21 julho 2013

de Amar

no onírico
a alma é água
então há lago
o princípio do verso
com o que há na minha sina
há salto
em que havia em tua lágrima
em que há vôo
há queda
e há lado
e o que há
em cada deles
é o que há no todo

busquei no que passa
o que há sombra
há sempre menos
no que há de mais
o que há funda (me)
como se fosse início
de alto e precipício

e há as sentenças
que vós há sinais
com rio e sangue
por onde há rasto
o meu há lento
em frio olhar
e por fim há sopro
há claro
há solo
mas ao humano
de leito seco
não há mar

18 julho 2013

Manifesto Antipático*

não concedo
não sou
de concessões
nem de um
nem de outro tipo
evito
suavidades
e atos
que voltam atrás
aliás

não agrado
não dou o braço
(talvez só
para a dança...)
não busco a paz
não mais
(quem é pacífico
me cansa)
não me retrato
nem retrocedo
(se um dia o fiz
eu me arrependo)

não dou ouvidos
nem ouço motivos
radicalizo
definitivo
e com deboches broncos
as babetes
babadoras de botas
eu ironizo

e também não perdoo
não alivio
ou contemporizo
mas se me juram
o contrário
é claro
que não acredito

faço miséria
e mau poema

nem sinto pena


*Poema reelaborado e republicado.

Criação

I

pouco faço:
crio
como a água
desce o rio

II

se Deus
existe ou não
não
sei
sei
que a imaginação
(mas não que eu saiba)
é a continuação

III

poesia
é o que resta
do que foi verdade
em um certo dia...

17 julho 2013

Conclamação aos Homens de Bem e Progressistas a Combaterem a Marginália Deselitizada

Senhores e senhoras que fazem, que atuam, que trabalham incansavelmente em prol do avanço econômico, homens do progresso e do desenvolvimento , altos dignitários, titânicos mandatários, monumentais coronéis, solenes empregadores,  vastos proprietários de nossa cidade, venho por meia desta conclamá-los aberta e magnanimamente para combaterem a escória, a vagabundagem, a marginalidade,  a baderna, a falta de respeito e de reverência que anda degradando a honra e dignidade duramente obtidas pela nossa nobre estirpe.

Unam-se, formem trincheiras, exércitos se for preciso, porque alguns desaforados inimigos da ordem, da paz, da prosperidade estão espalhando mentiras, boatos e covardias invejosas contra as verdades já estabelecidas e naturalmente inquestionáveis em nossa cidade. Estão ferindo nosso domínio justo, natural, nosso direito divino e praticamente constitucional de mandar e desmandar segundo nosso bem entender e nosso bel prazer, o qual, mui obviamente, não se questiona, uma vez que está profundamente encravado nas tradições imodificáveis do seio augusto da nossa sociedade.

Querem acabar com tantos anos de dedicação e merecimento, desejam emporcalhar nosso nome imaculado impregnado de peso e de razão eterna, apenas para terem o prazer de satisfazer seus ódios mesquinhos e porque não podem estar no nosso lugar, nos nossos tronos absolutistas.  De onde julgam tirar argumentos contra nossas verdades há tanto tempo estabelecidas e nunca perturbadas?  Como podem se pronunciar contra o poder financeiro que é o que, gostem ou não gostem, vem mantendo viva nossa cidade?

Vejam quantos empregos temos formados, olhem para a massa de trabalhadores assalariados que construímos e que recebem todos os meses seus magníficos salários mínimos. Observem como essa gente quieta e conhecedora do seu lugar vive feliz e contente em sua rotina de trabalho por nós traçada e determinada com justiça e bondade. Vejam como são a nós gratos pelos favores que lhe fizemos em oferecer tantas e tantas vagas de miríficos empregos. Vejam como caminham humildes e satisfeitos com as vidas tranquilas com que lhes presenteamos. Agora vêm esses animais, essa corja de malandros que não tem o que fazer dizer que há algo errado, que duvidam de nossa benignidade e generosidade? Iremos permitir que espalhem o mal em nossa cidade de forma tão sórdida, cruel e sorrateira?

Reajam, senhores e senhoras, façam algo, esperneiem, chorem, intimidem, ameacem, processem, mas defendam vossas verdades, direitos, comodidades, regalias, defendam vossos privilégios que indubitavelmente foram obtidos com real sacrifício e com alianças, tratos, tratados e apertos de mão históricos e revolucionários.

Tiremos fotos juntos, abraçados, de mãos dadas, estampando vivos e celestiais sorrisos de vitória e de religiosidade, para ostentar altivamente contra os que simbolizam a maldade e a violência.

E tenho dito.



15 julho 2013

A Diferença entre uma Autoridade e um Artista

Bem, são várias, são muitas as diferenças entre autoridades e artistas. Não lembro qual escritor afirmou, creio que Fernando Pessoa, que "homens profundos não ocupam cargos de autoridade".  Mas não é disso que quero tratar. Quero tratar do seguinte: alguém já ouviu falar do senhor Carlos Barbosa Gonçalves? Talvez um que outro leitor que seja profundo conhecedor da história gaúcha. Barbosa Gonçalves foi a maior autoridade do Rio Grande do Sul, ou seja, foi o Governador do Estado (na época, Presidente) durante 1913 a 1928. Foram longos 15 anos. Porém, hoje, quem sabe sobre ele? Eu não sabia nada até hoje. 

Agora, falemos de outro gaúcho, João Simões Lopes Neto, o grande escritor dos famosíssimos e essenciais "Contos Gauchescos e Lendas do Sul". Pois Simões Lopes publicou as "Lendas do Sul" em 1913 e os "Casos do Romualdo" em 1914, ou seja, durante o governo de Carlos Barbosa Gonçalves. Na época, quem era João Simões Lopes Neto? Quase um desconhecido. Morreu pobre em 1916, ainda no governo de Gonçalves. O seu renome literário surgiu após sua morte, principalmente a partir de 1949, quando foi lançada a edição crítica de "Contos Gauchescos e Lendas do Sul". 

Hoje, Simões Lopes é considerado o maior autor regionalista do RS. Quem, ao menos, já não ouviu falar dele? Quem não conhece uma de suas lendas, "O Negrinho do Pastoreio"? Já Carlos Barbosa Gonçalves, maior autoridade no tempo de Simões, é apenas o homem que governou o RS naqueles anos. Mais nada. E quase ninguém sabe. 

O artista, quando grande e verdadeiro, fica. Porque tem alma. A autoridade, quase sempre, passa. Porque, no fundo, não significa nada. E mesmo o lembrado Borges de Medeiros, que governou o RS antes de Barbosa Gonçalves, hoje tem seu nome ainda muito falado porque está em nomes de ruas e avenidas. Mais que isso, quem é que sabe mesmo o que ele fez? 

É que o artista enxerga longe, "como os gatos, que acompanham com os olhos coisas que passam no ar e ninguém vê".  João Simões Lopes Neto

14 julho 2013

O Momento Oportuno

o momento mais oportuno
é o momento
que não é oportuno
a ninguém:
assim se vai mais além

deixar que se espere
até quando já não
mais se espera
é a forma mais severa
de se provar que se é grande:
surpreender na batalha
quando o outro julga
que não há batalha alguma
é já estar na batalha
adiante

o silêncio
prolongado ao intolerável
deixa de ser silêncio
e se torna ausência
e na ausência há medo...

no absoluto da ausência
o sim se torna segredo
e surge um auge
do que consciência:
instante em que do nada
se fala
(como aquele que não espera
mas leva o baque da bala)

o que não... é o que há.
quando deixar claro
que não é,
então será

12 julho 2013

Nas Pregas Deles

escrevo
sem nada
ao nada
com tudo
para não ter que seguir
as regras deles
nem ser menstruado
capado
cagado
capacho

escrevo
desmedido
contudo
para não ser medido
pelas réguas deles
e para não ser mais um
a punhetear no cu
como as éguas deles

escrevo
com luto
para não ter
que pedir tréguas a eles
ou ter que dizer sim
e não ser fodido por ninguém
além de mim

escrevo
com muco
para não me mesclar
com o que sai
do seu reto
do seu reto cetro
de cusco
escrevo
com cuspo
para poder cuspir
nas pregas deles

10 julho 2013

A Gloriosa, Magnânima e Sublime Imprensa Santiaguense

Não posso concordar com e nem mesmo tolerar aqueles que afirmam revoltosos e enganosos que a impressa santiaguense não é isenta, que é parcial e tendenciosa, que favorece e privilegia alguns lados, alguns grupos, alguns indivíduos, em detrimento de outros, que atua conforme seus próprios interesses e de seus patrocinadores e não em benefício da comunidade. Não, isso é uma afronta à ética dos nossos jornais (que primam pela qualidade inigualável de conteúdo, diga-se de passagem), blogs compromissadamente noticiosos e jornalistas abnegados, verdadeiros, sinceros, desinteressados, humildes e inflexíveis.

Desconheço completamente a existência, por exemplo, de favorecimentos aos nossos coronéis. E mesmo que haja algum, qual o problema que veem no fato? Nossos coronéis são todos grandes homens que honram o fio do bigode (mesmo que não o tenham) que eternamente têm controlado nossa cidade com seu reto certo, digo, reto cetro, com o único e sagrado objetivo de torná-la mais próspera e livre da canalha preguiçosa e anarquista, principalmente essa juventude corrompida e libertina que anda maculando o santo nome da Terra dos Poetas, estragando a beleza esfuziante de nossas ruas e levando a infâmia à paz das famílias progressistas.

Que nossos órgãos de imprensa beneficiem os coronéis, os homens que fazem, a gente da classe alta, a elite (afinal, o que significa a palavra elite que não “os melhores”, e classe alta é o mesmo que pessoas nobres)  é algo verdadeiramente louvável, uma vez que provam que estão alinhados e comprometidos com o que é inquestionavelmente certo, correto, justo, claro e progressista. Não, ao mencionar “progressista”, não pensem os senhores que fiz uma alusão maliciosa ao Partido dos Pobres, ou PP. O que quero dizer é que nossos órgãos de imprensa demonstram que são compromissados com o nosso desenvolvimento. Alguns invejosos, caluniosos, vagabundos, chegam ao cúmulo inaceitável de pronunciar a grosseira e grotesca palavra “cabresto” para a nossa imprensa, dizendo que foi encilhada pelos coronéis, o que, é, logicamente, um absurdo, uma atitude de má-fé e covardia. Essa gente têm provas do que afirma? Duvido muito.

Também nunca soube de casos, por exemplo, de pessoas que tenham sido excluídas dos jornais por dizerem certas verdades inconvenientes, ou seja, nunca nem mesmo ouvi falar de censura, de discriminação, de impedimento, ou daquela expressão popular e de mau-gosto: “fulano foi cortado...”. A democracia é o lema pujante, o pendão glorioso da imprensa santiaguense, onde qualquer indivíduo, mesmo que seja um pobre coitado assalariado, pode deixar livre e desimpedido a sua opinião e mesmo assim seguir trabalhando. Nem mesmo no Facebook soube de algum caso de algum jornalista ter excluído algum amigo por este estar incomodando ou perturbando as verdades já estabelecidas em nosso município.

Digam-me, cavalheiros de bem, digam-me damas espetaculares da sociedade, que magnificamente e semanalmente frequentam as páginas de glamour e badalação social de nossos jornais, digam-me se há algo mais belo, mais saudável, mais edificante do que a chegada de um honrado e ilibado homem de imprensa a algum evento, a alguma festa, enfim, a qualquer acontecimento digno de nota? Olhem, observem, admirem a divina sinceridade e alegria espontânea estampadas em seus sorrisos, que lembram as celestialidades mozartianas, e são um alento, uma esperança, uma saudação de paz e benignidade à inteligente e culta sociedade santiaguense.

Como alguém pode caluniar tais homens, próximos à grandeza dos semideuses, afirmando que são um bando de interesseiros vaidosos e narcisistas que andam atrás de vultuosos patrocínios, chegando mesmo a usar termos chulos e vulgares, como este que ouvi esses dias, mais ou menos assim: “esse pessoal da imprensa quer é encher o cu de dinheiro...”?

E como podem afirmar essas pessoas, sem amor ou bondade ou moral em seus corações, que os nossos homens de imprensa enchem seus veículos de informação de fofocas, de sensacionalismos baratos, ou de frivolidades, banalidades, futilidades, inutilidades e outras “dades” mais? Como podem?

Só falta agora cometerem o sacrilégio criminoso de dizer que nossa impressa oculta ou distorce ou omite algum fato, alguma verdade. Não, isso seria demais, ainda acredito na sensatez, no bom senso da humanidade, e espero que jamais surja uma pessoa capaz de pronunciar tamanha ideia descabida.

E eu não são serei o primeiro.

Obs.: Deixo a foto acima daquele simpático macaquinho para que nossos jornais e blogs, sempre preocupados com a questão ambiental, publiquem-na, como forma de contribuir com a preservação do raríssimo Macaco-de-Saco-Azul. Só espero que não venha algum malicioso desaforado metido a engraçadinho insinuar que publiquei a foto para que os puxa-sacos de Santiago fiquem felizes em finalmente poderem puxar um saco azul.  

09 julho 2013

Não Sirvo* (Poema Antissubmissão)

vós me perguntastes
em algum (de nenhum) tom
entre o fútil e o vago
(como se perguntar
respondesse algo)
o para quê?
serviria um poeta

respondi
(como se nem estivesse aqui)
que poeta
(se poeta)
não serve pra nada
e não serve a ninguém

poeta
(estando sempre em riste)
é o que ainda resiste
em ser-se

a função do poeta
é ser o ser em si
num mundo
onde todos são como todos
e ninguém é ninguém

sou-me
(ainda
que em um além)...

mas jamais
ser-vos


* Tendo em vista a onda de submissão e subserviência em Santiago, republico este poema.

05 julho 2013

Às Três Sonatas para Violino e Piano de Brahms

I

melodia do que me dia
e companhia
à matilha de finais
quanto mais
eu quanto contigo
canto e ergo-me
sigo-te
quantifico-me
no que me frio
deixando rastro
e foice
no dia-a-dia
que é mais um arrasto
um fogo-fátuo
do que não-fosse

II

melodia do que me tarde
tempestade-sereno
sonático beijo
em pizzicatos sinais
nota que não me acorde
rosa deixada em arpejo
esmagada por entre o ver-te
ou rosa que amarelece
a messe
por entre o meu verde

III

melodia do que noturna
sangue de cordas
de cadências de lua
friccionada em íris
piano no que te alma
enquanto tu nua
corte no opus dos olhos
látegos flagelos açoites
melodia e grito
solo e sexo
e baladas nas frontes
empunhaladas nos sonhos
melonoites

04 julho 2013

274 Espécies de Animais em Extinção no RS. 11 já Extintas

Foi divulgada este mês a lista dos espécies de animais com risco de extinção no RS. Realizada por 129 pesquisadores, a pesquisa avaliou no total 1580 espécies de animais, entre mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados. Abaixo, publico trechos da entrevista concedida por Glayson Bencke, pesquisador do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (MCN/FZB):

"Sabemos que 22% das espécies de mamíferos no estado estão ameaçadas. Quer dizer, uma em cada quatro ou cinco espécies de mamíferos está ameaçada. As aves são 14%, aproximadamente uma em cada seis espécies. Répteis são 11%, uma em cada dez espécies ameaçadas. Anfíbios são 15%; esse é um grupo que subiu bastante em relação à lista anterior. Em 2002 contabilizamos uns dez anfíbios, e agora estamos com 16, houve um aumento de 60%. Houve um aumento da extinção de peixes também; passou de 28 espécies em extinção para 69."

"As espécies campestres estão em extinção, porque os pampas e os campos de cima da serra sofreram uma redução significativa nos últimos oito e 15 anos, respectivamente, com a expansão da soja e da silvicultura, além de problemas oriundos de espécies exóticas."

"O avanço da silvicultura no Estado contribui para a extinção de algumas no sentido de eliminar o habitat das espécies que dependem do campo. A expansão ocorre nas regiões campestres, assim como a agricultura eliminou os ambientes florestais há décadas com a expansão do trigo. É um processo que se repete com as paisagens campestres, e isso preocupa porque se percebe o declínio de espécies por conta dos monocultivos. Também destaco a situação crítica de algumas espécies de peixes ao longo da costa do Rio Grande do Sul, que chegam a limites inaceitáveis, como as populações de peixes que foram levadas a zero por uma sobrepesca, chegando à beira de extinção, como os pequenos tubarões."

"Os grupos de espécies florestais, especialmente das florestas de planícies das terras baixas do litoral norte, das florestas do alto Uruguai e do planalto, que são mais degradadas, despontam como as que sustentam espécies em situação mais crítica. Nós podemos citar o norte do estado, com o Parque Estadual do Turvo, e outras poucas áreas no entorno, onde existem a anta, a onça pintada, o porco-queixada, e outras espécies praticamente restritas a essas poucas grandes manchas do norte."

Abstenho-me de comentar.

Fonte: clique aqui.


03 julho 2013

que se nubla como sangue...

nada me diz
o que não sei-me
que não fiz?
aquilo que não era
em que era
em fim será?

o que vejo
quando me sinto?
há imagem
no som
do não estar?
e o que há de meu
no íntimo
de tudo que é indistinto?

aquilo que sendo
me entardece
nuvens crepusculam tardes
aves que auroram campos
pelo inverso
solar do sono

sou eu
que tardo no que sinto
ou é o campo
que se nubla como sangue
seco e tinto?

noite que te atrás
entre a eternidade
da dúvida
o que é que tu me trazes
enquanto trago a chuva...?
e que olho de horizonte
me olha desde o ontem
entre o que vento
e o que silência
do ruir do monte?

que seja...
o que não sou
está sendo no que fiz
o que não fiz
está feito no que sou

02 julho 2013

"Doze profissões contra o Ato Médico"

O título é a manchete de uma pequena notícia veiculada no jornal Correio do Povo do dia 1° de julho, na página 15. Refere-se a uma manifestação contra o Projeto de Lei do Ato Médico realizada no centro de Porto Alegre com o objetivo de pressionar a presidente Dilma a vetar o projeto que dá exclusividade aos médicos para realizar diagnóstico e prescrição terapêutica. Psicologia, Enfermagem, Serviço Social, Biologia, Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia, Educação Física, Fonoaudiologia, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional uniram-se contra o absurdo e o retrocesso do "ato médico".

Loiva Leite, presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul afirma que "O ato médico fere não só as demais profissões, mas todo o paradigma de saúde que o Brasil conquistou na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). (...) Não concordamos que 12 profissões fiquem tuteladas pela profissão médica". 

Já escrevi no blog a respeito do assunto (clique aqui). Solidarizo-me com as profissões mencionadas acima, pois há muito considero não só um absurdo, mas um desrespeito, um atraso e uma burrice a dominação totalitária dos médicos na área da saúde. Por que mesmo os profissionais da Medicina saberiam  mais de saúde que outros profissionais que estudam tanto quanto eles? E como alguém pode considerar correto e justo um médico interferir (e mais que interferir, mas também dar o seu "aval") em outras áreas sobre as quais não tem o conhecimento necessário?

Entendo, no entanto, o porquê de o Congresso Nacional ter aprovado essa imbecilidade. É que o lobby dos  médicos, todos sabem, sempre foi e continua sendo fortíssimo por lá. Sem falar que rola muito dinheiro quando o assunto é medicina. Alem do mais,  o Brasil ainda é um país de caráter patriarcal onde o povo, inculto e geralmente submisso, vê o médico como dotado de poderes divinos. Longe de mim generalizar, mas há muitos médicos de uma arrogância e de uma frieza humana realmente estúpidas. Há alguns que tratam o paciente como um pedaço de carne ambulante (às vezes, nem ambulante...). Estou certo de que cada um dos leitores conhece, ao menos,  algum médico dessa categoria. Que acaba denegrindo a imagem dos médicos sérios e verdadeiramente preocupados com seus pacientes.

Da mesma forma, considero um roubo o preço de uma consulta particular. Sim, um roubo, um assalto autorizado por lei. Cobrar 300, 400, 500 reais por uma consulta de 10 minutos? Se não é roubo, é o quê? Em países europeus, por exemplo, o médico é visto como ele é: um profissional necessário e importante como todas as demais profissões, que deve dar o melhor de si assim como deve fazer todo e qualquer profissional sério e responsável. Não mais que isso. Nem menos. Por que aqui no Brasil querem manter e até ampliar um domínio burro, retrógrado e desrespeitoso?

E basta também dessa mania imbecil de se chamar médico e advogado de doutor. É doutor se tiver doutorado. O que também não torna ninguém melhor, pois há doutores reais (ou seja, com doutorado), em  diversas profissões, que mal sabem escrever e/ou falar em público. Não é para o Brasil acordar? Vamos ver se acorda para isso.

30 junho 2013

É sempre pior do que dizem...

eu acredito
que é sempre pior do que dizem
ou
há sempre mais do que é dito:
a humanidade tem por princípio
não saber
ou não deixar que se saiba

o que é o governo
além de controle?
e controlar é decidir
o que se pode saber ou não

o que é o povo
além de ignorância agradada?
para que o povo não saiba
o que não pode
de vez em quando
se passa a mão na sua cabeça
e dá-se um leitinho quente
para que ele durma
sonhando...

e o que é o gênio
além de develador de verdades
seja em letra em nota em cor...?

ser gênio é saber que há mais
onde não se suspeita de nada
e saber como extrair
o além
do que ali está

ser gênio
não é ser grande na humanidade
é justamente
não ser humanidade

28 junho 2013

O Problema

o problema
é que separaram tudo de tudo
como se o tudo
fosse parte
e não todo
ou como se cada parte
não fosse parte do todo

o problema
é que consideraram diferentes
todos os quase mesmos
ou mesmo mesmos
desligaram as polarizações
desigualizaram os iguais
e que uma coisa
era só uma coisa
e não poderia ser outra
como se a existência de um lado
impedisse a existência do outro
como se o som soado
(sendo Bach)
fosse uma coisa
e a música ouvida
(sendo Bach)
fosse outra
podendo ser cortada
pelo meio

o problema
é que consideraram
o que está abaixo
como sendo só o que está abaixo
inclusive o que está acima...

e então que o todo
venha tudo abaixo

26 junho 2013

da Opinião Unânime

desconfio
de toda opinião unânime
ou quase unânime:
pusilânime
desconfio
de tudo que é tido
como já tido
como aceito
do tipo
“isso é o certo
o correto
e não tem jeito.”

desconfio
de tudo que é dado
para se ficar
do lado
do que é dado
como fato
e ato
do que sensato

porque isso
me cheira
a enfático
a acrítico
midiático
patriótico
idiótico
mecânico
robótico

porque isso
me cheira
a coisas
enfiadas
pela goela
ou mais adiante
com cobertura
de chocolate
ou
com lubrificante