28 junho 2015

Cacem o Resto

Peguem meus versos e matem a pauladas
sujem em fluídos de todas as mortes,
deixem aos pedaços pingando dos cortes,
e enterrem as artes, não servem pra nada.

Joguem no lixo da Terra acabada,
cacem minha alma em covardes esportes,
juntem com a noite da velha má-sorte,
chutem os poetas das altas escadas.

Aplausos à arte são risos mentidos,
e todo artista que se acha mui útil
já vê seu vasto nas ruas cuspido.

Homens só louvam imbecis, o que é fútil,
o verme e a merda. Tudo ânsia perdido:
teu ato morto de um sonho que é infértil.

26 junho 2015

O Mundo Mudou?

“o mundo mudou”
babam os deslumbrados 
despercebidos
mas não
o mundo imundou
na sua velhice
acrescentou-se
o decréscimo
o decrépito
os sinais asnais decadênticos
idênticos
às imundícies

o mundo inundou
-se
de tanto quanto nada
o mundo afundou
nos buracos asfálticos
das quânticas faltas
da sua (des)estrada
em desastre

o mundo
tem o mesmo endereço:
o dinheiro é a entrada
e o Fim
é só o começo

24 junho 2015

Eu Não Faço a Minha Parte

as pessoas dizem:
“faça a sua parte”
que parte?
fazer a parte para o quê?
o que é fazer a sua parte?
quem é que faz a sua parte?

não
eu não fiz a minha parte
eu não faço a minha parte
eu não sei que parte
querem que eu faça
quem determinou
a parte que deve ser feita?

fazer a minha parte
para melhorar o mundo?
quem disse que o mundo
pode ser melhorado
se para cada um
o melhor para o mundo
é uma coisa diferente?

eu não faço minha parte
porque não posso fazê-la
porque só na fato de viver
eu já desfaço minha parte
no ato de comer
eu desfaço minha parte
em respirar
eu desfaço minha parte

ao invés de fazer a sua
infazível parte
as pessoas deviam aceitar
que para reiniciar
antes

é preciso a morte




22 junho 2015

A Sexta Extinção em Massa do Planeta

Bem, são coisas do tipo que venho dizendo aqui no blog desde a sua criação em 2006. Agora, temos um estudo científico. Como já escrevi dizer, a ciência tem a brilhante capacidade de dizer o óbvio. Qualquer pessoa que não seja um tolo completo percebe que caminhamos para o fim desta civilização a passos rápidos e decididos. Mesmo assim, existem "otimistas" ingênuos, ou preguiçosos mesmo, que se recusam a aceitar. Talvez, porque não querem admitir suas culpas,suas responsabilidades.


A notícia abaixo foi publicada no jornal Correio do Povo em 19/06 e pode ser conferida na íntegra aqui.

Um estudo das universidades de Stanford, Princeton e Califórnia, publicado nesta sexta-feira, afirmou que o mundo está começando a sofrer a sexta extinção em massa de sua história. Atualmente, os animais desaparecem numa taxa 100 vezes maior do que costumavam, alertaram os cientistas. E os seres humanos podem estar entre eles.


Desde o fim da era dos dinossauros, há 66 milhões de anos, o planeta não perdia espécies a uma taxa tão elevada como agora, de acordo com o trabalho. O estudo "mostra sem sombra de dúvidas que estamos entrando na sexta maior extinção em massa", disse o co-autor Paul Ehrlich, professor de biologia na Universidade de Stanford.

E a espécie humana é, provavelmente, uma das espécies perdidas, informou o estudo - chamado por seus autores de "conservador" - divulgado na revista Science Advances. "Se permitirmos que isso continue, a vida vai levar milhões de anos para se recuperar e nossa própria espécie provavelmente se tornará extinta em breve", alertou o coordenador do projeto, Gerardo Ceballos, da Universidade Autônoma do México.

Se a taxa passada - ou ritmo natural - era de duas extinções de mamíferos para cada 10 mil espécies com mais de 100 anos, então a "taxa média de desaparecimento de espécies de vertebrados no século passado é 114 vezes maior do que teria sido se não tivesse havido a atividade humana", argumentaram os pesquisadores. "Nós insistimos que nossos cálculos provavelmente subestimam a gravidade da crise de extinção, pois nosso objetivo era colocar um limite realista, mas limitar o impacto humano sobre sobre biodiversidade".

As causas da extinção atual de espécies são, entre outras, alterações climáticas, poluição e desmatamento. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), cerca de 41% de todos os anfíbios e 26% das espécies de mamíferos estão ameaçadas de extinção. "Há exemplares de espécies ao redor do mundo que são basicamente mortos vivos", explicou Ehrlich.


20 junho 2015

Sangue de Porco

a humanidade
está acabada.
(é, eu sei, alguns
irão protestar,
o que não muda nada)

então
que estas levas
de palavras em lavas
larvas de palavras não-livres
livros não lavrados mal-lidos
me deixam mais leve

estas palavras
largarei letra a letra
pra que escorram bem lentas
pingos de vela
granos de areia
farinha de aveia
e uma ovelha carneada

e a humanidade acabada
que sangra como porco
o que já me importa
nem um pouco

então
as minhas levas
de palavras em lavas
me deixem mais leve:
que o diabo as carregue
e O Fim as leve




18 junho 2015

Cuidado com a Vírgula

É, é o que sempre digo para meus alunos. As pessoas esqueceram completamente, na hora de escrever, da vírgula. Acham que ela não serve para nada, que é só um enfeitezinho. Então, escrevem tudo corrido, sem pausas, de um fôlego só. Mas não percebem que assim estão escrevendo absurdos ridículos como os que seguem. Deem uma olhadinha nestas imagens (retiradas daqui):














16 junho 2015

Um Exemplo de Homem*

gato quieto
sentado no meio do pátio
como se fosse no meio do cosmos

tu
que sentes tudo
sem perderes o gelo
eu sei que tu sabes
sem me dizer palavra:
olha por mim
como se eu te orasse
ora por mim
como se eu te houvesse

gato
tu és todo sentido
e indiferença
vês o sentido do todo
e o todo sem-sentido
da humanidade em sentença

no teu passo felino
há à presa perigo
porque nele há silêncio
e a quem te agride de pedra
tu respondes mistério

gato meu amigo
exemplo de homem
a ser seguido

*Poema reelaborado e republicado

14 junho 2015

O trabalho, para a maioria, é uma dádiva. Impede de pensar.


Abaixo, mais 5 motivos de por que sou fã do Velho Safado, o grande Bukowski, na minha opinião, o maior nome do Pós-modernismo norte-americano e um dos maiores de toda a contemporaneidade. Com Bukowski, não havia meias palavras. Ele dizia o que queira, e sabia o que dizer. Todos os trechos foram retirados do livro "Pedaços de um Caderno Manchado de Vinho". 



1 - Se os ricos são nossa raça superior, quero abandoná-la agora mesmo.  Já vi as caveiras dos mortos, cabeças de porcas devorando maçãs podres que são menos feias.(...)
Teria de caminhar pelas ruas de homens mortos que se moviam e falavam e tinham nomes e orgulho e posses mas que na verdade já estavam mortos.

2 -  Nossos líderes de Estado foram necessariamente vis, homens estreitos e estúpidos... porque para liderar a massa de mortos, os nossos chamados líderes tiveram que usar palavras mortas e pregar de um jeito morto.

3 - É preciso dinheiro para combater os truques da injustiça e o estado mental dos nossos juízes e membros do júri. Você pode dizer a um advogado o que está pensando, mas ele deve renivelar o seu pensamento de modo a adequá-lo aos procedimentos das leis mortas, escritas pelos mortos e protegidas por homens mortos.

4 - Está cada vez mais claro que o primeiro impulso da Medicina é ganhar dinheiro. O segundo? Torturar o paciente, matá-lo, sempre que possível. Se um paciente morre, há outra cama vazia e mais uma oportunidade de lucrar.

5 - O efeito imbecilizante de se trabalhar de 40 a 48 horas por semana em algo que não se gosta. Quando um homem trabalha no mesmo emprego durante muitos anos, não é dono do seu tempo. Mesmo com uma jornada de 8h, o dia está tomado. Some o tempo que leva para ir e voltar do trabalho, mais o trabalho em si, mais comer, dormir, tomar banho, comprar roupas, carro, pneu, bateria, pagar os impostos, copular, receber visitas, ficar doente, sofrer acidentes, ter insônia, ter que se preocupar com a roupa suja e com assaltos e com as condições climáticas e com todo o resto que não dá para mencionar, não sobra TEMPO ALGUM para se gastar consigo mesmo.(...)

Alguém disse: “o homem comum vive uma vida de silencioso desespero”...  Mas o trabalho também “acalma” os homens, dá a eles alguma coisa para “fazer”. Impede a maioria deles de pensar. Homem e mulheres não gostam de pensar. Para eles o trabalho é uma dádiva. Dizem a eles o que fazer, como fazer e quando fazer. São mortos-vivos.

10 junho 2015

Dá-me mais Música

dá-me mais Música
que meu nome é nada
mas Nela meu nome é dito
(quem há dito
que meu nome alguma vez
bem dito?)

reconheço-me
quando se sonora como sendo
pois quando dizem que sou eu
ninguém a mim
me entendo
que ao dizê-lo
o meu ser já som

meu nome
é aquilo que não-trilho
é aquilo que não-lendo
palavra vaga
na última arrancada página
de um livro só de notas
que só
toca em tuas portas

cordas
do delírico de orpheu
eles dirão que digo do meu eu
(que é engano)
mas quando advir o dano
lerão que sou
mas
eu não-eu


08 junho 2015

O Pior Congresso desde a Ditadura: apenas fantoches das grandes empresas

Estamos com o pior Congresso Nacional da nossa história recente. Só não é pior que o dos tempos da ditadura porque lá nem havia Congresso. Só uma fachada de um. Hoje temos um Congresso de deputados fantoches. Fantoches das grandes empresas.Só fazem o que elas querem, o que elas mandam. O povo? Ah, o povo não elege ninguém, apenas tem a ilusão de que elege. O povo vota. Vota em quem tem dinheiro. E vota em quem tem dinheiro porque foi condicionado a pensar que, como disse o filósofo Lobão, somente rico deve governar.

E quem tem dinheiro são os deputados que são financiados pelas grandes empresas. E são elas que eles representam, não o povo. Como que o Congresso vai representar o povo se a maioria do povo brasileiro é pobre ou de classe média baixa e os nobres deputados são em maioria ricos, riquíssimos? Os deputados, em sua grande maioria, representam os interesses do capital. E isso é tudo. 

E agora, com as manifestações de um direitismo estúpido, cego e rançoso ocorridas no Brasil, tais deputados se sentem ainda mais à vontade para foder com o povo e aprovar DESCARADAMENTE os projetos que beneficiam as grandes corporações capitalistas: terceirização, corte nos direitos trabalhistas, fim da rotulagem dos transgênicos, fim da punição por acidentes de trabalhos, perdão de multas dos planos de saúde, aumento da anistia fiscal de igrejas (aqui entra a bancada evangélica), enfim, qualquer indivíduo com um mínimo de massa encefálica percebe os absurdos contra o povo, contra os direitos da população, em prol do lucro empresarial. E esses exemplos que enumerei são apenas alguns. Há vários outros. É só pesquisar.

Bem, o que esperar de um Congresso que possui entre seus figurões gente como Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro e Luís Carlos Heinze?

O que podemos esperar é um país estuprado e um povo cada vez mais fodido. O Brasil é mesmo uma putaria. E nem o Chapolim poderá nos salvar.

06 junho 2015

Ser Humano é ser o quê?

ser
humano:
viver uma vida inteira
sem saber por que vive
fazer o que todos fazem
só porque é o que fazem todos
e sobreviver dia após dia
para chegar a ponto algum

ser
humano:
trabalhar a vida inteira
para deixar ricos mais ricos
ou enriquecer a vida inteira
para desaproveitar o vazio
do que se diz ser vida

ser
humano:
ser convencido
a aceitar as coisas como elas são
como se o que é
no mundo
é porque deve ser
e que se for desfeito
será um crime
contra a ordem mundial

ser
humano:
ter a obrigação
de ser bem sucedido
a obrigação de ser feliz
e de mostrar a todos
que (ir)realmente o é

ser
humano:
ter o rei na barriga
por acumular quinquilharias
por ter um grau imbecil
outorgado por outros imbecis
quando em verdade se é um verme
que mal consegue
erguer os olhos ao alto
por estarem atolados na lama

04 junho 2015

Se o Espaço é Curvo...

qual palavra que volta
a cada palavra que é solta?

já pensaste que mão
virá bater à tua porta?
já pensaste qual não
virá atender teu desejo?
já pensaste o que voa
no que achas que é à toa?

que asa que bate
em cada teu ato?
que ave que canta
em cada segredo?
quem é que garante
que estás mesmo certo?

que preço que se paga
pelo sopro que se larga?

o que é que nos sonha
onde o limite se dobra?
o que é que nos falta
onde desce o do alto?

se o espaço é curvo
a vida é retorno
e eu espero qual Verbo
advirá do (re)verso

02 junho 2015

Então você quer salvar o mundo?

eles querem salvar o  mundo
eles acham que podem salvar o mundo:

para salvar o mundo
eles inventaram teorias científicas
e estão certos de que funcionam
eles criaram sistemas filosóficos
de que têm certeza que são a razão
ele formaram crenças religiosas
de que é um absurdo se duvidar

e eu, como sou um cínico
acho tudo isso vazio e ridículo
e o digo em linguagem vulgar
e num poema-lixo:

a vazia geração saúde
a ridícula geração feliz
que quer salvar o mundo indo à academia
salvar o mundo reduzindo o banho
salvar o mundo indo atrás de líderes
salvar o mundo inventando máquinas
salvar o mundo formulando técnicas
salvar o mundo reflorestando matas
salvar o mundo adotando crianças
salvar o mundo com o politicamente correto
salvar o mundo montando uma empresa
(essa é a pior de todas)
salvar o mundo implementando leis
salvar o mundo com proibições
salvar o mundo parando de fumar
não comendo carne
lendo autoajuda
votando em políticos
com desenvolvimento
vivendo com um sorriso
pensando positivo
sendo esperançoso
querem salvar o mundo sendo um bom moço

eles realmente acham
que essas coisas salvarão o mundo...

irão me perguntar:
“que horror, pra que tanto pessimismo?
eu responderei:
“que horror, pra que tanto consumismo?

com esta humanidade
o mundo é uma questão de tempo
para ser repasto de Urubu

porque todo mundo
quer salvar o mundo
mas ninguém
limpa o próprio cu




31 maio 2015

Imposto sobre Grandes Fortunas. Por quê? Escreveu Balzac: "Por trás de toda grande fortuna há um crime".

O imposto sobre grandes fortunas é o ÚNICO dos sete tributos PREVISTOS na Constituição que ainda NÃO foi implementado. Só este não foi implementado? Por que será? Não, não deve ser só por pressão dos milionários, deve ser porque nossos deputados que REPRESENTAM O POVO, são, em sua maioria, ricos. Isso é engraçado. Dizem que o povo brasileiro é em sua maioria pobre ou de classe média baixa. Então, como que nossos representantes são na maioria ricos? O pobre vota em rico? Por quê?

Como será mesmo que muitos milionários conseguiram suas fortunas? Trabalhando? Bom, mas, por exemplo, um agricultar que planta suas frutas e verduras para vender para supermercados ou em feiras trabalha sua vida inteira, de sol a sol, e não fica milionário.  Onde está a lógica de que trabalhar enriquece? Será que para alguns sairem ganhando, economicamente falando, outros não têm que sair perdendo? Os que ganham o "jogo" ganham por méritos ou ganham porque o jogo é injusto? E, além de jogar um jogo injusto, ainda, os que "vencem", jogam sujo, sonegando, por exemplo? Quais são as regras que definem esse jogo? Quem é que fez as regras? E fez com quais intuitos?


Abaixo, trechos sobre o assunto retirado do site "Impostômetro":


"No Brasil, o imposto sobre grandes fortunas traria várias contribuições. A primeira, de formar um colchão permitindo uma economia de investimentos em setores abalados pela crise. A segunda, de fazer o inverso do modelo tributário fazendo com que os mais capazes colaborem com recursos elevados e, por fim, produzir um custo social adequado ao perfil do Estado moderno.


O imposto sobre grandes fortunas teria o escopo de atingir um número limitado de pessoas jurídica e física que pudessem ter capacidade contributiva e, assim, recolhessem aos cofres do governo importâncias relevantes para sairmos da crise e combatermos as desigualdades.


A linha de pobreza aumenta, pois não tivemos, na realidade, uma distribuição de renda, e sim de crédito para que as classes menos favorecidas pudessem consumir e, em contrapartida, aumentassem o endividamento, gerando incerteza e grau elástico de inadimplência."

A questão parece complicada, mas em sua essência é muito simples: há desigualdade social porque uns poucos tiram o dinheiro que deveria ser de muitos. E fazem isso porque criaram um sistema que os favorece. Taxar as grandes fortunas não resolve, mas ameniza essa brutal injustiça.




29 maio 2015

10 Motivos (de sua vida pessoal) para o Al Pacino ser meu Ator Favorito


Não, não vou falar dos filmes,  papéis e atuações que ele fez, mas de fatos de sua vida pessoal:


1 - Alfredo James Pacino, nascido em 1940, filho de ítalo-americanos sem dinheiro algum (seu pai nasceu em Corleone, na Sicília) viveu toda sua infância no Bronx, um dos bairros mais pobres e violentos de Nova Iorque, conhecendo e vivenciando  a miséria e o crime.


2 - Vivenciando sérios conflitos familiares, aos 17 anos fugiu de casa, tendo, para se sustentar, que trabalhar numa série de empregos de baixa remuneração, como garçom, mensageiro, zelador... Mesmo assim, ficou diversas vezes desempregado.


3 - Conheceu como raros atores o lado negro da vida. Começou a fumar e a beber com 9 anos de idade e envolveu-se em brigas de bairro durante toda a adolescência. Na década de 60, foi preso por posse ilegal de arma, e, após, resolveu tentar a sorte na Sicília, Itália. Mas a situação ficou ainda pior, e teve como única saída para sobreviver se tornar garoto de programa.


4 - Para desenvolver seu talento como ator, fazia teatro de garagem.


5 - Ficando diversas vezes sem teto, dormia na rua, no cinema ou em casas de amigo.

6 - É um grande fã de música clássica.

7 - Também é um grande fã de literatura, principalmente de Shakespeare, Dostoiévski e Tchecov.

8 - É um ator considerado malquisto em Hollywood, por se declarar abertamente avesso aos seus jogos de estrelismos. Foi, por isso, injustiçado diversas vezes nas premiações do Oscar.

9 - Nunca abandonou suas raízes teatrais, atuando muito em teatro até hoje.

10 - Por fim, segundo suas próprias palavras: “Eu era realmente um ator das ruas, um cigano, sem casa e sem dinheiro. Vivi em espeluncas, albergues e hotéis de segunda. Para mim, qualquer coisa que tivesse água corrente era um paraíso... Sei que venho das ruas e não tive educação formal. Foi ler que salvou-me a vida."




27 maio 2015

"O que sabemos é inútil." (Goethe)

ontem
a minha gata
deu à luz seis gatinhos:
a minha gata criou seis vidas

e então me lembrei
do “nosso conhecimento”:
tantas ciências
tantas filosofias
tantas descobertas
religiões e seitas
invenções e máquinas
computadores, naves
tantas teorias
tantos tratados
e todo esse tudo
que é nada
não me explicou
o mais simples
e mais alto
dos atos
que é o saber o que é
esse sublime que é a vida:
o que diabos
(ou o que deuses)
é uma gata
com seus seis gatos???

(Na foto, a Sophie.)

25 maio 2015

de Religiosos e Homens Bons

I - as pessoas
não entram em religiões
para acabar com seus erros:
entram para encontrar outros errados
que se mútuo-enganam
para os justificar e perdoá-los:

se passam por justas
já salvas honradas honestas
até que alguém pise
nos seus ocultos calos

II - toda a imagem
de um “homem bom”
não passa de maquiagem e balela:
é um oásis-miragem
que se evapora
quando se vai à sua casa
e se espia por uma fresta
da sua bela janela

23 maio 2015

Estou do lado dos que Não Prestam

sou
dos que estão do lado
dos que perderam o seu lado
dos que não prestam
dos que não valem nada
dos fracassados:
estou do lado dos que olham
para um campo ou mata
e não veem futuras lavouras
mas campo e mata

estou do lado dos inúteis:
dos que olham para um vasto terreno
e não pensam
no que poderá ser ali construído
mas no que de belo um dia houve
e pelo progresso destruíram

estou do lado
dos que bebem e fumam
e não querem parar de beber ou fumar
só para estar de acordo
ou ser aceito
pela geração saúde intoxicada
do que não sabe
e de alma pesteada

não sou dos homens de bens
desses robôs engomados
marionetes com rei na barriga
otimistas mecanicistas
os bem-sucedidos correndo mortos
pelas avenidas:
não estou do lado
dos que acabaram com a vida

se prestar valer viver
é isso...
então sou suicida

21 maio 2015

A Maior Oposição da Música?

Amanhã, 22/05, Richard Wagner completa 202 anos. Wagner está entre meus quatro compositores preferidos, após Brahms, logicamente, Beethoven e Bach. Curiosamente, os quatro são alemães. E foi na Alemanha, na segunda metade do século XIX, que ocorreu uma das maiores polarizações da história da música, senão a maior. De um lado, Wagner e Liszt e a música programática, chamada também de "futurista", aquela que deveria servir a algum programa preestabelecido, geralmente ditado pela literatura (como no caso dos dramas musicais), e, de outro lado, Brahms, adepto da música absoluta, da música pura, que nunca compôs uma ópera (o mais próximo disso foi a Cantata Rinald, baseada em texto de Goethe), concentrado principalmente na música instrumental e nos lieder (canções, geralmente um poema cantado acompanhado pelo piano), e, por fim,  acusado, injustamente, de ser conservador em demasia, retrógrado. 

Seu eu vivesse na época, creio que seria um adepto de Brahms. Mas o tempo passou, e hoje a genialidade de ambos os compositores é compreendida cada uma em seu devido lugar. Wagner elevou a um patamar máximo o drama na música, o canto wagneriano, único, hipnotizante, assombroso. Suas óperas são monumentos da arte, onde se reúnem música, literatura, teatro, mitologia, são obras de força e grandiosidade . 

Mas na música absoluta, na música apenas instrumental, na música de câmara, Wagner não existe. Foi necessário Brahms para renovar a fundo a música absoluta pós-Beethoven, de forma mais contida que Wagner, mais discreta, de acordo com seu temperamento denso e sombrio de alemão do norte, mas não menos importante. Ambos os gênios ocupam hoje cada um o seu lugar, cada um trilhou de forma perfeita o seu caminho.

Entre os gêneros da música erudita, a ópera, de forma geral, não está entre os meus preferidos. Tanto que entre os meus três compositores favoritos, há apenas uma ópera: a "Fidélio", de Beethoven, a única que ele compôs. Brahms e Bach não compuseram óperas. Mas as óperas, ou dramas musicais, de Wagner são um caso à parte. São diferentes de todas as outras óperas, absolutamente revolucionárias, de uma profundidade de expressão inédita no campo operístico, e de uma potência sonora devastadora. 

É o caso da ópera Tristan und Isolde, para mim, a maior ópera já composta.  A obra trata da lenda medieval celta de Tristão e Isolda, enriquecida e transformada por Wagner em um verdadeiro mito do amor impossível e da morte. Esse drama musical é como um hino demente ao amor desesperado, onde novas possibilidades de expressão musical são exploradas até as fronteiras do sistema tonal. É música absolutamente revolucionária e perturbadora. Envolve-nos como um encantamento, como um feitiço, arrasta-nos por nebulosas, inflama-nos de uma febre ardente.

Inspirada no amor impossível de Wagner por Mathilde Wesendonck, esposa de seu amigo Otto Wesendonck, a escrita wagneriana nessa obra transcende as regras clássicas da composição, e, ao mesmo tempo, e também por isso, leva-nos a um outro mundo de absurdos sonoro-emocionais. Wagner foi, musicalmente e psiquicamente muito longe. Abriu as portas do atonalismo. Influenciou decisivamente toda uma geração. Em Tristan und Isolde, tudo parece se dissolver entre si, é como um trabalho alquímico, canto e orquestra se dissolvem, os temas entrecortam-se infinitamente em incessantes modulações, como numa vertigem, fundem-se, assim como o amor e a morte, a luz e a noite, a magia, o sonho e o desespero, a ilusão e a realidade. O canto wagneriano vai se desenrolando e nos hipnotizando, deixa-nos em transe, impregnado de desejo e dor, de fúria e alucinação, entre o sublime e a desgraça, entre o consolo e o veneno. Nessa obra de extremos e de audácias, a noite é a grande heroína, só ela possibilita o amor, enquanto o dia e a luz são sinônimos da opressão da vida.  E a morte acaba sendo a única libertação.

Mas Brahms também expressou tudo isso, mas na música absoluta, de uma outra forma, abstrata, que depende de nossa interpretação. A vantagem de Brahms é que ele é mais conciso, e isso é fundamental nos dias atuais.