O grande, o imenso, o gigante Fernando Pessoa... não se pode esquecê-Lo. É por isso que deixo três pequenos-enormes poemas do maior gênio da literatura de língua portuguesa. Nada mais a declarar. (Na imagem,  a escultura "Anjo da Tristeza", de William Wetmore Story.)
Deve chamar-se tristeza
Deve chamar-se tristeza 
Isto que não sei que seja 
Que me inquieta sem surpresa 
Saudade que não deseja. 
Sim, tristeza - mas aquela 
Que nasce de conhecer 
Que ao longe está uma estrela 
E ao perto está não a Ter. 
Seja o que for, é o que tenho. 
Tudo mais é tudo só. 
E eu deixo ir o pó que apanho 
De entre as mãos ricas de pó.
Bem, hoje...
Bem, hoje que estou só e posso ver
Com o poder de ver do coração
Quanto não sou, quanto não posso ser,
Quanto, se o for, serei em vão.
Hoje, vou confessar, quero sentir-me
Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me
Por não ter procedido bem.
Falhei a tudo, mas sem galhardias,
Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Nem colhi nas urtigas dos meus dias
A flor de parecer feliz.
Mas fica sempre, porque o pobre é rico
Em qualquer coisa, se procurar bem,
A grande indiferença com que fico.
Escrevo-o para o lembrar bem.
Sonho
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Fernando Pessoa