Beethoven surdo e bêbado deixando seu testamento de quase suicídio
Dante pondo fim à Idade Média graças à sua amada defunta
Chopin tossindo sangue sobre o piano
Van Gogh arrancando uma orelha antes de levar uns tiros no peito
Rimbaud morrendo na África em meio a armas e guerras
Brahms e Fernando Pessoa destruindo seus fígados
Goya quase cego quase surdo quase vivo
Dostoiévski quase sendo fuzilado na Sibéria
Tchaikovski bebendo de propósito água com cólera
Lorca sendo assassinado pelo governo espanhol
Schumann alucinado morrendo num hospício
Borges sempre no escuro
Baudelaire acabando-se por amar prostitutas
Mozart ainda jovem enterrado como indigente
Poe encontrado semimorto em delírio alcoólico
Shostakovich com os nervos aniquilados
Kafka sangrando tuberculose
Munch bêbado alucinado e paralisado
Jane Austen possivelmente envenenada com arsênico
Schubert compondo suas últimas obras com 31 anos
Bukowski esvaído em sangue e em álcool
(...)
ah esses caras, com tanta presença da morte
nos deram tanto sentido pra vida...
01 fevereiro 2018
30 janeiro 2018
Constituição Da República Federativa de Mim Mesmo
eu não deixarei que eles me digam o que fazer.
por que eles sempre querem te dizer o que fazer?
por que eles sempre querem te dizer o que gostar o que sentir?
ou não gostar ou não sentir?
eu não mantive 40 anos de um resto de alma
para acabar sendo uma porra de boneco autômato
ou para me portar conforme as regras
como um cachorrinho amestrado de madame
não gostarei de verão porque dizem que verão é melhor
não sairei sorrindo para ser aceitável
não serei feliz por decreto ou por conselho
não deixarei de beber em nome da saúde da ordem do bom senso
nem só de ordem vive o homem
viver não é sinônimo de continuar vivo
o bom senso é bom senso pra quem?
não admito autoridades.
porque alguém estaria acima de mim?
não me curvarei a titulados a fardados a abastados
e não escreverei o que eles querem para ser publicado
ou lido ou aceito ou estado
não me sujeitarei a um conceito alheio de limite
não serei o cara de sucesso a ser estampado como exemplo
não deixarei de escrever "no teu cu"para não chocar
os hipócritas de plantão
não abandonarei minha personalidade
porque alguém me julgou arrogante
não entendo humildade por deixar de ser-me
por que outros devem criar regras comportamentos e padrões
e eu tenho que aceitá-los e segui-los?
então eu não devo ser eu, devo ser outros?
minha glória é não estar no que me esperam
o que se pode esperar de mim?
o que se pode esperar dessa humanidade?
por que eles sempre querem te dizer o que fazer?
por que eles sempre querem te dizer o que gostar o que sentir?
ou não gostar ou não sentir?
eu não mantive 40 anos de um resto de alma
para acabar sendo uma porra de boneco autômato
ou para me portar conforme as regras
como um cachorrinho amestrado de madame
não gostarei de verão porque dizem que verão é melhor
não sairei sorrindo para ser aceitável
não serei feliz por decreto ou por conselho
não deixarei de beber em nome da saúde da ordem do bom senso
nem só de ordem vive o homem
viver não é sinônimo de continuar vivo
o bom senso é bom senso pra quem?
não admito autoridades.
porque alguém estaria acima de mim?
não me curvarei a titulados a fardados a abastados
e não escreverei o que eles querem para ser publicado
ou lido ou aceito ou estado
não me sujeitarei a um conceito alheio de limite
não serei o cara de sucesso a ser estampado como exemplo
não deixarei de escrever "no teu cu"para não chocar
os hipócritas de plantão
não abandonarei minha personalidade
porque alguém me julgou arrogante
não entendo humildade por deixar de ser-me
por que outros devem criar regras comportamentos e padrões
e eu tenho que aceitá-los e segui-los?
então eu não devo ser eu, devo ser outros?
minha glória é não estar no que me esperam
o que se pode esperar de mim?
o que se pode esperar dessa humanidade?
28 janeiro 2018
Séculos
um dia tudo que vive será cíclico
um dia tudo que é calma será sísmico
um dia tudo que é nada será épico
um dia tudo que é seca será cáustico
um dia tudo que é sangue será crístico
um dia tudo que é morte será mítico
um dia tudo que cala será crítico
um dia tudo que grita será trágico
um dia tudo que morre será cíclico
um dia tudo que é calma será sísmico
um dia tudo que é nada será épico
um dia tudo que é seca será cáustico
um dia tudo que é sangue será crístico
um dia tudo que é morte será mítico
um dia tudo que cala será crítico
um dia tudo que grita será trágico
um dia tudo que morre será cíclico
26 janeiro 2018
Tudo que no Resta
só na noite é possível a vida interior:
a noite é a melhor sensação
a noite que não termina
a não ser quando acaba além do dia
e ainda continua em dia sendo noite:
atravessar a noite é atravessar a alma
atravessar a noite é penetrar na vida
a vida que é massacrada durante o dia:
a vida em seu massacre do cotidiano
manhãs tardes da vida aniquiladas pelo trabalho
trabalho inútil por mais que se faça
trabalho de responsabilidades sociais pessoais e o diabo
trabalho pelo desejo de sucesso que em si é o fracasso
a vida é massacrada pelo que se DIZ vida
a noite é o último refúgio do que É vida
na noite a poesia a música ainda mantêm seu domínio
a arte distante da tagarelice estúpida do progresso
a noite sem fim que se funde na luz da aurora
e permanece em vida nos sonos e sonhos
o dia já não traz mais a esperança
o dia foi dominado pela mecanicidade exploratória
da civilização robótica
a Noite é o derradeiro império da liberdade
a Noite é o campo verde e final da reflexão e do sentimento
a Noite é tudo que nos resta
enquanto a humanidade dorme
é que o universo pode nos acontecer
a Noite é a última resistência da vida
como os animais que por serem caçados de dia
escolheram sair somente à noite
a Noite é a última chance ao mistério
a Noite é o verdadeiro triunfo da luz
(Na imagem, "Pescadores ao Mar", de William Turner)
a noite é a melhor sensação
a noite que não termina
a não ser quando acaba além do dia
e ainda continua em dia sendo noite:
atravessar a noite é atravessar a alma
atravessar a noite é penetrar na vida
a vida que é massacrada durante o dia:
a vida em seu massacre do cotidiano
manhãs tardes da vida aniquiladas pelo trabalho
trabalho inútil por mais que se faça
trabalho de responsabilidades sociais pessoais e o diabo
trabalho pelo desejo de sucesso que em si é o fracasso
a vida é massacrada pelo que se DIZ vida
a noite é o último refúgio do que É vida
na noite a poesia a música ainda mantêm seu domínio
a arte distante da tagarelice estúpida do progresso
a noite sem fim que se funde na luz da aurora
e permanece em vida nos sonos e sonhos
o dia já não traz mais a esperança
o dia foi dominado pela mecanicidade exploratória
da civilização robótica
a Noite é o derradeiro império da liberdade
a Noite é o campo verde e final da reflexão e do sentimento
a Noite é tudo que nos resta
enquanto a humanidade dorme
é que o universo pode nos acontecer
a Noite é a última resistência da vida
como os animais que por serem caçados de dia
escolheram sair somente à noite
a Noite é a última chance ao mistério
a Noite é o verdadeiro triunfo da luz
(Na imagem, "Pescadores ao Mar", de William Turner)
24 janeiro 2018
Ah, o Progresso...
“há quem passe pelo bosque
e só veja lenha para a fogueira” (Tolstói)
há quem sente na grama dos campos
e só veja escavações para minérios
(ah, o progresso)
há quem observe uma cascata de águas
e só veja inundações para hidrelétricas
(ah, mais progresso)
há quem mire no olhar do tigre
como um inimigo a ser massacrado
e substituído o mistério que vem da vida
pelo lucro que vem da máquina
(tanto progresso)
há quem olhe para o céu
e só veja seca ou chuva
para a lavoura de soja
(quanto progresso)
arrebentar planeta e humanidade
para encher os cofres de um punhado
dos homens que fazem
dos homens de bem
(quanto cansaço)
amém
e só veja lenha para a fogueira” (Tolstói)
há quem sente na grama dos campos
e só veja escavações para minérios
(ah, o progresso)
há quem observe uma cascata de águas
e só veja inundações para hidrelétricas
(ah, mais progresso)
há quem mire no olhar do tigre
como um inimigo a ser massacrado
e substituído o mistério que vem da vida
pelo lucro que vem da máquina
(tanto progresso)
há quem olhe para o céu
e só veja seca ou chuva
para a lavoura de soja
(quanto progresso)
arrebentar planeta e humanidade
para encher os cofres de um punhado
dos homens que fazem
dos homens de bem
(quanto cansaço)
amém
22 janeiro 2018
Catástrofes
I - para o planeta
(em sua condição atual)
a vida de um tigre
representa uma importância muito maior
do que a vida de um ser humano
II - a humanidade ainda acredita
que não será extinta
pelas catástrofes planetárias
porque está no topo:
mas as catástrofes planetárias
(e isso nos ensina a história)
são justamente para derrubar
o que está no topo
III - "como é acima é abaixo":
é claro que há uma sabedoria planetária\universal
ou haveria algum sentido
não haver sabedoria no planeta
mas ela ser encontrada de vez em quando
nos vermes que o habitam?
(em sua condição atual)
a vida de um tigre
representa uma importância muito maior
do que a vida de um ser humano
II - a humanidade ainda acredita
que não será extinta
pelas catástrofes planetárias
porque está no topo:
mas as catástrofes planetárias
(e isso nos ensina a história)
são justamente para derrubar
o que está no topo
III - "como é acima é abaixo":
é claro que há uma sabedoria planetária\universal
ou haveria algum sentido
não haver sabedoria no planeta
mas ela ser encontrada de vez em quando
nos vermes que o habitam?
19 janeiro 2018
Eu sou Doente
a maneira dos que controlam a sociedade
poder controlar aquilo que não controlam
é determinar tudo que foge ao controle
como doença:
se eu bebo além do social, eu sou doente
se eu fumo, eu sou doente
se eu não como o que é propagandeado
que deve ser comido, eu sou doente
se eu não ando de acordo com o padrão estabelecido
eu sou doente
se eu não faço exames regulares com um médico
eu sou doente
se não me interessa ser alguém
com um bom emprego e bem sucedido
eu sou doente (mental)
se eu tenho pensamentos gostos e comportamentos incomuns
eu sou doente (mental)
se eu não seguir a regra geral
de estudar se formar trabalhar
constituir família
ser um pilar da sociedade
ter boa casa bom carro
acumular bens
e morrer
eu serei doente (total)
enfim
se eu não me sentir vitorioso feliz alto astral sorridente
eu sou doente
para eles
eu só não serei doente
se eu estiver morto como eles
poder controlar aquilo que não controlam
é determinar tudo que foge ao controle
como doença:
se eu bebo além do social, eu sou doente
se eu fumo, eu sou doente
se eu não como o que é propagandeado
que deve ser comido, eu sou doente
se eu não ando de acordo com o padrão estabelecido
eu sou doente
se eu não faço exames regulares com um médico
eu sou doente
se não me interessa ser alguém
com um bom emprego e bem sucedido
eu sou doente (mental)
se eu tenho pensamentos gostos e comportamentos incomuns
eu sou doente (mental)
se eu não seguir a regra geral
de estudar se formar trabalhar
constituir família
ser um pilar da sociedade
ter boa casa bom carro
acumular bens
e morrer
eu serei doente (total)
enfim
se eu não me sentir vitorioso feliz alto astral sorridente
eu sou doente
para eles
eu só não serei doente
se eu estiver morto como eles
17 janeiro 2018
Sobremortos
I - na vida temos a ilusão da escolha
mas tudo nos é imposto:
desde os impostos
até nossos postos
até nossos gostos
II – porque nossa vida está condicionada de uma maneira
que não haja maneira de haver vida
e de tal forma
que não se saia da fôrma
III – viver tornou-se apenas sobre:
sobretudo uma sobrevida
de sobremortos
na busca de um sem sentido
sobrenada
mas tudo nos é imposto:
desde os impostos
até nossos postos
até nossos gostos
II – porque nossa vida está condicionada de uma maneira
que não haja maneira de haver vida
e de tal forma
que não se saia da fôrma
III – viver tornou-se apenas sobre:
sobretudo uma sobrevida
de sobremortos
na busca de um sem sentido
sobrenada
15 janeiro 2018
O Mal sou Eu
se eu escrever otimismos e autoajudas
não terei escrito coisa nenhuma
se eu disser que passarei a mão na cabeça do leitor
nem terei sido escritor
literatura não se faz com sorrisos e gestos de coraçãozinho
não se escreve sob céu azul
não se pensa sobre a vida assistindo a comédias românticas
literatura é o incômodo o soco no estômago
o ácido do limão o punhal revirando a ferida
a provocação para que se reaja
quero literatura que não me iluda com esperanças
mas que me jogue na cara a minha merda
que não me fale do meu sucesso ou qualidades
mas que me escancare meu verme e arranque minha máscara
a humanidade caminha para o abismo
porque ninguém quer enxergar o seu abismo particular
as pessoas reprimem sua dor suas debilidades seus erros
ao invés de aprender com eles
a literatura tem que me mostrar que o mal do mundo sou eu
que não é o meu vizinho mas sou eu quem destrói o planeta
quero literatura que me diga que estou morto
para que eu perceba que não vivo
não terei escrito coisa nenhuma
se eu disser que passarei a mão na cabeça do leitor
nem terei sido escritor
literatura não se faz com sorrisos e gestos de coraçãozinho
não se escreve sob céu azul
não se pensa sobre a vida assistindo a comédias românticas
literatura é o incômodo o soco no estômago
o ácido do limão o punhal revirando a ferida
a provocação para que se reaja
quero literatura que não me iluda com esperanças
mas que me jogue na cara a minha merda
que não me fale do meu sucesso ou qualidades
mas que me escancare meu verme e arranque minha máscara
a humanidade caminha para o abismo
porque ninguém quer enxergar o seu abismo particular
as pessoas reprimem sua dor suas debilidades seus erros
ao invés de aprender com eles
a literatura tem que me mostrar que o mal do mundo sou eu
que não é o meu vizinho mas sou eu quem destrói o planeta
quero literatura que me diga que estou morto
para que eu perceba que não vivo
13 janeiro 2018
Abaixo de Tempestades
I - o sofrimento dos animais me condói mais
que o sofrimento dos humanos adultos
porque os humanos em geral
sabem da culpa que têm (seja no que for),
os animais não só não sabem
como não a têm.
II - se necessito ouvir verdades
II - se necessito ouvir verdades
me vou à beira dos banhados
sentar atento junto aos sapos
por entre a lentidão dos cágados
e só abaixo de tempestades
se necessito ouvir verdades
III - alguém me colocou em meu devido lugar:
III - alguém me colocou em meu devido lugar:
foram as minhas gatas
elas vivem a vida delas em plenitude
sem precisar que alguém lhes diga coisa alguma.
a vida... e eu mal sei que tenho uma
11 janeiro 2018
Beiras de Abismo
você sabe quantos metros de suas próprias tripas
um compositor um escritor um poeta um pintor teve que arrancar
para conseguir criar a sua obra?
mas esta atual civilização de bosta
só reconhece o intérprete e ignora o criador:
é que o intérprete é quem aparece
não te importas com quanta solidão e amargura
quanta angústia e lama na cara
quanta ansiedade e noites em claro
quanto desespero e passos na merda
quanta beira de abismo
quanto suicídio
foram necessários para quem criou
a obra que tu vês como bela
só te importa a aparência
09 janeiro 2018
Eu Não sei Dançar
não tenho nenhum talento para ir mostrar que tenho algum talento
não consigo me relacionar com as pessoas
para dizer que faço alguma coisa
ou mendigar admiração
não tenho o dom das relações públicas
não tenho a habilidade de entrar em contato para me divulgar
sou um orgulhoso fechado antipático: detesto pedir favores
não consigo exibir sorrisos e ser legal
para que as pessoas gostem de mim
não tenho o jogo de cintura nem a flexibilidade
para me inserir nos meios sócio-culturais
jamais faria alguma concessão para ser aceito
não consigo me enfiar no meio de onde estão os outros
não sei sair do que sou e não ser eu.
eu só escrevo. e deu.
não consigo me relacionar com as pessoas
para dizer que faço alguma coisa
ou mendigar admiração
não tenho o dom das relações públicas
não tenho a habilidade de entrar em contato para me divulgar
sou um orgulhoso fechado antipático: detesto pedir favores
não consigo exibir sorrisos e ser legal
para que as pessoas gostem de mim
não tenho o jogo de cintura nem a flexibilidade
para me inserir nos meios sócio-culturais
jamais faria alguma concessão para ser aceito
não consigo me enfiar no meio de onde estão os outros
não sei sair do que sou e não ser eu.
eu só escrevo. e deu.
07 janeiro 2018
A Quinta Sinfonia de Beethoven
nas quatro notas iniciais
da 5º Sinfonia de Beethoven
(o famoso "tan tan tan taaannnn")
há uma verdade
e essa verdade é única e intransferível
de cada um que a sinta.
há uma verdade em toda outra grande música
ou mesmo em uma música nem tão grande
e há verdade no "Fausto" de Goethe
e há verdade na "Mona Lisa" de Da Vinci
verdades que não se impõem
mas que nos falam direto ao coração
sem necessitar do labirinto da mente
a verdade que há nas artes
é a mais verdadeira das verdades
porque permite ao homem ser verdadeiro
e não forçado a aceitar verdades
e nem obrigado a transmitir verdades
a verdade que há nas artes
é a que está no ser de cada ser
da 5º Sinfonia de Beethoven
(o famoso "tan tan tan taaannnn")
há uma verdade
e essa verdade é única e intransferível
de cada um que a sinta.
há uma verdade em toda outra grande música
ou mesmo em uma música nem tão grande
e há verdade no "Fausto" de Goethe
e há verdade na "Mona Lisa" de Da Vinci
verdades que não se impõem
mas que nos falam direto ao coração
sem necessitar do labirinto da mente
a verdade que há nas artes
é a mais verdadeira das verdades
porque permite ao homem ser verdadeiro
e não forçado a aceitar verdades
e nem obrigado a transmitir verdades
a verdade que há nas artes
é a que está no ser de cada ser
06 janeiro 2018
Soneto a Schubert
já pronto para ocasos iminentes
anoiteceu em tudo o que tu sentes
e cavalos galopam tuas horas
um sonho de mais vida te devora
que é o oposto de sublime ir em frente
há um alto nos avisos que pressentes
segredos que ameaçam ao ir embora
quem é que escuta teus sopros fatais?
que traz de oculto teu cântico hermético?
as fúnebres marchas são teus sinais...
quem me dera um catastrófico épico
para entender-te os anúncios finais
(No vídeo, o 2ª movimento da Sonata para Piano nº20 de Schubert, com Alfred Brendel ao piano.)
03 janeiro 2018
Trombeta
a céu que não descia
pairava um mas
aquém do verde negro
loucura em vão
um álcool lento a lento
do que mais fiz
um vento em som de adeus
do que não vou
caída aquela estrela
quando me vi
desejo insana a vida
fracasso e luz
sangrar venena a rosa
tristeza o sim
a noite sinto em ser
o que não sou
pairava um mas
aquém do verde negro
loucura em vão
um álcool lento a lento
do que mais fiz
um vento em som de adeus
do que não vou
caída aquela estrela
quando me vi
desejo insana a vida
fracasso e luz
sangrar venena a rosa
tristeza o sim
a noite sinto em ser
o que não sou
01 janeiro 2018
Novos-Anos
nos Anos-Novos as pessoas falam em mudanças
mas durante os Novos-Anos
fazem o que estão certas
que devem fazer:
não há mudança
se não se põe em dúvida o que se faz.
sempre achamos
que devemos fazer as mesmas coisas
e que somos o que fazemos
e que cumprimos nossos deveres
e os deveres são sempre os mesmos
e cumpridos sempre da mesma forma
mudança seria
admitir que não mudaremos
que cometeremos os mesmos erros
que continuaremos hipócritas
e que cultivaremos as aparências
ninguém nunca se questiona nada
e no fim das contas
o banquete de virada
sempre termina em marmelada
mas durante os Novos-Anos
fazem o que estão certas
que devem fazer:
não há mudança
se não se põe em dúvida o que se faz.
sempre achamos
que devemos fazer as mesmas coisas
e que somos o que fazemos
e que cumprimos nossos deveres
e os deveres são sempre os mesmos
e cumpridos sempre da mesma forma
mudança seria
admitir que não mudaremos
que cometeremos os mesmos erros
que continuaremos hipócritas
e que cultivaremos as aparências
ninguém nunca se questiona nada
e no fim das contas
o banquete de virada
sempre termina em marmelada
29 dezembro 2017
Imagem Criada Após uma Melodia de Brahms
imagem que vejo o que tu não foste
em teu não-ser é que estou:
a felicidade é o que imagino
no que não posso ver em ti
sou-me no reflexo de mim
que reflexiono em tua ausência:
tu só podes ser
se te sinto na minha consciência
imagem que vejo o que te projeto
o meu sonho é o real que tu não és
eu que sinto o teu além-sentir
e tu vives por sentires em mim
e tu sonhas quando vivo em ti
sou rio quando povoo a tua ausência
tu só podes ser
se eu te sou a tua essência
imagem que vejo o que desejo
há outro mundo em ti que não habitas:
sou eu que astro o teu éter
eu que violino o teu canto
uma lágrima ao que em ti silência
imagem do meu alto
a minha alma
compensa a tua ausência
em teu não-ser é que estou:
a felicidade é o que imagino
no que não posso ver em ti
sou-me no reflexo de mim
que reflexiono em tua ausência:
tu só podes ser
se te sinto na minha consciência
imagem que vejo o que te projeto
o meu sonho é o real que tu não és
eu que sinto o teu além-sentir
e tu vives por sentires em mim
e tu sonhas quando vivo em ti
sou rio quando povoo a tua ausência
tu só podes ser
se eu te sou a tua essência
imagem que vejo o que desejo
há outro mundo em ti que não habitas:
sou eu que astro o teu éter
eu que violino o teu canto
uma lágrima ao que em ti silência
imagem do meu alto
a minha alma
compensa a tua ausência
27 dezembro 2017
Frio
fazia geada fora
e dentro de mim...
isso foi há séculos
agora sou frio.
mas há séculos
passei pela floresta
e na floresta havia um rio
e no rio uma cachoeira
e ao lado uma grande pedra
e sobre a pedra caía ao eterno
um tênue fio de água
do lado esquerdo do rio...
isso foi há séculos
agora sou frio.
há dias
fui ver a grande pedra
não passava de um pequeno cascalho
o tênue fio de água
ao cair por séculos e séculos
a consumiu...
isso foi há dias
agora sou frio.
mas quem ali passou
durante esses séculos
não percebeu que a pedra
aos poucos agonizava
sob a água sem nenhum compromisso...
o Fim é isso.
e dentro de mim...
isso foi há séculos
agora sou frio.
mas há séculos
passei pela floresta
e na floresta havia um rio
e no rio uma cachoeira
e ao lado uma grande pedra
e sobre a pedra caía ao eterno
um tênue fio de água
do lado esquerdo do rio...
isso foi há séculos
agora sou frio.
há dias
fui ver a grande pedra
não passava de um pequeno cascalho
o tênue fio de água
ao cair por séculos e séculos
a consumiu...
isso foi há dias
agora sou frio.
mas quem ali passou
durante esses séculos
não percebeu que a pedra
aos poucos agonizava
sob a água sem nenhum compromisso...
o Fim é isso.
24 dezembro 2017
Mensagem de Natal 2017
as pessoas querem de mensagem de natal
qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança
um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas
votos vazios vazados de (in)verdades vagas
algo que fale em paz perdão jesus
a ser esquecido antes de ser lido
pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia...
hoje quando acordei um sabiá cantava na janela
e eu prestei atenção no seu canto:
essa foi a minha mensagem de natal
e não poderia haver melhor
qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança
um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas
votos vazios vazados de (in)verdades vagas
algo que fale em paz perdão jesus
a ser esquecido antes de ser lido
pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia...
hoje quando acordei um sabiá cantava na janela
e eu prestei atenção no seu canto:
essa foi a minha mensagem de natal
e não poderia haver melhor
21 dezembro 2017
Eu vi que havia Sangue
tateei na treva do vinho
o Prenúncio
e vi que havia Sangue em minha Espera
colerizavam nos meus olhos
horizontes de hemoglobinas
e lia em Goethe e em Blake
os sintomas rubros de uma fera
a culpa fulva
(eu disse fulva)
lacrimejou nos cortes do meu fígado
e vi que havia Sangue em minha Esfera
um sabiá golfejou tuberculoses
entre cantos dos cortes do meu Fígaro
sendo réquiens de Mozart pelas eras
degolei os vendavais
no auge da menstruação
e vi que havia Sangue em minha Ópera
semeei suas trompas pela terra
com a enxada das estrofes
furiando aquele incêndio com uma vela
pesadelei que sapos e cavalos
urinavam líquidos escarlates
e vi que havia Sangue em minha Véspera
pelas águas amarelas
ceifei das tulipas a mais bela
entre pulsos pulsares e vinagres
entre tragos sentidos e planetas
entre cosmos à espera
e abutres foiceando pelos ares
eu vi que havia Sangue em minha Estrela
o Prenúncio
e vi que havia Sangue em minha Espera
colerizavam nos meus olhos
horizontes de hemoglobinas
e lia em Goethe e em Blake
os sintomas rubros de uma fera
a culpa fulva
(eu disse fulva)
lacrimejou nos cortes do meu fígado
e vi que havia Sangue em minha Esfera
um sabiá golfejou tuberculoses
entre cantos dos cortes do meu Fígaro
sendo réquiens de Mozart pelas eras
degolei os vendavais
no auge da menstruação
e vi que havia Sangue em minha Ópera
semeei suas trompas pela terra
com a enxada das estrofes
furiando aquele incêndio com uma vela
pesadelei que sapos e cavalos
urinavam líquidos escarlates
e vi que havia Sangue em minha Véspera
pelas águas amarelas
ceifei das tulipas a mais bela
entre pulsos pulsares e vinagres
entre tragos sentidos e planetas
entre cosmos à espera
e abutres foiceando pelos ares
eu vi que havia Sangue em minha Estrela
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