17 janeiro 2010

do Destino

o coelho sai tranquilo
da toca e...
de repente o lobo o abocanha

o lobo vai tranquilo
com o coelho e...
de repente o pega a armadilha

o caçador vai tranquilo
com o lobo e...
de repente o pica a serpente

(...)

e era um dia nublado
chuvoso e...
de repente saiu sol

ninguém esperava...

15 janeiro 2010

Uma Pergunta:

mas o que foi que fizeste da tua alma?
quer dizer que a sabes
mas não a ouves?
quer dizes que a tens
mas não a lês?
quer dizer que a vês
mas não a pensas?
quer dizer que a amas
mas não a sentes?

de que adianta
noivar através das flores
se o perfume evapora
pela indiferença do nada?

de que adianta
luzir por entre olhares
se os sonhos escapam
pelo deixar cair das asas?

se achas que vives ter alma
é melhor que a esqueças:
pois só vive a alma
quem por ela morre...

14 janeiro 2010

Letras Aos Corvos (Antologia)


A Editora Literata está realizando uma antologia de poemas góticos e grotescos, com a organização dos escritores Ana Carolina Giorgion e M. D. Amado, e a participação é aberta a qualquer poeta.

Terei a honra de ser o prefaciador do livro, e também serei um dos participantes. Para informações mais detalhadas, tais como o regulamento para participação, comunidade no orkut, acesse o site http://www.letrasaoscorvos.blogspot.com/.


13 janeiro 2010

Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz (III)


Continuo postando os sonetos de Passo da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html. Na próxima semana, o 4º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Vênus" de Velázquez.


Passos da Cruz - Soneto III
Adagas cujas jóias velhas galas...
Opalesci amar-me entre mãos raras,
E fluido a febres entre um lembrar de aras,
O convés sem ninguém cheio de malas...

O íntimo silêncio das opalas
Conduz orientes até jóias caras,
E o meu anseio vai nas rotas claras
De um grande sonho cheio de ócio e salas...

Passa o cortejo imperial, e ao longe
O povo só pelo cessar das lanças
Sabe que passa o seu tirano, e estruge

Sua ovação, e erguem as crianças
Mas o teclado as tuas mãos pararam
E indefinidamente repousaram...

12 janeiro 2010

Eu Não Sirvo a Ninguém

como exemplo
não me siga
que eu a ninguém sou exemplo:
irias arrancar os cabelos
se visses o que trago por dentro

quanto mais belo é o que escrevo
mais de horrores me inundo...
eu não passo
de um vagabundo
e em todos meus passos
nos mais altos
abismos me afundo

o que eu faço da vida
não sei
sei
que meu peito estraçalhei
que quanto melhor é a Arte
mais grave é o enfarte

sou tão nada
que escrevo como escreveram
todos os poetas:
não passo de um triste
a minha própria alma
de tão funda
nem existe

construí catedrais inúteis
do que sinto
ergui minha alma
nos alicerces do que nunca vem
e tudo que digo
minto

do meu trono de miséria
olho-te cheio de orgulho e desdém
por isso não me siga
não me admire
que eu não sirvo pra nada
e não sirvo a ninguém.

10 janeiro 2010

Fatal

na minha boca
sangue de estrelas
sobre meus ombros
todo sol cai
tudo se esvai
lutando à luz do ocaso
trompas de arcanjos
cortam-me a testa
sobre meus olhos
vem todo céu
rasga-se o véu
olhando o fim pra sempre
rabos de raios
dando-me coices
na minha voz
pesa-me a lua
e a noite nua
amando a marcha e a morte
mundos não-críveis
trevas de luzes
cósmicos trezes
na minha alma
voou toda calma
se indo pelo Mistério

08 janeiro 2010

Não Melodio por Mim...

a final melodia que mais criei
é mais triste que tudo que crio
que é a melodia que não criei
que melodias não rio
mas melodias finais
é tudo que faço
e traço

fracasso
que não crio tudo que faço
só o que é cada vez mais trágico
e escuro
só traço o final mais puro
o estrago
a melodia que for mais triste
que é claro
não existe
e o final que for mais duro
e trago

o vinho que for mais largo
de cansaço
amarguro
e de sangue
na desgraça do braço
em pulso

foi com ele que (al)cansei o laço
errado
onde ando arrastando
o rastro
ondeando em vão
para lassar teu astro
na minha passada de vasto
em passados abraços
de finais e últimos
(com)passos...

07 janeiro 2010

"Eis o mal dos senhores, os políticos. Nem mesmo chegam a pensar em coisas importantes."


Acompanhando o intenso blog do Ruy Gessinger, li: "A Conta Está Chegando". Refere-se aos desastres ambientais que vêm assolando o RS, sendo o último a queda da ponte de Agudo pela devastadora enchente. Diz Gessinger:


"Mas a conta dos anos 70, do milagre soja-trigo, do desmatamento; a fatura do crescimento demográfico incontrolado ; a destruição de matas nativas e florestas ciliares não podia ficar impune. A Natureza se sente ameaçada, ela é um ser vivo, ela raciocina em termos de milênios, mas decidiu não ter mais paciência com esse serzinho ignóbil, com” suicidal tendences”. "

Faço minhas as suas trágicas palavras. A conta está chegando. E será alta, muito alta, altíssima! Mas não adianta avisar. Adianta? A destruição impiedosa e imbecil da natureza prosseguirá a passos de gigante. E virá a conta, em parcelas cada vez mais caras. E tanto não adianta avisar, que em 1928, eu disse em 1928!, quando ainda não havia preocupações ambientais reais por parte da humanidade, em seu livro "Contraponto", o genial escritor inglês Aldous Huxley advertiu sobre a desgraça que o "progresso" traria ao planeta. A seguir, um trecho da obra:

"Com essa agricultura intensiva, os senhores estão roubando ao solo o seu fósforo. Ele vai desaparecendo completamente de circulação. Depois, basta ver como os senhores deitam fora centenas de milhares de toneladas de anidrido fosfórico nesses esgotos! Derramando-o dentro do mar. E a isso os senhores chamam progresso. (...)

Eis o mal dos senhores, os políticos. Nem mesmo chegam a pensar em coisas importantes. Vivem a falar do progresso e deixam que todos os anos milhões de toneladas de anidrido fosfórico corram para o mar. É idiota, é criminoso, é... é o mesmo que tanger a lira enquanto Roma arde. Mais duzentos anos apenas e os depósitos se extinguirão. Os senhores julgam que estamos em progresso porque vivemos do nosso capital. Fosfato, carvão, petróleo, salitre, esbanje-se tudo! Eis a política dos senhores. (...)

O único resultado desse progresso dos senhores será que dentro de algumas gerações há de vir uma revolução verdadeira - uma revolução natural, cósmica. Os senhores estão transtornando o equilíbrio. Ao cabo, a natureza o há de restabelecer. E o processo será muito desagradável para os senhores. A queda será tão rápida como o foi a ascensão."

E essas palavras proféticas de Huxley já estão se cumprindo.

Para finalizar, republico um de meus poemas, escrito em outubro de 2009:

Enxurrada

olho para a humanidade
e rio
rio que me leva
leve
em suas correntezas
sem correntes

por que devo combater
o que não deve ser combatido?
o que não deve ser combatido
não deve ser combatido
por que já está vencido
o simplesmente é deixar assim
que tudo nasce
e corre ao Fim

não digo
que não irei com a enxurrada
digo que choveu forte vasto e além
e que a enxurrada vem...

06 janeiro 2010

da Sabedoria

uma nota sinfônica
sabe
por toda altura
acima
de cada letra filosófica

uma pintura mágica
filtra
sol e lua
avante
de quaisquer gases científicos

uma poesia trágica
rufla
suas negras asas
além
de toda poeira teórica

05 janeiro 2010

Fernando Pessoa e seus Passos da Cruz (II)


Publico, conforme anunciei na postagem do dia 28/12/09, o segundo da série de 14 sonetos de Passos da Cruz, de Fernando Pessoa. Semana que vem, o 3º soneto.


Passos da Cruz - Soneto II


Há um poeta em mim que Deus me disse...
A Primavera esquece nos barrancos
As grinaldas que trouxe dos arrancos
Da sua efémera e espectral ledice...

Pelo prado orvalhado a meninice
Faz soar a alegria os seus tamancos...
Pobre de anseios teu ficar nos bancos
Olhando a hora como quem sorrisse...

Florir do dia a capitéis de Luz...
Violinos do silêncio enternecidos...
Tédio onde o só ter tédio nos seduz...

Minha alma beija o quadro que pintou...
Sento-me ao pé dos séculos perdidos
E cismo o seu perfil de inércia e voo...
(na imagem, o quadro "João Batista" de Leonardo Da Vinci)

03 janeiro 2010

Frases para 2010

A seguir, deixo 13 trechos literários para reflexão neste ano que está principiando...



1)“Não é ilógico supor que, numa existência futura, possamos considerar esta vida terrestre como um sonho.”

Edgar Allan Poe

2)“A lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, as amarguras que existem agora têm sua origem nas alegrias que podiam ter existido.”

Edgar Allan Poe

3)“O corpo é a sombra das vestes
que encobrem teu ser profundo.”

Fernando Pessoa

4)“A morte é a curva da estrada,
morrer é só não ser visto.”

Fernando Pessoa

5)“Deus costuma usar o fogo, para nos ensinar sobre água.”

Fernando Pessoa

6)“Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.”

Fernando Pessoa

7)“Como a arte é longa, e como a vida é breve!”

Johann Wolfgang Von Goethe

8)“Um prazer demasiadamente repetido produz a insensibilidade; não o sentimos mais como prazer.”

Aldous Huxley

9)“Por trás de toda grande fortuna há um crime.”

Honoré de Balzac

10)“Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos;embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.”

Charles Baudelaire

11)“Que minha guerra contra o homem se eternize, já que cada um de nós reconhece no outro sua própria degradação.”

Conde de Lautréamont


12)"O homem não é o único a falar, o universo fala, tudo fala, linguagens infinitas.”

Novalis

13)“Tu és O Poeta, o grande assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco.”

Cruz e Sousa

02 janeiro 2010

Soneto Ainda Mais ao Fim

Mas da minha alma, Deus, que faço agora,
se mais e mais sou um louco isolado,
se toda esperança é sonho acabado,
se nenhum olho pelo Cosmos chora?

Pois de ocultar-me vejo chegar a hora:
tão somente um coração massacrado
é o que trago caminhando ao meu lado,
é o que te deixo... Sim, devo ir embora.

Exauri as cordas do meu violino
na tentativa de elevar-te além,
na luta insana contra o Gran Destino.

Voto agora ao homem total desdém
e uma carta a um corvo em febre eu assino
na Noite quieta que matar-nos vem...

31 dezembro 2009

Ou Para Apagá-la...

a Arte não pode
dar concessões:
há que se voar ao extremo
e se descer ao abismo

se tens medo
de que o fogo do sol
ou do inferno
incendeie teus olhos
ou que morra na queda
quando a tua asa cansar...

é melhor sentar
deitar
repousar...

na Arte não há meio-termos
não se pode equilibrá-la:
a Arte é para incendiar a chama do peito
ou para apagá-la...

30 dezembro 2009

Soneto ao Não

o longe além dos dias que não vieram
veem como se eu não estivesse cá
todas esperanças que não me deram
é aquela estrela que não está lá

a estrela olho com olho que não é
no alto em promessa como um não perdida
e o seu não fitei com imensa fé
na janela que não foi construída

e a luz que desce ao não ser da janela
vem não a mim em sim de solidão
à chama em não ter aceso uma vela

em paz não beija a minha alma emoção
e me vou sonhar-te em não voo com ela
até os céus de um catastrófico Não

28 dezembro 2009

Fernando Pessoa - O Predestinado - Passos da Cruz I

"Um dia,
lá para o fim do futuro,
alguém escreverá sobre mim um poema,
e talvez só então eu comece
a reinar no meu Reino."

Fernando Pessoa


Entre 1914 e 1916, Fernando Pessoa compôs os 14 sonetos de "Passos da Cruz". Trata-se de sonetos absolutamente perfeitos e inovadores em nossa língua, avançando do Simbolismo para o Modernismo, numa linguagem das mais profundas e enigmáticas, por isso, pouco populares, se levarmos em conta que a obra de Pessoa é muito difundida na atualidade.

Nesses sonetos, o gênio português expressou a sua dramática visão de sua missão como poeta, como artista. Julgava-se um predestinado, solitário e incompreendido, cuja missão ele ainda não conhecia totalmente, mas que seria cumprida de qualquer forma e legada à posteridade.

E assim, de fato o foi. Pessoa jamais teve reconhecimento em vida, publicou apenas um livro, fracassou em seus projetos profissionais, viveu em relativa pobreza, sendo sustentado por amigos e parentes, mas hoje é visto como um dos maiores poetas da literatura universal. Hoje anda de boca em boca, amantes e não amantes de poesia conhecem pelo menos alguns de seus versos e não se cansam de expressá-los em blogs, orkuts, twitter, enviar para os amados e amadas, ainda que não os compreendam inteiramente. Seus livros são incansavelmente editados, reorganizados, espalhados pelo mundo todo. Suas obras estudadas e analisadas infatigavelmente. De modo que Fernando Pessoa tinha razão. Ele era um predestinado.

A partir de hoje, sendo um por semana, publicarei aqui os 14 sonetos de Passos da Cruz, sem comentá-los, deixando que o leitor tenha suas próprias sensações.


Passos da Cruz - Soneto I

Esqueço-me das horas transviadas…
O Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros…
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas...
Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco… Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas…

No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés

No meu cansaço perdido entre os gelos,
E a cor do Outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância…

27 dezembro 2009

Poema Fúnebre


deixa assim...
que de nota em nota
a Marcha Fúnebre
chegará ao fim

enquanto eles falam
e gritam e riem e gestam
e sobem e descem e sabem
e vencem e caem e cegam
transpiram publicam rastejam

eu calo-me
num canto
canto sombrio e só
não-visto por todos
ouvido por nada
e só recebi um não
por ter a razão

o Fim
é uma marcha fúnebre
e fúnebre sendo
seu lento andamento
é lento...
lento...
bem lento...

então deixa assim
que eu não falo por mim:
quem fala é o Tempo...

26 dezembro 2009

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”


Com essa sentença, o nosso maior romancista, Machado de Assis, encerrou o seu genial “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. O livro foi escrito há quase 130 anos, e hoje tal frase deveria ser seguida como lei. Explico-me...

Irei direto ao ponto, não há muito que ser dito sobre este assunto. As pessoas falam em preservar o planeta com redução da poluição, com preservação da vegetação natural, com conscientização da população, com desenvolvimento sustentável, enfim, todas essas utopias que qualquer ser humano com o mínimo de inteligência sabe que são irrealizáveis. O fracasso de todas as conferências sobre clima e preservação ambiental está aí para provar o que digo. Ter esperanças de que o ser humano vai conseguir reverter a situação com tais atitudes é uma ingenuidade, ou imbecilidade mesmo.

Então, nossa civilização não tem saída? Tem. É só ninguém mais ter filhos. Pronto. Isso é um absurdo? Claro que é. E só esse absurdo pode salvar nossa atual civilização. É tão absurdo que ninguém toca nesse assunto. Já viram alguém falar que essa é nossa única solução? Não, ninguém tem coragem de afirmar tal inaceitabilidade. Eu tenho. E meu raciocínio é de uma impiedosa simplicidade.

Segundo os cálculos científicos, dentro de 40 anos, o mundo, mantendo o atual índice de crescimento populacional, com o aumento da expectativa de vida, terá cerca de 10 bilhões de habitantes. Nosso planeta não está suportando 6, vai suportar 10 bilhões de pessoas? Calcula-se que para sustentar tal população sem que ninguém passe fome, tenha-se que quase triplicar a produção de alimentos. E tirar de onde tantos alimentos, se a atual produção já é insustentável para o planeta? E de onde tirar mais água, se ela já está escasseando? E mais energia? Ou quem sabe as pessoas que nascerem não deverão se alimentar, nem tomar água, nem se vestir, nem acender uma lâmpada? Talvez nem devam respirar...

A verdade simples, lógica, matemática - e cruel - é esta: a humanidade não pode aumentar, se aumentar, o planeta morre, porque ele já nem com o que tem está aguentando. É o mesmo que dar mais sal para um hipertenso que está tendo um infarto. Qual será o resultado? Então, ninguém mais pode ter filhos. Ou, para cada criança que nascer, alguém deverá morrer. E como eu sei que isso não vai acontecer, explica-se todo o meu pessimismo... Esta civilização não tem futuro. Terá que acabar para recomeçar. Ponto final.

25 dezembro 2009

Poemas do Término e Contos do Fim 37


A edição 37 do zine literário Poemas do Término e Contos do Fim será lançada amanhã, dia 26/12. Incluirá os contos "Conto Violento e Inútil" e "De Sangue" e mais 4 poemas insensatos.


Em Santiago, os pontos de distribuição são os seguintes: locadoras Fox, Classic e Stop, biblioteca pública, biblioteca da Uri, Ponto Cópias e Livraria Santiago. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, mediante o pagamento das despesas de correio.

Agradeço à colaboração dos seguintes amigos na distribuição do zine em outras cidades: Liziane Serafini (Santa Cruz do Sul/RS), Luana Serafini (Santa Maria/RS), Alberto Ritter (Porto Alegre/RS), Gracieli Persich (Santo Ângelo/RS), Louise Wagner (São Leopoldo/RS), Lilene Leverdi (São Gonçalo/RJ), Héder Duarte (São Gonçalo/RJ), Agnes Mirra (Goiana/PE) e Paulo Soriano (Salvador/BA). Agradeço também ao amigo Guilhermes Damian pelo excelente trabalho de design do zine.

24 dezembro 2009

Poema de Natal II


talvez te desejasse felicidades
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.

talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.

talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.

não, não vou desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma

eu só te desejo Alma.
(na imagem, o quadro "Anunciação" de Botticelli)

22 dezembro 2009

Poema de Natal

não deixarei agora em verso
nem espalharei pelo universo
a mínima desgraça andante
golfejarei meu próprio sangue
que tudo é vão e decadente
que tudo é falsa e vã semente
cala-te ânsia pelo meu pranto
suma comigo em teu espanto
nada fique da minha história
que é vão o amor o sonho a glória
que abisme o desejo em meu peito
morra o horror em mim desfeito
mergulhem-me no que é fatal...

brilha puro o astro de Natal.