27 março 2012

De Rato

então
ele sentiu aquele gosto de esgoto
que quando é tragado
traga a quem traga
como se almoçasse a própria praga
com um suco de álcool de posto

então sentiu aquele gosto de rato
como se um deles mijasse no prato
e um pedaço de merda no copo
ardendo pelo vazio do esôfago
e ouviu o baque báquico
de sua queda
na pulcra úlcera do estômago

então sentiu aquele gosto do tarde
como se mastigasse o cáustico
(tremendo as mãos dormentes)
com o farelo da quebra dos dentes
e sangue de porca num jarro
no desespero do erro
inflamado pelo catarro

então sentiu aquele gosto de gente
e garganta de traqueia exposta
(a lição de não vomitar bosta)
naquele ato do após que falava
quer era engolir
palavra por palavra

2 comentários:

Zélia Guardiano disse...

Forte, dramático! Belo poema com sua inconfundível marca registrada, meu querido amigo Reiffer, grande poeta!
Abraço bem forte

Bete Nunes disse...

Você se supera cada vez que cria.
Um dos tantos melhores!