motosserras
motocerros
motossangas
matamorros
matassorros
matadouros
maremotos
maresmortos
maresmudos
mardemonstros
mardemedos
mardemerdas
amazônico
malozônico
magrocórrego
holocáustico
agrotóxico
agrotúmulo
mundocômico
20 junho 2017
18 junho 2017
(Só) Trabalhe!
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer: "SÓ trabalhe!"
é a melhor forma de dominação:
quem só trabalha
não tem tempo para ler
não tem tempo para ouvir
não tem tempo para ver
não tem tempo para pensar
não tem tempo para sentir
para se inquietar
para questionar
para contemplar
enfim, não tem tempo para a vida
quem não vive
não se importa com o que vive
não se importa com o que sofre
não se importa com o que morre
a era pós-humana
a era pós-tudo
quer só máquinas quer só robôs
porque eles SÓ trabalham
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer "SÓ trabalhe!"
eles só não dizem só
porque não é só
isso
eles querem dizer: "SÓ trabalhe!"
é a melhor forma de dominação:
quem só trabalha
não tem tempo para ler
não tem tempo para ouvir
não tem tempo para ver
não tem tempo para pensar
não tem tempo para sentir
para se inquietar
para questionar
para contemplar
enfim, não tem tempo para a vida
quem não vive
não se importa com o que vive
não se importa com o que sofre
não se importa com o que morre
a era pós-humana
a era pós-tudo
quer só máquinas quer só robôs
porque eles SÓ trabalham
quando eles dizem: "Trabalhe!"
eles querem dizer "SÓ trabalhe!"
eles só não dizem só
porque não é só
isso
15 junho 2017
Duas Palavrinhas
I - do poema futuro:
em cadáverso
um cadáver
em cadáestrofe
uma catástrofe
II - do tempo:
o problema do tempo
é que um dia ele chega
e quando chega
o tempo que passou
não chegou:
o tempo é sempre
insuficiente
em cadáverso
um cadáver
em cadáestrofe
uma catástrofe
II - do tempo:
o problema do tempo
é que um dia ele chega
e quando chega
o tempo que passou
não chegou:
o tempo é sempre
insuficiente
13 junho 2017
Dos Homens sem Paz
I - a próxima guerra
dos homens sem água
será pela mágoa
de uma terra
acabada sem trégua
pelos homens sem garra e sem guelra
morridos à míngua
II – a espada
na terra cravada
será cruz
a cruz
no pulso empunhada
será espada
III – os homens só terão paz
quando a paz for daquelas
de cavar covas
dos homens sem água
será pela mágoa
de uma terra
acabada sem trégua
pelos homens sem garra e sem guelra
morridos à míngua
II – a espada
na terra cravada
será cruz
a cruz
no pulso empunhada
será espada
III – os homens só terão paz
quando a paz for daquelas
de cavar covas
11 junho 2017
Contradição
afirmam alguns
que a vida surgiu do nada
mas o que seria o nada?
de duas
uma:
I – a toda vida que há
surgiu do nada que não é?
mas como
se até na matemática
qualquer número
vezes zero
é sempre zero?
ou o nada
é só um nome que damos
às causas
que não alcançamos
em nossos limites?
II – ou então o nada
é o nada mesmo
e ponto.
nesse caso
a vida que vemos
também é um nada
se é um nada
não existe
ou existem nadas
que existem?
e quem vê o que não existe
se só acredita vendo
acredita no que não existe
como pode o que não existe
existir?
que a vida surgiu do nada
mas o que seria o nada?
de duas
uma:
I – a toda vida que há
surgiu do nada que não é?
mas como
se até na matemática
qualquer número
vezes zero
é sempre zero?
ou o nada
é só um nome que damos
às causas
que não alcançamos
em nossos limites?
II – ou então o nada
é o nada mesmo
e ponto.
nesse caso
a vida que vemos
também é um nada
se é um nada
não existe
ou existem nadas
que existem?
e quem vê o que não existe
se só acredita vendo
acredita no que não existe
como pode o que não existe
existir?
08 junho 2017
Soneto de um Último Século
vasta contemplação do fim do humano
surgiu-me entre beijos de horror e caos
sangue felídeo daqui até o Laos
lábios de som em desastre oceano
teu rosto não-visto em réquiem brahmiano
nunca acabou de acabar-me ao final
teu olho ainda sinto entre um temporal
e entre estes céus de vermelho romano
agora é tarde o distante do cedo
ergueu-se o fim e sonhei-te perplexo
violino e piano entre pânico e medo
mas em tuas mãos havia um reflexo
em teu cabelo ocultava um segredo:
o de que a morte é o mistério do sexo
surgiu-me entre beijos de horror e caos
sangue felídeo daqui até o Laos
lábios de som em desastre oceano
teu rosto não-visto em réquiem brahmiano
nunca acabou de acabar-me ao final
teu olho ainda sinto entre um temporal
e entre estes céus de vermelho romano
agora é tarde o distante do cedo
ergueu-se o fim e sonhei-te perplexo
violino e piano entre pânico e medo
mas em tuas mãos havia um reflexo
em teu cabelo ocultava um segredo:
o de que a morte é o mistério do sexo
06 junho 2017
Sobre a "Festa" no Instituto Evangélico : adiantei-me
O poeta, o escritor sem fama, que é o meu caso, é um cara chato. Como não tem mídia para o promover, tem que promover a si mesmo. Por isso que vou repostar um poema que publiquei aqui em 5 de abril, o qual expressa, em sua primeira parte, exatamente a situação ocorrida no Instituto Evangélico de Novo Hamburgo. Seu título é "dos Brasileiros e da Humanidade":
é tão grande e tão superior
que ele precisa escolher alguns como mais inferiores
para humilhar oprimir eliminar e pôr a culpa
e assim se sentir superior
II - a humanidade se cansou
(assim como quem já assistiu a tantos filmes de horror
que já nada mais choca ou surpreende):
coisa alguma faz efeito algum .
quando se chega a esse ponto
é preciso mudar a fundo
ou morrer e pronto
04 junho 2017
600 mil hectares A MENOS de reservas e milhões de hectares DESMATADOS perdoados
Com um Congresso formado principalmente por ruralistas, gigantes do agronegócio e por grandes empresários, e com um presidente que é apenas um fantoche na mão dos interesses econômicos, o que se pode esperar? Além, é claro do massacre dos direitos trabalhistas, devemos também esperar o massacre do nosso já massacrado meio ambiente.
Agora, Temer e o Congresso querem reduzir 600 mil hectares (o equivalente a QUATRO cidades de São Paulo) a Floresta Nacional do Jamanxim, no já muito desmatado estado do Pará, ou seja, na Amazônia. E quer fazer coisa semelhante em várias outras reservas na Amazônia. Se com todas essas reservas, já há uma grande devastação em muitas áreas da Amazônia, inclusive o ritmo do desmatamento só aumentou desde o início do (des)governo Temer, imaginem como será com a redução dessas reservas? Em poucos anos, teremos um ritmo alucinante de destruição na Amazônia como nunca antes visto. Quer saber mais sobre o assunto? Clique aqui.
Não bastasse isso, a turma do lucro a qualquer custo ainda anistiou, ou seja, perdoou crimes ambientais, com o seu nefasto Código (des)Florestal. Em 5 anos, foram perdoados 41 milhões de hectares desmatados em áreas que deveriam ser de CONSERVAÇÃO PERMANENTE. Ficou tudo por isso mesmo. Ou seja, natureza destruída e não restaurada. Mais sobre assunto aqui.
Para onde vamos, caro leitor? Tu sabes, o abismo é logo ali.
02 junho 2017
O (Des)sentido da vida
passamos a vida fazendo coisas
que não gostaríamos de fazer
para fazer as coisas que gostaríamos
mas que não teremos tempo de fazer
por ter feito tanto o que não gostaríamos
passamos a vida deixando de ser o que em fundo somos
com o objetivo único de ao fim um dia poder ser:
mas tanto deixamos de ser para poder ser
(para apodrecer)
que quando podemos ser
já não mais somos
que não gostaríamos de fazer
para fazer as coisas que gostaríamos
mas que não teremos tempo de fazer
por ter feito tanto o que não gostaríamos
passamos a vida deixando de ser o que em fundo somos
com o objetivo único de ao fim um dia poder ser:
mas tanto deixamos de ser para poder ser
(para apodrecer)
que quando podemos ser
já não mais somos
31 maio 2017
A Era da Superfície
I - época contraditória:
as pessoas estão tão sentimentais
e insensíveis:
se emocionam. mas só com merdas:
choram pelo mocinho da novela
cagam para o massacre do que é vida
II – a tarefa do artista
é a mais ingrata a mais inútil:
precisa atingir o verdadeiro sentimento humano
ou seja trabalha cada vez mais com o nada
seja de seu seja de outros
III - de modo que o artista
que mais alcança o coração alheio
é o que melhor esgota o seu
as pessoas estão tão sentimentais
e insensíveis:
se emocionam. mas só com merdas:
choram pelo mocinho da novela
cagam para o massacre do que é vida
II – a tarefa do artista
é a mais ingrata a mais inútil:
precisa atingir o verdadeiro sentimento humano
ou seja trabalha cada vez mais com o nada
seja de seu seja de outros
III - de modo que o artista
que mais alcança o coração alheio
é o que melhor esgota o seu
28 maio 2017
Sou a favor da Ditadura
Sou a favor da reforma da previdência, desde que eu, assim como as empresas, fique anos sem pagar impostos e depois seja perdoado.
Sou a favor da sonegação fiscal, desde que quando eu comprar um produto ou pagar por um serviço tenha o imposto que eu pago, que será sonegado, devolvido pra mim.
Sou a favor, assim como o deputado Jair Bolsonaro, que as mulheres ganhem menos por seus trabalhos (afinal, elas engravidam), desde que essas mulheres que ganham menos não sejam a minha mulher, a minha mãe ou a minha filha.
Sou a favor do combate às minorias menos favorecidas, que só incomodam mesmo, desde que não toquem naquilo em que eu sou minoria.
E, para encerrar, sou a favor da ditadura, desde que eu seja o ditador.
26 maio 2017
Assassinato
vida
é aquilo que nos deixa a cada instante
não porque o tempo passa e então se morre
mas porque o tempo passa
e não se vive
tempo
é aquilo que não se sabe
que se perde a cada instante:
pensa que não perde quem trabalha
mas só não perde quem tem alma
alma
é aquilo que se mata
a todo instante
é aquilo que nos deixa a cada instante
não porque o tempo passa e então se morre
mas porque o tempo passa
e não se vive
tempo
é aquilo que não se sabe
que se perde a cada instante:
pensa que não perde quem trabalha
mas só não perde quem tem alma
alma
é aquilo que se mata
a todo instante
25 maio 2017
Era da Velocidade
época da velocidade
a jato a vácuo
a comida comprada pronta
a morte a 200 por hora
em milésimos de segundos
o amor é questão de fundos
ou de voltas pelo mundo
só o tempo do beijo ou do sexo
sem volta e sem nexo
celular computador internet:
é a vida no agora e no antes
sem que haja adiantes
as correias dos motores mecânicos
poesia de sensor eletrônico
correrias dos centros urbanos
agonias dos supér(fluos) humanos
as mídias domando as massas
os seres extintos em massa
o instantâneo da desintegração nuclear
o descartável do coração e do cérebro
a ausência de sentidos vitais...
e o meu poema
que já durou tempo demais
a jato a vácuo
a comida comprada pronta
a morte a 200 por hora
em milésimos de segundos
o amor é questão de fundos
ou de voltas pelo mundo
só o tempo do beijo ou do sexo
sem volta e sem nexo
celular computador internet:
é a vida no agora e no antes
sem que haja adiantes
as correias dos motores mecânicos
poesia de sensor eletrônico
correrias dos centros urbanos
agonias dos supér(fluos) humanos
as mídias domando as massas
os seres extintos em massa
o instantâneo da desintegração nuclear
o descartável do coração e do cérebro
a ausência de sentidos vitais...
e o meu poema
que já durou tempo demais
21 maio 2017
Questão de Preço
não verás saída
para o que te selaram como preço
pois verás um cerco que te prensa
e um circo de esterco que te apreça
é só este charco que te acerca:
desde o que pensas
(que é o que te ditam as imprensas
a te enfiar pelo rabo)
até essa pressa
de consumir a todo apreço
o que te ditam as empresas
a transbordar pelo ralo
de modo que a nossa queda
é só questão de preço e passo
ao abismo
que se paga e a que se vai
e é inútil todo alerta:
todas essas eras de alarde
o tempo com desprezo
esmaga cedo ou tarde
para o que te selaram como preço
pois verás um cerco que te prensa
e um circo de esterco que te apreça
é só este charco que te acerca:
desde o que pensas
(que é o que te ditam as imprensas
a te enfiar pelo rabo)
até essa pressa
de consumir a todo apreço
o que te ditam as empresas
a transbordar pelo ralo
de modo que a nossa queda
é só questão de preço e passo
ao abismo
que se paga e a que se vai
e é inútil todo alerta:
todas essas eras de alarde
o tempo com desprezo
esmaga cedo ou tarde
19 maio 2017
Temer, JBS, Sartori, Judiciário...
Não adianta, hoje tem que se falar em política. Eu tenho quatro pontos a chamar a atenção sobre a história toda. Vamos a eles:
1º - Tem muita gente bradando "Fora Temer", que o cara tem que sair, que não gosta do seu governo, mas, no entanto, porém, contudo, todavia, está gostando e apoiando TODOS os projetos que o seu governo manda para ser aprovado no Congresso: congelamento de investimentos, Terceirização, Reforma Trabalhista, enfim, está achando tudo muito certo, tudo muito bom. Então, como que quer que o Temer saia? Ou é burrice ou é hipocrisia.
2º - Fala-se muito do PT do Lula, agora, do PSDB do Aécio. Mas e o PP da Ana Amélia e o PMDB do Sartori... estão esquecendo? Então, vou refrescar a memória. Esses dois partidos receberam juntos 104 milhões da JBS e da BRF em 2014. Só o Sartori, recebeu para sua campanha mais de 2 milhões e meio. Foi mais que os 2 milhões do Aécio. Ah, mas foi para a campanha. Dizem. Seja como for, recebeu. Deem uma pesquisada.
3º - Observem esse trecho do "Aúdio do Temer", divulgado hoje:
"Temer - O Eduardo (Cunha) resolveu me fustigar... Não tem nada a ver com a defesa. O MORO INDEFERIU 21 perguntas dele que não tem nada a ver com a defesa dele."
Deixa ver se eu entendi: O Moro NÃO PERMITIU 21 perguntas do Cunha que teriam a ver com Temer? É isso? Por que será? Talvez porque o Cunha também tivesse as respostas...
4º - Ainda com relação ao áudio, o Joesley da JBS fala que tem 2 juízes e um procurador nas suas mãos. Ou seja, está confessando um crime ao PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Depois, o presidente, o Temer, rebateu que NÃO ACREDITOU no Joesley. Não acreditou? Essa é a função de um Presidente da República: ouvir de um megaempresário um crime em que se envolve o Poder Judiciário do país e "não acreditar" e deixar tudo por isso mesmo? Mas o pior não é isso. O pior é um indivíduo TER A INTIMIDADE de confessar um crime ao presidente de um país na maior tranquilidade, sabendo, que, sendo verdade, nada lhe aconteceria. Talvez, porque sabia que o outro também é como ele...
Falando em juízes, procuradores na mão de criminosos, não está na hora de se investigar o Judiciário brasileiro também? E quem é que investiga?
17 maio 2017
Progresso e Tripas
eu pouco fiz que me tornasse lido
tudo que digo não pretende o mundo
tudo não fundo nem me importa tê-lo
então meu selo é como um vinho extinto
sonho já ido com estas lentas mortes
que de tão fortes nem nos dizem nada
como na estrada aquele bucho aberto
que de tão perto nem nos é mais visto:
gato-mourisco atropelado a um canto,
o humano pranto é bem mais podre e findo
tudo que digo não pretende o mundo
tudo não fundo nem me importa tê-lo
então meu selo é como um vinho extinto
sonho já ido com estas lentas mortes
que de tão fortes nem nos dizem nada
como na estrada aquele bucho aberto
que de tão perto nem nos é mais visto:
gato-mourisco atropelado a um canto,
o humano pranto é bem mais podre e findo
15 maio 2017
das Desditas que Desdigo
dos decursos dos desígnios
das delongas das demoras
dos despistes das desgraças
das desforras das derrotas
dos descuidos das demências
dos dizeres dos distantes
dos deságues dos desejos
nos divinos dos destinos
das delongas das demoras
dos despistes das desgraças
das desforras das derrotas
dos descuidos das demências
dos dizeres dos distantes
dos deságues dos desejos
nos divinos dos destinos
13 maio 2017
das Artes
só há compreensão
de alma para alma:
quem não a tem em si
não a percebe no que é outro
nem nos seres
nem nas coisas
nem nas artes
nem no todo
nem nas partes
somente o que tem alma
capta o que de alma
há no que é
(para quem não a tem
não há nada)
alguns questionarão:
“mas...
de que tipo de alma ele fala?”
para quem a tem
não é preciso que se diga
já se entende
com o que se cala
de alma para alma:
quem não a tem em si
não a percebe no que é outro
nem nos seres
nem nas coisas
nem nas artes
nem no todo
nem nas partes
somente o que tem alma
capta o que de alma
há no que é
(para quem não a tem
não há nada)
alguns questionarão:
“mas...
de que tipo de alma ele fala?”
para quem a tem
não é preciso que se diga
já se entende
com o que se cala
11 maio 2017
O uruguaio Benedetti, sobre diretores de empresas e sobre médicos
O uruguaio Mario Benedetti (1920-2009), na charmosa foto acima, escreveu algumas das grandes páginas da literatura latino-americana. Várias delas estão na sua obra-prima "A Trégua", romance publicado em 1960 e posteriormente filmado, concorrendo ao Oscar de melhor filme estrangeiro e que assombra por sua profundidade psicológica a agudeza na expressão e análise do drama humano. Extraí dois trechos da obra em questão, que me chamam a atenção pela sua aplicabilidade à realidade brasileira atual. Os trechos em questão referem-se a diretores de empresas e a médicos.
Sobre diretores de empresas:
Imagino que eles, quando se refestelam em suas poltronas estofadas da sala da Diretoria, devem se sentir quase onipotentes, pelo menos tão perto do Olimpo quanto deve se sentir uma alma sórdida e negra. Chegaram ao máximo. (...) Para esta pobre gente, o máximo é chegar a sentar em cadeiras presidenciais, experimentar a sensação (que para outros seria por demais incômoda) de que alguns destinos estão em suas mãos, ter a ilusão de que resolvem, de que dispõem, de que são alguém. Hoje, contudo, enquanto os olhava, não conseguia considerar suas caras como pertencentes a Alguém, mas sim a Algo. Parecem-me coisas, não pessoas. (...) Mas são pessoas. Não parecem, mas são. E pessoas dignas de uma odiosa piedade, da mais infamante das piedades, porque a verdade é que eles formam para si uma casca de orgulho, um invólucro repugnante, uma sólida hipocrisia, mas no fundo são ocos. Asquerosos e ocos. E padecem da mais horrível variante da solidão: a solidão de quem não tem sequer a si mesmo.
Sobre médicos:
Há médicos que gostam de aterrorizar, ao menos de anunciar a proximidade de terríveis complicações, de perigos indefinidos e implacáveis. Depois, se a realidade não é tão sinistra, sobrevém uma grande sensação de alívio, e o alívio familiar é, no mais das vezes, o melhor clima possível para pagar sem aborrecimento, até com gratidão, uma conta ABUSIVAMENTE ALTA. Quando alguém pergunta ao médico, com humildade, quase com vergonha, sentindo claramente o constrangimento de tocar em um tema tão vulgar e grosseiro diante de quem sacrifica sua vida e seu tempo pela saúde do próximo: “Quanto é, doutor?”, ele sempre diz, acompanhando suas palavras com um gesto generoso e compreensivo de desconforto: “Por favor, amigo, logo mais tratamos desse assunto. E não se apresse, pois comigo não haverá problemas.” (...) Depois, quando chega finalmente a hora de discutir o assunto, vem a conta gorda, em separado.
08 maio 2017
Sou Péssimo
as pessoas querem ser agradadas acariciadas justificadas
querem autoajudas que lhe digam que suas merdas
não fedem tanto
e que podem seguir cagando ad infinitum
até transbordar o planeta
as pessoas querem ler coisas belas-bonitas
daquelas de se pendurar em paredes
palavras-vassouras que varrem seu próprio horror
para debaixo do tapete em farrapos da existência
as pessoas querem palavras light
que podem ser digeridas-lidas durante banquetes
que não pesem nem no estômago nem na consciência
as pessoas querem palavras legais-boazinhas
de sorrisinho humilde como mordomo de palácio
que entregam cartinhas e flores
em bandejas de ouro
enfim, as pessoas até gostam
de escritores-poetas
desde que façam literatura de enfeite...
ok, é tudo mesmo tão lindo!
mas ainda bem que sou péssimo nisso
querem autoajudas que lhe digam que suas merdas
não fedem tanto
e que podem seguir cagando ad infinitum
até transbordar o planeta
as pessoas querem ler coisas belas-bonitas
daquelas de se pendurar em paredes
palavras-vassouras que varrem seu próprio horror
para debaixo do tapete em farrapos da existência
que podem ser digeridas-lidas durante banquetes
que não pesem nem no estômago nem na consciência
as pessoas querem palavras legais-boazinhas
de sorrisinho humilde como mordomo de palácio
que entregam cartinhas e flores
em bandejas de ouro
enfim, as pessoas até gostam
de escritores-poetas
desde que façam literatura de enfeite...
ok, é tudo mesmo tão lindo!
mas ainda bem que sou péssimo nisso
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