos favorecimentos suavemente antiéticos em determinadas empresas, hospitais, impressa, escolas e até em festas. Isso sim, seria inaceitável.

É por essas e outras que venho deixar minha nota de repúdio a essa CPI impertinente e contrária ao desenvolvimento de nossa comunidade, CPI que é o símbolo do atraso dos que, por egoísmo, não se importam com a continuidade, mas desejam mudanças desnecessárias e incômodas para o povo, desejando, decerto, que nós, os santiaguenses muito bem descansados em nossa zona de segurança, deixemos de lado nossa paz tão duramente adquirida para ir fazer passeatas nas ruas.

Essa CPI merece ser queimada sim, em forno de pizzaria. O meu pedaço, por favor, peço de lombinho de leitão que mama deitado.

E tenho dito.


20 janeiro 2013

Prenúncio


pensam impensada
(imprensada)
mente
despreocupados
que não há preço
e pisam (atolados)
nos próprios passos

mas passam
como se nem fossem
poucam como passados
e se apossam
das passas podres
entre os pingos das poças

pendem como desprezos
presos nas falsas pistas
tropeçam nos próprios rabos
e pensam que não há peso

mas são patos
em ralos pastos
a plúmbeo céu de perda
e a poucos passos
do fundo preto do poço