25 junho 2016

Hieronymus Bosch e seus Detalhes Assombrosos

Já declarei por aqui algumas vezes que o pintor holandês Hieronymus Bosch (1450 - 1516), ou Jeroen Van Aeken, é meu pintor favorito. Não só pelo espetacular de suas criações, pela imaginação quase inconcebível, ou pelo caráter fantástico e aterrorizante de seus quadros, mas também, e ainda mais,  pela sua inacreditável capacidade visionária, antecipando-se em 400 anos(!) às características do Surrealismo e do Expressionismo, movimentos típicos do século XX. Da mesma forma, Bosch parece "prever" o clima de caos, medo e horror que dominou o mundo durante as décadas das duas guerras mundiais, e por que não dizer, que acabou se alastrando por todo o século XX, chegando aos nossos dias acrescentado e/ou transformado em novas formas de horror, como a destruição da vida no planeta e o homem perdido e oprimido por entre a selvageria e o desespero da vida pós-moderna. 

Óbvio que as obras de Hieronymus trazem um caráter altamente simbólico, alegórico. Compreendê-lo não é tarefa fácil. Mas podemos ter vislumbres intuitivos de compreensão de suas imagens escatológicas, se as contemplarmos além da interpretação lógico-racional. A seguir, nove detalhes selecionados por mim de várias obras de um dos maiores gênios da pintura universal (clique para ampliar):















23 junho 2016

Não Sou Produtivo

I - querem que eu produza.
gritam: da vida o objetivo
é ser um homem produtivo!
mas o correto seria:
ser produtivo
com qual objetivo?

produzir o quê? por quê? para quem?
quem ganha com o que eu produzo?
sei que eu não sou.
quem paga o preço
do que é produzido?
a que o planeta
é reduzido?

II - querem que eu viva em ordem.
a ordem é o quê?
a ordem é para quê?
a ordem é para quem?
quem ordena a ordem?
quem julga a ordem como sendo ordem?
em que tipo de ordem
é que se quer que se viva?
o que é que seria ordenado?
em benefício de quem?
em prejuízo de quem?

III – o artista
(quando artista)
não produz:
de máquinas
é que sai produção

da arte
sai criação

21 junho 2016

Brasileiro não apoia greves

O texto abaixo escrevi e publiquei no blog há 3 anos, em 20 de junho de 2013. A publicação original pode ser conferida aquiRepublico parte do texto, tendo em vista a atual greve do magistério gaúcho. A seguir, o texto de 2013:

A sociedade brasileira em geral não apoia greves. Quase sempre fica contra os grevistas e a favor dos governantes, e exige que os grevistas voltem a trabalhar e negociem sem paralisações. É que a greve não é um protesto festivo e descompromissado. A greve, quando bem feita e organizada, fere profundamente o seio da sociedade. Porque é só neste momento, no da greve, que todos sentem na pele como determinada categoria trabalhadora faz falta às pessoas.

Mas então, o que ocorre? Por que quase sempre as greves não dão resultado no Brasil? Porque os governos ficam na situação cômoda de ter a sociedade a seu favor. As pessoas, sentindo-se prejudicadas com as paralisações dos serviços, não são capazes de se solidarizar com as reivindicações autênticas dos grevistas, daqueles trabalhadores explorados pelo mecanismo injusto do sistema. Não saem para as ruas com cartazes e palavras de ordem. Não exigem que o Brasil "acorde". Não saem trancar o trânsito e invadir congressos. Pelo contrário, ao invés de pressionar os políticos, pressionam os grevistas e acabam por tirar toda a força do movimento. 

É o que tem acontecido com as greves do magistério. Todos garantem estar a favor da educação, porém, na hora do "pega pra capar", quando a classe dos professores se manifesta de forma real e efetiva, não com protestos inofensivos, o que é que faz a sociedade? Indigna-se contra os professores, afirma que estão reclamando de "barriga cheia", que estão prejudicando inocentes, que são os seus filhos, que terão que recuperar aulas, que não poderão aproveitar a totalidade das férias...

Quero ver agora todos esses manifestantes que protestam nas ruas apoiar a primeira greve de professores que surgir em qualquer canto deste país. Quero ver a sociedade ficar a favor dos professores, como tem ficado com relação a tantas manifestações.






19 junho 2016

Tu, que estás enganado

homem, não te enganas
pois
há um algo que falta
há um ato não feito
há um fato não vindo
há um alto não dado

há um dado jogado
há um fato do fado
há um lago sem fundo
há um mundo de ratos

e há uma falta em teu algo
não há fundo em teu feito
não há jeito em teu dado
não há alto em teu mundo
desenganado


17 junho 2016

Campanha de Camiseta*

“seja você mesmo”
diz a sociedade mesma
e diz a mesma coisa
a todos
seja você mesmo
desde que
seja o você mesmo
aceito pelos outros
mesmos
que
no fundo
são os mesmos mesmos

“seja você mesmo”
diz a mocinha mesma
autoajudante
pleonástica
e é tão mesma
em sua mesmice
quanto todo mundo
mesmo

e pensa que não é
como todo mundo
ensimesmado em ser igual
aos iguais

que gostam andam agem
pensam sentem fazem
o mesmo
sendo eles a esmo
como mandava a camiseta
que todos
vestiam a mesma

*Poema reelaborado e republicado.



15 junho 2016

Educação x Imediatismo

Sabem por que o brasileiro, em geral, não valoriza a educação? Por que o brasileiro, em geral, é um imediatista. E os imediatistas acabam se tornando idiotas.  Não só o brasileiro, mas o brasileiro parece ser o suprassumo do imediatismo. O brasileiro gosta do que é imediato, daquilo que pode ser visto, visualizado, percebido, enfim, em curto espaço de tempo. O fato tem relação com a Era da Aparência que vivenciamos. Só vale aquilo que pode ser visto, mostrado, ostentado. E, no Brasil, imediatismo e aparência são dois de nossos maiores "valores".

Ora, educação e imediatismo são duas coisas totalmente contrárias. Não se faz educação com imediatismo. Educação não é e não pode ser imediata. Educação é um processo, que exige tempo, investimento, dedicação. Se exige tempo, acaba demorando para se perceber os resultados do processo educacional. Não se pode investir hoje para se colher resultados semana que vem. Então, o brasileiro, como não vê resultado imediato nenhum na educação, não vê nela nenhum valor. 

E os políticos sabem disso. Para quê um político vai investir em educação se o que o povo que o elegeu quer ver são resultados imediatos? Para que investir em algo que vai mostrar seus efeitos, por mais grandiosos que sejam, só depois de anos? Não se investe em educação porque não há o que ser ostentado de imediato para um povo imediatista e que só valoriza a aparência das coisas. E assim vamos eternizando nossa imbecilidade, nunca saímos do abismo de ser um país de baixíssima, vergonhosa educação. 

O problema é que o povo não sabe que é imediatista. Dificilmente quem é imediatista percebe que o é. De modo que é fácil todo mundo afirmar, inclusive os políticos, que educação é prioridade. Mas no momento em que se necessita do imenso investimento, do longo espaço de tempo, de todo um processo difícil, complexo, para se colher os magníficos resultados da educação bem realizada, ninguém está disposto a pagar o preço. 

O mesmo acontece em momentos de greve do magistério, como a que estamos presenciando no RS. Grande parte da sociedade, dos pais, dos alunos não aceita a greve porque está preocupada apenas com os efeitos imediatos da paralisação, como o atraso no ano letivo. Mas não percebe, ou não quer perceber, que greves, protestos, manifestações são instrumentos de melhoria a longo prazo, são formas de reivindicação que buscam não só cobrar e pressionar governos incompetentes e/ou mal intencionados, mas também conscientizar a sociedade de que muitas coisas estão erradas e que algo deve ser feito para iniciar sua modificação o quanto antes. 

Porém isso, como tudo na educação, não é imediato. Então, poucos são os que realmente se importam. E segue o Brasil no seu imediatismo e no seu atraso eterno. 

13 junho 2016

"Não sou nada. Nunca serei nada."

(Fernando Pessoa, à direita, tomando café com um amigo.)

Porque hoje  (13 de junho) é aniversário do maior poeta da nossa língua, deixo trechos de um dos maiores poemas de todos os tempos: Tabacaria, de Fernando Pessoa.

Tabacaria (Trechos)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer...
(…)
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um...
(…)
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede 
sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
(…)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
(...)
Acendo um cigarro....
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações...

 Fernando Pessoa

11 junho 2016

da Saída da Humanidade*

I - muito se fala
sobre uma saída para a humanidade:
os termos estão errados:
muito se deveria falar
sobre a saída DA humanidade

II - para a humanidade
não há saída
a não ser que a humanidade
saia de cena:
é uma pena

III - para onde quer que se olhe
não há lado a ser olhado:
tudo já foi corrompido
consumido
ou contaminado

de modo que a única saída
é admitir-se culpado
e aceitar a pena

*Poema reelaborado e republicado.

09 junho 2016

O Triunfo do Não

sim, o Não venceu.
a vida tornou-se
a negação da vida

vale mais um Puma®
do que um puma
cuida-se das máquinas
esmagam-se as árvores
entroniza-se o robótico
aniquila-se o humano

a esperança nos horizontes
assume as cores escuras
da poluição
os tons sombrios
da sonoridade do não

ao contrário de César
não fomos
não vimos
não vencemos

nem amamos

não somos
nem razão
nem emoção:
só um misto
de nadas e de nãos

e nem nos demos as mãos

negamos a tudo:
desde o ser
até a alma
e como derradeira negativa
hoje
(não-)vivemos
o Triunfo do Não.
maldição!




06 junho 2016

"Viver é não conseguir." (Variações sobre um tema de Fernando Pessoa)*


I – é inútil dizer à frente:
de nada adianta
qualquer coisa que se adiante

II – o mundo é lodo
dos tolos todo

III – qualquer palavra que eu diga
é pralarva  doida varrida

IV – qualquer verso que eu faça
não vale mais
que um gole de vinho
whisky
cachaça

V – quanto mais se insere com todos
mais não se passa de nada
mas sabe ver o seu nada
quem se entende com o Todo

VI – o mundo é mesmo só isso:
para que se consiga
uns secam os mares com redes
outros pescam lambaris de caniço

VII – quem acha que conseguiu
não percebe que a vida é vento:
ou é porque não sabe
que tem o que não quis
ou é porque não vê
que o que quer é só momento

*Poema reelaborado e republicado.




04 junho 2016

Questão de Honra

o amor
é uma questão de trato
a confiança
é uma questão de taco
a dor
é uma questão de trégua
a política
é uma questão de treta
a justiça
é uma questão de troca
a vida
é uma questão de trampo
a solução
é uma questão de trago
o fim
é uma questão de tempo




02 junho 2016

Quem não é Suicida?

a humanidade
inventou o trabalho
para que o homem
pudesse viver
e a vida
pudesse avançar...

conversa pra boi andar

a humanidade
inventou o trabalho
para que o homem
se enchesse de tralha
e possuísse uma trava
e um malho
para não sair do trilho
e não se soltar do encilho

a humanidade
inventou o trabalho
para que o homem vivesse
de se matar
(quem não é suicida?)
e para que o avanço
(como quem estrangula um ganso)
acabasse com a vida

31 maio 2016

A Educação em Países Desenvolvidos: tudo aquilo que o governo Sartori/PMDB faz exatamente... ao contrário

O magistério estadual está em greve. Uma das mais justas greves dos últimos tempos. Sartori está, simplesmente e sem exageros, destruindo a educação pública. Já escrevi sobre o assunto inúmeras vezes. O mais irônico é que durante sua campanha e logo no início de seu mandato, Sartori afirmou e reafirmou que a Educação seria prioridade no seu governo. Clique aqui e aqui para conferir. O que verificamos é justamente o contrário. Seria interessante, portanto, vermos o que países desenvolvidos, onde a Educação é REALMENTE PRIORIDADE (e POR ISSO são hoje desenvolvidos) fizeram e fazem para ter uma educação de qualidade e, assim, um povo pensante, capaz, criativo, consciente de seus direitos e deveres. Ah, claro, esqueci que, para determinados governos, PENSAR, não é bom...

Os países a seguir estão entre os que possuem os 10 melhores sistemas educacionais do mundo. As fontes estão aqui e aqui. Os países não estão apresentados necessariamente por ordem de melhor educação, com exceção do primeiro. Retiro trechos das matérias originais:

Finlândia (a melhor educação do mundo):
“Na Finlândia, o professor é visto com respeito - profissionalismo e responsabilidade envolvem a profissão. Há um componente histórico nessa valorização: há cem anos, quando o país ainda se configurava como nação, a pobreza reinava, principalmente no interior. Ali, quem tinha um diploma de professor era tratado como se fosse rei. 

Um documento do próprio Ministério da Educação, criado para apresentar o sistema educacional finlandês a estrangeiros, começa a responder por que a educação finlandesa é a melhor do mundo. Logo no começo, há uma advertência: o sucesso só pode ser explicado em função de uma conjugação de fatores, e não por uma única ação. A primeira razão, diz, é que a sociedade finlandesa valoriza a educação e, portanto, tem uma atitude muito favorável à área. 

O fato de o professor ter autonomia para trabalhar em sua sala de aula também colabora com a visão social tão positiva. Há um currículo nacional básico, que dita as linhas gerais do que deve ser ensinado, mas o docente pode escolher os métodos, os livros, o tipo de didática e inclusive optar ou não pelo uso da tecnologia. "O currículo não é sobre o que se ensina. É sobre o que os alunos devem aprender.”

França:
“A França é conhecida mundialmente pelo seu sistema de educação inclusiva. A educação pública é disponível gratuitamente e 80% dos estudantes no país frequentam escolas públicas, enquanto apenas cerca de 20% estão em escolas privadas.
Mesmo assim, as escolas privadas são baratas, pois os professores são pagos pelo estado. O sistema francês é conhecido internacionalmente, seu rigoroso exame está mostrando progresso interessante.”

Suécia:
“A Suécia tem um decreto de educação em que é obrigatório, que cada criança receberá educação, independentemente de seus status socioeconômico. A educação é obrigatória começando na idade de 6 anos, até a idade de 16, e é gratuita. A Suécia gasta mais que a média dos países em educação, 6.7% de seu orçamento nacional a cada ano.”

Reino Unido:
“Os estudantes no Reino Unido podem frequentar escolas estaduais gratuitas ou escolas independentes que cobram taxas. A lei exige que os estudantes passem por educação em tempo integral até que tenham 16 anos de idade.
E no Reino Unido, os incentivos financeiros são oferecidos para os adolescentes que continuam na educação, após a idade de 16, para preparação dos mesmos para educação superior ou emprego”

Coreia do Sul:
“A Coreia do Sul tem um sistema que oferece educação gratuita para todas as crianças entre 6 e 15 anos de idade, e estudantes do colegial que têm entre 15 e 18 anos de idade devem pagar taxa de matrícula, que é subsidiado pelo governo.”

Japão:
“O Japão apresenta uma educação básica que é gratuita para todos e nacionalizada. O currículo é igual em todos os lugares, e controlado pelo Ministério da Educação. O Japão ocupa posição de grande destaque nesta seleção pela sua obrigatoriedade de ensino fundamental e médio e seu currículo rigoroso.”

Polônia:
“Segundo a Constituição da Polônia, cada indivíduo possui o direito à educação. As escolas públicas no país oferecem educação gratuita e as autoridades públicas garantem que cada cidadão tenha acesso universal e igualitário à educação.”

Israel:
“O sistema de ensino de Israel é centralizado. Eles possuem escolas seculares, árabes, judias e católicas. Os estudantes têm ensino obrigatório do jardim de infância até a décima segunda série, e educação é gratuita. Para atividades extracurriculares, eles devem pagar, mas as taxas são muito baixas. Israel também aparece na lista dos países com maior percentual de formados em ensino superior.”


29 maio 2016

Bem, hoje que estou só

Bem, hoje que estou só e posso ver
Com o poder de ver do coração
Quanto não sou, quanto não posso ser,
Quanto se o for, serei em vão,

Hoje, vou confessar, quero sentir-me
Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me
Por não ter procedido bem.

Falhei a tudo, mas sem galhardias,
Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Nem colhi nas urtigas dos meus dias
A flor de parecer feliz.

Mas fica sempre, porque o pobre é rico
Em qualquer coisa, se procurar bem,
A grande indiferença com que fico.
Escrevo-o para o lembrar bem.

Fernando Pessoa

27 maio 2016

Desprezo

uma das grandezas do homem
é ser simples com os humildes
e altivo com os arrogantes

umas das inteligências do homem
é ser simpático com os autênticos
e irônico com os hipócritas

umas das sabedorias do homem
é se importar com o ser humano
e desprezar a humanidade




25 maio 2016

De Governos e Leis e Autoridades

O poema a seguir foi escrito em 2012. Mas percebo, com o desenrolar da história, que ele nunca esteve tão atual. Então, republico-o:

I -  GOVERNO
é o empregado
autorizado e pago
pelo povo
para mandar em todos
em benefício de alguns
que querem fazer do povo
um bando de nadas
e de nenhuns

II - LEI
é estabelecer
que todos são iguais
desde que não
sejam os alguns
para que o povo
se iguale sempre ao povo
e jamais se desiguale 
do seu nada
a lei é a ordem
e ordem
é sempre se manter
dentro dos limitados
limites da estrada

III - AUTORIDADE
é (quase sempre)
o imbecil
escolhido por imbecis
amparado por imbecis
aplaudido por imbecis
para tentar impedir
que os grandes
combatam os imbecis
e acima de governo e leis
coloquem os pingos nos is


23 maio 2016

Não é Golpe, é Greve (Poemeto ao PMDB)

I - não é golpe
é garfo
não é golpe
é grampo
não é golpe
é gripe
é gripe? é grave?
é grave.
e aqui é greve.

II - Temer-turma trama.
agora, teme treme...
Temer-turma trauma.
Toma!

III - gordura saturada
faz mal ao coração
governo sartorado
faz mal à educação


21 maio 2016

Humanidade Nenhuma*

irreconheço-te que me desconheço:
digo a ti que (não) me lês
que nem eu a ti te falo
nem tu a mim me vês

somos todos outros nadas
uns para os outros todos

de modo
que nem existe do humano todo nenhum
porque nenhum homem sabe o que é
nem se o é um homem
nem sabe porque faz aquilo que faz
se é que se faz o que nem foi feito
e nem vive qualquer vida nenhuma

e se chega à conclusão absurda
que nem pode a humanidade acabar
porque nem existe humanidade alguma


*Poema reelaborado e republicado

19 maio 2016

Eu, que não te disse nada

por que devo dizer alguma coisa
se o que importa é o que se oculta?
é a palavra que não está lá
o que importa é a porta ao não-dito
é o destino
dado por quem lê
ao que não foi escrito

o que importa o que (des)espero?
o verso é um silêncio
que se música sozinho
só ele percorre a estrada
entre o que há
e o que é nada

nem sei do que sinto se é meu labirinto
quem dera tivesse consciência...
por que dizer algo
se o próprio Deus
é o mistério da ausência?