28 fevereiro 2007

EU NÃO SOU PATRIOTA! (Considerações sobre o serviço militar obrigatório)

Sempre defendi a liberdade humana em todos os sentidos, creio que a liberdade é um princípio fundamental da arte, tanto que foi ferrenhamente defendida e preconizada por dois dos maiores gênios artísticos de todos os tempos: Beethoven e Goethe. Natural, portanto, que eu mantenha uma posição contrária ao serviço militar obrigatório, assim como mantenho contra o voto obrigatório.
Sei que muitos jovens desejam o serviço militar e até mesmo seguem carreira nas forças armadas. Tudo bem, ótimo para eles, no entanto, por que deve ser ele obrigatório? Por que deve todo adolescente, ao completar 18 anos, apresentar-se a uma pátria que muitas vezes não dá a mínima a ele? Por que um jovem que não deseja seguir carreira militar, que tem outros objetivos em mente, é obrigado a adiar seus sonhos, ver pisoteados seus ideais, prejudicados os seus estudos, talvez perdido todo um ano de sua vida? Qual a justificativa para toda essa injusta arbitrariedade? Servir à pátria? Mentira. Nos países em guerra, é servir à guerra estúpida e inútil, ao interesse financeiro e político das elites, pois toda guerra resume-se a dinheiro e poder. E quem paga o preço? O mais alto é pago pelos jovens, por muitos que nunca desejaram “servir à pátria”, pago com seu sangue, com o horror vivido, pago com o sacrifício de seus sonhos e ideais, pago com a vida! E para quê? Para que alguns poucos egoístas multipliquem suas fortunas, os mesmos imbecis que estão arrastando nossa civilização a um trágico fim. Isso é servir à pátria? Que piada! É por fatos como esse que esta humanidade degenerada caminha à sua autodestruição.
E no caso do Brasil, que não está em guerra? Nesse caso, por que precisamos de tantos jovens “servindo à pátria”? Não são suficientes aqueles que naturalmente desejam a carreira militar? A verdade é que grande parte de todo o pessoal que ingressa no serviço militar torna-se ocioso, fica apenas realizando tarefas inúteis para a sociedade, servindo apenas aos caprichos de alguns oficiais. Eu defendo que nossas forças armadas deveriam agir mais, muito mais, em benefício de todo nosso povo e nossos interesses. Por que não estão, por exemplo, expulsando os estrangeiros da Amazônia, que, todos sabem, estão explorando e destruindo essa incomensurável riqueza? Por que o governo não põe os militares para combater o tráfico de drogas? Para fiscalizar os crimes ambientais? Para que investir tanto em algo que faz tão pouco? Será que os jovens que ingressam contrariados nas forças armadas não seriam mais úteis se tivessem liberdade de escolha?
Então, volto a perguntar? Para que “servir à pátria”? Para ser explorado e humilhado por alguns oficiais desumanos e prepotentes, que tratam seus recrutas e soldados adolescentes na base de palavrões, de xingamentos desmoralizantes, horrores que nem mesmo seus pais sentir-se-iam no direito de proferir? Servir, para trabalhar num visível regime de exploração, tão somente para satisfazer os desejos de um oficial que julga os recrutas como sua propriedade particular ou como mais uma arma em suas mãos? Ou argumentarão agora que é para “aprender a ser homem”? Aprender a ser homem é ser condenado durante um ano a humilhações e trabalhos forçados? “Ser homem” é ser chamado de “bixona”, “mongolóide” e “filho-da-puta”? Aprender a ser homem é aprender a ser desumano? Acredito realmente que devem existir oficiais que não agem dessa forma, oficiais decentes, não generalizo, mas que há muitos que o que mais apreciam em sua profissão é humilhar os pobres recrutas e soldados, despejando neles todas suas frustrações e recalques, disso estou certo. Ou será ainda que “ser homem” é ter cabelo curto, como pensam alguns oficiais, certamente ignorantes do fato de que muitos dos maiores guerreiros da história possuíam cabelos longos, como os bárbaros medievais, os Vikings, os samurais e muitos dos nossos próprios heróis farrapos.
Felizmente, aprendi a “ser homem” sem ter que ir para o exército, e se ser patriota é ter “servido à pátria” de bom-gosto, eu não sou patriota. Aliás, mudando um pouco de assunto, se ser patriota é gostar de pagode, de axé, ter que pular carnaval, pensar só em futebol, cerveja, praia e verão, eu definitivamente não sou patriota. Porém, se ser patriota é lutar pela cultura, pela educação, pela liberdade, então sou patriota demais.

Um comentário:

Giovani Iemini disse...

Como é que dá para ser patriota neste paisinho de merda?

Bem, tô lendo seus contos de terror.
Bacana.

Ah, somos colegas no site de contos de cinco palavras.
[]s