17 março 2009

Aquecimento Global

vermelho sol de raios
fez dourar o azul sem nuvens
do céu da minha alma

chuva de fogo em chamas
alagou de incêndios vivos
os campos do meu peito

as geleiras da minha mente
derreteram gota a gota
em mar de pensamentos

ferveram as águas do que sinto
acendeu-se um sonho nos meus olhos
arderam rios pelo meu corpo...

com os teus beijos na minha boca

16 março 2009

Juremir contra Yeda

O colunista do jornal Correio do Povo, Juremir Machado da Silva, sempre muito acertado, incisivo, devastador em suas análises sociais (ainda que isso não aconteça em suas análises artísticas, na minha opinião), mais uma vez foi contundente em suas críticas contra o governo Yeda, no que se refere a sua relação com o magistério, ao tratamento revoltante dado à educação.

A seguir, transcrevo um trecho de sua coluna do dia 14 de março: "A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo em empilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala de aula para fazer economia a curto prazo e agradar o Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver no piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa. A punição foi para os professores grevistas. A recompensa, para o PMDB."

Genial, Juremir, genial! E eu ainda acrescentaria que há uma grande hipocrisia no Brasil. Todos falam que os trabalhadores devem se organizar de forma séria para lutar por seus objetivos, seu direitos, para mostrar à sociedade a importância de sua categoria, de sua profissão, para não serem exploradas pelos governos, o blábláblá de sempre. Porém, quando isso acontece, como é o caso do CPERS, toda a sociedade volta-se contra, dizendo que os professores tem que trabalhar e parar de reclamar. É o que dizem muitos senhores que se julgam cultos. É o que afirmam muitos jornais. E é assim que querem que os trabalhadores obtenham seus direitos? De boca fechada, aguentando quieto, como na ditadura? É por essas e outras que o Brasil é atrasado. E com a categoria de povo que tem, que prefere a acomodação ao protesto, vai continuar assim por muito tempo.

15 março 2009

Desprezo


quero ser aquele gato
negro bicho tão noturno
que não tem culpa de nada
que com nada mais se importa
que não tem seu rabo preso
pra fugir da humanidade
me ocultar entre o oculto
e miar para o infinito
pra ser sempre vagabundo
vendo almas e fantasmas
sem provar pra todo mundo
pra sonhar sem ter os sonhos
e dormir por entre a lua
quero ser aquele gato
ser sagrado e ser profano
ser um deus ser um demônio
e no fundo bem no fundo...

desprezar o ser humano

13 março 2009

A Perversidade Europeia


Uma quadrilha de traficantes de animais foi desarticulada pela polícia ambiental nesta semana em vários estados brasileiros, incluindo o RS. Tal quadrilha roubava das matas de nosso país mais de 500.000 animais por ano (500 mil animais por ano, meus senhores, estão conscientes desse número?). Os animais indefesos eram torturados para servirem aos interesses perversos do tráfico (sendo que mais de 80% deles morrem devido aos maus tratos) e depois vendidos para países europeus.


O pior é que todos esses monstros criminosos que massacram o que há de mais belo e puro em nosso país - seus animais - muito pouco pagarão por seus crimes, tendo em vista a tragédia que é a nossa justiça. Por mim, se aqui houvesse prisão perpétua, teriam prisão perpétua. E se aqui houvesse pena de morte, teriam pena de morte. Mas o Brasil é uma vergonha. Uma piada.


Mas ainda pior que esses traficantes imundos, são os perversos que compram nossos animais, inclusive sabendo como são tratados. E são os europeus, os norte-americanos, os que mais os compram, são os ricos. Para mim, eles também merecem prisão perpétua. No caso dessa quadrilha, seus compradores e cúmplices do crime eram europeus.


Sempre se diz que os países europeus devem servir de exemplo para todo mundo. Mas até que ponto? Como foi que a Europa enriqueceu? Será que foi somente por méritos próprios ou será que também foi pela exploração impiedosa que sempre fez recair sobre os países pobres, porém donos de incomensuráveis riquezas naturais? Todos sabem que países como Inglaterra, Espanha, Itália, Holanda, Portugal, França, Alemanha exploraram o máximo que puderam suas colônias na América, Ásia, África, e grande parte das riquezas que acumularam e permitiram seu desenvolvimento veio dos países hoje pobres.


E acabou essa exploração? Claro que não, hoje permanece através de suas multinacionais e da pilhagem de nossas riquezas naturais através do tráfico de animais e plantas, além de outras formas menos conhecidas. O custo da prosperidade de muitos dos países da Europa, e de vários outros, como os EUA, é a miséria de muitos outros povos ao redor do mundo. Ou alguém acha que o dinheiro que existe no mundo nao é suficiente para acabar com toda a pobreza que existe? É mais do que suficiente, mas se concentra nas mãos de muito poucos. E não vai deixar de ser assim.


E todos sabem, ou deveriam saber, que são esses mesmos países ricos os principais responsáveis pela poluição e degradação ambiental do planeta, pois são os que mais consomem e, assim, os que mais destróem o planeta, direta ou indiretamente.


Claro que a cultura europeia com todos os seus gênios do passado merece nossa mais profunda admiração, bem como o valor que dão a tais questões culturais e educacionais. Porém, a verdade é que nem mesmo a grande Europa salva-se da catástrofe que aniquila nosso planeta. Sua prosperidade custou e custa um alto preço para todo o mundo (incluindo-se aqui os demais países ricos de outros continentes), e a Terra não mais suportará manter seus níveis de consumo e de depredação natural por muito tempo...


(Na imagem acima, estão mais de 400 pássaros mortos pelas maus tratos causados pelo tráfico de animais, pássaros estes que seriam vendidos no mercado europeu)


12 março 2009

Sobre a Secretaria de Cultura...

Fui convidado pelo Júlio Prates para uma reunião, no dia 6 de março, que iria discutir a criação de uma Secretaria de Cultura em Santiago. Não compareci à reunião porque não me encontrava na cidade nesse dia. Mas a criação dessa secretaria sem dúvida merece meu apoio, e o motivo é extremamente simples: cultura nunca é demais, e no Brasil sempre há cultura de menos. Quando se julga que um assunto não merece tanta atenção em termos de governo, une-se uma secretaria a outra. Muito melhor seria para a educação e para a cultura que cada uma contasse com sua própria secretaria. Porém, de nada adiantará haver uma Secretaria de Cultura se ela for apenas de fachada, apenas para constar e para se dizer: vejam, temos uma Secretaria de Cultura. E muito menos deve tal secretaria ser dominada por alguns poucos que se julgam "donos" da cultura em Santiago, coisa muito comum de acontecer em nossas terrinhas de coronelismo rançoso. Espero que seja uma Secretaria de Cultura para todos, não para aqueles de sempre...

11 março 2009

A Nossa Lenta Marcha Fúnebre

Quando todos os temas se unem e existem simultaneamente, prepare-se o final. Quando soa uma grande sinfonia, seus temas apresentam-se um de cada vez ao longo da obra, no decorrer dos seus vários movimentos. Quando cada movimento se aproxima do final, e ainda mais ao fim do último movimento, seus temas retornam com toda força e intensidade, às vezes um pouco alterados, mas reconhecíveis, de forma simultânea, em uma apoteose devastadora. A sinfonia então se encerra, de forma grandiosa e exultante, ou de forma trágica e desoladora.

Assim é com tudo. Em maior ou menor grau. “Assim como é acima, é abaixo.” Assim é com nossa civilização. Aproxima-se o seu final. Um final trágico e desolador.

Hoje todos os temas subsistem ao mesmo tempo em nosso mundo. Nas artes, nas ciências, nas religiões, nas filosofias, nos estilos, nas modas, enfim, em tudo, há uma infinidade de temas coexistindo, entrecruzando-se, em paz ou em conflito, tudo é aceito, há seguidores para todos eles, que se conflitam entre si sem chegar a nenhuma síntese. Já foi mais do que dito que chegamos ao fim da história. Mas o que isso significa? Hoje tudo existe, e nada vale a pena. Todos os temas que existiram e foram criados ao longo da história da humanidade estão presentes em nossa civilização, porém todos esvaziados, desprovidos de significado, não levando a lugar nenhum, combatendo-se mutuamente. É o triste final de uma sinfonia mal feita, mal executada, cujo sentido perdeu-se ao longo da obra. Uma sinfonia criada por Deus ou por nós mesmos? Ou por ambos?

A civilização acaba lenta e lugubremente. Tão lenta que mal se percebe. Uma marcha fúnebre de principio imperceptível se abateu sobre nós. Nós somos os sapos sendo cozinhados lentamente na panela de água que esquenta sem que eles percebam. Como todos devem ou deveriam saber, se colocarmos sapos numa panela com água e esquentarmos a água aos poucos, os sapos não perceberão o aumento da temperatura e morrerão cozinhados sem lutar para sair. Assim é a humanidade dentro da panela de água cada vez mais quente do planeta.

Não, não me refiro somente ao aquecimento global. Refiro-me a tudo, simplesmente a tudo o que ocorre conosco, que nem é necessário que eu diga. Bem, pensando melhor, talvez seja. Mesmo assim, não direi. Até porque eu nem devo saber tudo o que acontece, devem estar ocorrendo coisas terríveis que eu nem suspeito o que é.

Só sei que as coisas não estão bem, não estão bem nem um pouco, e estão cada vez piores. Isso eu sei. E ninguém me tira essa certeza. Porém, tudo o que ocorre o faz de uma maneira tão lenta para as nossas miseráveis capacidades perceptivas que até temos a impressão muitas vezes de que nada está ocorrendo e de que tudo se encontra perfeitamente bem...

Porém, chega um momento em que algo é percebido. Quase sempre é tarde demais. É como algumas doenças fatais. Quando surgem os sintomas, não dá mais para curar. Mas mesmo quando se percebe algo, sempre há os que dizem que não. Acreditam que negando o óbvio, serão inteligentes, serão sábios. Até que as coisas pioram e surge um sinal ainda mais óbvio. E surgem outros sapos sábios para negá-lo com ainda mais inteligência. Até que um dia surge o sinal derradeiro, e o teto desaba sobre nossas cabeças. Certas doenças matam mesmo.

E assim os sapos sábios são cozinhados sem que percebam. Morrem sem nem ao menos saber por quê. Está se encerrando a sinfonia mal-acabada de nossa civilização. O seu último movimento é uma lenta e arrastada marcha fúnebre. Às vezes parece que alguma coisa melhora, porém era tudo ilusão, e o estado de má saúde se agrava. É como um paciente terminal. Muitas vezes parece que ele vai melhorar, recobra o ânimo, apresenta um quadro mais otimista, os médicos se surpreendem... No entanto, isso passa, a doença retorna com toda força e o enfermo agoniza e morre. Não é assim?

É como uma calmaria antes da tempestade. A escura tranquilidade que precede as tempestades. Às vezes parece que vai abrir sol, e o temporal desaba. Uma lenta, muito lenta, lentíssima Marcha Fúnebre. Mas um dia ela acaba. O certo é que tudo que teve um Princípio tem um Fim. E o que há depois do Fim?

09 março 2009

Finalmente

gostaria de pensar
sobre a minha vida
mas pensar sobre minha vida
é a minha vida não viver
é só gastá-la e não a ter
é sabê-la
mas não a conhecer
que quem pensa não vive
a não ser que pense sentindo
a não ser que sinta vivendo
a não ser que viva morrendo
mas que nunca morra pensando

a Alma pensa sem ter que pensar
e sentindo-se abraça o pensamento
em lição não-pensada e sabida
que afinal viver é não pensar
é sentir sentir sentir
e finalmente amar...

04 março 2009

Conto Violento e Inútil


Um raio absurdo e de titânicas ramificações caiu do céu onde uma tempestade nunca antes vista flagelava minha cidade acabada. O raio abriu uma cratera na rua de onde brotou uma fonte de sangue. Ainda não anoitecera, mas era como se fosse noite. Antes fosse apenas noite. Os raios iluminavam um horizonte funestamente escurecido, porém iluminavam de forma deprimente e enferma. Fumaças e vapores de uma tristeza devastadora pairavam como maldições nas atmosferas corrompidas. E eu nada podia fazer. Ergui minha voz pressaga, e minha voz era inútil. Gritei e ninguém me escutou. Esqueletos rangiam e caíam nas fúnebres distâncias. Minhas preces não serviam mais para nada. Antes aquele raio tivesse aniquilado minha voz.

Uma ventania de implacável violência e quente como as labaredas dos desertos arrancou-me os cabelos. Muito antes disso, os sopros do inferno humano já haviam crestado todos os meus sonhos. Agora somente sinto o cheiro de queimando de suas asas sobre o meu pesar. De que serviram todos os meus sonhos? Antes aquele raio tivesse aniquilado também o cheiro das asas inúteis dos meus sonhos...

Eu era um membro da humanidade. Eu era toda a humanidade. Um inútil. Antes aquele raio tivesse caído sobre a minha cabeça. Como agora caem aquelas aves mortas sobre a minha cabeça ardente. Caem aquelas aves sobre as ruas enlameadas por onde perambulo acabado. Mergulhei meus pés descalços e feridos sobre o rio de sangue que jorrava sem cessar das entranhas da terra massacrada. Ergui minhas mãos aos céus tenebrosos, minhas mãos em carne viva, e não consegui sustê-las. Minhas mãos não adiantavam de nada. Antes tivessem sido extirpadas por aquele raio filho da tormenta sem fim.

A chuva ácida que golfejava da boca da morte ardia em meus olhos encovados e sangrentos. Ainda assim em desespero eu lutava para tentar olhar ao meu insuportável redor. Quando os relâmpagos anômalos canhestramente iluminavam os escombros da cidade, eram somente cadáveres de humanos e animais que torturavam os meus olhos.

E uma tormenta de nuvens negras tensamente carregadas despencou sobre a desolação dos meus olhos. Olhei para o sol cinzento e enfermiço que agonizava por trás das nuvens mórbidas e vi que meus olhos eram inúteis. Antes aquele raio tivesse esmagado o meu olhar.

Meu coração cansava-se de bater. De tudo o que tivera sentido, de tudo o que tivera amado, fora tudo absolutamente inútil. Antes aquele raio tivesse devastado o meu coração. E um mar de solidão ao som de trombetas que se alastrou com a chuva férvida e com o vendaval ácido causou profundo e incurável corte em meu peito apunhalado. E o sangue jorrou de meu corpo como as correntezas dos rios hoje negros, fétidos e secos. E fitando o horror que eu havia herdado, chorei condenadamente. E senti na pele inflamada que minhas lágrimas eram inúteis. E desejei que aquele raio houvesse massacrado minhas lágrimas.

E os meus pensamentos incendiaram de súbito quando pensei em tudo o que eu havia feito. Contemplando estarrecido a total ausência de vida, julguei-me culpado de todas as culpas, de todas as mortes, de toda a destruição. E pensei e refleti em desespero em tudo o que fiz e deixei de fazer do mundo e da vida que havia recebido, e minha mente jamais encontraria soluções. E percebi que meus pensamentos eram inúteis. Então pedi aos céus transtornados que aquele raio dizimasse os meus pensamentos.

E aqueles rostos dantescos e apocalípticos dos monstros e fantasmas que eram agora minha única companhia nunca deixavam de fitar minha face tragicamente refletida no céus de todos os desastres. Irradiava-se uma espantosa malignidade daqueles rostos. Eles culpavam-me, julgavam-me, sentenciavam-me como o responsável pelo Fim. Tentei reavivar o cadáver do tigre que antes fora meu amigo. Mas o veneno da água havia ceifado definitivamente sua triste existência. Abri minha boca, e um jato de vômito sanguinolento encharcou a miserável pelagem do tigre.

Estertorando, ajoelhei-me e implorei misericórdia. Mas compreendi que meus joelhos eram inúteis e supliquei para que o raio acabasse com meus joelhos. Restava só eu no mundo, eu era a humanidade inteira.

Foi então que um anjo vermelho desceu como uma flecha incendiada dos céus em eterna tempestade e apontou seu dedo implacável para a minha alma. Os relâmpagos e os trovões o acompanhavam e me cegavam e me ensurdeciam.

O anjo fez sair um sopro de sua boca, e desse sopro formou-se fatal furacão. Nele se debatiam sem trégua as minhas esperanças esquartejadas. O furacão arrancou minha alma de meu corpo. Eu caí inerte no chão de lodo ensanguentado. E minha alma voou conturbada entre a fúria do furacão que se dirigia a um ponto de tênue luminosidade no céu carregado. E um trágico Réquiem desconhecido soou nos meus ouvidos exaustos. Lá estaria Ela para receber minha alma. Ela reuniria os pedaços de minha alma estraçalhada. Minha alma teria alguma utilidade? E a humanidade principiou seu Descanso...

02 março 2009

Tudo que é Tarde

apenas o não do que sinto
aqui pairando nas nuvens
não tente achar nada que tenha
que nada aqui já te fala
não tente pensar ou saber
que há só alma aqui não sabendo
são almas de fim olho em sonho
nunca na vida voando
é tão tarde pra que eu te cante
te canto porque é tão tarde
e tu sabes que asas só voam
sempre no sonho beijando
tu sabes que tudo é tão triste
com o dia a mim não me enganes
eu encerro meu verso na noite
e canto tudo que é Tarde...

28 fevereiro 2009

O Que Realmente me Preocupa...


O que realmente me preocupa não é saber se a estátua do Aureliano foi quebrada por acidente ou por vandalismo, se era de boa qualidade ou não... Não é saber se Santiago merece o título de Terra dos Poetas ou se não merece. Para mim isso não tem a menor importância. Eu não estou nem aí.


O que merece a minha preocupação de verdade, por exemplo, são duas notícias que saíram no jornal Correio do Povo. A primeira afirma que o aquecimento global prossegue firme e forte, apesar de muitos cegos insistirem em negá-lo (é incrível saber como há pessoas que só se dão conta das coisas depois que o teto da casa desaba sobre suas cabeças). Segundo a notícia veiculada no jornal no dia 26/02, o derretimento nas geleiras dos polos Norte e Sul está sendo mais rápido do que o previsto, provocando o aumento do nível dos mares. Foi elaborado um documento por milhares de peritos onde consta que "o aquecimento na Antártida é muito mais extenso do que o previsto e que o derretimento do domo da Groenlândia está se acelerando." Segundo os peritos, já são percebidos "índices de mudanças nas correntes marinhas capazes de produzir um impacto gravíssimo sobre o sistema climático." Esses são os fatos. O resto é conversa fiada.


A segunda notícia que me preocupa é sobre os nossos bugios, tão cantados em verso e música pelos artistas gaúchos e já um dos símbolos naturais do pampa. Pois segundo notícia publicada no Correio do Povo em 27/02, os macacos roncadores estão próximos da extinção no RS. E não é somente devido à febre amarela. Já foram encontrados quase 1.100 bugios mortos no interior gaúcho (um número absurdo, um massacre), mas somente foi confirmado o vírus da febre em 13 deles.


Claro que em vários dos animais o estado avançado de decomposição impediu a análise, mas em muitos outros a causa mortis ainda é desconhecida. Os biólogos acreditam que muitos foram mortos pelo próprio homem, que na sua ignorância e perversidade pensam que são os bugios os culpados pela febre amarela. Na verdade, o culpado pela doença é o homem mesmo, que devastando as matas e causando o aquecimento global cria condições para a procriação dos mosquitos transmissores. Isso sem falar nos bugios que são vítimas da fome, por falta de matas, e dos agrotóxicos.


Quando vou às terras de meu tio na região do rio Itacurubi, sempre ouço seus roncos, procuro-os na mata e sempre os vejo. Lá, nas terras de meu tio, não foi encontrado nenhum morto, até agora. E lá não há os perversos ignorantes que os matam. Na foto acima está uma família de bugios que encontrei na região do rio Itacurubi (clique para ampliar).


São esses tipos de coisas que me preocupam. O resto não vale a pena nenhum um pouco, é perda de tempo.

Ecos

que nos resta mais que saudade?
...aldade
de quem é este beijo que sorvo?
...orvo
qual é nossa última sorte?
...orte
e a nossa esperança afinal?
...final.

27 fevereiro 2009

Soneto a Ela

E paira alta grandeza sobre as nuvens
e pesa mau destino sobre os homens.
Em negro mundo os anos se consomem
e mais clara em tua alma tu nos surges...

Caem raios das horas que refulges,
como sonhos de morte que em mim somem
como fins teus ocultos que há em Beethoven
como sombra em ti fêmea viva em luzes...

Tua voz nas tormentas que há nos céus,
teu olhar cataclísmico nos vela
nos sinais do Infinito dos teus véus...

E por ser Una, arcanamente bela,
alguém dirá talvez que vós sois Deus,
mas eu canto que vós sois no Eterno Ela...

25 fevereiro 2009

Silêncio

cruzou-me uma estrela nos olhos
e me virou a cara
como se fosse um arcanjo
ali não-vindo de nunca
como se fosse bafo de flores
me desviando das narinas...

cruzou-me uma estrela nos lábios
e não me disse palavra
como se fosse uma ave
que me deixou uma pena a voar
como se fosse águas de um rio
pelos invernos só a viver...

cruzou-me uma estrela
passou-me um arcanjo
me vieram umas flores
voou-me uma ave
correu-me umas águas
e me viraram a cara
não me disseram nada
partiram quietos e mudos
e deixaram-me só
no silêncio sentença do verso

24 fevereiro 2009

Oração do Fim-Nosso

Fim-Nosso que estais na Terra,
aniquilado seja o nosso nome,
venha a nós o vosso inferno,
seja a feita a vossa tempestade,
assim na terra como nos céus.

O horror nosso de cada dia
nos dai hoje
acabai com nossa existência,
assim como nós acabamos
com a dos outros seres vivos.

E não nos deixeis sair do furacão
mas mostrai o Final,
Amém.

21 fevereiro 2009

Eu Amo

lobos trovões de sangue pelas sombrias
densas vozes violino em vagas sangrias
sóis de saudade em seios luas noturnas
beijos sede de flores sonatam em soturnas
lagos olhos de belas almas violetas
velas luzes em cruz sussurram secretas
aves longas de preto em sonhos de gatas
ausências de tudo asas em anjos cantatas
noites de Brahms de fantasmas em vinhos
versos de frios rios chovem sozinhos
azul campo de ânsia em realezas finais
e este canto de louco que ama o Jamais...

19 fevereiro 2009

Nós Odiamos os Professores


(Este artigo foi publicado há alguns meses na revista "A Hora". Porém, tendo em vista a recente campanha do Cpers e outros sindicatos contra o governo Yeda, a qual foi mal vista pela sociedade, decidi publicá-lo agora, na íntegra, aqui no blog)

É. Odiamos. E eu já havia dito isso em outro artigo aqui na “A Hora”, mas agora vou comentar um pouco mais, afinal, sempre vale a pena louvar a cultura de nosso país, ou a ausência dela.

Lendo o jornal “Correio do Povo”, deparei-me com a notícia de que os pais apóiam as medidas do governo gaúcho relativas à enturmação, fechamento de escolas e outros descalabros. Eu sei por que eles apóiam: eles não dão aulas. Eu fico boquiaberto quando vejo como a sociedade brasileira quase sempre se posiciona contra os professores. É como se fossem os professores os culpados pelo estado lastimável, decadente, absurdo em que se encontra a educação pública de ensino básico no Brasil. Os alunos? Desinteressados, vulgares, incultos, violentos, à beira da imbecilidade. Os professores? Vergonhosamente mal pagos, desestimulados, tendo que suportar o desrespeito e a violência dos alunos, o clima de hostilidade e autoritarismo dos governos, a incompreensão e arrogância dos pais, enfim, o ódio de toda uma sociedade. E em cada governo que entra, o lema para a educação é sempre o mesmo: “Senhores professores: calem a boca, trabalhem mais, ganhem menos, e tenham turmas piores. E quem reclamar fica de castigo.” Esse é sempre o “jeito novo” de todos governarem.

Os pais são antes de tudo uns ingratos. Não educam em casa seus filhos e querem que os professores eduquem. E se o professor não o faz, ficam enfurecidos, jogando para os mestres a responsabilidade que é deles. Tudo vai contra o professor: salários, governos, alunos, pais, sociedade e até mesmo as leis. Sim, o mestre, devido ao estatuto degenerado da criança e do adolescente, não pode fazer nada para frear a indisciplina do aluno. Qualquer ato na tentativa de estabelecer a ordem na sala de aula pode ser visto como um atentado a esse estatuto idiota. A indisciplina do aluno, para não dizer bestialidade muitas vezes, tem o amparo da lei.

O aluno pode tudo. Confundiu-se liberdade com libertinagem. E depois ainda se questionam sobre o porquê de estar tão alta a criminalidade no Brasil. Os professores podem dar a resposta: é que as escolas estão cheias de marginais, vieram assim de suas casas. Ser professor é profissão de risco, mas não se ganha insalubridade. No entanto, mesmo estando dentro do inferno de uma sala de aula onde não há ordem nem respeito, o professor é obrigado a educar alegre e contente todos os alunos (que não querem ser educados) e a conhecer não só a sua disciplina, mas também ser um pouco de todas as outras profissões. Eu sugeriria também que os professores fossem um pouco policiais e prendessem alguns marginais que estão nas escolas. Ah, e que fossem com coletes à prova de balas, capacetes, escudos e outros instrumentos de defesa.

Mas não bastam essas barbaridades, agora é vez da enturmação. É inacreditável que aqueles que fazem as diretrizes educacionais creiam que é possível no Brasil ministrar-se aulas de boa qualidade para 50 alunos no Ensino Médio. Qualquer professor sabe que dar aulas para 30 alunos numa escola pública nos dias de hoje já é dificílimo, o que dizer então de 50?!! E os pais apóiam! E que o professor se dane. É por isso que eu amo o Brasil. Que cultura magnífica a nossa: odiar professores. Isso já faz parte de nosso inconsciente coletivo. Desde pequeninos somos educados a odiar educadores. Claro, sempre há os professores carrascos e incompetentes, como ocorre com outros profissionais, mas só os mestres não merecem perdão: deve-se odiar todos eles.

Deve-se odiá-los porque só a educação pode realmente desenvolver o Brasil, tirá-lo da miséria social, do vergonhoso atraso cultural, da decadência psíquica que se alastra em nossa população. Mas quem quer que isso aconteça? Não, o povo não quer. Nem os governos, que são o reflexo do povo. O brasileiro é acomodado sim. Não venham com essas patriotadas hipócritas de que o brasileiro é um povo lutador e inconformado. É coisa nenhuma! Brasileiro gosta da cultura do “como está, está bom”. “Big Brother não presta? Não, mas deixa assim que está bom.” Ter cultura de verdade? Pra quê? Se grande parte de nossos jovens hoje quer ser traficante de drogas? Além disso, pra se ouvir funk, não se precisa de cultura. Cultura só atrapalha. Então, morte aos mestres!

E assim caminha o Brasil, rebolando funk. É, o negócio é sacudir a bunda, porque na cabeça não há nada. Aonde vamos? Alunos, completem a atividade: vamos à ......... .... .......! Por favor, não me odeiem por causa disso.

Até aqui o artigo. Percebam, amigos leitores, que na época a polêmica era a questão da enturmação. Depois disso, quantas outras agressões contra o magistério promoveu o governo Yeda? A começar pelo decisão ferrenha e criminosa, uma vez que vai contra uma lei federal, de não pagar os míseros 950,00 para os profissionais responsáveis pela base de qualquer nação. Ainda quer acabar com a democracia nas escolas impedindo a eleição de diretores. Recusa-se a negociar com os professores. Cortou o ponto dos grevistas do magistério, sendo que o mesmo não fez com o de outros profissionais que também fizeram greve no mesmo período, muito embora os professores sejam obrigados a recuperar os dias parados. Ou seja, devem trabalhar de graça.
Ainda fez de palhaço o povo gaúcho, afirmando, a governadora, que não tem dinheiro para nada, que tem que cortar verbas da educação, da saúde, da segurança, mas, paradoxalmente, não falta dinheiro para aumentar seu próprio salário e para adquirir um jato de 26 milhões de doláres para suas viagens.

Ufa, acho que chega! Ou querem mais? Tudo bem. Sinto dizer que o tão propalado déficit zero é uma falácia. O RS ainda deve muito dinheiro...

17 fevereiro 2009

Soneto Inominado

mas para que dizer que quer que seja
se o nada ou nada adiantará de nada?
deixai cantar pela desgraça inflada
deixai morrer o que de mim deseja...

se queres vida em meu horror me beija
tragédia ao fim de sinfonia alada
em voo e fúria além de um mar de espada
na violência em que tua boca arqueja:

um furacão se ergue em perdões de treva
de grito e febre em tempestuais levantes
a longos fins um vento astral me leva...

buraco-negro me incendiou de Dantes
esquece tudo que te aclara e reza
no lábio em sangue por fatais adiantes...

14 fevereiro 2009

Soneto Mal Dito

(este soneto inicia com um verso de duas sílabas métricas, avança, verso por verso, por 3, 4, 5, 6, 7 e 8 sílabas, e então regride, voltando de 8 para 2 sílabas métricas em seu último verso. Ao lado de cada verso, entre parêntesis, está o seu número de sílabas)

É tarde. (2)
Lua em frio (3)
de piano em trio: (4)
me voo a encontrar-te. (5)

Grito em sangue de Marte (6)
por lábios bosques sombrios (7)
me enfureço em asas e crio (8)
loucuras pra em canto entregar-te. (8)

Mas ruge o corvo-minuano, (7)
vento do campo insano, (6)
grave urro de sorro... (5)

Por que é que eu clamo? (4)
Eu te chamo (3)
e morro. (2)

12 fevereiro 2009

Beethoven e a 9ª Sinfonia


A figura que geralmente as pessoas têm de Beethoven, principalmente graças aos filmes americanos sensacionalistas, e muitas vezes baseados em boatos sobre sua vida um tanto misteriosa, é a de um homem explosivo, fechado, mal-humorado, misantropo e dado a bebidas, com o típico temperamento alemão. Não se pode dizer que ele não foi assim, embora existam muitos exageros no cinema, fatos e características suas sugeridos pelos filmes que não estão de acordo com a história conhecida, até porque se conhece muito pouco da vida de Beethoven, principalmente em seus enigmáticos últimos anos.

Mas a verdade é que fora esses traços de sua personalidade, e mais importantes do que eles, é o outro lado de Beethoven, bem menos conhecido, uma vez que ele não daria tanta audiência aos filmes. O maior gênio musical da história era um homem de uma séria e profunda concentração e espiritualidade, possuía um extremo senso de justiça, um coração generoso, um caráter forte, elevado, nobre, avesso a todo tipo de hipocrisia, bajulação e mesquinharias. Sua elevação moral era irrepreensível, e por trás de sua aparência carrancuda havia um imenso coração resplandecente de amor e justiça, e angustiado com o futuro da humanidade.

E foi pensando no futuro da humanidade que em 1824, Beethoven concluiu a sua 9ª Sinfonia, considerada uma das maiores obras musicais de todos os tempos, se não for a maior. A 9ª Sinfonia, juntamente com a Missa Solemnis e com seus últimos quartetos para cordas, constitui seu testamento artístico definitivo. Nela, Beethoven atingiu o ponto culminante de seu gênio e deixou-nos a enigmática mensagem de que o Grande Homem é possível. Conhecida como “A Sinfonia Coral”, por ser a primeira sinfonia na história a apresentar coros e solistas vocais, o gênio utilizou-se, no 4º movimento, de um poema de Schiller intitulado “Ode à Alegria” para transmitir parte de seus propósitos. Mas não se trata aqui da alegria frívola, fútil, mundana, daquela proporcionada pelo prazer, mas de uma alegria divina, espiritual, advinda das profundezas da alma em sua harmonização com todos os homens, com todos os seres da natureza, com o universo e, finalmente, com Deus, seja qual for o conceito que tenhamos do mesmo.

Após o devastador e trágico 1º movimento, de uma força e grandiosidade inigualáveis e avassaladoras; após a energia violenta e luminosa do scherzo; após a densa celestialidade impregnada de mistério, de amor e de luz do adagio, surgem, no 4º movimento, depois de uma trágica introdução, os coros e os solistas a cantar em absoluto êxtase e força espiritual a “Ode à Alegria”, alternando luz e sombras num dos momentos mais sublimes de toda a Arte.

Impossível não se emocionar com a grandeza descomunal e com a sensação de poder e de vitória que a obra nos transmite. É que na música de Beethoven, como afirmou o filósofo Samael Aun Weor, “cada nota tem o seu significado, cada silêncio, é uma emoção superior. Não é a música de formas, mas de ideias arquetípicas inefáveis.” Que profundo mistério o gênio da música intentou nos revelar? Que verdades existem na 9ª Sinfonia? Eu diria que nela, resumidamente, Beethoven quis nos mostrar artisticamente o caminho do Grande Homem, aquele capaz de vencer seus obstáculos, principalmente os que estão dentro dele próprio, e encontrar o caminho do amor, amor em toda sua amplitude, em todo seu significado, em todos os seus sentidos.

O que diria Beethoven, se hoje soubesse que uma imensa parcela da humanidade preferiria ouvir um “funk” ou coisa do tipo a sua Sinfonia, e que ainda chama tais degradações de “música”? O que diria Beethoven se verificasse que a humanidade, ao invés de se tornar uma grande humanidade, está caminhando com passos decididos rumo à destruição do planeta e à autodestruição? Talvez compusesse a “Ode à Tristeza”.

Mas Beethoven cumpriu sua missão, como previu em seu “Testamento de Heiligenstadt”. Escreveu o gênio: “me parecia impossível abandonar o mundo antes de realizar tudo o que me está predestinado...” E ele realizou. Fiquemos com os últimos versos do poema de Schiller, que o coro canta sublimado e com força titânica no final da 9ª Sinfonia: “Mundo, você percebe seu Criador?/ Procure-o mais acima do Céu estrelado!/ Sobre as estrelas onde Ele mora!”

11 fevereiro 2009

Poemas do Término e Contos do Fim 33

Com um pouco de atraso, hoje será lançada a edição 33 do zine Poemas do Término e Contos do Fim, referente aos meses de janeiro e fevereiro. Nesta edição, está o final do conto "Otacílio e Madalena (ou a Morte do Pampa)", 3º conto da série sobre o fantástico na história gaúcha, além do conto "Em Chamas". Contém ainda 6 poemas insensatos.

Em Santiago, em breve o zine poderá ser encontrado nas locadores Fox e Classic, na Biblioteca Municipal e na Ponto Cópias. A partir de março, poderá ser encontrado, inclusive, na biblioteca da Uri.

Ele também é distribuído nas seguintes cidades: Santa Maria/RS, Santo Ângelo/RS, São Leopoldo/RS, Porto Alegre/RS, São Gonçalo/RJ e Goiana/PE. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, sendo cobradas apenas as despesas de correio.