O Vírus Não é o Inimigo

não, o vírus não é o inimigo.

o inimigo é quem desmata devasta caça massacra

quem mata abate suga drena polui

quem deixa rastros de sangue por oceanos rios

quem deixa rastros de morte por florestas campos

é quem extirpa os órgãos vitais das selvas

é quem amputa os membros dos ecossistemas 

é quem deixa mudo o canto dos pássaros

e cegos os olhos dos linces.

não, o vírus não é o inimigo.

o inimigo é a cobiça a ganância a sede de lucro

por mais vendas mais consumo mais produção

é quem acha que ouro vale mais que vidas

e dólares valem mais que almas

é quem acha que economias devem andar

e vidas podem morrer.

não, o vírus não é a doença.

a doença é o egoísmo a ignorância a desumanidade

a injustiça a hipocrisia a desigualdade social

a doença é a nossa imagem no espelho...

o vírus? não, o vírus não é a doença.

o vírus é uma tentativa de cura.

Breves Considerações sobre Coronavírus e (Des)governo Bolsonaro

1) Mortes por coronavírus de ONTEM PRA HOJE (de 20 para 21 de março): Itália: 793. Espanha: 285. Iran: 123. França: 112. EUA: 60. Reino Unido: 56. Holanda: 30. Bélgica: 30. Estão  morrendo pessoas diariamente na maioria absoluta dos países. E sim,  é para ter medo. Se NÃO acontecer uma catástrofe sanitária no Brasil,  vai ser graças aos que tiveram medo. Temer e respeitar a natureza é uma sabedoria. Porque o vírus é uma força da natureza. Os imbecis e fanfarrões  ficam desdenhando, rindo e dizendo que está tudo bem. Até que...

2) Presidente imbecil-ignorante-egoísta-demente- insistindo em negar a gravidade da situação, apoiadores desse presidente fazendo piada com a doença, pastores evangélicos reunindo milhares em seus ditos cultos, pessoas agindo como se nada estivesse acontecendo...

Some-se a isso o período de incubação e de desenvolvimento da doença, que é relativamente longo, a realização de testes somente em casos graves e a demora para a confirmação de novos casos e mortes. Ah, e claro: o Brasil é um país em desenvolvimento (eufemismo para Terceiro Mundo). Perceberam como se desenha uma catástrofe iminente?

3) Este ano, os brasileiros vão pagar o preço, e muito alto,  por terem eleito o maior imbecil da atualidade como presidente: investimentos em saúde,  pesquisa,  ciência e educação cortados e reduzidos ao mínimo; combate aos serviços e servidores públicos; privilégios para o setor privado que só pensa em lucro; triunfo da ignorância, da desumanidade e da falta de solidariedade; assuntos sérios levados na brincadeira e na chinelagem; cortes e destruição de programas sociais; redução da renda do trabalhador... Este ano vem a conta da aventura profundamente infeliz do deprimente bolsonarismo, uma das piores, se não a pior, coisas ocorrida no Brasil.

Quando já não fores o que (não) és

tens certeza? não tens certeza de nada.
ter certeza é apenas a projeção
de uma possibilidade antecipada.
achar que o hoje é o amanhã
e que tu serás sempre o mesmo de agora
é como pensar que não muda o clima
ou que não passa a hora.

amanhã serás outro:
e o teu outro eu
(que sempre foi teu)
te dirá: não é bem assim.
pensarás o que nem imaginas
e o que hoje sentes
recordarás como um não entre ruínas.
amanhã negarás frio
o que já afirmaste comovido
viverás planos que nunca tiveste
e tua suposta felicidade
estará noutro ponto ainda não visto.

tens certeza? não, não tens de nada.
o tempo não se importa com convictos
e viver é saber com a alma enganada.
nem a morte é certa:
ela pode estar longe ou pode ser já.
(e tu bem o sabes que pode ser hoje).
certeza é só o Fim:
por mais sol que tenha o dia
é certo que anoitecerá.

A Vida esmaga a Vida

pé por pé
no dia a dia
e passo a passo
de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida
só (con)sumida

de sol a sol
de hora em hora
o que é de alma 
se joga fora
e de grão em grão
de ovo em ovo
o homem choca
o homem chora
a encher o papo
a encher o bolso
a encher o saco
a encher o vácuo
do seu olho por olho
do seu óleo por óleo
como álcool
que o tempo traga

o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó

Postagem de Sexta-Feira 13: a Relação entre a Extinção dos Abutres Asiáticos e o Coronavírus

Qual a relação entre o surgimento de novas doenças e o desaparecimento de abutres ao redor do mundo, principalmente na Ásia e na África?  O texto seguir, publicado originalmente em agosto de 2017, poderá dar alguma explicação. Lembrando: 99% da população de abutres asiáticos desapareceu.

Abutres e urubus não são propriamente animais simpáticos para a grande maioria das pessoas. Quem gostaria de ter um de estimação? Eu, no entanto, nutro uma enorme simpatia, e mais, uma admiração profunda por esses sombrios, majestosos e IMPRESCINDÍVEIS animais do luto. Mas luto mesmo é saber que, em nosso planeta, o qual já perdeu, em número, segundo estudos, cerca da METADE de seus animais selvagens, abutres e urubus estejam agora correndo risco de extinção em várias de suas espécies.  A situação é mais grave na Ásia, África e Europa, e a culpa, é claro, é do homem. A causa principal é um anti-inflamatório veterinário: o diclofenac. No Brasil, POR ENQUANTO, eles estão a salvo, com exceção do Urubu-Rei, espécie quase extinta.

 As chamadas "aves da morte" são os "limpadores" da natureza, evitam a disseminação de doenças e de seus animais vetores (ratos, moscas, baratas). Algumas  dessas doenças, provavelmente, nem ainda são conhecidas. Sua extinção poderia acarretar o surgimento de epidemias nunca antes presenciadas e fatais para o ser humano. 

Acompanhe a matéria a seguir, publicada no site Opinião e Notícia: 

"A população mundial dos abutres corre sério risco de extinção. Na África, por exemplo, das 11 espécies da ave que vivem no continente, seis estão em risco de extinção e quatro estão criticamente ameaçadas. Os dados são de um recente estudo da BirdLife International, instituição dedicada à preservação da natureza. A população de abutres na Ásia encolheu 99% desde a década de 1990. 

Em 2003, cientistas identificaram como causa para a redução um tipo de anti-inflamatório chamado diclofenac, usado para tratar gados. Abutres que se alimentaram da carcaça de gados tratados com a droga morrem de falência renal semanas pouco tempo depois. A Índia proibiu o uso do diclofenac após constatar que a redução da espécie no país estava ameaçando a cultura das comunidades parses indianas, que não enterram nem queimam seus mortos, mas os colocam em altas torres chamadas dokhmas para que sejam comidos pelos abutres. Paquistão e Nepal também baniram o medicamento, o que estabilizou a população de abutres na região. 

Mas o diclofenac continua sendo amplamente usado na África e brechas nas leis da Europa permitem sua comercialização em cinco países do continente, incluindo Espanha e Itália, onde vivem 90% da população de abutres da Europa. 

Na África o uso do medicamento contra abutres é intencional. Caçadores ilegais usam o medicamento para impedir que a presença de abutres exponha a localização das carcaças de animais caçados de forma irregular. Espalhada na carcaça dos animais caçados, a droga elimina os abutres. Em 2013, uma carcaça de elefante foi encontrada na Namíbia cercada por cerca de 600 abutres mortos. 

 A questão é tão crítica que está sendo discutida pelo Parlamento Europeu e pela ONU. 

Em outubro do ano passado, representantes da ONU se reuniram em Trondheim, Noruega, e concordaram em colocar 12 espécies de abutres na lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza."

Os Dois O's dos Sonhos

os dois o's dos humanos sonhos
dois longos sons enforcados
revoltos pedindo socorro
dois o's tortos nos fossos nos poços
dois o's dos tons do não posso
dois tolos correndo pelados
demônios de olhos rosados
em fogo horror e desgosto
caindo de sono nos cantos
velórios de dor e remorso
bolores destroços finados
dois voos de corvos dourados
em sopros assombros maus fados
os dois o's dos sonhos humanos
afogados no meio dos porcos
os dois o's dos sonhos dos loucos
dos mortos

Chegará o Dia

chegará o dia
em que todos reconhecerão
que os piores crimes
serão os crimes contra o meio ambiente.
quando chegar esse dia
será tarde.

chegará o dia
em que todos admitirão
que devastar qualquer floresta
será o maior dos holocaustos
que desviar o percurso de um rio
será assassinar destinos
que envenenar terras águas alimentos
merecerá a pena imediata de morte
que caçar qualquer animal
será a maior das abominações
que levar à extinção uma espécie
será o fim do nosso mundo
e de toda humanidade.

e quando chegar esse dia
será tarde.

O País dos Bobos da Corte

Vivemos em um país que despenca no abismo da miséria. Salários sem reajuste, renda caindo ou estagnada, dólar em alta recorde, desigualdade social em crescimento, aumento sistemático da pobreza, indústria em queda, PIB com crescimento pífio, educação e ciência em crise, meio ambiente em um dos seus piores (talvez o pior) e mais daninhos momentos, desemprego em níveis elevados, pessoas vivendo de bicos, sem carteira, sem direitos, violência contra a mulher e contra minorias em explosão.

E então, temos um presidente ignorante, ridículo, mentiroso, desumano, que tenta abafar sua incompetência e despreparo absoluto para o cargo com fanfarronices de pseudopatriotismo e falsa "oposição ao sistema" (quando na verdade é o mais lacaio do sistema de todos os governos), que contrata um bobo da corte para acompanhá-lo, porque o dito mito não sabe que explicações vai dar ao povo sobre seu total fracasso como governo, envolvido em caos, escândalos, mamatas, fanatismo de seus seguidores, ameaças à democracia e corrupção mascarada. Isso é o "governo" Bolsonaro. E desafio qualquer um a provar o contrário.

A Música do Horror

o ronco de estômagos vazios
o gemido surdo da fome
e o som que sai da lágrima
quando escorre pela pele
formariam que tipo de harmonia?

como que se escuta a tessitura
do choro abafado dos desesperados?

os corpos despedaçados pelas granadas
uma bala estourando uma cabeça
as vísceras espalhadas entre o pó
os litros de sangue derramados
nos campos das batalhas
produzem que tipo de notas?


os rugidos dos felinos massacrados
a queda de milhares de elefantes
o tombo das florestas
o crépito das queimadas
formariam que contraponto musical?

as mentiras nos governos
nas tribunas nos templos nos congressos
e o protesto inútil dos injustiçados
formariam que tipo de concerto?

o tiro a queima-roupa
a mulher sendo espancada
a pele retirada de bichos vivos
as correntezas dos rios poluídos
que tipo de sonata expressaria tais horrores?

os olhos dos coelhos sendo perfurados
para o progresso da ciência
os pesticidas derramados pelos campos
o canto de ave com câncer na garganta
a bomba atômica antes
e depois a terra vazia
o silêncio das terras devastadas
e dos paraísos que transformaram em desertos
se ergueriam em qual Sinfonia?

agora estamos descobrindo...

Fazer a Sua Parte

as pessoas dizem: “faça a sua parte”
mas que parte?
o que é fazer a sua parte?
parte do quê? parte para quê?
quem é que faz a sua parte?
eu não fiz a minha parte
eu não faço a minha parte
eu nem sei que parte
querem que eu faça
quem determinou a parte
que deve ser feita?
fazer a minha parte
vai melhorar o quê ?
quem disse que o mundo pode ser melhorado
se para cada um o melhor para o mundo
é uma coisa diferente?
eu não faço minha parte
porque não posso fazê-la
porque só no fato de viver
eu já desfaço minha parte
no ato de comer eu desfaço minha parte
em respirar eu desfaço minha parte

qual é a minha parte
em toda essa destruição?
deixem -me fazer
a minha arte

Pergolesi e uma breve História sobre Amor e Morte

Pergolesi morreu de tuberculose
em 1736, em Pozzuoli, Itália.

Giovanni Battista Draghi
conhecido como Pergolesi
compôs suas melhores obras
com uma misteriosa e desconhecida companhia

foi nessa carinhosa companhia constante
que o compositor escreveu as melancólicas e sublimes
páginas do Stabat Mater e dos Salve Regina
músicas em honra ao Eterno Feminino
porque ele convivia com a mais feminina
das companhias

a mais feminina das mulheres
consolava e derramava suas lágrimas
sobre os olhos já noutros mundos
do compositor do mais belo Stabat Mater
de todos os tempos

só ela cuidava dos últimos dias de Pergolesi
e o seu amor é que o inspirava a transcender
os limites da música

não há arte se não houver musa

nos últimos dias de Giovanni Pergolesi
havia uma aura feminina que o cercava
e lhe ditava aos ouvidos as mais tristes melodias

só essa mulher lhe tocava a alma
e foi ela que o fez eternizar
uma das mais comoventes músicas
da história da arte

a divina mulher que o amava
e que noivou com Pergolesi em seus últimos dias
acariciou o seu rosto
e lhe depositou um último beijo:
era mais que mulher mais que maga mais que deusa
e seu nome era Morte

Autômato, Demasiadamente Autômato

Ser Humano é ser o quê?
viver uma vida inteira
sem saber por que vive
fazer o que todos fazem
só porque é o que fazem todos
e sobreviver dia após dia
para chegar a ponto algum?

trabalhar a vida inteira
para deixar ricos mais ricos
ou enriquecer a vida inteira
para se encher de quinquilharias
e desaproveitar o vazio
do que se diz ser vida

ser humano é ser convencido
a aceitar as coisas
como dizem que são
ou como querem que seja
e aceitar que o que é
não pode ser desfeito
que será um crime
contra a ordem mundial?

ser humano é ter a obrigação
de ser bem sucedido e feliz
e de mostrar a todos que (ir)realmente o é?

ser humano é não ser humano?

Homem Fraco

que mal se aguenta nos cascos 
quando lhe dói um dos lados 
da imundície do estômago 
homem trôpego 
mais palhaço que os macacos 
estilhaços de um nada 
cacófago de cacos
buraco de pensamento 
monumento ao vácuo 
fraqueza lépida 
que nem sabe o que faz 
ante a falta de energia elétrica 
se um dia tiveste alma 
esmagaste como um frasco 
homem-medo: farás o que no seco
do teu próprio deserto? 
vieste de que ontem? 
por que vives o que vives? 
vais para qual onde? 
homem: irás tarde 
quando fores embora
 (que já é chegada a hora)
o que sabes disso que nem sabes? 
onde é que sentes o teu não-sentido?

o teu futuro me dá asco 
ergue um túmulo 
para o teu si mesmo 
e para o meu desprezo 
ah quem me dera 
ser o teu carrasco 
homem fiasco.

Poema de Longa Data

pela Ísis de sonhos e fadas
quero parar de pensar
e não dizer nadas com nadas
nenhuma alguma a ser entendida
nenhuma vida a ser entediada
eu sono o vasto do campo
nas luas da minha amada
que o sono é a noite
e não se precisa explicá-lo:
diante de ti me silêncio e me calo
o que vale é que ao vale a cavalo
saio contigo do que estou
e além do que digo
o universo é mais denso
quando ergo meu senso
a versar-te na estrada
sem Nada em meu peito
que possa cavá-lo...
só a Arte não passa
e é tudo o que faço:
quero que se grave e abrigue
em todas as eras
o tu que me olhares
nos parassempres do espaço

Se o Espaço é Curvo

qual palavra que volta
a cada palavra que é solta?
que mão virá bater à nossa porta?
qual não virá atender nosso desejo?
o que voa no que achamos que é à toa? 
que asa que bate em cada teu ato?
que ave que canta em cada segredo?
quem é que garante que estamos no certo? 
que preço que se paga
pelo sopro que se larga?
o que é que nos sonha
onde o limite se dobra?
o que é que nos falta
quando se olha pro alto?
se o espaço é curvo
a vida é sempre retorno
e eu espero qual verso
retornará do que escrevo

Sou do Lado dos que Não Prestam

sou dos que estão do lado
dos que perderam o seu lado
dos que não valem nada
dos fracassados:
estou do lado dos que olham
para um campo ou mata
e não veem futuras lavouras
mas campo e mata apenas
repletas de bichos inúteis
estou do lado dos imprestáveis
dos que olham para um vasto terreno
e não pensam no que poderá
ser ali construído
mas no que de belo um dia houve
e pelo progresso destruíram
não estou do lado dos homens de bens
dos robôs engomados marionetes
com reis de vermes na barriga
otimistas lucristas mecanicistas
não sou dos bem-sucedidos
correndo mortos pelas avenidas
devastadas de vida

enfim
tenho sangue de índio:
não posso prestar

Três Garrafas de Vinho

1ª - bebê-lo é olhar o sou
do que não venho
pelo lado oposto
daquele outro gosto
daquele olhar não posto
no espelho que não creio

2ª - no vinho
há um nada que se afoga
um sangue que se afaga
um fogo que se onda
um mar que se ressaca
de música e desgraça

 3ª - há o branco e há o rosa
e há aquele em que não minto
mas o melhor do beijo
é quando ele sangra
e fica tinto

Salvar o Mundo

a geração que quer salvar o mundo
destruindo o mundo:
querem salvar o mundo
indo atrás de líderes fanfarrões
salvar o mundo inventando máquinas 
salvar o mundo com técnicas e quinquilharias
lojas veículos e aviões
salvar o mundo plantando lavouras
em lugares de antigos paraísos
e enchendo de agrotóxico
salvar o mundo montando uma empresa
salvar o mundo explorando o trabalho alheio
salvar o mundo implementando leis
salvar o mundo com proibições
salvar o mundo entrando em religiões e seitas
salvar o mundo lendo autoajuda
salvar o mundo falando em desenvolvimento
com um sorriso estúpido na cara
salvar o mundo pensando positivo
sendo esperançoso
querem salvar o mundo sendo bons moços
e homens de bem

irão me perguntar:
“que horror, pra que tanto pessimismo?
eu responderei:
que horror, pra que tanto consumismo?
com esta humanidade
o mundo é uma questão de tempo
para ser repasto de Urubu
porque todo mundo 
quer salvar o mundo 
mas ninguém limpa o próprio cu