27 setembro 2015

A agricultura no Brasil devastou um estado de SP em 10 anos

É o que afirma as mais recentes estatísticas divulgados pelo IBGE. Confira a matéria na íntegra aqui. Tais informações geralmente são subestimadas pela população em geral, e mesmo as pessoas mais cultas e críticas pouca atenção dão a tais fatos. E mesmo que se pensasse mais no assunto, o que poderia ser feito?

Devastar um território quase do tamanho do estado de São Paulo em apenas 10 anos é muita coisa, é um absurdo, na verdade. E isso foi apenas o que devastou a agricultura, a principal responsável, correspondendo a 65% do total de florestas e outras formações vegetais consumidas entre 2000 e 2010 no Brasil. Realizando-se uma operação básica de matemática, e se considerarmos que o Brasil ainda possui 50% de seu território preservado, mantendo-se esse ritmo de destruição, o Brasil teria sua natureza TOTALMENTE DESTRUÍDA EM TORNO DE 100 ANOS.

Quais as consequências dessa catástrofe? A verdade é que ninguém sabe. Mas já podemos vislumbrar algumas tragédias que estão deixando seus obscuros sinais. Estiagens cada vez mais prologadas, fim dos recursos hídricos, consequente impossibilidade de se produzir energia elétrica, aumento de temperatura e outras alterações climáticas, esterilização e desertificação de terras férteis, extinção em massa da biodiversidade... Isso é só o que podemos vislumbrar. Certamente, o que ainda não podemos deverá ser bem pior.

Pouco, bem poucos, dispensam real atenção ao fato, pois, numa sociedade imediatista e superficial, o que importa é suprir as "necessidades" atuais da população. Não se pensa nas consequências. Pensa-se no dinheiro, no lucro imediato. Alegam que a humanidade aumenta e precisa ser alimentada. Realmente. Mas não se leva em conta o "até quando?" e o "de que forma?" Já escrevi aqui, e não foi só uma vez, que em breve, dentro de poucas décadas, haverá um redução drástica, para não dizer catastrófica, na população humana mundial.

Para encerrar:


Mensagem aos Extintos


seres que vos extinguis:
a que oculto
o que mistério
vos leva...?
o que vos leva,
em que mistério
é oculto?...

quando vos fordes
ocultai convosco
meu fracasso humano
quando partirdes
arrastai com força
meus ausentes planos
e meu longínquo sangue
despejai ao longe

o que pulsou comigo
não deixeis que siga
na desalada vida
e o desperado  verso
que perambula e erra
escondei da terra

é o que me esperanço
nos confins
a que vos destinais...

que eu me esqueça do existe
em vossos eternos jamais

mas guardai
em almas
esta arte dos tardes

para quando voltardes

25 setembro 2015

Senha, Casa, Estrada

sei que tenho um cofre
do qual perdi a senha
e só me vem a senha em sonho
mas quando sonho não me sei
e nem sei o que me sofre

sei que tenho um endereço
do qual perdi a casa
que só me vem quando ao acaso
mas é no ocaso que me erro
e nem sei se me mereço

sei que tenho um campo e rio
do qual perdi a estrada
e só me vem quando sou nada
mas só sou nada quando sou-me
e nem sei do meu vazio

para que eu existisse
deixei de ser:
antes eu fosse
sem existir

23 setembro 2015

O Desgoverno de Sartori e as Causas da Revolução Francesa: uma comparação

Já comentei que se o RS fosse a França, com os desmandos, incompetência e injustiças deste governo Sartori, teríamos aqui uma outra Revolução Francesa. Então, façamos um comparativo entre as causas da Revolução na França (RF), que ocorreu entre 1789 e 1799, com o que vem ocorrendo no RS nos últimos meses.

Causa 1 da RF:

Descontentamento do Terceiro Estado, a saber, os trabalhadores urbanos e camponeses e a classe média, que era a grande maioria da sociedade, com os privilégios da nobreza e do clero.

Hoje no RS: 

Descontentamento dos servidores públicos e da população em geral com os privilégios dos deputados, altos membros do Poder Executivo e Judiciário, inclusive recebendo aumentos enquanto os servidores dos serviços básicos têm seus salários parcelados.

Causa 2 da RF:

Os integrantes do Terceiro Estado deviam pagar altos impostos, enquanto clero e nobreza eram isentos. Esta disparidade gerava muita revolta em grande parte da população.

Hoje no RS:

Ontem mesmo foi aprovado o aumento do ICMS, um imposto perverso, que acaba sendo sempre descontado das camadas economicamente mais empobrecidas da população. Enquanto isso, grandes empresas sonegam sem nenhum combate ou cobrança, e grandes fortunas e igrejas altamente lucrativas, no Brasil inteiro, não pagam imposto.

Causa 3 da RF:

Quase todas as terras do território francês estavam nas mãos da nobreza, fato que também gerava muita revolta na população.

Hoje (e historicamente) no RS:

Os grandes latifúndios são "tradições inquestionáveis" no território gaúcho, principalmente na Metade Sul do estado.

Causa 4 da RF:

Elevados gastos da nobreza com luxo (festas, banquetes, roupas caras, joias etc.), enquanto grande parte da população vivia em péssimas condições de vida.

Hoje no RS:

Bom, precisa eu relatar os "gastos" de deputados, membros do alto escalão do governo, os "auxílios" para juízes etc.? Basta lembrar que os gastos com combustíveis da Assembleia Legislativa estão sendo maiores do que os de toda a frota da Brigada Militar. Aliás, da Brigada, que ontem espancou manifestantes que lutavam pelos direitos dos próprios brigadianos.

Nem precisa de outras causas. Essas já seriam suficientes para uma revolução. Mas os gaúchos em geral, que tanto falam em Revolução Farroupilha, Federalista, o diabo, parecem agora aceitar todos esses desmandos goela abaixo. 

E lembrando os ideais da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. O que diz na bandeira gaúcha: Liberdade, Igualdade, Humanidade. 



21 setembro 2015

das Vitrines da Aparência

no mundo atual
não há espaço
para o mundo interior:
a psique foi asfixiada
entre o ar seco das vitrines
da aparência

por isso
não mais falo
do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente
por si mesmo
e nem quer saber do outro?

só há sentido no ser
do sentimento expresso
quando o outro
o reflete e o encontra
expresso no seu ser

mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum

18 setembro 2015

Três Garrafas de Vinho

- bebê-lo
é olhar o sou 
do que não tenho
pelo lado oposto
daquele outro gosto
do teu olhar não posto
no espelho

- no vinho
o que é que se afoga?
não se afoga
se afaga
um fogo que é uma faca
afogueada em sangue
de música e ressaca

- há o branco e há o rosa
e há aquele em que não minto
mas o melhor do beijo
é quando ele fica tinto

16 setembro 2015

Reconheço que me degrado

o que me resta de alma
mal dá pra cobrir
um vão do ente
do meu ser em vão

e vão todas as gentes
no vácuo de ser humano
que é vagar para o abismo
ano após ano
asno após asno
ismo após ismo

reconheço que desagrado
e que não toco
nenhum vão do que se sente
com meu sonho em não

reconheço que me degrado
lago de sangue e caos
e outros vazios e tals

mas se essa praga
é o que chamam Evolução
fico com minha busca
(como quem dirige um fusca)
por um resto de consciência
no que se diz Decadência

14 setembro 2015

Para acabar com a Crise? Taxar as grandes fortunas e combater a sonegação

Não é de hoje que venho comentando sobre o assunto. O Brasil, todos sabemos, é um dos países de maior desigualdade social do mundo. Não é que não temos dinheiro ou riquezas. Temos de sobra. O problema, óbvio, é que estas riquezas produzidas se concentram nas mãos de muito poucos, que nunca deixam de lucrar, seja na crise ou fora dela, que, por terem o dinheiro, têm o poder, e, tendo o poder, impedem que a situação se modifique. Todos sabem disso. Ninguém fala nada. Por quê? É só verificar, por exemplo, a porcentagem de ricos entre nossos deputados que fazem e votam as leis.

O problema é que quem ganha muito dinheiro ganha em cima da exploração de outros. Para alguém ganhar, alguém tem que perder. É matemático. Se alguns têm dinheiro demais, é porque outros não têm quase nada. Já escreveu Balzac: "Por detrás de uma grande fortuna há um crime". E um desses crimes é a sonegação. Sonegação é roubo. Alguns dizem que é justo sonegar porque se paga imposto em demasia. Se o imposto fosse devolvido, no momento da compra, ao consumidor, que é quem realmente paga essa demasia de imposto, tudo bem. Mas o sonegador não devolve. Embolsa dinheiro que não é dele. Ou seja, rouba. Segundo Amir Khair, Mestre em Finanças Públicas, a taxação de grandes fortunas renderia em torno de 100 bilhões de reais aos cofres públicos todos os anos. Confira AQUI.


Por esses e outros motivos, taxar as grandes fortunas é muito mais que um ato de coragem e vontade política. É um ato de justiça que o povo brasileiro merece há muito tempo. Mas o mais triste é que ainda há pobres que são contra tais medidas. Culpa da ignorância, é claro. Durante séculos foram condicionados a "adorar" o seu "senhor", o patrão, que lhes dá uma "oportunidade" de trabalhar, como se o patrão não dependesse do trabalhador para construir sua riqueza. Foram adestrados a amar quem os explora e a beijar o chicote que lhes açoita. Encerro com um trecho de um texto do escritor, professor e jornalista, Juremir Machado da Silva, que pode ser conferido na íntegra AQUI:

"Na lista (da Operação Zelotes) estão empresas gaúchas: RBS, Gerdau e Marcopolo. A RBS teria pago R$ 15 milhões por fora para não ter de entregar R$ 150 milhões ao fisco. O rombo apurado pela Zelotes bota o da Lava-Jato no chinelo: mais de R$ 600 bilhões.
A Zelotes mexe num pulgueiro. Muita gente boa acha que sonegar não é crime. Nas manifestações verde-amarelas contra Dilma, em março, abril e agosto, havia cartazes defendendo que sonegar é ato de legítima defesa. O assunto dificilmente chega às manchetes dos telejornais globais. Mesmos os parlamentares não se ocupam dele. A grande exceção é deputado gaúcho Paulo Pimenta (PT)."



12 setembro 2015

“Viver é não conseguir.” (Variações sobre um tema de Fernando Pessoa)

I – é inútil dizer à frente:
de nada adianta
qualquer coisa que se adiante

II – o mundo é lodo
do tolos todo

III – qualquer palavra que eu diga
é pra(lava) doida varrida

IV – qualquer verso que eu faça
não vale mais
que um gole de vinho
whisky
cachaça

V – quanto mais se insere com todos
mais não se passa de nada
mas sabe ver o seu nada
quem se entende com o Todo

VI – o mundo é mesmo só isso:
para que se consiga
uns secam os mares com redes
outros pescam lambaris de caniço

VII – quem acha que conseguiu
não percebe que a vida é vento:
ou é porque não sabe
que tem o que não quis
ou é porque não vê
que o que quer é só momento





10 setembro 2015

NOTA DO PRESIDENTE DO SINDISAÚDE DE SANTIAGO E REGIÃO

PRESIDENTE DO SINDISAÚDE É JULGADO INOCENTE
Eu, JOSÉ AIRTON FUNGHETO CLERICE, técnico de enfermagem do Hospital de Caridade de Santiago e PRESIDENTE DO SINDICATO DOS TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE DE SANTIAGO E REGIÃO, brasileiro, casado, pai de dois filhos, com residência fixa, venho a público, através desta Nota, DEPOIS DE SER ACUSADO INJUSTAMENTE E DE NÃO ME MANIFESTAR DURANTE DOIS ANOS ATÉ QUE A AÇÃO FOSSE DEFINITIVAMENTE JULGADA, para dizer o seguinte: Que no dia 17/06/2015, EM DECISÃO UNÂNIME, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (TJRS), nos autos do processo nº 71005274352, através de sua Turma Recursal, ABSOLVEU-ME DA ACUSAÇÃO a que fui submetido de que no dia 17/06/2013 eu teria agredido uma paciente internada no setor de psiquiatria do Hospital de Caridade de Santiago. A falsa acusação curiosamente ocorrera depois que assumi a presidência do Sindisaúde. Se não bastasse isso, sem o mínimo de provas, fui “condenado” em primeira instância por alguns veículos de comunicação, pois o caso teve ampla divulgação, causando-me vergonha, constrangimento e exposição desnecessária perante minha família, meus filhos, meus amigos, bem como perante a comunidade santiaguense e regional. Na decisão supracitada, por UNANIMIDADE, os Relatores DERAM PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO APRESENTADO PELA DEFESA para me ABSOLVER da falsa acusação de que eu teria agredido com tapas uma paciente do HCS, seguindo a tese do Relator-Presidente, Dr. EDSON JORGE CECHET, de que “A partir do exame dos depoimentos colhidos em juízo pode-se perceber que a vitima deu a cada testemunha uma versão um pouco diferente sobre como supostamente teria ocorrido à contravenção.” Além disso, referiram: “Afora tais contradições, importante frisar o registro dos documentos juntados pela defesa, referente às evoluções de enfermagem... porque demonstram o quadro delicado em que se encontrava a vítima, que inclusive padecia de surtos psicóticos.”, e continuaram: “a própria vítima disse, em juízo, que durante seus períodos de crise não recordava bem dos fatos que se sucediam, de modo que se torna temerário, a partir de tal assertiva, confirmar que o denunciado tenha, de fato, praticado a contravenção penal descrita na denúncia”. DA DECISÃO NÃO CABE MAIS RECURSO. Portanto, esta só veio a comprovar ainda mais o meu caráter e os mais de 25 anos de trabalho honesto por onde laborei inclusive depois que assumi a presidência do SINDISAÚDE, ocasião em que passei a ser alvo de injúrias e difamações. Diante disso, só quero agradecer àqueles que confiaram em mim e me apoiaram, pois sabiam da minha honestidade e da minha conduta em todos os trabalhos por mim realizados.
José Airton Fungheto Clerice

09 setembro 2015

De quem é a culpa da dívida do RS? Por que Sartori não deixa faltar dinheiro aos privilegiados?

O gráfico acima foi publicado no site Clic RBS, mas sem muita divulgação. Percebam em quais governos a dívida gaúcha REALMENTE cresceu. Um deles foi o governo da ARENA durante a ditadura (de onde surgiram partidos como PP e Dem), e outro foi o governo de Britto, do PMDB, quando o Sartori era líder do governo na Assembleia. De quem é a culpa mesmo da dívida? Aproveitando, deixo, abaixo, trecho de um texto do escritor, professor e jornalista Juremir Machado da Silva, que pode ser conferido na íntegra AQUI.


"Por que não foram congelados os salários de deputados e secretários?


Por que não se diminuiu o repasse ao Judiciário, que mantém seus privilégios como auxílio-moradia para quem tem casa?

O judiciário cumpre a lei à risca quando se trata do “seu”. Mas deixa descumprir a lei do piso do magistério.

Os poderes são independentes? O dinheiro entra pelo caixa do executivo. Se o executivo pode descumprir a lei do piso e do pagamento integral dos salários alegando falta de recursos, por que não pode descumprir a lei do repasse ao judiciário pelo mesmo motivo? Falta dinheiro para o funcionalismo porque antes foram pagos os privilégios da casta dominante.

O governo do RS tem um ideólogo neoliberal, o economista Darcy Francisco dos Santos.

Ele tem um plano para o Estado: o desmanche.

É preciso que a crise seja a mais grave possível para que o desmonte se justifique.

Um secretário já disse em off: quanto pior, melhor.

Um deputado já lamentou: como é que deixaram aprovar essa lei que exige plebiscito para privatizações de estatais.

O ideólogo neoliberal do governo quer mudanças na previdência do Estado. Esse é o ponto central.

Ao contrário do que se diz, o governo sempre teve um projeto: diminuir radicalmente o tamanho do Estado."

05 setembro 2015

Sete Sinais dos Tempos


I - no antigo
se aparecia nos quadros e fotos
com nobre seriedade
desde o camponês até a imperatriz

agora
para tirar uma foto
tem que sair com cara de idiota
fingindo ser feliz

II - no antes
se acordava
com cantares de galo

agora
é com alarmes de carro

III - houve uma época
em que se perguntava o nome primeiro
e se beijava depois
(fazia algum nexo...)

agora
se pergunta o nome depois
do sexo

IV - naqueles dias
sábios
eram um Dante
um Kant
um Victor Hugo

agora
um Google

V - houve uma era
em que  se tinha que pensar 
por si próprio:
era duro...

agora
a mídia
faz por nós
esse serviço sujo

VI - e dizer que houve um tempo
em que se ia para as matas
ver animais

agora
se vai pras baladas
ver animais

VII - antes
poesia era moda

agora
é foda.

(Na foto, Frédéric Chopin, em 1849.)

03 setembro 2015

O que é se Importar?

o que é se importar?
é se achar importante?
ou talvez se vir
de algum lugar que não
a outro lugar que sim?
se importar
é comprar de fora
a si próprio?

ou será
que se importar
é deixar de portar
o que nunca se teve?
ou é ainda
não saber se portar?

ou talvez
seja abrir portas
ao contrário
ou deixar de abrir
as portas
que nunca se viu?

afinal
o que é se importar?

seja o que for
eu não me importo.

01 setembro 2015

Sobre a Volta da Ditadura e sobre Outras Submissões

ser mandado
é mais fácil
do que ter pensado
é mais cômodo ter um chefe
do que ter uma ideia

o que a massa quer
é quem lhe diga o que fazer
quem lhe aponte aonde ir
quem lhe dê razões sentidos
(tudo mastigado)
para o sem-sentido de se estar vivo

quer quem lhe pegue pelo braço
quem lhe use a sua boca
para não ter que falar nada
quem decida qual o lado
qual é certo e qual errado

o que a massa quer
é não ter que querer
mas ter quem queira em seu lugar
e lhe diga: assim/assado

enfim
a massa
quer ser amassada



30 agosto 2015

Mensagem aos Extintos

seres que vos extinguis:
a que oculto
o que mistério
vos leva...?
o que vos leva,
em que mistério
é oculto?...

quando vos fordes
ocultai convosco
meu fracasso humano
quando partirdes
arrastai com força
meus ausentes planos
e meu longínquo sangue
despejai ao longe

o que pulsou comigo
não deixeis que siga
na desalada vida
e o desperado  verso
que perambula e erra
escondei da terra

é o que me esperanço
nos confins
a que vos destinais...

que eu me esqueça do existe
em vossos eternos jamais

mas guardai
em almas
esta arte dos tardes

para quando voltardes

(Na imagem, o último Tigre do Cáspio, espécie extinta nos anos 60.)



28 agosto 2015

"Em nada me risquei do rol dos ignorantes." Goethe

Johann Wolfgang Von Goethe (1749 - 1832), cujo aniversário se comemora hoje, foi o maior gênio da literatura alemã, e um dos maiores da literatura universal, o grande precursor do Romantismo. Em sua obra máxima, Faust (Fausto), um dos pontos mais altos da arte, expressou praticamente todas as questões essenciais que assombram a humanidade, cogitou sobre tudo,  e expôs como raros o drama da eterna busca do homem pelo conhecimento. 

Mas o que é o conhecimento? É isso que Goethe, dramaticamente, questiona. É acumular leituras sobre leituras, investigar todas as coisas pelo alcance das  "lentes" da ciências ou o Conhecimento vai ainda muito além? O texto abaixo, extraído do quadro II, Cena I do 1º Fausto (pois há o 2º, além do chamado "Fausto Zero", uma espécie de ensaio para a obra), apresenta-nos o trágico dilema.

Fausto I - Quadro II - Cena I (Trecho)

Ao cabo de escrutar com o mais ansioso estudo
filosofia, e foro, e medicina, e tudo
até a teologia... encontro-me qual dantes;
em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Mestre em artes me chamo; inculco-me Doutor;
e em dez anos vai já que, intrépido impostor,
aí trago em roda viva um bando de crendeiros,
meus alunos... de nada, e ignaros verdadeiros.
O que só liquidei depois de tanta lida,
foi que a humana inciência é lei nunca infringida.
Que frenesi! Sei mais, sei mais, isso é verdade,
do que toda essa récua inchada de vaidade:
lentes e bacharéis, padres e escrevedores.
Já me não fazem mossa escrúpulos, terrores
de diabos e inferno, atribulados sonhos
e martírio sem fim dos ânimos bisonhos.

Mas, com te suplantar, fatal credulidade,
que bens reais lucrei? Gozo eu felicidade?
Ah! nem a de iludir-me e crer-me sábio. Sei
que finjo espalhar luz, e nunca a espalharei
que dos maus faça bons, ou torne os bons melhores;
antes faço os bons maus, e os maus inda piores.
Lucro, sequer, eu próprio? Ambiciono opulência,
e vivo pobre, quase à beira da indigência.
Cobiço distinguir-me, enobrecer-me, e vou-me
com a vil plebe confuso, à espera em vão de um nome.
E chama-se isto vida! Os próprios cães da rua
não quereriam dar em troco desta a sua.

26 agosto 2015

O absurdo (des)governo de Sartori poderia ser tema de um romance de Kakfa

Franz Kafka, gênio da literatura, é considerado o Rei do Absurdo. Romances como "O Processo" e "O Castelo" são bíblias da Literatura Fantástica. Ao mesmo tempo, constituem libelos contra a opressão, a tirania e a injustiça da vida moderna. Em "O Processo", por exemplo, um homem é acusado, processado e julgado por alguma espécie de crime que ele nunca vem a saber qual é. Ele é julgado sem saber o que fez. Nem mesmo seu advogado fala a ele. O romance se desenvolve numa atmosfera de pesadelo e irracionalidade, onde absurdos acontecem como se fossem absolutamente normais.

Parece o que vivemos hoje no RS, com o governo de Sartori. Os servidores estaduais e serviços básicos à população, como Educação, Saúde e Segurança estão sendo castigados sem que fique claro o real motivo do fato. Sim, por que qual é mesmo o motivo? Não há dinheiro? Se não há dinheiro, por que Sartori (nem o chamo de governador) concedeu, de INÍCIO, aumento a todo seu secretariado, deputados, seu vice, a si mesmo (depois recuou, por vergonha), concedeu bônus de 8 mil reais a seus CC's, nomeou centenas de CC's e FG's e não pressiona nem o Legislativo nem o Judiciário para cortar despesas, tanto é que a Assembleia Legislativa acabou de aprovar um aumento das diárias dos deputados e seus servidores. Então, não há dinheiro?

Expliquem-me então este absurdo, non sense total: não há dinheiro para serviços básicos da população que paga impostos, mas há de sobra para quem não precisa de mais dinheiro?

Então, quer dizer que Educação, Saúde e Segurança eram prioridades para o Sartori, mas são o primeiro a serem cortados? Creio que não entendemos direito. Eram prioridades PARA O CORTE.

Querem outro absurdo? Sartori fechou secretárias, como a da Política para as Mulheres, mas criou uma secretaria para a SUA mulher. 

Outro absurdo? Sartori alega ter os cofres do estado vazios, mas não está nem aí para a Sonegação Fiscal. Ou seja, é melhor cortar dos serviços básicos, do que cobrar de empresários desonestos. 

Outro absurdo? Digamos que realmente não houvesse dinheiro e todos esses aumentos aos privilegiados que Sartori concedeu não houvesse sido concedidos. Ainda assim, para áreas prioritárias, o governador, se o fosse, poderia usar o dinheiro dos depósitos judiciais, o que já foi autorizado pelo Legislativo, e o Judiciário abriu mão de metade dos juros. Ou seja, Sartori diz não ter dinheiro, mas não quer usar o que tem. Hã? Como assim?

Então, em meio a tantos absurdos kafkianos, o que realmente quer Sartori? Quer criar um clima de caos para aprovar suas medidas contra o povo, como aumento de impostos. Quer desmontar os serviços públicos para "provar" que eles não prestam e de devem ser privatizados e terceirizados. Quer colocar a sociedade contra os servidores públicos, deixando a entender que eles oneram o estado e são os responsáveis pela crise. Enfim, Sartori quer entregar o estado à iniciativa privada, que é quem sustenta o seu desgoverno.



24 agosto 2015

da Ilusão da Escolha

I – na vida
temos a ilusão
da escolha
mas tudo
nos é imposto:
desde os impostos
até nossos postos

II – porque nossa vida
está condicionada de uma maneira
que não haja maneira
de haver vida
e de tal forma
que não saia da fôrma

III – viver
tornou-se apenas sobre.
sobretudo
o sentido:
sobrenada




22 agosto 2015

Vagações de um Errado*

quanto mais tentei-me acertar
mais alonguei-me do acerto
aproximar-se
é ver-se entre o longe
como o fundo que é sempre mais fundo
quanto mais está no horizonte

talvez porque o certo
não seja o que é acerto
nem o que mais perto

quando digo ao meu ouvido
é distante o que está comigo
é um sopro que ao não me responde

em qual eco o meu ego ecoou pela Terra?

errando pelo caminho
tornei-me deus em ser nada
(fosse eu a névoa
logo acima
do alto do cerro...)
acertei-me mais
quanto mais mirei no Erro

*Poema reelaborado e republicado


20 agosto 2015

Meus Defeitos

I - essas preocupações
do dia a dia
esses planos
para o futuro
esses sonhos
de crescimento
me aborrecem:
acho tudo isso um saco
é, eu sei
sou muito antiprático

II – percebi
que não tenho temperamento
para mestrados
doutorados
PhDs

é que muitos acabam
(a)mestrados
então prefiro
douTornados
e pH d vinhos

III – dizem alguns
que sou um cara polêmico
não
na verdade
sou um cara polênico:
prefiro o pólen
dos campos ilusórios
do que o pó
dos reais escritórios

19 agosto 2015

Sartori VIOLA direitos constitucionais em suas declarações contra Servidores Estaduais

Publico texto retirado da página do Sindicato dos Professores Estaduais, CPERS (os grifos em vermelho são meus):

A ameaça de corte de ponto dos servidores estaduais que aderirem ao movimento grevista de três dias decidido em assembleia geral do CPERS/Sindicato e de outras categorias representa verdadeiro ato de terrorismo na tentativa de enfraquecer o legítimo e constitucional direito dos servidores de entrarem em greve.

A greve, todos sabemos, é medida extrema, mas não é ilegal, pelo contrário, tem sua previsão no art. 9º da Constituição Federal. A greve deflagrada nesta terça-feira também não é abusiva, pois é uma reação ao parcelamento de salários que vem ocorrendo, bem como uma série de medidas encaminhadas pelo Governo do Estado que ferem direitos conquistados pelos trabalhadores estaduais.

O corte de ponto anunciado viola o direito constitucional de greve, bem como o princípio da dignidade humana, uma vez que os vencimentos dos servidores públicos têm reconhecidamente natureza alimentar, por isso o Supremo Tribunal Federal, através de seu Presidente o Min. Ricardo Lewandowski , reconheceu, recentemente, a ilicitude no desconto de salários decorrentes de greve aos professores do Estado de São Paulo (Reclamação 21040).

No caso do magistério, os professores sempre recuperaram as aulas, cumprindo a obrigação legal estipulada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o que aufere, ainda mais, ilicitude ao corte de ponto.

Qualquer tipo de ameaça de demissão a servidores em estágio probatório ou em contrato, também viola o direito constitucional de greve, além dos princípios da moralidade e da impessoalidade, não podendo-se admitir que haja, na esfera pública, qualquer tipo de perseguição a adesão a movimento legítimo. Da mesma forma, qualquer ameaça a destituição de funções de direção legitimamente eleitas também fere os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade, da legalidade e de greve.

Portanto, o anuncio proferido pelo Sr. Governador tem como único objetivo tentar enfraquecer o movimento, cuja força está estampada nas ruas e com adesão significativa não apenas dos servidores estaduais, mas da sociedade em geral.

Serviço público de qualidade se presta com servidor público dignamente remunerado e com salários em dia. A inexistência de qualquer mesa de negociação, sem a apresentação de qualquer medida concreta por parte do Governo, legitima e garante a justeza do movimento unificado de greve.