10 dezembro 2010

" é um cachorro louco..."

Desnecessário apresentar este imenso poeta brasileiro, o genial Paulo Leminski. Até porque já o fiz aqui no blog. Vou deixar que ele se apresente em versos. Dois poemas:


O Paulo Leminski

O Paulo Leminski

é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filho da puta
de fazer chover
em nosso piquenique


em matéria...

em matéria
de tino
menino
eu tenho dez

quiser
tenho até
um destino
a meus pés

as flores
são mesmo
umas ingratas

a gente as colhe
depois elas morrem
sem mais nem menos
como se entre nós
nunca tivesse
havido vênus

Paulo Leminski

(Na imagem, o quadro "O Almoço na Relva", de Manet.)

Contas de Chicão Rejeitadas. Parlamentar Terá que Devolver R$10.000.

Os blogs santiaguenses irão noticiar que a prestação de contas de campanha do deputado estadual eleito José Francisco Gorski  (Chicão) foi rejeitada pelo Tribunal Regional Eleitoral?

A notícia foi veiculada no jornal "Diário de Santa Maria" desta quinta-feira, dia 9 de dezembro. Segundo o jornal, "o TRE alegou que o parlamentar 'arrecadou recursos de forma indevida, inviabilizando a identificação de sua origem." Chicão terá que devolver R$ 10.000 ao Tesouro Nacional.

Segundo Chicão, os recursos foram doados pelo PP de Santiago diretamente a sua conta. Porém, ainda que tenha sido assim, a legislação eleitoral obriga que a doação seja feita ao diretório estadual do PP e só depois repassada ao candidato. 

É o jeitinho brasileiro...?

08 dezembro 2010

Tu és Deus

Tu, Tempo, és Deus...
Teu é o trono
que nos traga
a que Te trago
e a que me entrego
Teu é o trovão de thor
o troar do martelo
é Teu
ante o torvo do que tememos
és tigre
e treva
Tua é a tuba Tua é a trompa
Tua é a trombeta
na troça treda
da tormenta
Tua é do tormento
a taça trágica
e a traça tétrica
tumularmente arrastadas
às tampas das tumbas...

ave Tempo!
e o pulo preciso do Teu puma
e o peso do punhal no Teu pulso
e os passos do Teu compasso
e a pressa do Teu presságio
e a presa da Tua praga
que ninguém pisa e todos passam
e só Tu apagas...
Tu preparas o pesar
da tempestade
e só ao passar o temporal
é que Tu Tempo
(que o tempo passa...)
trazes entre as torres
o sol
da Verdade.

(na imagem, o quadro "O Triunfo da Morte", de Bruegel)

07 dezembro 2010

Década de 2001 a 2010 é a Mais Quente da História

Segundo um estudo realizado pela agência meteorológica da ONU, o período entre 2001 e 2010 é o mais quente já registrado desde que começaram os registros, em 1850. 

Os dados foram divulgados durante as negociações climáticas em Cancún, no México, e confirmam a tendência de aquecimento global. 2010 já está entre os três anos mais quentes da história dos registros, perdendo apenas para 2005 (o mais quente de todos) e 1998. Porém, a diferença de temperatura média entre os três anos é de apenas 0,02ºC.

O estudos também afirmam que os invernos excepcionalmente frios na Europa não estão afetando a média global, pois há regiões da Terra onde as temperaturas estão em uma elevação muita acima da capacidade redutora dos invernos europeus. É o que ocorre, por exemplo,  nas imensas áreas de desertificação que se alastram incessantemente em todos os cantos do planeta. E se os invernos da Europa têm batido recordes, o mesmo se dá com os verões. Este ano, a Rússia registrou uma mortífera onda de calor, com temperaturas atingindo quase os 40ºC, algo nunca antes visto em território russo.

Quanto ao Brasil, basta que recordemos a seca recorde da Amazônia. Da Amazônia.

E assim caminha a humanidade...

06 dezembro 2010

Soneto à Hora da Morte de Brahms

(Segundo frau Tuxta, Brahms chorou de tristeza à hora da sua morte, o motivo não lhe pôde dizer: “Quando vi que as suas tentativas eram inúteis, vi que grandes lágrimas começaram a cair dos seus olhos e a rolar pelo seu rosto abatido. Fitou-me com tristeza, deixou-se cair e expirou”.)

tensas e trágicas lágrimas tuas
furiando em ondas à força e à peso
ressoo de angústia sangrou-te o desejo
cantos e mares amores e luas...

invernos de febre em lágrimas duas
rompeu um violino o cosmo indefeso
e além dos teus olhos noites eu vejo
e um céu em silêncio às musas já nuas...

um denso pesar voou ao fatal...
o que é isso em ti que insano me abrigo?
que é este sonho que me arma um sinal?

lágrima lenta que lento eu te sigo
morre o sentido degrau a degrau...
deixa-me oh Brahms que eu sinta contigo...

04 dezembro 2010

Miniconto-Poema de Febre

eu sinto o cheiro da tua voz de almas
entre palavras que não mais existem
só digo aquilo que não tem sentido
a ver se toco o meu alado cravo
ali morri como se fosse um lobo
e do sedento eu me acenei teus olhos
estava lá ao nunca mais cantando
por entre abismos de um planeta doente
mas foi no sim que pressenti teu verde
porque a pintura me esqueceu sonhando...

fiz uma história em doze versos-febre:
não tenho culpa se não me entendeste...

03 dezembro 2010

Tua Sombra (no estilo de Cruz e Sousa)

Tua Sombra antiga em voz...
sempre mais aqui entre nós.

teu abraço em beijo e sangue...
traz mais paz que o sol exangue.

és um anjo em meu instinto...
és sombra em tudo que sinto.

sonho com tua tormenta...
som que meu lábio sustenta.

teu silêncio em toda parte...
no frio segredo de amar-te.

ao sopro-hino do teu sino...
tu erguerás o meu destino.

serás febre em  minha lira:
o mais é clara mentira.

(na imagem, o quadro "Lua sobre o Mar", de Dmitriev)

02 dezembro 2010

Os Traficantes Perderam, mas as Drogas Triunfam

A vitória das forças policiais e armadas contra os traficantes no Rio de Janeiro merece toda a nossa consideração, foi um golpe profundo no tráfico de drogas. Porém, o que vai realmente mudar?

Por que existem os traficantes? Primeiro, porque, lá, nas favelas, que expectativas e sonhos eles podem ter? Virar um trabalhador vítima da exploração do capitalismo, recebendo um vergonhoso salário mínimo para esgotar a sua vida em uma quase escravidão? Ser discriminado e odiado por toda a sociedade por ser pobre e/ou por ser negro e/ou por morar numa favela? Suas únicas esperanças são contemplar mauricinhos e patricinhas consumindo tudo o que desejam em suntuosos shopping centers, desfilando em carros de último modelo, sem precisar trabalhar, resplandecendo em aristocráticas aparências físicas e vivendo em palácios pagos com o dinheiro arrancado daqueles que trabalham. Esta é a sociedade do consumo, e todos desejam consumir cada vez mais. Não é assim?

Esses jovens que vivem nas favelas não têm o direito de sonhar e desejar como têm os outros? Todos dirão que sim. Mas ninguém dará oportunidade a eles de concretizar suas expectativas. Então, por que não traficar? Se isso renderá muito dinheiro e poderá satisfazer seus sonhos de consumo... E mais, isso proporcionará a vingança contra a sociedade que só mal faz a esses excluídos. Sim, pegar em armas, vingar-se daqueles que não estão nem aí para os favelados e os odeiam e os ridicularizam. Por que não? Quem irá dar uma lição de ética e de moral a eles? Com que autoridade? Os traficantes são violentos? E a sociedade que os oprime, muito antes de serem traficantes, antes mesmo de nascerem, ainda na barriga da mãe, é o que?

Alguém dirá que nem todos os favelados viram traficantes. É verdade, os outros aceitam a opressão. Por tal ou qual motivo, mas aceitam. Não estou dizendo que se deva combater a opressão traficando drogas, claro que não, mas digo que os favelados não encontram outra maneira de fazê-lo, a não ser entrando no tráfico. Não é lhes oferecida outra oportunidade. É de interesse das elites que os pobres permaneçam sempre pobres.

E por que há tráfico? Porque há quem compre aquilo que é traficado. E há muita gente comprando. E há cada vez mais. A droga triunfa no mundo inteiro. Seu consumo cresce incessantemente a olhos vistos. E enquanto houver quem compre, haverá quem venda. Se não forem os caras do Morro do Alemão, serão outros. O tráfico vai continuar do mesmo jeito. E sempre será forte. E não há tráfico sem violência. Se algo é contra a lei e é combatido com a arma, só é eficiente com a força da arma. E os mesmos que abominam essa violência querem a “coca” nossa de cada dia. E pagam os traficantes de muito bom gosto. E depois pagam com seus impostos a polícia para combatê-los. A humanidade é mesmo uma piada.

E a droga, amigos, a droga é um símbolo dos tempos pós-modernos. Por que se consome drogas? Para a grande maioria dos usuários, é porque não se encontra nenhum sentido na vida. Não é por diversão propriamente dita. É porque a diversão se transformou no único sentido da vida para muita gente. A diversão é uma forma de aliviar as frustrações de uma vida que não leva a lugar algum. E a “diversão” proporcionada pelas drogas talvez seja uma das mais intensas. Usar drogas é, também, estar incluído em um grupo. E se busca esse grupo porque é como se fosse uma fuga do vazio de um mundo egoísta, destituído de valores, onde a família se desintegra, onde não se encontra um ponto de apoio, onde consumir e parecer são os únicos objetivos.  Depois a diversão vira pesadelo. Mas aí...

A humanidade caminha para o caos. E o caos é a terra fértil onde as drogas germinam. Por isso, essa vitória contra o tráfico é uma ilusão. Ele continuará firme e forte. Se não for com os mesmos traficantes, será com outros.

30 novembro 2010

ao Compasso das Gargalhadas

...ao compasso das gargalhadas
dos abutres sobre o sangue
passo a passo dos gargalos
cataratas das garrafas
e o catarro das risadas
dos abutres sobre a terra
garra a garra pela carne
em brasas de santa graça
e a branca alada da garça
assanguinada em faca fraca
do compasso das metralhas
dos deboches alastrados
e os abertos bicos dos abutres
na cantata das gargalhas
e as pernas já trançadas
nas vagas claras do teu riso
os cruéis dentes em vãs asas
como o branco das cascatas
e o sarcástico dos asnos
e o rastejo das serpentes
e o gaguejo dos macacos
e o gorgolejo das galinhas
e o grotesco destes sapos
e o motejo destas cabras
e o manquejo destes diabos
soaram como graves larvas
ou como bruxas engasgadas
de ironias devoradas
e zombarias pelas águas
e gangrenas golfejadas
entre as línguas engraçadas
de lagartos arrastados
em macabras largas danças
com mefistófeles e gárgulas
na valsa destas risadas
dos abutres sobre o sangue
ao compasso das gargalhadas...

29 novembro 2010

Imortal

eu poderia falar da psique das flores
(para que não digam que sou só taciturno)
e daquelas (in)felizes luzes
que tanto me inspiram em seu sim...
mas ainda assim...

eu poderia falar da diurna esperança
(para que não digam que sou só pessimista)
e daquelas (des)graças de amores
que sempre ciclonam aqui em mim...
mas ainda assim...

eu poderia falar das sociais soluções
(para que não digam que sou só misantropo)
e daquelas (in)sensatas análises
que salvem talvez o mundo do fim...

sim
eu poderia falar sobre tudo
talvez com razoável destreza...
mas ainda assim...

não aliviaria em nada
a minha eterna Tristeza.

28 novembro 2010

A Maior Poetisa Brasileira

Cecília Meireles (1901-1964) é com certeza uma das maiores poetisas da língua portuguesa. Entre as brasileiras, na minha humilde opinião, é a maior. A poetisa carioca conseguiu com maestria conjugar o subjetivismo, a melancolia, a espiritualidade e a musicalidade do Simbolismo com a leveza, a simplicidade, a preocupação social e a liberdade formal do Modernismo.

Da sua temática preferida, a transitoriedade do tempo, das coisas, da vida,  surgem poemas de profundos questionamentos existenciais, muitas vezes trazendo-nos a aparente antítese de transmitir a sensação de que sentimentos e ideias melancolicamente pesados foram nos passados através de uma suavidade e ritmo musical quase infantis. O poema abaixo é um deles.



Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas. 


Cecília Meireles

(na imagem, o quadro "Naufrágio", de Vernet.)

26 novembro 2010

Adeus aos Tigres

Continuando os atuais níveis de destruição do planeta, e, desgraçadamente, tudo indica que irão continuar, em breve não haverá mais tigres na natureza. Segundo o site www.meioambiente.terra.com.br, o tigre lidera a lista dos animais que podem desaparecer em 2010.  Hoje, há pouco mais de 3.000 tigres na natureza em todo o mundo. De suas 9 subespécies, 3 não existem mais. Vítimas da caça ilegal, da destruição de seu habitat e do aquecimento global, hoje os tigres ocupam apenas 7% do seu habitat original. Somente nos últimos 10 anos, sua população foi reduzida  em 40%. 

Abaixo, um humilde poema que deixo aos tigres:

a Ti, Tigre

não sou digno
como o foi Blake
de cantar a tua força e a tua glória
mas peço que concedas a mim
a dignidade fatal
de suspirar o teu Fim...

na teoria do caos
(que o caos é o nosso destino)
o sopro das asas de uma borboleta
pode causar um furacão...
então
o teu hálito vibrará que sino?
o teu olho espalhará que raio?
qual guerra virá da tua garra?
teu rugido será qual trovão?

há triunfo na morte que te livra:
verá um dia a humanidade
que do massacre do teu dente
vingar-se-á
uma gota de saliva...

25 novembro 2010

“Fui tudo. Nada vale a pena.”*

o limite do infinito
é se conter em si mesmo:
não poder ser
mais do que não deveria...
o limite do poeta
é não se conter em si mesmo
dizer mais
do que em si poderia...

o verso vem
como se eu não houvesse
e não sendo eu
versa de mim o que sou
o poema é um perigo em segredo
e o canto é mistério
de medo

estive em tudo
que aqui escrevo
e cada palavra
cala do que me perdi:
vi nos meus sonhos
uma ave estranha
e o mar de verde
era ao reverso lama

não me olhem
como aqui eu sou:
naquele olho
é que extirpei meu ser
flechem o fim da música
que me deixei morrer
e não deixaram
nem eu ver chorar

poeta mau e humano pior ainda
tornei-me o fim
de uma história infinda
e agora sou horror
para que a história fosse
esta rima pobre:
linda.

mas já enchi o saco demais
melhor evocar o verde do mar
para não ter que dizer
o que não posso falar...

* verso de Fernando Pessoa

24 novembro 2010

Lei de Entropia

quando o fogo se apaga
a água esfria...

é como o vulcão
a que não chega mais lava
ou como o planeta
que do seu sol
se distancia...
quando o fogo não volta
a água esfria...

imagine um céu
do qual nunca saem as nuvens
ou uma noite
que sempre permanece
se assim fosse
a terra seria fria e sombria...
quando a chama se extingue
a água esfria...

que rosas manterão sua cor
se a neve lhe cai
dia após dia?
que olhos manterão o calor
se o sangue se estanca
pela artéria vazia?
quando o sangue não pulsa
a alma esfria...

23 novembro 2010

Uma Antologia À Sombra do Corvo

No último dia 20, foi lançada, em São Paulo, a antologia À Sombra do Corvo, que reúne poemas de vários autores contemporâneos brasileiros de poesia sombria. Tive a honra de escrever o prefácio da obra e também de participar com 4 poemas. 

O livro é uma publicação em parceria da editora Literata e do site Estronho do escritor mineiro M.D.Amado. Conta com 120 páginas e está pelo valor de R$19,00. Para maiores informações e saber como adquiri-lo, clique aqui.

22 novembro 2010

Naufrágio

agora que nada
e o nada mais resta
nada mais há
e não há
a ser dito
bem dito
o meu ser
que nada mais
ao mar que sinto
ou que minto
barco de resto
de arrasto
desisto
mau quisto
agora que alado
mau fado
nau-fada
sem deixar rastro
me afasto
aos nados
e infesto
em riste
de espada...
de resto
mais nada?

(Na imagem, o quadro "O Naufrágio", de William Turner.)

21 novembro 2010

Por que Não Fui à Feira do Livro de Santiago?

Algumas pessoas me perguntam por que não estive na Feira do Livro. O motivo é extremamente simples. Não fui porque não gosto. Talvez alguém dirá: "Um escritor que não gosta de feira de livros? Pode isso?" Por que haveria de não poder? Por que eu devo gostar? Não gosto, e pronto. Não nego os pontos positivos de uma feira. E parabenizo todos aqueles que lançaram seus livros na feira de Santiago. Pretendo, posteriormente, adquirir alguns dos livros que lá foram lançados, inclusive já reservei com a amiga Fátima Friedriczewsky o seu DESCAMINHOS, que deve ser ótimo.

Mas não gosto de feiras porque acho uma verdadeira chatice que não condiz em nenhum momento com a alma do livro, que, para mim, é de reflexão, introspecção e contemplação. Outros podem discordar de mim, sem problema algum. Estou deixando a minha visão particular. Eu não gosto daquele clima de festa, daquelas músicas muitas vezes insuportáveis, não gosto de ir lá distribuir sorrisos forçados, de ver aquela puxação de saco de sempre, de ver a politicagem e a promoção de alguns que raramente leem um livro. Não compro livros em feiras, são geralmente caros e não gosto de escolher livros em meio àquela multidão. Prefiro fazê-lo em sebos. Vale muito mais a pena.

E vou finalizar com uma questão. Alguém comentou anonimamente em meu blog que o Gabriel Pensador recebeu um cachê de R$25.000,00 para vir à Feira de Santiago. Não sei se esse valor está realmente correto, pois não me dei ao trabalho de conferir. Mas acredito que deva estar. E mesmo que seja menos, SE ESSE DINHEIRO FOSSE DISTRIBUÍDO ENTRE NOSSOS ESCRITORES PARA LANÇAREM SEUS LIVROS, QUANTOS LIVROS DE AUTORES SANTIAGUENSES PODERIAM SER LANÇADOS? 

É isso que eu chamo de politicagem. Uma feira de livros aparece de forma imediata, chama a atenção. Ajudar os escritores, só dará resultados mais tarde, com o tempo. Enquanto nossos escritores penam para publicar seus livros, alguém que já tem toda a divulgação da mídia e nem pensa tanto assim, recebe R$25.000,00 para vir aqui dizer coisas que, para mim, não acrescentam nada. Deve ser porque aqui se pensa que o Gabriel Pensador pensa melhor do que qualquer escritor santiaguense. Isso é politicagem. E hipocrisia. Por tais motivos, não fui à Feira do Livro de Santiago. E não me arrependo.

20 novembro 2010

da Religião e da Ciência

A Criação...
da falange de Deus
o Verbo
mau-falado
fanado

da falange do homem
o falo
impotente
falido

nada mais
falo
(d)existência...

da verdade
a falácia
da humanidade
a falência.

"10 Segundos" de Márcio Brasil

O jornalista e escritor Márcio Brasil lançou, ontem, na Feira do Livro de Santiago, seu primeiro livro, intitulado "10 Segundos". O livro reúne contos e crônicas e custa R$20,00. Segundo o autor, o livro atravessa uma variedade de temas,  incluindo contos românticos, eróticos, insólitos, engraçados, tristes, monótonos, irônicos... Desejo todo sucesso ao livro do Márcio.

18 novembro 2010

O Meu 33º Assassinato (Parte 9 - O FINAL)

Os dias passavam sombrios e angustiados, e eu principiei a odiar a minha amada. Sim, minha mente me convenceu de que o amor que ela dizia ter por mim ou era uma farsa ou estava com seus dias contados. De qualquer forma, seria absurdo alimentar tal sentimento. Sou um homem do século XXI. Devo seguir a mente, a razão, os argumentos racionais. O coração já nada tem a me dizer... O que farei com os seus ditames? Podem ser muito belos, sublimes, divinos, mas não me levarão a lugar algum a não ser ao sofrimento. Quase que me convenceram, quase caí em suas armadilhas, fiquei dividido, mas a razão venceu a batalha. Nosso tempo decretou a morte do coração, a morte do sentimento. Sentir, agora, é motivo de piada. Não serei eu que farei papel de palhaço.

Sim, decidi matá-la.  Quanto mais refletia, mais percebia que minha alma-escrava estava certa em tudo. Dou graças... ao diabo, talvez, ou talvez à minha loucura, por tê-la comigo.

Em uma noite sem lua, fui armado à casa de minha namorada. Tinha a chave da casa. Ela dormia em sua cama. Como era bela... Eu a acordei carinhosamente. Ela não entendeu por que eu ali estava. Esclareci que eu havia descoberto que alguém a odiava, e expliquei-lhe os motivos. Falei como se a pessoa descoberta fosse alguém do seu passado, um antigo namorado. Ela declarava, entre atônita, indignada e nervosa, que isso era um completo absurdo, que jamais se comportou ou se comportaria daquela forma com qualquer namorado, que ela sempre fora e sempre seria absolutamente sincera em seus sentimentos. Queria saber quem era a pessoa, o porquê dela ter dito aqueles horrores a seu respeito e o que eu estava pensando sobre tudo isso. Retorqui que isso eu não poderia dizer, pelo menos por enquanto.

Não sei se por desespero, por raiva, por culpa, ela começou a chorar. Fiquei alguns minutos em silêncio aguardando que ela cessasse seu choro. Quando o fez, levantei-me calmamente do sofá e dirigi-me aos seus ouvidos, sussurrando gravemente: “sou eu que te odeio, minha querida...” Apontei a arma em sua direção. Ela emudeceu. Gaguejando, disse que não podia acreditar no que estava acontecendo. Creio que tentou gritar, mas não conseguiu. Depois, perguntou com dificuldade e suando frio se era algum tipo de brincadeira de mau-gosto. Exclamei que nunca estive tão sério em toda minha vida. Disse-lhe que os motivos de eu a matar estavam bem claros, eu já os havia proferido em sua totalidade. Sabia que ela não me amava. No desespero, balbuciou que fosse quem fosse que me tivesse dito tudo aquilo, era uma mentira deslavada, motivada certamente por inveja de nossa relação. Com extrema frieza, garanti-lhe que não acreditava em uma só palavra do que ela me dizia. Grossas lágrimas principiaram a correr por sua face pálida. Exclamava, em desespero: “Meu Deus! Meu Deus! Tu enlouqueceste completamente, como podes não acreditar que eu te amo, eu te amo!!! Eu permanecia frio, com a arma apontada para seu peito.

Em uma última tentativa, aos prantos, balbuciou: “Tudo bem, tudo bem... se tu não acreditas nas minhas palavras, então, olha para meus olhos... Olha, olha bem para eles, eles te dirão que eu te amo...” Eu os fitei profundamente... seus lindos olhos agora congestionados de sangue e lágrimas... Creio que também chorei, não lembro. E desfechei quatro balaços em seu coração.

(...)

Amanhã, serão completadas duas semanas do meu 33º assassinato. No quarto dia após o crime, a alma de minha namorada substituiu a da antiga vítima. E desde então, a minha nova alma-escrava não para um segundo sequer de chorar. Não aguento mais esse tormento nos meus ouvidos...

Hoje, quando acordei pela manhã, ouvi cantos de pássaros que nunca havia ouvido. Cantos belíssimos. Vinham de meu jardim. Por um momento, fiquei feliz ao ouvi-los. Pensei: “esses pássaros desconhecidos no meu jardim... isso é sinal de que a fauna está se recuperando”... Porém, refleti melhor e dei me conta que não é isso, pelo contrário. Aqueles novos pássaros cantando em meu jardim significam que eles não têm mais matas para viver. Então, o desespero voltou a tomar conta de mim, e voltei a ouvir o choro incessante da minha alma-escrava...

Agora, estou aqui, acabando de escrever esta minha história. Não suporto mais a alma da minha antiga amada chorando ao meu redor. O que ela quer afinal? Encher-me de culpa? Já disse que sim, que a amo, mas não adianta, ela não para de chorar um instante, e eu não aguento mais. Por isso estou aqui, agora, pronto para cometer o meu 34º assassinato e libertar a alma da minha amada. Tão logo acabe esta história, engendrarei outro crime. Aliás, já acabei. O que mais necessita ser contado?... Ah sim, já realizei o ritual de magia negra. Porque depois do crime, não poderei fazê-lo. Não poderei, porque a pessoa, neste momento, que eu mais odeio, sou eu...
(Na imagem, o quadro "Lady Macbeth e os Punhais", de Füssli)