venho dizer que não digo
escrevo estas palavras
para afirmar que as não escrevi
aliás nunca afirmo nada
nem o que foi afirmado
que fique estado
que não estive aqui
nem sei o que é estar
nem me posso saber
ou deixar de saber
qualquer algo que seja
ou deixe de ser
porque vem a ser um ato
e nunca realizo um ato
ou deixo de o realizar
acredite que não há por que
em acreditar-me
eu não me sou possível
e já provei
que não me podem provar:
é óbvio que não me existo
isto que fiz ou criei
está visto (ou nem visto)
que não foi feito ou criado
não há nenhuma palavra aqui
que tenha por si uma vida
e que diga alguma coisa
é só vento perdido no ar
fruto de acaso irrealizado
que ao fim resulta em nada
e que se formaram porque se
formaram
sem causa motivo ou consequência
(e se houver não há de mim)
ao que se conclui
que não tenho existência
(e nem se pode concluir nada)
e não me podem falar de meu eu
que nem constitui um eu
e estejas certo
que o que aqui leste
não foi por ti lido
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