04 fevereiro 2013

História Mal-Contada


Quando floresta manhã radiante, estado espírito dos melhores. Alegria elevava-me, perfeitamente bem, ambiente puro, mistério e salutar.

Lentamente pela mata de um sol. Exuberância vegetação, canto de uma infinidade. Limpidez ares repletos névoa úmida. Névoas por entre virgem carregadas mistérios

Intenção até riacho cruzava vale. Lagartos, seriemas, bugios. Serpente espécie desconhecida, verde vermelho ao preto amarelo. Esconder-se vegetação.

Riacho de águas cristais. Magia ancestralidade. Animais antigos passado local onde? Homens de séculos ali estado? Tartarugas ocultas água.

Águas frias, mas banho minutos. Então estranho. Mais alguém mata, presença não prevista esperada. Nenhum som visão. Mas me perseguia. Angústia inquietude.

Tenso, sair da mata. Caminho volta, foi-me impossível. Nada encontrado, apesar. Floresta fosse tão extensa? Impressão prolongado, ausência claridade campo. Sensação seguido.

Horas mata infinita. Perdido. Perseguido. No porém, árvores tornaram afastadas imensas. Sem arbustos ou pequeno porte, apenas gramado. Verde absurdo. Muitas floridas.

Celestial beleza. Eu penetrava. E beleza superna. Em pontos verifiquei presença roseiras. Vermelho sangue. Sedutoramente. Ainda outros. Rosas violeta rosas rosa.

Inefável e fatal. Mata sem fim. Seduzia-me fatalidade exalava. E presença me perseguia. Quase material. Sopro de respiração cabelos. Feminino hálito. Fatal. Tranquilizei-me em estranho inexplicável. Invisível.

Insólito jardim. Temperatura morna, céu denso, entre nublado. Tensão de perfumes. Olho alto. Bando aves predominava negro. Pouso entre altos árvores. Havia flores. Não conhecia. Canto inefável e familiar. Bach? No porém... fatal. Hipnotizado vozes femininas. Regiões longínqua. Carregadas onírica. Sensualidade melancolia.

Torpor languidez.  Deitei-me grama perfume orvalho. Canto de penumbra vejo. Imagem mirífica. A que me perseguia. Bela feminina. Túnica sanguínea, assim rosas. Eu, embriaguez anímica. Cabelos negros, assim aves. Voz bachianamente. Olho violeta, olho rosa, assim rosas.

Sono e febricitante. Imagem enevoada. Bela fêmina próxima. O parecer de fantasma. Lábios ouvidos. Hálito rosas, seio nudez e veneno. Cantasse.

Sonho no teu desejo, disse-me. Preso jardim fatal. Tu buscaste, disse-me.

Beijo. Vinho. Fora, humanidade. Sair? Fora, homem em pesadelo. Decadência em lá. Dormência jardim.

Beijo além e despida fêmina. Ela, corpo, eu, falo. Veneno artérias. Sono. Nem digo.

(Na imagem, a "Vênus" de Eugène Duval)

02 fevereiro 2013

Perdendo o Tempo


mas como diria Fernando Pessoa:
“o que é o tempo para que eu o perca?”

ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?

ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?

e se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?

se eu for buscar inspiração
perderei o meu tempo
porque não inspirarei ninguém?

e se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?

se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
e como isso funcionaria?

a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?

ganharei o meu tempo
engendrando planos?
ou ganharei o meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?

e afinal
o que é que eu devo fazer?
algo de útil a mim
e  à humanidade?

mas o que seria
útil para mim
e para a humanidade?

ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho

01 fevereiro 2013

Como fazer se cumprir a lei em um país onde os governantes são criminosos e não a cumprem?

A tragédia ocorrida recentemente em Santa Maria suscitou, como não deveria deixar de ser, uma onda de fortes cobranças para que os responsáveis pelas mais de 200 mortes sejam determinados e exemplarmente punidos. E também para que as leis referentes à existência dos estabelecimentos de shows, lazer e diversão não sejam mais desrespeitadas em nenhum local do Brasil.

Porém, em um país onde os próprios governantes e políticos não cumprem as leis da Constituição Federal e, em grande parte, são corruptos que deveriam estar atrás das grades, torna-se uma missão complicadíssima exigir que a justiça seja concretizada sem imparcialidade.

Como exigir o cumprimento da lei e da justiça em uma nação cujos senadores da República elegem para seu presidente um consumado cafajeste como é o caso do senhor Renan Calheiros (do PMDB, o partido sem cara, ou melhor, com cara de melancia em cima do muro do poder), denunciado pela Procuradoria-Geral da República por três crimes? Eleito com 56 votos contra 18. Maioria absoluta. Ou seja, 56 de nossos senadores não se importam em ser liderados por um corrupto. Não se importam porque também são cafajestes corruptos? Bando de filhos da puta! Desgraça e palhaçada ao mesmo tempo. Mas, quando digo que o Brasil é uma piada, sou criticado e acusado por muitos de antipatriotismo.

E o caso do Calheiros é só o exemplo mais recente. Será que eu preciso citar outros? 

E a Lei da Ficha Limpa? Não veio a calhar para o Calheiros? As leis no Brasil, quando beneficiam o povo, os pobres, são apenas para enfeites, ornamentos de uma nação vergonhosa.  Ou então, só são cumpridas quando beneficiam as elites e os próprios políticos.

Para encerrar, pergunto ao governador Tarso Genro: governador Tarso, já que o senhor agora é um ferrenho defensor do cumprimento da lei, exigindo que os responsáveis pela tragédia de Santa Maria sejam investigados, julgados e punidos, quem sabe o senhor entra também na onda e cumpre a lei que o OBRIGA a pagar o piso para os professores gaúchos. E também pague os precatórios que muitos funcionários do Estado já ganharam na Justiça o direito de receber, e, até agora, o senhor não pagou nada. Governador, faça cumprir a lei e a cumpra. É para isso que o povo lhe paga.


31 janeiro 2013

Homem Fraco*


que mal se aguenta nos cascos
quando lhe dói um dos lados
da imundície do estômago

homem trôpego
pouco mais que macacos
estilhaços
duma mentira aos cacos
pensamento vazio
em vácuos
fraqueza lépida
que não sabe o que faz
sob a falta
de energia elétrica

homem fraco
pedaços magros
de espírito
trancafiado em frasco
palhaço!
homem lerdo
fará o que
no nada
do teu próprio deserto?
vieste de que ontem?
por que vives o que vives?
e vais para qual onde?

o que é que sabes
disso que não sabes?
onde é que sentes
o teu não-sentido?
o teu futuro me dá asco
ergue um túmulo
para o teu si mesmo
e para o meu desprezo
ah quem me dera
ser o teu carrasco
homem fiasco

*Poema respostado com algumas alterações.

30 janeiro 2013

Uma Fatalidade?


não há acidentes
não há acasos
não há fatalidades
tudo o que existe
e tudo o que ocorre
existe ou ocorre
porque se caminhou no sentido
de que existisse ou ocorresse

o que há
são causas
razões
ou motivos
que percebemos
ou não percebemos
até nas coisas menores e menos

mas e o mais e maior dos maiores:
a vida?
a vida surgiu como acidente?
a vida é um mero acaso?
a vida é uma fatalidade?

Então os meus versos têm sentido e o universo não há-de ter sentido?
Em que geometria é que a parte excede o todo?
Em que biologia é que o volume dos órgãos
Tem mais vida que o corpo?”

Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

28 janeiro 2013

do Não Percebido


I

não escrevo
para que os outros me leiam
me entendam
me decifrem...
escrevo
para ler
entender
e decifrar
aos outros

II

não escrevo
para melhorar ninguém
só o si
se melhora a si
escrevo para o meu ser
que saindo de mim
se vá além

III

ser poeta
é perceber
que não se percebe
é dar se conta
de que não se dão conta

27 janeiro 2013

A Tragédia em Santa Maria, a Transitoriedade da Vida e o Lucro dos Blogs

Alguns comentários breves...

1) A tragédia ocorrida na boate Kiss em Santa Maria faz-nos pensar em algumas coisas. Por exemplo, a transitoriedade da vida e a imprevisibilidade da morte. São temas sobre os quais costumo escrever, e os leitores do blog são testemunhas.

Questiono o fato de as pessoas, em geral, preocuparem-se tanto com planos a longo prazo, metas a serem atingidas, em dedicarem-se a trabalhar incessantemente, às vezes, quase sem folgas, para acumular bens, riquezas, status. Em buscar subir na profissão cada vez mais, estudando e trabalhando sem descanso e sem prazer, sem reflexão, sem contemplação da vida, sem sensibilidade, como se viver fosse apenas ter responsabilidades e cumpri-las religiosamente. Eu pergunto? Com qual propósito? Qual o sentido de tudo isso?

Temos a sensação ilusória, mesmo sabendo que iremos morrer, de que somos eternos. Ou somo arrogantes frente à morte ou buscamos nunca tocar no assunto, como se ela fosse um sonho ou pesadelo distante e difuso. Quando somos surpreendidos, chocamo-nos.

2) Aproveito para lembrar que o nossos blogs e jornais noticiosos não perdem a oportunidade de terem mais e mais cliques em suas páginas. Orgulham-se de ostentar milhões de acessos devido ao seu sensacionalismo barato e graças à exploração da tragédia alheia. Agora, colocam fotos e mais fotos, vídeos e mais vídeos com imagens de corpos e de feridos. Estão preocupados com as famílias e com os amigos? Ou com o jornalismo? Não, estão preocupados em "não ficar para trás" na corrida da imprensa sensacionalista, em lucrar ao infinito,  em  ter mais "ibopezinhos" para poderem cobrar mais caro o preço de suas propagandas.

3) Há alguns imbecis fanáticos religiosos na internet dizendo que a tragédia foi merecida porque a boate era um "ambiente do capeta", e que, se estivessem num templo ou igreja, nunca ocorreria o incêndio. Esquecem-se, esses fanáticos, de quantos "cultos" já terminaram em tragédia e mortes no Brasil e em diversos outros países. Sem falar nos infindáveis crimes "em nome de Deus" cometidos por muitos de seus pastores. 





26 janeiro 2013

História de um Ser Humano


na rua
nua de tudo
e tapada de nada
caminha um ser humano
porque tem que caminhar
e é humano porque o dizem que é

vai para o trabalho
porque vai para o trabalho
disseram-lhe que tem que trabalhar

nem sabe por que trabalha
talvez porque todos trabalham
e porque só o trabalho traz o dinheiro
(disseram-lhe)
e que é a lei da vida
mas ele mal sabe da lei
e nunca pensa na vida

caminha pela rua
e mal sabe o que está na rua
e mal sabe por que caminha
muito embora pensa que saiba

mas o que é que ele pensa?
sabe o que pensa enquanto caminha?
sabe o que sente enquanto caminha?
pensou e sentiu tanto
(ou não pensou nem sentiu nada)
que nem sabe por que pensou
nem sabe por que sentiu
nem o que sentiu
nem o que pensou

e quando chegar ao trabalho
terá esquecido
(seja lá que diabos tenha esquecido)
como se nunca tivesse
sentido ou pensado

e talvez morra
como se nunca tivesse vivido

afinal dormiu
porque tinha que dormir
mas nem sabe o que foi
enquanto dormia
e quando viu
outro dia
tinha amanhecido

e afinal morreu
como se nem tivesse morrido


25 janeiro 2013

Prenúncio e Sangue, meu Terceiro Livro

Em breve, mas ainda sem data definida, será lançado meu terceiro livro, o segundo de contos, intitulado Prenúncio e Sangue. Será publicado, a princípio, em formato eletrônico pela editora mineira Estronho, especializada em literatura fantástica. O livro contará com 22 contos escritos entre 2009 e final de 2012.  Alguns já foram publicados aqui no blog, outros sofreram alterações após a publicação inicial e outros são inéditos.

Os contos escolhidos baseiam-se na exploração do absurdo, do caos e do destino de nossa civilização, de questionamentos a respeito do desconhecido e do sentido da existência, transitando pela loucura, pelo crime e pelo onírico.

Assim que o livro for publicado na internet, será realizada sua divulgação aqui no blog.

23 janeiro 2013

de Religião e Ciência


contemplava
A Criação
de Michelangelo...

da falange de Deus
o Verbo
mau-falado
(a)fanado

da falange do homem
o falo
impotente
falido

e a vida
no sentido
de sua
(d)existência?

de religião e ciência
falácia
e falência

22 janeiro 2013

Minha Nota de Deboche e de Repúdio à CPI que atribui crime de responsabilidade à Administração Municipal de Santiago

O blog O Boqueirão publicou (confira aqui) o resumo do relatório da CPI que, de acordo com as próprias palavras do mencionado blog :

"(...) Após as análises dos depoimentos prestados a esta Comissão, bem como da documentação levantada no decorrer dos trabalhos e das demais audiências realizadas, ficaram demonstradas pelo Poder Público Municipal a inobservância de princípios administrativos como o da impessoalidade, moralidade, legalidade, eficiência  e publicidade, em decorrência de supostas irregularidades em relação à utilização de recursos públicos  nas contratações de sonorizações e estruturas para festas , no período apurado de 2011 e 1º semestre de 2012. EM TESE, constata-se a formação de  cartel com o objetivo de fraudar a livre concorrência.(...)

Diante dos fatos apresentados, devidamente comprovados, não tem como não atribuir responsabilidade ao Administrador Municipal  de Santiago, por Crime de Improbidade Administrativa. (...)

SOLICITO ENVIO DE CÓPIAS: Ao Ministério Público Estadual, ao Ministério Público de Contas, ao TCE RS e ao Sr. Prefeito Municipal." (...)

Quanto ao fato, tenho a declarar:

Estou absolutamente convicto de que tudo não passa de uma mentira deslavada, invenções de mentes contaminadas pelas fantasias sem pé nem cabeça da raça triste dos poetas que infectam nossa terra glorificada pela valentia dos coronéis.  É tudo um grande teatro armado com o nefasto propósito de atacar covardemente um partido exemplar, qual seja, o PP, Partido do Povo, o qual sempre mandou com inflexível e límpida mão de ferro sobre o nosso pampa próspero e impoluto, jamais permitindo a procriação da cafajestada deselitizada.

Nós os santiaguenses, somos, com algumas raras exceções não dignas de nota, pessoas ilibadas e de reputação inatacável, irrepreensíveis e incansáveis trabalhadores, principalmente os senhores varões da política, homens-mártires que sacrificam suas vidas em prol do progresso de nosso município e do bem-estar geral de nossa população, recebendo para tanto um ridículo salário de miséria, comparável ao de um professor ou ao de um policial.  Aqui somente, e tão somente, vivem homens que honram cada um dos fios do bigode que ostentam majestosos sobre suas bocas prenhes de verdades e de sabedoria. E mesmo que não tenham bigode, dá no mesmo, todos sabem. 

Agora falam em favorecimento para esta ou aquela empresa. Como é possível tamanho disparate? Desde quando aqui em Santiago há algum tipo de favorecimento, seja público, seja privado? Só o que falta agora é afirmarem descaradamente que aqui, em Santiago do Boqueirão, celeiro dos mais dignos senhores e senhoras da sagrada América do Sul, há apadrinhamentos. Então, definitivamente, chegaríamos ao cúmulo dos cúmulos, e não duvido  de que ciumentos e invejosos, inimigos da paz pública, venham sussurrar nos ouvidos do povo as famosas ladainhas caluniosas de que existem certos favorecimentos suavemente antiéticos em determinadas empresas, hospitais, impressa, escolas e até em festas. Isso sim, seria inaceitável.

É por essas e outras que venho deixar minha nota de repúdio a essa CPI impertinente e contrária ao desenvolvimento de nossa comunidade, CPI que é o símbolo do atraso dos que, por egoísmo, não se importam com a continuidade, mas desejam mudanças desnecessárias e incômodas para o povo, desejando, decerto, que nós, os santiaguenses muito bem descansados em nossa zona de segurança, deixemos de lado nossa paz tão duramente adquirida para ir fazer passeatas nas ruas.

Essa CPI merece ser queimada sim, em forno de pizzaria. O meu pedaço, por favor, peço de lombinho de leitão que mama deitado.

E tenho dito.


20 janeiro 2013

Prenúncio


pensam impensada
(imprensada)
mente
despreocupados
que não há preço
e pisam (atolados)
nos próprios passos

mas passam
como se nem fossem
poucam como passados
e se apossam
das passas podres
entre os pingos das poças

pendem como desprezos
presos nas falsas pistas
tropeçam nos próprios rabos
e pensam que não há peso

mas são patos
em ralos pastos
a plúmbeo céu de perda
e a poucos passos
do fundo preto do poço

19 janeiro 2013

Marginalia, de E.A.Poe

Tendo em vista que hoje o grande Edgar Allan Poe, a quem a literatura, a arte moderna, o cinema e até mesmo a psicologia devem muito, completaria 204 anos, deixo alguns trechos de uma obra bem pouco conhecida, mas não menos importante, do gênio americano. Trata-se da  Marginalia, algo como uma reunião de breves escritos entre filosóficos e poéticos, algumas vezes passando por uma intensa ironia.

No trecho a seguir, percebam o acerto do poeta quanto à sua previsão da "rapidez" da vida moderna:

"O progresso realizado em alguns anos pelas revistas e magazines não deve ser interpretado como quereriam certos críticos. Não é uma decadência do gosto ou das letras americanas. É, antes, um sinal dos tempos; é o primeiro indício de uma era em que se irá caminhar para o que é breve, condensado, bem digerido, e se irá abandonar a bagagem volumosa; é o advento do jornalismo e a decadência da dissertação."

No seguinte, deixa-nos um conceito de artista:

"Um homem de certa habilidade artística pode muito bem saber como se obtém certo efeito, explicá-lo claramente e, contudo, falhar quando quer utilizá-lo. Mas um homem que possua certa habilidade artística não é um artista. Só é artista aquele que pode aplicar, com felicidade, seus mais abstrusos preceitos."

Abaixo, Poe fala de como se adquirir inimigos:

"Aprouve-me, algumas vezes, imaginar qual seria a sorte de um homem dotado - para desgraça sua - de uma inteligência superior em muito à de sua raça. Naturalmente, ele teria consciência dessa superioridade e não poderia, por ser, sem dúvida, constituído como os outros homens, deixar de manifestar essa consciência. Adquiriria, assim, inúmeros inimigos. E como suas opiniões difeririam profundamente das de todos, seria ele facilmente colocado no número dos loucos."

Sobre a calúnia:

"Caluniar um grande homem é, para os medíocres, o meio mais rápido de, por sua vez, alcançarem eles a grandeza. É provável que o escorpião jamais se tivesse tornado uma constelação se não tivesse tido a coragem de morder o calcanhar de Hércules."

Da nossa adoração:

"Os romanos honravam suas insígnias, e a insígnia romana era , algumas vezes, a águia. A nossa insígnia não é senão o décimo de uma águia - um dólar - mas não nos embaraçamos em adorá-lo com uma devoção dez vezes mais forte."

Para finalizar, sobre a vingança, onde Poe deixa uma sutilíssima ironia:

"Pode haver coisa mais doce para o orgulho de um homem e para a satisfação de sua consciência do que o sentimento de se haver vingado plenamente das injustiças de seus inimigos com o ter-lhes sempre e simplesmente feito justiça?"

18 janeiro 2013

Pergunta


ler Van Gogh
ouvir Goethe
ou contemplar Bach

se não causar
um além
do que se é
(não falo
nem de ciência
nem de fé)

por mais
que nossos imensos
sejam pequenos
que seja
uma faísca
de mais amor
(ao menos)

ou não trouxer
uma certa irmandade
(ou coisa que há-de)
com uma simples estrela
ou  com um complexo esquilo...

de que adianta
(pergunto)
decifrá-lo
entendê-lo
ou senti-lo?

17 janeiro 2013

Um Ato Infame e Vil


I

ser poeta
é estar bebendo ao fim da reta
tomando um porre de verdade
e vendo chegar aos trancos
e aos rastejos
o que resta
dos ridículos desejos
da humanidade

II

o verso é o outro caminho
do paralelo ao fracasso
onde sopra uma vida de vento
e uma (des)alma de aço

III

ser poeta é um ato infame e vil:
é saber
olhando nos olhos
de cada um
o quanto há de humano
e o quanto há de imbecil

15 janeiro 2013

Dane-se a Poluição na China, o que importa é o Desenvolvimento

Agora, estão todos achando um absurdo a poluição que afeta 12 províncias da China, só porque no sábado, por uma eventualidade qualquer que nem seria digna de nota, o Índice de Qualidade do Ar atingiu 886 microgramas por metro cúbico. Tá, e daí? Ninguém sabia, até então, o que isso significava. Dizem que acima de 300 é perigoso e acima de 100 é insalubre. Tudo bem, mas perigoso para o quê? Para quem? Até agora, não esclareceram.

Por acaso, alguém vai morrer por uma poluiçãozinha de vez em quando? Quem conhece algum caso de alguém que tenha efetiva e diretamente morrido devido à poluição? Eu não conheço. Claro, dizem que ela pode causar doenças a longo prazo, tais como câncer. Mas isso são suposições. Quem garante que algum câncer surgiu devido à poluição?  No fundo, é tudo conversa fiada. Sem falar que há tratamento hoje em dia para praticamente todos os tipos de câncer. Querem colocar culpa onde não existe. Até inventaram essa história absurda e fictícia de Aquecimento Global, para poderem fazer filmes catastróficos.

Ademais, se alguém não desejar respirar uma poluiçãozinha de nada, seja em Pequim, seja em Tóquio, seja em Nova Iorque, seja em Londres, seja em Moscou, seja em São Paulo, seja em Porto Alegre, é só sair com máscara contra gases na rua. Hoje em dia, as máscaras devem ser baratinhas. Ou então, melhor ainda, é só nem sair de casa. Sair para quê? Para trabalhar, vai-se de carro. Vidros fechados, ar condicionado. Problema resolvido. O bom é se ficar em casa. Vendo TV, divertindo-se na internet, usufruindo-se de todas as comodidades e maravilhas da vida moderna. Para quê coisa melhor? Sem contar que se todos ficassem em casa, não haveria violência. É ou não é? De modo que a poluição é mais benéfica do que prejudicial. 

O que as pessoas devem colocar em suas cabecinhas ocas é que o Desenvolvimento não pode parar nunca,  seja onde e quando for, custe o que custar. É preciso ter em mente a relação custo-benefício. O que todos querem não é uma nação rica, desenvolvida, com economia forte? Pois então, temos que pagar o preço. Ou vão querer fritar ovos sem quebrar a casca? É o que a China está fazendo. Não é à toa que já é a segunda maior economia do mundo e em breve deve passar os EUA e se tornar a primeira. Polui? Sim, mas não há como ser rico sem poluir. Tanto é que as pessoas mais ricas são as que mais poluem. Estou mentindo?

Além do mais, raciocinem aqui comigo. Como foi que os EUA se tornaram o maior país do planeta e a maior economia mundial? Preservando o meio-ambiente e não poluindo? Os EUA é o país mais consumista do mundo. Se há consumo, há poluição. Então, faremos o quê? Acabaremos com o consumismo?  O senhor ou a senhora leitora deixariam de consumir? Óbvio que não. Nem eu.

E como foi que a Inglaterra, a França, a Alemanha, enfim, quase toda a Europa, se tornaram tão prósperos? Foi tendo cuidadozinhos ambientais, deixando suas florestas intactas, seus rios sempre limpinhos, sem nunca massacrar sua fauna e derramar óleo em seus mares? E nas suas colônias na América, na África, na Ásia como que agiam? Retiravam as riquezas dos países pobres sem poluir, sem sujar nada e sem explorar seus povos? Ora, não sejamos ingênuos. E aqui no Brasil, o estado mais desenvolvido não é São Paulo? Natural e compreensivelmente, é também o mais poluído.

Agora, querem condenar a China. Por acaso, as grandes potências poluidoras estão a favor do Protocolo de Kyoto para reduzir os níveis de emissão de gases? Bando de hipócritas. Até porque sabem que toda essa conversa de não poluir é balela. É necessário que se polua, para que se gerem riquezas, bens, energia, infra-estrutura. Ou então viveremos na eterna miséria. É ou não é?

Ah, o leitor não concorda, acha que a poluição deve ser controlada e reduzida? Ok, então procure, de início, comer menos e respirar menos.

(Aliás, observem as fotos acima. Pequim não fica muito mais bela, mais charmosa, misteriosa, com aquela névoa semelhante à sombria névoa londrina?)

14 janeiro 2013

Olhos Autônomos


tu que não nos sabes
é que nunca te fracassas:
sendo estrela do longínquo
realizas a verdade
triunfas
quando iluminas
dando as costas
para a humanidade

e tu
gato noturno
atento ao vazio da treva
vês ainda mais vezes
que vazio sou eu
que não estou
no que te leva
tu sabes, gato
que toda a ciência
não vale o sentido
do teu olfato

e o teu canto
coruja hermética
de olhos autônomos
equivale a uma europa
de filósofos
e de autômatos

e, por fim
há mais sabedoria no teu pio
do que em todo
o povo do Brasil

13 janeiro 2013

Três Rápidos Trechos de Mario Puzo

"...os pobres tinham de se tornar criminosos, já que precisavam lutar contra leis escritas pelos ricos para defender seu dinheiro."

"...todo o programa de previdência social era simplesmente um suborno necessário para impedir que os pobres iniciassem uma revolução."

"As autoridades eram o demônio a quem um verdadeiro siciliano jamais deveria recorrer."

Os trechos acima, particularmente o primeiro, recordaram-me aquela frase de Bertold Brecht: 

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."

11 janeiro 2013

Assassinou-a Sem Maldade


Matara-a com extremo cuidado e imperturbável silêncio. Em nenhum momento demonstrou a mínima alteração emocional. Não fora motivado por ódio, ciúmes, inveja ou por interesses financeiros. Não ganharia dinheiro ou bem algum com sua morte. Não estava em jogo o recebimento de seguros. Não era um assassino de aluguel.

Nem sequer houvera uma briga entre eles. Aliás, não trocaram uma única palavra. Para falar a verdade, mal se conheciam. De vista, apenas. Não matara pelo prazer de matar. Não apresentava nenhum problema psicológico que se classificasse como determinada patologia. Nem mesmo houvera maldade ou más intenções no ato de assassiná-la. Pelo contrário, as intenções eram as melhores.

A moça possuía alguma beleza. Não era nenhuma deusa ou atriz de cinema, mas trazia sua beleza particular. Após matá-la, ele arrancou seus olhos com profunda habilidade e com um cuidado irrepreensível.  A moça ostentava, até então, um belo par de grandes olhos castanho-claros, quase amarelados.  Depois que os extirpou, lavou-os meticulosamente com água boricada. Em seguida, abriu-os com um bisturi apropriado.

Deixou escorrer o humor aquoso dos olhos da moça em um minúsculo recipiente de alumínio. Não permitiu que se perdesse uma única gota do líquido ocular. Guardou o recipiente no freezer.  Com uma extrema habilidade, uma habilidade refinada dos melhores cirurgiões (embora não o fosse), isolou as duas íris e as duas pupilas. Colocou-as separadamente em dois estojos de lentes de contato, um estojo para as íris e outro para as pupilas. Conservou-as em formol.

Foi a única maneira que encontrou para contemplar a essência do olhar da moça. Alguns o classificam como um louco, portador de alguma enfermidade mental ainda desconhecida da ciência, um caso a ser estudado. Outros estão certos de que ele é um possuído, de que deve existir algum demônio que se apossou de seu corpo.  Há os que afirmam simplesmente que ele é um assassino absurdamente frio, e ponto final.

Quanto a mim, diria que ele é alguém que compreendeu a fundo a pós-modernidade. E a pôs em prática.

(Na imagem, detalhe do quadro "O Jardim das Delícias", de Hieronymus Bosch)