gosto de não ser entendido
é bom não ser o que se é
(é o que mais me faz sentido)
que a poesia é para se ser
(independente de clara ou grega)
e isso chega
além do mais
(poesia é só sinais)
por que querer que eu seja
o que sou aqui?
sou no verso que deixo
mas não sou o que deixo do verso
vou muito mais disperso
e falo do que não é meu eu
não me confundam
com o que eu disse
e vice-versa e versa-vice
as palavras que (fatalmente) digo
nem sei se estão comigo
elas vieram e eu as disse
como o mafioso que atira
porque tem que atirar
não importando
o quem vai matar
porém
cada palavra
é cálcula meditada
(ou me ditada)
que tudo é cálculo
por mim mesmo feito
ou de algum jeito
(talvez de outrem
ou talvez imperfeito)
captado
e este mesmo poema é um plano
(que o não sei)
num além executado
(talvez meu talvez não
talvez um nada
talvez prenúncio
de furacão)
não é meu eu que se é
o que sou não é o que sei
ou o que me conduz...
e talvez um poema
seja a verdade
daqui a alguns anos
luz
*Poema reelaborado e republicado
Um comentário:
Excelente poema!
Talvez por me achar tão pouco entendida, não há muito escrevi um "sussurro" que termina assim:
"Não quero em mim a tua pena, quando sussurro os suspiros da memória.
Sou muito mais do que as peles que visto.
Sou árvore ... e por mim, passam todas as estações." Sónia M.
Abraço!
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