Me
acordei-me com os gritos irritantes de uma mulher sendo estuprada bem na
calçada da rua, na frente da minha casa. Tenho o mau-hábito de chamar de casa o
porão bolorento e empesteado em que vivo. Fui ver quem era. Funkeiros de merda.
Não estava sendo estuprada, era a maneira estúpida daquela puta dar. Como já eram
seis da tarde, decidi levantar e ir ao supermercado comprar bebidas, cigarros e
algumas porcarias enlatadas e empacotadas baratas.
“Fodam
essa vadia longe daqui!”, gritei pra aqueles bostas, enquanto dava um coice na
bunda imunda de um deles e fechava o portão enferrujado, úmido e pegajoso. Mais
um dia de chuva ácida. Por isso moro no porão, não há perigo de haver furos no
teto causados pelo ácido da chuva. E se a casa desabar, o que é bem provável
com as enchentes sem fim dos últimos meses, o porão ainda permanecerá quase que
intacto, comigo e com os ratos, baratas e mosquitos. Antes também convivia com
sapos, eram os mais simpáticos, mas desapareceram. Devem ter sido vítimas de
algum tipo de poluição ou radiação. Certa vez li que os anfíbios eram
facilmente afetados pela radiação ultravioleta do sol. Deve ser verdade.
Cheguei
ao mercado já de noite, com os pés embarrados. Disseram-me que eu deveria
limpá-los, esfregá-los em um tapete imundo num canto da entrada. Mandei que tomassem
no cu, queria sair dali logo e voltar para o meu porão ouvir Penderecki. E tudo teria corrido bem, teria feito minhas
compras estúpidas numa boa, como sempre faço, não fosse aquela cena
absolutamente imbecil e nojenta que fui obrigado a observar, que me deixou
ainda mais mal-humorado.
Uma
velha que devia ter mais de 80 anos, mais feia que uma bruxa sifilítica, não por
ser velha, mas por ser feia mesmo, de repente, rindo como um palhaço idiota,
tirou toda a roupa, inclusive suas calcinhas grudentas, abriu as pernas
raquíticas e tapadas de feridas e começou a enfiar em sua vagina um vidro de
extrato de tomate. Sei lá o que ela pretendia, devia estar se masturbando. Todos
os outros no mercado observavam com ar de curiosidade e satisfação. Eu apenas
sentia nojo.
Mas
a velha apertou com tanta força aquele vidro de extrato de tomate que ele se
quebrou no meio de sua vagina e os cacos cortaram aquilo que deveria ser seu
clitóris. E uma mistura de sangue e extrato de tomate escorreu até o chão. Nisso,
um gorducho enlouquecido com uma camiseta com aquelas ridículas propagandas de
cerveja, que surgiu não sei de onde, se atirou entre as pernas da velha e
começou a lamber e a chupar aquele asqueroso líquido vermelho que escorria. As expressões
de prazer, tanto da velha quanto do gordo, deram-me náuseas. E olhem que sou
forte de estômago, acostumado que sou a comer entre os esgotos. Creio que a
velha teve um orgasmo.
Alguém,
um bosta, é claro, mas que não havia percebido antes, filmava aquela cena
maldita e berrava que iria postá-la na internet, com o que todos concordavam,
guinchando como jaguaras sarnentos. Passaram-se alguns minutos, a velha se
levantou, sempre rindo, com as pernas abertas, pingando uma gosma avermelhada e
voltou a fazer compras, pelada. O gorducho abriu um vidro de pepinos em
conserva, empinou e bebeu todo o líquido, balbuciando que gostava de água de
pepino em conserva com extrato de tomate, enquanto tirava para fora seu pênis e
se masturbava.
E
ninguém deu mais bola pra tudo aquilo, voltaram pra suas compras, e, como se
fossem múmias, nem mais falaram uma palavra sequer sobre o “show com molho”. Estavam
todos acostumados, somente eu ficara repugnado. Merda, ainda sou um sensível.
Ah, que se foda, pensei. Peguei minhas garrafas de conhaque bagaceira, minhas
carteiras de cigarro barato e minha merda de comida e voltei pra casa sem
pagar nada. Quando estava na saída do supermercado, o gorducho que havia
chupado a velha gritou: “não vai pagar, seu sem-vergonha?” Ele era o segurança
do mercado. Mandei aquele filho da puta à puta que pariu. E foi minha mais profunda
filosofia de toda aquela semana.