A recente demissão, pela URI de Santiago, da amiga e excelente professora do Curso de Letras Terezinha Bombassaro, tendo-se como argumentos o enxugamento de pessoal e a titulação, reflete dois pontos: um deles muito bem abordou o colega blogueiro Froilam Oliveira, que diz respeito à perseguição e à decadência dos cursos de formação de professores. É assim que o Brasil pretende ingressar no 1º mundo. É como eu sempre digo, e muitos não gostam, mas não me canso em repetir: o Brasil foi e continua sendo uma piada.
O outro ponto relaciona-se com a estúpida e hipócrita valorização demasiada dada à titulação de um professor (e entre outros profissionais), como se isso fosse sinônimo de conhecimento, de se saber ministrar devidamente uma aula, de se possuir a verdadeira sabedoria de que um professor necessita para se tornar um bom mestre. No caso da professora Terezinha Bombassaro, que possuía apenas especialização, sem mestrado ou doutorado, o que se percebia é que ela definitivamente não precisava de um. Até poderia fazer, mas apenas por questão de titulação e para acumular mais algumas informações, porque sabedoria como profissional ela possuía, e muito. Estou certo de que essa é a opinião da maioria absoluta dos alunos de Letras que passaram pela professora. Tinha ela (e tem) não só o conhecimento, mas também sabia (e sabe) transmiti-lo e ensejar no estudante o gosto pela Literatura Brasileira, a sua disciplina. E, acima de tudo, a professora Terezinha é um profissional humano, sabendo equilibrar-se no terreno difícil entre a exigência e a compreensão. Resultado: foi demitida.
Por outro lado, conheci os famosos doutores “bitolados”, presos dentro de uma redoma de cristal opaco, que só percebiam um caminho estreito à sua frente e nada mais. Cegos e surdos para os demais aspectos das coisas que não estivessem de acordo com sua visão pré-fabricada da realidade ou da imaginação. Aliás, muitos desses doutores nem imaginação tinham, uma vez que já a haviam esmagado com o seu estúpido “rigor acadêmico”, que os deixou incapazes de ver e de criar o novo. Mentes-bolo perfeitamente assadas dentro da bela forma do academicismo.
Certa vez, tive uma palestra com uma senhora que era doutora em Literatura Romântica Alemã, com doutorado na Alemanha. Era brasileira. Mas mal sabia falar o Português. E não, ela não tinha vivido a maior parte da vida na Alemanha. Vivera apenas uns cinco anos lá. Não sabia porque simplesmente não conseguia dar uma palestra. Não sabia expressar e desenvolver argumentos. Lia o que deveria ser dito naturalmente em uma exposição. Questionei-lhe sobre um aspecto da obra de Goethe, e a doutora enrolou, enrolou e não disse absolutamente nada sobre a minha pergunta. E como ela, há muitos outros “doutores”. É claro que há os doutores altamente respeitáveis, que não se deixaram enquadrar, que não foram tolidos em sua criatividade e pensamento. Mas são poucos, bem poucos.
Disse certo escritor de que agora não recordo o nome que “Um especialista é alguém que sabe tudo sobre nada”. Nada mais correto. Tanto se preocuparam em saber sobre algo tão mínimo que, ao invés de se aprofundar, afundaram-se em conceitos mortos e teorias estéreis, em rigorezinhos científicos mecânicos, tornando-se os robozinhos do conhecimento. São aqueles que se alguém lhes disser que fez uma nova descoberta, responderão que a descoberta só será válida se alguém a tiver descoberto antes. “Como assim, uma descoberta nova? Isso não existe, meu filho. Quem és tu pra descobrir algo novo? Uma obra de arte original? Ora, pensas que és um gênio, é?”
Os doutores dessa categoria perderam todo o senso holístico, não possuem a capacidade de perceber e compreender o todo, e prendem-se a seus titulozinhos como se fossem atestados de inteligência, sabedoria e autoridade. E ai de quem os contradizer. O curioso é que uma das diretrizes da educação brasileira é justamente a construção do conhecimento em conjunto com o aluno, sabendo-se ver os conhecimentos que os estudantes possuem como também importantes. O professor não pode se julgar o dono da verdade. Porém, quando estamos em um curso superior, o que se vivencia, em muitos casos, é justamente o inverso: professores doutores autoritários e arrogantes, cuja palavra (limitada, curta, “palavra de forma”) é a lei. E, muitas vezes, sabem menos que o aluno. Mesmo. O que não era o caso da professora Terezinha, muito pelo contrário. Até porque, graças a Deus, ela não tinha doutorado.
Que tipo de gente sairá das universidades com doutores dessa espécie? Pensantes por si próprios, críticos, sensíveis e criativos? Acho que não, hein...