04 julho 2015

"NOJENTO! FÉTIDO! ISTO NÃO É POESIA!"

É, ele de novo, Bukowski. Que posso fazer se o cara nos afronta com uma verdade atrás da outra? E as diz de maneira ofensivamente simples, direta, como um soco. Aqui, ele fala de poesia e da aceitação (ou não) da sua obra. Mais uma vez, chutes na bunda dos que acham que poesia é escrever sorrindo... Os trechos foram retirados do livro "Pedaços de um Caderno Manchado de Vinho".


"Não cabíamos, é claro, na forma agradável  e entorpecida de suas mortes. E então começou a gritaria dos mortos:
"NOJENTO! FÉTIDO! ISTO NÃO É POESIA!"
Para muitos, a poesia deveria dizer apenas coisas seguras, ou mesmo nada, pois a poesia é um mundo seguro e um caminho seguro para essas pessoas. A delicadeza de sua poesia reside em falar apenas sobre aquilo que não importa."

(...)
"Perguntei à minha mulher:
- O que sua mão achou do meu livro?

- Ela disse "Por que ele tem que usar esse tipo de linguagem"?
Era bem provável que ela se referisse aos diálogos, mas tenho certeza que ela também estava incomodada pelas frases entre elas: duras, quebradas, agitadas, estígias.


Eu tinha trabalhado com fé inabalável em cavernas abafadas para deixá-las assim. Sentia-me legitimado por haver desagradado pessoas como a minha sogra. Se ela tivesse aceitado meu trabalho, isso seria temeroso para mim, um sinal de que eu tinha me tornado palatável, ao modo dos profissionais. 
Eu passara por um longo e fodido processo de aprendizagem.

Eu queria resistir a todas as armadilhas para morrer junto à máquina de escrever, uma garrafa de vinho à minha esquerda, e o rádio tocando, quem sabe, Mozart, à direita."

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