A bela Chapeuzinho verde-limão,
contrariada e com muita má-vontade, levava em uma pequena sacola os remédios
para sua avó, conforme ordenara sua mãe. Eram medicamentos contra a hipertensão
e a diabete, adquiridos gratuitamente em uma farmácia popular. Os tempos
mudaram. O mundo está melhor.
Chapeuzinho
detestava ir à casa de sua avó, porque ela deveria seguir uma trilha por entre
a mata, e a natureza causava respulsa à bela menina, de pele tão branquinha.
Reclamava dos mosquitos, tinha medo das cobras nojentas, repugnava-lhe ter que
atravessar a pontezinha sobre o riacho, pois receava que ela pudesse cair, já
que era muito velha. A ponte, não a menina. E cairia naquela água suja, imunda,
pois há muito o riacho não era mais virgem. Volta e meia, poderiam ser
observadas algumas fezes flutuando naquelas águas plácidas.
O
canto dos pássaros não a comovia, antes, a irritava. E a beleza das árvores? Na
cidade ela até gostava, mas no meio do mato não tinha graça nenhuma, todas
aquelas árvores ali amontoadas, quase todas iguais. Era uma menina urbana e moderna, preferia
passear nos shoppings e contemplar as vitrines das lojas, como toda boa
consumidora que adorava andar sempre muito bem arrumadinha. De modo que somente
visitava sua avó quando era obrigada por sua mãe. Nesses momentos maldizia
aquela velha rabugenta que fedia a fumaça de fogão. E maldizia sua mãe também,
aquela mulher antiquada e autoritária.
Porém,
logo ao tomar a trilha que levava à casa de sua avó, Chapeuzinho foi
surpreendida ao perceber que grande parte da mata havia sido cortada e
queimada. A ausência da vegetação, no entanto, não a incomodava em absoluto,
era até melhor, porque assim ela poderia pegar um pouco de sol, “andava muito
branca”, diziam suas amigas. Só o que
lhe perturbava era o cheiro de fumaça do mato queimado, que a deixava ainda
mais irritada. Caminhando pela trilha, Chapeuzinho chutou o casco seco de um
tatu que fora tostado. “Bicho sujo! Que nojo!”, exclamou pra si mesmo. Logo
adiante, viu o corpo de uma capivara que havia sido abatida a tiros.
Chapeuzinho sorriu ironicamente. É que uma de suas amigas gordinhas tinha o
apelido de “Capivara”. “Mas que bicho mais feio essa tal de capivara.”
Chapeuzinho
estranhou não ouvir tantos cantos de aves como das outras vezes. Melhor assim, pensou.
Já estava muito mau-humorada mesmo, e o silêncio seria melhor, ou até cantarolar
algum sertanejo universitário ou pagode. Caminhando um pouco mais, a menina
avistou o cadáver de um cachorro-do-mato. Estava queimado. Nesse instante,
Chapeuzinho lembrou-se das histórias de sua avó, quando contava sobre o
lobo-guará, belo e antigo animal que nunca mais fora visto nas imediações.
Apesar de sua avó insistir que o lobo-guará era um animal dócil e inofensivo,
Chapeuzinho não acreditava. A velha devia estar caduca, ou na sua insistente e
irritante mania de defender a natureza, exagerou nas qualidades do lobo. Para
Chapeuzinho, lobo era lobo. E lobo era sempre mau. Não merecia viver. Deu
graças pelo animal não existir mais por aquelas bandas. Imaginem se ela
cruzasse com um lobo-guará pelo caminho! O animal estúpido poderia agredi-la e
até matá-la.
Finalmente,
atravessando a floresta em grande parte queimada e devastada, Chapeuzinho
chegou à casa de sua avó, que vivia sozinha. Como batera várias vezes à porta,
e sua avó não atendia, resolveu entrar. Encontrou-a deitada inerte sobre a
cama. Chapeuzinho tentou reanimá-la. Foi inútil. Sua avó estava gelada, não
respirava, devia estar morta. Chapeuzinho entrou em pânico. Não gostava muito
de sua avó, não ficou realmente sensibilizada ao verificar sua provável morte,
porém, o problema é que ela não sabia o que fazer estando sozinha diante de uma
pessoa sem vida. Olhou pela porta e não avistou ninguém pelas redondezas. Da
porta mesmo, gritou por socorro algumas vezes. Um caçador, que passava pelas
imediações carregando um saco de tatus e perdizes, ouviu os gritos da menina e
dirigiu-se até a casa.
Chapeuzinho
sentiu-se aliviada com a chegada do caçador, e pediu que ele fizesse algo para
ajudá-la com a avó. O caçador disse que nada faria, pois a velha já estava
morta. Provavelmente, fora o coração. E, por outro lado até seria bom. Afinal,
a avó de Chapeuzinho não passava de uma velha chata, rabugenta, caduca, que com
suas manias ecológicas vivia tentando impedir que os caçadores entrassem em
suas matas. Felizmente, aquela velha imbecil estava agora morta, e ele e seus
amigos poderiam caçar à vontade e extrair a madeira de suas terras. Não que já
não o fizessem há algum tempo de forma clandestina. Porém, agora teriam mais
liberdade e menos estresse para fazê-lo. O que seria muito justo. Aquelas terras deveriam ser úteis para alguma
coisa além de servir de abrigo para sapos e macacos barulhentos.
Chapeuzinho
então, vendo que seria inútil pedir auxílio ao caçador, decidiu voltar para sua
casa e comunicar à mãe sobre o ocorrido. No entanto, o caçador a impediu,
puxando-a pelo braço e falando em seu ouvido:
- Que é isso,
mocinha gostosa, fica mais um pouco. Vamos aproveitar que estamos sozinhos aqui... Com essas roupinhas aí e com essa carinha de safada, tu tá pedindo pra levar, hein.
Chapeuzinho
tentou resistir, empurrando o caçador, mas ele era, obviamente, muito mais
forte e conseguiu subjugá-la, derrubando-a no chão. E arrancou suas roupas com
fúria e sofreguidão, esbofeteando seu rosto delicado para que ela parasse de
gritar. Baixou as calças e, segurando o pênis, exclamou estupidamente:
-
Olha como é grande! Isso é pra te comer melhor, hahaha!
E
penetrou brutalmente a coitada Chapeuzinho. A violência do caçador durante o
estupro causava na menina fundos cortes que sangravam copiosamente. A menina,
não suportando a dor, esperneava incessantemente, até que em um momento logrou
acertar com força seu joelho nos testículos do caçador. Este se enfureceu ainda
mais, “Onde se viu uma putinha dessas dando coices nos meus ovos!”, gritou.
Indignado, agarrou a cabeça de Chapeuzinho e a bateu violentamente contra o
chão por várias vezes, até que ouviu o barulho de seu crânio rachando e sentiu
alguns respingos de sangue em seu rosto vermelho de ódio e de monstruoso apetite
sexual.
E,
no corpo já sem vida de Chapeuzinho, o caçador prosseguiu o estupro, prosseguiu
até dilacerar o órgão sexual da menina, até deixá-lo em carne viva e expor as
suas entranhas. Em seguida, apanhou sua espingarda e o saco com tatus e
perdizes que largara em um canto, e fugiu pelo que restava da mata, abandonando
o cadáver ensanguentado de Chapeuzinho. Agora sim, vermelho.
Quando
saía da floresta e aproximava-se do riacho, o caçador assustou-se com a revoada
de um enorme e agourento urubu inteiramente negro que estava pousado sobre uma
rocha à beira d’água. Com o susto, o caçador escorregou nas pedras lisas e
úmidas, bateu brutalmente a cabeça na rocha e estirou-se fulminado sobre as
pedras. Seu crânio abriu-se com a violência do choque, e pedaços sanguinolentos
de sua massa encefálica podiam ser vistos à beira do riacho, em uma poça de
sangue.
Dias
depois, seu corpo foi encontrado pela polícia. Os policiais tiveram trabalho
para afugentar o bando de urubus que fazia um banquete arrancando seus
intestinos. Um dos policiais poderia jurar que os murmúrios lúgubres dos urubus
quando afugentados assemelhavam-se muito a risadas...
Moral da história: a justiça
tarda, mas o urubu não falha.
6 comentários:
rsrsrsrs
Muito boa.
Beijos!!!
Interessante! Fez-me sorrir, fez-me rir e surpreendeu-me! Muito bom!
Uma bela versão negra
da chapeuzinho vermelho
uma moral mais ampliada
desta história que sempre
comove
e sempre reescrevemos mudando
a cor do chapel
as frutas da cesta
e amoral da história
gamei imaginei ela
em quadrinhos
Luiz Alfredo - poeta
Uma versão muito interessante!! Muito bom! Parabéns!
Beijo
Sónia
Excelente versão...
Interessantíssimo como você
conseguiu unir o velho ao
nojento novo.
Eu odiei essa versão,fiqui triste lendo isso meu Deus !!
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