não é só a morte que está lá fora
é ainda mais a que está aqui dentro
ainda mais a que está aí dentro
é isso que destrói é isso que mais dói
não há morte pior
do que aquilo que mataram dentro de nós
do que daquilo que matamos dentro de nós
nem é preciso que se diga
nos tornamos os melhores inimigos da vida
cada vez mais fechados mais machucados
nos tornamos um amontoado de feridas
trancamos todas as nossas portas
nem buscamos nem sabemos nem queremos
antes de olhar já fechamos os olhos
nos tornamos rios de rancor e mágoas
antes de beijar já queimamos os lábios
nem há mais o que se diga
somos abismos de receios e medos
e de oportunidades perdidas
de alguma coisa nunca estada
nunca preenchida
que mascaramos com imagens de sucesso
de bem estar de segurança de progresso
mas todos sabem que lá dentro
há um poço de vazio...
agora escuto o galope de um cavalo
e nem sei como acabo este poema...
vou matá-lo.