10 fevereiro 2012

O que faltou nos Últimos 50 Anos?

faltou da folha um ramo
nas florestas desfolhadas
na guerra do vietnã

faltou um grão de arroz
entre os dentes já caídos
dos famintos africanos

faltou um ponto a menos
na tremenda escala richter
do tsunami da indonésia

faltou vazio a menos
entre a área devastada
pela radiação de chernobyl

faltou o som do grito
das milhares de espécies
que do agora se extinguiram

faltou uma esperança
aos milhões de gente humana
que vivem a vida sem sentido

faltou um pouco d’água
pelos 100 riachos rios
que secaram pelo mundo

faltou uma só lágrima
gotejando pelo queixo...

eu aqui a deixo.

09 fevereiro 2012

Disse-me o que não fui...

da minha (p)arte

poeta é olho
do que me falta
ser minha sina
desimagina...

 poeta é nunca
de nunca seca
sacar no peito
do meu desfeito...

poeta é pulso
fazer que sinta
ser tinta e nota
na tua porta...

poeta é ir-se
lamber à lágrima
em anjo adejo
e mais despejo...

poeta é lábio
que eu sempre sangue
no acima ao é
no abaixo ao pé...

poeta é nada
querer que venha
o que partida
da minha vida...

poeta é morte
olhar ao tudo
cadê minha alma?

sem uma palma.

07 fevereiro 2012

E fez-se, então, a minha vontade... (Final)

Eu convenci este primeiro indivíduo de tal forma que ele se convenceu que as minhas idéias eram, na verdade, suas, que ele sempre pensara assim, mas que apenas nunca havia expressado a outros. Nem a si mesmo. Para ele, era algo que jazia nas profundezas de seu subconsciente. Bastava o seu descobrimento. E então, uma vez tendo descoberto (era assim que ele pensava), resolveu-se por expressar, cheio de entusiasmo, de orgulho, com o ego totalmente inflado, absolutamente cheio de si. Que gênio! Tendo ideias tão novas, tão revolucionárias, tão convincentes... e tão humanas...  O que as pessoas não fazem por orgulho, por vaidade... ?  Eu sempre soube manter as pessoas inflamadas no incêndio do orgulho. E, orgulhoso, aquele imbecil acreditava que irradiava para outros as “suas” ideias, não as minhas. E assim, muito bem convencido e entendendo perfeitamente tudo o que eu quis dizer sem dizer, foi o meu primeiro porta-voz, sem saber que o era.

Ah, as verdades agradáveis... Mas o que seria uma verdade agradável? É aquela que não condena, mas que aceita, perdoa e compreende tudo. E mais ainda, é aquela que julga como correto o que se julga em geral como errado. Não em totalidade, mas parcialmente. Como disse, uma verdade agradável está sempre cercada de agradáveis mentiras. Eu nunca me pronunciei contra qualquer verdade generalizada. Isso seria um comportamento estúpido, pois seria rechaçado de imediato. Há que se ir contornando a situação, envolvendo as vítimas com a sedução das verdades agradáveis. 

Uma verdade agradável concordará inicialmente com todas as verdades, para depois, com as mentiras intimamente a ela ligadas, ir aos poucos, bem as poucos, muito gradualmente, de forma imperceptível, distanciando-se da verdade primordial. Até que acabará por inverter totalmente o que antes era uma verdade absoluta, porém, desagradável. Desagradável porque ia contra o desejo geral das pessoas. As verdades absolutas pretendem ser inflexíveis. A minha intenção era acabar com tais verdades absolutas. O que eu tencionava era transformar desejos aparentemente condenáveis em desejos perfeitamente realizáveis, justificáveis, que sorrissem, que agradassem, que pudessem ser concretizados sem o mínimo sentimento de culpa. E isso sempre foi feito de forma tão sistemática e tão gradativa, através de tantos engodos e enleios em torno de verdades agradáveis, com tão inteligentes e inquestionáveis argumentos, através de raciocínios e teorias tão lógicas e envolventes que duvidar das minhas mentiras tornou-se um absurdo. Qualquer um que duvidasse seria ridicularizado.

Há que se saber agradar, atender aos desejos mais intensos e secretos do ser humano, não importando as consequências. Nunca me importei se o desejo era correto ou incorreto. Correto com relação a quê? O que importava é que ele fosse realizado. Sempre fui um especialista nisso. Mas não era eu quem realizava os desejos. Não, eu incitava, imperceptivelmente, aquelas pessoas a que realizassem os seus desejos mais “culpáveis” de maneira absolutamente livre. E elas realizavam os seus desejos entre elas próprias.

Mas... e se elas não tinham nenhum desejo “culpável”? Aí está outro ponto de minha responsabilidade. Saber criar desejos, criar necessidades, tornar aquilo que antes era desprezível, ou visto como um erro, ou que era sempre evitado, ou, simplesmente, desconhecido de forma completa, em algo intensamente desejável. Incutir o desejo naquelas pessoas constituía-se em um imenso prazer para mim. E, mais uma vez, eu não ditava nada como algo que deveria ser desejado, mas apenas sugeria muito sutilmente para algumas pessoas mais influenciáveis e mais naturalmente corruptíveis que talvez houvesse algo que valeria a pena se fosse desejado. Porque seria facilmente realizável. E traria infinito prazer e satisfação. 

E então ensejava no indivíduo o desafio de realizá-lo, com frases tais como esta: “Mas é claro que tu jamais farias uma coisa dessas, eu mesmo nunca fiz, e nunca faria. Quem sou eu para tanto? Eu sou um ninguém. Somente uma pessoa com mais coragem, com mais determinação, com mais força interior seria capaz de fazê-lo. Não acho que tu serias capaz...” E, assim, a pessoa, desafiada e ferida em seu orgulho (o orgulho, sempre o orgulho...), e, também, desejando sobressair-se sobre os demais, por realizar algo até então inédito, considerava como um feito extraordinário a realização daquele desejo, e o concretizava. E, naturalmente, aos poucos, outros foram seguindo seu exemplo.

É lógico que muitas vezes encontrava-se resistência. Muitos se manifestavam indignados, escandalizados, em presenciar a perpetração de atos considerados até então completamente absurdos ou perversos ou imundos ou até mesmo inconcebíveis... De modo que eu, por diversas e diversas vezes, necessitei agir, claro, sempre em segredo, sempre através de uma insidiosa sutileza, para que aquilo que eu queria que os outros fizessem, desejassem, sentissem, pensassem, enfim, estivesse de acordo com a minha vontade. Foi necessário para tanto, recuar alguns passos, retornar às verdades agradáveis, unir um desejo condenável a uma demonstração celestial, “provar” que era possível amar sem abrir mão do egoísmo, sem deixar de lado a realização dos desejos mais intensos, satisfazendo-se sempre, de forma fácil, sem a necessidade de percorrer caminhos tortuosos. É claro que eu sempre agradava.

Eu buscava exatamente essa agradabilidade de se viver. Que todos vivessem assim. Na alegria, na despreocupação, levando a vida de forma leve, sem nenhum peso , sem nenhuma culpa, sem a necessidade de ir-se em busca de feitos ditos grandiosos, belos, sublimes, mas irrealizáveis. Que apenas trariam amarguras e infelicidades. Provei que a felicidade estava apenas na satisfação do desejo do momento. Assim deveriam ser os sonhos. Ou, para aqueles que disso jamais eram convencidos, deixei a alternativa de se satisfazerem exatamente não satisfazendo seus desejos momentâneos. Para receberem uma recompensa bem maior depois. Também é uma forma de se satisfazer desejos. E o que mais poderia fazer sentido?

E foi assim que eu, que nunca existi de fato, aquele que ninguém nunca notou DEVIDAMENTE, obtive a vitória de minha vingança silenciosa e imperceptível. E fez-se, então, a minha vontade. .. Exatamente o oposto do que era no princípio. Entre todas aquelas pessoas. Que nunca viram e nunca veem a minha vontade como se fosse minha. Mas isso pouco me importa. O que me importa é que, agora, a humanidade me pertence.

06 fevereiro 2012

E fez-se, então, a minha vontade...

Desde aquele dia eu jurei vingança. Uma vingança lenta, calculada de forma absolutamente perfeita. Extremamente fria e insidiosa. Sem reações imediatas, sem impulsos violentos. Uma vingança como devem ser as vinganças grandiosas.

Meu primeiro passo foi me infiltrar entre eles silenciosamente. Como se eu não estivesse entre eles. Não chamando a atenção ou desviando a atenção para outros pontos não relacionados (ou que não se consiga estabelecer alguma relação). Foi assim que me infiltrei. Eu era como um nada. Infiltrar-se é desaparecer sabendo estar-se conscientemente. E eu fiz desse desaparecimento o ponto de onde partiam todas as determinações. O detalhe fundamental é que ninguém percebia tais determinações como sendo determinações. Pois elas não podem vir de algo que não estava ali. Eu não estava ali. A não ser para mim mesmo.

Meu plano era tornar minha vontade soberana sem que ela fosse percebida como tal. Aos poucos, extremamente aos poucos (a paciência é a tutora da vingança), fui convencendo todos de como eles deveriam pensar. Sem que ninguém soubesse quem orientava seus pensamentos. E a melhor maneira de dominar o que alguém pensa não é atuando diretamente sobre o centro intelectual, mas sobre o centro emocional. Eu agi sobre os sentimentos daquelas pessoas. O ser humano, uma vez tocado em suas emoções, torna-se suscetível a mudanças de pensamento. Suas estruturas psíquicas se abalam. Então, é relativamente fácil convencê-los do que se pretende. Para se emocionar alguém, deve-se dizer aquilo que esse alguém quer ouvir. E exaltá-lo. Exaltar todas as suas características admiráveis, exagerando sempre, omitindo os defeitos, e até inventando algumas qualidades que ela acha que possui, ainda que em verdade não possua.

A mentira. A mentira é a base de toda dominação. Mas nunca a mentira isolada. Para se convencer alguém de alguma coisa com real eficiência é preciso dizer-lhe verdades que ela quer ouvir, verdades agradáveis, e mesclá-las com pequenas mentiras, a princípio, aparentemente inofensivas. Mentiras que se relacionem com as verdades ditas. De forma que não parecerão ser mentiras. Mas serão essas pequenas mentiras que, crescendo sem limites, estabelecerão o ponto de mudança nos pensamentos. Por isso as mentiras devem ser perfeitamente calculadas para que atinjam o objetivo desejado. Foi exatamente o que fiz.

Eu nunca proferi uma mentira por si só. Antes de mentir, eu pensava naquela verdade mais agradável para ser dita, alguma que fosse óbvia, inquestionável, de fácil assimilação e comprovação e que enaltecesse a inteligência, a sensibilidade, a profundidade de meu interlocutor. Hipocritamente, é claro. Tal verdade agiria sobre seu centro emocional. E essa verdade agradável sempre o deixava de tal forma contente e satisfeito que ele sempre cooperava comigo. Mas cooperava sem saber que o fazia. É nesse ponto que entravam as mentiras. As mentiras intimamente conectadas com as verdades faziam com que meu interlocutor imaginasse que os pensamentos que estavam sendo introduzidos por mim em sua mente eram na verdade dele próprio. E as mentiras sempre eram aceitas, uma vez que não era possível desconectá-las das verdades. Eu fazia com que fossem uma coisa só, um monstruoso organismo vivo com belos olhos sedutores. Aliás, as pessoas nem se preocupavam em comprovar a veracidade das mentiras, das ilusões, dos enganos. Afinal, aquelas sedutoras mentiras estavam arraigadas a verdades tão claras... Para que se dar ao trabalho de comprová-las? E talvez tal comprovação nem fosse possível. E as pessoas nem desejavam fazê-lo, uma vez que estavam plenamente satisfeitas.

É ostensível que nunca necessitei convencer a todas aquelas pessoas diretamente. Uma vez devidamente infiltrado entre eles, procurei os indivíduos que eram mais psiquicamente influenciáveis, e, ao mesmo tempo, que exercessem alguma importante influência entre os demais. Encontrei então a pessoa ideal para agir sobre seus centros emocionais e intelectuais. Foi a primeira a ser convencida, que passou a convencer outras que, por sua vez, convenciam mais outras e assim sucessivamente até o infinito... Porém, é importante salientar que esta pessoa por mim convencida jamais se sentiu dessa maneira. Eu jamais poderia, na sua mente, tê-la convencido de nada. Como eu disse, eu mesmo não era nada, eu não era ninguém. Ninguém sabia da minha presença entre eles. Eu era apenas mais um. 

(Amanhã, o final do conto.)

04 fevereiro 2012

Advertência

há que cuidado
com a sede de vida
que o que na sede da alma
tem sede há maior medida
sede cauteloso:
não se pode saciar ambas
pelas cordas bambas
como quem come um pêssego
e solta o caroço
pelo não do poço...

nem tudo é eu posso:
às vezes fica tarde
e noutras – tempestade
e pode (m)olhar  granizo ou seca
sobre o jardim...

nem tudo é simples assim:
é belo colher a tulipa
derramar suas pétalas
e se fitar a verde trilha
como se tudo fosse
magnífica maravilha...

mas a vida não é só soprar
e fazer espuma:

por trás do arbusto
da alegria das flores
se oculta o silêncio
do bote do puma...

03 fevereiro 2012

Abelhas estão desaparecendo ao redor do mundo. Lavouras transgênicas podem ser responsáveis.

A partir de hoje, passarei a deixar aqui no blog, com frequência indeterminada (pode ser uma hoje, outra amanhã, outra na semana que vem). as "boas" notícias ao redor do nosso mundo, para que fique bem claro toda a claridade do meu otimismo. Apenas deixarei a notícia. Não farei nenhuma análise. Não deixarei a minha opinião. E sempre informarei a fonte para maiores informações. 


A primeira notícia é a seguinte. Sugiro que leiam com atenção, que o fato parece ser bastante sério:

As Abelhas estão desaparecendo do Sul do Brasil

"Apicultores gaúchos e catarinenses relatam desaparecimento de abelhas em níveis inéditos. Alguns produtores registram perdas de 25% na produção de mel. Pesquisador diz que uma das causas do fenômeno pode ser a influência de lavouras transgênicas.

Matéria publicada no jornal Diário Catarinense, de Florianópolis, afirma que o desaparecimento das abelhas já é motivo de grande preocupação entre apicultores dos dois Estados. E o desaparecimento vem acompanhado de outro problema: as abelhas que permanecem nas colmeias estão morrendo infectadas por diversas doenças. 

O fenômeno pode causar graves desequilíbrios ambientais, uma vez que as abelhas são responsáveis por mais de 90% da polinização e, de forma direta ou indireta, por 65% dos alimentos consumidos pelos seres humanos. Alguns produtores já registram perdas de 25% na produção de mel.

Segundo Jair Barbosa Júnior, do Instituto de Estudos Socioeconômicos, uma das possíveis causas do fenômeno pode ser a influência de lavouras transgênicas. No Brasil, lembrou Barbosa, não há estudos aprofundados sobre o impacto dos transgênicos no ecossistema. Outra possível causa apontada pelo pesquisador é o aquecimento global. O sistema de orientação das abelhas funciona por meio dos olhos. As abelhas dependem da luz solar para encontrar o caminho de volta para as colmeias. O aumento da incidência de raios ultravioletas poderia, assim, ser uma das causas do fenômeno. Essa possível causa não explica, porém, o que está atingindo o sistema imunológico dos animais.

A advertência de Einstein

O físico Albert Einstein disse que se as abelhas desaparecessem, a humanidade seguiria o mesmo rumo em um período de 4 anos. A razão é muito simples: sem abelhas não há polinização, e sem polinização não há alimentos. O desaparecimento das abelhas começou a ser tema na mídia em 2006, nos EUA e no Canadá, quando criadores que alugam enxames para agricultores começaram a relatar o desaparecimento destes animais em níveis muito elevados.

Em várias regiões destes dois países, apicultores chegaram a perder 90% de suas colméias. O biólogo norte-americano Edward Wilson, chamou o fenômeno de “o Katrina da entomologia”, numa referência ao furacão que arrasou Nova Orleans, nos EUA.

Na Califórnia, entre 30% e 60% das abelhas desapareceram. Em algumas regiões da costa leste dos EUA e do Texas, esse índice chegou a 70%. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o fenômeno foi registrado em 42 estados norte-americanos e duas províncias canadenses. 

A morte repentina de abelhas também já foi registrada em países como Alemanha, Suíça, Espanha, Portugal, Itália e Grécia. Manfred Hederer, presidente da Associação Alemã de Apicultores, relatou uma queda de 25% nas populações de abelhas por toda o país.

Entre as possíveis causas do fenômeno, são citadas a radiação de telefones celulares, o uso indiscriminado de herbicidas e o uso de transgênicos, em especial os do milho Bt (com gene resistente a insetos; contém pedaços do DNA da bactéria Bacillus thuringiensis).

Diversos países proibiram, recentemente, variedades transgênicas do tipo Bt, o segundo transgênico mais plantado hoje no mundo (fica atrás apenas da soja). O governo peruano proibiu a variedade da batatinha transgênica Bt, em razão do país ser o centro de origem e biodiversidade desta cultura. O México proibiu totalmente o plantio ou consumo do milho Bt pelas mesmas razões. O governo da Grécia tomou a mesma decisão, estendendo a proibição a 20 variedades do milho Bt, por risco de ameaça à espécie humana, à vida silvestre e à indústria de criação de abelhas. O Brasil, por sua vez, vem aprovando a liberação de transgênicos Bt.

Gostaria de saber se os jornais e blogs defensores dos transgênicos divulgaram ou divulgarão esta notícia. "

02 fevereiro 2012

da Probabilidade da Chuva

cai a chuva mo-nó-to-na-ma-ci-len-ta
a chuva é a verdade lenta
do que nunca
(que o mundo é uma espelunca)
me veio à tona...

minha alma é úmida
como um pântano banhado por banhados
minha alma é a pele de um sapo
berrando
para que não a resseque
a seca do que se vida
(a solidão
é a minha preferida)
na ressaca do desfortúnio e assortilégio
de um trágico
que singrou o seu mau-fado

a alma já seca
se rasteja pelo claro
e não suporta do que seja
ao ver-se nua
o seu nada
é um enfeite pendurado
pelo mundo do que se rua

estar seguro
é tocar o que dor
sem a segurança da luva
e felicidade
não é só o sempre sol
mas o som do tudo que se passa...

mas a nota constante de ameaça
da probabilidade da chuva...

01 fevereiro 2012

Sobre a Trágica Falência do Capitalismo

Hoje, calarei e deixarei que outros falem pelo meu pessimismo com relação à situação atual da humanidade:

Bernard Cassen, professor e jornalista francês, um dos construtores do Fórum Social Mundial, afirmou, em sua conferência no auditório da Escola Superior de Magistratura da Associação de Juízes do Rio Grande do Sul, estar pessimista quanto ao futuro europeu. Segundo ele, "O mercado financeiro e as notas das agências de risco são mais importantes que as necessidades da população. Para tentar reverter a crise, os governantes têm apostado em políticas duras baseadas na austeridade fiscal e no corte de serviços, aposentadorias e pensões. É difícil explicar como um conjunto de países tão rico pode estar no epicentro da crise."

Cassen prossegue: "A União Europeia é uma fortaleza de neoliberalismo, inclusive pelos seus tratados. Assim, representa a falência desse modelo. O problema está nas liberdades fundamentais impostas pelo neoliberalismo, em que há a circulação de capital, dos bens, dos serviços e de pessoas. Esse sistema só poderia sobreviver se houvesse o consumo constante, o que foi incentivado de maneira descontrolada pela liberação de crédito."  

O grifo acima é meu. Quero chamar a atenção para algo que é absolutamente óbvio, mas que a humanidade parece não se dar conta, ou não quer se dar conta: o consumismo absurdo em que vivemos, e que não dá sinais de amenização, levará tudo à falência, inclusive nossa civilização, inclusive nosso planeta.

Ainda sobre a falência do capitalismo, estrutura em que se baseia praticamente toda a humanidade, Caco Coelho, autor da coluna "Crônicas da Cena", publicada aos sábados no jornal Correio do Povo, diz-nos o seguinte: 

"Milton Santos, com a doçura de sua voz, contradizia aqueles que condenavam o seu ceticismo. Ele dizia que estava chegando o momento em que não seria mais possível não ver a dramática distinção da qualidade de vida. Seria inviável, pensava o mestre negro, seguir sem perceber a situação daqueles que vivem das mazelas do sistema, dos restos que sobram da opulência dos poderosos. O mundo agora está chocado com a potencialização da crise sem fronteiras. O que o capitalismo criou de benesses faliu a economia dos países ricos. Tratar de forma desigual provocou o embretamento puro e simples da vida. 

O capitalismo faliu. Não foi derrotado em guerras, foi derrotado pela ganância, pelo desejo sem fim do lucro desmedido, por querer que os outros não tenham. Criamos uma sociedade estúpida, onde não sobrou espaço para o outro, no caso, os outros 6 bilhões de pessoas. Isto mesmo, o mundo só é bacana para um sétimo das pessoas, a internet, os bens de consumo, as maravilhas tecnológicas, planos de saúde, saneamento, tudo isso somente pertence a um em cada sete habitantes do planeta."

Alguém discorda?

30 janeiro 2012

Nós

quando algo se alta
diante do não da visão
há um outro algo
que é o que ergue
o erguido que (não) se vê

somos nós que nos erguemos...

quando o alto se sona
diante do vazio da audição
há um outro que se torna
que é o que som
no silêncio que (não) se cala

somos nós que nos tornamos...

somos o verbo no atrás da palavra
espírito que se essência em não-estar
gesto sem mão do que se é
úmido da água do que se molha
um e outro oculto
entre todos os extremos

nós
que venceremos...

29 janeiro 2012

O Julgamento Final, de Hieronymus Bosch

Tríptico pintado (provavelmente em 1482) pelo gênio da pintura, e meu pintor favorito, o holandês Hieronymus Bosch. O quadro encontra-se na Academia de Belas Artes de Viena. Para melhor visualização, clique sobre a imagem. Sem mais palavras.

27 janeiro 2012

A cada verso que é inútil...

a cada árvore plantada
há cem derrubadas
ou mais
daquelas
quem nem mais deixam sinais

a cada água que é clara
há cem esgotada
ou fedor
daquelas
que nem se nota o horror

a cada balada composta
há cem baladas na testa
ou paulada
daquelas
que é somente o que resta

a cada animal que é cuidado
há cem massacrados
e é pouco
daqueles
em desespero rouco

a cada beijo que é dado
há cem que são malditos
e mais outros mil
daqueles
que são fingidos...

e tenhos ditos

25 janeiro 2012

Não quer dizer...

eu sei que há.
que há o quê?
o próprio há de haver
que há de haver
mesmo o que não se é.
eu sei que ser.

eu sei que à.
não quer dizer que eu vá
ao lá
mas não quer dizer que não à
como ir.

eu sei que vir.
não quer dizer que eu vieste
mas algo por mim que há...
se eu não for com o que vai
não quer dizer que eu não foste

eu sei que hão
de
ainda que a mim há o não
não quer dizer que o hão não há
porque eu não fui
não quer dizer que não está

em fim:
eu sei que
ah...



24 janeiro 2012

Teu Toque em Silêncio...

teu olhar mudo
é como um toque
de trombeta
e quando tocas
tocas
os homens de ti
e daqui

sempre impassível
vês o nunca e o impossível
tu asas além dos sonhos
dos que sonam
o toque
dos sinos
e o tique...
(taque...)
invisível
dos destinos

o toque
da pedra no lago
produz ondas
que não te tocam:
nada abala
teu ser intocável

mas tocaste a mim
com tua melodia escura
como quem procura
um violino
e um toque de mãos
ao fim da tarde...

tocas sem fazer alarde...
e quando a tua árvore
for só um toco
tocarás o céu...

Tu
imperturbável Urubu.

21 janeiro 2012

O Fatal do Gatilho

para que se adiantar ao adiante?
(deve-se
é se calcular o próximo instante...)
por que querer que o que virá
seja o que é?
saber aguardar
é dar um palmo de calma ao coração
e não trocar os palmos dos pés
pelas palmas das mãos

o dia 07 de maio de 2014
será em 07 de maio de 2014
e aquilo que não for
para ao nunca ser
é o que é o triste:
a tristeza
é o que nunca viste

que se saiba esperar...
há momentos de se pressionar o medo
sobre o equilíbrio do trilho
há momentos de se pressionar o dedo
sobre o fatal do gatilho

20 janeiro 2012

Fechamento do site Megaupload é sintoma de uma nova era de censura e de restrição à liberdade humana

O fechamento do site Megaupload é mais um sintoma da era de censura e de restrição à liberdade humana que está se iniciando.  A perseguição aos fumantes é outro sintoma. Em breve pretenderão vigiar e controlar cada um de nós. Como previu George Orwell em seu genial livro "1984".

É claro que abusos e crimes, como a pedofilia, devem ser combatidos, mas as leis contra a liberdade na internet que estão tramitando no congresso americano são uma forma de cercear os direitos de expressão de cada indivíduo. O que está ocorrendo em terras americanas vai muito além de uma simples disputa por direitos autorais. Aliás, "direitos" estes que trazem dinheiro não para os artistas, mas para as grandes gravadoras e editoras. 

Não irei me alongar no assunto. Creio que o vídeo abaixo falará por mim. Sugiro que o vejam, e entenderão melhor o que estou afirmando:


19 janeiro 2012

Quando Chegar a Hora

quando eu voltar à Revolta
(àquela dos antigos
que nem mesmo têm amigos)
contarei um conto
que não será vendido
nem por mil contos
de réis
ou de reis
agora
(ao fim da hora)
conto
as estrelas do infinito
apontando meu dedo maldito

(cantos de cisnes)...

quando eu voltar à Revolta
fumarei dos cigarros
até mesmo as pontas
e acertarei
todas as minhas contas

17 janeiro 2012

Compro pessoas. Qual o seu preço?

Criei uma organização que trabalha com compra e venda. De pessoas. Compro seus princípios. Seus ideais. Suas ideias. Sua honra e sua dignidade. A sua lealdade. O seu caráter. Quem sabe, até sua alma. Compro e vendo. Mantenho algo como um catálogo. Quando alguém necessita de uma pessoa com determinadas características, basta que entre em contato comigo. Por exemplo, um político precisa de um assessor, alguém que venda suas ideologias e suas posições, afinal, na política deve-se estar sempre de um lado para o outro, de acordo com as circunstâncias. Não há como se manter princípios e ideais. “Flexibilidade” é como chamam. No meu catálogo, há muitos que se vendem para políticos. Quase sempre possuo um indivíduo com o perfil desejado. E dou o seu preço.

Quando, por um ou outro motivo, não se encontra em meu catálogo a pessoa que meu cliente procura, saio em sua busca. Invariavelmente, encontro-a. Até hoje não encontrei uma só pessoa que não tivesse o seu preço. Algumas são um tanto baratas. Outras se encontram em um nível intermediário. E, claro, há as que são caras. Mas compro, todas acabam por se vender.  E sempre há aquelas que imaginam que valem mais do que realmente valem. Para isso, desenvolvi a minha capacidade de persuasão e a minha diplomacia. Consigo convencê-las do seu verdadeiro preço. Sem ofendê-las, naturalmente. Sou um homem de negócios. Jamais compraria gato por lebre. Não se trata de pechinchar, trata-se de dar a César o que é de César. Estabelecer escalas de valores. Alguns dizem que se trata de colocar cada um em seu devido lugar. Eu não diria dessa forma.

Quando falo em valores, não me refiro necessariamente a dinheiro. Claro, a maioria das pessoas vende-se por dinheiro ou por bens de diversas espécies. Por quantias altas, por quantias médias, por quantias baixas. Depende de quanto a pessoa se valoriza ou de quanto ela vale. Algumas pedem valores altos, e de fato merecem. Mas, como dizia, esses valores nem sempre são financeiros. Há, por exemplo, os que estipulam seu preço como um simples espaço em determinado jornal. Em determinada revista. Hoje em dia, é comum venderem-se por uma participação em um site da net. Às vezes, o preço é apenas uma aparição qualquer em um programa de TV. Obviamente, há os que se vendem por fama. Pelos seus 15 minutos.

No meu catálogo há indivíduos que são comprados por um preço bastante singelo: a possibilidade de estar ao lado de pessoas famosas e/ou ricas e/ou influentes, simplesmente para terem a oportunidade de puxar seu saco.  E assim obter alguns favorzinhos. É um preço medíocre, obviamente, mas melhor assim, que os compro com muita facilidade.

Há ainda os que se vendem para obter uma vida segura e tranquila. Para não terem que se preocupar com coisa alguma. Para não terem responsabilidade com nada. Ficar “na sua”, no seu “lugarzinho”, na tranquilidade do lar, tomando sua cervejinha nos finais de semana, tendo que, para tanto, apenas abdicar de si mesmo. Isso é condenável? Eu não os condeno. Eu os compro. E quem condenaria uma pessoa que se vende para poder sustentar sua família? Ou para ter "paz"? Não só não é condenável, como é algo a ser louvado.

E há também o caso oposto. Os que se vendem porque não querem ficar só no seu “lugarzinho”, mas para estar em todos os lugares que puderem aparecer. Vendem-se pelo sucesso, pelo status social, pelo prestígio, pelo reconhecimento, por um aplauso, por um elogio, pelo olhar tentador de uma mulher, enfim... ainda que, muitas vezes, não há nada neles que mereça algum reconhecimento.  Porém, quem disse que para se ter sucesso há que se ter algum valor?

Enfim, há um preço para tudo. Qualquer um pode ser comprado. Todos têm o seu desejo, guardado bem lá no fundo (às vezes nem tão no fundo assim...), pelo qual dariam qualquer coisa. Até o que há de mais precioso em si... Ou não? Há os que se vendem porque, simplesmente, são fracos para resistirem à tentação do preço.  Há até os que se vendem porque todos já se venderam. "Se todos já estão vendidos, por que não eu?" Na obra de Goethe, Fausto vendeu sua alma a Mefistófeles para conseguir o amor de Margarida. E você? Pense no seu preço...

15 janeiro 2012

Sei que Algo Acontece

sei que algo acontece...
o fundamental é o que está latente
o que não está simplesmente atrás
mas à frente
como consequência não-sólida
mas astralizada
o que se move como sopro e tigre
há passos de tudo
que se passa em passado
que ela se ergue em olho
bem do teu lado


qual sábio é que garante
que um vento que se veste inofensivo
lá em processos desvistados
não se tornará tornado furacão?
tudo o que hão não são o que são...

quando cai uma flor
há outro algo além da sua queda
e este outro nos envolve
em insondável onde:
há um ato que é fato
e há outro que se esconde

tudo traz um além-motivo
ainda que a ele (rindo)
não nos motivemos
mas ele sempre sorri
acima
do nosso riso... 

14 janeiro 2012

Tratado Rápido de Poesia Insensata (e Outras Histórias Bonitas)

I

o coração do poeta
deve ser como um pano
que está sempre em valde:
absorver tudo
para depois torcer
dentro do vazio
de um balde

II

chorar
é saber que se sabe
ou cedo
ou tarde

III

poeta
é quem nunca te desistes
e com um só arrependimento:
o de não ter escrito
ainda mais tristes

IV

quando necessito ouvir...

vou à beira dos banhados
escutar o coaxar dos sapos
e o matraquear dos patos
abaixo de tempestades...

é o que faço
quando necessito ouvir verdades