O poema que compus e está postado abaixo com o título de "Stabat Mater" constitui algo como uma adaptação para os tempos atuais do texto de um hino cristão de origem medieval, mais precisamente do século IX, cujo nome é o mesmo: Stabat Mater. O Stabat Mater (Estava a Mãe), expresso em latim, trata do profundo sofrimento da Virgem Maria diante da crucifixação de seu filho, Jesus Cristo, e é um texto de extrema tristeza.
Inúmeros compositores, principalmente no Barroco e no Classicismo, musicaram o texto cristão. Existem centenas de Stabat Mater. Porém, 5 entre eles se sobressaem: o de Pergolesi (considerado o maior), o de Vivaldi, o de Haydn, o de Rossini e o de Verdi. Alguns musicólogos ainda incluem o de Emmanuelle D'Astorga entre os mais importantes.
Mas realmente o de Pergolesi é o mais emocionante, o mais divino, o mais melancólico. Giovanni Battista Pergolesi nasceu em 3 de janeiro de 1710, na Itália. Portanto, este ano comemoramos os seus 300 anos. E eu me penitencio agora por não ter lembrado da data em janeiro. Mas ainda há tempo de deixar minha homenagem.
Pergolesi viveu bem pouco. Morreu de tuberculose aos 26 anos. Não lhe foi permitido, portanto, tempo para deixar uma obra extensa. Mas o que deixou é de uma qualidade absolutamente impressionante, e ficamos entristecidos ao imaginar o que ele poderia ter ainda nos legado caso não falecesse tão jovem. Ele, sendo um compositor barroco, já mostrava indícios de um classicismo que ainda nem havia surgido. Morreu com ele a promessa de um imenso gênio. Mas cada um com o mistério de seu destino... Como diria Álvares de Azevedo, que também faleceu muito precocemente: "Ó morte, a que mistério me destinas..."
E absolutamente genial é o seu Stabat Mater, cujas últimas notas foram escritas um dia antes de sua morte. Trata-se de uma composição absolutamente sublime. Sublime e profundamente triste. Triste e sobrenaturalmente trágica. São páginas de um grave dilaceramento, de estranha e misteriosa poesia. Não está em seu Stabat Mater somente a dor da Virgem diante de seu Filho morto. Está ali a dor de sua prória morte, e talvez a dor da sua mãe vendo a morte de seu filho. E muito mais que isso. Está ali a Dor Universal, como diria Cruz e Sousa...
Por mais duro que seja o coração de um homem, considero quase impossível não se emocionar com a dolorosa celestialidade das notas do Stabat Mater de Pergolesi. Impossivel não sentir e pensar no que há de mais triste e mais puro, no que há de mais sagrado para nós, independente da crença de cada um. Com seu Stabat Mater, Pergolesi morreu como um anjo...
Abaixo, o texto, traduzido do latim, do
Stabat Mater
Estava a mãe dolorosa
chorando junto à cruz
da qual seu filho pendia.
Sua alma soluçante
inconsolável e angustiada
era atravessada por um punhal.
Ó, quão triste e aflita
estava a bendita mãe
do Filho Unigênito!
Transpassada de dor,
chorava, vendo
o tormento do seu Filho.
Quem poderia não se entristecer
Ao contemplar a Mãe de Cristo
sofrendo tanto suplício?
Quem poderia conter as lágrimas
vendo a mãe de Cristo
dolorida junto ao seu Filho?
Pelos pecados do seu povo
Ela viu Jesus no tormento,
Flagelado por seus súditos.
Viu seu doce Filho
morrendo desolado
ao entregar seu espírito.
Ó mãe, fonte de amor,
faz com que eu sinta toda a sua dor
para que eu chore contigo.
Faz com que meu coração arda
no amor a Cristo Senhor
para que possa consolar-te.
Mãe Santa, marca profundamente
no meu coração
as chagas do teu Filho crucificado.
Por mim, teu Filho coberto de chagas
quis sofrer seus tormentos,
quero compartilhá-los.
Faz com que eu chore
e que suporte com Ele a sua cruz
enquanto dure a minha existência.
Quero estar em pé
ao teu lado, junto à cruz
chorando junto a ti.
Virgem de virgens notável,
não sejas rigorosa comigo,
deixam-me chorar junto a ti.
Faz com que eu compartilhe a morte de Cristo,
que participe da Sua paixão
e que rememore suas chagas
Faz como que me firam suas feridas,
que sofra o padecimento da cruz
pelo amor do teu Filho.
Inflamado e elevado pelas chamas
seja defendido por ti, ó Virgem,
no dia do juízo final.
Faz com que eu seja custodiado pela cruz,
fortalecido pela morte de Cristo
e confortado pela graça.
Quando o corpo morrer,
faz com que minha alma alcance
a glória do paraíso.
Amém.