As estrofes abaixo são do poema "O Imprevisto" que está incluído na edição completa das poesias do grande gênio maldito, Charles Baudelaire. Há nos próximos versos uma severa advertência de Satã. Ela começa no trecho : "Haveis à regra obedecido..." Parece que serve para muitos, inclusive para algumas pessoas mui religiosas:
'E depois surge Alguém, por todos renegado
E que lhe diz, mordaz e altivo: "Haveis à regra
Obedecido e em meu cibório comungado
Na jubilosa Missa negra?
Cada um de vós no coração fez-me um altar;
Beijastes em segredo o meu traseiro imundo!
Escutai de Satã a gargalhada no ar,
Imensa e feia como o mundo!
Supusestes então, hipócritas surpresos,
Que se zomba do mestre e a ele se é infiel,
Ou que vos cabe a recompensa de dois pesos,
Tornar-se rico e ir para o Céu?'
Charles Baudelaire
23 fevereiro 2014
21 fevereiro 2014
Nada a (me) Declarar*
o que há
no jornal de hoje que leio
( e já é ido
esquecido
como quem não foi escolhido
em um sorteio)
é o nada de amanhã
inútil fato fatídico:
o que é já foi
e o que vem
(como acontecimento)
já nasce sendo passado...
e nada restará do teu lado
tu, humanidade do agora
(és pior ou sempre a mesma?)
que observo
(como quem vê passar uma lesma)
vais me dizer o quê?
da filosofia uma oferta?
(cadáveres de boca-aberta)
esperanças de ilusões aladas?
(ridículos finais de piadas)
ou políticas das altas esferas?
(têm mais a me dizer as cadelas)
lá vaga o teu nada
(-adiantar)
nadando na baba
dos sapos dos sábios...
e o que eu farei
com tanta riso estúpido
derramado
do furúnculo
dos lábios?
aqui neste planeta exangue
(tu bem o sabes)
o que importa é o Sangue...
*Poema reelaborado e republicado.
19 fevereiro 2014
Os Aduladores de São Yago*
torpes
querem todos
chegar ao topo
dos montes de nadas
castelos de cartas
inflados de ar
e de marmeladas
tortos
mais máscaras do que rostos
vão vendendo seus ânus
a preços mais baixos
do que os dos capachos
em que esfregam a merda
dos sapatos
seus cagados amos
raça
de duas caras
escancaradas
de farsa e trapaça
sorrisos de aparência
gelatina na consistência
gotejando baba
a ostentar suas gordas carcaças
e a levantar as saias
abaixando as calças
línguas largas e gastas
lacaias
de lambedores de botas
e bostas
com a espinha curvada
e com sacos nas costas...
mas as espadas e as nuvens
já estão postas
pra a tempestade
de chuva de facas
e vento de pontas
*Referência a Iago, personagem da peça Otelo, de Shakespeare, símbolo do homem falso e hipócrita.
17 fevereiro 2014
Música Infernal ou Apocalíptica escrita em nádegas numa obra de Bosch?
Quem acompanha o blog sabe o quanto sou fã de Hieronymus Bosch, um dos maiores gênios da pintura de todos os tempos, cuja visão espantosamente adiantada previu, com CINCO SÉCULOS de antecedência, as loucuras, o caos,o sonho e o pesadelo do Surrealismo. Tanto que no poema que postei anteriormente, está o acompanhando uma pintura do gênio holandês.
Pois mais genial ainda se torna Bosch quando ouvimos uma música cuja partitura ele deixou estampada em um detalhe que muitas vezes passa despercebido no "Inferno" do seu Trítico "O Jardim das Delícias", pintado há mais de 500 anos. Nas nádegas de um suposto condenado, está pintada a partitura, com notações musicais da época, semelhantes ao do canto gregoriano. Acompanhe nos quadros o detalhe da partitura e um detalhe maior da cena do "Inferno" de Bosch.
Pois uma estudante universitária americana, conhecida apenas como Amélia, tentou executar a música. Disse a estudante: "Eu decidi transcrevê-la em notação moderna, supondo que a segunda linha escrita é em C (Dó), como era comum para os cantos desta época".
Aqui neste site, que é da própria estudante, a música pode ser ouvida. Será que corresponde realmente ao que tentou deixar Bosch? Por que aquela partitura foi gravada nas nádegas de um condenado? Perceba no quadro maior que há um livro de partituras aberto bem próximo ao condenado. Provavelmente, nunca teremos essas respostas. Para isso temos a imaginação e a intuição.
16 fevereiro 2014
Soneto à Vitória do Caos
não,
agora que soam tempos outros
eu
falarei como te sendo o ausente
ou um
nada que nem sequer se sente
um vazio
pelas mentes dos doutos
pesteado
bicho pelos campos solto
pingo de
sangue na vagina quente
a poeira
de um meteoro incidente
um
palavrão na boca de um louco
serás o
assalto de uma velha astuta
gosto
insentido de cianureto
os
pedaços de carniça em disputa
a navalha
que num fígado eu meto
saliva morna
de um beijo de puta
e a tua
presença entre meu soneto
(Na imagem, "O Julgamento Final", de Hieronymus Bosch).
15 fevereiro 2014
do Meu Nome Quando é Dito
o meu nome quando é dito
(e quem há dito
que meu nome alguma vez
bem dito?)
nunca se sonora como sendo
quando dizem que sou eu
não há-de
e ninguém a mim
me entendo
e quando dizem que não sou
se contradizem no assim mesmo
porque ao dizê-lo o não
meu ser já se foi
e já o é
sendo som
o meu nome é aquilo que não-trilho
um passo dado ao nada e ao brilho
um sim subindo pelo não dizendo
o meu nome é aquilo que nem-lendo
palavra nada
na última página
arrancada
de um livro de vento
o meu nome
é como se fosse o como...
e como
é que se pode vir do vago?...
do meu nome
não se diz nem do que é céu
mas acham que digo do meu eu
ou que sabem do que é meu...
ledo engano...
mas só quando advir o dano
advertir-se-ão que sou
mas...
só sendo
eu não-eu.
14 fevereiro 2014
Show de Preconceito e de Absurdos realizado pelo deputado Luiz Carlos Heinze, do PP
Não me estenderei muito nesta postagem, porque ficar escrevendo sobre determinados políticos definitivamente não vale a pena. Apenas digo que as declarações do deputado federal pelo PP não me impressionaram, pelo contrário, era o que eu esperava dele, e é o que eu espero de outros políticos de sua mesma linha (eu ia escrever "laia", mas desisti).
O Heinze, tão amado por um setor da sociedade santiaguense, pelo menos foi sincero. Sem máscaras, sem hipocrisia, mostrou a cara. Está certo que foi num momento de êxtase emocional, cercado pelos seus correligionários e afins, em um daqueles discursos inflados, flatulentos e demagógicos típico de muitos políticos. E não foi só ele, obviamente, basta assistir ao vídeo, mas tente não vomitar. Ali também está o deputado pelo PMDB Alceu Moreira. Veja aqui.
O seu Heinze afirma: "...é ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta está ali aninhado..." Seria hilário, não fosse patético. Inclusive o seu Heinze chega a aconselhar os produtores rurais a contratar segurança privada para defender sua propriedade. Defender do quê? Como? Quem tem que se defender é a sociedade de determinados "produtores" que querem mais e mais terras para encher de soja, transgênicos, agrotóxicos, devastando e poluindo.
Já escrevi aqui sobre a defesa enlouquecida do deputado Heinze pelo nefasto, destrutivo, vergonhoso Novo Código Florestal. Diz que defende os pequenos agricultores. Defende, isso sim, os campos e a renda dos grandes latifundiários. Não quer terra para os índios, por exemplo, porque quer mais terra para os grandes latifúndios, que possam ser compradas a preços irrisórios, e ter sua flora e fauna aniquiladas em nome dos gordos lucros do agronegócio. Só não vê quem não quer. E têm os que veem mas se fazem que não veem nada.
13 fevereiro 2014
Silêncio
em breve
nem o longe
ao longe
no horizonte
em breve
o sempre
que será ontem
silêncio
esgotado
ao esgoto
de uma fonte
em breve
nem o leve
só o calo
das cordas
de um canto de ave
calado
num eterno vago
e nem neve
pássaro passado
desmanche
de rio
manchado
e um sorriso lasso
crasso
desmoronado
por entre olhos
de cuja luz
em breve
nem traço
e da árvore
que te arde
despencada
pancadas
de baques
entre abismo
folha por folha
abalada
entre os riscos
e os risos
de um cismo
em breve
nem cisco
em breve
nem nada
e que te leve
o desfeito
e a cova no peito
feita a pá e a enxada
10 fevereiro 2014
Paz Profunda
pois há uma Paz profunda
nos olhares das feras
há verdades silêncios
que se ocultam por eras
saber desde o que é vida
até mortes de estrelas
o olho fogo do tigre
em segredo nos vela
o olho gelo do lobo
só ao ser se revela...
pois há um Sangue profundo
nos olhares das feras
há tormentas noturnas
que parecem com trevas
alto abutre nas árvores
de sentinelas eternas
serpentes que veem almas
de quem passa por elas
é que há um Fim profundo
nos olhares das feras...
09 fevereiro 2014
Qual a Solução?
essas pessoas
dizem:
não critique,
aponte soluções
não seja
pessimista, encontre soluções
não veja só
defeitos, procure soluções...
mas o que essas
pessoas
não sabem
é que “os que
criticam”
os “pessimistas”
os que “só veem
defeitos”
sabem as soluções:
a solução
está nessas
pessoas mesmas
que pedem
soluções
mas como essas
pessoas
nunca se veem
como solução
(porque já se acham
perfeitas solucionadas)
nunca haverá
uma solução
porque essas
pessoas são merda
e como não se
reconhecem
como sendo
merda
a merda
continua
e não há
solução
uma senhora
certa vez
me disse:
“então aponte
soluções”!
eu deveria lhe
ter respondido:
“claro,
a solução
é a senhora
mergulhar
a sua cara
estúpida
dos cabelos até
os tetos
numa solução de
cianureto”
07 fevereiro 2014
Rinoceronte-Negro entra para a lista de animais EXTINTOS nos últimos 250 anos. E um poema de extintos.
O Rinoceronte-Negro-Ocidental, ou africano, foi oficialmente declarado extinto. Nenhum exemplar é visto desde 2006. Em 2000, havia 20 rinocerontes-negros vivendo na África. Há ainda o Rinoceronte-Negro-Oriental, ou asiático, ou Rinoceronte-de-Java, que viva na ilha de Java, na Indonésia, cujo risco de extinção é extremamente crítico, pois a população é estimada em apenas 50 animais. Anos atrás, a outra espécie de rinoceronte asiático, o Rinoceronte-de-Sumatra, já havia sido extinta. Sobre a extinção do rinoceronte-negro, saiba mais aqui.
E, por fim, há a espécie mais conhecida e mais comum, o Rinoceronte-Branco, para o qual os esforços de conservação têm dado alguns resultados, e sua população têm se mantido estável. Porém a caça ilegal pelos chifres do animal, culpada pela extinção do Rinoceronte-Negro, continua dizimando a espécie. Enfim, ao fim de tudo, a GANÂNCIA é o que vem aniquilando com a vida na Terra. A ganância nossa de cada dia. Que está ao nosso lado e dentro de nós, e nem nos damos conta. Ou se damos, não nos importamos nenhum pouco. Um dia faremos aquilo que um ganancioso tem horror de fazer: pagar o preço. Aliás, já começamos a pagar...
A lista dos animais já EXTINTOS nos últimos 250 anos é bem maior do que muita gente pensa. Há pessoas que acreditam que o número de espécies recentemente extintas não passa de uma dúzia. A verdade é que só de mamíferos, o número chega a mais de 100 espécies e cerca de 30 subespécies extintas. De aves, o número é ainda maior: mais de 140 espécies e cerca de 70 subespécies já não existem mais em nosso planeta. Isso sem contar aquelas espécies que podem ter sido extintas sem nem terem sido catalogadas pela ciência.
Segundo estudos recentes, 25%, ou 1/4 das espécies de mamíferos atuais do planeta corre sério risco de extinção. É muita coisa. E o pior é que os números estão aumentando. E rapidamente. A extinção em massa das espécies já se iniciou.
Utilizando-me do nome de alguns dos animais já extintos, escrevi o poema abaixo:
Versos Inexistentes
Versos Inexistentes
Dodô
Emu-Negro
Foca-Monge
Asno-Sírio...
Leão-do-Atlas
Leão-do-Cabo
Zebra-Quagga
Ave-Elefante
Arau-Gigante
Íbis-Terrestre
Tigre-de-Bali
Tigre-do-Cáspio
Tigre-de-Java
Lobo-de-Honshu
Vaca-Marinha
Sapo-Dourado
Cervo-Schomburki
Gazela-Vermelha
Dugongo-de-Steller
Antílope-Azul
Raposa-das-Falklands...
Pombo-Passageiro
Lobo-da-Tasmânia...
Cabra-dos-Pirineus
Pato-do-Labrador
Jiboia-da-Ilha-Round
Rinoceronte-Negro...
Tartaruga-da-Ilha-Pinta
Lagarto-da-Ilha-de-Ratas
Wallaby-Rabo-de-Prego...
Pato-de-Cabeça-Rosa
Periquito-do-Paraíso
Bandicoot-do-Deserto
Rinoceronte-de-Sumatra
Arara-Vermelha-de-Cuba...
deixei 34
versos
inexistentes
e mais uns
outros
de adeus:
quem sabe
amigos extintos
um dia o meu
destino
beberá vinho
tinto
na presença
dos teus...
05 fevereiro 2014
Informe
o homem
(que já não tem reforma)
para hipocrisiar sua miséria
e na tentativa desinformada
de impedir que as forças se formem
formou toda forma
de (de)formações:
desde edifícios-ratoeiras
para (sobre)viverem amontoados
até máquinas práticas
(patético.)
para se acomodarem no nada
de suas disformes fôrmas vazias
e pensa entender
aquilo que se forma
com suas fórmulas cálculos cossenos...
mas não se pode
impedir que a Tormenta se forme
e se pode
cada vez menos
03 fevereiro 2014
da Destruição
o que será
será quando o é deixar de ser
e ponto.
fazer-se tabula rasa
e brasa
da lavoura que deu em nada
e plantar do nada
a próxima lavra
já dizia Picasso
que criar é destruir no antes
limpar o terreno
para plantar-se um outro outro
que será pleno
quando houver
e quando ouvir
o que for som de adiantes
tempestade que varre o que é tarde
teu cheiro que som sem alarde
joga ao não o que já (outra) era
tempestade que é o vir do que
espera...
a destruição é a mão do que há-de
e há de surgir uma outra
outrora de (human)idade
01 fevereiro 2014
Eu Carneei um Porco
eu carneei um porco
de passo a passo
de pouco a pouco
antes
tive que derrubá-lo no chiqueiro
e estirado de corpo inteiro
se imundiciava na própria
merda
e se afogava na própria
baba
e se atolava no próprio
barro
carneei um porco
como quem cospe um catarro
depois de atado com a própria
corda
(que porcos se matam
com a própria corda)
cravei a faca no exato ponto
do cardíaco músculo corrupto
corrompido de pulsar na imundícia
e ele gemia grunhia berrava
que nem mais se diria
que era o rei do chiqueiro
e caiu ao seu nível de porco
ou parecia mais ser um orc
de sangue negro nojo e podre
eu carneei um porco
que bicho baixo pobre e sujo
quando fedor daquele bucho
e que temor naquele olho gordo
que não se volta nunca ao céu
que nunca mira a luz do sol
eu carneei um porco
que morte vulgar e treda
quantos vermes naquelas tripas
quantas doenças naquelas pregas
enquanto seus órgãos
estavam ainda mornos
extirpei as carnes do porco
e dei de comer aos corvos
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