Meados de agosto de 2024 - Durante várias noites repetiram-se as absurdas tempestades de raios, sendo estes cada vez mais anômalos e destrutivos. Creio que só por um milagre nossa casa não foi atingida, porém nosso galpão, um pouco afastado da casa, recebeu uma das ramificações monstruosas e foi totalmente aniquilado. Nosso cavalo e nossos frangos estavam lá dentro. Morreram todos. Sem os animais, nossa situação tornava-se mais e mais difícil, para não dizer trágica.
E quando finalmente chegou ao fim o período das tempestades, há cerca de quatro semanas, principiou-se um tempo violentamente seco, impressionou-nos a rapidez brutal com que a umidade desapareceu do ar. Um sol inclemente castigava nossa região em pleno inverno, e a temperatura ultrapassava os 30ºC. Era um calor insalubre, doentio, irradiava-nos uma sensação febricitante, deixando-nos irritadiços algumas vezes, e noutras abatia-nos com um insuportável desânimo e torpor.
Não demorou muito para que infernais incêndios sem controle devastassem os campos e as matas da região, e densas nuvens de fumaça pioravam nosso já lamentável estado físico e psicológico. Eu e Carolina todos os dias tínhamos que retirar baldes e mais baldes do poço para apagar o fogo que ameaçava o pomar e as esquálidas tentativas de replantar nossas hortas. E a água começava a escassear rapidamente. Já iniciávamos a passar fome, mas graças ao próprio fogo ela foi aliviada. Freqüentemente, animais fugiam das chamas e aproximavam-se de nossa casa. Mesmo sendo contra a caça, não tive alternativa. Necessitei caçá-los para sobrevivermos. Abatia animais selvagens e domésticos, como vacas e ovelhas.
Nossas noites tenebrosas eram agora iluminadas pelos deprimentes e intermináveis incêndios e pela luz amarelada e insuportavelmente triste de uma lua cheia ameaçadoramente esfumaçada, como surgida de um pesadelo pressago. Aqueles fantasmagóricos sons noturnos que infestavam as noites durante o período de tormentas cessaram por completo, mas nossa tensão permanecia. Carolina já entrara em depressão e meu estado psíquico não era muito melhor que o dela. Então, em certa tarde de muito sol, quando o fogo principiava a regressar, olhei para o céu intentando encontrar alguma nuvem de chuva. Porém o que vi foi algo inquietantemente estranho. Quase que ao lado do sol eu julguei avistar um outro. Sim, outro sol de um brilho menor e de tom avermelhado. No entanto, não me era possível, obviamente, fixar minha atenção na direção do sol e não tive certeza do que vi.
Início de novembro de 2024 - Meu decadente estado de alma por essa época deixou-me na memória apenas os fatos mais significativos, os mais terríveis dentro de tantos horrores. Os incêndios haviam cessado por completo. A temperatura diminuíra muito, o frio era absurdo para a época, com temperaturas próximas a zero. A luz do sol havia regredido, minguado canhestramente. Nossas fontes de alimentação encontravam-se no fim. O pomar já não possuía mais frutas, nossas plantações morreram inteiramente, o estoque de alimentos enlatados logo acabaria. Nossa única esperança de alimentação era a caça, cada vez mais difícil. Mesmo no estado em que me encontrava, eu partia em busca de animais e atirava no primeiro que surgisse, indistintamente. Era doloroso para mim atirar em animais selvagens, mas não havia saída. E eu estava certo que em breve não encontraria mais nenhum para abater.
Fracos e atormentados psiquicamente, sentíamos que nossa morte se aproximava. Nada sabíamos do que estava acontecendo. E nem tínhamos mais condições de pensar nisso. Creio até que delirávamos...
Dissera que a luz do sol havia minguado, regredido de forma absurda. A única explicação para o fenômeno seria aquele “outro sol” que eu havia visto há meses. Aquele sol de brilho estranho e avermelhado, de uma aura fantasmal, estava agora muito mais próximo. Eu delirava? A questão é que ele havia se aproximado muito da Terra e já encobria uma grande parte do sol. Porém, o que chamei de “outro sol”, não o era. Tratava-se, acreditei, de outro planeta, um gigantesco e ominoso planeta vermelho que se aproximava ameaçadoramente... Eu não tenho palavras para descrever a opressora e massacrante sensação de medo e horror que aquele inacreditável planeta nos causava. Nós sentíamos e víamos morrer a luz do sol, assim como morrera a eletricidade. Eu tinha apenas minha esposa e a luz dos olhos dela. Ela tinha apenas a mim e a luz de meus olhos. E foram essas únicas luzes, creio, que nos alimentaram e nos mantiveram vivos.
(Continua...)
07 novembro 2008
05 novembro 2008
A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap. III
22 de junho de 2024 - Estávamos completamente isolados. Após ter matado aquele louco que se acercou da carroça, vi apenas mais dois humanos, ambos igualmente enlouquecidos. Também necessitei matá-los. O primeiro deles tentou se aproximar de Carolina enquanto ela tirava água de nosso poço artesiano. O segundo, encontrei no campo quando fui visitar nosso vizinho mais próximo, que ficava a cerca de 4 km. Tentou atacar-me com um machado. Acertei uma bala em seu peito e prossegui rumo a meus vizinhos. Não havia ninguém vivo por lá. Os cadáveres de Antônio, sua esposa e seus filhos jaziam apodrecidos no pátio. Apenas pus na carroça seus estoques de querosene e gás, assim como as velas que encontrei, e voltei para casa. Nessa tarde, reforcei drasticamente a segurança de portas e janelas.
Durante a escura noite, não consegui dormir. Apesar de estarmos no princípio do inverno, o calor era insuportável. E já fazia cerca de uma semana que, durante estas noites densas e abafadas, eu ouvia ao longe gritos horríveis, dificilmente conseguiria descrevê-los, eram como urros, grunhidos, pios, gemidos, enfim, toda espécie de som aterrador. Eu não saberia dizer se eram de homens ou animais, ou de algum ser monstruoso. Naquela altura, em meio a tantas aberrações, eu tenebrosamente imaginava o que poderia ser aquilo e comentava com Carolina as idéias terrificantes que surgiam a minha mente, enquanto um gélido arrepio percorria nossas almas... Porém, naquela noite tudo parecia ainda mais intenso e perturbador, o calor, o clima físico e psicológico de opressão, os sons infernais da noite... Foi então que percebemos que se formava uma tempestade, uma absurda tempestade...
A tormenta formou-se numa velocidade vertiginosa e assustadora. De uma hora para outra, violentas rajadas de vento surgiram dos céus congestionados, nossa casa parecia que seria derrubada em questão de minutos. Trovões atordoantes massacravam os céus, e dantescos relâmpagos como eu jamais vira bombardeavam os campos até onde a vista alcançava. A eletricidade que o homem não mais podia produzir estava ali devastando horizontes. Eram raios gigantescos, grotescamente ramificados, cruzando-se incessantemente por entre a pesada chuva. Víamos árvores serem atingidas, e um dos raios caiu em nosso pomar. A fúria do vento varria as extensões diante de nossos olhares aterrorizados. Havia algo de errado, de anômalo naquela tormenta, principalmente em seus raios. Eles eram doentios, imensos em demasia, suas ramificações ominosas e a freqüência com que surgiam nos céus eram completamente anormais.
Durante aproximadamente uma hora, mal conseguíamos respirar de tanto medo e apreensão. Impossível expressar nossa sensação de alívio quando a tormenta cessou de forma tão súbita quanto iniciara. Nossa casa estava intacta. Porém, algumas árvores do pomar foram derrubadas e perdemos praticamente todas nossas plantações de legumes e verduras.
(Continua...)
Durante a escura noite, não consegui dormir. Apesar de estarmos no princípio do inverno, o calor era insuportável. E já fazia cerca de uma semana que, durante estas noites densas e abafadas, eu ouvia ao longe gritos horríveis, dificilmente conseguiria descrevê-los, eram como urros, grunhidos, pios, gemidos, enfim, toda espécie de som aterrador. Eu não saberia dizer se eram de homens ou animais, ou de algum ser monstruoso. Naquela altura, em meio a tantas aberrações, eu tenebrosamente imaginava o que poderia ser aquilo e comentava com Carolina as idéias terrificantes que surgiam a minha mente, enquanto um gélido arrepio percorria nossas almas... Porém, naquela noite tudo parecia ainda mais intenso e perturbador, o calor, o clima físico e psicológico de opressão, os sons infernais da noite... Foi então que percebemos que se formava uma tempestade, uma absurda tempestade...
A tormenta formou-se numa velocidade vertiginosa e assustadora. De uma hora para outra, violentas rajadas de vento surgiram dos céus congestionados, nossa casa parecia que seria derrubada em questão de minutos. Trovões atordoantes massacravam os céus, e dantescos relâmpagos como eu jamais vira bombardeavam os campos até onde a vista alcançava. A eletricidade que o homem não mais podia produzir estava ali devastando horizontes. Eram raios gigantescos, grotescamente ramificados, cruzando-se incessantemente por entre a pesada chuva. Víamos árvores serem atingidas, e um dos raios caiu em nosso pomar. A fúria do vento varria as extensões diante de nossos olhares aterrorizados. Havia algo de errado, de anômalo naquela tormenta, principalmente em seus raios. Eles eram doentios, imensos em demasia, suas ramificações ominosas e a freqüência com que surgiam nos céus eram completamente anormais.
Durante aproximadamente uma hora, mal conseguíamos respirar de tanto medo e apreensão. Impossível expressar nossa sensação de alívio quando a tormenta cessou de forma tão súbita quanto iniciara. Nossa casa estava intacta. Porém, algumas árvores do pomar foram derrubadas e perdemos praticamente todas nossas plantações de legumes e verduras.
(Continua...)
02 novembro 2008
A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap.II
14 de maio de 2024 – Esses dois meses que passaram foram decisivos no desenrolar da catástrofe e deram-me uma visão absolutamente desesperadora do que acontecia com a humanidade. Definitivamente, já não existia uma civilização. Não, não voltamos à barbárie. Antes tivéssemos voltado. Na verdade, involuímos de forma absurda para um estado de degradação inimaginável, o mundo via aflorar o lado mais negro e diabólico do ser humano, e eu pensava desolado no que estaria acontecendo naqueles instantes ao redor do mundo...
Como qualquer tipo de comunicação à distância era impossível, inclusive deslocar-se com veículos automotivos, cujas baterias não funcionavam, eu não podia mais saber o que estava sendo feito para a solução da tragédia, se é que alguma coisa poderia ser feita. O que a ciência poderia fazer, como poderia construir qualquer nova tecnologia que não dependesse de eletricidade se todas as máquinas necessárias para tanto só funcionavam com eletricidade? Não havia saída para a civilização.
Eu e minha esposa estávamos isolados e com medo. Havíamos consumido quase todo nosso estoque de alimentos. Onde obter mais? E como conservar alimentos sem geladeiras? Felizmente, o inverno se aproximava, e com o frio, a necessidade de refrigeradores seria menor. Mas precisaríamos de mais calor, de mais fogo. Deveríamos obter mais gás. Era imperativo voltar à cidade. Sim, porque vivíamos um pouco afastados dela. Nossa casa situava-se além do perímetro urbano, possuíamos uma pequena propriedade onde cultivávamos um vasto pomar e plantávamos alguns legumes e verduras, além de criarmos frangos. No entanto, tanto eu como Carolina trabalhávamos na cidade em nossos respectivos empregos, que haviam sido suspensos pela falta de energia.
Em minha última visita à cidade, há menos de um mês, a maioria dos estabelecimentos comerciais haviam fechado suas portas, ou por falta de fornecedores ou por medo dos saques. A população, já perdendo seus empregos e sem dinheiro, não tinha alternativa, a não ser saquear os mercados para a obtenção de alimentos. Mesmo assim, eu deveria ir à cidade na esperança de encontrar o que nos faltava e conseguir mais gás. Felizmente, eu possuía uma pequena carroça e um cavalo. Foi o que possibilitou minha pequena viagem.
15 de maio de 2024 – No início da tarde, parti em direção à cidade. Por precaução, levei comigo uma arma de fogo. Conforme me aproximava da zona urbana, um cenário de desolação verdadeiramente apocalíptico ia se desenrolando. Eu via casas em ruínas, automóveis destruídos, pessoas e animais mortos às centenas pelas ruas imundas, abarrotados de todo tipo de lixo e sujeira. O mau cheiro da podridão infestava minhas narinas. “Meu Deus!” pensei comigo, “a ausência da eletricidade causou todas essas tragédias em tão pouco tempo?” E passei a imaginar os horrores que poderiam estar assolando o mundo naquele exato momento... Continuei avançando pelo que parecia ser o cenário de uma guerra. Não podia dizer como, mas acreditava que toda ou quase toda população da cidade estava morta ou desaparecida. O cavalo abria caminho por entre cadáveres, e os únicos seres vivos que eu via, além das plantas, eram alguns gatos, cachorros e aves perdidos por entre a destruição.
Avistei o que havia sido um supermercado. Peguei a arma e entrei. O mercado fora saqueado, mas ainda pude encontrar alimentos enlatados e em conserva, bem como alguns pacotes de velas. Rapidamente, saí do mercado e dirigi-me até o depósito de gás. Ainda consegui encontrar três bujões intactos. Preocupado com a segurança de minha esposa, tomei o caminho de volta. Por entre os mortos, eu tentava desesperado entender o que estava acontecendo com a humanidade. O que ocorrera com a população de mais de 50 mil habitantes da cidade onde eu vivia? E enquanto refletia inutilmente, alguém surgiu por detrás de algumas árvores. Era um homem com aspecto de mendigo. Quando me avistou, partiu em minha direção numa corrida desvairada. Parecia enlouquecido. Peguei a arma, estava pronto para atirar. Porém, antes tentei interrogá-lo, saber quem era, o que estava acontecendo. Foi inútil, parecia não me ouvir. Ele se acercou da carroça ameaçadoramente. Matei-o com um tiro na cabeça.
Alarmado com o ocorrido, temi pela vida de Carolina. Fui para casa o mais rápido possível. Para meu alívio, ela estava bem.
(Continua...)
Como qualquer tipo de comunicação à distância era impossível, inclusive deslocar-se com veículos automotivos, cujas baterias não funcionavam, eu não podia mais saber o que estava sendo feito para a solução da tragédia, se é que alguma coisa poderia ser feita. O que a ciência poderia fazer, como poderia construir qualquer nova tecnologia que não dependesse de eletricidade se todas as máquinas necessárias para tanto só funcionavam com eletricidade? Não havia saída para a civilização.
Eu e minha esposa estávamos isolados e com medo. Havíamos consumido quase todo nosso estoque de alimentos. Onde obter mais? E como conservar alimentos sem geladeiras? Felizmente, o inverno se aproximava, e com o frio, a necessidade de refrigeradores seria menor. Mas precisaríamos de mais calor, de mais fogo. Deveríamos obter mais gás. Era imperativo voltar à cidade. Sim, porque vivíamos um pouco afastados dela. Nossa casa situava-se além do perímetro urbano, possuíamos uma pequena propriedade onde cultivávamos um vasto pomar e plantávamos alguns legumes e verduras, além de criarmos frangos. No entanto, tanto eu como Carolina trabalhávamos na cidade em nossos respectivos empregos, que haviam sido suspensos pela falta de energia.
Em minha última visita à cidade, há menos de um mês, a maioria dos estabelecimentos comerciais haviam fechado suas portas, ou por falta de fornecedores ou por medo dos saques. A população, já perdendo seus empregos e sem dinheiro, não tinha alternativa, a não ser saquear os mercados para a obtenção de alimentos. Mesmo assim, eu deveria ir à cidade na esperança de encontrar o que nos faltava e conseguir mais gás. Felizmente, eu possuía uma pequena carroça e um cavalo. Foi o que possibilitou minha pequena viagem.
15 de maio de 2024 – No início da tarde, parti em direção à cidade. Por precaução, levei comigo uma arma de fogo. Conforme me aproximava da zona urbana, um cenário de desolação verdadeiramente apocalíptico ia se desenrolando. Eu via casas em ruínas, automóveis destruídos, pessoas e animais mortos às centenas pelas ruas imundas, abarrotados de todo tipo de lixo e sujeira. O mau cheiro da podridão infestava minhas narinas. “Meu Deus!” pensei comigo, “a ausência da eletricidade causou todas essas tragédias em tão pouco tempo?” E passei a imaginar os horrores que poderiam estar assolando o mundo naquele exato momento... Continuei avançando pelo que parecia ser o cenário de uma guerra. Não podia dizer como, mas acreditava que toda ou quase toda população da cidade estava morta ou desaparecida. O cavalo abria caminho por entre cadáveres, e os únicos seres vivos que eu via, além das plantas, eram alguns gatos, cachorros e aves perdidos por entre a destruição.
Avistei o que havia sido um supermercado. Peguei a arma e entrei. O mercado fora saqueado, mas ainda pude encontrar alimentos enlatados e em conserva, bem como alguns pacotes de velas. Rapidamente, saí do mercado e dirigi-me até o depósito de gás. Ainda consegui encontrar três bujões intactos. Preocupado com a segurança de minha esposa, tomei o caminho de volta. Por entre os mortos, eu tentava desesperado entender o que estava acontecendo com a humanidade. O que ocorrera com a população de mais de 50 mil habitantes da cidade onde eu vivia? E enquanto refletia inutilmente, alguém surgiu por detrás de algumas árvores. Era um homem com aspecto de mendigo. Quando me avistou, partiu em minha direção numa corrida desvairada. Parecia enlouquecido. Peguei a arma, estava pronto para atirar. Porém, antes tentei interrogá-lo, saber quem era, o que estava acontecendo. Foi inútil, parecia não me ouvir. Ele se acercou da carroça ameaçadoramente. Matei-o com um tiro na cabeça.
Alarmado com o ocorrido, temi pela vida de Carolina. Fui para casa o mais rápido possível. Para meu alívio, ela estava bem.
(Continua...)
31 outubro 2008
A Doença da Luz (ou o Relato de Carlos Walter Mann) - Cap.I
O Conto abaixo, do qual publico seu primeiro capítulo, talvez seja minha obra em prosa mais bem acabada, e também a de mais difícil realização. Tornou-se um pouco extensa, se considerarmos a dimensão média de meus contos. Por isso, confio na paciência dos leitores para o acompanharem através de capítulos que serão postados aqui de dois em dois dias. Estou certo que o final será absolutamente surpreendente.
7 de maio de 2025 - Meu nome é Carlos Walter Mann, e o relato que me foi solicitado pelos senhores encontra-se nas linhas a seguir. Procurei explicar os acontecimentos de acordo com as datas mais significativas para mim, algumas delas ficaram profundamente gravadas na memória. É a minha visão particular da catástrofe, vamos a ela...
23 de fevereiro de 2024 - Naquela manhã de verão plena de sol, ao levantar-me, percebi que a geladeira não estava funcionando. Tentei acender as luzes. Não havia energia elétrica. Imaginei que fosse apenas uma interrupção temporária no fornecimento de eletricidade. Logo deveria voltar. Minha esposa, Carolina, ainda dormia. Sentei-me e fui comer algumas frutas, e em seguida li o jornal. No entanto, passara-se mais de uma hora, a luz não retornara. Decidi ligar para a companhia de energia elétrica. O atendente não soube informar-me absolutamente nada sobre o que estava acontecendo. Disse-me que a interrupção no fornecimento de energia ocorrera durante a madrugada de forma misteriosamente inexplicável, e não era algo restrito a nossa região, mas atingia todo o país, melhor dizendo, atingia todo o planeta! Por mais absurdo que isso pudesse ser, até onde se sabia, não havia energia elétrica em nenhuma parte do mundo. Finalizou a breve conversa afirmando que o estranho e caótico caso já estava sendo seriamente estudado por milhares de técnicos e cientistas em todos os países do mundo e logo deveria ser solucionado.
Em seguida, telefonei para o celular de um amigo que trabalhava na própria companhia. Desejava ter uma idéia melhor do que ocorria. Com muita pressa e nervosismo, meu amigo limitou-se a dizer que tudo ocorreu de uma hora para outra, a energia simplesmente deixou de ser fornecida simultaneamente em todos os países, sem nenhuma causa aparente. Não houve falha em nenhum ponto, todas as unidades produtoras de energia elétrica estavam funcionando perfeitamente, sem nenhum erro. Porém, não existia energia. As usinas ao redor do mundo não produziam absolutamente nada de eletricidade. E, até o momento, não havia explicação alguma. E desligou o celular. Fui deitar ao lado de Carolina e ler um livro.
19 de março de 2024 – A energia ainda não voltara. Apesar dos terríveis esforços em todo o mundo, não só nenhuma solução foi encontrada, como também a causa do pior desastre da história da humanidade permanecia uma incógnita. E ainda pior que isso: não só a eletricidade oriunda de usinas (fossem elas hidrelétricas, termelétricas, nucleares...) deixou de existir, mas também qualquer tipo de eletricidade produzida pelo homem: pilhas, baterias, células fotoelétricas, enfim, nada mais funcionava. Não era mais possível ao homem produzir energia elétrica. Creio que os senhores podem imaginar perfeitamente o caos absoluto que reinou no planeta. Sem a energia elétrica, o homem atual não é nada.
Com o colapso energético, a comunicação entre os humanos deixou de existir, pois até mesmo as companhias telefônicas e os correios não tinham mais condições de funcionar. Sem telefones, sem internet, sem televisores, sem rádios, enfim, sem nada, teríamos regressado aos séculos em que não dependíamos da eletricidade, se isso fosse possível. Não era. Não estávamos preparados para tanto.
A humanidade paralisou-se completamente. Imaginem as negras conseqüências da catástrofe... Basta lembrar que todas as instituições, todas as indústrias, todas as empresas, toda a ciência, praticamente todas as profissões, todos os governos, os mais banais afazeres, desde um celular a um automóvel, de uma calculadora a um computador, de uma lanterna a um avião são dependentes de energia elétrica. É inenarrável a titânica magnitude do desastre que rapidamente estabeleceu o mais absurdo caos entre a civilização...
(continua...)
7 de maio de 2025 - Meu nome é Carlos Walter Mann, e o relato que me foi solicitado pelos senhores encontra-se nas linhas a seguir. Procurei explicar os acontecimentos de acordo com as datas mais significativas para mim, algumas delas ficaram profundamente gravadas na memória. É a minha visão particular da catástrofe, vamos a ela...
23 de fevereiro de 2024 - Naquela manhã de verão plena de sol, ao levantar-me, percebi que a geladeira não estava funcionando. Tentei acender as luzes. Não havia energia elétrica. Imaginei que fosse apenas uma interrupção temporária no fornecimento de eletricidade. Logo deveria voltar. Minha esposa, Carolina, ainda dormia. Sentei-me e fui comer algumas frutas, e em seguida li o jornal. No entanto, passara-se mais de uma hora, a luz não retornara. Decidi ligar para a companhia de energia elétrica. O atendente não soube informar-me absolutamente nada sobre o que estava acontecendo. Disse-me que a interrupção no fornecimento de energia ocorrera durante a madrugada de forma misteriosamente inexplicável, e não era algo restrito a nossa região, mas atingia todo o país, melhor dizendo, atingia todo o planeta! Por mais absurdo que isso pudesse ser, até onde se sabia, não havia energia elétrica em nenhuma parte do mundo. Finalizou a breve conversa afirmando que o estranho e caótico caso já estava sendo seriamente estudado por milhares de técnicos e cientistas em todos os países do mundo e logo deveria ser solucionado.
Em seguida, telefonei para o celular de um amigo que trabalhava na própria companhia. Desejava ter uma idéia melhor do que ocorria. Com muita pressa e nervosismo, meu amigo limitou-se a dizer que tudo ocorreu de uma hora para outra, a energia simplesmente deixou de ser fornecida simultaneamente em todos os países, sem nenhuma causa aparente. Não houve falha em nenhum ponto, todas as unidades produtoras de energia elétrica estavam funcionando perfeitamente, sem nenhum erro. Porém, não existia energia. As usinas ao redor do mundo não produziam absolutamente nada de eletricidade. E, até o momento, não havia explicação alguma. E desligou o celular. Fui deitar ao lado de Carolina e ler um livro.
19 de março de 2024 – A energia ainda não voltara. Apesar dos terríveis esforços em todo o mundo, não só nenhuma solução foi encontrada, como também a causa do pior desastre da história da humanidade permanecia uma incógnita. E ainda pior que isso: não só a eletricidade oriunda de usinas (fossem elas hidrelétricas, termelétricas, nucleares...) deixou de existir, mas também qualquer tipo de eletricidade produzida pelo homem: pilhas, baterias, células fotoelétricas, enfim, nada mais funcionava. Não era mais possível ao homem produzir energia elétrica. Creio que os senhores podem imaginar perfeitamente o caos absoluto que reinou no planeta. Sem a energia elétrica, o homem atual não é nada.
Com o colapso energético, a comunicação entre os humanos deixou de existir, pois até mesmo as companhias telefônicas e os correios não tinham mais condições de funcionar. Sem telefones, sem internet, sem televisores, sem rádios, enfim, sem nada, teríamos regressado aos séculos em que não dependíamos da eletricidade, se isso fosse possível. Não era. Não estávamos preparados para tanto.
A humanidade paralisou-se completamente. Imaginem as negras conseqüências da catástrofe... Basta lembrar que todas as instituições, todas as indústrias, todas as empresas, toda a ciência, praticamente todas as profissões, todos os governos, os mais banais afazeres, desde um celular a um automóvel, de uma calculadora a um computador, de uma lanterna a um avião são dependentes de energia elétrica. É inenarrável a titânica magnitude do desastre que rapidamente estabeleceu o mais absurdo caos entre a civilização...
(continua...)
28 outubro 2008
Soneto Noturno
Ah, que Tristeza flutua nos luares,
mais agora que o mundo vai morrendo,
e um vulto envolto em sonhos pelos ares
em raios e grinaldas vem descendo...
Nos teus olhos sinto anjos florescendo...
dou-te a alma se à noite me beijares
no perfume que o escuro vai tecendo
aos fantasmas que em névoas vêm aos pares.
E em mim gotejam almas: noite nua
nas árias lutulentas que cantaste,
na febre, na loucura que flutua...
És sangue de rosas, espinhos da haste,
a alma da morte, veneno da lua...
Ó Noiva! Foste tu que me mataste!
mais agora que o mundo vai morrendo,
e um vulto envolto em sonhos pelos ares
em raios e grinaldas vem descendo...
Nos teus olhos sinto anjos florescendo...
dou-te a alma se à noite me beijares
no perfume que o escuro vai tecendo
aos fantasmas que em névoas vêm aos pares.
E em mim gotejam almas: noite nua
nas árias lutulentas que cantaste,
na febre, na loucura que flutua...
És sangue de rosas, espinhos da haste,
a alma da morte, veneno da lua...
Ó Noiva! Foste tu que me mataste!
26 outubro 2008
a Fernando Pessoa
pessoalmente
não me sinto ser uma pessoa
nem sei o que é ser o que sou
ou não-sou
o que meu ser pensam ser as pessoas
jamais será o meu ser impessoal:
eu não estou no que me é
afinal
o que sou
em mar de essências ressoa...
além do mais do que vale a pena
eu só queria ser
um(a) grande Pessoa
não me sinto ser uma pessoa
nem sei o que é ser o que sou
ou não-sou
o que meu ser pensam ser as pessoas
jamais será o meu ser impessoal:
eu não estou no que me é
afinal
o que sou
em mar de essências ressoa...
além do mais do que vale a pena
eu só queria ser
um(a) grande Pessoa
Um comentário sobre Oracy Dornelles
Algumas pessoas me perguntaram qual foi meu comentário sobre um poema de Oracy, no caso, um de seus poemas morfológicos. Digo que o comentário foi feito no blog de minha amiga Fátima, porém, infelizmente ela o apagou. Embora eu não concorde em apagar comentários realizados em blogs, sejam eles positivos ou negativos (afinal, essa é uma das funções deles, a interatividade), eu entendo os motivos dela. No entanto, eu sempre deixo salvo os comentários que realizo em blogs, quando eles são extensos. Então, para os interessados, publico aqui aquele comentário, na íntegra, originalmente feito no blog da Fátima. É o que penso, com toda sinceridade, sobre a poesia atual de Oracy.
"Olá, Fátima! Bem, já que o Oracy gosta tanto de criticar o que escrevo, permita-me, Fátima, deixar agora a minha crítica a um poema dele, que até pode ser válido para todos os outros que ele escreve neste mesmo estilo. Sim, um poema excelente dentro da poesia minimalista, com grande significação em poucas palavras, intelectualmente admiravelmente construído. Mas seria essa poesia fria e intelectual a verdadeira poesia? Que emoção verdadeira há nela? Onde ela toca em nossas almas? Onde está a força do ritmo, ou a magia da leitura das palavras em algo tão mínimo? Com toda sinceridade, não sinto nenhuma emoç]ao ao lê-la. Posso ficar pensando para tentar entender seus significados, mas nisso não entra meus sentimentos, é algo frio, analítico, mental, raciocinativo, não tem alma, não tem o espírito fecundador das grandes poesias. E Essa poesia minimalista já não corresponde às novas tendências da poesia, vem surgindo um grito de libertação dessa poesia cômica e intelectualista para buscar trazer novamente para a poética a emoção, o coração, o espírito da poesia discursiva ou semidiscursiva (sem descuidar dos elementos pós-modernos) que põe fogo na alma. Eu, ultimamente, tenho procurado escrever dentro de uma nova visão. Estou farto do minimalismo. O próprio Alfredo Bosi afirma sobre a nova poesia: "Ressurge o discurso poético e, como ele, o verso, livre ou metrificado – em oposição à sintaxe ostensivamente gráfica." Um abraço!"
"Olá, Fátima! Bem, já que o Oracy gosta tanto de criticar o que escrevo, permita-me, Fátima, deixar agora a minha crítica a um poema dele, que até pode ser válido para todos os outros que ele escreve neste mesmo estilo. Sim, um poema excelente dentro da poesia minimalista, com grande significação em poucas palavras, intelectualmente admiravelmente construído. Mas seria essa poesia fria e intelectual a verdadeira poesia? Que emoção verdadeira há nela? Onde ela toca em nossas almas? Onde está a força do ritmo, ou a magia da leitura das palavras em algo tão mínimo? Com toda sinceridade, não sinto nenhuma emoç]ao ao lê-la. Posso ficar pensando para tentar entender seus significados, mas nisso não entra meus sentimentos, é algo frio, analítico, mental, raciocinativo, não tem alma, não tem o espírito fecundador das grandes poesias. E Essa poesia minimalista já não corresponde às novas tendências da poesia, vem surgindo um grito de libertação dessa poesia cômica e intelectualista para buscar trazer novamente para a poética a emoção, o coração, o espírito da poesia discursiva ou semidiscursiva (sem descuidar dos elementos pós-modernos) que põe fogo na alma. Eu, ultimamente, tenho procurado escrever dentro de uma nova visão. Estou farto do minimalismo. O próprio Alfredo Bosi afirma sobre a nova poesia: "Ressurge o discurso poético e, como ele, o verso, livre ou metrificado – em oposição à sintaxe ostensivamente gráfica." Um abraço!"
23 outubro 2008
Webrevista - Projeto C.O.V.A
O meu amigo e escritor Giovani Coelho de Souza elaborou uma webrevista de seu Projeto C.O.V.A, onde publicou um magnífico tributo a Álvares de Azevedo, incluindo nele meu Soneto Ultra-romântico. Agradeço ao amigo e deixo todos meus elogios a seu trabalho, o qual foi perfeitamente conduzido, tanto formal quanto conteudiscamente. Há na webrevista textos de alta qualidade, uma adequada e impressionante escolha de imagens, incluindo pinturas clássicas. Percebe-se que é um trabalho feito com o coração. Parabéns.
Link para download da webrevista(edição 1):
http://www.mediafire.com/file/d4ttjtrkwkz/WEBREVISTA
Link para download da webrevista(edição 1):
http://www.mediafire.com/file/d4ttjtrkwkz/WEBREVISTA
19 outubro 2008
A Saída
tu és o último canto
do conto eterno em que conto
em que me encontro e retorno
e sempre em torno ao meu rosto
o teu encanto me conta
o que pra sempre me resta
o que deixei de meu rastro
tu és o último conto
em que pra sempre te canto
e pelo céu eu me arrasto
revolto eu volto no entanto
com tudo o que é de minha conta
um vulto em vida e revolta
conta comigo em tua volta
conta comigo os meus olhos
vê como eles são tantos
e como paguei minha conta
olhando acima da lama
no canto daquele que ama
a saída de tudo é a Alma
do conto eterno em que conto
em que me encontro e retorno
e sempre em torno ao meu rosto
o teu encanto me conta
o que pra sempre me resta
o que deixei de meu rastro
tu és o último conto
em que pra sempre te canto
e pelo céu eu me arrasto
revolto eu volto no entanto
com tudo o que é de minha conta
um vulto em vida e revolta
conta comigo em tua volta
conta comigo os meus olhos
vê como eles são tantos
e como paguei minha conta
olhando acima da lama
no canto daquele que ama
a saída de tudo é a Alma
17 outubro 2008
É Lógico que a Vida não Possui Lógica
“...não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser cotidiano, ser nítido,
Ter um lugar na vida...”
Fernando Pessoa
Não, não possui. Talvez possua algum Equilíbrio, um equilíbrio sombrio, oculto, incompreensível, inacessível e absoluta e canhestramente ilógico. Mas um equilíbrio. E sempre acima de nossa mão. Por que deveria ser compreensível? Já alguns dirão que esse equilíbrio não existe. Eu não digo nada. Não gosto de dizer as coisas. Gosta de cantá-las. E de gritá-las. Mas não de dizê-las, dizer é tão fraco.
A Lua estava anômala ontem. Foi necessário que eu saísse às ruas naquele estado de sono que não era o sono. Era um sono em um estado alterado de consciência. Saí caminhando pelo dia não-diurno, sim, porque eu sentia um sono profundo e vertiginoso, algo como um desejo não-terráqueo nem fictício, mas dominado por todas as cores de beijos. Não, não sou sonâmbulo. Naquela praça, vi 4 homens lendo jornais. Jamais conseguiria defini-los, mas os defino: horríveis, todos eles: olhos esbugalhados, descabelados, tossindo, boca escorrendo sangue como um churrasco mal-assado, não falavam uns com os outros, não se movimentavam. Não sei se andei ou flutuei até eles, aliás, eu não sei nada. E pedi um jornal emprestado e li todas as manchetes. Horríveis, todas elas.
Como era mágico e salutar meu sono... Com as manchetes dos jornais fiz um poema, sem modificar uma só palavra. O poema mais trágico da história da humanidade. Sonhei... Não sei com o que sonhei, mas vivi o mais fundo possível o que sonhei. Que mais se pode fazer? E como saí das florestas felinas sem ter uma só palavra a dizer a ninguém, isso é que é de se admirar! E como senti os vapores nunca-vistos de tudo que tu me disseste aquele dia sem que me olhasses uma só vez nos olhos... E como olhei nos teus olhos com cheiros de músicas sem que tu me dissesses um só verbo divino ou caído.
Amanhã vai chover... Assim, percebi que a humanidade não vale a pena... Vale a pena aquele rio que nunca correu, aquela flor que nunca nasceu, aquela árvore que nunca cresceu, aquela música que nunca tocaram, aquele céu que nunca brilhou, aquele beijo que nunca se deram... Por isso voam aves de verde pelas ânsias perfumadas daquele inverno que nunca apagou sua luz. Nem a minha. Porém, o mais absurdo de tudo, algo realmente ilógico e que nunca me foi permitido entender é que a sociedade no fundo odeia os professores. Deve ser por que eles são os únicos capazes de melhorar seus filhos. Se o homem quisesse ser melhorado, eu não estaria aqui dormindo, sonhando e escrevendo.
Quantas estrelas caíram aquele dia do céu... Uma delas abriu ao meio minha cabeça, literalmente, e uns uivos-desejo flutuavam tensos ao longe, e perto de mim. Era uma noite sombria, mas tu não estavas sobre os altares. Como se iluminou todo o luar, como uma treva santa chocou-se contra os versos que uma águia largou do bico sobre a morte... Três mãos alucinadas ergueram-se de dentro de meu peito, e vi uma chuva de olhos com chifres brancos perfurarem todo meu coração, o sangue não-meu que lacrimejava ao espaço doente formou uma nuvem que aceleradamente ascendeu ao sonho onde eu dormia. Não esqueçam que eu estava dormindo, por favor, não percam o fio da meada. Corri. Tu não estavas lá. Tudo não estava lá.
E no Brasil odeia-se ainda mais os professores, e estou certo que isso é uma das principais características de nossa cultura, talvez a principal, aquela que define definitivamente o que é ser brasileiro, odiar um professor, afinal, sem isso o Brasil não seria Brasil. Mas um canto e um grito titânicos ergueram-se majestosos daquele planeta de luz que não vejo. Como soou apaixonado um violino de Brahms aos meus ouvidos, e todas as coisas se angustiavam de forma tão ciclonicamente sublime que um furacão passou pela minha cidade e arrasou com tudo, inclusive comigo. Por isso durmo e elevo meu coração na ponta de uma espada flamígera e atiro-o ao relâmpago que me beija... O fim é como o começo: “Sim, está tudo certo./Está tudo perfeitamente certo./O pior é que está tudo errado.” É do Álvaro de Campos, que nunca existiu e valeu a pena. E eu me acordei.
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser cotidiano, ser nítido,
Ter um lugar na vida...”
Fernando Pessoa
Não, não possui. Talvez possua algum Equilíbrio, um equilíbrio sombrio, oculto, incompreensível, inacessível e absoluta e canhestramente ilógico. Mas um equilíbrio. E sempre acima de nossa mão. Por que deveria ser compreensível? Já alguns dirão que esse equilíbrio não existe. Eu não digo nada. Não gosto de dizer as coisas. Gosta de cantá-las. E de gritá-las. Mas não de dizê-las, dizer é tão fraco.
A Lua estava anômala ontem. Foi necessário que eu saísse às ruas naquele estado de sono que não era o sono. Era um sono em um estado alterado de consciência. Saí caminhando pelo dia não-diurno, sim, porque eu sentia um sono profundo e vertiginoso, algo como um desejo não-terráqueo nem fictício, mas dominado por todas as cores de beijos. Não, não sou sonâmbulo. Naquela praça, vi 4 homens lendo jornais. Jamais conseguiria defini-los, mas os defino: horríveis, todos eles: olhos esbugalhados, descabelados, tossindo, boca escorrendo sangue como um churrasco mal-assado, não falavam uns com os outros, não se movimentavam. Não sei se andei ou flutuei até eles, aliás, eu não sei nada. E pedi um jornal emprestado e li todas as manchetes. Horríveis, todas elas.
Como era mágico e salutar meu sono... Com as manchetes dos jornais fiz um poema, sem modificar uma só palavra. O poema mais trágico da história da humanidade. Sonhei... Não sei com o que sonhei, mas vivi o mais fundo possível o que sonhei. Que mais se pode fazer? E como saí das florestas felinas sem ter uma só palavra a dizer a ninguém, isso é que é de se admirar! E como senti os vapores nunca-vistos de tudo que tu me disseste aquele dia sem que me olhasses uma só vez nos olhos... E como olhei nos teus olhos com cheiros de músicas sem que tu me dissesses um só verbo divino ou caído.
Amanhã vai chover... Assim, percebi que a humanidade não vale a pena... Vale a pena aquele rio que nunca correu, aquela flor que nunca nasceu, aquela árvore que nunca cresceu, aquela música que nunca tocaram, aquele céu que nunca brilhou, aquele beijo que nunca se deram... Por isso voam aves de verde pelas ânsias perfumadas daquele inverno que nunca apagou sua luz. Nem a minha. Porém, o mais absurdo de tudo, algo realmente ilógico e que nunca me foi permitido entender é que a sociedade no fundo odeia os professores. Deve ser por que eles são os únicos capazes de melhorar seus filhos. Se o homem quisesse ser melhorado, eu não estaria aqui dormindo, sonhando e escrevendo.
Quantas estrelas caíram aquele dia do céu... Uma delas abriu ao meio minha cabeça, literalmente, e uns uivos-desejo flutuavam tensos ao longe, e perto de mim. Era uma noite sombria, mas tu não estavas sobre os altares. Como se iluminou todo o luar, como uma treva santa chocou-se contra os versos que uma águia largou do bico sobre a morte... Três mãos alucinadas ergueram-se de dentro de meu peito, e vi uma chuva de olhos com chifres brancos perfurarem todo meu coração, o sangue não-meu que lacrimejava ao espaço doente formou uma nuvem que aceleradamente ascendeu ao sonho onde eu dormia. Não esqueçam que eu estava dormindo, por favor, não percam o fio da meada. Corri. Tu não estavas lá. Tudo não estava lá.
E no Brasil odeia-se ainda mais os professores, e estou certo que isso é uma das principais características de nossa cultura, talvez a principal, aquela que define definitivamente o que é ser brasileiro, odiar um professor, afinal, sem isso o Brasil não seria Brasil. Mas um canto e um grito titânicos ergueram-se majestosos daquele planeta de luz que não vejo. Como soou apaixonado um violino de Brahms aos meus ouvidos, e todas as coisas se angustiavam de forma tão ciclonicamente sublime que um furacão passou pela minha cidade e arrasou com tudo, inclusive comigo. Por isso durmo e elevo meu coração na ponta de uma espada flamígera e atiro-o ao relâmpago que me beija... O fim é como o começo: “Sim, está tudo certo./Está tudo perfeitamente certo./O pior é que está tudo errado.” É do Álvaro de Campos, que nunca existiu e valeu a pena. E eu me acordei.
14 outubro 2008
Uma Lenda (e um Tributo a Brahms)
É manhã. Eu caminho pelo campo para descobrir o que é que me observa. E o campo é verde, vivo e vasto. Alguém, alguma coisa, algum ser, de forma permanente e misteriosa, oculto sob o invisível, vigia-me cheio de presságios... É aurora e o sol sobe. E a aurora é bela e fria. No céu imensamente azul, no céu estranhamente azul, uma grande ave paira sobre meus sonhos. É ela que me observa? Porém, quem é que toca a Sinfonia nº. 1 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, porém não sei de onde ela nasce.
Dos grandes e roxos olhos da ave eu fito a saudade. E a ave parte ao longe sob o sol que brilha e assim percebo que não é ela que me observa. O sol brilha. O orbe imperador nosso, doador de toda a vida, também mantém fixo seus olhos de luz, fogo e raio sobre minha consciência. Mas não é ele que me observa. À medida que caminho por entre flores e enxames de borboletas, vejo que o astro solar sobe no empíreo, cintila sobre a tranqüilidade escura e iminente das antigas folhas das árvores das matas que avisto ao longe. E a cintilar nas femininas árvores, o sol proclama com cristalinas trombetas que não é ele que me observa, porque ele somente o faz durante o dia, e quem me observa o fará eternamente... Porém, quem é que toca o concerto para piano nº. 2 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Vem uma névoa. Névoa densa e fria e longa e bela. Um céu nublado que amorteceu a luz solar. E o sol se mortifica em benefício à sombra. Um gelado estremecimento anímico traz consigo um inconcebível enigma... Que almas são aquelas que diviso flutuando invisíveis por entre a neblina? Uma dança de espectros assoma solene ascendendo em alto cedro negro. Espíritos brancos e pálidos valsam e miram meus olhos, mas não são eles que me observam, apesar de tão fantástico espetáculo. Quem é que berra dentro do bosque? Bosque em sonhos, sombrio. Contudo não sou eu que sonho...
É Tarde. Acho que parte minha inspiração, ainda que permaneça ouvindo tantos gritos e grunhidos e rugidos e urros e gemidos e lamentos e murmúrios e sussurros que caem e sobem, que vão e voltam, que voam e brilham, que crescem e morrem, que dançam e beijam na tarde em névoa da mata estranha. E sei que não são essas coisas que me observam. Há segredos e arcanos inacessíveis por trás de tão largo labirinto. Porém, quem é que toca o quarteto para piano e cordas nº. 3 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Ali corre um gato-do-mato. Escondeu-se atrás de um cipreste. Que nuvens etéreas se evolam daquele cipreste, carregadas da mais intensa paixão desesperada?... No entanto, a paixão não é minha. Acho que perco minha paixão. Sei que a vertigem em um dos galhos do cipreste mergulha na emotividade psíquica daquelas nuvens vermelhas que não sei de onde caem. Só sei que não existem ciprestes em nossas matas nativas... Portanto, não é nem o gato nem o cipreste que me observam. E nem mesmo aquele ser inclassificável que agora cruza montado em um lobo-guará. Porque eu o conheço. Avistando as longínquas colinas e coxilhas longas e adormecidas sob as nuvens densas, tensas, nervosas e carregadas, eu sei que não é ele. Seu sorriso não me engana. Eu, um cavaleiro de uma coroa perdida há muitos séculos, fitando os cavalos e as ovelhas pastarem ao longe... Sei que não pode ser ele.
Que inverno magnífico e trágico! Vejo teus olhos com febre nos horizontes. Olhos que choram e sangram lilases. Talvez sejam eles que me observam. Talvez eu esteja atingindo o ápice do segredo, o auge de todos os enigmas e mistérios... Porém, quem é que toca o Réquiem de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
A névoa se dissipa. Meu coração se acalma e segue batendo lento, muito lento, sublimemente lento, canhestramente lento. Já não sou mais eu. Sinto saudades do que não foi. Aqueles perfumes balsâmicos dos pântanos e arbustos já assombrados e alarmados surgem etéreos, enquanto o sol asfixiado em incensos desmaia cantando no chumbo, no verde, no rosa, no roxo do céu do crepúsculo romântico. Simultaneamente aos berros do sapo, uma lua titânica surge em plenilúnio, fantasmagórica e espectralmente, ascendendo rápido por entre céus e nimbos. Inauditamente amarela e dourada. Uma lua noturna nasce triunfante e lacrimosa. Quantos anseios e ânsias, e desejos e sonhos cavalgam com ela em dramático tropel? Meu Deus, quem é que me observa? E quantos fantasmas gemem e violinam no crepúsculo que avança? E quantos seres que não sei que seres são valsam nas nuvens avermelhadas, arroxeadas, acinzentadas e inflamadas na noite que ainda não é? Que Dança Fatal é esta que me alucina? É divina ou diabólica? Porém, quem é que toca o quinteto op. 30 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
E aquela lua onírica que me observa? E aquela lua de vinho? E o morcego ruflando? E a coruja agourando? Aquela lua de sangue... Aquela lua de lábio... Aquela lua de Eros... Aquela lua de alma... Aquela lua de olhos... Aquela lua que é tua. Mas não é ela que me vigia, que me contempla, que me observa. Aquela lua não é a lua. Não é o satélite da Terra. Aquela lua é um sinal, é um arcanjo, é um trono. Aquela lua é tua deusa! E dela pingam sonhos melancólicos. Gotejam grotescos sentimentalismos. Gotejam olhos e tristezas, tristezas que não têm fim... Olhos e tristezas góticas que se calamitam. Vejo fantasmas rubros ao redor da lua se abraçando sobre árvores velhas, estranhamente velhas, nunca-vistamente verdes. Meu Deus, quem é que me observa? Ainda não é noite, é quase. Subindo, eu fito uma lua menstruada de onde partem sussurros e músicas em surdina, e cantos de mortuários espíritos, e sonhos de amores fatais, e febres de corações inflamados, e tragédias de sublimes éteres do espaço infinito, da eternidade que assombra e apaixona, de beijos sangüíneos na boca, na língua, que pairam nos outonos tristonhos. Vejo olhos em todos os cantos, em todos os rios, em todas as matas, em todos os céus, em todos os seres! Meu Deus, quem é que me observa? E quem é que toca Brahms? Quem é que toca Brahms numa tempestade apocalíptica, a febre de Brahms, a fúria de Brahms, o sonho de Brahms! Meu Deus! quem é que toca, quem é que me observa? A Tristeza? A Tragédia? A Força? A Paixão? De Brahms? Que jamais se rende, que jamais se verga, que jamais se entrega!
Sim, porque vibra a Sinfonia nº. 4 de Brahms em meus tímpanos, e agora eu sei de onde ela nasce... É tu que tocas, é tu que me observas...
É Noite. E pela primeira vez sinto medo, pois estou no escuro da Noite e sei que é tu que me observas... Eu sigo meu caminho, olhando-te, e tenho medo...
Dos grandes e roxos olhos da ave eu fito a saudade. E a ave parte ao longe sob o sol que brilha e assim percebo que não é ela que me observa. O sol brilha. O orbe imperador nosso, doador de toda a vida, também mantém fixo seus olhos de luz, fogo e raio sobre minha consciência. Mas não é ele que me observa. À medida que caminho por entre flores e enxames de borboletas, vejo que o astro solar sobe no empíreo, cintila sobre a tranqüilidade escura e iminente das antigas folhas das árvores das matas que avisto ao longe. E a cintilar nas femininas árvores, o sol proclama com cristalinas trombetas que não é ele que me observa, porque ele somente o faz durante o dia, e quem me observa o fará eternamente... Porém, quem é que toca o concerto para piano nº. 2 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Vem uma névoa. Névoa densa e fria e longa e bela. Um céu nublado que amorteceu a luz solar. E o sol se mortifica em benefício à sombra. Um gelado estremecimento anímico traz consigo um inconcebível enigma... Que almas são aquelas que diviso flutuando invisíveis por entre a neblina? Uma dança de espectros assoma solene ascendendo em alto cedro negro. Espíritos brancos e pálidos valsam e miram meus olhos, mas não são eles que me observam, apesar de tão fantástico espetáculo. Quem é que berra dentro do bosque? Bosque em sonhos, sombrio. Contudo não sou eu que sonho...
É Tarde. Acho que parte minha inspiração, ainda que permaneça ouvindo tantos gritos e grunhidos e rugidos e urros e gemidos e lamentos e murmúrios e sussurros que caem e sobem, que vão e voltam, que voam e brilham, que crescem e morrem, que dançam e beijam na tarde em névoa da mata estranha. E sei que não são essas coisas que me observam. Há segredos e arcanos inacessíveis por trás de tão largo labirinto. Porém, quem é que toca o quarteto para piano e cordas nº. 3 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Ali corre um gato-do-mato. Escondeu-se atrás de um cipreste. Que nuvens etéreas se evolam daquele cipreste, carregadas da mais intensa paixão desesperada?... No entanto, a paixão não é minha. Acho que perco minha paixão. Sei que a vertigem em um dos galhos do cipreste mergulha na emotividade psíquica daquelas nuvens vermelhas que não sei de onde caem. Só sei que não existem ciprestes em nossas matas nativas... Portanto, não é nem o gato nem o cipreste que me observam. E nem mesmo aquele ser inclassificável que agora cruza montado em um lobo-guará. Porque eu o conheço. Avistando as longínquas colinas e coxilhas longas e adormecidas sob as nuvens densas, tensas, nervosas e carregadas, eu sei que não é ele. Seu sorriso não me engana. Eu, um cavaleiro de uma coroa perdida há muitos séculos, fitando os cavalos e as ovelhas pastarem ao longe... Sei que não pode ser ele.
Que inverno magnífico e trágico! Vejo teus olhos com febre nos horizontes. Olhos que choram e sangram lilases. Talvez sejam eles que me observam. Talvez eu esteja atingindo o ápice do segredo, o auge de todos os enigmas e mistérios... Porém, quem é que toca o Réquiem de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
A névoa se dissipa. Meu coração se acalma e segue batendo lento, muito lento, sublimemente lento, canhestramente lento. Já não sou mais eu. Sinto saudades do que não foi. Aqueles perfumes balsâmicos dos pântanos e arbustos já assombrados e alarmados surgem etéreos, enquanto o sol asfixiado em incensos desmaia cantando no chumbo, no verde, no rosa, no roxo do céu do crepúsculo romântico. Simultaneamente aos berros do sapo, uma lua titânica surge em plenilúnio, fantasmagórica e espectralmente, ascendendo rápido por entre céus e nimbos. Inauditamente amarela e dourada. Uma lua noturna nasce triunfante e lacrimosa. Quantos anseios e ânsias, e desejos e sonhos cavalgam com ela em dramático tropel? Meu Deus, quem é que me observa? E quantos fantasmas gemem e violinam no crepúsculo que avança? E quantos seres que não sei que seres são valsam nas nuvens avermelhadas, arroxeadas, acinzentadas e inflamadas na noite que ainda não é? Que Dança Fatal é esta que me alucina? É divina ou diabólica? Porém, quem é que toca o quinteto op. 30 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
E aquela lua onírica que me observa? E aquela lua de vinho? E o morcego ruflando? E a coruja agourando? Aquela lua de sangue... Aquela lua de lábio... Aquela lua de Eros... Aquela lua de alma... Aquela lua de olhos... Aquela lua que é tua. Mas não é ela que me vigia, que me contempla, que me observa. Aquela lua não é a lua. Não é o satélite da Terra. Aquela lua é um sinal, é um arcanjo, é um trono. Aquela lua é tua deusa! E dela pingam sonhos melancólicos. Gotejam grotescos sentimentalismos. Gotejam olhos e tristezas, tristezas que não têm fim... Olhos e tristezas góticas que se calamitam. Vejo fantasmas rubros ao redor da lua se abraçando sobre árvores velhas, estranhamente velhas, nunca-vistamente verdes. Meu Deus, quem é que me observa? Ainda não é noite, é quase. Subindo, eu fito uma lua menstruada de onde partem sussurros e músicas em surdina, e cantos de mortuários espíritos, e sonhos de amores fatais, e febres de corações inflamados, e tragédias de sublimes éteres do espaço infinito, da eternidade que assombra e apaixona, de beijos sangüíneos na boca, na língua, que pairam nos outonos tristonhos. Vejo olhos em todos os cantos, em todos os rios, em todas as matas, em todos os céus, em todos os seres! Meu Deus, quem é que me observa? E quem é que toca Brahms? Quem é que toca Brahms numa tempestade apocalíptica, a febre de Brahms, a fúria de Brahms, o sonho de Brahms! Meu Deus! quem é que toca, quem é que me observa? A Tristeza? A Tragédia? A Força? A Paixão? De Brahms? Que jamais se rende, que jamais se verga, que jamais se entrega!
Sim, porque vibra a Sinfonia nº. 4 de Brahms em meus tímpanos, e agora eu sei de onde ela nasce... É tu que tocas, é tu que me observas...
É Noite. E pela primeira vez sinto medo, pois estou no escuro da Noite e sei que é tu que me observas... Eu sigo meu caminho, olhando-te, e tenho medo...
09 outubro 2008
Sempre...
I
ah o ato oculto
de fechar os olhos
som
de sonhos sonho em alma
vou
e sono-me em descanso e réquiem
e já não sou-me
anoiteço e tecem-me
a lua o livre o longe
onde serei o ser no sempre
e meus versos serei eu contigo
no que deixo estou-me eterno
e ao não-ser meu ser te digo...
II
ah o ato alado
de abrir os olhos...
sol
de volta envolto em aura
sou
e vôo-me em coragem e Brahms
e no tudo fico-me
amanheço e criam-me
a luz o livro a lenda
onde serei o ser no agora
nos meus versos serei eu comigo
e no que deixo estou-te amando
e sempre em ser serei contigo
ah o ato oculto
de fechar os olhos
som
de sonhos sonho em alma
vou
e sono-me em descanso e réquiem
e já não sou-me
anoiteço e tecem-me
a lua o livre o longe
onde serei o ser no sempre
e meus versos serei eu contigo
no que deixo estou-me eterno
e ao não-ser meu ser te digo...
II
ah o ato alado
de abrir os olhos...
sol
de volta envolto em aura
sou
e vôo-me em coragem e Brahms
e no tudo fico-me
amanheço e criam-me
a luz o livro a lenda
onde serei o ser no agora
nos meus versos serei eu comigo
e no que deixo estou-te amando
e sempre em ser serei contigo
06 outubro 2008
Marcha Fúnebre
meus olhos-clima de fim
fim-lábio negro de lua
lua que rosa meus lagos
lagos de valsas aos gritos
gritos com sono no sangue
sangue de pulsos me selam
selam meus braços e caem
caem os abraços na luz
luz que te perco e me sonha
sonha em teu canto entre noite
noite tua alma me espia
espia orando e de beijos
beijos de fim nos meus olhos
fim-lábio negro de lua
lua que rosa meus lagos
lagos de valsas aos gritos
gritos com sono no sangue
sangue de pulsos me selam
selam meus braços e caem
caem os abraços na luz
luz que te perco e me sonha
sonha em teu canto entre noite
noite tua alma me espia
espia orando e de beijos
beijos de fim nos meus olhos
04 outubro 2008
03 outubro 2008
Homenagem
Meu grande amigo Oracy publicou mais uma homenagem a mim no jornal Expresso Ilustrado (o jornal de melhor conteúdo do Estado, diga-se de passagem). Agradeço então ao nosso maior poeta pela sua imensa preocupação comigo e por mais essa demonstração de como sou importante para ele, dedicando seu precioso tempo para me engrandecer perante a culta população santiaguense, tempo esse que ele poderia ter destinado a domar pulgas, por exemplo. Abaixo, está mais uma pérola de Dornelles:
"Vem de novo o exu sem mácula,
Poe dos pobres, nauseabundo,
Vem pregando o fim do mundo,
Esse Mordomo do Drácula."
Permita-me, amigo Oracy, uma pequena análise, nunca uma crítica. Vejamos o termo, "exu sem mácula". Incrível, sou algo absolutamente original, um exu puro, sem mácula! Isso existe? Só mesmo eu, gênio da literatura fantástica, para ser algo que não existe.
Agora, analisemos "Poe dos pobres". Nossa, Oracy, eu não mereço tanto. Comparar-me a Poe! Não chego nem aos pés de Poe, e o meu amigo me chama de Poe dos pobres, ou seja, sou o Poe do Brasil, dos brasileiros!!! Meu Deus! Assim vou ficar "me achando".
"Vem pregando o fim do mundo"... Quase isso: alerto sobre o fim dessa humanidade. Mas eu entendo, para um neoparnasiano como meu amigo Oracy, a rima está acima de tudo, tem que rimar com "nauseabundo."
E, finalmente, "Mordomo de Drácula". Bem, esse meu título já é clássico, já virou lenda, tanto que sou Mordomo com letra maiúscula. É a força da poesia de Oracy. Apenas uma correção, se me permitir, amigo: Drácula não tinha mordomo, é só ler o livro de Bram Stoker. Que pena, meu sonho era ser mordomo dele...
Ah, só não gostei duma coisa: essa rima de "Drácula" com "mácula", já está muito batida, é a 3ª vez que você a usa, Oracy. Que tal da próxima vez usar gárgula no lugar de mácula? Eu sei, não é perfeita, mas semanticamente ficará mais próxima de Drácula. Mas por favor, use Drácula, não posso deixar de ser seu mordomo.
Obrigado, Oracy, muito obrigado! Eu me divirto muito com você, sem dúvida, é merecido seu trono em Santiago: nosso maior piadista. E de lambuja, dono de um útil e expressivo circo, idolatrado pela profundidade da mídia. Definitivamente, o mundo precisa dessas comicidades. O que seria do mundo sem seus poemas morfológicos, por exemplo? Neles você usou a linguagem mais moderna possível, a saber, o miguxês, que é aquela com que os miguxos da internet se comunicam, enchendo as palavras de frescuras ultramodernas. Até pensei em fazer um poema para você, Oracy, mas não tenho talento suficiente, fiquei só no título, que seria: "Orassyh, mheuh mhayor mhyghuxu". Habhrassoz!
"Vem de novo o exu sem mácula,
Poe dos pobres, nauseabundo,
Vem pregando o fim do mundo,
Esse Mordomo do Drácula."
Permita-me, amigo Oracy, uma pequena análise, nunca uma crítica. Vejamos o termo, "exu sem mácula". Incrível, sou algo absolutamente original, um exu puro, sem mácula! Isso existe? Só mesmo eu, gênio da literatura fantástica, para ser algo que não existe.
Agora, analisemos "Poe dos pobres". Nossa, Oracy, eu não mereço tanto. Comparar-me a Poe! Não chego nem aos pés de Poe, e o meu amigo me chama de Poe dos pobres, ou seja, sou o Poe do Brasil, dos brasileiros!!! Meu Deus! Assim vou ficar "me achando".
"Vem pregando o fim do mundo"... Quase isso: alerto sobre o fim dessa humanidade. Mas eu entendo, para um neoparnasiano como meu amigo Oracy, a rima está acima de tudo, tem que rimar com "nauseabundo."
E, finalmente, "Mordomo de Drácula". Bem, esse meu título já é clássico, já virou lenda, tanto que sou Mordomo com letra maiúscula. É a força da poesia de Oracy. Apenas uma correção, se me permitir, amigo: Drácula não tinha mordomo, é só ler o livro de Bram Stoker. Que pena, meu sonho era ser mordomo dele...
Ah, só não gostei duma coisa: essa rima de "Drácula" com "mácula", já está muito batida, é a 3ª vez que você a usa, Oracy. Que tal da próxima vez usar gárgula no lugar de mácula? Eu sei, não é perfeita, mas semanticamente ficará mais próxima de Drácula. Mas por favor, use Drácula, não posso deixar de ser seu mordomo.
Obrigado, Oracy, muito obrigado! Eu me divirto muito com você, sem dúvida, é merecido seu trono em Santiago: nosso maior piadista. E de lambuja, dono de um útil e expressivo circo, idolatrado pela profundidade da mídia. Definitivamente, o mundo precisa dessas comicidades. O que seria do mundo sem seus poemas morfológicos, por exemplo? Neles você usou a linguagem mais moderna possível, a saber, o miguxês, que é aquela com que os miguxos da internet se comunicam, enchendo as palavras de frescuras ultramodernas. Até pensei em fazer um poema para você, Oracy, mas não tenho talento suficiente, fiquei só no título, que seria: "Orassyh, mheuh mhayor mhyghuxu". Habhrassoz!
02 outubro 2008
Tal Vez
eu amo...
mas afinal o que eu amo?
a luz de nadas
que pulsa em vinhos de vida essências?
talvez um sonho
de fogo verbo que corre em sangues?
um olho em anjos
que em eternos morre ao som de céus?
talvez um erro
que dorme em mortes de amor e noite?
segredo e medo
em lago e mares que vibram ao longe?
talvez um verso
de tudo aquilo que em flores paira?
um rio de cosmos
que nasce em beijos de Deus e Deusa?
mas o que eu amo ao final?
Tua Alma.
mas afinal o que eu amo?
a luz de nadas
que pulsa em vinhos de vida essências?
talvez um sonho
de fogo verbo que corre em sangues?
um olho em anjos
que em eternos morre ao som de céus?
talvez um erro
que dorme em mortes de amor e noite?
segredo e medo
em lago e mares que vibram ao longe?
talvez um verso
de tudo aquilo que em flores paira?
um rio de cosmos
que nasce em beijos de Deus e Deusa?
mas o que eu amo ao final?
Tua Alma.
30 setembro 2008
Um Pouco Sobre Alienígenas e Narcisismo
“Ó hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!”
Baudelaire
Já publiquei aqui no blog algumas pinturas antigas, de séculos atrás, onde ocorrem, de forma bastante evidente, alguns objetos voadores não identificados, sendo que vários se aparentam assombrosamente com naves espaciais. Acima, está o quadro "A Madonna e o Menino", de Fellippo Lippi (séc.XV). Tal fato é mais um forte indício de que o aparecimento de OVNIS não é algo exclusivo dos séculos XX e XXI. Para muitos, a existência de seres alienígenas é uma piada, uma alucinação de alguns (é incrível como algumas pessoas explicam como “alucinação” tudo o que não podem explicar, talvez pela comodidade: é “alucinação”, e pronto!), mas para mim é algo lógico, evidente.
Creio que a não aceitação de seres alienígenas é mais um capítulo da “novela” de nosso narcisismo. De fato, a humanidade é quase que cem por cento egoísta. E todos nós somos, em maior ou menor grau, narcisistas. Negá-lo é um absurdo, reflete uma total ausência de auto-observação. Acusar alguém de ser narcisista é, no mínimo, uma contradição e uma hipocrisia. A diferença, é que alguns estão conscientes de seu narcisismo, e lutam contra ele até onde é possível e necessário. Outros não.
No entanto, muitas manifestações mais amplas e gerais desse narcisismo não são percebidas ou comentadas. Adoramos nosso próprio umbigo individual ou coletivamente. Tal afirmação pode ser aplicada a um simples indivíduo que anseia por adorar-se de alguma forma, ou até mesmo a toda a civilização, desde os tempos em que se julgava a Terra como centro do universo. Hoje, sabemos que não somos o centro, contudo agora transferimos essa crença egocêntrica para a idéia de que a humanidade é a única civilização inteligente em um universo onde existe um número infinito de mundos. No fundo, permanecemos com o conceito de que a Terra é o centro do universo, apenas houve uma mudança de foco, do planeta para a sua humanidade.
E cremos que os extraterrestres, se existirem, necessariamente são seres que devem satisfações a nós, que são obrigados a responder aos sinais que enviamos ao espaço, que devem declarar abertamente a nosso povo de víboras altamente confiáveis: “Olá, nós estamos aqui!” Se não respondem, é porque não existem. Estamos seguros que somos os seres mais evoluídos e inteligentes do cosmos, dotados de uma insuperável auto-suficiência intelectual e científica, e jamais passaria por nossas mentalidades pequenas e arrogantes que um ser alienígena pudesse não estar interessado em fazer contato com uma civilização atrasada, decadente, perversa e suicida como a nossa, e que preferisse estudar-nos como se estudam animais: um animal não sabe que está sendo estudado...
Tal pensamento, o de que os extraterrestres para existirem devem entrar em contato conosco normalmente, de que devem satisfações a nós, é o grau máximo de narcisismo.
Baudelaire
Já publiquei aqui no blog algumas pinturas antigas, de séculos atrás, onde ocorrem, de forma bastante evidente, alguns objetos voadores não identificados, sendo que vários se aparentam assombrosamente com naves espaciais. Acima, está o quadro "A Madonna e o Menino", de Fellippo Lippi (séc.XV). Tal fato é mais um forte indício de que o aparecimento de OVNIS não é algo exclusivo dos séculos XX e XXI. Para muitos, a existência de seres alienígenas é uma piada, uma alucinação de alguns (é incrível como algumas pessoas explicam como “alucinação” tudo o que não podem explicar, talvez pela comodidade: é “alucinação”, e pronto!), mas para mim é algo lógico, evidente.
Creio que a não aceitação de seres alienígenas é mais um capítulo da “novela” de nosso narcisismo. De fato, a humanidade é quase que cem por cento egoísta. E todos nós somos, em maior ou menor grau, narcisistas. Negá-lo é um absurdo, reflete uma total ausência de auto-observação. Acusar alguém de ser narcisista é, no mínimo, uma contradição e uma hipocrisia. A diferença, é que alguns estão conscientes de seu narcisismo, e lutam contra ele até onde é possível e necessário. Outros não.
No entanto, muitas manifestações mais amplas e gerais desse narcisismo não são percebidas ou comentadas. Adoramos nosso próprio umbigo individual ou coletivamente. Tal afirmação pode ser aplicada a um simples indivíduo que anseia por adorar-se de alguma forma, ou até mesmo a toda a civilização, desde os tempos em que se julgava a Terra como centro do universo. Hoje, sabemos que não somos o centro, contudo agora transferimos essa crença egocêntrica para a idéia de que a humanidade é a única civilização inteligente em um universo onde existe um número infinito de mundos. No fundo, permanecemos com o conceito de que a Terra é o centro do universo, apenas houve uma mudança de foco, do planeta para a sua humanidade.
E cremos que os extraterrestres, se existirem, necessariamente são seres que devem satisfações a nós, que são obrigados a responder aos sinais que enviamos ao espaço, que devem declarar abertamente a nosso povo de víboras altamente confiáveis: “Olá, nós estamos aqui!” Se não respondem, é porque não existem. Estamos seguros que somos os seres mais evoluídos e inteligentes do cosmos, dotados de uma insuperável auto-suficiência intelectual e científica, e jamais passaria por nossas mentalidades pequenas e arrogantes que um ser alienígena pudesse não estar interessado em fazer contato com uma civilização atrasada, decadente, perversa e suicida como a nossa, e que preferisse estudar-nos como se estudam animais: um animal não sabe que está sendo estudado...
Tal pensamento, o de que os extraterrestres para existirem devem entrar em contato conosco normalmente, de que devem satisfações a nós, é o grau máximo de narcisismo.
28 setembro 2008
Não Sou Eu que Te Digo
ali onde sentem e pensam que eu estou
não sou eu que sinto e penso por ali
aquele que me vêem
não sou eu
ali vêem restos de céu
ali vêm rastos de inferno
e no vale onde me encontro
que não vale
porque nunca me encontrei
encontro todos que não eu
encontro nada que nem eu
e eu fui tudo que não fui
pois o ser que sou
de oculto dever ser
esse ser não é eu
mas é o que sou
tudo que me voa sobre mim
é ali onde me estou
e esses versos que te digo
sou eu que te escrevo
mas não sou eu que te digo
não sou eu que sinto e penso por ali
aquele que me vêem
não sou eu
ali vêem restos de céu
ali vêm rastos de inferno
e no vale onde me encontro
que não vale
porque nunca me encontrei
encontro todos que não eu
encontro nada que nem eu
e eu fui tudo que não fui
pois o ser que sou
de oculto dever ser
esse ser não é eu
mas é o que sou
tudo que me voa sobre mim
é ali onde me estou
e esses versos que te digo
sou eu que te escrevo
mas não sou eu que te digo
25 setembro 2008
Conhecimento Miserável
Barry Commoner, um dos maiores ambientalistas americanos e um dos primeiros a se preocupar com a questão ambiental nos EUA, afirmou: “Em minha opinião, a poluição ambiental reflete a falência da ciência moderna”. Não tenho dúvida quanto a isso. Sempre digo que a humanidade fracassou. Tivemos vitórias? Claro que sim. Beethoven foi uma delas. Goethe foi outra. Einstein, outra. Obviamente, também houve outras vitórias. No entanto, não foram suficientes para “salvar” a humanidade. No geral, caminhamos a passos rápidos e definitivos para a ruína final. É ostensível que o planeta não nos suportará por muito tempo. E poderíamos ter evitado. Se compreendêssemos antes o quanto ignoramos e desprezamos a alma do planeta, a nossa própria alma. Paguemos então o preço de nossos atos. Agora é tarde? Na minha humilde, trágica e radical opinião, sim. Virá outra humanidade depois? O tempo nos dirá.
De que nos serviu todo o conhecimento dito “científico”? Para nos enchermos dos maravilhosos bens que a tecnologia nos proporciona, e que só o dinheiro pode comprar? Existe sabedoria em uma ciência que só pode ser alcançada com o dinheiro? Em uma ciência que com todas suas quinquilharias tecnológicas em breve terá destruído nosso planeta? Sim, porque a ciência é o símbolo maior da humanidade. Se a humanidade se autoconsome, se comete um lento suicídio, é com seu maior instrumento: a ciência. Lógico que a culpa não é da ciência em si, mas do entendimento que os homens tiveram dela, do seu uso, da maneira como a humanidade encarou a ciência, como algo exclusivamente materialista, para domínio e usufruto egóico de suas potencialidades sobre a natureza, sobre o planeta. Não me saem da cabeça aquelas palavras cruéis, desumanas (ou demasiado humanas), perfidamente egoístas e materialistas de Descartes, aquele que foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento “científico”: “o grito dos animais torturados em nome da ciência é como o som das máquinas de uma fábrica em funcionamento.” O que esperar de uma humanidade que pensa tal absurdo de seus irmãos menores? Só uma coisa: a destruição de toda a vida do planeta. E assim está sendo.
Agora a ciência quer provar a origem do universo com a construção do gigantesco acelerador de partículas. Condeno o projeto? Não. Condeno a arrogância da ciência, ao julgar que ela é o único caminho ao saber. Fico com a afirmação de Jung: “A ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que o único gênero de saber é o que está de acordo com ela.” Provavelmente, os senhores cientistas do referido projeto desconhecem que há milênios o Conhecimento Oculto, bem como algumas vetustas e esquecidas filosofias orientais, apregoa que houve um “big-bang” e uma expansão do universo. Einstein, no entanto, sabia disso. Preconiza tal Conhecimento que no início todas as coisas estavam unidas em um único conjunto, sem existirem. Então houve o que hoje chamaríamos de explosão, e que a expansão causada por ela seguirá até seu ponto máximo, quando então deverá regressar, o universo irá se encolher, até um ponto máximo de encolhimento, quando então voltará a “explodir” e se expandir novamente.
É o caráter cíclico de todo o universo, como o dia e a noite, como as estações, como todas as coisas, é o Eterno Retorno. Tudo volta e sempre voltará. Tudo. Isso já era de conhecimento dos antigos sábios. Mas é claro que a ciência jamais levaria um conhecimento não-mental, não-material a sério. Querem provas materiais, como se isso sempre fosse possível. Essa é a miséria da ciência: seu conhecimento alcança até onde alcançam suas máquinas. Até onde alcança o dinheiro. Por isso, é e será sempre pobre, tardio, limitado. Eu também já fui um fanático “científico”, mas percebi a esterilidade e impotência da ciência frente ao que eu mais queria saber.
E o Oculto dizia mais: dizia que durante o Dia Cósmico, ou na expansão do universo, tudo se separaria da energia original, e passaria a existir, inclusive materialmente. Segundo o próprio Einstein, energia não é igual à matéria? E na Noite Cósmica, no encolhimento do universo, tudo deixaria de existir e voltaria a se unir à energia original. Tudo voltaria ao “Seio de Deus”? Seria Deus essa energia original? E se todas as coisas provêm dessa energia, Deus não estaria em todas as coisas existentes? Enfim, seria Deus a união de todas as coisas que existem, muito além do Bem e do Mal? A esse período que abrange um Dia e uma Noite Cósmicos, os Antigos chamavam de Mahavantara, ou o Grande Dia. Quantos dias desses já vieram? E quantos virão?
Mas esse texto certamente será desprezado por muitos. Não é “científico”, não pode ser levado a sério. Porém, se os sabichões, junto com o restante da humanidade, que agora rirão de mim, entendessem o Equilíbrio Universal, não teriam destruído a vida na Terra, criando uma ciência que preconizou que poderíamos consumir infinitamente nosso planeta. Grande sabedoria... Mas é como sentenciou Goethe: “Na verdade, só se sabe aquilo que se sabe apenas para si mesmo.”
De que nos serviu todo o conhecimento dito “científico”? Para nos enchermos dos maravilhosos bens que a tecnologia nos proporciona, e que só o dinheiro pode comprar? Existe sabedoria em uma ciência que só pode ser alcançada com o dinheiro? Em uma ciência que com todas suas quinquilharias tecnológicas em breve terá destruído nosso planeta? Sim, porque a ciência é o símbolo maior da humanidade. Se a humanidade se autoconsome, se comete um lento suicídio, é com seu maior instrumento: a ciência. Lógico que a culpa não é da ciência em si, mas do entendimento que os homens tiveram dela, do seu uso, da maneira como a humanidade encarou a ciência, como algo exclusivamente materialista, para domínio e usufruto egóico de suas potencialidades sobre a natureza, sobre o planeta. Não me saem da cabeça aquelas palavras cruéis, desumanas (ou demasiado humanas), perfidamente egoístas e materialistas de Descartes, aquele que foi um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento “científico”: “o grito dos animais torturados em nome da ciência é como o som das máquinas de uma fábrica em funcionamento.” O que esperar de uma humanidade que pensa tal absurdo de seus irmãos menores? Só uma coisa: a destruição de toda a vida do planeta. E assim está sendo.
Agora a ciência quer provar a origem do universo com a construção do gigantesco acelerador de partículas. Condeno o projeto? Não. Condeno a arrogância da ciência, ao julgar que ela é o único caminho ao saber. Fico com a afirmação de Jung: “A ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que o único gênero de saber é o que está de acordo com ela.” Provavelmente, os senhores cientistas do referido projeto desconhecem que há milênios o Conhecimento Oculto, bem como algumas vetustas e esquecidas filosofias orientais, apregoa que houve um “big-bang” e uma expansão do universo. Einstein, no entanto, sabia disso. Preconiza tal Conhecimento que no início todas as coisas estavam unidas em um único conjunto, sem existirem. Então houve o que hoje chamaríamos de explosão, e que a expansão causada por ela seguirá até seu ponto máximo, quando então deverá regressar, o universo irá se encolher, até um ponto máximo de encolhimento, quando então voltará a “explodir” e se expandir novamente.
É o caráter cíclico de todo o universo, como o dia e a noite, como as estações, como todas as coisas, é o Eterno Retorno. Tudo volta e sempre voltará. Tudo. Isso já era de conhecimento dos antigos sábios. Mas é claro que a ciência jamais levaria um conhecimento não-mental, não-material a sério. Querem provas materiais, como se isso sempre fosse possível. Essa é a miséria da ciência: seu conhecimento alcança até onde alcançam suas máquinas. Até onde alcança o dinheiro. Por isso, é e será sempre pobre, tardio, limitado. Eu também já fui um fanático “científico”, mas percebi a esterilidade e impotência da ciência frente ao que eu mais queria saber.
E o Oculto dizia mais: dizia que durante o Dia Cósmico, ou na expansão do universo, tudo se separaria da energia original, e passaria a existir, inclusive materialmente. Segundo o próprio Einstein, energia não é igual à matéria? E na Noite Cósmica, no encolhimento do universo, tudo deixaria de existir e voltaria a se unir à energia original. Tudo voltaria ao “Seio de Deus”? Seria Deus essa energia original? E se todas as coisas provêm dessa energia, Deus não estaria em todas as coisas existentes? Enfim, seria Deus a união de todas as coisas que existem, muito além do Bem e do Mal? A esse período que abrange um Dia e uma Noite Cósmicos, os Antigos chamavam de Mahavantara, ou o Grande Dia. Quantos dias desses já vieram? E quantos virão?
Mas esse texto certamente será desprezado por muitos. Não é “científico”, não pode ser levado a sério. Porém, se os sabichões, junto com o restante da humanidade, que agora rirão de mim, entendessem o Equilíbrio Universal, não teriam destruído a vida na Terra, criando uma ciência que preconizou que poderíamos consumir infinitamente nosso planeta. Grande sabedoria... Mas é como sentenciou Goethe: “Na verdade, só se sabe aquilo que se sabe apenas para si mesmo.”
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