12 janeiro 2012

Acima da Humanidade

o que sei é que sei que há
e o que há é o que não sei
mas sei que me sei
sabendo-me que não me satisfaço
com as maçãs do baixo
da macieira
(hei de estender meu braço)
que as melhores estão no que é alto
e há sempre algo mais que o algo
do outro lado da beira

se a humanidade é só isso que vejo
(ou ainda aquém)
eu manterei o meu além
entre o além do meu desejo...
por mais que vós façais
em vossos sensatos humanos
(e eu não me limito nos anos)
a isso que foi é e será feito
não sigo e nem consigo
com que a vós
sangre o meu respeito...

ainda que ninguém esteja comigo
e o isso seja só isso
por este momento...
sou daqueles
que ao nunca me contento

há um mais acima do pouco
(alguém dirá que sou louco...)
mas em um mundo
que se imunda ao nada
deixo o vosso sucesso de fachada

há algo mais a se amar-te...
e se disso eu me esqueça
lembrar-me-ei de ti...

ó Arte

10 janeiro 2012

Versos a Nada

aquilo que não
que não o quê?
que não tudo
desde o lá
ao agora que não está
aquilo que ser
sem que seja como sendo
o longínquo do que está aqui dentro
o que nunca em nunca momento
sonho que sonha o meu real
o outro lado do que não o outro
além-me-ar estando aqui
pelo sono do teu quintal
flor que cheirou o meu gesto
sem tocar a minha mão
fuga invisível de um verso
ao voo do que não me fui
em estares de imaginação
o  mas do que me distância
e longos pelos teus cabelos
olhos  no éter sem sê-los
que terminam em um nada
e começam em um fim...

aquilo que não
é então
o que me sim

09 janeiro 2012

Aquilo que Não Disse

não há nada que não
que já não tenha sido
que já não fosse dito
o que direi é a mesma coisa
daquilo que ainda não é
e os sábios deveriam saber disso
e não cairem (en)laçados
pela letra ao pé

 toda árvore que agora existe
(e quando lembro dela fico triste)
é ser que não sendo si sempre foi
desde a pele da cobra ao olho do boi
é repetição representada de outro outro
que  não está aqui para ser pensado
e a senti-lo há que ser maldito
ou um vale preso ao infinito

bom escrito é o que diz
aquilo que não diz
como professor escrevendo
ao quadro negro
sem ter na mão o giz
pois sabe-se que a árvore ali deixada
não é ela como sendo
a coisa imaginada
e o melhor verso é o que nunca trata dela
mas o que apenas a pinta
(já que ela sempre foi pintada)
ao canto irreal de uma tela

07 janeiro 2012

Amanhecer (à) Tarde

(a)onde estão (vão)
os teus passos?
(meus laços)
que tantos (folhas de) outonos
deixaram passar aos meus pés
(onde é que tu és?)
onde estão (não?)
os teus traços?
que tantos (sonhos?) estranhos
(de estanhos)
agora cinzaram meus pós
(o que é teu após?)
onde estão os teus vagos?
(tu, vagas?)
demares derrios delagos
que tanto sedaram meus tragos
(de sede de seda)
e agora selaram-me a sós
(quem é que sabe de nós?)
onde é que (in)pulsa teu dia?
(ah és tão-só (tão só...) melodia)
que tanto tornou-me (tornado) só vento
(é Brahms, Chopin ou olhares?)
teus olhos (in)versos sustento
onde é que hão teus passares?
(pesares...)
(próximo e tanto que afasta)
e tanto sem forma e sem nome...
(que fome...)


já basta. 

06 janeiro 2012

Gosto de Não Ser Entendido

gosto de não ser entendido
é bom não ser o que se é
(é o que mais me faz sentido)
que a poesia é para se ser
(independente de acessível ou grega)
e isso chega

além do mais
(poesia é só sinais)
por que querer que eu seja
o que sou aqui?
sou no verso que deixo
mas não sou o que deixo do verso
e meu vou muito mais disperso
e falo do que não é meu eu
porque somente sou
e bem mais o que se perdeu
mas o verso fica
e eu não irei junto com ele
portanto não me confundam
com o que eu disse
e vice-versa e versa-vice

as palavras que fatalmente digo
nem sei se estão comigo
elas vieram e eu as disse
como o mafioso que atira
porque tem que atirar
(é sua função
como quem vive aspira (a)o ar)

porém
cada palavra é calculadamente meditada
(me ditada)
que tudo (tudo) é cálculo
por mim mesmo feito
ou de algum jeito
(talvez de outrem
ou talvez imperfeito)
captado
e este mesmo poema é um plano
não me executado

(talvez meu talvez não
talvez um nada
talvez prenúncio
de um furacão)

não é meu eu que se é
o que sou não sou o que sei
o que me conduz...

talvez eu seja
meu poema
daqui a um ano-
luz...
ó luz

05 janeiro 2012

Meu agradecimento às pessoas inteligentes que divulgaram e apoiaram o texto sobre a mediocridade descarada de Michel Teló

Quando postei o texto abaixo, sabia que teria manifestações a favor e contra meu posicionamento. Todos são livres para se manifestar, tanto que publiquei TODOS os comentários recebidos, inclusive anônimos. Meu blog é democrático, ao contrário do que sugerem alguns, por e-mail inclusive, de que tenho vocação para ditador ou nazista. Apenas não publico comentários com textos grosseiros e/ou com ofensas pessoais a quem quer que seja.

Reafirmo que não retiro uma palavra do que disse, pelo contrário, estou cada vez mais convicto de que a mediocridade de Michel Teló e de outros tão pobres artisticamente quanto ele, ou até mais, deve ser duramente combatida por aqueles que reconhecem a verdadeira arte e lutam penosamente para, com ela, levar alguma coisa de valor ao ser humano.

Agradeço a todas as pessoas que me apoiaram aqui e em outros sítios da internet, como no Facebook e no Twitter. E agradeço especialmente ao Milton Ribeiro e ao jornal Sul21, que divulgou o texto  aqui. Agradeço também ao amigo Ruy Gessinger pelo auxílio na divulgação, bem como ao amigo Rogowsky e ao novo amigo Ivanhoé Eggler Ferreira, que repercutiu meu blog em São Paulo, aqui

Obrigado. 

04 janeiro 2012

A Mediocridade de Michel Teló e a Vergonha Nacional

Amigos leitores, peço que acompanhem os textos abaixo:

"Nossa, nossa

Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia

Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego"


Como todos sabem, essa é a letra de uma "música" cantada por Michel Teló. Como todos também sabem, ele não é o único a cantar esse tipo de coisa. Os leitores conhecem a letra abaixo?
"Porque a sonzeira é bala
A mulherada é mara
Em cima da Saveiro
Mulherada rebola, bebe, dança se descontrola
Bebe, beijo ficar com desejo
Quer mais cerveja vai até embaixo
Já mostra o pedaço da sua calcinha
Vem uma cerveja e elas tão louca
E Nós bem mais louco com água na boca"
Essa é outra "música", cantada por Roberto Sales, muito conhecido da nossa querida juventude. Agora, leiam o trecho do poema abaixo:


Noite, que és a Beatriz que inspira e que conduz,
a ti suba o perfume, alucinante e forte,
da flor que, às minhas mãos, esplêndida, reluz!

É tua a febre ardente em que me torturei!
Tu me cinges de sombra e a sombra é quase a morte!
Noite divina e triste, a ti tudo o que amei!

São os dois tercetos do soneto "Final", do poeta gaúcho, do início do século XX, Eduardo Guimaraens. Alguém conhece Eduardo Guimaraens? Por que não conhecem? Por que a nossa mídia não divulga? Por que não divulga? Desnecessário mencionar sobre a abissal diferença de qualidade entre o poema e as letras imbecis acima. Também não vou exigir que a letra de uma música popular se aproxime de um poema clássico. Mas peguemos as letras do Roberto Carlos, do Engenheiros do Hawaí e comparemos com as do Michel Teló e do Roberto Sales e companhia ilimitada... Nem vou falar nada...

O que vou dizer é que depois do episódio lamentável (para nós, brasileiros, e para os israelenses) da dancinha ridícula dos soldados israelenses, há pessoas afirmando, pelas redes sociais, que devemos nos orgulhar de Michel Teló pois ele representa o Brasil lá fora. Meu Deus, orgulhar-se de uma porcaria dessa tipo? A que ponto chegamos?  Mas numa coisa devo concordar: Michel Teló representa mesmo o Brasil lá fora. Representa o que não presta por aqui, o que há de pior, de mais baixo, vulgar, de mais imundo. Representa o lixo cultural que é feito em nossas terras. A ignorância do povo brasileiro, a mediocridade musical que varre o Brasil de norte a sul, a falta de vergonha na cara, a degeneração psíquica de nossa juventude, a decadência mental e espiritual, representa perfeitamente a nossa VERGONHA mais lancinante. 

O que representa o que há de VALOR no Brasil, a nossa mídia não divulga, e o povo nem quer saber. Quem é quem fala em Villa-Lobos, que foi considerado um verdadeiro gênio musical do século XX pelos europeus? Quem é que conhece sua obra? E mesmo fora da música clássica, o que representa o Brasil é Tom Jobim, é Pixinguinha, é Nelson Gonçalves, o antigo samba de raiz, o próprio Roberto Carlos, várias bandas de Rock que têm qualidade, como o próprio Engenheiros, Legião Urbana etc. Agora, essa merda do Michel Teló? Devo me orgulhar disso? Ou quem sabe do Funk? Ou de um sentimentalóide barato como o Luan Santana? Ou dessas duplas sertanejas que só querem ganhar dinheiro e constituem uma ofensa ao verdadeiro sertanejo? Ou dessas bandinhas ridículas de pagode que surgem num dia e desaparecem no outro? Orgulhar-me disso? Eu sinto profunda vergonha e desprezo por toda essa degradação. 

É claro que não é só no Brasil que se produz lixo cultural, mas desgraçadamente  a nossa imagem lá fora está intimamente ligada a esse lixo produzido aqui. O Brasil é sinônimo de putaria. Michel Teló é música para putas e bagaceiras. Essa é a verdade, digam o que quiserem. Alguém vai me chamar de preconceituoso. Não estou nem ligando. Depois querem que sejamos patriotas... Assim, dessa forma? Entronizando tamanha miséria cultural? De que adianta ser a 6ª economia do mundo?  O Uruguai não está nem perto do Brasil no quesito economia, mas  culturalmente, e até socialmente, em termos gerais de seu povo,  dá um banho nos brasileiros, assim como a Argentina. 

Mas, felizmente, esse lixo do Michel Teló, dentro de um ou dois anos terá se afundado em sua mediocridade, depois de ganhar o dinheiro dos trouxas, e ninguém se lembrará mais dele. Já brasileiros de real valor, como Villa-Lobos, Tom Jobim etc, jamais desaparecerão,  estarão sempre sendo cultuados por aqueles que ainda mantém algo vivo em seu interior.

02 janeiro 2012

Versos a Melodias de Tchaikovsky

sopro de rosas cantares e imenso
sono que paira e além do que penso
cedo de vida de tudo que existe

e eu sei que é tudo tão-triste...

sempre de eternos que a mim te infinita
alto e silêncio que líria e me fita
lago de céu em que tanto te assiste

e eu sei que é tanto tão-triste...

longes noturnos de sós que te aclaro
quedas de aurora ao felino e seu faro
astros em flores que tudo te abriste

e eu sei que é tudo tão-triste...

lábios destinos te mágoam e oriente
bosques segredos lacrimam e silente
e sonho de ser que tanto me fiz-te

..............................tanto tão-triste...

31 dezembro 2011

Feliz 2012!

É o que desejam todas as vítimas das tragédias ambientais que enfeitarão o "Ano-Novo".

29 dezembro 2011

A Graça de tanta Desgraça

outra manhã amanhecida
(a mesma manhã
bem amanhecida)
com o ranço e a gordura
de todas as outras manhãs
inutilmente amanhecidas...

as mesmas pessoas ridículas
aos mesmos trabalhos risíveis
na graça de tanta desgraça
ah se eu pudesse morrer de me rir
ah se eu pudesse viver de  me ir...

as mesmas pessoas de nada
nadando em pensamentos
de uma mente afogada
na merda
inflada de pensamentos
e nenhum que valha a pena
(pra onde te leva tua perna?)
sentimentalóides debilóides
(e outra manhã de lerda)
e certos de que são profundos...

pelos mesmos caminhos imundos
caminha para o seu sem-sentido
(com o cérebro coberto
com uma tanga)
a moça divinamente bela
( cuja alma é uma baranga)
cuja saliva é de cadela

desta amanhã amanhecida
de que chamam vida
quem me dera morrer de rir...

hora de ir dormir

28 dezembro 2011

dos Desígnios Universais

o Universo
em sua infinitesimal
miseriaecórdia
quando percebe
que não suportamos mais
a nossa dor de estômago
põe o Seu dedo
(ah, então não tinhas medo...)
em nossa cabeça
e dá uma paulada
para que conheçamos
que a dor de estômago
não era absolutamente
nada

27 dezembro 2011

Quem Disse?

I

nem toda palavra
deve ser dita
tanto para o bem...
tanto para o mal...
um poema não é um escrito:
é só um sinal

II

a melhor maneira de dizer
é dizer em segredo...
um verso que se diga
observa
mas nunca aponta o dedo

III

o que é de forma completa explicado
nunca é de forma completa sublime:
quando toda palavra é dita
nada funciona
desde a arte
até o crime


25 dezembro 2011

Minha Mensagem de Natal

talvez te desejasse felicidades
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.

talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.

talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.

não, não irei desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma

eu só te desejo Alma.

23 dezembro 2011

À Sombra

- Então ele está vindo?

- Sim, está se aproximando.

- Tens certeza?

- Absoluta.

- Como podes ter tanta certeza?

- É que é uma questão matemática, de cálculos que já foram realizados com certa exatidão. Além do mais, é o que dizem as antigas tradições.

- Ainda que tais tradições estejam perdidas no tempo?...

- Principalmente por isso.

- Sim, mas fora isso, se tu dizes que é também uma questão matemática, é algo que não pode ser contestado.

- Precisamente.

- Então me diz, se os cálculos já estão realizados, a data da vinda dele já deve estar determinada, não?

- Não, a data não, não há como prever a data de sua chegada, por mais que os cálculos estejam exatos, porque estamos lidando com números muito altos, cuja menor variação pode ocasionar uma alteração em muitos dias, até meses, talvez  anos. Poderíamos até mesmo falar em variações de décadas.

- Décadas?!!

- Sim, poucas décadas.

- E onde ele estaria agora?

- Isso eu não posso precisar, mas em algum lugar relativamente próximo. Entendes quando eu falo em “relativamente”, não é mesmo?

- Sim, sim, creio que posso compreender...

- Mas a questão não é tanto a data em que ele chegará. O que seria essa data para ti? Quando tu pudesses vê-lo ao vivo e em cores?

- Sim, naquelas cores fatais de que tu já me falaste...

- Sim, naquelas cores fatais, perigosas, sanguinolentas...

- Pois é, sim, eu acho que seria isso mesmo, vê-lo, digamos... pessoalmente.

- Entendo, mas tu tens que perceber o seguinte: a data a que me refiro não seria necessariamente essa, de vê-lo “pessoalmente”, creio que seria até mesmo antes, é uma questão relativa, mais uma vez. Isso a que tu te referes, de ver pessoalmente, de uma forma absolutamente clara, já seria um fato extremo, em que provavelmente tudo já estará consumado, ou a caminho definitivo da implacável consumação.

- Queres dizer que antes da sua chegada tudo já terá ocorrido?

- Sim e não. Talvez o mais importante já tenha acontecido, mas não tudo. Também não se pode prever, estabelecer com exatidão o que ocorrerá em tal momento, se será um pouco antes ou um pouco depois, mas o certo é que tudo ocorrerá no momento que for julgado como mais adequado. E tal pode ser dar quando se espera alguma coisa ou quando não se espera absolutamente nada. A segunda hipótese é a mais provável.
- E, como já me disseste, serão acontecimentos graduais?

- Exatamente, agora tu mencionaste uma palavra fundamental: “graduais”. Isso é essencial, compreender a questão da gradação dos acontecimentos. É algo que depende substancialmente do ponto de vista.

- Como assim, do ponto de vista?

- Se tu estiveres envolvido nos acontecimentos, terás dificuldade de perceber o seu desenrolar, a sua evolução. E quanto maior é o envolvimento, menor será a capacidade de percebê-los. Por isso, é vital manter  certo distanciamento. E quanto mais for possível esse distanciamento, tanto melhor. Claro que consegui-lo não é tarefa das mais fáceis.

- Admito que não estou entendendo...

- É um pouco complicado de explicar, mas vou tentar explanar melhor. Distanciar-se, não física, mas mental, psiquicamente, é, neste caso, mudar de ponto de vista. Nesta intrincada questão, todos nós, seres humanos, a princípio, partimos do mesmo ponto de vista quanto à sua chegada e aos acontecimentos que ela acarretará. E temos esse ponto de vista em comum porque estamos dentro dos acontecimentos. Somos partes dele. Suas vítimas. Por isso não os percebemos como deveríamos. No momento que desenvolvermos nossa consciência e nossa capacidade observativa (que, no fundo, consistem na mesma coisa), poderemos captar determinadas transformações que indicam claramente que os fatos estão realmente ocorrendo e que são causados pela chegada dele. Poderemos realizar inferências relativas a isso.

Não podemos ficar de fora dos acontecimentos trágicos, mas podemos identificá-los bem mais apropriadamente. Creio que com este exemplo deixarei mais claro: imagina uma pessoa que está se viciando em uma droga. Na grande maioria das vezes, como ela está por demais envolvida em seu vício, não irá perceber que está se viciando, a não ser quando surgirem os seus efeitos e consequências inconfundíveis e irrevogáveis. Mas quem está de fora, seus amigos, seus parentes, irão se dar conta, desde o princípio, que a pessoa está se viciando.

- Ah sim, agora começo a compreender...

- O problema da humanidade é permitir-se envolver-se demais pelas coisas que acontecem com ela, é como se deixassem se hipnotizar. E assim não percebem os acontecimentos, tornam-se vítimas de todas as circunstâncias. Quando forem dar-se conta, já será tarde demais.

- Sim, entendo... Mas... o que fará a humanidade?

- Talvez o melhor seja acostumar-se à sombra.

22 dezembro 2011

Morreste

morreste
e já não sabes
que não és o que foste
e talvez nem foste
aquilo que em ti te morreste
deixaste acabar-te os olhares
e quando olhaste ao acima
já te estavas abaixo
do palmo a palmo do sonho enterrado

morreste
e por morreres pensas que vives
te corroeste em tudo que é alto
te contentaste em varrer o teu pó
deixaste escorrer os teus astros
desbotaste todas tuas noites
naufragaste pelos teus castelos
e defecaste sobre teus lagos

e foi enquanto sorrias
por entre certezas suínas
lama no céu da tua boca
açúcar dentro em teu vômito

morreste
e agora já é tarde:
lá um sol  que não bate
queima um peito
que não arde