03 maio 2018

Maldição

não sei nunca saberei por que escrevo.
não há nada que eu ganhe no que faço
nem dinheiro nem glória nem abraço
nem curo meu mal e em nada me inscrevo

talvez seja assim meu último credo
único som que deixo como rastro
único sangue a valer meu cansaço
única forma em que sou meu segredo

vale tanto porque não vale nada:
o que vale não merece seu preço
só vale a vida que nos é não dada

escrever é conhecer que me esqueço
sentir o não-ser da vida alcançada
em que serei morto e em que permaneço

30 abril 2018

Não Fazer Nada da Vida

quando eles te perguntam:
"O que você faz da vida?"
eles não querem saber o que tu fazes da vida 
eles nem sabem de que vida falam 
e nem o que é vida
eles só querem saber no que tu trabalhas
e nem tanto pelo trabalho em si 
mas por quanto de dinheiro tu ganhas
e por qual a importância que tu tens 
e não tanto pela importância em si
mas pelo importância que te acham como tendo 

quando eles te perguntam: 
"O que você faz da vida?"
tu poderias (por que não?) responder: 
eu leio romances
eu escuto música 
eu falo com animais 
eu caminho pelos campos 
eu toco violão 
eu cuido do quintal 
eu escrevo poemas
eu assisto a filmes 
eu descubro sobre coisas
eu converso com amigos
eu procuro mistérios 
eu viajo
eu sonho
eu amo
(...)

se tu responderes assim
eles dirão que tu és um vagabundo 
e que não fazes nada da vida

mas são eles que não fazem nada da vida.

28 abril 2018

Tarde

sou eu que tardo no que sinto
ou é o campo que se nubla com meu sangue
seco e indistinto?  
noite que te atrás
o que é que tu me trazes?
e que olho de horizonte
me olha desde o ontem
entre o que vento
e o que silêncio do monte?

sendo humano não posso nada:
só as aves é que auroram dias
só as árvores é que longinquam estradas 

sou o que vejo
quando me sinto no que som

e o que não sou
está sendo no que fiz
e o que não fiz
estava feito no que sou

26 abril 2018

Final da Reta

I- ser poeta é estar enchendo a cara 
no final da reta
ter chegado antes 
e contemplar já bêbado 
a chegada acabada e cágada 
aos trancos e aos rastejos 
do que resta dos humanos sãos 
com seus saudáveis e vãos desejos 

II- o verso é o outro caminho do paralelo ao fracasso 
onde sopra uma vida de vento e uma alma de aço 

III- ser poeta é um ato infame e vil: 
é perceber indiferente e indignado 
olhando nos olhos de cada um e de mim 
o quanto há de humano 
e o quanto há de imbecil

24 abril 2018

Sem Conserto

de que adiantam
teus coros a quatro vozes
(ou teus choros enquanto morres)
emudecidos pelo vento
(ou endurecidos de cimento)
já tantas vezes
(já tantas fezes)
ou os teus acordes
com cordas
pelos cortes
do pescoço?

concordas?

as notas do teu piano
(de que caem teclas ano a ano)
o Tempo
nem mais nota

à tua partitura
já não cabe nenhum inserto

Humanidade
(já ouço uma flauta 
na tempestade):
tu não tens conCerto

22 abril 2018

Sete Poemetos para os Nossos Dias

1. Da Verdade: 
pra quê?
ninguém vai acreditar em você

2.Das Ciências: 
até serve para um oi:
mais que isso
até iria
mas não foi

3. Do Amor:
você nem imagina:
nem aqui
nem na china

4. Da Esperança:
deixamos de ser criança

5. Da Fé:
essa que se vê
estimula menos
que um gole de café

6. Do Sentimento:
esse que aí está
um saco vazio de cimento
esmagado com pá

7. Do Coração:
com o das galinhas
se faz um sopão

20 abril 2018

A Verdade está nos Detalhes

I - do fim da civilização:
a força da humanidade...
mas veio um furacão de Shostakovich
e arrancou o cedilha:
a forca da humanidade.

II – da hipocrisia religiosa:
o culto de Deus.
oculto de Deus.

III – da importância da crase e da vírgula: 
à humanidade, está morta a poesia, agora é o caos
a humanidade está morta, a poesia, agora, é o caos.

15 abril 2018

Maldita Poesia

I - a poesia (pelos olhos) 
é pouco lida
porque exige (pela alma)
muita lida 

II - em termos de poesia 
as pessoas só se interessam 
pelos seus eventos
já eu, ao termo da poesia 
só me interesso 
pelos seus ao ventos 

III - perguntam- me a diferença 
entre poema e poesia:
poema é a poesia escrita 
poesia é a vida vivida 
ou maldita 

11 abril 2018

Indecência

ser feliz... como alguém pode ser feliz?
ou julgar-se ser feliz
(que em tudo é mais fácil julgar-se do que ser)
enquanto crianças e suas inocências
agonizam de miséria e nada?
enquanto animais e suas inocências
se extinguem em crueldade e dor?

somente quem não sente
(que sentir é perceber
que sentir é captar)
não vê também sua culpa
ao passar arrogante e satisfeito
pela família que no lixo
disputa os nojos e os podres
com as moscas e as baratas

somente quem não sente
(que raros sabem sentir)
não se dá conta do horror
que é sorrir pelas estradas
enquanto passamos rápidos absortos
pelos animais atropelados
estrebuchados (des)encarneados
com a sagrada intimidade de suas vísceras
de sua carne de seu sangue
exposta
à indecência da alegria humana

09 abril 2018

Há Arte na Ruína

há alma na ruína 
algo de belo 
no que se acaba 
algo de denso 
no que se perde 

há alto na ruína 
algo de vasto 
no que se sangra 
algo de imenso 
no que se resta 

há astros na ruína 
algo de luz 
no que agoniza
algo de fundo 
no que se finda 

há asas na ruína 
algo de pássaro 
na despedida
algo de música 
no que se morre 

minha alma é ruína.

(Na imagem, "O Inverno", de Caspar David Friedrich)

07 abril 2018

O Próximo Presidente da Grande Nação Brasileira

Irei direto ao ponto. O próximo presidente da "Grande Nação Brasileira" será alguém do PSDB ou do PMDB, ou de qualquer partido com a mesma (ou quase a mesma) orientação ideológica, ou de alguma coligação de que façam parte. 

Será o governo mais lógico, o mais adequado ao momento de reação da direita (ou do que se diz "direita", ou do que se comporta como), será um governo que realmente representa o pensamento do brasileiro (eu disse o pensamento, não as necessidades do brasileiro, porque o brasileiro em geral desconhece suas próprias necessidades). 

Teremos, em breve, um novo governo plutocrático, ou seja, um governo de ricos e para os ricos, para as grandes empresas, para os latifundiários, para as grandes corporações, para o lucro a qualquer custo. O próximo governo será a continuação e o aprofundamento da política de Temer, que já tem o apoio da grande maioria do Congresso e dos seus partidos (inclusive, sim, o apoio do BOLSÓPAPO em quase todos seus projetos e pretensões). 

Nos próximos anos, veremos o prosseguimento lento e insidioso da  aniquilação dos serviços públicos e das políticas sociais, a progressão da miséria e da violência, a redução dos direitos e das garantias individuais, o aprofundamento da opressão e a destruição sem limites do meio ambiente.

Ah, e, claro, eu espero estar errado.

05 abril 2018

Não é necessário haver Liberdade

não é necessário haver liberdade em se vestir
quando todos usam o mesmo uniforme
não é necessário haver liberdade de gostos
quando todos são convencidos a gostar das mesmas coisas
não é necessário haver liberdade de crença
quando todos acreditam no que dizem ser certo
não é necessário haver liberdade de escolhas

quando as escolhas vêm dentro de um pacote já pronto
não é necessário haver liberdade de pensamento
quando as pessoas jamais param para pensar no que for
não é necessário haver liberdade na vida
quando a vida se torna só um ato mecânico
não é necessário haver liberdade de ser a si mesmo
quando todos são todos iguais



03 abril 2018

Não gosto de Praia

não gosto de praia.
porque tem gente nela.
prefiro o oculto da sanga
entre o perdido do mato
aqueles capões brabos
peraus de cobras
e mosquitos da febre amarela

e estou falando sério:
meu gosto é de antigo
ainda me garoo no mistério:
sou daqueles que não.
me sinto bem entre gritos de sapo
e berros de gavião.

não gosto de praia?
não gosto da ideia por trás dela.
se ainda fosse aquelas praias de tormentas
daqueles mares de Turner:
há menos verdade no que se diz vida
do que naquela tela.


01 abril 2018

Lembrança Breve

para quê serve um poeta?
um poeta não serve pra nada
e não serve a ninguém.
poeta é ser-se
não ser-vos

29 março 2018

Todo Mundo é Suicida

todo mundo é suicida.
quem é que não se mata?
quem não morre por?
de vício cobiça comida ou amor?

todo mundo morre de tanto
inclusive  de tanto viver 

“o todo
é o prolongamento do indivíduo” (Kant)
quem não sabe
que a humanidade
é um lento firme vasto suicídio?

todos se destroem
por um desejo
ou um sucesso (a)final

já eu não me destruo
nem para prêmio nem para pódio:
me destruo para criar:
que não seja em vão
meu suicídio de tanto morrer

26 março 2018

Patético

Beethoven compôs
a Sonata Patética
na época
que patético
significava “trágico”
estando de acordo
com o romântico
daquele século

hoje mudou-se rápido
e patético
significa “ridículo”
e escrevo um poema patético
estando de acordo
com o homúnculo
desta era-catástrofe

agora
a humanidade é prática
como sinônimo de hipócrita:
as coisas passam súbitas
pútridas estúpidas
e logo o tudo é nada
atônito
fogo de palha
mísera
palhaçada

24 março 2018

Mais um: Rinoceronte Branco do Norte está praticamente extinto

No início do século XX, havia 500 mil rinocerontes na África. Hoje, não chegam a 29 mil. É assim que caminhamos na nossa morte lenta. Morte de um planeta e da sua humanidade, a causadora do Fim. E com a morte do último espécime macho de Rinocerontes Brancos do Norte, ocorrida nesta semana, mais uma subespécie de rinoceronte foi condenada à extinção, pois restam apenas duas fêmeas é não há como ocorrer inseminação artificial. Assim como o Rinoceronte Negro do Oeste, extinto há uns dois anos, a caça foi o que causou o desaparecimento desses majestosos animais.

Das 4 subespécies de rinocerontes da África, restam duas: o Rinoceronte Branco do Sul (em situação relativamente segura, por enquanto) e o Rinoceronte Negro do Leste (mais ameaçado). 

Quando da tragédia da extinção do Rinoceronte Negro do Oeste, escrevi o poema abaixo, que agora republico:

Versos Inexistentes*

Dodô
Emu-Negro
Foca-Monge
Asno-Sírio

Leão-do-Atlas
Leão-do-Cabo
Zebra-Quagga
Ave-Elefante
Arau-Gigante
Íbis-Terrestre
Tigre-de-Bali
Tigre-do-Cáspio
Tigre-de-Java
Lobo-de-Honshu
Vaca-Marinha
Sapo-Dourado
Cervo-Schomburki

Gazela-Vermelha
Dugongo-de-Steller
Antílope-Azul
Raposa-das-FalklSíri

Pombo-Passageiro
Lobo-da-Tasmânia
Cabra-dos-Pirineus
Pato-do-Labrador
Jiboia-da-Ilha-Round
Rinoceronte-Negro

Tartaruga-da-Ilha-Pinta
Lagarto-da-Ilha-de-Ratas
Wallaby-Rabo-de-Prego

Pato-de-Cabeça-Rosa
Periquito-do-Paraíso
Bandicoot-do-Deserto
Rinoceronte-de-Sumatra
Arara-Vermelha-de-Cuba

deixei 34 versos inexistentes
e mais uns outros de adeus:
quem sabe, meus amigos extintos,
um dia o meu fatal destino
beberá vinho tinto
na presença dos teus

(*Todos os animais mencionados estão extintos.)

22 março 2018

De(x)ploração: ao Dia Mundial da Água

Republico poema escrito e publicado originalmente em março de 2016:

ao erguer-se a luz empurecida do sol
brilha a claridade etérica de éter
das espumas dos rios
das sangras, dos arrotos, dos diachos
ao render-se à luz emputecida do sol

castelos de sabão
aves cheias de graxas
e aquelas formas alvas
das névoas lépidas fétidas
formas brancas
acagadas
formas claras
de ovos
infinitos e intestinais

a serenidade impassível intragável
das águas plácidas
pútridas
ácidas
básicas
aquelas águas plásticas
de folhas flores e fezes

aquelas águas tranquilas
imperturbáveis
onde nem um peixe
causa alguma onda

aquelas águas-espumas
aclaradas brilhantes
acabadas desinfetantes
como resultado tardo
de ter gentes

19 março 2018

a vida esmaga a Vida

pé por pé no dia a dia
e passo a passo de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida: só consumida

de sol a sol de hora em hora
o que é de vida se põe no lixo
o que é de alma se joga fora
e de grão em grão de ovo em ovo
o homem choca o homem chora
a encher o papo a encher o bolso
a encher o saco a encher o vácuo
do seu olho por olho
que o tempo traga

o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó

17 março 2018

Esta é a Tua História

tu te sentas abostado no teu sofá de porco
e sorris arrogante dizendo que não é nada
que não há ameaças reais nem à humanidade nem ao planeta
e quando há, as ameaças nunca vêm de ti
a baba se derrama pelo ranço do teu sorriso
e tu manténs tua vidinha cômoda e teu suficiente dinheiro
enquanto um sol vermelho fura os olhos no horizonte
e o sangue de milhões de bichos escorre pelas estradas

mas pra ti vamos de vento em popa
por mais que os mares se abismem negros ao teu redor
por mais que na África tombem a bala elefantes e leões
por mais que na Ásia tombem a bombas mulheres e crianças
por mais que berre em miséria todo um povo
apenas para que meia dúzia posso desfrutar do seu  iate particular

tu sentas tua bunda na grama ressecada
enche tua boca estúpida e convencida
para grunhir que tudo isso é só um acidente de percurso
um efeito colateral do progresso e da evolução
que será rapidamente solucionado se fizerem o que tu dizes
tu te olhas no espelho e te vês como progresso e evolução
ou tu nem te olhas no espelho
afundado em descartáveis e agrotóxicos
asfixiado pelo veneno do bafo do lucro
tu estás certo de que as soluções estão nas tuas ideias

e nas tuas ideias apenas se sente o cheiro podre 
da produção e do dinheiro
das quinquilharias e inutilidades a atulhar o mundo
e nas tuas soluções está o massacre dos que não são como tu
e com o teu sorriso nos cantos dos beiços acha
que a merda que transborda nos esgotos da terra
nunca é a tua merda
que o lixo que se infiltra nas entranhas das árvores
nunca é o teu lixo

mas tu que vês no outro a escória, tu és a escória
tu que vês no outro o problema, tu és o problema
e o mundo que tu julgas que irá muito bem se tirarem dele o mal
este mundo vai mal por causa de gente como tu 
que é o mal que está nele e que tu não queres que tirem

e tu, que não sentes nada 
que não percebes nada
que não te importas com nada
tu me perguntarás com ódio e ironia:
"Então tu que é o bom, é o cara, é o máximo? 

Qual é a diferença de ti pra mim?"
e eu te responderei:
a diferença de mim pra ti é que eu sei

que não sou nem o bom nem o cara nem o máximo
pelo contrário
e por isso percebo que tudo vai mal
e que a culpa é minha
e que a culpa é tua

16 março 2018

Bolsomito não passa de Mito. Ou nem isso.

Jair Bolsonaro é alguém que deve ser desmascarado. Nem é necessário comentar sobre suas declarações racistas, misóginas, preconceituosas, desumanas, que beiram à monstruosidade. Elas falam por si próprias, montadas em sua ignorância escrachada. A tão propalada "honestidade" de Bolsonaro não passa de um verniz falsificado, e o seu recebimento de propina da JBS nos tempos do PP, devolvida ao partido (não à JBS, vejam bem) e recebida de volta como verba partidária, assim como seu rápido enriquecimento e suas suspeitas de lavagem de dinheiro, estão aí para desmoronar o "mito" do Bolsonaro honesto. Sem falar nas suas constantes mentiras e notícias falsas espalhadas a torto e a direito por ele e por sua "equipe". Sem falar nos inúmeros casos de nepotismo que realizou durante os seus longos e VAZIOS 26 anos de vida pública. De mamador público, diga-se de passagem, em que ainda ostenta sua falta de respeito com o miserável povo brasileiro dizendo que usava auxílio moradia para "comer gente"". Tudo isso também é desonestidade. E das mais vergonhosas. 


No entanto os eleitores de Bolsonaro formaram uma seita de fanáticos e não querem saber de nada. Talvez, porque sejam como ele. Os eleitores de Bolsonaro não têm paciência ou vontade ou inteligência para analisar as questões a fundo. Seus defensores tentam justificar das maneiras mais esdrúxulas todos os seus atos e não-atos. O discurso vazio e simplista do Jair serve para criar uma série de refrões que lembram os refrões de músicas de funk: não dizem nada, mas pegam, grudam, ficam na cabeça dos que não se ocupam em pensar muito. Ou seja, é fácil, como as "soluções" apresentadas por Bolsonaro na sua quase ausência de projetos para o país. A partir disso, desenvolvem-se justificativas que pouco importa se são fundamentadas ou não, como as justificativas utilizadas por torcedores de time de futebol numa discussão: não entra racionalidade, só o fanatismo. Por exemplo: para solucionar o problema da violência no Brasil, segundo os bolsonetes, é só armar a população, e as pessoas mesmas matarem os bandidos, ou quem elas acham que são bandidos. Pronto, tudo resolvido fácil, fácil.


E uma das justificativas mais disseminadas é para o fato de o deputado carioca ter apenas dois de seus projetos aprovados em 26 anos de vida pública. Para os bolsonetes, foi por culpa dos outros deputados que não votaram pela aprovação. Bolsonaro apresentou cerca de 170 projetos. Na verdade, não interessa quantos projetos eles apresentou, mas o que consta nesses projetos. E surgem alguns pontos:


1) O pessoal que vota no "Messias" afirmava, na época do impeachment da Dilma, que ela deveria deixar o governo porque não conseguiria aprovar projetos na câmara ou no senado... Humm, mas o Bolsomito consegue, não é? Dois em 26 anos.

2) Eu pesquisei o conteúdo dos projetos do "Mito". Dos 170 projetos, mais de 60 são para beneficiar apenas os militares. Ou seja, corporativismo descarado. É compreensível o porquê de militares o apoiarem tanto.

3) Do restante dos projetos, muitos estão naquela coisa do nacionalismo fajuto do qual ele tanto se orgulha. Por exemplo: cantar o hino com o mão direita no peito, aplaudir a bandeira (tipo o que ele fez, há algum tempo, diante da bandeira dos EUA e do Trump), proibição do uso de palavras estrangeiras em estabelecimentos comerciais, fazer homenagens a militares famosos... Outros projetos têm a ver com a sua "moral" e "bons costumes", que se relacionam ao planejamento familiar DENTRO DA SUA VISÃO MONSTRUOSA. O planejamento familiar deve ser para que não nasçam mais mulheres ou negros. 

4) O que sobra dos projetos tem a ver com a regulação de uso de álcool e fumo em determinados locais e com algumas medidas vitais para a economia do país, como isenção tributária para grupos bem específicos, nunca para o povo em geral. Bolsonaro queria, por exemplo, conceder isenções fiscais para a indústria automobilística e para taxistas. Para os taxistas eu concordo. E até tem umas coisas boas nas suas ideias, como descontos para portadores de diabetes e para idosos em transporte aéreo.

Uau, esse cara vai salvar o país!

13 março 2018

Imperador do Mundo

o tempo é um tanto tão estranho
dizem que pode ser marcado arrastado
por ponteiros de cobre ou de estanho
e que ele passa como se fossem horas
mas ele passa porque nós passamos:
o relógio é tão somente símbolo
de que a vida é um passo a passo
de que a morte é um pouco a pouco

mas o Tempo
que não para e nunca anda
ele vai hora por hora
como se nunca fosse embora
ele vai de poço em poço
entre o almoço e o almoço
é minuto sobre minuto
no castelo de cartas do luto
ele vai de pé por pé
como um fantasma
que existe mas não é
segundo por segundo
marcha o Tempo
imperador do mundo

e tudo num tanto de vida...

e esse tanto é um tempo tão estranho

11 março 2018

Como é Acima é Abaixo

aqui
a água é o melhor símbolo da alma:
está em tudo quanto há vida
sem que se perceba sua estada
está em tudo quanto é cíclico
e em todos os estados
mas não se percebe seu caminho
não se vê a sua estrada

tão vital 
que nem se sente
tão presente e transparente
como algo que nem fosse 
nem amada ou existente
de subida e volta
de retorno e ida 
como se estivesse ao sempre


a alma é o melhor símbolo da água

09 março 2018

Escrever não vale a pena

não vale a pena:
1) o quê? 2) como? 3) pra quem? 4) por quê?

se tudo já foi dito
de tudo quanto é jeito
e mesmo que ainda diga
não há alguém que leia
e mesmo que ainda haja
não há alguém que viva
e mesmo que ainda vida
não há alguém que morra

eu mesmo não morri pelo que disse

escrever é o ato de me dizer a mim

mas se “tudo vale a pena
se a alma não é pequena”
escrevo para sentir
se ainda me resta uma:
não estarei morto
enquanto escreva

07 março 2018

Ninguém é Importante

todo mundo quer ser importante no mundo.
mas num mundo que não vale a pena
ser importante é ter a alma pequena
e ainda que seja no fundo
ninguém é importante.
(porque se passa)
ninguém é mais que traço ou traça

a não ser que se seja gênio
mas gênios são do passado:
já não há mais a grandeza
a independência e a ousadia
(nem mesmo a loucura)
para o que deve ser transformado

as pessoas querem tanto ser importantes.
se querem é porque não serão:
tanto querer é não ter ser
e só o Ser permanece

gênio é quem tem o Ser
sem ter que querer:
é o que não (a)parecem

as pessoas querem ser importantes
só porque querem alguns alguéns
que as “amem”

mas
amém

05 março 2018

Três Considerações Consumistas

I - Suicídio

a humanidade é um suicida
com a pistola do dinheiro apontada para a cabeça:
o gatilho é o lucro
o dedo é das grandes empresas

II - Reflexivo


eu (me) consumo
tu (te) consomes
nós (nos) consumimos

III - Na Cruz

na ânsia absurda
de encher nosso vazio sem fundo
con(sumimos) tudo:
consummatum est

03 março 2018

Ordem x Vida

existe a ordem, e existe a vida. 
quando a ordem quer controlar a vida
a vida quer destruir a ordem. 
porque a vida surge do caos, não da ordem.
e o caos é o nosso destino. 
de onde surgirá mais vida. 
a única ordem é a criação.
a verdadeira ordem 
é a que se cria no interior do caos.
a verdadeira ordem vem de dentro.