14 setembro 2015

Para acabar com a Crise? Taxar as grandes fortunas e combater a sonegação

Não é de hoje que venho comentando sobre o assunto. O Brasil, todos sabemos, é um dos países de maior desigualdade social do mundo. Não é que não temos dinheiro ou riquezas. Temos de sobra. O problema, óbvio, é que estas riquezas produzidas se concentram nas mãos de muito poucos, que nunca deixam de lucrar, seja na crise ou fora dela, que, por terem o dinheiro, têm o poder, e, tendo o poder, impedem que a situação se modifique. Todos sabem disso. Ninguém fala nada. Por quê? É só verificar, por exemplo, a porcentagem de ricos entre nossos deputados que fazem e votam as leis.

O problema é que quem ganha muito dinheiro ganha em cima da exploração de outros. Para alguém ganhar, alguém tem que perder. É matemático. Se alguns têm dinheiro demais, é porque outros não têm quase nada. Já escreveu Balzac: "Por detrás de uma grande fortuna há um crime". E um desses crimes é a sonegação. Sonegação é roubo. Alguns dizem que é justo sonegar porque se paga imposto em demasia. Se o imposto fosse devolvido, no momento da compra, ao consumidor, que é quem realmente paga essa demasia de imposto, tudo bem. Mas o sonegador não devolve. Embolsa dinheiro que não é dele. Ou seja, rouba. Segundo Amir Khair, Mestre em Finanças Públicas, a taxação de grandes fortunas renderia em torno de 100 bilhões de reais aos cofres públicos todos os anos. Confira AQUI.


Por esses e outros motivos, taxar as grandes fortunas é muito mais que um ato de coragem e vontade política. É um ato de justiça que o povo brasileiro merece há muito tempo. Mas o mais triste é que ainda há pobres que são contra tais medidas. Culpa da ignorância, é claro. Durante séculos foram condicionados a "adorar" o seu "senhor", o patrão, que lhes dá uma "oportunidade" de trabalhar, como se o patrão não dependesse do trabalhador para construir sua riqueza. Foram adestrados a amar quem os explora e a beijar o chicote que lhes açoita. Encerro com um trecho de um texto do escritor, professor e jornalista, Juremir Machado da Silva, que pode ser conferido na íntegra AQUI:

"Na lista (da Operação Zelotes) estão empresas gaúchas: RBS, Gerdau e Marcopolo. A RBS teria pago R$ 15 milhões por fora para não ter de entregar R$ 150 milhões ao fisco. O rombo apurado pela Zelotes bota o da Lava-Jato no chinelo: mais de R$ 600 bilhões.
A Zelotes mexe num pulgueiro. Muita gente boa acha que sonegar não é crime. Nas manifestações verde-amarelas contra Dilma, em março, abril e agosto, havia cartazes defendendo que sonegar é ato de legítima defesa. O assunto dificilmente chega às manchetes dos telejornais globais. Mesmos os parlamentares não se ocupam dele. A grande exceção é deputado gaúcho Paulo Pimenta (PT)."



12 setembro 2015

“Viver é não conseguir.” (Variações sobre um tema de Fernando Pessoa)

I – é inútil dizer à frente:
de nada adianta
qualquer coisa que se adiante

II – o mundo é lodo
do tolos todo

III – qualquer palavra que eu diga
é pra(lava) doida varrida

IV – qualquer verso que eu faça
não vale mais
que um gole de vinho
whisky
cachaça

V – quanto mais se insere com todos
mais não se passa de nada
mas sabe ver o seu nada
quem se entende com o Todo

VI – o mundo é mesmo só isso:
para que se consiga
uns secam os mares com redes
outros pescam lambaris de caniço

VII – quem acha que conseguiu
não percebe que a vida é vento:
ou é porque não sabe
que tem o que não quis
ou é porque não vê
que o que quer é só momento





10 setembro 2015

NOTA DO PRESIDENTE DO SINDISAÚDE DE SANTIAGO E REGIÃO

PRESIDENTE DO SINDISAÚDE É JULGADO INOCENTE
Eu, JOSÉ AIRTON FUNGHETO CLERICE, técnico de enfermagem do Hospital de Caridade de Santiago e PRESIDENTE DO SINDICATO DOS TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE DE SANTIAGO E REGIÃO, brasileiro, casado, pai de dois filhos, com residência fixa, venho a público, através desta Nota, DEPOIS DE SER ACUSADO INJUSTAMENTE E DE NÃO ME MANIFESTAR DURANTE DOIS ANOS ATÉ QUE A AÇÃO FOSSE DEFINITIVAMENTE JULGADA, para dizer o seguinte: Que no dia 17/06/2015, EM DECISÃO UNÂNIME, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (TJRS), nos autos do processo nº 71005274352, através de sua Turma Recursal, ABSOLVEU-ME DA ACUSAÇÃO a que fui submetido de que no dia 17/06/2013 eu teria agredido uma paciente internada no setor de psiquiatria do Hospital de Caridade de Santiago. A falsa acusação curiosamente ocorrera depois que assumi a presidência do Sindisaúde. Se não bastasse isso, sem o mínimo de provas, fui “condenado” em primeira instância por alguns veículos de comunicação, pois o caso teve ampla divulgação, causando-me vergonha, constrangimento e exposição desnecessária perante minha família, meus filhos, meus amigos, bem como perante a comunidade santiaguense e regional. Na decisão supracitada, por UNANIMIDADE, os Relatores DERAM PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO APRESENTADO PELA DEFESA para me ABSOLVER da falsa acusação de que eu teria agredido com tapas uma paciente do HCS, seguindo a tese do Relator-Presidente, Dr. EDSON JORGE CECHET, de que “A partir do exame dos depoimentos colhidos em juízo pode-se perceber que a vitima deu a cada testemunha uma versão um pouco diferente sobre como supostamente teria ocorrido à contravenção.” Além disso, referiram: “Afora tais contradições, importante frisar o registro dos documentos juntados pela defesa, referente às evoluções de enfermagem... porque demonstram o quadro delicado em que se encontrava a vítima, que inclusive padecia de surtos psicóticos.”, e continuaram: “a própria vítima disse, em juízo, que durante seus períodos de crise não recordava bem dos fatos que se sucediam, de modo que se torna temerário, a partir de tal assertiva, confirmar que o denunciado tenha, de fato, praticado a contravenção penal descrita na denúncia”. DA DECISÃO NÃO CABE MAIS RECURSO. Portanto, esta só veio a comprovar ainda mais o meu caráter e os mais de 25 anos de trabalho honesto por onde laborei inclusive depois que assumi a presidência do SINDISAÚDE, ocasião em que passei a ser alvo de injúrias e difamações. Diante disso, só quero agradecer àqueles que confiaram em mim e me apoiaram, pois sabiam da minha honestidade e da minha conduta em todos os trabalhos por mim realizados.
José Airton Fungheto Clerice

09 setembro 2015

De quem é a culpa da dívida do RS? Por que Sartori não deixa faltar dinheiro aos privilegiados?

O gráfico acima foi publicado no site Clic RBS, mas sem muita divulgação. Percebam em quais governos a dívida gaúcha REALMENTE cresceu. Um deles foi o governo da ARENA durante a ditadura (de onde surgiram partidos como PP e Dem), e outro foi o governo de Britto, do PMDB, quando o Sartori era líder do governo na Assembleia. De quem é a culpa mesmo da dívida? Aproveitando, deixo, abaixo, trecho de um texto do escritor, professor e jornalista Juremir Machado da Silva, que pode ser conferido na íntegra AQUI.


"Por que não foram congelados os salários de deputados e secretários?


Por que não se diminuiu o repasse ao Judiciário, que mantém seus privilégios como auxílio-moradia para quem tem casa?

O judiciário cumpre a lei à risca quando se trata do “seu”. Mas deixa descumprir a lei do piso do magistério.

Os poderes são independentes? O dinheiro entra pelo caixa do executivo. Se o executivo pode descumprir a lei do piso e do pagamento integral dos salários alegando falta de recursos, por que não pode descumprir a lei do repasse ao judiciário pelo mesmo motivo? Falta dinheiro para o funcionalismo porque antes foram pagos os privilégios da casta dominante.

O governo do RS tem um ideólogo neoliberal, o economista Darcy Francisco dos Santos.

Ele tem um plano para o Estado: o desmanche.

É preciso que a crise seja a mais grave possível para que o desmonte se justifique.

Um secretário já disse em off: quanto pior, melhor.

Um deputado já lamentou: como é que deixaram aprovar essa lei que exige plebiscito para privatizações de estatais.

O ideólogo neoliberal do governo quer mudanças na previdência do Estado. Esse é o ponto central.

Ao contrário do que se diz, o governo sempre teve um projeto: diminuir radicalmente o tamanho do Estado."

05 setembro 2015

Sete Sinais dos Tempos


I - no antigo
se aparecia nos quadros e fotos
com nobre seriedade
desde o camponês até a imperatriz

agora
para tirar uma foto
tem que sair com cara de idiota
fingindo ser feliz

II - no antes
se acordava
com cantares de galo

agora
é com alarmes de carro

III - houve uma época
em que se perguntava o nome primeiro
e se beijava depois
(fazia algum nexo...)

agora
se pergunta o nome depois
do sexo

IV - naqueles dias
sábios
eram um Dante
um Kant
um Victor Hugo

agora
um Google

V - houve uma era
em que  se tinha que pensar 
por si próprio:
era duro...

agora
a mídia
faz por nós
esse serviço sujo

VI - e dizer que houve um tempo
em que se ia para as matas
ver animais

agora
se vai pras baladas
ver animais

VII - antes
poesia era moda

agora
é foda.

(Na foto, Frédéric Chopin, em 1849.)

03 setembro 2015

O que é se Importar?

o que é se importar?
é se achar importante?
ou talvez se vir
de algum lugar que não
a outro lugar que sim?
se importar
é comprar de fora
a si próprio?

ou será
que se importar
é deixar de portar
o que nunca se teve?
ou é ainda
não saber se portar?

ou talvez
seja abrir portas
ao contrário
ou deixar de abrir
as portas
que nunca se viu?

afinal
o que é se importar?

seja o que for
eu não me importo.

01 setembro 2015

Sobre a Volta da Ditadura e sobre Outras Submissões

ser mandado
é mais fácil
do que ter pensado
é mais cômodo ter um chefe
do que ter uma ideia

o que a massa quer
é quem lhe diga o que fazer
quem lhe aponte aonde ir
quem lhe dê razões sentidos
(tudo mastigado)
para o sem-sentido de se estar vivo

quer quem lhe pegue pelo braço
quem lhe use a sua boca
para não ter que falar nada
quem decida qual o lado
qual é certo e qual errado

o que a massa quer
é não ter que querer
mas ter quem queira em seu lugar
e lhe diga: assim/assado

enfim
a massa
quer ser amassada



30 agosto 2015

Mensagem aos Extintos

seres que vos extinguis:
a que oculto
o que mistério
vos leva...?
o que vos leva,
em que mistério
é oculto?...

quando vos fordes
ocultai convosco
meu fracasso humano
quando partirdes
arrastai com força
meus ausentes planos
e meu longínquo sangue
despejai ao longe

o que pulsou comigo
não deixeis que siga
na desalada vida
e o desperado  verso
que perambula e erra
escondei da terra

é o que me esperanço
nos confins
a que vos destinais...

que eu me esqueça do existe
em vossos eternos jamais

mas guardai
em almas
esta arte dos tardes

para quando voltardes

(Na imagem, o último Tigre do Cáspio, espécie extinta nos anos 60.)



28 agosto 2015

"Em nada me risquei do rol dos ignorantes." Goethe

Johann Wolfgang Von Goethe (1749 - 1832), cujo aniversário se comemora hoje, foi o maior gênio da literatura alemã, e um dos maiores da literatura universal, o grande precursor do Romantismo. Em sua obra máxima, Faust (Fausto), um dos pontos mais altos da arte, expressou praticamente todas as questões essenciais que assombram a humanidade, cogitou sobre tudo,  e expôs como raros o drama da eterna busca do homem pelo conhecimento. 

Mas o que é o conhecimento? É isso que Goethe, dramaticamente, questiona. É acumular leituras sobre leituras, investigar todas as coisas pelo alcance das  "lentes" da ciências ou o Conhecimento vai ainda muito além? O texto abaixo, extraído do quadro II, Cena I do 1º Fausto (pois há o 2º, além do chamado "Fausto Zero", uma espécie de ensaio para a obra), apresenta-nos o trágico dilema.

Fausto I - Quadro II - Cena I (Trecho)

Ao cabo de escrutar com o mais ansioso estudo
filosofia, e foro, e medicina, e tudo
até a teologia... encontro-me qual dantes;
em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Mestre em artes me chamo; inculco-me Doutor;
e em dez anos vai já que, intrépido impostor,
aí trago em roda viva um bando de crendeiros,
meus alunos... de nada, e ignaros verdadeiros.
O que só liquidei depois de tanta lida,
foi que a humana inciência é lei nunca infringida.
Que frenesi! Sei mais, sei mais, isso é verdade,
do que toda essa récua inchada de vaidade:
lentes e bacharéis, padres e escrevedores.
Já me não fazem mossa escrúpulos, terrores
de diabos e inferno, atribulados sonhos
e martírio sem fim dos ânimos bisonhos.

Mas, com te suplantar, fatal credulidade,
que bens reais lucrei? Gozo eu felicidade?
Ah! nem a de iludir-me e crer-me sábio. Sei
que finjo espalhar luz, e nunca a espalharei
que dos maus faça bons, ou torne os bons melhores;
antes faço os bons maus, e os maus inda piores.
Lucro, sequer, eu próprio? Ambiciono opulência,
e vivo pobre, quase à beira da indigência.
Cobiço distinguir-me, enobrecer-me, e vou-me
com a vil plebe confuso, à espera em vão de um nome.
E chama-se isto vida! Os próprios cães da rua
não quereriam dar em troco desta a sua.

26 agosto 2015

O absurdo (des)governo de Sartori poderia ser tema de um romance de Kakfa

Franz Kafka, gênio da literatura, é considerado o Rei do Absurdo. Romances como "O Processo" e "O Castelo" são bíblias da Literatura Fantástica. Ao mesmo tempo, constituem libelos contra a opressão, a tirania e a injustiça da vida moderna. Em "O Processo", por exemplo, um homem é acusado, processado e julgado por alguma espécie de crime que ele nunca vem a saber qual é. Ele é julgado sem saber o que fez. Nem mesmo seu advogado fala a ele. O romance se desenvolve numa atmosfera de pesadelo e irracionalidade, onde absurdos acontecem como se fossem absolutamente normais.

Parece o que vivemos hoje no RS, com o governo de Sartori. Os servidores estaduais e serviços básicos à população, como Educação, Saúde e Segurança estão sendo castigados sem que fique claro o real motivo do fato. Sim, por que qual é mesmo o motivo? Não há dinheiro? Se não há dinheiro, por que Sartori (nem o chamo de governador) concedeu, de INÍCIO, aumento a todo seu secretariado, deputados, seu vice, a si mesmo (depois recuou, por vergonha), concedeu bônus de 8 mil reais a seus CC's, nomeou centenas de CC's e FG's e não pressiona nem o Legislativo nem o Judiciário para cortar despesas, tanto é que a Assembleia Legislativa acabou de aprovar um aumento das diárias dos deputados e seus servidores. Então, não há dinheiro?

Expliquem-me então este absurdo, non sense total: não há dinheiro para serviços básicos da população que paga impostos, mas há de sobra para quem não precisa de mais dinheiro?

Então, quer dizer que Educação, Saúde e Segurança eram prioridades para o Sartori, mas são o primeiro a serem cortados? Creio que não entendemos direito. Eram prioridades PARA O CORTE.

Querem outro absurdo? Sartori fechou secretárias, como a da Política para as Mulheres, mas criou uma secretaria para a SUA mulher. 

Outro absurdo? Sartori alega ter os cofres do estado vazios, mas não está nem aí para a Sonegação Fiscal. Ou seja, é melhor cortar dos serviços básicos, do que cobrar de empresários desonestos. 

Outro absurdo? Digamos que realmente não houvesse dinheiro e todos esses aumentos aos privilegiados que Sartori concedeu não houvesse sido concedidos. Ainda assim, para áreas prioritárias, o governador, se o fosse, poderia usar o dinheiro dos depósitos judiciais, o que já foi autorizado pelo Legislativo, e o Judiciário abriu mão de metade dos juros. Ou seja, Sartori diz não ter dinheiro, mas não quer usar o que tem. Hã? Como assim?

Então, em meio a tantos absurdos kafkianos, o que realmente quer Sartori? Quer criar um clima de caos para aprovar suas medidas contra o povo, como aumento de impostos. Quer desmontar os serviços públicos para "provar" que eles não prestam e de devem ser privatizados e terceirizados. Quer colocar a sociedade contra os servidores públicos, deixando a entender que eles oneram o estado e são os responsáveis pela crise. Enfim, Sartori quer entregar o estado à iniciativa privada, que é quem sustenta o seu desgoverno.



24 agosto 2015

da Ilusão da Escolha

I – na vida
temos a ilusão
da escolha
mas tudo
nos é imposto:
desde os impostos
até nossos postos

II – porque nossa vida
está condicionada de uma maneira
que não haja maneira
de haver vida
e de tal forma
que não saia da fôrma

III – viver
tornou-se apenas sobre.
sobretudo
o sentido:
sobrenada




22 agosto 2015

Vagações de um Errado*

quanto mais tentei-me acertar
mais alonguei-me do acerto
aproximar-se
é ver-se entre o longe
como o fundo que é sempre mais fundo
quanto mais está no horizonte

talvez porque o certo
não seja o que é acerto
nem o que mais perto

quando digo ao meu ouvido
é distante o que está comigo
é um sopro que ao não me responde

em qual eco o meu ego ecoou pela Terra?

errando pelo caminho
tornei-me deus em ser nada
(fosse eu a névoa
logo acima
do alto do cerro...)
acertei-me mais
quanto mais mirei no Erro

*Poema reelaborado e republicado


20 agosto 2015

Meus Defeitos

I - essas preocupações
do dia a dia
esses planos
para o futuro
esses sonhos
de crescimento
me aborrecem:
acho tudo isso um saco
é, eu sei
sou muito antiprático

II – percebi
que não tenho temperamento
para mestrados
doutorados
PhDs

é que muitos acabam
(a)mestrados
então prefiro
douTornados
e pH d vinhos

III – dizem alguns
que sou um cara polêmico
não
na verdade
sou um cara polênico:
prefiro o pólen
dos campos ilusórios
do que o pó
dos reais escritórios

19 agosto 2015

Sartori VIOLA direitos constitucionais em suas declarações contra Servidores Estaduais

Publico texto retirado da página do Sindicato dos Professores Estaduais, CPERS (os grifos em vermelho são meus):

A ameaça de corte de ponto dos servidores estaduais que aderirem ao movimento grevista de três dias decidido em assembleia geral do CPERS/Sindicato e de outras categorias representa verdadeiro ato de terrorismo na tentativa de enfraquecer o legítimo e constitucional direito dos servidores de entrarem em greve.

A greve, todos sabemos, é medida extrema, mas não é ilegal, pelo contrário, tem sua previsão no art. 9º da Constituição Federal. A greve deflagrada nesta terça-feira também não é abusiva, pois é uma reação ao parcelamento de salários que vem ocorrendo, bem como uma série de medidas encaminhadas pelo Governo do Estado que ferem direitos conquistados pelos trabalhadores estaduais.

O corte de ponto anunciado viola o direito constitucional de greve, bem como o princípio da dignidade humana, uma vez que os vencimentos dos servidores públicos têm reconhecidamente natureza alimentar, por isso o Supremo Tribunal Federal, através de seu Presidente o Min. Ricardo Lewandowski , reconheceu, recentemente, a ilicitude no desconto de salários decorrentes de greve aos professores do Estado de São Paulo (Reclamação 21040).

No caso do magistério, os professores sempre recuperaram as aulas, cumprindo a obrigação legal estipulada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o que aufere, ainda mais, ilicitude ao corte de ponto.

Qualquer tipo de ameaça de demissão a servidores em estágio probatório ou em contrato, também viola o direito constitucional de greve, além dos princípios da moralidade e da impessoalidade, não podendo-se admitir que haja, na esfera pública, qualquer tipo de perseguição a adesão a movimento legítimo. Da mesma forma, qualquer ameaça a destituição de funções de direção legitimamente eleitas também fere os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade, da legalidade e de greve.

Portanto, o anuncio proferido pelo Sr. Governador tem como único objetivo tentar enfraquecer o movimento, cuja força está estampada nas ruas e com adesão significativa não apenas dos servidores estaduais, mas da sociedade em geral.

Serviço público de qualidade se presta com servidor público dignamente remunerado e com salários em dia. A inexistência de qualquer mesa de negociação, sem a apresentação de qualquer medida concreta por parte do Governo, legitima e garante a justeza do movimento unificado de greve.

17 agosto 2015

Perdendo o Tempo*

pergunta Fernando Pessoa:
“o que é o tempo para que eu o perca?”

ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?

ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?

se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?

se eu for buscar inspiração
perderei o meu tempo?

se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?

se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
e como isso funcionaria?

a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?

ganharei o meu tempo
engendrando planos?
ou ganharei o meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?

ganhar tempo
é ser útil a mim
e  à humanidade?

mas o que seria
útil a mim
e à humanidade?

ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho

*Poema reelaborado e republicado.

15 agosto 2015

Ninguém melhora Nínguém

I - não escrevo
para que os outros me leiam
me entendam
me decifrem

escrevo
para eu fazê-lo
com os outros

II - não escrevo
para melhorar ninguém

(só o si
se melhora a si)

escrevo a meu ser
que saindo da miséria de mim
se vá além

III - ser poeta
é perceber
que não se percebe
é dar-se conta
de que não se dão conta


13 agosto 2015

Bebida Forte

I
a poesia
(pelos olhos)
é pouco lida
porque exige
(pela alma)
muita lida

II
em termos de poesia
as pessoas
preferem os eventos
já eu
ao termo da poesia
prefiro os ventos

III
a poesia é vida
e onde há vida
há morte

a poesia
também pode ser festa
mas com bebida forte

11 agosto 2015

Álcool e Cigarro

claro, sou a favor
das proibições
do cigarro e do álcool
proibição total:

devem ser banidos
extirpados
do seio imaculado
da civilização avançada

o cigarro
é um atentado
à celestialidade da nossa saúde
(meu Deus, como somos saudáveis!)
o álcool
é um crime
contra a vastidão da nossa consciência
(meu Deus, como somos conscientes!)

sou a favor
da proibição de ambos
mas somente depois
de se proibir a hipocrisia

não, não estou tirando sarro:
para se suportar tanta máscara
(inclusive a minha)
só tomando um trago
e fumando um cigarro




08 agosto 2015

Petição para evitar a Extinção da Fundação Zoobotânica do RS

O (des)governo do Sartori, em meio ao seu tropel fantástico de absurdos, desrespeitos, irresponsabilidades, afrontas, intransigências, desumanidades, em meio ao seu desmanche do estado com o propósito de entregá-lo à iniciativa privada, agora nos apresenta mais uma ideia imbecil: a extinção da Fundação Zoobotânica do RS, conforme proposta apresentada dentro de seu pacote ridículo de "ajuste fiscal". 

De acordo com o biólogo Paulo Brack, professor da UFRGS, a extinção da Fundação Zoobotânica consistiria em "um retrocesso inaceitável que colocará o Rio Grande do Sul na idade das trevas em termos de conhecimento e defesa da nossa biodiversidade."

O biólogo, também integrante do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, afirma o seguinte (texto retirado do jornal Sul21):

"É importante lembrar que a Fundação é composta por órgãos executivos consagrados, como o Museu de Ciências Naturais, o Jardim Botânico e o Parque Zoológico. Segundo a ex-diretora da FZB, Arlete Pasqualetto, o Museu de Ciências Naturais é Fiel Depositário de Componentes do Patrimônio Genético, sendo uma das poucas instituições no Brasil credenciadas pelo Conselho do Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente, mantendo em volta de 400.000 registros de plantas e animais tombados em suas coleções científicas, sendo a base de conhecimento da biodiversidade gaúcha.


A instituição mantém convênios com a grande maioria das universidades do sul do Brasil, proporcionando formação especializada de bolsistas e estagiários, que atuarão na necessária conservação da biodiversidade. Milhares de trabalhos científicos foram gerados nestas mais de 40 décadas da FZB, principalmente pelo Museu de Ciências Naturais, Jardim Botânico, em parceria com pesquisadores de outras instituições, levando luz também ao conhecimento dos ecossistemas do Estado. 

Tal rol de conhecimento subsidia as políticas públicas de preservação e conservação, tanto do bioma Pampa como da Mata Atlântica, hoje constituídos por remanescentes que perdem sua área de extensão a cada ano, restando tão somente 36% e 7% respectivamente no RS. Outro aspecto a salientar é o patrimônio de peças e conhecimento paleontológico de grande destaque em nível regional e internacional.


Com o possível fechamento da FZB, qual o futuro do Jardim Botânico (JB), com seus quase 40 hectares de área em Porto Alegre, abrigando coleções vivas de grupos de plantas representativas dos diferentes ecossistemas do Estado? Como ficará a continuidade do desenvolvimento de pesquisas científicas e técnicas para a conservação de suas espécies endêmicas, ameaçadas de extinção, medicinais, alimentares e ornamentais?

Futuro incerto sofre também o Parque Zoológico, localizado em Sapucaia, o qual mantém uma coleção de animais vivos, representantes da fauna nativa e também exótica, compondo um plantel de aproximadamente 1500 animais, de mais de 180 espécies, em grande parte, oriundas de apreensões e retenções. Os técnicos do Zoológico e do Museu de Ciências Naturais desenvolvem atividades de pesquisas e de manejo para a conservação da fauna. O Parque recebe anualmente mais de 500.000 pessoas visitantes, promovendo também programas de educação ambiental, visando conscientizar a comunidade quanto à importância das espécies e da preservação e proteção do meio ambiente. Caso a área seja privatizada, estas e outras atividades (conservação irrestrita de espécies mais chamativas ou não aos visitantes) estarão inevitavelmente comprometidas."


06 agosto 2015

à Ruína

há alma na ruína
algo de belo
no que se acaba
algo de denso
no que se perde

há alto na ruína
algo de vasto
no que se sangra
algo de imenso
no que se resta

há astros na ruína
algo de luz
no que agoniza
algo de fundo
no que se finda

há asas na ruína
algo de pássaro
na despedida
algo de música
no que se morre

há Arte na ruína

(Na imagem, o quadro "A Morte de Chatterton" , de Henry Wallis)

04 agosto 2015

Desprezo

uma das grandezas do homem
é ser simples com os humildes
e altivo com os arrogantes

umas das inteligências do homem
é ser simpático com os autênticos
e irônico com os hipócritas

umas das sabedorias do homem
é se importar com o ser humano
e desprezar a humanidade