28 abril 2013

Fragmento Absurdo de Uma Existência Futura n°2 – A Vagina e o Extrato de Tomate


Me acordei-me com os gritos irritantes de uma mulher sendo estuprada bem na calçada da rua, na frente da minha casa. Tenho o mau-hábito de chamar de casa o porão bolorento e empesteado em que vivo. Fui ver quem era. Funkeiros de merda. Não estava sendo estuprada, era a maneira estúpida daquela puta dar. Como já eram seis da tarde, decidi levantar e ir ao supermercado comprar bebidas, cigarros e algumas porcarias enlatadas e empacotadas baratas.  

“Fodam essa vadia longe daqui!”, gritei pra aqueles bostas, enquanto dava um coice na bunda imunda de um deles e fechava o portão enferrujado, úmido e pegajoso. Mais um dia de chuva ácida. Por isso moro no porão, não há perigo de haver furos no teto causados pelo ácido da chuva. E se a casa desabar, o que é bem provável com as enchentes sem fim dos últimos meses, o porão ainda permanecerá quase que intacto, comigo e com os ratos, baratas e mosquitos. Antes também convivia com sapos, eram os mais simpáticos, mas desapareceram. Devem ter sido vítimas de algum tipo de poluição ou radiação. Certa vez li que os anfíbios eram facilmente afetados pela radiação ultravioleta do sol. Deve ser verdade.

Cheguei ao mercado já de noite, com os pés embarrados. Disseram-me que eu deveria limpá-los, esfregá-los em um tapete imundo num canto da entrada. Mandei que tomassem no cu, queria sair dali logo e voltar para o meu porão ouvir Penderecki.  E tudo teria corrido bem, teria feito minhas compras estúpidas numa boa, como sempre faço, não fosse aquela cena absolutamente imbecil e nojenta que fui obrigado a observar, que me deixou ainda mais mal-humorado.

Uma velha que devia ter mais de 80 anos, mais feia que uma bruxa sifilítica, não por ser velha, mas por ser feia mesmo, de repente, rindo como um palhaço idiota, tirou toda a roupa, inclusive suas calcinhas grudentas, abriu as pernas raquíticas e tapadas de feridas e começou a enfiar em sua vagina um vidro de extrato de tomate. Sei lá o que ela pretendia, devia estar se masturbando. Todos os outros no mercado observavam com ar de curiosidade e satisfação. Eu apenas sentia nojo.

Mas a velha apertou com tanta força aquele vidro de extrato de tomate que ele se quebrou no meio de sua vagina e os cacos cortaram aquilo que deveria ser seu clitóris. E uma mistura de sangue e extrato de tomate escorreu até o chão. Nisso, um gorducho enlouquecido com uma camiseta com aquelas ridículas propagandas de cerveja, que surgiu não sei de onde, se atirou entre as pernas da velha e começou a lamber e a chupar aquele asqueroso líquido vermelho que escorria. As expressões de prazer, tanto da velha quanto do gordo, deram-me náuseas. E olhem que sou forte de estômago, acostumado que sou a comer entre os esgotos. Creio que a velha teve um orgasmo.

Alguém, um bosta, é claro, mas que não havia percebido antes, filmava aquela cena maldita e berrava que iria postá-la na internet, com o que todos concordavam, guinchando como jaguaras sarnentos. Passaram-se alguns minutos, a velha se levantou, sempre rindo, com as pernas abertas, pingando uma gosma avermelhada e voltou a fazer compras, pelada. O gorducho abriu um vidro de pepinos em conserva, empinou e bebeu todo o líquido, balbuciando que gostava de água de pepino em conserva com extrato de tomate, enquanto tirava para fora seu pênis e se masturbava.

E ninguém deu mais bola pra tudo aquilo, voltaram pra suas compras, e, como se fossem múmias, nem mais falaram uma palavra sequer sobre o “show com molho”. Estavam todos acostumados, somente eu ficara repugnado. Merda, ainda sou um sensível. Ah, que se foda, pensei. Peguei minhas garrafas de conhaque bagaceira, minhas carteiras de cigarro barato e minha merda de comida e voltei pra casa sem pagar nada. Quando estava na saída do supermercado, o gorducho que havia chupado a velha gritou: “não vai pagar, seu sem-vergonha?” Ele era o segurança do mercado. Mandei aquele filho da puta à puta que pariu. E foi minha mais profunda filosofia de toda aquela semana.


27 abril 2013

Patético


Beethoven compôs
a Sonata Patética
na época
que patético
significava
algo como “trágico”
estando de acordo
com o romântico
daquela época

hoje mudou-se rápido
e patético
significa algo como “ridículo”
e escrevo um poema patético
estando de acordo
com o homúnculo
desta época

hoje
a humanidade é prática:
as coisas passam tão súbitas
que logo o tudo é nada
fogo de palha
mísera
palha assada


25 abril 2013

de Povo e de Festa


I

enquanto vai o povo
in festança
vai nossa câmara
in festada

II

o povo
medíocre
em seu imediatismo
acha que é homem
quem troca logo o bico
e depois
leva um chute de bico
do político
medíocre
em seu imerdiatismo

III

quando vejo os políticos
reunindo-se em suas campanhas
sinto insuportáveis ascos
em saber o que há...
no cheiro daquelas picanhas
e na graxa daqueles churrascos



24 abril 2013

Triunfo das Pragas


não sei...

talvez bombom
sobre  madeira de mesa
com o recheio (por carunchos)
mastigado

talvez panela
sobre grade de fogão
com a comida (por moscas)
vomitada

talvez livro
em canto de estante
com as páginas (por traças)
destroçadas

talvez banheira
em escuro de quarto
com as águas (por ratos)
defecadas

talvez armário
em fundo de cozinha
com as gavetas (por baratas)
preenchidas

não sei...
mas talvez seja só isso
o coração humano

22 abril 2013

das Armas


um revólver taurus
calibre 38
seis tiros
4 polegadas
de início
depois
pode ser pistola
uma beretta mesmo
ou quem sabe a magnum 44
ou até espingarda
garrucha
mosquete
arcabuz

e o que dizer da metralhadora?
nem precisa
ser as moderníssimas atuais
já serve a dos anos 30
a thompson “tommy gun”
do capone e turma

mas claro que perfeito
também é um fuzil de assalto
até uma sub
ou indo para a browning m2
sem desprezar canhões
bazucas
e granadas

e depois
até serve um punhal
uma besta da idade média
uma machadinha
ou um facão de campanha
ou a faca mesmo
usada nas carneadas
e ainda uma espada de guerra
daquelas de ponta afiada
para deixar na cara
a assinatura

qualquer uma
tudo isso
tem bom uso
na literatura

21 abril 2013

O que é mesmo Terrorismo?


É terrorismo explodir bombas em lugares públicos, durante eventos e comemorações, matando pessoas inocentes? Obviamente que sim. Mas também não é terrorismo a dominação político-econômico-cultural, a imposição da lei do mais forte a outros povos e nações também inocentes? E o que é exatamente ser inocente? O pensamento americano de que eles, e somente eles, são o centro do mundo não é algo presente na mente e no comportamento da grande maioria dos cidadãos norte-americanos? Isso também não é uma agressão à humanidade? E também não é uma forma de terrorismo?

A reação terrorista é violenta, brutal, inaceitável? Sem dúvida. Mas e o que provoca essa            reação? Somente a religião? É fácil culpar os homens pelas suas supostas atitudes religiosas, porque dessa forma, intencionalmente, ocultam-se os motivos mais profundos, mais complexos, onde se escancara a injustiça dos dominantes sobre o dominados.

O que dizer da atuação exploratória, predatória das grandes multinacionais nos países subdesenvolvidos? Há justiça no neocolonialismo? E os seus absurdos lucros obtidos? Obtidos em cima do quê? De quem? Quem paga o lucro estratosférico das grandes empresas? Paga de que forma? Consumindo? O consumismo é uma escolha absolutamente livre de cada indivíduo ou é uma imposição dissimulada da mídia? Seria isso terrorismo? A quem serve a grande mídia? Aos oprimidos?

A concentração de renda não seria a mais sórdida categoria de terrorismo? A concentração é legal, a lei permite. Aí se encontra a sua maior malignidade. O diretor de uma grande empresa trabalha mais do que um agricultor familiar no campo? Então, por que mesmo sua renda é inconcebivelmente mais alta? E isso não é terrorismo? Quando o terrorismo é praticado pelas elites, não se chama terrorismo, chama-se sistema financeiro, chama-se bancos e banqueiros, chama-se “desenvolvimento”, chama-se  “progresso”.

O dito “marginal” que assalta, as quadrilhas criminosas que se proliferam, a violência dos centros urbanos devem ser combatidos e punidos? Logicamente. Mas e o que ocasiona tal violência? E o desejo de consumo, alimentado, por exemplo, pela televisão, pelas vitrines dos shoppings, pela ditadura da “vida feliz” dos nossos dias, esse desejo imposto pelos padrões da sociedade, não é uma atitude terrorista? E os que não podem satisfazer essa imposição intitulada “desejo de consumo” porque a sociedade não lhes permite devido às “regras do sistema”...  esses fazem o quê? E quem estabeleceu tais “regras”? Com que propósito? Pelo benefício de quem?

É cômodo dizer que os homens são terroristas, assassinos, criminosos, violentos e que devem estar mortos ou atrás das grades. E talvez realmente o sejam. Mas o que ou quem os fez assim?


“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.”

Bertolt Brecht




19 abril 2013

Para quê Dizê-la?


o que será que diz
a palavra que nunca disse?
mas eu sei o que ela é
só não consigo fazer
com que ela diga
o que no fundo
estou me sempre dizendo

mas não é bem que eu saiba
é talvez que eu sinta
e como saber e sentir
em uma palavra tão só?
talvez se confundam tanto
que se tornem outra coisa além
que não a coisa a ser dita

e também não é bem sentir
que o sentir ainda não é
bem o que está aqui ou ali
talvez seja um algo mais ao alto
em que tão claro
que não vejo do que me veja
e ainda que eu veja
não me alcanço tornar tornado

mas também ...
por que eu hei de dizê-la?
seja lá o que eu diga
não fará alguém olhar uma estrela

18 abril 2013

Arte da Fuga


a realidade
é maior e melhor
com Fantasias de Brahms
com a Isolde de Wagner
ao Luar de Beethoven
em Noturnos de Chopin...

a vida é mais vida
se Romântica
de Bruckner
mas Inacabada...
de Schubert
e se sabendo a Arte da Fuga
de Bach...



16 abril 2013

Fragmento Absurdo de Uma Existência Futura n°1


Fumando mais um cigarro, sentado no horror da minha cozinha, recordo-me, em deprimente indiferença (uma suprema indiferença tem sido a tônica da minha vida), os tempos em que eu assaltava bancos com meus amigos.  Bons tempos. Agora devem estar todos mortos. Eles, meus familiares e aquelas mulheres, poucas, bem poucas, que amei. Ou quase isso. Na verdade, nem sei se estão mortos ou não. Nunca mais soube deles. Nem tenho como saber, por mais que eu deseje. E também, agora,  já nem desejo tanto assim.  De que adiantaria? Mas devem estar mortos, é o lógico, dadas as circunstâncias. E em breve eu também estarei morto, é só uma questão de tempo. Sinto-me realmente doente. Não sei de qual doença se trata, é tudo tão confuso, uma reunião de sintomas de que nunca ouvi falar, sobre os quais nunca li, mesmo com os razoáveis conhecimentos de medicina que possuo. 

É como se minha pele ardesse e coçasse, saindo pequenas feridas purulentas em várias partes do corpo. Meus olhos ardem e estão sempre vermelhos. Às vezes, tenho pequenos sangramentos do nariz, dos olhos, das feridas da pele. Meu catarro grosso e amarelado volta e meia está manchado de sangue. Seguidamente, tenho febre. Por vezes, alta. Minha cabeça dói. Tenho tonturas, vertigens. De vez em quando, algum tipo de alucinação. Além de outros sintomas menores. Deve ser alguma doença oriunda da água contaminada ou da comida apodrecida. Ou, talvez, levando-se em conta os problemas de pele, pode ser efeito da radioatividade. Afinal, ela deve estar muito alta nessa região. E não só aqui, obviamente.  Aliás, a doença não deve ser A doença, mas AS doenças. Devo estar com um monte de merda em meu corpo. Só sei que não é aquele vírus que dizimou a cidade, porque o principal sintoma da epidemia era diarreia, e isso, pelo menos, eu não tenho. Ou também pode ser uma mutação do vírus, sei lá. Mas enfim, agora, o que importa? Como sei que não há forma de me curar, ainda que eu soubesse do que se trata, aguardo a morte. E mesmo que eu pudesse me curar, viveria pra quê?

Seja como for, a doença não me tirou o apetite. Tenho fome. E muita. Agora mesmo, estou pensando no que vou comer. Há meses, eu e alguns vizinhos, que já estão mortos, saqueamos todos os supermercados da cidade. Eu e meus vizinhos fomos os únicos que sobrevivemos após a epidemia do vírus desconhecido. O vírus havia contaminado a rede de água da cidade, mas nunca bebíamos água da torneira. Bebíamos de um grande poço artesiano que mantínhamos em conjunto. Quando a população inteira foi morrendo rapidamente, defecando sangue e pedaços de órgãos, isolamo-nos em nossas casas, bebendo água somente do poço e nos alimentando de nossos estoques. Mas, quando os estoques acabaram, tivemos que sair para procurar comida.

Nas ruas, cadáveres e mais cadáveres, todos mortos, todos. O fedor era insuportável. É interessante notar como a necessidade imperativa, imediata, de alimentos parece debochar daquilo que chamamos de “humanitarismo”, “compaixão” “amor ao próximo”. Pisando por entre cadáveres, sofríamos com a morte de outros seres humanos, muitos, conhecidos meus, mas isso não impedia que corrêssemos por entre eles esmagando involuntariamente seus crânios ou afundando os pés na sua carne apodrecida, ou chutando seus corpos para abrir caminho o mais rápido possível, sem absolutamente nada daquilo que chamaríamos “respeito pelos mortos”. E quanto aos meus vizinhos, em nenhum momento eu pensei em auxiliá-los na busca por alimentos, ou em dividir parte do que eu tinha conseguido saquear. Muito pelo contrário, era cada um por si, e o que conseguíamos pegar antes que algum outro pegasse era comemorado como uma gloriosa vitória. Naturalmente que brigas existiam, e violentas. Eu mesmo tive que matar dois de meus vizinhos. Quando digo que tive de matar, era porque a questão era simples: ou eles ou eu. O primeiro, matei com um espeto que estava ao meu alcance em um supermercado, pois disputávamos os últimos pedaços de carne fresca. O segundo, estourei os miolos com minha pistola, para poder ficar com um imenso estoque de frutas secas que ele tinha roubado.

De modo que agora, logo ao acabar de fumar meu cigarro, comerei algumas nozes. É curioso notar a forte semelhança do formato interno das nozes com o cérebro humano. Mais interessante ainda é o fato de eu ter obtido essas nozes estourando o cérebro de um dos meus vizinhos, com o qual eu até mantinha uma amigável relação. Remorso? Que nada!  O que significaria agora o remorso? Fiz o que deveria ter feito. E isso é tudo. Valeu a pena pelas nozes que comerei agora.

15 abril 2013

Três Considerações Sobre o Fanatismo


I

fanatismo
é observar um galho
como se fosse a árvore
e querer que o galho
seja a árvore

II

todo homem se suicida:
seja em corpo ou mente
em psique ou alma
de tal ou qual forma
em maior ou menor grau

fanatismo
é não perceber seu suicídio
como suicídio

III

fanático
é quem quer
que o seu eu
seja o meu



12 abril 2013

Um Círculo


o infinito é um círculo
que se infinita em seu dentro
por círculos infinitos
ao infinitesimal
o universo é um círculo
que se circula a si mesmo
circulando o que envolve
e o (re)tornando círculos
fazendo do círculo
o universal
a vida é um círculo
que em uma volta
é o que se vive
e em outra volta
é o que se morre
e em (re)volta
é o que (re)nasce
ao imortal
o cosmos é um círculo
do olho que olha
do surgir da água
ao cair da folha
um círculo
da estrela ao átomo
da música ao dito
o círculo é um infinito




11 abril 2013

Contos de Terror

O amigo e escritor baiano Paulo Soriano, em parceria com o também escritor Luciano Barreto, lançou a nova versão de seu excelente site dedicado à literatura fantástica e de terror, um dos mais importantes da categoria no Brasil, intitulado Contos de Terror. Na página, bastante ampla e diversificada, estão reunidos os autores brasileiros (e não só brasileiros) do passado e do presente que têm escrito e publicado dentro da literatura fantástica, gênero consolidado na Europa e em diversos países sul-americanos, como Argentina e Uruguai, mas que ainda sofre determinado preconceito no Brasil. Tenho a honra de ser um dos autores participantes. 

Vale a pena conferir o site, principalmente os fãs do gênero. Basta clicar aqui.

10 abril 2013

Morte da Humanidade


caim
matou abel
irmão
matou irmão
ou o outro
matou o outro?

o outro é o mesmo
e o mesmo
matou o mesmo?
outro
é igual a outro
o outro é todos
e o todo é um

o outro
é o eu mesmo
que é o homem
e o eu
matou o outro
e o outro era o homem
o homem
matou a si mesmo
e o si mesmo
matou a humanidade

08 abril 2013

da Realidade


o trono real
sempre passa
quem é rei hoje
amanhã some
e não passa de um nome
passado pisado
pela pressa da traça:
a realidade
é o que vemos
do opaco 
da fumaça

qual a real-idade
do que se olha?
talvez seja
a da folha
que se passa
quando voa
talvez seja
a do tigre
dente-de-sabre
que o que era
noutra era
ninguém sabe

o real está onde?
é claro como o dia
ou anoitece como a noite?
é antes pensado
ou antes sentido?
ou é aquilo
que se esconde?

talvez o real
seja o símbolo
ou a primeira camada
de um sinal
por isso
o que dizem sê-lo
não me vale um selo
de 1 real


06 abril 2013

Qual a Utilidade do Legislativo Santiaguense?

Publico texto de autoria de Vanderlei Almeida, presidente do Partido Verde de Santiago:


"A Grande Utopia!

Hoje, após ler no jornal Expresso Ilustrado a notícia que uma vereadora quer o fim das orações para dar inicio aos "trabalhos da casa", quase acreditei que teríamos vereadores(as) com a capacidade de debater os problemas sociais, enfim assuntos de importância à nossa sociedade. Lamentável. E ainda falam do TIRIRICA. Bom, o circo esta armado! Refleti por alguns minutos, e lembrei: quem sabe, as orações, as imagens de santos podem deixar essas pessoas perturbadas, pois rezar, agradecer pelo belíssimo emprego que possuem, e não fazer nada pode causar um mal na consciência dos mesmos. 

Reivindicam para ampliar os horários nas escolas municipais, sendo que nossos nobres vereadores trabalham segunda-feira das 14h até as 16h, no máximo duas horas, uma vez por semana.  Discursos vazios, promessas esquecidas, mas, enfim, somos culpados por elegermos pessoas que se utilizam da tribuna para mandar abraços a amigos, ao pessoal do "rodeio", para reclamarem de seus próprios salários, embora alguns possuem o privilégio de ter dois ordenados, mas mesmo assim "representam" seus eleitores. Deixo aqui o meu desabafo e meu repúdio a políticos que apenas estão interessados em solicitar um bico de luz e patrolamentos no interior. Enquanto isso, ainda continuamos a acreditar na mudança, na coerência de um bom discurso recheado com uma boa dose de mentiras."

Vanderlei Almeida

Bastante a propósito o texto do amigo Vanderlei. Estava pensando, há alguns dias, justamente em tais assuntos agradáveis. O que faz mesmo a maioria dos nossos vereadores? Coçam o saco? E daÍ? Numa cidade de puxa-sacos vai se coçar o quê? Bem, mas não podemos exigir que façam muito, afinal, com o salário de fome que ganham, podemos esperar algo melhor? Duas horas por semana é até demais. Agora, querem o quê? Que sejam como todo e qualquer empregado, que cumpram um horário fixo, que não mintam, que não sejam hipócritas, que se preocupem com assuntos sérios, que tenham compromissos com o povo? Ora, por que eles deveriam ser assim se ninguém o é? Se ainda recebessem uma compensação financeira decente...

E quando pensamos na trabalheira que tiveram alguns de nossos representantes na câmara para se eleger, aí sim entendemos melhor que, de fato, devem passar todos esses quatro anos descansando, é absolutamente justo. Sabemos o quanto sofreram em suas campanhas. Pagando festas e combustível para os amigos, ou necessitando  gastar o dinheirinho suado do papai ou da influência celestial dos nossos sublimes coronéis, ou ainda andando com roupas simples de bairro em bairro, de vila em vila, exercendo a dura pose de bom moço(a), com aquele trabalho insuportável de ter que apertar a mão de todo mundo, mãos sujas, contaminadas, distribuir sorrisos forçados (imaginem tamanho sacrifício, o de ficar sempre sorrindo), ser simpático por obrigação, tendo criatividade para inventar promessas populistas, passando as noites em claro para escrever discursos inflamados e vazios, imaginem como é algo estafante acumular palavras e mais palavras que não digam nada, enfim, o negócio não é fácil, exige muito de um ser humano, uma campanha para vereador é algo que nos esgota totalmente, exaustivo, desolador.

Por isso que entendo, e não só entendo, mas também louvo, nossos vereadores que agora não trabalham, estão justamente sendo pagos pelo povo que os elegeu para descansar. É a ocupação deles, desocupar-se. Não os culpo. E se há ali algum vereador que trabalha, este é um louco, um anormal, talvez até um criminoso, que julga que assim será reeleito.  Depois de toda uma campanha dessas ainda ter a cara de pau de TRABALHAR? Ora, façam-me o favor.

E, ainda por cima, após passarem por todos esses calvários, depois de eleitos ainda têm que aguentar as críticas caluniosas dos invejosos, daqueles que não tiveram a capacidade de se candidatar e de se eleger. Quanto ódio, meu Deus, quanto ódio!

05 abril 2013

Para Aqueles que Aprenderam a Lição


sentiu
aquele gosto
de esgoto
trago que traga
a quem o traga
como se tivesse de almoço
a própria praga

sentiu aquele gosto de rato
como se um deles mijasse no prato
e boiasse uma merda no copo
depois descendo
pela ardência do esôfago
e ouviu o baque báquico
de sua queda
na úlcera fúngica
do estômago

sentiu aquele gosto do tarde
como se mastigasse o cáustico
(tremendo as mãos dormentes)
com o farelo da quebra dos dentes
e sangue de porca num jarro
no desespero do erro
infeccionado
pelo espesso do catarro

sentiu aquele gosto de gente
na garganta de traqueia exposta
(a lição de não vomitar bosta)
naquele ato
do após que falava
que era engolir
palavra por palavra

03 abril 2013

Não Valeu a Pena


humanidade
eu poderia matar-te
ser condenado
e cumprir a pena...
mas não vale a pena

eu poderia matar-te
sem a culpa a mínima
sem qualquer remorso
ou arrependimento
talvez sentisse
uma mísera pena...
mas não vale a pena

eu poderia matar-te
como tantas aves
que mataste
e apenas
para o teu progresso
lhes roubaste  as penas...
e é uma pena
mas não valeu a pena

02 abril 2013

Monografia

O amigo e professor Diego Fiorenza Nunes, em sua monografia de conclusão do Curso de Letras, escolheu abordar a minha obra, mais especificamente, meus textos em prosa, analisando o conto "A Morte Lenta da Bela Mulher". O Diego realizou um competente e abrangente trabalho, analisando o conto sobre diferentes aspectos e relacionando-o com as influências do escritor e sua vida.

Sinto-me honrado e agradecido ao amigo Diego não só pela escolha de minha obra como tema, mas também pela excelente efetivação do seu trabalho e pelo auxílio na  divulgação de meus escritos. Abaixo, o título e resumo de sua monografia:



A PROSA DE ALESSANDRO REIFFER: Um Moderno Santiaguense

RESUMO

O objetivo desta pesquisa acadêmica é registrar um estudo das constitutivas da prosa do santiaguense Alessandro Reiffer, escritor de características modernistas, que hoje, aos 35 anos, já é dono de uma vasta obra, com temática e estilo bem definidos. Mais especificamente, a pesquisa busca situar a obra em prosa do autor nos períodos literários, por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre as principais vanguardas européias que deram origem ao Modernismo, visando a apontar para as semelhanças e diferenças entre a contemporânea obra de Reiffer e o período inicial do movimento no Brasil e no mundo, na busca por indícios que apontem para as influências e características que conferem ao escritor seu estilo, sua linguagem, sua temática e a crítica presente em seus textos. Buscam-se dados também nas obras de autores como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, Franz Kafka, Dostoievski e Jorge Luís Borges. Tais dados são confrontados com especificidades presentes no conto de Alessandro Reiffer, chamado A Morte Lenta da Bela Mulher, que servirá de base para a análise. O Estudo faz também um levantamento biográfico, com informações pessoais do autor e da obra publicada em livros, jornais, revistas, fanzines literários, sites e blogs, com dados e informações fornecidos e autorizados por ele próprio. Espera-se que o estudo possa também servir, futuramente, como uma referência histórica do período literário da cidade de Santiago a que pertence o poeta Alessandro Reiffer.   

Diego Fiorenza Nunes