verás que o ser de tudo que é
não é aquilo que demonstra ser,
o ser das coisas
não é o que elas são...
vê mais fundo
no alto fundo que não se olha
e verás que por trás do todo
há um outro outro além de tudo...
o que se mostra
não é o que está ali,
ninguém vê o que olha:
o que está ali
não pode ser tido como estado...
o que sabes não é o que conheces,
o tudo que pensas saber
é aquilo que há em ti
mas não em teu ser,
o que há em teu ser
talvez agora esteja longe
e esse longe talvez seja o real...
há sempre outro verso
em tudo que é reverso:
verás que quanto mais com a luz
universares pelo escuro
mais começo e fim
verás em faces a existirem...
nem tu és o que és:
teu eu não é teu ser,
talvez teu eu agora seja noutro abismo,
como um sismo,
talvez teu ser então te chame mais acima,
noutra rima...
06 março 2010
05 março 2010
Fernando Pessoa e seus Passos da Cruz IX
Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 10º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "O Naufrágio" de William Turner.
Passos da Cruz - Soneto IX
Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.
Um soslaio de sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido…
E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,
Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando…
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.
Um soslaio de sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido…
E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,
Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando…
04 março 2010
Poema Amargo
...nada
é o tudo que o Todo nos dá
quando a garganta é ao máximo erguida
e a esperança é ao extremo elevada
por mais que tua vida
esteja já arquitetada
verás como o sonho se torna caduco
e como a grave promessa da sorte
conta em deboche
sua sarcástica piada...
como a lua pela noite encarnada
a desilusão será sempre a amante
do sol frágil que te ilumina na estrada...
e terás, por fim, que fazeres uma sopa
com as letras já duras e secas
da felicidade
imagi...
nada...
é o tudo que o Todo nos dá
quando a garganta é ao máximo erguida
e a esperança é ao extremo elevada
por mais que tua vida
esteja já arquitetada
verás como o sonho se torna caduco
e como a grave promessa da sorte
conta em deboche
sua sarcástica piada...
como a lua pela noite encarnada
a desilusão será sempre a amante
do sol frágil que te ilumina na estrada...
e terás, por fim, que fazeres uma sopa
com as letras já duras e secas
da felicidade
imagi...
nada...
03 março 2010
Giovani Pasini Lança "A Espiral e O Caracol"
Nesta sexta, o amigo e escritor Giovani Pasini lançará mais um livro, "A Espiral e o Caracol". Trata-se de uma obra onde são abordadas algumas das questões que sempre inquietaram a humanidade (e certamente continuarão a inquietar) como a existência ou não de Deus, o sentido da vida, as conclusões a que podemos chegar através de nossas próprias experiências existenciais, entre outras.
É um livro de questionamentos religiosos e filosóficos, onde o autor discorre sobre vários pensadores, em uma linguagem relativamente simples e acessível ao leitor leigo, sem, todavia, deixar de ser profunda. Vale a pena conhecê-lo.
01 março 2010
200 Anos de Chopin
Hoje o mundo comemora os 200 anos de nascimento de Frédéric Chopin, um dos maiores gênios do romantismo musical e um dos mais importantes compositores para piano da história da música.
Chopin nasceu em 1º de março de 1810, na pequena cidade de Zelazowa Wola, na Polônia, vivendo, no entanto, grande parte de sua vida em Paris, onde faleceu, segundo a história oficial, de tuberculose, embora estudos mais recentes sugiram que ele tenha morrido de fibrose cística. Chopin contava com apenas 39 anos de idade. Em Paris, é célebre o seu romance com a escritora Aurore Dudevant (que se utilizava do pseudônimo de George Sand), a qual muito inspirou o compositor polonês em suas apaixonadas e melancólicas melodias.
A música de Chopin é quase que exclusivamente para piano, solo ou com acompanhamento, característica que o torna único entre os grandes compositores. Trata-se de uma música bastante original e de grande expressividade técnica. Suas composições são geralmente densas e sombrias, de uma profunda expressão sentimental, carregadas de paixão e melancolia. Atingem os maiores extremos emocionais, partindo de uma celestial ternura e flutuante delicadeza até amargurados acordes de uma violência desesperada.
Pode-se dizer que o amor e a saudade da pátria são os temas mais constantes nas obras de Chopin. Antes dos 20 anos, Chopin já havia composto seus dois concertos para piano e orquestra, dois dos mais belos e expressivos concertos para esse instrumento já criados. Foram inspirados em seu amor por Constance Gladkowska, a quem teve que abandonar ao ver se obrigado a deixar a Polônia.
Logo após deixar seu país natal, sofreu uma profunda crise psicológica, conhecida como Crise de Stuttgart. Essa crise ficou registrada em uma série de escritos, o seu Diário de Stuttgart. Escreveu Chopin nesse diário:
“Por que vivemos essa vida miserável, que só nos devora e serve para nos converter em cadáveres? (...) É como se morrer fosse a melhor ação do homem... Qual será a pior? Nascer, desde o momento que é o contrário de sua melhor ação. Portanto, é perfeitamente plausível que eu esteja aborrecido por ter nascido neste mundo. Por que deveria querer permanecer em um mundo para o qual não estou preparado? O que minha existência poderia oferecer a alguém?”
Mas a sua existência ofereceu muito a toda a humanidade... Quantos milhares de casais já alimentarem sua paixão e seu amor ao som de suas mágicas notas, quantas vezes o seu gênio entristecido já nos ajudou a aprender a amar? E quantos homens desesperançados já se consolaram com os seus sobrenaturais noturnos e sonatas, com a tensa beleza e vivo mistério de suas mazurcas e polonesas e estudos e prelúdios...? E quem não conhece a sua marcha fúnebre? Sim todos a conhecem, ainda quem não saibam que a compôs. De modo, Chopin, que tua existência teve muito a nos oferecer...
Chopin nasceu em 1º de março de 1810, na pequena cidade de Zelazowa Wola, na Polônia, vivendo, no entanto, grande parte de sua vida em Paris, onde faleceu, segundo a história oficial, de tuberculose, embora estudos mais recentes sugiram que ele tenha morrido de fibrose cística. Chopin contava com apenas 39 anos de idade. Em Paris, é célebre o seu romance com a escritora Aurore Dudevant (que se utilizava do pseudônimo de George Sand), a qual muito inspirou o compositor polonês em suas apaixonadas e melancólicas melodias.
A música de Chopin é quase que exclusivamente para piano, solo ou com acompanhamento, característica que o torna único entre os grandes compositores. Trata-se de uma música bastante original e de grande expressividade técnica. Suas composições são geralmente densas e sombrias, de uma profunda expressão sentimental, carregadas de paixão e melancolia. Atingem os maiores extremos emocionais, partindo de uma celestial ternura e flutuante delicadeza até amargurados acordes de uma violência desesperada.
Pode-se dizer que o amor e a saudade da pátria são os temas mais constantes nas obras de Chopin. Antes dos 20 anos, Chopin já havia composto seus dois concertos para piano e orquestra, dois dos mais belos e expressivos concertos para esse instrumento já criados. Foram inspirados em seu amor por Constance Gladkowska, a quem teve que abandonar ao ver se obrigado a deixar a Polônia.
Logo após deixar seu país natal, sofreu uma profunda crise psicológica, conhecida como Crise de Stuttgart. Essa crise ficou registrada em uma série de escritos, o seu Diário de Stuttgart. Escreveu Chopin nesse diário:
“Por que vivemos essa vida miserável, que só nos devora e serve para nos converter em cadáveres? (...) É como se morrer fosse a melhor ação do homem... Qual será a pior? Nascer, desde o momento que é o contrário de sua melhor ação. Portanto, é perfeitamente plausível que eu esteja aborrecido por ter nascido neste mundo. Por que deveria querer permanecer em um mundo para o qual não estou preparado? O que minha existência poderia oferecer a alguém?”
Mas a sua existência ofereceu muito a toda a humanidade... Quantos milhares de casais já alimentarem sua paixão e seu amor ao som de suas mágicas notas, quantas vezes o seu gênio entristecido já nos ajudou a aprender a amar? E quantos homens desesperançados já se consolaram com os seus sobrenaturais noturnos e sonatas, com a tensa beleza e vivo mistério de suas mazurcas e polonesas e estudos e prelúdios...? E quem não conhece a sua marcha fúnebre? Sim todos a conhecem, ainda quem não saibam que a compôs. De modo, Chopin, que tua existência teve muito a nos oferecer...
(na imagem, Chopin pintado por Scheffer)
28 fevereiro 2010
Ao Fim do Pampa
quero-quero vasto que me olha denso,
o que é que alarma no teu sino antigo?
pampa que crepúsculas,
não te sones antes que eu me vide...
folha de angico que te nervas sopro,
o que é que julga na tua chama acesa?
pampa que te noites,
não te lues antes que eu me ocase...
sanga que adaga em todo um céu de chumbo,
o que é que marcha no teu grito frio?
pampa que te sangues,
não te doenças antes que eu me febre...
coxilha em cosmo que me fúria um sonho,
em quais sentenças é que te levantas?
pampa que te fins,
não te mortes antes que eu te ame...
o que é que alarma no teu sino antigo?
pampa que crepúsculas,
não te sones antes que eu me vide...
folha de angico que te nervas sopro,
o que é que julga na tua chama acesa?
pampa que te noites,
não te lues antes que eu me ocase...
sanga que adaga em todo um céu de chumbo,
o que é que marcha no teu grito frio?
pampa que te sangues,
não te doenças antes que eu me febre...
coxilha em cosmo que me fúria um sonho,
em quais sentenças é que te levantas?
pampa que te fins,
não te mortes antes que eu te ame...
26 fevereiro 2010
Falso Amor pela Terra, Tradicionalismo Vão e Mônica leal
O gaúcho, o brasileiro em geral, ama sua terra. Mentira! Ama coisa nenhuma! O que é amar a terra? O que é a terra? Como sou gaúcho, para não me estender em demasia, não vou falar aqui das terras amazônicas, das terras do cerrado, das terras do sertão, enfim, lugares esses onde a morte e a destruição sopram implacáveis há muito tempo, como demonstração sublime de todo amor que o brasileiro sente por sua terra. Vou falar da terra onde vivo, do pampa. Onde está o amor que os gaúchos tanto apregoam possuir por sua tão querida terra? Onde?!
Esses dias fui ao show do músico tradicionalista Leonel Gomes em uma fazenda no interior de Santiago. O show foi à noite, e durante o dia havia rodeio. Não vi o rodeio, apenas o show. Mas o que vi também foi um campo imundo, coberto de latas de cerveja, de garrafas plásticas, de papéis de picolé, de plásticos de todos os tipos, enfim, os senhores da tradição que dizem tanto amar a terra gaúcha, cobriram essa mesma terra de lixo. De lixo!
Isso é amar a terra? É transformar o pampa numa lixeira? Amar a terra é cobrir o campo de eucaliptos? É encharcar as lavouras de agrotóxicos? Amar a terra é entupir os rios de venenos, de esgotos, de detergentes? É assoreá-los devastando todas as matas que os protegem? Claro, rio não é terra, é água. Amar a terra é transformar campo em deserto de tanto explorar sem a mínima piedade? Amar a terra é massacrar os animais que nela vivem? É atropelar graxains, e tatus, e capivaras, e gambás e deixá-los estrebuchando pelas estradas? Amar a terra é varrer dela toda a vida?
E depois vêm com esses vãos tradicionalismos alardear que amam a terra gaúcha, que amam o pampa? Com raras e louváveis exceções, isso é uma mentira deslavada. Adoram andar ostentando suas pilchas, suas botas, seus lenços, suas bandeiras sobre o lombo de um pobre cavalo, mas por exibicionismo, não por amor. Adoram tomar seus tragos, fumar seu palheiros, dar seus gritos pelos campos, no mesmo campo que no outro dia irão pisar em cima, irão esmagá-lo, aniquilá-lo com toda a vacuidade e vergonha da ganância, da indiferença e da inconsciência.
Agora esses vãos tradicionalistas mataram cavalos em uma cavalgada imbecil para exibir o seu amor pela terra. Tudo isso é uma palhaçada. Uma cruel palhaçada que custou a vida de animais inocentes e indefesos, animais esses que deveriam ser amados pelo gaúcho, em sinal da infinita gratidão que deveríamos ter por eles. Os cavalos, que ajudaram a construir nossa história. E o verdadeiro gaúcho tem essa gratidão, sem dúvida, ama sua terra e os animais que nela vivem. E quem ama, cuida do que ama. O verdadeiro gaúcho não precisa andar pilchado para sê-lo. O autêntico gaúcho demonstra o seu "gauchismo" pela alma e pela consciência, não com exibicionismo barato. Ou melhor, caro, porque além de custar a vida de animais, custa o dinheiro do nosso bolso, que, como sempre, pagamos pelas palhaçadas deste governo vergonhoso que aí está.
Palhaçada sob os aplausos da Secretária de Cultura Mônica Leal. Uma incompetente, que só entrou para a secretaria porque era amiga da governadora. No embate entre Juremir Machado da Silva e Mônica Leal, fico com o primeiro. Ele tem toda razão. O que a Mônica fez pela real cultura em nosso estado? Eu até agora não vi nada. Só o que vejo nos reais campos culturais e artísticos são pesadas críticas ao trabalho (ou seria destrabalho?) da secretária.
A seguir transcrevo o trecho de um texto publicado no blog de Milton Ribeiro http://miltonribeiro.opsblog.org/2008/09/19/monica-leal-a-amiga-de-yeda-crusius/ :
Esses dias fui ao show do músico tradicionalista Leonel Gomes em uma fazenda no interior de Santiago. O show foi à noite, e durante o dia havia rodeio. Não vi o rodeio, apenas o show. Mas o que vi também foi um campo imundo, coberto de latas de cerveja, de garrafas plásticas, de papéis de picolé, de plásticos de todos os tipos, enfim, os senhores da tradição que dizem tanto amar a terra gaúcha, cobriram essa mesma terra de lixo. De lixo!
Isso é amar a terra? É transformar o pampa numa lixeira? Amar a terra é cobrir o campo de eucaliptos? É encharcar as lavouras de agrotóxicos? Amar a terra é entupir os rios de venenos, de esgotos, de detergentes? É assoreá-los devastando todas as matas que os protegem? Claro, rio não é terra, é água. Amar a terra é transformar campo em deserto de tanto explorar sem a mínima piedade? Amar a terra é massacrar os animais que nela vivem? É atropelar graxains, e tatus, e capivaras, e gambás e deixá-los estrebuchando pelas estradas? Amar a terra é varrer dela toda a vida?
E depois vêm com esses vãos tradicionalismos alardear que amam a terra gaúcha, que amam o pampa? Com raras e louváveis exceções, isso é uma mentira deslavada. Adoram andar ostentando suas pilchas, suas botas, seus lenços, suas bandeiras sobre o lombo de um pobre cavalo, mas por exibicionismo, não por amor. Adoram tomar seus tragos, fumar seu palheiros, dar seus gritos pelos campos, no mesmo campo que no outro dia irão pisar em cima, irão esmagá-lo, aniquilá-lo com toda a vacuidade e vergonha da ganância, da indiferença e da inconsciência.
Agora esses vãos tradicionalistas mataram cavalos em uma cavalgada imbecil para exibir o seu amor pela terra. Tudo isso é uma palhaçada. Uma cruel palhaçada que custou a vida de animais inocentes e indefesos, animais esses que deveriam ser amados pelo gaúcho, em sinal da infinita gratidão que deveríamos ter por eles. Os cavalos, que ajudaram a construir nossa história. E o verdadeiro gaúcho tem essa gratidão, sem dúvida, ama sua terra e os animais que nela vivem. E quem ama, cuida do que ama. O verdadeiro gaúcho não precisa andar pilchado para sê-lo. O autêntico gaúcho demonstra o seu "gauchismo" pela alma e pela consciência, não com exibicionismo barato. Ou melhor, caro, porque além de custar a vida de animais, custa o dinheiro do nosso bolso, que, como sempre, pagamos pelas palhaçadas deste governo vergonhoso que aí está.
Palhaçada sob os aplausos da Secretária de Cultura Mônica Leal. Uma incompetente, que só entrou para a secretaria porque era amiga da governadora. No embate entre Juremir Machado da Silva e Mônica Leal, fico com o primeiro. Ele tem toda razão. O que a Mônica fez pela real cultura em nosso estado? Eu até agora não vi nada. Só o que vejo nos reais campos culturais e artísticos são pesadas críticas ao trabalho (ou seria destrabalho?) da secretária.
A seguir transcrevo o trecho de um texto publicado no blog de Milton Ribeiro http://miltonribeiro.opsblog.org/2008/09/19/monica-leal-a-amiga-de-yeda-crusius/ :
“Mônica Leal foi colocada como Secretária de Cultura do Rio Grande do Sul por ser amiga de Yeda Crusius. Yeda afirmou que Mônica era alguém de sua confiança, uma amiga com quem tomava chá e chimarrão, enquanto Mônica replicava que estava encantada com o convite, apesar de não saber nada sobre política cultural, cultura, artistas, leis de incentivo, etc., mas que aprenderia, pois tinha boa vontade. Antes deste convite, Mônica Leal dizia “carregar a bandeira da Segurança Pública e a herança política de seu pai”. Nada mais próximo à cultura.
Em suas primeiras entrevistas, notei que Mônica tinha problemas maiores. Como dizê-los? Bem, parecia que a luz da inteligência não havia brilhado muito para ela, seus discursos eram vazios e, pior, sem o palavreado político habitual; ou seja, eram tolos. Uma vez, na abertura de um concerto da OSPA, o maestro Isaac Karabtchevsky, vendo que ela se perdia de forma constrangedora na frente de uma platéia que começava a rir, saiu em sua ajuda, aplicando os termos corretos: concerto, solistas, maestro, sinfonia, etc. A boa vontade de aprender cultura da secretária não estava à altura daqueles termos.
Mônica Leal é filha de um dos políticos mais truculentos e involuntariamente cômicos de nosso estado. Seu pai, Pedro Américo Leal, foi certamente o coronel mais entusiasmado com a ditadura militar. Era ele quem costumava ir aos jornais e TVs para, sempre aos gritos, afirmar que não havia tortura, que a ditadura realizava milagres em todos os campos e conclamava os comunistas a saírem de sob seus colchões. Ouvi-o muitíssimas vezes. Ele não aceitava apartes, era uma patrola.
Com a finalidade de defender a memória de papai, Mônica Leal já tentou retirar do Memorial do Rio Grande do Sul o Acervo da Luta Contra a Ditadura, desmembrando-o entre outras instituições. Ora, esta documentação — que ao que eu saiba nem está catalogada –, deve conter o nome de Pedro Américo Leal por todo lado.”
Essa é a nossa Secretária de Cultura... Vejam bem, meus amigos, de CULTURA! Sem mais.
25 fevereiro 2010
Inebriei-me de Ocaso...
flecha de Fim varou-me no peito
rasgando a carne como a água do mar
avança sobre a praia frágil:
insanamente lenta.
pé por pé
me lancei em lentidão da noite
e cada passo
era cada passo um século
cada século
era de sangue a gota
gota a gota
lacrimejava a vida
e passo a passo
me arrastava largo
vago arrastando
lento em adágio
formei-me vãos lagos
a cada compasso
lasso sangrado
e passo a gota
a marcha marcava
o rastro marcado
da morte alagada
lento inundado
do que desmorona
fúnebre marcha
em rastejo de cobra
sangue por sangue
sequei-me de alma
aos poucos do lento
em quase ao eterno
gole por gole
inebriei-me de ocaso
e ninguém viu que meu peito
que meu peito esvaziava
e devagar agonizo...
como a Terra nos morre...
rasgando a carne como a água do mar
avança sobre a praia frágil:
insanamente lenta.
pé por pé
me lancei em lentidão da noite
e cada passo
era cada passo um século
cada século
era de sangue a gota
gota a gota
lacrimejava a vida
e passo a passo
me arrastava largo
vago arrastando
lento em adágio
formei-me vãos lagos
a cada compasso
lasso sangrado
e passo a gota
a marcha marcava
o rastro marcado
da morte alagada
lento inundado
do que desmorona
fúnebre marcha
em rastejo de cobra
sangue por sangue
sequei-me de alma
aos poucos do lento
em quase ao eterno
gole por gole
inebriei-me de ocaso
e ninguém viu que meu peito
que meu peito esvaziava
e devagar agonizo...
como a Terra nos morre...
23 fevereiro 2010
Fernando Pessoa e seus Passos da Cruz VIII
Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 9º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "A Morte de Cleópatra" de Guido Cagnacci.
Passos da Cruz - Soneto VIII
Ignorado ficasse o meu destino
Entre pálios (e a ponte sempre à vista),
E anel concluso a chispas de ametista
A frase falha do meu póstumo hino...
Florescesse em meu glabro desatino
O himeneu das escadas da conquista
Cuja preguiça, arrecadada, dista
Almas do meu impulso cristalino...
Meus ócios ricos assim fossem, vilas
Pelo campo romano, e a toga traça
No meu soslaio anônimas (desgraça
A vida) curvas sob mãos intranqüilas...
E tudo sem Cleópatra teria
Findado perto de onde raia o dia...
Entre pálios (e a ponte sempre à vista),
E anel concluso a chispas de ametista
A frase falha do meu póstumo hino...
Florescesse em meu glabro desatino
O himeneu das escadas da conquista
Cuja preguiça, arrecadada, dista
Almas do meu impulso cristalino...
Meus ócios ricos assim fossem, vilas
Pelo campo romano, e a toga traça
No meu soslaio anônimas (desgraça
A vida) curvas sob mãos intranqüilas...
E tudo sem Cleópatra teria
Findado perto de onde raia o dia...
21 fevereiro 2010
Sobre o Sangue
construí meu verso sobre o sangue
derramado duro na nua terra aberta
coagulado sangue seco pelo pó da enxada
que deserticamente escorre...
construí meu verso sobre o sangue
de água morta em rio derramado humano
sangue viscoso-negro entre a beira acabada
que poluidamente escorre...
construí meu verso sobre o sangue
de seiva-lágrima em derramada queda
esverdeado sangue de vastidão tombada
que devastadamente escorre...
construí meu verso sobre o sangue
do guará atropelado pelo horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas
que extintamente escorre...
meu verso é só uma expressão sangrada
de tudo aquilo que morre.
derramado duro na nua terra aberta
coagulado sangue seco pelo pó da enxada
que deserticamente escorre...
construí meu verso sobre o sangue
de água morta em rio derramado humano
sangue viscoso-negro entre a beira acabada
que poluidamente escorre...
construí meu verso sobre o sangue
de seiva-lágrima em derramada queda
esverdeado sangue de vastidão tombada
que devastadamente escorre...
construí meu verso sobre o sangue
do guará atropelado pelo horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas
que extintamente escorre...
meu verso é só uma expressão sangrada
de tudo aquilo que morre.
19 fevereiro 2010
Francesca da Rimini: Dante e Tchaikovsky unidos
Dante Alighieri e Piotr Tchaikovsky uniram-se para criar uma magnífica obra em conjunto. Claro que não pessoalmente. Dante morreu quase cinco séculos antes de Tchaikovsky nascer. Mas em 1876, Tchaikovsky compôs o poema sinfônico Francesca da Rimini, baseando-se no V canto do Inferno da Divina Comédia de Dante. Trata-se de uma das obras mais trágicas e violentas da história da música.
Porém, convém antes comentar brevemente sobre o que é um poema sinfônico. É uma composição para orquestra cuja intenção é descrever e expressar alguma obra literária. Ela pode ser baseada em toda obra ou em apenas em um trecho dela. Não confundir com a ópera, esta é cantada e teatralizada. O poema sinfônico é predominantemente instrumental e não teatralizado. Beethoven é considerado o precursor do poema sinfônico, mas foi Liszt quem o desenvolveu, criando inúmeras obras nesse gênero. Tchaikovsky, Richard Strauss, Cesar Franck, entre outros, foram também expoentes do poema sinfônico.
Francesca da Rimini está entre os maiores poemas sinfônicos já compostos. Mas quem é Francesca da Rimini? É um personagem do Inferno de Dante, cuja existência é verídica durante a Itália medieval. O genial poeta italiano encontra a sombra de Francesca a vagar no Inferno. Francesca fora condenada por trair seu marido, o qual era de desagradável aparência, com o próprio irmão deste. Os adúlteros foram condenados, no 2º círculo infernal, a serem carregados por uma brutal tempestade, um terrível vendaval, e estavam totalmente impedidos de voltar a se tocarem. No entanto, mantinham as recordações dos momentos felizes em que ainda podiam abraçar-se na entrega a seu amor proibido. E tais sensações eram fonte de indizível tortura.
Tortura essa que foi magistralmente expressa na obra de Tchaikovsky. O poema começa de forma absolutamente sombria, onde o clima infernal parece ser palpável no ar. Estamos entrando no Inferno dantesco. Em seguida surge o lúgubre soprar da tempestade, o qual vai crescendo assustadoramente, até se transformar em algo como um devastador e incessante furacão. A orquestra explode em impiedosos acordes de condenação.
Após, surge um momento de soturna calmaria, onde se apresenta o melancólico tema de amor do casal condenado. Trata-se de uma melodia escura e comovente, que vai tomando contornos cada vez mais intensos ao longo da obra, sob um fundo de sonho e pesadelo, de ternura e desgraça, de paixão e desolação. Porém, aos poucos, o clima do amor proibido dá lugar à devastação infrene da tempestade, que volta a soprar com toda fúria arrastando as almas dos condenados.
O obra encaminha-se então para o seu apocalíptico final, onde a força da orquestra torna-se absolutamente avassaladora, fazendo recair todo o peso da culpa sobre o casal de maneira insana e implacável. Ao finalizar-se, o poema sinfônico Francesca da Rimini deixa-nos a tremenda sensação de que acabamos de sair do mais profundo, mais sentencioso e mais invencível inferno. A obra é composta de um único movimento com mais de 25 minutos de duração. (na imagem, o quadro "A Barca de Dante", de Delacroix)
Porém, convém antes comentar brevemente sobre o que é um poema sinfônico. É uma composição para orquestra cuja intenção é descrever e expressar alguma obra literária. Ela pode ser baseada em toda obra ou em apenas em um trecho dela. Não confundir com a ópera, esta é cantada e teatralizada. O poema sinfônico é predominantemente instrumental e não teatralizado. Beethoven é considerado o precursor do poema sinfônico, mas foi Liszt quem o desenvolveu, criando inúmeras obras nesse gênero. Tchaikovsky, Richard Strauss, Cesar Franck, entre outros, foram também expoentes do poema sinfônico.
Francesca da Rimini está entre os maiores poemas sinfônicos já compostos. Mas quem é Francesca da Rimini? É um personagem do Inferno de Dante, cuja existência é verídica durante a Itália medieval. O genial poeta italiano encontra a sombra de Francesca a vagar no Inferno. Francesca fora condenada por trair seu marido, o qual era de desagradável aparência, com o próprio irmão deste. Os adúlteros foram condenados, no 2º círculo infernal, a serem carregados por uma brutal tempestade, um terrível vendaval, e estavam totalmente impedidos de voltar a se tocarem. No entanto, mantinham as recordações dos momentos felizes em que ainda podiam abraçar-se na entrega a seu amor proibido. E tais sensações eram fonte de indizível tortura.
Tortura essa que foi magistralmente expressa na obra de Tchaikovsky. O poema começa de forma absolutamente sombria, onde o clima infernal parece ser palpável no ar. Estamos entrando no Inferno dantesco. Em seguida surge o lúgubre soprar da tempestade, o qual vai crescendo assustadoramente, até se transformar em algo como um devastador e incessante furacão. A orquestra explode em impiedosos acordes de condenação.
Após, surge um momento de soturna calmaria, onde se apresenta o melancólico tema de amor do casal condenado. Trata-se de uma melodia escura e comovente, que vai tomando contornos cada vez mais intensos ao longo da obra, sob um fundo de sonho e pesadelo, de ternura e desgraça, de paixão e desolação. Porém, aos poucos, o clima do amor proibido dá lugar à devastação infrene da tempestade, que volta a soprar com toda fúria arrastando as almas dos condenados.
O obra encaminha-se então para o seu apocalíptico final, onde a força da orquestra torna-se absolutamente avassaladora, fazendo recair todo o peso da culpa sobre o casal de maneira insana e implacável. Ao finalizar-se, o poema sinfônico Francesca da Rimini deixa-nos a tremenda sensação de que acabamos de sair do mais profundo, mais sentencioso e mais invencível inferno. A obra é composta de um único movimento com mais de 25 minutos de duração. (na imagem, o quadro "A Barca de Dante", de Delacroix)
18 fevereiro 2010
Ninguém Pode Sabê-lo
o teu Mistério
ninguém pode sabê-lo nem vencê-lo
rosto de mar que se esvai pelas tênebras
e lá onde as verdes vozes ciclonam
o teu mistério ninguém pode sê-lo
que se espalha pelo azul dos mais vastos
em beijos de folhas que serenam perfumes
água da noite que se luz no não-dito
a um verso de ave inundando até sonhos...
o teu mistério ninguém pode vê-lo
ninguém pode ser o que vê sem ter sido
e nem pode saber se não vence o não-visto:
agora estou vago e do sol sinto um halo...
o teu Mistério ninguém pode sabê-lo...
só misteriá-lo.
ninguém pode sabê-lo nem vencê-lo
rosto de mar que se esvai pelas tênebras
e lá onde as verdes vozes ciclonam
o teu mistério ninguém pode sê-lo
que se espalha pelo azul dos mais vastos
em beijos de folhas que serenam perfumes
água da noite que se luz no não-dito
a um verso de ave inundando até sonhos...
o teu mistério ninguém pode vê-lo
ninguém pode ser o que vê sem ter sido
e nem pode saber se não vence o não-visto:
agora estou vago e do sol sinto um halo...
o teu Mistério ninguém pode sabê-lo...
só misteriá-lo.
16 fevereiro 2010
Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz VII
Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 8º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Incêndio nas Casas do Parlamento", de William Turner
Passos da Cruz - Soneto VII
Fosse eu apenas, não sei onde ou como,
Uma coisa existente sem viver,
Noite de Vida sem amanhecer
Entre as sirtes do meu doirado assomo…
Fada maliciosa ou incerto gnomo
Fadado houvesse de não pertencer
Meu intuito gloríola com Ter
A árvore do meu uso o único pomo…
Fosse eu uma metáfora somente
Escrita nalgum livro insubsistente
Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,
Mas doente, e, num crepúsculo de espadas,
Morrendo entre bandeiras desfraldadas
Na última tarde de um império em chamas…
Uma coisa existente sem viver,
Noite de Vida sem amanhecer
Entre as sirtes do meu doirado assomo…
Fada maliciosa ou incerto gnomo
Fadado houvesse de não pertencer
Meu intuito gloríola com Ter
A árvore do meu uso o único pomo…
Fosse eu uma metáfora somente
Escrita nalgum livro insubsistente
Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,
Mas doente, e, num crepúsculo de espadas,
Morrendo entre bandeiras desfraldadas
Na última tarde de um império em chamas…
13 fevereiro 2010
Meu Livro Poemas do Fim e do Princípio – Uma Aposta no Livro Digital
Apresento aos leitores e amigos meu 2º livro, intitulado Poemas do Fim e do Princípio. O livro foi editado pela editora Livros Ilimitados e está em pré-venda em seu site, em duas versões: digital (e-book) e impressa. Poemas do Fim e do Princípio conta com 245 poemas em quase 250 páginas, o qual resulta de uma seleção realizada por mim mesmo entre a minha produção poética dos últimos cinco anos. A capa da obra é ilustrada com a pintura “A Tentação de Santo Antônio”, do gênio da pintura holandês Hieronymus Bosch. O quadro é considerado um dos mais apocalípticos da história.
Poemas do Fim e do Princípio ainda não foi lançado oficialmente, visto que os exemplares impressos que pedi somente ficarão prontos na semana seguinte ao carnaval. Seu lançamento ocorrerá em Santiago na 1ª quinzena de março, porém ainda não há data e local definidos.
Quanto à publicação do livro, resolvi fazer diferente desta vez. Ao invés de publicar um livro independente, encomendando determinado número de cópias a serem vendidas posteriormente, optei por publicá-lo por uma editora, realizando um livro totalmente profissional , com registro na Biblioteca Nacional e tudo mais. O livro será comercializado diretamente pela editora, o que não significa que não poderá ser adquirido por mim.
Sendo publicado por uma editora, a versão impressa sairá por um preço mais elevado do que se fosse editado de forma independente. Porém, a minha grande aposta está na versão digital do livro, a qual é bem mais barata que a impressa (inclusive se fosse uma edição independente), não necessita de frete (o que o barateia ainda mais), é prático, e, o que é muito importante, não agride o meio-ambiente. O livro digital, ou e-book, após efetuado o pagamento, será enviado para o e-mail do cliente informado durante a compra. Além disso, um livro digital publicado por uma editora possui um universo de divulgação muito mais amplo do que um livro independente. Para o autor mesmo é muito mais fácil, rápido e eficiente realizar a divulgação de um livro digital.
Hoje em dia, as pessoas leem bem mais poesia na tela do computador do que em livros impressos, principalmente os jovens, que passam horas e horas diárias ligados à internet. Tendência que só tende a crescer. E para aqueles que preferem ler o livro na forma tradicional, basta imprimi-lo. Portanto, eu recomendo a todos os leitores que adquiram o livro em sua versão digital.
Mesmo assim, o livro também poderá ser adquirido no formato impresso. Eu encomendei alguns poucos exemplares para o lançamento do livro em março. Durante o lançamento, os livros impressos estarão por um preço um pouco inferior ao preço de venda no site. No momento que estiverem determinados local e data para o lançamento, eu enviarei os convites.
Para quem já quiser adquirir o livro, esta é a minha página na editora Livros Ilimitados: http://www.livrosilimitados.com.br/loja/autores_descricao.asp?codigo_autor=7 .
Poemas do Fim e do Princípio ainda não foi lançado oficialmente, visto que os exemplares impressos que pedi somente ficarão prontos na semana seguinte ao carnaval. Seu lançamento ocorrerá em Santiago na 1ª quinzena de março, porém ainda não há data e local definidos.
Quanto à publicação do livro, resolvi fazer diferente desta vez. Ao invés de publicar um livro independente, encomendando determinado número de cópias a serem vendidas posteriormente, optei por publicá-lo por uma editora, realizando um livro totalmente profissional , com registro na Biblioteca Nacional e tudo mais. O livro será comercializado diretamente pela editora, o que não significa que não poderá ser adquirido por mim.
Sendo publicado por uma editora, a versão impressa sairá por um preço mais elevado do que se fosse editado de forma independente. Porém, a minha grande aposta está na versão digital do livro, a qual é bem mais barata que a impressa (inclusive se fosse uma edição independente), não necessita de frete (o que o barateia ainda mais), é prático, e, o que é muito importante, não agride o meio-ambiente. O livro digital, ou e-book, após efetuado o pagamento, será enviado para o e-mail do cliente informado durante a compra. Além disso, um livro digital publicado por uma editora possui um universo de divulgação muito mais amplo do que um livro independente. Para o autor mesmo é muito mais fácil, rápido e eficiente realizar a divulgação de um livro digital.
Hoje em dia, as pessoas leem bem mais poesia na tela do computador do que em livros impressos, principalmente os jovens, que passam horas e horas diárias ligados à internet. Tendência que só tende a crescer. E para aqueles que preferem ler o livro na forma tradicional, basta imprimi-lo. Portanto, eu recomendo a todos os leitores que adquiram o livro em sua versão digital.
Mesmo assim, o livro também poderá ser adquirido no formato impresso. Eu encomendei alguns poucos exemplares para o lançamento do livro em março. Durante o lançamento, os livros impressos estarão por um preço um pouco inferior ao preço de venda no site. No momento que estiverem determinados local e data para o lançamento, eu enviarei os convites.
Para quem já quiser adquirir o livro, esta é a minha página na editora Livros Ilimitados: http://www.livrosilimitados.com.br/loja/autores_descricao.asp?codigo_autor=7 .
Ali há um link que direciona para os livros em seus dois formatos. Então, convido todos a conhecerem o meu 1º livro de poemas. Qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail reiffer@gmail.com. Obrigado.
11 fevereiro 2010
Ao Fim da Rosa
rosa que paira pelo meu sonho
quem foi que sangrou-te à tormenta
quem foi que matou-te em meu sangue
rosa que sonha pelo meu grave?
quem foi que falou-te de amar-te
daquilo que voa e sempre te parte
quem foi que arrancou-te da noite
rosa que doente pelo meu sempre?
quem te atormenta pelas espadas
do vasto martelo firme na morte
quem te vaza do lago que canta
rosa que morre pela minha veia?
quem te disse que tu és passado
rosa que afoga em tudo que chove
em medo que corta tu te consomes
rosa que vai-te em tudo que corre?
quem é que te lança na faca que mata
rosa que vaga em tudo que é podre
rosa que finda em todo meu nada...?
rosa esmagada.
quem foi que sangrou-te à tormenta
quem foi que matou-te em meu sangue
rosa que sonha pelo meu grave?
quem foi que falou-te de amar-te
daquilo que voa e sempre te parte
quem foi que arrancou-te da noite
rosa que doente pelo meu sempre?
quem te atormenta pelas espadas
do vasto martelo firme na morte
quem te vaza do lago que canta
rosa que morre pela minha veia?
quem te disse que tu és passado
rosa que afoga em tudo que chove
em medo que corta tu te consomes
rosa que vai-te em tudo que corre?
quem é que te lança na faca que mata
rosa que vaga em tudo que é podre
rosa que finda em todo meu nada...?
rosa esmagada.
(na imagem, o quadro "A Rosa Meditativa" de Salvador Dalí)
09 fevereiro 2010
A Noite é o Seio
Noite...
negra flâmula do Fim...
és romântica, simbolista e pós-moderna:
a Noite é eterna.
quem pode impedir
o teu sempre ser?
quem além pode ver
entre o mistério que tens?
Tu sempre vens.
por mais sol
que brilhe nos olhos da bela
os olhos dela
hão de sempre fechar...
que de tudo há noite:
anoitece a vida
anoitece o sonho...
anoitece amar.
em tudo e no todo
cai a sombra divina:
as alegrias tombam
os sorrisos se fecham
e o romance termina.
o adeus aguarda no trono do tempo
e o seu aceno de réquiem
sempre nos alcança:
tudo descansa.
há a noite do dia
és romântica, simbolista e pós-moderna:
a Noite é eterna.
quem pode impedir
o teu sempre ser?
quem além pode ver
entre o mistério que tens?
Tu sempre vens.
por mais sol
que brilhe nos olhos da bela
os olhos dela
hão de sempre fechar...
que de tudo há noite:
anoitece a vida
anoitece o sonho...
anoitece amar.
em tudo e no todo
cai a sombra divina:
as alegrias tombam
os sorrisos se fecham
e o romance termina.
o adeus aguarda no trono do tempo
e o seu aceno de réquiem
sempre nos alcança:
tudo descansa.
há a noite do dia
a noite do mundo
noite do Cosmos:
a Noite é a origem
Deusa de onde tudo veio...
e a Noite é o destino:
iremos todos repousar
no seu imortal seio...
(na imagem, o quadro “Noite Estrelada sobre o Rhone” de Van Gogh)
noite do Cosmos:
a Noite é a origem
Deusa de onde tudo veio...
e a Noite é o destino:
iremos todos repousar
no seu imortal seio...
(na imagem, o quadro “Noite Estrelada sobre o Rhone” de Van Gogh)
07 fevereiro 2010
Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz VI
Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 7º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Caminhante Sobre o Mar de Névoa" de Caspar David Friedrich.
Passos da Cruz - Soneto VI
Venho de longe e trago no perfil,
Em forma nevoenta e afastada,
O perfil de outro ser que desagrada
Ao meu atual recorte humano e vil.
Outrora fui talvez, não Boabdil,
Mas o seu mero último olhar, da estrada
Dado ao deixado vulto de Granada,
Recorte frio sob o unido anil...
Hoje sou a saudade imperial
Do que já na distância de mim vi...
Eu próprio sou aquilo que perdi...
E nesta estrada para Desigual
Florem em esguia glória marginal
Os girassóis do império que morri...
06 fevereiro 2010
O Meu Pessimismo
conhecer o humano e a humanidade
é neles não acreditar:
saber é ser pessimista.
ter otimismo
é crer que a árvore
que nasceu e cresceu torta
vai se endireitar
depois de velha...
não adianta, que eu te conheço,
por conseguinte não te acredito.
o meu pessimismo
é como um velho professor antipático
chato e inconveniente
sério e irritante
seco e indiferente
que traz um irônico sorriso no rosto
e chega sempre no meio da festa
trazendo consigo um livro de Não:
ninguém gosta dele
porque todos sabem
no fundo...
que ele tem toda a razão...
é neles não acreditar:
saber é ser pessimista.
ter otimismo
é crer que a árvore
que nasceu e cresceu torta
vai se endireitar
depois de velha...
não adianta, que eu te conheço,
por conseguinte não te acredito.
o meu pessimismo
é como um velho professor antipático
chato e inconveniente
sério e irritante
seco e indiferente
que traz um irônico sorriso no rosto
e chega sempre no meio da festa
trazendo consigo um livro de Não:
ninguém gosta dele
porque todos sabem
no fundo...
que ele tem toda a razão...
05 fevereiro 2010
A Cidade Fétida e a Estranha Doença do Senhor Noite - Final
Já durante a madrugada, passei em frente a uma boate e pude captar os sons das músicas que de lá provinham. O resultado foi que percebi aqueles sons tão doentiamente que meus ouvidos gotejaram sangue por várias quadras. Felizmente, tinha sempre ao meu lado meu amigo lobo, que me consolava, contando-me histórias de um mundo muito além do nosso, o que tranquilizava meu espírito atormentado.
Quando tentava fugir a todas as pessoas, pois já me era intolerável o que o normal comportamento humano sintomaticamente despertava em mim devido à enfermidade, tive a má-sorte de cruzar por um grupo de pessoas eufóricas e muito falantes. Durante arrastados minutos, pude ouvir tudo o que disseram, mesmo que deles me afastasse rapidamente, pois meus tímpanos tornaram-se superexcitados após o sangramento. E essa extrema sensibilidade de meus ouvidos permitiu que eu ouvisse não só as suas frívolas conversas, mas também, e sem dúvida isso é mais uma alucinação de minha doença, algo como uma outra voz simultânea que soava ao fundo das vozes normais e transmitiam a impressão intuitiva de que eram emitidas pelo interior dos falantes. Enquanto aquele grupo comentava sobre diversões e festas, as vozes ao fundo, num tom rouquenho, monstruoso, falavam de dor e desespero, de solidão e vazio. Enquanto eles abordavam suas atividades de seus empregos, as vozes ao fundo se diziam escravas de um trabalho inútil e embrutecedor; e ao falar o grupo sobre dinheiro, as vozes diabólicas grunhiam sobre a total falta de sentido na vida e a maquinização do ser humano; enquanto aquelas pessoas tratavam de suas alegrias e felicidades, as lúgubres vozes interiores rugiam e gemiam infinitas tristezas, desesperanças e fatalidades. E eu, ao ouvir todo aquele infernal espetáculo de horror, senti-me perigosamente asfixiado, e lágrimas infrenes brotaram de meus olhos e uma dor de cabeça lancinante torturou-me ao máximo.
Psiquicamente dilacerado pelos sintomas de minha enfermidade, subi às costas do lobo e saí da cidade. Minutos depois, avistamos uma imensa carruagem de aspecto mitológico, puxada por sete cavalos possantes e imponentes, certamente, outra alucinação oriunda da doença. Sobre o primeiro dos cavalos, estava um homem de longo cabelo, trajando vestes, de vermelho vivo, típicas de um guerreiro romano. Sobre a carruagem, avistei uma imensa águia de asas abertas, com o agudo olhar fixo no horizonte. Dentro do carro mitológico havia alguns indivíduos, e, ao lado de cada um, um lobo ou um leopardo. O cavaleiro de trajes vermelhos parou a carruagem e convidou-me a subir. Eu o fiz, juntamente com o lobo. A carruagem prosseguiu até subir um alto monte, onde um frio vento soprava incessante. No cume do monte, olhamos para trás e avistamos ao longe a cidade, envolta em uma fumaça negra e mórbida. Com o vento, um fedor indescritivelmente insuportável foi trazido daquela decadente região urbana. E eu pensei comigo que até então fizera parte daquela completa degeneração. Graças a Deus, enlouqueci.
Quando tentava fugir a todas as pessoas, pois já me era intolerável o que o normal comportamento humano sintomaticamente despertava em mim devido à enfermidade, tive a má-sorte de cruzar por um grupo de pessoas eufóricas e muito falantes. Durante arrastados minutos, pude ouvir tudo o que disseram, mesmo que deles me afastasse rapidamente, pois meus tímpanos tornaram-se superexcitados após o sangramento. E essa extrema sensibilidade de meus ouvidos permitiu que eu ouvisse não só as suas frívolas conversas, mas também, e sem dúvida isso é mais uma alucinação de minha doença, algo como uma outra voz simultânea que soava ao fundo das vozes normais e transmitiam a impressão intuitiva de que eram emitidas pelo interior dos falantes. Enquanto aquele grupo comentava sobre diversões e festas, as vozes ao fundo, num tom rouquenho, monstruoso, falavam de dor e desespero, de solidão e vazio. Enquanto eles abordavam suas atividades de seus empregos, as vozes ao fundo se diziam escravas de um trabalho inútil e embrutecedor; e ao falar o grupo sobre dinheiro, as vozes diabólicas grunhiam sobre a total falta de sentido na vida e a maquinização do ser humano; enquanto aquelas pessoas tratavam de suas alegrias e felicidades, as lúgubres vozes interiores rugiam e gemiam infinitas tristezas, desesperanças e fatalidades. E eu, ao ouvir todo aquele infernal espetáculo de horror, senti-me perigosamente asfixiado, e lágrimas infrenes brotaram de meus olhos e uma dor de cabeça lancinante torturou-me ao máximo.
Psiquicamente dilacerado pelos sintomas de minha enfermidade, subi às costas do lobo e saí da cidade. Minutos depois, avistamos uma imensa carruagem de aspecto mitológico, puxada por sete cavalos possantes e imponentes, certamente, outra alucinação oriunda da doença. Sobre o primeiro dos cavalos, estava um homem de longo cabelo, trajando vestes, de vermelho vivo, típicas de um guerreiro romano. Sobre a carruagem, avistei uma imensa águia de asas abertas, com o agudo olhar fixo no horizonte. Dentro do carro mitológico havia alguns indivíduos, e, ao lado de cada um, um lobo ou um leopardo. O cavaleiro de trajes vermelhos parou a carruagem e convidou-me a subir. Eu o fiz, juntamente com o lobo. A carruagem prosseguiu até subir um alto monte, onde um frio vento soprava incessante. No cume do monte, olhamos para trás e avistamos ao longe a cidade, envolta em uma fumaça negra e mórbida. Com o vento, um fedor indescritivelmente insuportável foi trazido daquela decadente região urbana. E eu pensei comigo que até então fizera parte daquela completa degeneração. Graças a Deus, enlouqueci.
(Na imagem, o quadro "A Loba dando de Mamar a Rômulo e Remo" de Agostino Carraci)
04 fevereiro 2010
A Cidade Fétida e a Estranha Doença do Senhor Noite
Sou conhecido como o senhor Louis Noite. Claro que meu sobrenome não é esse, mas assim tornei-me conhecido devido ao estranho caráter dos impiedosos sintomas de minha enfermidade, os quais me impedem de sair às ruas durante o dia. Não que os raios solares sejam a mim nocivos, o que ocorre é que o sofrimento causado pela desconhecida patologia torna-se inexplicavelmente insuportável durante o dia, amenizando-se pelas horas noturnas.
Outras características e sintomas de minha doença são ainda mais absurdos, frutos de uma inquietante alteração de consciência, que muito se assemelha a uma esquizofrenia, com a diferença essencial de que sempre mantenho-me consciente de tudo o que comigo ocorre. Para exemplificar claramente o comportamento de minha enfermidade, relatarei os acontecimentos daquela terrível noite, da qual julgo desnecessário mencionar sua data.
Realizava eu uma de minhas longas caminhadas noturnas, que é quando intento buscar momentâneo alívio à dor física e psicológica ocasionadas pela doença, e, costumeiramente, meu lobo negro juntou-se a mim. Sim, em minhas caminhadas, sempre tenho a companhia de um imenso lobo de espessa pelagem negra, que comigo dialoga durante toda a noite. Esse é mais um sintoma da enfermidade, a visão de um lobo que conversa como um humano e que, obviamente, não é visto por ninguém mais, e, assim, todos pensam que converso sozinho, mas quem me conhece já está acostumado com minha loucura. Às vezes, subo às costas do lobo, e ele carrega-me por estranhos e magnificentes lugares oníricos, os quais não é meu objetivo descrevê-los agora. Outro sintoma, que ao longo daquela noite encontrava-se um tanto exaltado, consiste no fato de, ao passar por qualquer árvore, invariavelmente, perceber um vulto luminoso ao lado, acima, ou interpenetrado na mesma. Identifico tal vulto como a alma da árvore e com ela mantenho um absurdo diálogo.
Contudo, como ia dizendo, aquela noite foi verdadeiramente terrível. Não diferiu muito das outras em sua essência, mas na intensidade e dramaticidade dos acontecimentos. Talvez por ser lua cheia, dizem que isso afeta os loucos. Passava eu por um grupo de jovens quando, involuntariamente, pude ouvir sobre o que se tratavam os assuntos de suas conversas. Ao fazê-lo, senti um tremendo choque em meu cérebro, uma febre alucinante que me transmitia a insuportável sensação de que meu crânio iria derreter. Atribuo tal choque à imensa quantidade de bobagens e de futilidades contidas nas conversas daqueles jovens, tão agressivas a minha mente enferma que a acometeu de uma febre vulcânica.
Prosseguindo em meu sinistro passeio, avistei em uma esquina um homem alto que muito chamava a atenção. Ele conversava com outros dois homens, e, aproximando-me, percebi que se tratava de um respeitável candidato a deputado. Então, outro sintoma de minha enfermidade principiou a se manifestar, agora na forma de estarrecedores distúrbios visuais. Meus olhos doentes e insanos não viam ali somente um alegre e eloquente político, mas um ser monstruoso, de cuja boca gotejava uma baba amarelada e purulenta, de cujos olhos brotavam horripilantes ejaculações gangrenosas. E ainda tive a nítida impressão de que ao fundo da boca bestial daquele ser para mim desprezível havia algo como um maligno deboche. Aquele ar perverso e vazio que o político irradiava perturbou sobremaneira minha demente psique, e eu não conseguia entender como que os outros não se davam conta de nada disso, como tudo era tão normal para os outros e tão horrível para mim.
Outras características e sintomas de minha doença são ainda mais absurdos, frutos de uma inquietante alteração de consciência, que muito se assemelha a uma esquizofrenia, com a diferença essencial de que sempre mantenho-me consciente de tudo o que comigo ocorre. Para exemplificar claramente o comportamento de minha enfermidade, relatarei os acontecimentos daquela terrível noite, da qual julgo desnecessário mencionar sua data.
Realizava eu uma de minhas longas caminhadas noturnas, que é quando intento buscar momentâneo alívio à dor física e psicológica ocasionadas pela doença, e, costumeiramente, meu lobo negro juntou-se a mim. Sim, em minhas caminhadas, sempre tenho a companhia de um imenso lobo de espessa pelagem negra, que comigo dialoga durante toda a noite. Esse é mais um sintoma da enfermidade, a visão de um lobo que conversa como um humano e que, obviamente, não é visto por ninguém mais, e, assim, todos pensam que converso sozinho, mas quem me conhece já está acostumado com minha loucura. Às vezes, subo às costas do lobo, e ele carrega-me por estranhos e magnificentes lugares oníricos, os quais não é meu objetivo descrevê-los agora. Outro sintoma, que ao longo daquela noite encontrava-se um tanto exaltado, consiste no fato de, ao passar por qualquer árvore, invariavelmente, perceber um vulto luminoso ao lado, acima, ou interpenetrado na mesma. Identifico tal vulto como a alma da árvore e com ela mantenho um absurdo diálogo.
Contudo, como ia dizendo, aquela noite foi verdadeiramente terrível. Não diferiu muito das outras em sua essência, mas na intensidade e dramaticidade dos acontecimentos. Talvez por ser lua cheia, dizem que isso afeta os loucos. Passava eu por um grupo de jovens quando, involuntariamente, pude ouvir sobre o que se tratavam os assuntos de suas conversas. Ao fazê-lo, senti um tremendo choque em meu cérebro, uma febre alucinante que me transmitia a insuportável sensação de que meu crânio iria derreter. Atribuo tal choque à imensa quantidade de bobagens e de futilidades contidas nas conversas daqueles jovens, tão agressivas a minha mente enferma que a acometeu de uma febre vulcânica.
Prosseguindo em meu sinistro passeio, avistei em uma esquina um homem alto que muito chamava a atenção. Ele conversava com outros dois homens, e, aproximando-me, percebi que se tratava de um respeitável candidato a deputado. Então, outro sintoma de minha enfermidade principiou a se manifestar, agora na forma de estarrecedores distúrbios visuais. Meus olhos doentes e insanos não viam ali somente um alegre e eloquente político, mas um ser monstruoso, de cuja boca gotejava uma baba amarelada e purulenta, de cujos olhos brotavam horripilantes ejaculações gangrenosas. E ainda tive a nítida impressão de que ao fundo da boca bestial daquele ser para mim desprezível havia algo como um maligno deboche. Aquele ar perverso e vazio que o político irradiava perturbou sobremaneira minha demente psique, e eu não conseguia entender como que os outros não se davam conta de nada disso, como tudo era tão normal para os outros e tão horrível para mim.
(Amanhã, o final) - Na imagem o quadro "Isaac Von Amburgh e Seus Animais" de Landseer
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