É... até as estrelas um dia se apagam
e a face da lua é sempre fatal,
há um cisne que canta no bem e no mal
e avisos de anjos há muito me vagam...
De sonhos-fins minhas noites se alagam,
nos vales ao longe um selo e um sinal,
sussurram os ventos sentença mortal
e asas de loucas subindo me tragam...
Algo de estranho pousou sobre mim,
que olhos não vêem mas os olhos me sentem
e voa distante partindo enfim...
Mas... irei buscá-la em meu peito doente
antes que caia o derradeiro fim:
terei ainda alma e será suficiente.
25 fevereiro 2008
17 fevereiro 2008
Eduardo Guimaraens: um Grande Gaúcho Esquecido
Eduardo Guimaraens. Alguém sabe quem foi ele? Que foi um poeta gaúcho nascido em Porto Alegre em 1892? Que escreveu sete livros e que foi considerado na época nosso maior poeta simbolista? E mais, que chegou a ser considerado uns dos maiores do país, comparado a Cruz e Sousa? Quem lembra dele? E dos que lembram, quem já o leu? Triste saber que um poeta de sua magnitude esteja relegado ao esquecimento até mesmo pelos gaúchos. Mas, quais seriam os motivos? A meu ver, faz parte da discriminação sofrida pelo Simbolismo em nossas terras; a verdade é que ainda hoje os brasileiros não lograram compreender os simbolistas.
O Simbolismo é considerado como o responsável pelo nascimento da poesia moderna, ainda mais se levarmos em conta que Baudelaire, um dos maiores autores simbolistas, foi o pioneiro da modernidade, quando uniu à linguagem sublimada do romantismo o grotesco da realidade humana. Devemos ainda considerar que uma das primícias simbolistas, isto é, sugerir e não afirmar, foi e continua sendo de vital relevância para o desenvolvimento da poesia contemporânea. Sobre o movimento simbolista, afirma Afrânio Coutinho: “Sua contribuição à literatura foi imperecível, havendo quem lhe empreste a categoria de movimento mais importante, pelo seu aspecto positivo e pela herança legada, da poesia moderna”. Se existe a poesia moderna, foi porque antes existiu o Simbolismo.
No entanto, no Brasil, o Simbolismo não atingiu o mesmo nível de relevância que adquiriu na Europa, sofrendo uma negligência e subestimação, onde se entende que o nosso movimento simbolista não chegou a ser devidamente compreendido e assimilado pela sociedade, não estabelecendo bases na mesma. Isso fez com que a grande maioria de seus autores não obtivesse o mesmo grau de divulgação e reconhecimento que escritores de outros movimentos e escolas. Tal fato é possível apreender-se da afirmação de Carollo, ao referir-se sobre os obstáculos ao acesso às fontes bibliográficas dos simbolistas: “...estes obstáculos permitem a proposição de novas indagações quando vistos como índices de preconceitos da crítica na interpretação do movimento...” Na mesma obra, adiante, Carollo observa: “Reconhecidas ainda as dificuldades de aceitação e avaliação do Simbolismo por parte da crítica ‘oficial’ contemporânea, orientada por todo um instrumental metodológico de origem cientificista...”
Sem dúvida, Eduardo Guimaraens também foi vítima desse “preconceito” para com o Simbolismo. Felizmente, grandes críticos, como Massaud Moisés, souberam considerá-lo como “autêntico poeta”, e que “alguns de seus poemas serão suficientes para situá-lo sem favor ao lado de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens”. Da mesma forma, julgou Andrade Muricy que “a sua arte afastou-se do cunho clássico português e da ingenuidade da temática e da expressão... foi dos mais civilizados dentre todos eles e um dos mais meditativos e delicados”.
Eduardo Guimaraens foi um conhecedor profundo da literatura universal, tradutor de Baudelaire e Dante Alighieri, não por acaso suas maiores influências, sendo que em sua época sua obra foi amplamente valorizada, (ainda que pouco lida) como observa Zilberman, referindo-se a seu principal livro “A Divina Quimera”: “que o consagrou nacionalmente, obtendo reconhecimento de todos que historiam o Simbolismo brasileiro”. No entanto, o poeta que “foi uma das vozes mais altas e mais puras da lírica brasileira”, segundo o jornal Correio do Povo (14/12/1928), constitui-se também, conforme Mansueto Bernardi, em “o menos estudado”. Corroborando Mansueto, verifica-se hoje um escasso número de referências ao poeta gaúcho, imerso, talvez, no relativo ostracismo em que se encontram grande parte de nossos autores simbolistas.
Não obstante, a poesia de Eduardo Guimaraens nos apresenta um âmbito temático de inúmeros desdobramentos. Sua obra nos revela uma profunda sensibilidade e imaginação, uma sutileza e musicalidade da linguagem, um refinamento de emoções repleto de luzes e sombras. Seus poemas são intensamente humanos e espirituais ao mesmo tempo, situando-se entre a veia lúgubre de Alphonsus de Guimaraens e a ascensão vertiginosa de Cruz e Sousa. Eduardo é mais sereno que ambos, menos sombrio que o primeiro, mais terno que o segundo. Sem dúvida, merece que o conheçamos. Para finalizar, nada melhor que alguns de seus versos:
“Não despertes, porém, ainda que surja o dia!
Dorme perpetuamente o sono teu sem termo,
ó forma de vitral, Musa e Melancolia,
que és a quimera de um espírito enfermo!
Não despertes, porém, ainda que surja o dia!”
O Simbolismo é considerado como o responsável pelo nascimento da poesia moderna, ainda mais se levarmos em conta que Baudelaire, um dos maiores autores simbolistas, foi o pioneiro da modernidade, quando uniu à linguagem sublimada do romantismo o grotesco da realidade humana. Devemos ainda considerar que uma das primícias simbolistas, isto é, sugerir e não afirmar, foi e continua sendo de vital relevância para o desenvolvimento da poesia contemporânea. Sobre o movimento simbolista, afirma Afrânio Coutinho: “Sua contribuição à literatura foi imperecível, havendo quem lhe empreste a categoria de movimento mais importante, pelo seu aspecto positivo e pela herança legada, da poesia moderna”. Se existe a poesia moderna, foi porque antes existiu o Simbolismo.
No entanto, no Brasil, o Simbolismo não atingiu o mesmo nível de relevância que adquiriu na Europa, sofrendo uma negligência e subestimação, onde se entende que o nosso movimento simbolista não chegou a ser devidamente compreendido e assimilado pela sociedade, não estabelecendo bases na mesma. Isso fez com que a grande maioria de seus autores não obtivesse o mesmo grau de divulgação e reconhecimento que escritores de outros movimentos e escolas. Tal fato é possível apreender-se da afirmação de Carollo, ao referir-se sobre os obstáculos ao acesso às fontes bibliográficas dos simbolistas: “...estes obstáculos permitem a proposição de novas indagações quando vistos como índices de preconceitos da crítica na interpretação do movimento...” Na mesma obra, adiante, Carollo observa: “Reconhecidas ainda as dificuldades de aceitação e avaliação do Simbolismo por parte da crítica ‘oficial’ contemporânea, orientada por todo um instrumental metodológico de origem cientificista...”
Sem dúvida, Eduardo Guimaraens também foi vítima desse “preconceito” para com o Simbolismo. Felizmente, grandes críticos, como Massaud Moisés, souberam considerá-lo como “autêntico poeta”, e que “alguns de seus poemas serão suficientes para situá-lo sem favor ao lado de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens”. Da mesma forma, julgou Andrade Muricy que “a sua arte afastou-se do cunho clássico português e da ingenuidade da temática e da expressão... foi dos mais civilizados dentre todos eles e um dos mais meditativos e delicados”.
Eduardo Guimaraens foi um conhecedor profundo da literatura universal, tradutor de Baudelaire e Dante Alighieri, não por acaso suas maiores influências, sendo que em sua época sua obra foi amplamente valorizada, (ainda que pouco lida) como observa Zilberman, referindo-se a seu principal livro “A Divina Quimera”: “que o consagrou nacionalmente, obtendo reconhecimento de todos que historiam o Simbolismo brasileiro”. No entanto, o poeta que “foi uma das vozes mais altas e mais puras da lírica brasileira”, segundo o jornal Correio do Povo (14/12/1928), constitui-se também, conforme Mansueto Bernardi, em “o menos estudado”. Corroborando Mansueto, verifica-se hoje um escasso número de referências ao poeta gaúcho, imerso, talvez, no relativo ostracismo em que se encontram grande parte de nossos autores simbolistas.
Não obstante, a poesia de Eduardo Guimaraens nos apresenta um âmbito temático de inúmeros desdobramentos. Sua obra nos revela uma profunda sensibilidade e imaginação, uma sutileza e musicalidade da linguagem, um refinamento de emoções repleto de luzes e sombras. Seus poemas são intensamente humanos e espirituais ao mesmo tempo, situando-se entre a veia lúgubre de Alphonsus de Guimaraens e a ascensão vertiginosa de Cruz e Sousa. Eduardo é mais sereno que ambos, menos sombrio que o primeiro, mais terno que o segundo. Sem dúvida, merece que o conheçamos. Para finalizar, nada melhor que alguns de seus versos:
“Não despertes, porém, ainda que surja o dia!
Dorme perpetuamente o sono teu sem termo,
ó forma de vitral, Musa e Melancolia,
que és a quimera de um espírito enfermo!
Não despertes, porém, ainda que surja o dia!”
06 fevereiro 2008
É Lógico que a Vida Não Possui Lógica
“...não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser cotidiano, ser nítido,
Ter um lugar na vida...”
Fernando Pessoa
Não, não possui. Talvez possua algum Equilíbrio, um equilíbrio sombrio, oculto, incompreensível, inacessível e absoluta e canhestramente ilógico. Mas um equilíbrio. E sempre acima de nossa mão. Por que deveria ser compreensível? Já alguns dirão que esse equilíbrio não existe. Eu não digo nada. Não gosto de dizer as coisas. Gosta de cantá-las. E de gritá-las. Mas não de dizê-las, dizer é tão fraco.
A Lua estava anômala ontem. Foi necessário que eu saísse às ruas naquele estado de sono que não era o sono. Era um sono em um estado alterado de consciência. Saí caminhando pelo dia não-diurno, sim, porque eu sentia um sono profundo e vertiginoso, algo como um desejo não-terráqueo nem fictício, mas dominado por todas as cores de beijos. Não, não sou sonâmbulo. Naquela praça, vi 4 homens lendo jornais. Jamais conseguiria defini-los, mas os defino: horríveis, todos eles: olhos esbugalhados, descabelados, tossindo, boca escorrendo sangue como um churrasco mal-assado, não falavam uns com os outros, não se movimentavam. Não sei se andei ou flutuei até eles, aliás, eu não sei nada. E pedi um jornal emprestado e li todas as manchetes. Horríveis, todas elas.
Como era mágico e salutar meu sono... Com as manchetes dos jornais fiz um poema, sem modificar uma só palavra. O poema mais trágico da história da humanidade. Sonhei... Não sei com o que sonhei, mas vivi o mais fundo possível o que sonhei. Que mais se pode fazer? E como saí das florestas felinas sem ter uma só palavra a dizer a ninguém, isso é que é de se admirar! E como senti os vapores nunca-vistos de tudo que tu me disseste aquele dia sem que me olhasses uma só vez nos olhos... E como olhei nos teus olhos com cheiros de músicas sem que tu me dissesses um só verbo divino ou caído.
Amanhã vai chover... Assim, percebi que a humanidade não vale a pena... Vale a pena aquele rio que nunca correu, aquela flor que nunca nasceu, aquela árvore que nunca cresceu, aquela música que nunca tocaram, aquele céu que nunca brilhou, aquele beijo que nunca se deram... Por isso voam aves de verde pelas ânsias perfumadas daquele inverno que nunca apagou sua luz. Nem a minha. Porém, o mais absurdo de tudo, algo realmente ilógico e que nunca me foi permitido entender é que a sociedade no fundo odeia os professores. Deve ser por que eles são os únicos capazes de melhorar seus filhos. Se o homem quisesse ser melhorado, eu não estaria aqui dormindo, sonhando e escrevendo.
Quantas estrelas caíram aquele dia do céu... Uma delas abriu ao meio minha cabeça, literalmente, e uns uivos-desejo flutuavam tensos ao longe, e perto de mim. Era uma noite sombria, mas tu não estavas sobre os altares. Como se iluminou todo o luar, como uma treva santa chocou-se contra os versos que uma águia largou do bico sobre a morte... Três mãos alucinadas ergueram-se de dentro de meu peito, e vi uma chuva de olhos com chifres brancos perfurarem todo meu coração, o sangue não-meu que lacrimejava ao espaço doente formou uma nuvem que aceleradamente ascendeu ao sonho onde eu dormia. Não esqueçam que eu estava dormindo, por favor, não percam o fio da meada. Corri. Tu não estavas lá. Tudo não estava lá.
E no Brasil odeia-se ainda mais os professores, e estou certo que isso é uma das principais características de nossa cultura, talvez a principal, aquela que define definitivamente o que é ser brasileiro, odiar um professor, afinal, sem isso o Brasil não seria Brasil. Mas um canto e um grito titânicos ergueram-se majestosos daquele planeta de luz que não vejo. Como soou apaixonado um violino de Brahms aos meus ouvidos, e todas as coisas se angustiavam de forma tão ciclonicamente sublime que um furacão passou pela minha cidade e arrasou com tudo, inclusive comigo. Por isso durmo e elevo meu coração na ponta de uma espada flamígera e atiro-o ao relâmpago que me beija... O fim é como o começo: “Sim, está tudo certo./Está tudo perfeitamente certo./O pior é que está tudo errado.” É do Álvaro de Campos, que nunca existiu e valeu a pena. E eu me acordei.
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser cotidiano, ser nítido,
Ter um lugar na vida...”
Fernando Pessoa
Não, não possui. Talvez possua algum Equilíbrio, um equilíbrio sombrio, oculto, incompreensível, inacessível e absoluta e canhestramente ilógico. Mas um equilíbrio. E sempre acima de nossa mão. Por que deveria ser compreensível? Já alguns dirão que esse equilíbrio não existe. Eu não digo nada. Não gosto de dizer as coisas. Gosta de cantá-las. E de gritá-las. Mas não de dizê-las, dizer é tão fraco.
A Lua estava anômala ontem. Foi necessário que eu saísse às ruas naquele estado de sono que não era o sono. Era um sono em um estado alterado de consciência. Saí caminhando pelo dia não-diurno, sim, porque eu sentia um sono profundo e vertiginoso, algo como um desejo não-terráqueo nem fictício, mas dominado por todas as cores de beijos. Não, não sou sonâmbulo. Naquela praça, vi 4 homens lendo jornais. Jamais conseguiria defini-los, mas os defino: horríveis, todos eles: olhos esbugalhados, descabelados, tossindo, boca escorrendo sangue como um churrasco mal-assado, não falavam uns com os outros, não se movimentavam. Não sei se andei ou flutuei até eles, aliás, eu não sei nada. E pedi um jornal emprestado e li todas as manchetes. Horríveis, todas elas.
Como era mágico e salutar meu sono... Com as manchetes dos jornais fiz um poema, sem modificar uma só palavra. O poema mais trágico da história da humanidade. Sonhei... Não sei com o que sonhei, mas vivi o mais fundo possível o que sonhei. Que mais se pode fazer? E como saí das florestas felinas sem ter uma só palavra a dizer a ninguém, isso é que é de se admirar! E como senti os vapores nunca-vistos de tudo que tu me disseste aquele dia sem que me olhasses uma só vez nos olhos... E como olhei nos teus olhos com cheiros de músicas sem que tu me dissesses um só verbo divino ou caído.
Amanhã vai chover... Assim, percebi que a humanidade não vale a pena... Vale a pena aquele rio que nunca correu, aquela flor que nunca nasceu, aquela árvore que nunca cresceu, aquela música que nunca tocaram, aquele céu que nunca brilhou, aquele beijo que nunca se deram... Por isso voam aves de verde pelas ânsias perfumadas daquele inverno que nunca apagou sua luz. Nem a minha. Porém, o mais absurdo de tudo, algo realmente ilógico e que nunca me foi permitido entender é que a sociedade no fundo odeia os professores. Deve ser por que eles são os únicos capazes de melhorar seus filhos. Se o homem quisesse ser melhorado, eu não estaria aqui dormindo, sonhando e escrevendo.
Quantas estrelas caíram aquele dia do céu... Uma delas abriu ao meio minha cabeça, literalmente, e uns uivos-desejo flutuavam tensos ao longe, e perto de mim. Era uma noite sombria, mas tu não estavas sobre os altares. Como se iluminou todo o luar, como uma treva santa chocou-se contra os versos que uma águia largou do bico sobre a morte... Três mãos alucinadas ergueram-se de dentro de meu peito, e vi uma chuva de olhos com chifres brancos perfurarem todo meu coração, o sangue não-meu que lacrimejava ao espaço doente formou uma nuvem que aceleradamente ascendeu ao sonho onde eu dormia. Não esqueçam que eu estava dormindo, por favor, não percam o fio da meada. Corri. Tu não estavas lá. Tudo não estava lá.
E no Brasil odeia-se ainda mais os professores, e estou certo que isso é uma das principais características de nossa cultura, talvez a principal, aquela que define definitivamente o que é ser brasileiro, odiar um professor, afinal, sem isso o Brasil não seria Brasil. Mas um canto e um grito titânicos ergueram-se majestosos daquele planeta de luz que não vejo. Como soou apaixonado um violino de Brahms aos meus ouvidos, e todas as coisas se angustiavam de forma tão ciclonicamente sublime que um furacão passou pela minha cidade e arrasou com tudo, inclusive comigo. Por isso durmo e elevo meu coração na ponta de uma espada flamígera e atiro-o ao relâmpago que me beija... O fim é como o começo: “Sim, está tudo certo./Está tudo perfeitamente certo./O pior é que está tudo errado.” É do Álvaro de Campos, que nunca existiu e valeu a pena. E eu me acordei.
20 janeiro 2008
Desejo de Sombra
desejo
de tudo que é noite e chora
de lago que é triste e canta
de canto oculto
na solidão da mata
de pesadelo-inferno
de negra serenata
de pio de coruja e medo
de sombra nuvem e inverno
do mais absurdo segredo
de lua em tormenta quente
de sol que se põe na guerra
de conto de Poe estranho
e doente
desejo
do perverso humano sangue
espalhado pela terra
de fêmea morta e langue
de marcha fúnebre
do roxo crepuscular
de loucura no céu
e horror no mar
desejo de sombra
de urubus que pousam na sorte
enfim
desejo de Fim
e de Morte
de tudo que é noite e chora
de lago que é triste e canta
de canto oculto
na solidão da mata
de pesadelo-inferno
de negra serenata
de pio de coruja e medo
de sombra nuvem e inverno
do mais absurdo segredo
de lua em tormenta quente
de sol que se põe na guerra
de conto de Poe estranho
e doente
desejo
do perverso humano sangue
espalhado pela terra
de fêmea morta e langue
de marcha fúnebre
do roxo crepuscular
de loucura no céu
e horror no mar
desejo de sombra
de urubus que pousam na sorte
enfim
desejo de Fim
e de Morte
08 janeiro 2008
Agouro no Céu
dez astros de trevas
dez artes-desgraça
dez feitas-catástrofes
esta arte se mata
dez graças de nada
deserto de tudo
desastro dos séculos
desfeitos em décadas
desartes de morte
dez astros Desastres!
dez artes-desgraça
dez feitas-catástrofes
esta arte se mata
dez graças de nada
deserto de tudo
desastro dos séculos
desfeitos em décadas
desartes de morte
dez astros Desastres!
22 dezembro 2007
Poema Distante
no horizonte longínquo
do infinito
da minha desgraça
um claro sol que me acena
se põe ao longe distante
e a noite completa me existe
onde caio como flecha maldita
e cada vez mais longe distante
tuas asas infindas se perdem de mim
teus olhos divinos encantam luares
teus adejos de anjo elevam no cosmos
teu sopro de vida renasce as estrelas
sempre tão longe de mim...
morcegos ciclonam em minha mente
os corvos serenatam em meu sono
nos meus sonhos...
enforcou-se a paz!
e cai da minha boca a gota de sangue...
se uma asa tocou-me nos lábios
foi a de Satanás...
distantes eu ouço teus cantos
longínquos eu sinto teus olhos
sublimes infindos eternos
sempre tão longe daqui...
mas... algo me voa na alma
sempre tão perto de mim...
lá do infinito de tudo que morre
bateram-me sempre tão perto
as asas da Morte e do Fim...
do infinito
da minha desgraça
um claro sol que me acena
se põe ao longe distante
e a noite completa me existe
onde caio como flecha maldita
e cada vez mais longe distante
tuas asas infindas se perdem de mim
teus olhos divinos encantam luares
teus adejos de anjo elevam no cosmos
teu sopro de vida renasce as estrelas
sempre tão longe de mim...
morcegos ciclonam em minha mente
os corvos serenatam em meu sono
nos meus sonhos...
enforcou-se a paz!
e cai da minha boca a gota de sangue...
se uma asa tocou-me nos lábios
foi a de Satanás...
distantes eu ouço teus cantos
longínquos eu sinto teus olhos
sublimes infindos eternos
sempre tão longe daqui...
mas... algo me voa na alma
sempre tão perto de mim...
lá do infinito de tudo que morre
bateram-me sempre tão perto
as asas da Morte e do Fim...
10 dezembro 2007
Absurdas Reflexões-Pesadelo Sobre um Ano Sentencioso
Sentei-me naquela pedra. Pântanos anômalos me cercavam. E só. Ao longe, uma nuvem sem água se formava. Carregava-se com as armas mais radioativas já criadas pelo saber humano. Há outro saber além do humano? Cada vez mais densa e escura, mas de uma escuridão bendita. Eu me consumia. Absolutamente normal o fato de levantarem-se demônios poeanos ao meu redor, afinal eu estava em meio ao mais vaporoso e mefítico pântano já sugerido pelos simbolistas que Poe prenunciou. Todos eles me dardejavam os olhos. Os demônios, não os simbolistas, ou vice-versa. Eu refletia em todas as coisas passadas. Por isso me consumia. Eu era o responsável por todas elas. Passadas atrás de mim. Era a nuvem à frente que se aproximava...
Nunca fui o que pensei que fosse. Dizia o demônio do mundo nos meus ouvidos cegados. “Cercavam-me planícies sem beleza”(Fagundes Varela). Mas o que mais me chamava a atenção tuberculosa que me expelia catarros com sangue era a nuvem radioativa à frente, belíssimos vapores multicoloridos, incensos intelectuais, jasmins de hidrogênio e plutônio degenerados. Como ela era lenta e imensa para padrões pós-pós-modernistas. Eu sonhava em meio a minha culpa. E uma boca vermelha e sensual, vermelha de cânceres, proferia emocionada a verdade. Ela me beijou na língua e eu me consumia. Chove. Derrete meu pé na branquidez da chuva.
Sentei-me naquela pedra. Cercavam-me demônios sem beleza. O Tempo. Como é belo o olho de Satã. “Tem piedade, Satã, desta longa miséria”(Charles Baudelaire). Dos horizontes pantanosos o horror evaporava para unir-se em núpcias científicas com a nuvem que se agigantava ante meus olhos ensurdecidos. E como desciam sobre meu ser sanguinolento todos aqueles pesares sem-sentido que já não sentem mais nada. Meu coração flutuava corvíneo penetrado por barbeiros da doença de chagas que matou o Cristo. Eu detesto refletir. Nunca leva a lugar nenhum. Por isso que reflito, quero me consumir, ademais, só o Nada me interessa. “Quero me consumir!” O lema mais alto e sublime de toda uma civilização. Humanos, vamos conjugar o verbo consumir, mas reflexivamente: eu me consumo; tu te consomes; ele se consome; nós nos consumimos; vós vos consumis; eles se consomem. Muito bem, crianças! agora arranquem suas gargantas inúteis e joguem também no meio da nuvem. Ali está a Verdade. Sem gargantas! Suas vozes não servem pra nada. Quem vai ouvir? Ou melhor: só servem.
Cada vez mais perto. Eu não tenho medo. Que venha a Nuvem(letra maiúscula de agora em diante, vamos respeitá-la), ela é uma parte de mim. Até já posso ver alguns olhos e bocas na formação nebulosa sobre o pântano. De uma boca cospe-se sêmen sem espermatozóides; de um olho derrama-se um pus de rato infeccionado. “Acostuma-te com a lama que te espera”(Augusto dos Anjos). Por que ter nojo dessas coisas que em breve serão toda a nossa vida. Afinal, estamos cercados de ratos, não é mesmo? Eles que transmitem a peste bubônica. Ou seria bo? O ato mais idiota da vida é refletir. Melhor é não pensar em nada, deixar que a boca sangrenta de aids caia sobre nossos olhos mal-abertos. Tudo por um beijo. E a nuvem é perfeitamente justa.
Lá vem ela pelos ares românticos. Numa esfera de anjos eu vi passar o Amor. Tentei tocá-la, mas uma espada de tigres cortou todos os meus dedos. Lá estão eles sendo bebidos por urubus. Todos meus treze dedos das mãos. Sentei-me no pântano. O demônio sorriu. Eu também. Sou assim mesmo, sem dedos, eu fico sorrindo, como toda a humanidade. A humanidade sorri sem olhos. Mas só sorrio para demônios. Oh, a Nuvem já está sobre mim, nada mais posso ver além da Nuvem de horrores. Está tudo ali. Uma velha sem boca, escarrando, arrancou meus cabelos. Já sem pés, derretidos pela chuva, tive que disputar minhas pernas com os lobos. Eu venci.
E chega o navio sobre o pântano. Está todo mundo nele. Vou-me também. Canto III do Inferno da Divina Comédia de Dante. Essa tuberculose ainda vai me matar. É, sou doente do peito. Sinto perfumes de primavera. Paolo e Francesca de Rímini(Canto V). Eu sabia que isso me mataria. A Nuvem faz parte de mim, eu ajudei a criá-la. Pus alguns remendos de erros. Vem o navio, escuto suas trombetas desesperadas. Agora principiou a chuva da Nuvem de monstros. Eles se alimentam de veias. Tudo é Nuvem. Um relâmpago derrubou o meu dente. E ainda reflito. Passadas ameaçadoras atrás de mim. São minhas. Transformei-me num dragão. Ali está o navio. Não vejo homens, só fantasmas. “O Navio-Fantasma”, de Wagner. Sou um dragão, Siegfried cortará minha cabeça. Tudo por culpa da Nuvem. Mea culpa. Neste ano apontou a Nuvem. Ela é nossa. Viram? “Então os meus versos têm sentido e o universo não há-de ter sentido?”(Fernando Pessoa).
Nunca fui o que pensei que fosse. Dizia o demônio do mundo nos meus ouvidos cegados. “Cercavam-me planícies sem beleza”(Fagundes Varela). Mas o que mais me chamava a atenção tuberculosa que me expelia catarros com sangue era a nuvem radioativa à frente, belíssimos vapores multicoloridos, incensos intelectuais, jasmins de hidrogênio e plutônio degenerados. Como ela era lenta e imensa para padrões pós-pós-modernistas. Eu sonhava em meio a minha culpa. E uma boca vermelha e sensual, vermelha de cânceres, proferia emocionada a verdade. Ela me beijou na língua e eu me consumia. Chove. Derrete meu pé na branquidez da chuva.
Sentei-me naquela pedra. Cercavam-me demônios sem beleza. O Tempo. Como é belo o olho de Satã. “Tem piedade, Satã, desta longa miséria”(Charles Baudelaire). Dos horizontes pantanosos o horror evaporava para unir-se em núpcias científicas com a nuvem que se agigantava ante meus olhos ensurdecidos. E como desciam sobre meu ser sanguinolento todos aqueles pesares sem-sentido que já não sentem mais nada. Meu coração flutuava corvíneo penetrado por barbeiros da doença de chagas que matou o Cristo. Eu detesto refletir. Nunca leva a lugar nenhum. Por isso que reflito, quero me consumir, ademais, só o Nada me interessa. “Quero me consumir!” O lema mais alto e sublime de toda uma civilização. Humanos, vamos conjugar o verbo consumir, mas reflexivamente: eu me consumo; tu te consomes; ele se consome; nós nos consumimos; vós vos consumis; eles se consomem. Muito bem, crianças! agora arranquem suas gargantas inúteis e joguem também no meio da nuvem. Ali está a Verdade. Sem gargantas! Suas vozes não servem pra nada. Quem vai ouvir? Ou melhor: só servem.
Cada vez mais perto. Eu não tenho medo. Que venha a Nuvem(letra maiúscula de agora em diante, vamos respeitá-la), ela é uma parte de mim. Até já posso ver alguns olhos e bocas na formação nebulosa sobre o pântano. De uma boca cospe-se sêmen sem espermatozóides; de um olho derrama-se um pus de rato infeccionado. “Acostuma-te com a lama que te espera”(Augusto dos Anjos). Por que ter nojo dessas coisas que em breve serão toda a nossa vida. Afinal, estamos cercados de ratos, não é mesmo? Eles que transmitem a peste bubônica. Ou seria bo? O ato mais idiota da vida é refletir. Melhor é não pensar em nada, deixar que a boca sangrenta de aids caia sobre nossos olhos mal-abertos. Tudo por um beijo. E a nuvem é perfeitamente justa.
Lá vem ela pelos ares românticos. Numa esfera de anjos eu vi passar o Amor. Tentei tocá-la, mas uma espada de tigres cortou todos os meus dedos. Lá estão eles sendo bebidos por urubus. Todos meus treze dedos das mãos. Sentei-me no pântano. O demônio sorriu. Eu também. Sou assim mesmo, sem dedos, eu fico sorrindo, como toda a humanidade. A humanidade sorri sem olhos. Mas só sorrio para demônios. Oh, a Nuvem já está sobre mim, nada mais posso ver além da Nuvem de horrores. Está tudo ali. Uma velha sem boca, escarrando, arrancou meus cabelos. Já sem pés, derretidos pela chuva, tive que disputar minhas pernas com os lobos. Eu venci.
E chega o navio sobre o pântano. Está todo mundo nele. Vou-me também. Canto III do Inferno da Divina Comédia de Dante. Essa tuberculose ainda vai me matar. É, sou doente do peito. Sinto perfumes de primavera. Paolo e Francesca de Rímini(Canto V). Eu sabia que isso me mataria. A Nuvem faz parte de mim, eu ajudei a criá-la. Pus alguns remendos de erros. Vem o navio, escuto suas trombetas desesperadas. Agora principiou a chuva da Nuvem de monstros. Eles se alimentam de veias. Tudo é Nuvem. Um relâmpago derrubou o meu dente. E ainda reflito. Passadas ameaçadoras atrás de mim. São minhas. Transformei-me num dragão. Ali está o navio. Não vejo homens, só fantasmas. “O Navio-Fantasma”, de Wagner. Sou um dragão, Siegfried cortará minha cabeça. Tudo por culpa da Nuvem. Mea culpa. Neste ano apontou a Nuvem. Ela é nossa. Viram? “Então os meus versos têm sentido e o universo não há-de ter sentido?”(Fernando Pessoa).
22 novembro 2007
Minha Absurda Lira
minha lírica de adeus e crepúsculo
vê sóis naufragando nas torres
das torres partem olhos e pios
de corujas com asas de sangue
que gotejam nas luas de fel
como beijos que sonham e morreram
altas mortes de tudo que foi
tu não vieste nas asas das íris
tu não viste minha alma de fim
gritos da noite caídos de luz
ciclones de anjos rezando desgraças
a roxo navio que afunda no céu
céu de tormenta que canta em tua boca
tudo que vai que se perde se finda
dança um azar no lábio no mundo
fogo em promessas de três Prometeus...
quando tua face olhará no meu sono
e na minha lira de ocaso e adeus?
vê sóis naufragando nas torres
das torres partem olhos e pios
de corujas com asas de sangue
que gotejam nas luas de fel
como beijos que sonham e morreram
altas mortes de tudo que foi
tu não vieste nas asas das íris
tu não viste minha alma de fim
gritos da noite caídos de luz
ciclones de anjos rezando desgraças
a roxo navio que afunda no céu
céu de tormenta que canta em tua boca
tudo que vai que se perde se finda
dança um azar no lábio no mundo
fogo em promessas de três Prometeus...
quando tua face olhará no meu sono
e na minha lira de ocaso e adeus?
12 novembro 2007
A Molécula da Última Lágrima
A menina Aloncier sentara-se em meio a um magnífico e intensamente verde descampado, de um verde estranho e irradiante de estranhas sensações, nas planícies de Samoth, uma das mais belas de seu planeta. Alta, com uma tonalidade de pele moreno-avermelhada, possuía longos cabelos ondulados, também de tons rubros, e olhos de íris tenuemente lilases. Se alguém pudesse contemplar sua face naquele momento, perceberia que a menina, em seu rosto belo mas insólito para nossos padrões, exibia uma fisionomia de alguém que está imerso em profundas meditações...
O ambiente em que Aloncier se encontrava, que transmitia inquietantes impressões de infinitude e de cósmica liberdade, era de uma serenidade absoluta; nenhum tipo de construção artificial ali se apresentava, e contemplava-se os horizontes de um vivo azul-purpúreo, sob um céu tão veementemente azul que parecia quase palpável, tamanha era a sensação de vida que dele emanava. Em tal céu, não se avistava nenhuma espécie de nuvem e, além da luz solar, estranhas e intensamente brilhantes luzes fulguravam por todos os cantos, tanto na atmosfera como próximas ao solo, embaixo de algumas árvores gigantes que por ali havia esparsamente.
E todas as coisas existentes aparentavam não formar sombras, pelo menos não como nós as conhecemos. Nos céus, avistava-se uma esquisita diversidade de seres, aves imensas de gritos ultra-sônicos, seres alados muito semelhantes àqueles descritos em vetustas mitologias esquecidas. Outros seres, com um venerável aspecto humanóide, que nós, pela aparência, até mesmo poderíamos classificar como anjos, planavam com suas imensas asas inauditas, ao lado de algumas coisas etéreo-transparentes, formações espirituais indefiníveis, que flutuavam de maneira enigmática pelos ares, dirigindo olhares elétricos para algum ponto não perceptível acima deles.
Toda essa profusão de coisas insólitas e misteriosas causava a sensação de uma harmonia e de um equilíbrio naturais comoventes. E a menina Aloncier ali permanecia em plena tranqüilidade, entre aquelas estranhezas absolutamente normais em seu planeta, ouvindo a música das esferas e o intrigante canto dos pássaros que lá viviam. Era inacreditável a melodia do gorjeio daquelas aves de múltiplas cores cintilantes, verdadeiramente puras e emocionais, lembrando de um modo assombroso músicas de Bach e Mozart. Igualmente assombrosa era a invulgaridade de alguns animais que por ali passavam, aparentemente mamíferos, e que... dialogavam... com Aloncier, em uma linguagem inteiramente desconhecida para qualquer um de nós.
Aliás, é notório que se diga que a menina de olhos lilases não somente dialogava com aqueles insondáveis mamíferos, como também com outros animais e seres visíveis e invisíveis, até mesmo com as plantas que a cercavam, com algumas árvores distantes e com arbustos mais próximos, em uma misteriosa linguagem que deixava a impressão de ser ultra-universal, falada por todos os seres das mais diversas e inauditas espécies. Tais diálogos aparentavam tornar-se possíveis graças às meditações efetuadas por Aloncier.
A menina encontrava-se em um estado de exultante expectativa, pois no dia seguinte completaria 14 anos e, finalmente, seria a ela revelado, por seus pais, o segredo da origem de seu povo. Este, que era formado, em todo o planeta, por alguns milhares de habitantes (essa era toda a população planetária), vivia em perfeita integração e harmonia com a natureza, poder-se-ia dizer até mesmo que faziam mais que isso, que o povo era a própria natureza, assim como o são as plantas e os animais. Aloncier, no entanto, desejava conhecer a origem de sua espécie, de onde e como teriam vindo, o que havia ocorrido em seu planeta antes de seu nascimento, antes do surgimento da sua luminosa humanidade. Como seria seu planeta há milhões de anos atrás? Que seres teriam anteriormente existido? Isso tudo seria revelado integralmente no dia seguinte, e Aloncier aguardava em júbilo o decisivo instante....
E refletindo em todas essas coisas e contemplando em êxtase o fulgurante horizonte, Aloncier chorou, e suas lágrimas caíram na grama, e da grama passaram ao solo... E uma de suas lágrimas, a última que havia chorado, lágrimas que eram formadas por uma substância bem mais penetrante que as que conhecemos, foi muito longe terra adentro. Até que uma das moléculas dessa lágrima, penetrando incrivelmente no chão absorvente daquele planeta, entrou em contato com uma outra molécula que ali jazia há muitos milênios. A molécula da lagrima de Aloncier tocara uma outra molécula, que fora, em um tempo muito remoto, de uma estátua, qual seja, a estátua do “Laçador” da cidade de Porto Alegre.
O ambiente em que Aloncier se encontrava, que transmitia inquietantes impressões de infinitude e de cósmica liberdade, era de uma serenidade absoluta; nenhum tipo de construção artificial ali se apresentava, e contemplava-se os horizontes de um vivo azul-purpúreo, sob um céu tão veementemente azul que parecia quase palpável, tamanha era a sensação de vida que dele emanava. Em tal céu, não se avistava nenhuma espécie de nuvem e, além da luz solar, estranhas e intensamente brilhantes luzes fulguravam por todos os cantos, tanto na atmosfera como próximas ao solo, embaixo de algumas árvores gigantes que por ali havia esparsamente.
E todas as coisas existentes aparentavam não formar sombras, pelo menos não como nós as conhecemos. Nos céus, avistava-se uma esquisita diversidade de seres, aves imensas de gritos ultra-sônicos, seres alados muito semelhantes àqueles descritos em vetustas mitologias esquecidas. Outros seres, com um venerável aspecto humanóide, que nós, pela aparência, até mesmo poderíamos classificar como anjos, planavam com suas imensas asas inauditas, ao lado de algumas coisas etéreo-transparentes, formações espirituais indefiníveis, que flutuavam de maneira enigmática pelos ares, dirigindo olhares elétricos para algum ponto não perceptível acima deles.
Toda essa profusão de coisas insólitas e misteriosas causava a sensação de uma harmonia e de um equilíbrio naturais comoventes. E a menina Aloncier ali permanecia em plena tranqüilidade, entre aquelas estranhezas absolutamente normais em seu planeta, ouvindo a música das esferas e o intrigante canto dos pássaros que lá viviam. Era inacreditável a melodia do gorjeio daquelas aves de múltiplas cores cintilantes, verdadeiramente puras e emocionais, lembrando de um modo assombroso músicas de Bach e Mozart. Igualmente assombrosa era a invulgaridade de alguns animais que por ali passavam, aparentemente mamíferos, e que... dialogavam... com Aloncier, em uma linguagem inteiramente desconhecida para qualquer um de nós.
Aliás, é notório que se diga que a menina de olhos lilases não somente dialogava com aqueles insondáveis mamíferos, como também com outros animais e seres visíveis e invisíveis, até mesmo com as plantas que a cercavam, com algumas árvores distantes e com arbustos mais próximos, em uma misteriosa linguagem que deixava a impressão de ser ultra-universal, falada por todos os seres das mais diversas e inauditas espécies. Tais diálogos aparentavam tornar-se possíveis graças às meditações efetuadas por Aloncier.
A menina encontrava-se em um estado de exultante expectativa, pois no dia seguinte completaria 14 anos e, finalmente, seria a ela revelado, por seus pais, o segredo da origem de seu povo. Este, que era formado, em todo o planeta, por alguns milhares de habitantes (essa era toda a população planetária), vivia em perfeita integração e harmonia com a natureza, poder-se-ia dizer até mesmo que faziam mais que isso, que o povo era a própria natureza, assim como o são as plantas e os animais. Aloncier, no entanto, desejava conhecer a origem de sua espécie, de onde e como teriam vindo, o que havia ocorrido em seu planeta antes de seu nascimento, antes do surgimento da sua luminosa humanidade. Como seria seu planeta há milhões de anos atrás? Que seres teriam anteriormente existido? Isso tudo seria revelado integralmente no dia seguinte, e Aloncier aguardava em júbilo o decisivo instante....
E refletindo em todas essas coisas e contemplando em êxtase o fulgurante horizonte, Aloncier chorou, e suas lágrimas caíram na grama, e da grama passaram ao solo... E uma de suas lágrimas, a última que havia chorado, lágrimas que eram formadas por uma substância bem mais penetrante que as que conhecemos, foi muito longe terra adentro. Até que uma das moléculas dessa lágrima, penetrando incrivelmente no chão absorvente daquele planeta, entrou em contato com uma outra molécula que ali jazia há muitos milênios. A molécula da lagrima de Aloncier tocara uma outra molécula, que fora, em um tempo muito remoto, de uma estátua, qual seja, a estátua do “Laçador” da cidade de Porto Alegre.
04 novembro 2007
Ao Alto
dá-me tua alma
e tua bela mão etérea
vamos às alturas aéreas
pairar sobre as auras claras
do teu sono em sombra e sonho
sair à noite como aves
aves alvas sobre os mares
com tuas fadas em alta lua
a valsar por sobre as árvores
como silfos aos luares
mais ao alto com o vento
vento astral de branca estrela
a banhar tua face pálida
em teus lábios voam arcanjos
celestiais na luz dos raios
vamos!
aos largos astros do universo
com as asas
com as asas destes versos
e tua bela mão etérea
vamos às alturas aéreas
pairar sobre as auras claras
do teu sono em sombra e sonho
sair à noite como aves
aves alvas sobre os mares
com tuas fadas em alta lua
a valsar por sobre as árvores
como silfos aos luares
mais ao alto com o vento
vento astral de branca estrela
a banhar tua face pálida
em teus lábios voam arcanjos
celestiais na luz dos raios
vamos!
aos largos astros do universo
com as asas
com as asas destes versos
29 outubro 2007
24 outubro 2007
Soneto de Um Maldito
Ninguém vê a lava que me mata o sangue,
ninguém vê as asas que me encobre um corvo,
nem no lábio o beijo de um anjo torvo,
nem a cruz de erros de meu corpo langue...
Minha fada morre em um lago exangue,
minha estrela urra por um céu que é torto,
nos pulsos sinto um sonho grande e morto,
como querer que meu sangrar se estanque?
Sinto a tristeza de tudo que vejo,
trago em meus ombros um grave prejuízo,
das trevas do céu me caem os desejos...
Meus olhos te deixam escuros avisos,
horrores sussurram em todos meus beijos,
e chora um inferno em cada sorriso.
ninguém vê as asas que me encobre um corvo,
nem no lábio o beijo de um anjo torvo,
nem a cruz de erros de meu corpo langue...
Minha fada morre em um lago exangue,
minha estrela urra por um céu que é torto,
nos pulsos sinto um sonho grande e morto,
como querer que meu sangrar se estanque?
Sinto a tristeza de tudo que vejo,
trago em meus ombros um grave prejuízo,
das trevas do céu me caem os desejos...
Meus olhos te deixam escuros avisos,
horrores sussurram em todos meus beijos,
e chora um inferno em cada sorriso.
04 outubro 2007
A Noite Sobre as Casas
Eu retornava tranqüilo para minha casa sob aquela esplêndida noite de inverno, contemplando em elevada inspiração o esplendor constelado da abóboda celeste possuída pelas trevas santas do infinito. Como era bela, sugestiva e inquietante a visão microcósmica da infinitude do universo proporcionada pela soturna serenidade da madrugada. Que espetáculo aos espíritos sensíveis e mergulhados no mistério inefável do cosmos, com a insatisfação típica daqueles seres fartos da vida vulgar do cotidiano.
Tal era meu estado emocional, quando cheguei à frente de minha casa e avistei, sentado sobre a calçada da rua, Gustav, o meu gato de estimação. Percebi que o negro felino fitava com seus imensos olhos amarelo-esverdeados, com negras pupilas dilatadas, o espaço vazio acima dele. Aproximei-me, agachei-me ao lado do animal e tentei identificar o que é que ele olhava tão fixamente. Confesso que por mais que insistisse, não consegui perceber absolutamente nada. Não obstante, Gustav permanecia olhando acima, como que para o céu, aparentemente direcionando sua visão para algum ponto sobre a residência de um de meus vizinhos. Em seguida, passou a girar seu pescoço rapidamente de um lado para outro, dando a entender que acompanhava algum movimento oculto e frenético. Seria algum inseto, algum morcego, alguma ave noturna que meus olhos humanos não conseguiam discernir por entre a escuridão?
Fixei intensamente minha visão, tentando obter o máximo de concordância com a direção do olhar do gato, mas prosseguia sem perceber nenhum tipo de movimentação na densa atmosfera da noite. Talvez o leitor considere muito esquisita essa minha insistência em desejar saber o que o gato olhava, porém, se soubesse e entendesse o meu estranho caráter, bem como meu estado de espírito naquele instante, a minha doentia fascinação por tudo o que é misterioso e desconhecido, mudaria rapidamente de opinião.
Estava, portanto, decidido a perceber, a ver a mesma coisa que Gustav. Este, de repente, levantou-se e disparou para o fundo do pátio de minha casa. Fui atrás do bichano. Lá, ele novamente sentou-se e manteve sua fixação em algum ponto sobre o telhado dos vizinhos do lado esquerdo. Sentei-me ao seu lado e também direcionei meu olhar ao aparente vazio em questão. No princípio, nada divisei, porém, conforme os minutos passavam, fui entrando lentamente em uma espécie de letargia, mantendo, no entanto, minha consciência direcionada ao espaço noturno sobre a casa dos vizinhos. Minha concentração intensificava-se mais e mais, a um nível aterrador eu diria, a um nível de suprema perturbação psíquica... Iniciei a ser invadido por uma sensação de aflita expectativa, por um inexplicável medo do desconhecido, todavia, era uma sensação deleitosa ao mesmo tempo, ou seja, sentir medo causava um imenso prazer em minhas emoções anormais.
Enquanto permanecia naquele estranho estado, acompanhado por meu amigo gato, em uma terrível concentração, percebi que as trevas noturnas sobre a casa dos vizinhos começavam a apresentar certas luminosidades como raios que tenuemente desciam e subiam aos céus. Aos poucos, aumentou o diâmetro daqueles raios, formando então algo como colunas de uma luz esbranquiçada e cintilante que se intensificava cada vez mais. Acredito que estava visualizando um intercâmbio de determinado tipo de energia espiritual entre a casa, ou entre os moradores dela, e certa região ou dimensão ignota do cosmos. Em seguida, ao lado das fosforescentes colunas de luz, vislumbrei o canhestro surgimento de vórtices igualmente luminosos, redemoinhos energéticos que cresciam em vários pontos da escuridão da noite sobre aquela residência, até atingir a circunferência aproximada de uma bola de futebol. Logo, naqueles vórtices, identifiquei uma espécie de claridade diversa, de pequenas descargas elétricas que os atravessavam incessantemente, como algum campo energético.
Para meu maior assombro, verifiquei que as colunas luminosas e os vórtices elétricos também principiaram a surgir na noite sobre outras casas das imediações, inclusive na minha. Em menos de uma hora, creio, em uma noção puramente psicológica, eu contemplava extático uma constelação, não de estrelas, mas de enigmáticos redemoinhos de uma eletricidade perturbadora e de um sem-número de colunas etéreas que subiam e desciam em uma estarrecedora e incompreensível comunicação cósmica.
Entretanto, poderia ainda dizer que sentia real prazer em contemplar aquela mirífica visão, o que iniciou a deixar de ocorrer, quando vi alguma coisa, ou algumas coisas, saírem de dentro das casas, pelo telhado. Eram almas, creio eu, as almas dos meus vizinhos adormecidos. Vi seus espectros, idênticos aos físicos, flutuarem na noite, ligados, acredito, pelo famoso Cordão de Prata, que se alongava em infinita elasticidade etérea, pois vi uma fantástica linha branca e brilhante conectada aos espíritos de meus vizinhos.
Logo, após saírem das residências, algumas almas desapareceram nas colunas de luz, e outras penetraram em alguns daqueles vórtices assombrosos, igualmente desaparecendo. Outras almas ainda, a maioria delas aliás, desciam no escuro da noite. Olhando com mais atenção, identifiquei abaixo, próximo ao solo, uma outra categoria de redemoinhos elétricos, com descargas de uma eletricidade de um rubro-amarelo mórbido, lugubremente doentia. Nesses sinistros vórtices penetrou a maioria dos espíritos que eu havia avistado. Aflito pela maligna sensação que aqueles vórtices de luz sangüínea tinham-me suscitado, refletia no destino que aquelas almas poderiam ter tomado.
Meu singular assombro tornava-se mais denso a cada minuto que transcorria, e creio ter chegado ao ápice quando vi aquele ser negro sair de dentro de um dos vórtices bem acima da casa de meus vizinhos do lado esquerdo. Não era, no entanto, um dos vórtices sanguinolentos, mas um dos luminosos de correntes elétricas fosforescentes. O ser que dele surgiu assemelhava-se a um anjo, a um anjo sombrio porém, possuindo imensas asas negras e ameaçadoras. Seu rosto, de traços belos e graves, esbranquiçado e com grandes olhos negros, tinha algo de feminino e de melancólico, transmitindo uma profunda e triste serenidade, uma impassibilidade inalterável que assustava e suscitava um profundo respeito. Havia algo de implacável, de inexorável naqueles fundos e gélidos olhos... O ser pairou pela noite adejando suas longas e arrepiantes asas. Trazia em sua mão direita um instrumento que não pude identificar. Em seguida, atravessando etereamente o telhado da casa dos vizinhos, desapareceu, entrando em alguma peça da residência.
Instantes depois, o sombrio ser reapareceu nos ares noturnos, agora acompanhado por alguma alma. Percebi que esta era a senhora Valquíria, mãe de meu vizinho, uma senhora já idosa e que há vários meses sofria de uma incurável enfermidade. Fixando ainda mais minha atenção, verifiquei que a senhora não apresentava o Cordão de Prata como os outros espíritos que vira. Concluí, portanto, que estava morta. Então pude identificar o objeto que o anjo negro portava: era uma foice. Aquele ser sombrio era a Morte. Ambos entraram em um dos vórtices fosforescentes e desapareceram de minha visão.
Depois disso, um verdadeiro medo apossou-se de meu coração. Por instantes, ainda mais uma vez, refleti sobre qual seria o destino de todas aquelas almas que penetravam ou nos vórtices luminosos ou nos redemoinhos sanguinolentos, ou ainda nas colunas de luz que ascendiam e desciam irrefreavelmente entre o céu e a terra.
Foi nesse momento que pressenti algo de estranho, ainda mais estranho, ao meu redor... algo como uma presença muito próxima... Mas uma presença profundamente consoladora e reconfortante, irradiante de um sentimento... maternal! O medo que de mim se apossara foi gradativamente se dispersando, mas não ousava olhar para o lado, estando certo que ao fazê-lo enxergaria algo absolutamente insólito... Foi então que uma terna e delicada voz celestial soou suave em meus ouvidos, dizendo:
- Por que, meu filho, tens medo de olhar para tua Mãe, não tua mãe física, mas a Mãe da tua Alma, que está e estará eternamente contigo? Tenho infinidades de maravilhas para dizer-te e mostrar-te, mas, por enquanto, deixo somente esta verdade, que sei que saberás compreender além da mente: não esqueces que um dia deverás morrer.
Nisso, a voz calou-se, e senti que a feminina e carinhosa presença desapareceu, não sem antes deixar-me em um profundo estado de paz e serenidade que jamais olvidei... E assim, abandonei o estado letárgico, voltando à vigília convencional. Não mais divisava nem vórtices nem colunas luminosas. Gustav já não estava o meu lado. Fui, então, deitar-me. Adormeci refletindo e sonhando com aquele ser maternal e com as coisas que ela teria a mostrar-me... compreendendo sua mensagem... deveria ir até Ela... E quantos segredos e mistérios, naquele preciso instante, pululavam na noite sobre as casas de todo o planeta...
Tal era meu estado emocional, quando cheguei à frente de minha casa e avistei, sentado sobre a calçada da rua, Gustav, o meu gato de estimação. Percebi que o negro felino fitava com seus imensos olhos amarelo-esverdeados, com negras pupilas dilatadas, o espaço vazio acima dele. Aproximei-me, agachei-me ao lado do animal e tentei identificar o que é que ele olhava tão fixamente. Confesso que por mais que insistisse, não consegui perceber absolutamente nada. Não obstante, Gustav permanecia olhando acima, como que para o céu, aparentemente direcionando sua visão para algum ponto sobre a residência de um de meus vizinhos. Em seguida, passou a girar seu pescoço rapidamente de um lado para outro, dando a entender que acompanhava algum movimento oculto e frenético. Seria algum inseto, algum morcego, alguma ave noturna que meus olhos humanos não conseguiam discernir por entre a escuridão?
Fixei intensamente minha visão, tentando obter o máximo de concordância com a direção do olhar do gato, mas prosseguia sem perceber nenhum tipo de movimentação na densa atmosfera da noite. Talvez o leitor considere muito esquisita essa minha insistência em desejar saber o que o gato olhava, porém, se soubesse e entendesse o meu estranho caráter, bem como meu estado de espírito naquele instante, a minha doentia fascinação por tudo o que é misterioso e desconhecido, mudaria rapidamente de opinião.
Estava, portanto, decidido a perceber, a ver a mesma coisa que Gustav. Este, de repente, levantou-se e disparou para o fundo do pátio de minha casa. Fui atrás do bichano. Lá, ele novamente sentou-se e manteve sua fixação em algum ponto sobre o telhado dos vizinhos do lado esquerdo. Sentei-me ao seu lado e também direcionei meu olhar ao aparente vazio em questão. No princípio, nada divisei, porém, conforme os minutos passavam, fui entrando lentamente em uma espécie de letargia, mantendo, no entanto, minha consciência direcionada ao espaço noturno sobre a casa dos vizinhos. Minha concentração intensificava-se mais e mais, a um nível aterrador eu diria, a um nível de suprema perturbação psíquica... Iniciei a ser invadido por uma sensação de aflita expectativa, por um inexplicável medo do desconhecido, todavia, era uma sensação deleitosa ao mesmo tempo, ou seja, sentir medo causava um imenso prazer em minhas emoções anormais.
Enquanto permanecia naquele estranho estado, acompanhado por meu amigo gato, em uma terrível concentração, percebi que as trevas noturnas sobre a casa dos vizinhos começavam a apresentar certas luminosidades como raios que tenuemente desciam e subiam aos céus. Aos poucos, aumentou o diâmetro daqueles raios, formando então algo como colunas de uma luz esbranquiçada e cintilante que se intensificava cada vez mais. Acredito que estava visualizando um intercâmbio de determinado tipo de energia espiritual entre a casa, ou entre os moradores dela, e certa região ou dimensão ignota do cosmos. Em seguida, ao lado das fosforescentes colunas de luz, vislumbrei o canhestro surgimento de vórtices igualmente luminosos, redemoinhos energéticos que cresciam em vários pontos da escuridão da noite sobre aquela residência, até atingir a circunferência aproximada de uma bola de futebol. Logo, naqueles vórtices, identifiquei uma espécie de claridade diversa, de pequenas descargas elétricas que os atravessavam incessantemente, como algum campo energético.
Para meu maior assombro, verifiquei que as colunas luminosas e os vórtices elétricos também principiaram a surgir na noite sobre outras casas das imediações, inclusive na minha. Em menos de uma hora, creio, em uma noção puramente psicológica, eu contemplava extático uma constelação, não de estrelas, mas de enigmáticos redemoinhos de uma eletricidade perturbadora e de um sem-número de colunas etéreas que subiam e desciam em uma estarrecedora e incompreensível comunicação cósmica.
Entretanto, poderia ainda dizer que sentia real prazer em contemplar aquela mirífica visão, o que iniciou a deixar de ocorrer, quando vi alguma coisa, ou algumas coisas, saírem de dentro das casas, pelo telhado. Eram almas, creio eu, as almas dos meus vizinhos adormecidos. Vi seus espectros, idênticos aos físicos, flutuarem na noite, ligados, acredito, pelo famoso Cordão de Prata, que se alongava em infinita elasticidade etérea, pois vi uma fantástica linha branca e brilhante conectada aos espíritos de meus vizinhos.
Logo, após saírem das residências, algumas almas desapareceram nas colunas de luz, e outras penetraram em alguns daqueles vórtices assombrosos, igualmente desaparecendo. Outras almas ainda, a maioria delas aliás, desciam no escuro da noite. Olhando com mais atenção, identifiquei abaixo, próximo ao solo, uma outra categoria de redemoinhos elétricos, com descargas de uma eletricidade de um rubro-amarelo mórbido, lugubremente doentia. Nesses sinistros vórtices penetrou a maioria dos espíritos que eu havia avistado. Aflito pela maligna sensação que aqueles vórtices de luz sangüínea tinham-me suscitado, refletia no destino que aquelas almas poderiam ter tomado.
Meu singular assombro tornava-se mais denso a cada minuto que transcorria, e creio ter chegado ao ápice quando vi aquele ser negro sair de dentro de um dos vórtices bem acima da casa de meus vizinhos do lado esquerdo. Não era, no entanto, um dos vórtices sanguinolentos, mas um dos luminosos de correntes elétricas fosforescentes. O ser que dele surgiu assemelhava-se a um anjo, a um anjo sombrio porém, possuindo imensas asas negras e ameaçadoras. Seu rosto, de traços belos e graves, esbranquiçado e com grandes olhos negros, tinha algo de feminino e de melancólico, transmitindo uma profunda e triste serenidade, uma impassibilidade inalterável que assustava e suscitava um profundo respeito. Havia algo de implacável, de inexorável naqueles fundos e gélidos olhos... O ser pairou pela noite adejando suas longas e arrepiantes asas. Trazia em sua mão direita um instrumento que não pude identificar. Em seguida, atravessando etereamente o telhado da casa dos vizinhos, desapareceu, entrando em alguma peça da residência.
Instantes depois, o sombrio ser reapareceu nos ares noturnos, agora acompanhado por alguma alma. Percebi que esta era a senhora Valquíria, mãe de meu vizinho, uma senhora já idosa e que há vários meses sofria de uma incurável enfermidade. Fixando ainda mais minha atenção, verifiquei que a senhora não apresentava o Cordão de Prata como os outros espíritos que vira. Concluí, portanto, que estava morta. Então pude identificar o objeto que o anjo negro portava: era uma foice. Aquele ser sombrio era a Morte. Ambos entraram em um dos vórtices fosforescentes e desapareceram de minha visão.
Depois disso, um verdadeiro medo apossou-se de meu coração. Por instantes, ainda mais uma vez, refleti sobre qual seria o destino de todas aquelas almas que penetravam ou nos vórtices luminosos ou nos redemoinhos sanguinolentos, ou ainda nas colunas de luz que ascendiam e desciam irrefreavelmente entre o céu e a terra.
Foi nesse momento que pressenti algo de estranho, ainda mais estranho, ao meu redor... algo como uma presença muito próxima... Mas uma presença profundamente consoladora e reconfortante, irradiante de um sentimento... maternal! O medo que de mim se apossara foi gradativamente se dispersando, mas não ousava olhar para o lado, estando certo que ao fazê-lo enxergaria algo absolutamente insólito... Foi então que uma terna e delicada voz celestial soou suave em meus ouvidos, dizendo:
- Por que, meu filho, tens medo de olhar para tua Mãe, não tua mãe física, mas a Mãe da tua Alma, que está e estará eternamente contigo? Tenho infinidades de maravilhas para dizer-te e mostrar-te, mas, por enquanto, deixo somente esta verdade, que sei que saberás compreender além da mente: não esqueces que um dia deverás morrer.
Nisso, a voz calou-se, e senti que a feminina e carinhosa presença desapareceu, não sem antes deixar-me em um profundo estado de paz e serenidade que jamais olvidei... E assim, abandonei o estado letárgico, voltando à vigília convencional. Não mais divisava nem vórtices nem colunas luminosas. Gustav já não estava o meu lado. Fui, então, deitar-me. Adormeci refletindo e sonhando com aquele ser maternal e com as coisas que ela teria a mostrar-me... compreendendo sua mensagem... deveria ir até Ela... E quantos segredos e mistérios, naquele preciso instante, pululavam na noite sobre as casas de todo o planeta...
17 setembro 2007
Chegará o Dia
sentirei a luz da morte
a tensão das asas do sonho
a aurora sob relâmpagos
o ocaso de meu sol medonho
todo o terrível prestes a vir
a beijar a voar a dormir
estrelas do longe em vapores-saudade
sussurros de passos nos sinos noturnos
anjos em sombras da mata
lua aos cabelos na água
noite profunda em teu pranto
vôo-desejo! amor e espanto!
veneno de flores bebendo nos ares
catástrofe e febre em alma-magia...
enfim
antes do fim
dos dias que desfolho
chegará o dia
em que sentirei tudo
o que há nos teus olhos
a tensão das asas do sonho
a aurora sob relâmpagos
o ocaso de meu sol medonho
todo o terrível prestes a vir
a beijar a voar a dormir
estrelas do longe em vapores-saudade
sussurros de passos nos sinos noturnos
anjos em sombras da mata
lua aos cabelos na água
noite profunda em teu pranto
vôo-desejo! amor e espanto!
veneno de flores bebendo nos ares
catástrofe e febre em alma-magia...
enfim
antes do fim
dos dias que desfolho
chegará o dia
em que sentirei tudo
o que há nos teus olhos
Poema Agradável para Vencer Concursos
Eu sou feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá positivo)
Tu és feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá certinho)
Ele é feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
blá blá blá saudável)
Então
vamos unir nossos blablablás
e fazer o mundo inteiro FELIZ!!!
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá positivo)
Tu és feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá certinho)
Ele é feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
blá blá blá saudável)
Então
vamos unir nossos blablablás
e fazer o mundo inteiro FELIZ!!!
30 agosto 2007
A Misteriosa Aproximação
"Furioso delírio se apossava de todos os humanos, e, com os braços rigidamente estendidos para os céus ameaçadores, todos tremiam e bradavam desesperadamente... E assim tudo se acabou."
Edgar Allan Poe
O maior erro da humanidade é o esquecimento. Esquecemos o que há de mais vital, tudo se perde nos vendavais do tempo. Como escreveu certo sábio, “Não aprendemos as lições da vida nem a canhonaços”. E se esquecemos os “canhonaços”, como lembrar de discretos sinais que parecem nos dizer tão pouco, leves insinuações do desconhecido? No entanto, tais sinais, que falando pouco dizem muito, estão constantemente presentes em nossas vidas, e, muitas vezes, nem os percebemos. E quando o fizemos, logo são completamente deixados de lado, como se por serem tão “pequenos” e passageiros não merecessem maior atenção. Assim é o ser humano, sempre desprezando o que é sutil... Mas... a que preço?
Se dispensássemos a devida atenção aos sinais, compreenderíamos, por exemplo, o porquê de na mitologia nórdica o deus supremo Wotan ter necessitado morrer enforcado em uma árvore sagrada para adquirir conhecimento, e, no cristianismo, Cristo ter necessitado morrer crucificado para finalizar sua doutrina. É claro que tais sinais são profundamente simbólicos. E com a misteriosa Aproximação não foi diferente; também se manifestou a princípio com sutis sinais bem pouco reconhecíveis, sinais enigmaticamente simbólicos.
No princípio surgiu uma estrela. Uma estrela nos céus do hemisfério sul que brilhava um pouco mais que o convencional, qualquer indivíduo que olhasse para os céus no começo da noite já perceberia o intenso e intrigante cintilar daquele incomum eastro. Porém, naturalmente, ninguém deu atenção ao fato, e tudo foi considerado como absolutamente normal. É claro que este não foi o sinal único que funestamente prenunciara a devastadora Aproximação, muitos outros ocorreram, todos igualmente imperceptíveis para a quase totalidade da humanidade, mas creio ser desnecessário mencioná-los agora.
O certo é que conforme a Aproximação se concretizava, lentamente, imensas tragédias, catástrofes, desastres, fossem eles naturais ou provocados pelo homem, foram se desencadeando, em um ritmo mais e mais acelerado. Até que em certo dia extremamente aziago para a raça humana, Ele foi visto pela primeira vez, ao longe, como um outro sol que surgia no horizonte carregado de maus-presságios. E então, todos os engodos das autoridades e dos senhores responsáveis por nossa mal fadada ciência caíram por terra. Restou tão-somente a trágica realidade dos fatos, e a Aproximação daquilo que brilhava sinistramente diante dos olhos estupefatos da humanidade doente.
A partir desse instante, o medo, o pânico, o desespero absoluto dominaram os seres humanos, compreendendo-se definitivamente que a situação era muito mais grave do que se poderia imaginar. Pior do que isso, era catastroficamente inexplicável.
À medida que a misteriosa Aproximação tornava-se mais e mais visível, gigante, ameaçadora, em todos os cantos da Terra procurava-se encontrar respostas e possíveis soluções para o que estava ocorrendo, porém, não se dava um passo a frente, talvez, só para trás. Pensou-se, por exemplo, em utilizar-se poderosíssimos artefatos nucleares para evitar-se a tragédia maior, o que se revelou um imensurável desastre. Enfim, só o que se pode afirmar é que todos os intentos e planos e invectivas do homem para se evitar o inevitável resultaram em trovejantes fracassos.
Os anos foram passando de forma arrastada e lúgubre, enquanto a humanidade afundava-se em um estado caótico de verdadeiro horror. Gradativamente, os homens foram sucumbindo em meio à mais atroz loucura coletiva já presenciada, em um desespero de se arrancar os cabelos. Descrever aqui todo o horror vivenciado naqueles dias seria algo impossível... e absurdamente cruel.
Só o que posso dizer é que a intensificação de todas as espécies de catástrofes, as mais inimagináveis, as mais absurdas, as mais devastadoras desencadearam-se na exata proporção matemática da sinistra Aproximação. Na dantesca ignorância sobre o que estava ocorrendo, compreenderam então os homens que todas as suas certezas sobre suas próprias existências não tinham mais o menor sentido, tudo se desmoronou de uma hora para outra. E a humanidade engolia em seco sua ilusória segurança da estéril racionalidade.
E o terror cósmico da Aproximação concretizou-se de forma canhestramente fantástica. O pavor reinava absoluto para onde quer que se olhasse, já que nosso céu já não era nosso céu, era outro, um monstro tenebroso. Ali estava Ele, inaceitável imensidão alienígena, em sua órbita elíptica gigantesca, em sua verdade descomunal e cíclica. Na sua esmagadora opressão atmosférica e gravitacional, todo o sangue da Terra voou pelos ares, inflamou-se ao extremo a alma planetária, e sua febre de doente terminal derramou-se como lava sobre seus filhos em negra decadência.
Era a Aproximação do Terror inominado. E toda a abóbada celeste incendiava-se em um fulvo-escarlate de um vivo e marcial vermelho enegrecido.
Mas por agora... sou um louco que não devo ser levado a sério.
Edgar Allan Poe
O maior erro da humanidade é o esquecimento. Esquecemos o que há de mais vital, tudo se perde nos vendavais do tempo. Como escreveu certo sábio, “Não aprendemos as lições da vida nem a canhonaços”. E se esquecemos os “canhonaços”, como lembrar de discretos sinais que parecem nos dizer tão pouco, leves insinuações do desconhecido? No entanto, tais sinais, que falando pouco dizem muito, estão constantemente presentes em nossas vidas, e, muitas vezes, nem os percebemos. E quando o fizemos, logo são completamente deixados de lado, como se por serem tão “pequenos” e passageiros não merecessem maior atenção. Assim é o ser humano, sempre desprezando o que é sutil... Mas... a que preço?
Se dispensássemos a devida atenção aos sinais, compreenderíamos, por exemplo, o porquê de na mitologia nórdica o deus supremo Wotan ter necessitado morrer enforcado em uma árvore sagrada para adquirir conhecimento, e, no cristianismo, Cristo ter necessitado morrer crucificado para finalizar sua doutrina. É claro que tais sinais são profundamente simbólicos. E com a misteriosa Aproximação não foi diferente; também se manifestou a princípio com sutis sinais bem pouco reconhecíveis, sinais enigmaticamente simbólicos.
No princípio surgiu uma estrela. Uma estrela nos céus do hemisfério sul que brilhava um pouco mais que o convencional, qualquer indivíduo que olhasse para os céus no começo da noite já perceberia o intenso e intrigante cintilar daquele incomum eastro. Porém, naturalmente, ninguém deu atenção ao fato, e tudo foi considerado como absolutamente normal. É claro que este não foi o sinal único que funestamente prenunciara a devastadora Aproximação, muitos outros ocorreram, todos igualmente imperceptíveis para a quase totalidade da humanidade, mas creio ser desnecessário mencioná-los agora.
O certo é que conforme a Aproximação se concretizava, lentamente, imensas tragédias, catástrofes, desastres, fossem eles naturais ou provocados pelo homem, foram se desencadeando, em um ritmo mais e mais acelerado. Até que em certo dia extremamente aziago para a raça humana, Ele foi visto pela primeira vez, ao longe, como um outro sol que surgia no horizonte carregado de maus-presságios. E então, todos os engodos das autoridades e dos senhores responsáveis por nossa mal fadada ciência caíram por terra. Restou tão-somente a trágica realidade dos fatos, e a Aproximação daquilo que brilhava sinistramente diante dos olhos estupefatos da humanidade doente.
A partir desse instante, o medo, o pânico, o desespero absoluto dominaram os seres humanos, compreendendo-se definitivamente que a situação era muito mais grave do que se poderia imaginar. Pior do que isso, era catastroficamente inexplicável.
À medida que a misteriosa Aproximação tornava-se mais e mais visível, gigante, ameaçadora, em todos os cantos da Terra procurava-se encontrar respostas e possíveis soluções para o que estava ocorrendo, porém, não se dava um passo a frente, talvez, só para trás. Pensou-se, por exemplo, em utilizar-se poderosíssimos artefatos nucleares para evitar-se a tragédia maior, o que se revelou um imensurável desastre. Enfim, só o que se pode afirmar é que todos os intentos e planos e invectivas do homem para se evitar o inevitável resultaram em trovejantes fracassos.
Os anos foram passando de forma arrastada e lúgubre, enquanto a humanidade afundava-se em um estado caótico de verdadeiro horror. Gradativamente, os homens foram sucumbindo em meio à mais atroz loucura coletiva já presenciada, em um desespero de se arrancar os cabelos. Descrever aqui todo o horror vivenciado naqueles dias seria algo impossível... e absurdamente cruel.
Só o que posso dizer é que a intensificação de todas as espécies de catástrofes, as mais inimagináveis, as mais absurdas, as mais devastadoras desencadearam-se na exata proporção matemática da sinistra Aproximação. Na dantesca ignorância sobre o que estava ocorrendo, compreenderam então os homens que todas as suas certezas sobre suas próprias existências não tinham mais o menor sentido, tudo se desmoronou de uma hora para outra. E a humanidade engolia em seco sua ilusória segurança da estéril racionalidade.
E o terror cósmico da Aproximação concretizou-se de forma canhestramente fantástica. O pavor reinava absoluto para onde quer que se olhasse, já que nosso céu já não era nosso céu, era outro, um monstro tenebroso. Ali estava Ele, inaceitável imensidão alienígena, em sua órbita elíptica gigantesca, em sua verdade descomunal e cíclica. Na sua esmagadora opressão atmosférica e gravitacional, todo o sangue da Terra voou pelos ares, inflamou-se ao extremo a alma planetária, e sua febre de doente terminal derramou-se como lava sobre seus filhos em negra decadência.
Era a Aproximação do Terror inominado. E toda a abóbada celeste incendiava-se em um fulvo-escarlate de um vivo e marcial vermelho enegrecido.
Mas por agora... sou um louco que não devo ser levado a sério.
18 agosto 2007
Prefiro a Morte
se a vida
é esse amontoar-se de coisas
esse arrastar-se de moedas
esse comprar-se de tudo...
se a vida
pra se dizer que se vive
é se acabar dia e noite
ao se enfurnar num emprego
pra se enganar a si mesmo
inflando a conta de cifras...
se a vida
é ter "sucesso na vida"
sem ter sentido pra nada
pra vomitar mil estresses
se viajando pra praia
se é disfarçar a miséria
de não ter nada na alma
só consumindo e comendo
e no final em marasmo
entendiar-se de tudo...
se é pôr uns filhos no mundo
pra se aguardar a desgraça
e não ter tempo pra nada
se é ser robô programado
a ser igual sempre a todos
sem questionar o que é "certo"
e sem sonhar como um louco...
se é não parar por um pássaro
se é não fitar-se uma flor
se é não sentir-se um poema
se é não olhar-se pra o céu
se é não chorar uma música
não se perder por amor...
se a vida é viver como morto
e não zombar-se da sorte...
perdoa, sensato leitor...
mas eu prefiro a morte.
é esse amontoar-se de coisas
esse arrastar-se de moedas
esse comprar-se de tudo...
se a vida
pra se dizer que se vive
é se acabar dia e noite
ao se enfurnar num emprego
pra se enganar a si mesmo
inflando a conta de cifras...
se a vida
é ter "sucesso na vida"
sem ter sentido pra nada
pra vomitar mil estresses
se viajando pra praia
se é disfarçar a miséria
de não ter nada na alma
só consumindo e comendo
e no final em marasmo
entendiar-se de tudo...
se é pôr uns filhos no mundo
pra se aguardar a desgraça
e não ter tempo pra nada
se é ser robô programado
a ser igual sempre a todos
sem questionar o que é "certo"
e sem sonhar como um louco...
se é não parar por um pássaro
se é não fitar-se uma flor
se é não sentir-se um poema
se é não olhar-se pra o céu
se é não chorar uma música
não se perder por amor...
se a vida é viver como morto
e não zombar-se da sorte...
perdoa, sensato leitor...
mas eu prefiro a morte.
15 agosto 2007
12 agosto 2007
Trecho de um Texto Ocultista de Fernando Pessoa
"...Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subutilizando-se até chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não..."
06 agosto 2007
Cátástrofe (um poema à minha cidade)
na minha cidade
não há catástrofes:
não têm tornados
não vêm ciclones
nem furacões
não têm vulcões
nem terremotos
nem tsunamis
nem bomba atômica
enfim...
é que estão todas elas
Todas!
devastando meu peito
dentro de mim
não há catástrofes:
não têm tornados
não vêm ciclones
nem furacões
não têm vulcões
nem terremotos
nem tsunamis
nem bomba atômica
enfim...
é que estão todas elas
Todas!
devastando meu peito
dentro de mim
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