10 dezembro 2009

Escolha a sua Opção

não ter esperança
é sofrer à vista:
sofre-se um pouco
e depois passa
e até se pode ganhar um desconto...

ter esperança
é sofrer a prazo:
adiar a desgraça
com um cheque
de sonhos sem fundos
com um cartão de crédito
com limite de sorte excedido
para 30 dias
30 meses
30 anos...

mas um dia tem que se pagar
com juros
e acréscimos

escolha a sua opção...

09 dezembro 2009

I Fórum Latino-Americano de Literatura Contemporânea


Venho convidar a todos para participarem do I Fórum Latino-Americano de Literatura Contemporânea, que será realizado em Santiago nos dias 22, 23 e 24 de janeiro de 2010. O investimento para participar do evento é de apenas R$ 20,00, um valor baixo para um evento desta magnitude e que, obviamente, fornecerá certificados aos participantes. Confira o seu cronograma aqui publicado. Durante o evento, devo lançar meu segundo livro, Poemas do Fim e do Princípio, que contará com mais de 230 poemas selecionados dentro da minha produção dos últimos 5 anos. Maiores informações no site da Casa do Poeta de Santiago: www.casadopoetadesantiago.com.br

08 dezembro 2009

Aquecimento Global, Caos Planetário e a Cegueira Humana


O recente escândalo do "Climategate", como vem sendo chamado, onde haveria fraude nas medições de temperatura para que fosse intensificado os dados do aquecimento global, está sendo usado, mais uma vez, para justificar a continuidade infrene da destruição ambiental, como se uma possível fraude encobrisse todos os fatos gritantes que estão diante de nossos olhos.


Já cansei de citar em meus textos uma frase de um filósofo: "O homem não aprende as lições da vida nem a canhonaços." Não aprende nem vai aprender, até que desabe o teto sobre a sua cabeça, ou seja, quando já for tarde demais. A humanidade tem uma fé tão fanática nesta ciência equivocada, que se ela afirmar algo hoje, tudo é exatamente como ela afirmou. E se amanhã ela se desdizer completamente, então tudo passa a ser do outro jeito. E jamais direcionam seus olhos do corpo, da mente e da alma ao seu redor. O que são os homens? Nada mais que marionetes, que se comportam conforme o movimento das cordas. Os fanáticos da ciência costumam criticar os fanáticos religiosos, mas o grau de fanatismo é o mesmo, apenas oscilando em polos opostos.


Na verdade, não importa se há ou não aquecimento global, o certo é que o planeta inteiro passa por um descontrole climático nunca antes visto pela civilização, e que está aqui, diante de nós, e nós fingimos que tudo é natural, e que o homem não tem culpa nenhuma nisso tudo. E sabem por quê? Por que esse descontrole, esse caos, é lento, é progressivo, é insidioso, como um câncer que se manifesta lentamente, os seus sintomas surgem de vez em quando, e depois passam, e depois voltam, o indivíduo nem dá atenção, até que quando percebe a gravidade da situação, o câncer já tomou conta do organismo, e então é tarde demais. A humanidade é como a velha história dos sapos sendo cozinhados na panela de água quente. Os sapos não percebem a água esquentando, porque ela sobe muito gradualmente, quase que imperceptivelmente, até que quando se dão conta (ou até que quando não se dão conta), estão cozidos, estão mortos.


O que quero dizer com isso? Não, isso não é uma analogia ao aquecimento global. Quero dizer que o homem vem enganando a si mesmo, dando desculpas, buscando evasivas, escapatórias, fugindo à sua responsabilidade quanto à vida do planeta. Parece que era isso que todos estavam esperando, o "climategate", uma fraude ainda não comprovada em relação ao aquecimento global, para que todos pudessem "respirar aliviado" e se sentir livres para poluir, explorar e aniquilar o planeta como sempre vêm fazendo, afinal, "a ciência mentiu".


Agora, porque um cientista mentiu, tudo o mais é mentira. Não confiam nos olhos de vocês? Eu confio nos meus. Não preciso que um cientista venha me dizer "verdades" que eu mesmo estou constatando. Não percebem alguns seres humanos o que salta aos olhos: o desequilíbrio do clima planetário, cada vez mais retumbante.


Eu aprendi, por exemplo, quando estudante do então 1º grau, que o clima do RS era um dos mais constantes do Brasil, com raros períodos de grandes cheias ou grandes secas, que havia aqui uma das melhores distribuição de chuvas do país. Eu aprendi isso. E meus pais e meus avós confirmam que as secas e as enchentes extremas aconteciam, mas era de vez em quando. Pois agora, não tem um ano que nós não tenhamos ou uma seca ou uma enchente de proporções catastróficas. Isso é mentira? Eu aprendi que na Amazônia nunca havia seca. Pois em 2005 houve a maior seca da história da Amazônia, que chegou a matar uma pequena parcela da floresta. E agora, em 2009, outra seca assolou a região. Isso é mentira? É mentira que as tempestades, tornados, ciclones no RS estão cada vez mais intensos? É mentira que nossos rios estão morrendo? Havia, por exemplo, sangas em que meu avô tomava banho quando criança e agora não existem mais. É mentira do meu avô? É mentira o registro do primeiro furacão da história do Brasil, que devastou RS e SC? É mentira a desertificação no interior gaúcho, onde o pampa está virando dunas? É mentira que tivemos a maior epidemia de febre amarela no interior gaúcho da história, que exterminou com os nossos pobres bugios? É mentira que o mosquito transmissor da doença se reproduz com o aumento do calor? É mentira que o RS passou de área livre para área sujeita a epidemias de dengue? E é mentira que o mosquito da dengue não se prolifera com o calor?


Eu nem vou falar no resto do mundo, vou só ficar no RS, porque o que divulgam as revistas e os jornais mundo afora deve ser tudo mentira. Deve ser mentira que os desertos avançam implacáveis na África e na Ásia. Deve ser mentira os pinguins que são encontrados em locais cada vez mais distantes para fugir do aquecimento na Antártida . Deve ser mentira a redução drástica da população de ursos polares pelo derretimento progressivo do polo norte. Quem sabe alguém vá até lá e grite nos ouvidos do urso da foto: "para com isso, não fica fazendo poses dramáticas, que eu sei que tu estás te fazendo para aparecer na foto!" Deve ser mentira a extinção maciça de sapos e rãs em vários países devido ao buraco na camada de ozônio. Deve ser mentira a redução em quase 1 terço de toda a vida nos mares. Deve ser mentira a proliferação de algas tóxicas devido ao calor excessivo nos oceanos. Deve ser mentira que cientistas russos vão evacuar um centro de pesquisas que explorava um campo de gelo que vai derreter e andar à deriva no oceano ártico ocidental.


Sim, tudo isso, e mais um pouco, deve ser mentira. O clima do planeta está perfeito. Ontem tivemos seca, hoje, enchente, e assim as coisas se equilibram. Não vai acontecer nada. "Homem!" grito do alto da minha tolice, "pode continuar a explorar, a devastar, a destruir, enfim, acabem logo com o planeta, é isso que todos vocês querem, a humanidade precisa do desenvolvimento, vamos lá, acabem logo com tudo". Apenas recordem que a morte é lenta e dolorosa. Vem aos pouquinhos, bem "devagarzinho..." E lembrem-se que o doente, logo antes de morrer, geralmente dá sinais de recuperação, falsos sinais. Parece que está bem, que vai se curar, e então morre. Lembrem-se que há 50 anos, falar em mudanças climáticas era um absurdo. Hoje é um absurdo NÃO se falar em mudanças climáticas. Mas hoje é um absurdo dizer que elas já estão ocorrendo e vieram para ficar. Mas daqui a 50 anos, será um absurdo dizer que o planeta NÃO está sendo destruído pelas mudanças climáticas.


07 dezembro 2009

Se a Alma Foi?

há quatro porquês
que faço-te a mim
e faço-me a Ti
de quatro porquês sem princípio nem fim
porque silenciar não posso
porque te gritar não devo
além de tudo que pergunto ao mundo
além do todo que responde e afundo
neste meu poço onde tudo posso
neste meu posso com um porquê no fundo
por que a vida se viver não há?
por que esta alma se a alma foi?
por que a arte se minha arte só?
por que meu sonho se teu beijo não?

só um olho em verbo
que nada ganha e tudo vê:
uma verdade em dúvida...
por quê?

05 dezembro 2009

Crueldade Contra Animais na UFSM - Parte II

O jornal Diário de Santa Maria publica neste fim de semana a notícia sobre a morte de um gato nas dependências da UFSM com procedimentos no mínimo cruéis por dois estudantes de Zootecnia, um da graduação e outro do mestrado. Segundo o jornal, o mestrando admite que matou o gato. Abaixo, confira a versão do próprio estudante sobre o caso, conforme foi publicada pelo jornal Diário de Santa Maria em seu site:

"Ele caminhava meio desengonçado, mal mesmo fisicamente. Aí, peguei-o para ver o que tinha. Peguei uma faca e fiz a sangria, para evitar que ele ficasse sofrendo. E quando fiz isso, não fiz questão de mostrar."
Esta é a versão de um dos estudantes. O leitor acredita nela? Bem, isso a justiça vai decidir. Mas vamos admitir que ela seja verdadeira. Se for, significa que um MESTRANDO em ZOOTECNIA (percebam amigos, mestrando em Zootecnia) vê um gato, segundo ele, mal fisicamente e decide ver o que ele tem, e vendo o que ele tem (afinal, o que é que o gato tinha? era doença ou era fome?) decide que o melhor para o gato é morrer, e morrer com uma sangria, e faz a sangria com uma faca!!! Meu Deus! Ele sangra o animal para morrer! Até eu, que sou um leigo em fisiologia animal, sei que não se mata um animal dessa forma quando ele está doente, um MESTRANDO EM ZOOTECNIA faz isso? Mas o que é que ele aprendeu em todo o curso? E no mestrado? Será que na UFSM não ensinaram a ele que existem métodos menos dolorosos e menos cruéis para se tirar a vida de um animal quando necessário?. O leitor acredita que ele não tenha aprendido isso? Eu não acredito. Ou então ele teve preguiça de ir buscar uma injeção letal que mata sem dor?
Percebam, amigos leitores, que mesmo sendo verdadeira a história contada pelo estudante, ela é um completo absurdo. Um zootecnista sangra um animal para ele morrer... E sem o sedar, ao menos. Ele não sabia que isso causaria uma dor e um desespero horríveis no animal? Vamos ver o que dizem os procedimentos e técnicas de eutanásia em animais, em seu artigo 14:


Art. 14. São considerados métodos inaceitáveis:

I - Embolia Gasosa;

II - Traumatismo Craniano;

III - Incineração in vivo;

IV - Hidrato de Cloral (para pequenos animais);

V - Clorofórmio;

VI - Gás Cianídrico e Cianuretos;

VII - Descompressão;

VIII - Afogamento;

IX - EXSANGUINAÇÃO (SEM SEDAÇÃO PRÉVIA)

X - Imersão em Formol;

XI - Bloqueadores Neuromusculares (uso isolado de nicotina, sulfato de magnésio, cloreto de potássio e todos os curarizantes);

XII - Estricnina.

Atentem, leitores, para o inciso IX: é um método INACEITÁVEL de eutanásia a exsanguinação sem sedação prévia. O mestrando sedou o animal antes de o sangrar com uma faca? Parece claro que não. Ele não sabia que deveria sedar? O MESTRANDO não sabia? Se não sabia, como chegou ao mestrado? Ou sabia e teve preguiça? Se teve preguiça, foi vergonhosamente negligente. Que profissional teremos no futuro? Ou sabia, mas quis ser propositalmente cruel? Queria se divertir com o sofrimento do gato? São perguntas que faço.

Então, amigos leitores, mesmo sendo verdadeira a história desse estudante, ela ainda é absurda, ainda é desumana, ainda é cruel. Sangrar um gato sem sedar, vendo o sangue escorrer, esguichar, espalhando o sangue por todo o local, seja ele qual for, estando o animal CONSCIENTE de tudo, sofrendo em desespero, sem nem ao menos ter certeza do que tinha o pobre gato, sem nem levá-lo para fazer um exame, sem nem tentar tratá-lo, sem nem tentar alimentá-lo, e ainda dizer que o matou por PIEDADE!!! Francamente...

04 dezembro 2009

Ainda sobre o Equívoco no Método Científico

O leitor Pablo fez um comentário bastante pertinente e oportuno sobre o texto abaixo, que merece uma nova postagem. Lembrou-me ele que devo reconhecer que graças ao método científico hoje podemos esperar uma vida de quase 80 anos, sendo que antigamente essa mesma vida não passava dos 30. Reconheço. Porém, com algumas ressalvas. Primeiramente, a média de vida era tão baixa em séculos anteriores porque havia alto índice de mortalidade infantil, o que trazia para baixo a média. Aqueles que sobreviviam aos primeiros anos de vida tinham uma expectativa maior, em torno de 50 a 60. Mas não há dúvida que a diminuição drástica no índice de mortalidade infantil é uma grande conquista da ciência.

Outra ressalva que faço é que mesmo nos dias de hoje há vários países da África e da Ásia em que a expectativa de vida não passa dos 30 anos. Até mesmo na América.
Não nos esqueçamos do 1 bilhão de miseráveis... Será que eles vivem 80 anos?

E uma última ressalva. Na Idade Média, por exemplo, um homem que vivesse 30 anos não teria vivido uma vida mais autêntica que um homem que hoje vive 80? Hoje vivemos sempre cheios de compromissos, sem tempo para nada, numa vida mecânica, robótica, sempre reclamando que a vida “voa”, que é como se um ano passasse como um mês e que 10 anos atrás “é como se fosse hoje”? Esses 80 anos não passaram como se fossem apenas 30? São questionamentos que deixo...

Mas tudo bem, reconheço sim, o aumento na expectativa de vida é uma conquista do atual método científico, negá-lo seria um absurdo. Mas percebam que no texto abaixo não neguei os avanços materiais e físicos da ciência com seu método. O que questiono é no que tais avanços tornaram o homem realmente melhor? Ou a ciência não é para tornar o homem melhor? Por que não, pergunto eu? Por que ela não pode modificar sua visão puramente racionalista e mecanicista para outra mais holística, que englobe outras capacidades e necessidades humanas.

Como afirmei abaixo, Einstein também questionava sobre isso, e não só ele, mas também outros grandes cientistas, como Carl Jung. Este afirmou que a ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que a única forma de conhecimento é o conhecimento racional. Por que a ciência insiste em sua visão mecânica das coisas? É isso que questiono. Creio que a ciência poderia ser mais e melhor se não se mantivesse arrogantemente nessa visão retrógrada. O pensamento medieval, ainda que com vários pontos em atraso, possuía um bem mais avançado que o atual: o de que o homem devia ver a si mesmo como uma parte integrada da natureza e não como seu dominador e explorador.

Que fique bem claro que não sou contra a ciência, somente um idiota é contra o conhecimento. Sou contra a maneira como a ciência é vista pelos cientistas e intelectuais em geral, questiono seu método, que para mim é realmente atrasado. Ninguém é obrigado a concordar comigo, obviamente. E o blog está aberto a outras visões.

Mas o que não se pode negar é a responsabilidade que recai sobre o corrente método científico na destruição do planeta, pelos motivos que mencionei abaixo. Claro que a responsabilidade não é só dele, mas sua parcela de culpa é imensa. A natureza sempre foi vista pela ciência como algo a ser explorado, algo a ser torturado até que nos contasse seus mais íntimos segredos. Tanta exploração levou-nos a que caminho? De nada adianta vivermos 80, 100, 200 anos se não houver um planeta para vivermos...

03 dezembro 2009

O Método Científico é Responsável Pela Destruição do Planeta?


Qual a relação entre o método científico em vigor e a destruição ambiental? Haveria alguma? Para mim está claro que sim. Antes de qualquer coisa, o que é método científico? Ou o que é ciência? Para que serve a ciência? Qual é ou deveria ser o seu maior objetivo?

A meu ver, a ciência deve buscar a verdade, o conhecimento sobre as coisas, sejam elas materiais ou não. E utilizar tal conhecimento para melhorar a humanidade. Mas o que vemos hoje? Vemos uma ciência cujo objetivo maior tornou-se apenas desenvolver técnicas ou fazer descobertas para tornar nossa vida mais cômoda ou mais “saudável”, ainda que esse “saudável” seja um tanto discutível. E ainda que essas “conquistas científicas” somente sejam acessíveis aos que têm condições financeiras de bancá-las. E o mais de 1 bilhão de miseráveis do mundo? O que a ciência faz por eles? No que a ciência contribuiu para tornar o homem melhor? O mundo melhor? A ciência não serve para isso?

Então, para a ciência, somente o que é mensurável, material, e adquirível materialmente é que pode e deve ser científico? É o que diz o método científico? Então, ao meu entender, o método científico está equivocado. Quem disse que ele deve estar necessariamente correto? Pois eu estou o contestando. O método científico é como a ciência atua, e para mim a ciência está atuando de forma equivocada.

O próprio Einstein condenava essa visão materialista e racionalista da ciência, inclusive não foi com esse método, ou unicamente com ele, que Einstein chegou à Teoria da Relatividade. Einstein, segundo suas próprias declarações, chegou a essa genial teoria inicialmente através da imaginação, através de uma sensibilidade artística que trouxe geniais insights ao cientista, os quais mais tarde se transformaram em uma teoria revolucionária. Einstein foi antes de tudo humano, sensível, não somente frio e racionalista. Não é à toa que uma das frases mais célebres de Einstein é esta: “A imaginação é mais importante que o conhecimento.”

Este método científico em vigor é absolutamente mecânico. Assim construiu uma ciência mecânica, que não está preocupada, comprometida com o verdadeiro desenvolvimento humano. De onde provém o atual método científico? Em grande parte, ele é oriundo da filosofia de Descartes. Descartes pensava que tudo era material ou explicável pela matéria, que tudo era mecânico, mensurável, que o universo inteiro poderia ser reduzido às leis físicas já conhecidas, e que o homem poderia fazer o que quisesse com o planeta e com os seres nele existentes, inclusive torturá-los em prol da ciência, pois não haveria alma nenhuma neles. Descartes afirmou: “o grito dos animais sendo torturados em prol da ciência é como o som do funcionamento de uma fábrica”.

Um absurdo? Um método um tanto atrasado? Pois é o método que ainda está em vigor na ciência. E o seu resultado está diante de nossos olhos. Uma civilização que destrói seu planeta a passos largos, afinal foi ensinada pela ciência com seu método que a natureza deve ser explorada ao máximo, pois ela não teria alma e nós, os homens, seríamos seus donos. Esse é o resultado mais elevado deste método científico.

02 dezembro 2009

dos Fins

dos Fins descendo
desci descendente e desço
em queda
livre a serviço

mal sei o que soube em fim
mal vim de saber não sendo
mal sendo me vou e toco...
de sina em sinos
ao som me ensino
silencio
e sinto...

vela em crepúsculo
de chama à morte
aos Fins a(s)cendo...

01 dezembro 2009

Crueldade Contra Animais na UFSM

Um ato de barbárie foi cometido dentro dos limites da UFSM, no departamento de Zootecnia. Trata-se da morte com requintes de crueldade de um gato indefeso por indivíduos que ainda não foram identificados com provas claras, embora existam suspeitos...
O animal, que vivia na dependências da UFSM, foi covardemente capturado e teve sua garganta cortada. No entanto, não morreu. Lutando desesperado pela vida, conseguiu escapar. O gato saiu caminhando e esguichando sangue para todos os lados, tudo sob os risos de alguns indivíduos, que se divertiam com o impiedoso espetáculo. Até que foi recapturado e teve sua cabeça decepada enquanto ele AINDA VIVIA.


O que devo comentar sobre isso? Apenas digo que a UFSM é uma universidade séria e respeitada, e estou certo de que dará uma punição exemplar a esses indivíduos, para que episódios vergonhosos como esse jamais se repitam. Quem foram eles? Quem foi envolvido no crime? Por que motivo o gato foi morto? É claro que a culpa não é do curso de Zootecnia, mas dos indivíduos que cometeram a atrocidade ou foram cúmplices dela. E o curso e a universidade devem tomar alguma providência. É seu dever. Caso contrário, se não houver a identificação e punição dos culpados, quantos atos desse tipo poderão vir a ser perpetrados? Atos como esse não podem ser abafados. Maus tratos a animais é crime previsto em lei, com pena de 3 meses a 1 ano de detenção. Que a lei seja cumprida. E ponto final.


Sugiro que escrevam a este e-mail, para a obtenção de informações: lovatto@smail.ufsm.br

Bateram em Tua Porta...

bateram em tua porta
e tu não atendeste
foi alguém ou foi algo
e tu nunca soubeste
e tu nunca tentaste
e tu sempre temeste
o que foi que perdeste?
pela noite descendo
bateram em tua porta
mas não foi duas vezes
e teus olhos fechaste
e de novo dormiste
é tão cômodo o sono
do qual nunca acordaste
é tão cômoda a vida
como não se findasse
mas a noite caía
e tão alta era a treva
e tão firme a batida
sinfonia em Beethoven
e tu nunca a ouviste
nem pensaste na morte
mas bateram na porta
e saber não quiseste
te viraste de lado
e o olhar não provaste
que o temor era forte
e o final te falava...

mas tu não atendeste

29 novembro 2009

Schubert - Um Gênio Não Reconhecido


Alguns leitores, após lerem a postagem sobre a trágica canção "Der Atlas" de Schubert, pediram-me para que escrevesse algo mais sobre o compositor. Prometi que o faria. Cumpro agora o prometido.

Franz Peter Schubert nasceu em 1797, em Viena, na Áustria. Foi um dos pioneiros do Romantismo na música, porém, quase que no anonimato, nunca tendo sua genialidade reconhecida em vida. Vida que foi curta, pois Schubert morreu em 1828 , com apenas 31 anos de idade, demonstrando uma precocidade raras vezes conhecida no mundo musical, comparável à de Mozart.

Com apenas 17 anos de idade, Schubert, que é considerado o maior compositor de lieder (a canção clássica) da história, compôs o famoso lied "Gretchen am Spinnrade", um dos maiores lieder de todos os tempos. Já na adolescência, Schubert prova toda a sua assombrosa facilidade para a criação de melodias e dá mostras da veia trágica que lhe possibilitaria a criação de sublimes obras-primas no final de sua existência.

A sua capacidade criativa era infinita, espontânea, poética, lírica, viva de inspiração. Pode-se dividir sua obra em duas grandes fases: a 1ª, ainda classicista e fortemente influenciada por Mozart, e a romântica, onde a influência de Beethoven se torna preponderante. Assim, Schubert é um dos compositores responsáveis pela transição do Classicismo para o Romantismo, dando continuidade à revolução beethoveniana. É na fase romântica que se encontra a grande maioria de suas obras-primas.

Porém, a imensa criação de Schubert foi silenciosa, sem a grandiloquência de Beethoven. Nunca atingiu reconhecimento em vida, ninguém o considerava um gênio, a não ser seus amigos mais próximos, e o próprio Beethoven, que antes de falecer reconheceu todo o raro talento de Schubert. Grande parte das obras máximas de Schubert nunca foram executadas durante a vida do compositor. Seu imenso sucesso em todo o mundo artístico só veio décadas depois. Suas músicas não lhe traziam uma renda suficiente para a sobrevivência, tendo que ser por várias vezes sustentado por amigos e familiares, morrendo na pobreza. No entanto, possuía um círculo de fiéis admiradores em Viena. Bem mais tarde, graças a esses amigos e a alguns músicos e musicólogos, sua obra foi resgatada, e Schubert tornou-se um dos maiores gênios do Romantismo.

Em 1822, com 25 anos, Schubert descobriu que estava com sífilis. A partir de então, como se a sombra da doença lhe intensificasse ainda mais a inspiração, Schubert passou a compor num ritmo febril. Ao mesmo tempo, aprofunda-se no Romantismo, iniciando sua última fase de criação, marcada pela produção de uma obra-prima atrás da outra, como se pretendesse deixar ao mundo o maior número possível de obras, pressentindo a aproximação da morte. As composições desse período caracterizam-se pela grande originalidade, pelo caráter trágico, melancólico e sentencioso, embriagado de um clima de fim, sem perder, no entanto, a espontaneidade e a beleza melódicas, que sempre caracterizaram as músicas de Schubert.

São dessa época a enigmática Sinfonia Inacabada, os terríveis últimos quartetos para cordas, as sublimes últimas sonatas para piano, de uma misteriosa originalidade, uma infinidade de lieder de absoluta maestria, além de uma série impressionante de outras obras-primas, como óperas, composições de câmara, composições sacras (entre elas a comovente Ave-Maria, capaz de enternecer o mais empedernido coração), as quais mais tarde serviriam de inspiração para inúmeros compositores, românticos ou não.

Em 19 de novembro de 1828, vítima provavelmente de febre tifóide, Schubert faleceu, deixando para um mundo um dos mais ricos legados da música clássica, sem nunca, no entanto, poder ouvir grande parte desse legado. Não por ter perdido a audição, como Beethoven, mas porque as obras nunca foram executadas.

28 novembro 2009

Não Gosto de Praia*

não gosto de praia
da praia infestada
de vazio humano
tal praia
é a profanação do mar

o que busco
é o oculto da sanga
entre o escuro do mato
como é escuro e oculto
o destino do meu olhar

com o que restou
do sopro livre de minha alma
quero o que restou
do vento livre destes campos:
o meu peito que nada espera
busca os capões brabos
peraus de cobras
onde há mosquitos
da febre amarela
há muito as febres me consomem
que eu só sou vacinado
contra o homem
e meu coração é uma tapera
quero me sumir pelos banhados
com os mistérios
que em mim somem
liberto de tudo que vi
quero me perder
por entre sapos
louco e bem longe de ti

até que se forme
a ventania em mim...
cumprir-se-á então
o que já está cumprido
do começo ao fim

*poema republicado com 2 versos a mais

27 novembro 2009

Campanha Publicitária - Casa dos Poetas

Hoje, dia 27/11, às 20h, na Câmara de Vereadores de Santiago, ocorre o lançamento da campanha de marketing do I Fórum Latino-americano de Literatura e II Encontro de Escritores do Mercosul, promovido pela Casa dos Poetas de Santiago. Infelizmente, não poderei estar presente, pois me encontro, desde ontem, em Santa Cruz do Sul. No entanto, desejo os votos de total sucesso ao evento, e que todo o pessoal constantemente presente em nossos "cafezinhos poéticos" também esteja lá apoiando essa importante realização.

26 novembro 2009

Esta é a Tua História (ou O Pesadelo) - Parte Final

Finalmente, o momento de deixar o escritório. Alívio. Poder pensar em outras questões... Talvez mais profundas... Talvez mais sublimes... Mas o que há de mais profundo e sublime que o trabalho? E aquele relatório, que não há maneira de concluir, não te abandona a racionalidade. E jamais se finda aquela angústia de ter que fazer o que tens que fazer pelo simples fato de que tens que fazer.

Eras o que pensavas enquanto conduzias dormindo o veículo pelas ruas povoadas. Dormindo não de dormir, embora com os sonhos já sonhasses. Com os sonhos não da vida, mas do sono. Pouco sono, aliás. Que o teu pesadelo voltará... Tu sabes. Mas os sonhos da vida... Estes não germinam na alma empedrada de compromissos.

Na avenida de intenso movimento, um acidente. O motorista da moto morreu. Contemplaste como se nunca morrerás. Com piedade do morto. E refletiste sobre o que iria acontecer com o motorista. Talvez nada. Talvez tudo. O homem pensa em tudo para ter uma vida cada vez mais cômoda. Mais tecnológica. Tecno lógica. Tudo deve ser lógico e confortável... Para isso o dinheiro. Para explicar tudo. Aliás, amanhã deves comprar um sofá novo. Dás duro. Mereces. Mas o motoqueiro morreu. O vermelho do sangue congestionando teus olhos. Para onde ele haverá de ir? Foi no que pensaste. Sabes? Não queres nem saber. Não sabes o porquê de saber? Rapidamente substituído pelos olhos da moça do escritório. Rapidamente substituídos pelo relatório de amanhã.

Chegaste. Belíssimo jardim ostenta tua casa. Mal pisaste nele desde que foi construído. Para não matar as gramas, argumentas para ti mesmo. Sabes que mente. Para não matar teu tempo. Tempo é trabalho. Exausto, a cerveja desceu aliviando teus músculos e nervos. Isso é reconfortante Principalmente antes da academia, para revigorar.

Tua esposa também chegou. Os olhos da moça do escritório são mais doces que o da tua esposa. Aliás, ela também está muito cansada. Até porque recém chegara da academia. Agora é a tua vez de ir. Beijo no rosto. Tchau. De carro para a academia. Por que não a pé? Ah, a violência. Estás certo. A violência das grandes cidades não combina com a preservação ambiental. Nada combina com a preservação ambiental. Principalmente o homem. Principalmente o mundo de que o homem necessita. Mas não é coisa para se pensar agora. É coisa para se pensar no nunca. Agora pensarás na academia, pois já estás nela. Não, pensas no relatório de amanhã, no sofá que irás comprar, no dinheiro que estão te devendo, no crescente da tua empresa. Estás conseguindo. Mesmo. Só não consegues o que não sabes que queres.

Academia é um saco, pensaste. Já não aguentas mais. Mas é necessário. Assim como trabalhar. Não fosse a academia, talvez a moça do escritório não teria te olhado. Ainda assim, terias bolso.

Em casa, outra vez, que alívio. Nas impossibilidades da vida, os rios límpidos e serenos emitem as vozes aéreas dançantes de tudo que não podes. E elas queimam rápido no teu sentir. Mas é noite, e a noite nunca tarda, e a noite é um réquiem. Descanso. Delicioso jantar escorreu mecânico pelo teu esôfago. Até te sentiste um pouco mal. O jeito foi deitares mais cedo na noite, mesmo com o medo do pesadelo... Na noite que convidava ao amor... Que espécie de amor? O que sentes pela tua esposa? Sentes? Ou o desejo que se intensifica pelo olhar da moça do escritório? Não sabes. Mas certamente era esse tipo de amor que a cumplicidade da lua, que a violência emocional em silêncio da noite te convida. O sonho...

Dormiste pensando em coisas importantes... No relatório de amanhã, por exemplo. No sucesso da tua vida, sem dúvida, plena de sucesso. Mas o pesadelo te despertou. Pesadelos têm por princípio despertar os homens que dormem. Agora, o silêncio da noite era fúnebre como a morte. Havia algo de estranho pairando no ar. Pensaste lento em coisas distantes. O pesadelo foi absolutamente misterioso. Mistério era tudo o que respiravas agora... Estavas certo que nele, alguém ou algo chamou teu nome. No pesadelo, tu não eras tu. Tu fingias que era feliz, mas sabias que não eras. Tentavas enganar a ti mesmo. Em outro momento de teu pesadelo, enlouquecias, eras o mais insensato dos homens, e então te sentias bem.

Acordava sempre imerso na dúvida. Alguma coisa esquisita vibrava em tua alma. Lembravas da música do pesadelo. Estavas certo que era Bach. Talvez não fosse pesadelo, talvez fosse um sonho mirífico. Alguém batia na porta, pesadas batidas. Não tinhas coragem de atender. Sinuoso e enigmático. Densificou-se o alimento de tua respiração. Algo de impalpável te alarmava.

O sopro das narinas em sono de tua mulher intensificava a tensão. Algum oculto flutuava no desconhecido da noite. O Desconhecido... Um sino soava como uma voz de fêmea. O mistério que te falava e que eternamente sustinha suas asas negras sobre tua alma. Que crescia e fitava-te nos olhos, em paroxismos e apoteoses, dizendo-te de tudo que nunca fizeste, que nunca tentaste, que nunca viveste, que nunca beijaste...

Mas amanhã é dia de trabalho. Deves dormir. Tentando esquecer o pesadelo, conseguiste. E horas depois, acordaste para o teu novo dia. Novo... Como seria o teu novo dia? Basta que releias esta história, que é a tua história...
(Na imagem, o quadro "Homem e Mulher Contemplando a Lua" de Caspar David Friedrich)

25 novembro 2009

Esta é a Tua História (ou O Pesadelo)


Esta é a tua história. E o teu sono foi regado de sonhos e pesadelos. Gotejou a lua nos teus desejos. Abriste os olhos com receio. Alguma coisa não estava correta. Por que sonhar e acordar, se não podes realizar nada do que sonhas? Mas os teus pesadelos eram demasiado reais. Desespero foi a primeira palavra que ensombreceu a tua mente, quando puseste o pé esquerdo no chão. Talvez tudo não estivesse correto. Fracassaste tão logo acordaste. Mas disso não te deste conta.

Olhaste pela janela. 7 horas da manhã. Raios de sol iluminavam teus olhos. De nada adiantaria. Fazias isso todos os dias, todas as manhãs o mesmo ato. Já estavas anestesiado e mecânico. Passado e futuro digladiavam-se em tudo o que sentias. Nunca o presente. E o presente é extremamente cruel. O presente é sempre extremamente cruel. Fracassaste em teu presente. Tens tudo. Mas no fundo não queres nada do que tens. O que realmente, ou iludidamente, queres é sempre o que não alcanças. Mas não sabes disso.

Abriste a geladeira, e ela estava abarrotada de coisas. Sem tempo para comer. Um suco escorregou sem graça pelo teu esôfago. A garganta continuou seca. A laranja não tinha culpa de nada, talvez pensaste.

A roupa que vestiste era impecável. Hoje precisarias de teu melhor terno. O trabalho dignifica. És um homem digno. As ruas pelas quais passavas agora eram de uma magnificência encantadora. Todos os dias o mesmo trajeto. Mal as viste. Exausto sem ainda estar, cansado sem cansaço, o cosmos falava pelo canto dos pássaros. Já estavas atrasado. O salário era alto, como não poderia deixar de ser. Sempre valia a pena o esforço, o sacrifício e a dedicação extremados. Imensidões de esperança despencavam de céu irrepreensivelmente azul. Já estavas no escritório.

Cumprimentaram-te de acordo com toda a necessidade do respeito que te é devido. Há muito tempo teus olhos não se enchiam de lágrimas. E assim permaneceram. Fitaste a vetusta figueira filtrada pelos vidros espelhados do escritório. O verde irradiava-se livre pela ascensão triunfante do dia. Fracassaste em teu emprego. Trabalhaste para ser livre. Mas te tornaste ainda mais escravo. Escravo de teu sucesso.

Afogado nos papéis, uma sede insaciável debatia-se em tua alma. Córregos, rios, mares, oceanos cintilavam pelo longínquo sob o crepuscular das estrelas. O olhar da moça que passou dirigiu-se aos teus. E tua assinatura era agora imprescindível. Em centenas de documentos que em verdade não diziam nada. Mas eram tudo. Lembras-te que há muito tempo não via olhos como aqueles? Reminiscências espirituais de estrelas que há muito séculos partiram. Tristeza. Um pequeno besouro chocou-se contra a parede envidraçada. E uma gota de tinta manchou o terno impecável.

Ninguém é impecável. Como é da natureza humana, e animal, a fome sempre chega. Ao meio-dia, o sol atinge o seu auge. Mas não há tempo para considerações. Em teu carro de modelo importado colocaste uma música da moda. Não te agradava realmente, mas não havia tempo para encontrar aquela em que pensavas há meses. Em um buraco furaste o pneu. Ficaste tenso. Já não estavas bem. Tens andado nervoso ultimamente, talvez seja devido aos pesadelos. Mas furaste o pneu. O azar e o imprevisto voam sempre tão alto que não dá para avistá-los. Descem suas asas negras sobre os minutos de calmaria. Mas não há tempo para divagações. Trocaste.

O restaurante era belo. E caro. E impregnado dos mais vários e lindos alimentos. Ao longe os pomares em jardins impactantes e comoventes aspergiam o pólen de suas flores pelos ares límpidos e vivos de borboletas. Ao longe... O restaurante era o mesmo de todos os dias. Não há nada de novo sobre a terra. Pediste o de sempre. Antes de entrar, porém, um pequeno gato roçou-te a calça. O felino fitou teus olhos. Sem tempo para sentimentalismos. Sem tempo para considerações. Comeste. E isso é tudo. É prático. Haveria algo de maior em cada molécula ingerida? Levantaste da mesa, teu terno estava maculado pela tinta da caneta. Aborrecido. O terno maculou tua alma. Pagaste. Dinheiro não é problema.

Problema eram os olhos da moça que entrara no escritório. Ela não trabalhava contigo. Onde estaria agora? Amanhã, tu terás reunião. “Lembras-te disso espírito da terra.” E depois de amanhã também. Quem sabe a moça retorne... Pelo acaso. Voltaste. Passaste pela mesma rua de sempre. A fronde das árvores evaporando-se em sonhos? Agora não há como lembrar. Principalmente de sonhos. Principiava a tarde. Era tarde. É sempre tarde. Irritou-te com as infinitas questões do trabalho. Sempre haverá problemas, e se os resolveres, surgirão outros. Até quando serás saudável? Esse é o infinito. Porém, vale a pena preocupar-se com eles. E irritar-te. E estressar-te. O estresse está na moda. Vale? Nas distâncias inatingíveis e somente imaginadas, ou contempladas através das ondas da TV, vales floridos e verdejantes, onde pequenas casas de rústica beleza e simplicidade espargem melodias de Bach, ou eram como que eternamente. Talvez lá houvesse cintilantes olhos como os da moça relampejante do escritório. Aquele dinheiro que não te pagam continua te tirando o sono. Teria o fato alguma relação com teu pesadelo recorrente? Sim, agora pensavas no pesadelo... Ele voltará...

As cédulas serão necessárias para o necessário investimento. E a tarde vai passando. Passando como se não passasse. Ou como se passasse de forma total e devastadora. E não deixaste nada de nada. Como se não fosse nada. Mas sendo tudo para ti. O tempo morreu. Foste tu que o mataste.
Amanhã, a parte final
(Na imagem, o quadro "O Pesadelo" de Füssli)

23 novembro 2009

Que eu sei muito bem...

enquanto falas falas
com teu sorriso mentido
ao cair lento
invisível da treva
no escuro
ao silêncio do verbo em trovão
melhor te conheço

que eu sei muito bem...
eu sou aquilo que vem...

então achaste mesmo
que o tenso do raio primeiro
fosse o encerrar da tormenta?
secreto medo nos olhos te leio...
a Tempestade ainda nem veio...

quer dizer que pensaste
que o intenso da tormenta inicial
fosse o findar do tufão?
há um aviso no teu lábio ao meio...
o Furacão ainda nem veio...

então tiveste certeza
que o denso do horror que desaba
fosse todo o horror já no fim?
tu sabes que em ti eu não creio...
o Horror ainda nem veio...

que eu sei muito bem...
eu sou aquilo que vem...

O que é Poesia?

é brasa inflamada
jogada num poço

chama de incêndio
acesa na chuva

lava vulcânica
jogada na antártida

e o poço e a chuva e a antártida
é o teu coração

21 novembro 2009

O que Fica...

que o tudo que sinto
seja mais forte mais vasto mais alto
que o nada
que me impele pra baixo

se alvejarem meu tigre
não apagarão a força
com que ele sangrou suas presas...

se flecharem minha águia
não apagarão o espaço
que percorreram suas asas...

se serrarem meu cedro
não apagarão a altura
que atingiram seus galhos...

20 novembro 2009

Schubert e a Canção mais Trágica do Mundo


Qual a canção mais trágica para você, leitor?


Na música clássica, a canção é universalmente denominada Lied (literalmente, canção, em alemão). Lieder é o plural. Trata-se de uma composição breve, de caráter lírico e melódico, geralmente para soprano ou tenor, com acompanhamento de piano, piano e algum outro instrumento, ou orquestra. O Lied também constitui uma união perfeita entre a música e a literatura, pois quase sempre a canção clássica possui como letra um poema composto por algum grande poeta. Goethe foi o poeta que mais teve poemas musicados.

O compositor austríaco Franz Schubert é considerado o responsável pelo desenvolvimento e ápice do Lied, seguido por Schumann, Brahms e Mahler. Pois Schubert compôs uma infinidade de canções trágicas. Muito difícil escolher qual a mais trágica. Qual a mais triste. E mais difícil ainda se compararmos com os lieder de outros compositores, principalmente Brahms.

No entanto, cheguei a uma conclusão quanto ao lied mais trágico. Fiquei entre vários de Schubert e alguns de Brahms, e decidi pelo lied "Der Atlas", que está no ciclo de lieder "Schwanengesang", D957, de Schubert. Esse não é o lied mais triste, nem o melhor. O melhor talvez seja o 1º lied das "Quatro Canções Graves" , "Denn es gehet dem Menschen", de Brahms. E o melhor de Schubert talvez seja "Gretchen am Spinnrade", com texto do "Fausto" de Goethe. Mas o lied "Der Atlas", com pouco mais de 2 minutos de duração, é, para mim, o lied mais trágico do mundo. Esse é o meu julgamento, obviamente subjetivo, como qualquer julgamento artístico.

"Der Atlas", ou "O Atlas" é um pequeno poema do poeta alemão Heinrich Heine, grande nome do romantismo. Atlas, é um personagem da mitologia grega que, devido ao seu desmedido orgulho, recebeu o castigo de carregar nas costas o mundo. É desse personagem mitológico que se originou a denominação dos atlas geográficos. Abaixo, está o poema de Heine, no original em alemão e com a tradução. Quanto à música de Schubert, eu espero ter despertado no leitor que ainda não a conhece, o desejo de buscá-la e conhecê-la.


DER ATLAS

Heinrich Heine

Ich unglücksel'ger Atlas! Eine Welt,
Die ganze Welt der Schmerzen muß ich tragen,
Ich trage Unerträgliches, und brechen
Will mir das Herz im Leibe.

Du stolzes Herz, du hast es ja gewollt!
Du wolltest glücklich sein, unendlich glücklich,
Oder unendlich elend, stolzes Herz,
Und jetzo bist du elend.

O ATLAS

Eu, desafortunado Atlas! Um mundo,
Todo um mundo de sofrimento devo carregar,
Carregar o incarregável, e no peito
Carrego um coração que quer se quebrar.

Ó, coração orgulhoso, bem tu o quisera!
Quisera felicidade, infinita felicidade!
Ou infinita miséria, orgulhoso coração,
Quisera tu! Agora és miserável.

(Na imagem, Schubert, aos 15 anos de idade)

19 novembro 2009

I FÓRUM LATINO-AMERICANO DE LITERATURA / II ENCONTRO DE ESCRITORES DO MERCOSUL.


A Casa do Poeta de Santiago, "Casa Caio Fernando Abreu", convida toda a comunidade regional para o lançamento da campanha de marketing do I FÓRUM LATINO-AMERICANO DE LITERATURA / II ENCONTRO DE ESCRITORES DO MERCOSUL.A campanha será lançada no dia 27 de novembro de 2009, sexta-feira, às 20h00min, na Câmara dos Vereadores de Santiago e o traje é esporte.
O evento internacional ocorrerá naquele mesmo local, nos dias 22, 23 e 24 de janeiro de 2010.Maiores informações podem ser obtidas no site da casa: http://www.casadopoetadesantiago.com.br/ .