14 janeiro 2014

Sorrir é um Mistério

diante dos agros campos
do que deve ser dito
(e o que deve ser dito
é sempre maldito)
faço com que as agruras
do que é mundo
fiquem gravadas
com sua devida gravidade

quando falo sério
serializo
como o serial killer
(quando o falo é sério)
e quando é um sorriso
ironizo
(que sorrir
é um mistério...)

diante dos agros versos
do que deve ser lido...

o que ganho com isso?
o ser digno:
antes
um poeta que saia agredindo
do que mil poetas
que saiam agra...dando

12 janeiro 2014

Restos de Civilização

dente
cariado
dentre
caído
quedado
por dentro

destecla
de piano
de
cadência
de marcha
de fúnebre

de década
em década
de cágono
descarga
a com passo
de cágado

peito
desfeito
de peido

engasgo
gago
caco
caralho

falo falhado
de falácia
de falência

humanidade...
farelo

e decadência

10 janeiro 2014

Poema publicado no Pragmatha

O poema abaixo foi publicado no Caderno Literário Pragmatha, de Porto Alegre (clique na imagem para ampliar).


09 janeiro 2014

Texto Publicado no Sul21

Aqui em Santiago, em seus sites de notícias, creio que muito dificilmente o texto "Acorda, Sociedade Santiaguense! A luta pelo respeito e valorização do humano e pelo direito sagrado da Liberdade de Expressão" seria publicado. E o santiaguenses sabem o motivo. Sou o maldito da cidade, o que escreve o que outros não querem ou não gostam, ou o que outros não têm coragem de dizer. Sou livre. A liberdade acima de tudo. E de ser assim e de  lutar pela liberdade e pelos direitos humanos jamais desistirei e jamais me arrependerei.

Felizmente, há outros sites de notícias, bem maiores que o de Santiago, e de absoluta seriedade. É o caso do Sul21, onde meu texto em questão foi publicado, que é de Porto Alegre e abrange todo o Rio Grande do Sul, e até mais. E tenho informações de que o texto repercutiu bastante por lá. E fora de lá.

Para ler o texto no Sul21, clique aqui

Meus agradecimentos ao Milton Ribeiro e ao Sul21.

07 janeiro 2014

Mais Alto

um outro sol
um outro sol mais ao alto
se erguerá sobre o sol derradeiro
vitorioso em som sonho e pesadelo
e um outro som mais alto e vermelho
se erguerá em de cada perdido instante
em teu vasto sim de guerra e mais adiante
um outro sou se erguerá em que vai avante
mais alta em larga prata e mortífera espada
de ponta adiante e ainda mais e mais elevada
de ultra e além lâmina e mais afiada em adaga
e um outro canto em soprano surgirá mais além
de sublime em sublime e mais ainda em quem vem
se erguerá mais acima e acima em que nunca ninguém
e se erguerá mais um passo ao alto do horizonte que espanta
e um outro verbo mais grave com fúria aguda venta e se lança
e outro olho mais fundo e avante em outra Força mais alta levanta

06 janeiro 2014

Acorda, Sociedade Santiaguense! A luta pelo respeito e valorização do humano e pelo direito sagrado da Liberdade de Expressão


Por favor, peço que leiam com atenção o texto abaixo, na íntegra, se possível:


Termos utilizados pelo sr. Ruderson Mesquita, falando como diretor de um hospital, durante programa na Rádio Verdes Pampas, no dia 3/1/2014, referindo-se àquelas pessoas que se utilizam das redes sociais para comentar, opinar, contestar, questionar sua administração de um órgão filantrópico, que recebe dinheiro público e que trata da vida das pessoas:



"machões do Facebook, que na verdade são os covardes do Facebook"

"bobalhões"

"indivíduo irresponsável"

"cachorrada" , entre outros.

Quem quiser conferir o áudio, está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=sJqTtgbyXSY

Um jornalista afirma no programa que o diretor do HCS comentará sobre informações distorcidas que estão sendo dadas nas redes sociais. Quais informações, sr. jornalista? Antes da entrevista em questão, foi comentado nas redes sociais sobre uma notícia publicada no site NOVA PAUTA. Esta:

"Conforme noticiado pela Rádio Santiago, a direção do Hospital está reavaliando a permanência do Pronto-Socorro em suas instalações. O local é de responsabilidade do município e, conforme Rúderson Mesquita, é onde ocorrem os maiores problemas, que acabam comprometendo a imagem do hospital. O administrador diz que o valor repassado pela Prefeitura está defasado e que, por enquanto, o Pronto-Socorro ficará no mesmo local contra a vontade da direção, ao menos até que o município tenha um outro local." http://www.novapauta.com/2013/12/hospital-pode-ficar-sem-o-pronto-socorro.html

Essa notícia é inverídica, senhor jornalista? A sociedade tem o direito de saber. 

Outra coisa, sr. Ruderson, se o senhor não está mais preocupado com a estrutura física do HCS do que com a questão humana, porque os funcionários, técnicos, enfermeiros assistenciais, recebem um dos salários mais baixos do Brasil? E por que pacientes continuam sendo mal-atendidos? Se o HCS está tão bem, por que então não pagar melhor e contratar mais funcionários para melhor atender os pacientes? No entanto, o que o HCS fez foi demitir determinada funcionária das mais competentes, alegando "corte de gastos". E isso eu posso provar. E será provado. E outras coisas serão provadas. Corte de gastos, meus senhores, para quê? Porque o sr. Ruderson prefere construir uma nova fachada, fazer uma propaganda para a televisão de gosto duvidoso (o que é isso, se não imagem?) e uma nova clínica. Uma nova clínica, enquanto o HCS não consegue oferecer um serviço de pronto-socorro satisfatório. Por que não consegue oferecer, sr. Ruderson?

O sr. Ruderson fala que os funcionários agora recebem os salários em dia e que antes muitos não recebiam. Ótimo, mas isso é uma obrigação de qualquer empresa. E o sr. Ruderson não menciona que agora o HCS recebe muito mais verbas públicas do que recebia naquela época. Mas mesmo assim, paga quanto, por exemplo, para um técnico de enfermagem? A sociedade santiaguense sabe qual o salário médio de um técnico no Brasil? Técnico de Enfermagem : R$ 1.305,84 (média) - R$ 1.009,24 (menor) - R$ 1.554,36 (maior). Isso em 15 de março de 2013. Quanto, sr. Ruderson, o HCS pagava na época? Quanto paga agora? Não seria algo em torno de 800 reais e uns quebrados de básico? Não é isso? Se não é, me corrija, por favor. 

E por que é melhor mesmo o Pronto-Socorro deixar o HCS? O sr. enrolou, enrolou e não deixou nada claro, sr. Ruderson, xingou quem não concorda contigo, e, no fim, tudo ficou ambíguo. E é só no Pronto-Socorro o mau-atendimento? 
Para provar como não é só no Pronto-Socorro o mau-atendimento, vou publicar trechos do meu próprio texto, de janeiro de 2011, referente à internação de meu avô, com uma isquemia cerebral:

"Meu avô foi internado hoje no HCS, logo após o meio-dia. Meu avô sofre de diabetes, Foi internado agora com um quadro que parece ser de insuficiência respiratória. Pois desde o instante em que foi internado até as 22h, nenhum, eu disse NENHUM, médico dignou-se a atendê-lo. Isso, olhem só o absurdo, que meu avô paga o plano de saúde do hospital!!!"

Isso foi até as 23h do dia 25 de janeiro. POIS MEU AVÔ CONTINUOU SEM NENHUM ATENDIMENTO DE UM MÉDICO POR QUASE 24H, até a manhã do dia 26, reitero: PAGANDO O PLANO DE SAÚDE DO HOSPITAL. Também escrevi sobre isso, na época:

"Havia um médico responsável no caso do meu avô. O HCS tem a obrigação de saber quem é, pois meu avó paga, há anos, o plano de saúde, eu não necessito citar seu nome. Mas esse médico responsável não estava lá. E pior, estava incomunicável. E só foi aparecer na manhã do dia seguinte, ou seja, quase 24h depois da internação. Disseram no HCS que como o médico responsável era tal, não podia haver a troca de médico, até que o responsável viesse ver meu avô. 

Diga-me se essa burocracia absurda, vergonhosa e cruel é algo que se faça com um ser humano? Com um cliente do hospital? Com um cliente do hospital? Não se faz isso nem com quem vai comer uma pizza. Quem vai comer uma pizza, pode esperar quase 24h para que ela venha? E se não há garçom, não tem o direito de pedir outro? Os clientes não têm direitos? Isso não se faz com quem espera por uma pizza, mas se faz com quem espera por sua própria vida? E isso é culpa do hospital, independente da culpa do médico. E se meu avô viesse a falecer durante esse período? É um caso isolado? Olha, sinceramente, tenho fortes dúvidas quanto a isso..." 

Infelizmente, na época, minha avó, viúva de meu avô, não concordou que entrássemos com um processo por negligência e descaso contra o HCS, ela não "queria se incomodar", que é como pensam, infelizmente, muitos dos cidadãos santiaguenses. Isso tem que mudar. 

Isso eu escrevi em 2011. Quem quiser conferir, as postagens, aqui:http://artedofim.blogspot.com.br/2011/01/incompetencia-e-vergonha-do-hospital-de.html

Falo do que vivenciei. Deixo que outro falem de suas vivências. Quantas pessoas, aqui mesmo neste grupo, já relataram casos semelhantes a este, de descaso completo com um paciente? Quantos sabem de casos com familiares ou conhecidos? 

E AGORA NÃO PODEMOS RECLAMAR QUE SOMOS PROCESSADOS E XINGADOS, OFENDIDOS PUBLICAMENTE NUMA EMISSORA DE RÁDIO? 

QUE TIPO DE CIDADE É ESTA, AFINAL, ONDE QUE ESTAMOS? O QUE SE PRECISA FAZER POR AQUI PARA TERMOS NOSSOS DIREITOS RESPEITADOS? UMA INTERVENÇÃO DA ONU? 

ACORDA, SANTIAGO! SE ISSO CONTINUAR, ESSA OPRESSÃO À LIBERDADE DE PENSAMENTO, EM BREVE ESTAREMOS VIVENDO UMA DITADURA DENTRO DE UMA DEMOCRACIA.

05 janeiro 2014

Soneto-Ocaso

derradeira derrocada das massas
pela invicta derrota do que humano
vontades que naufragam ano a ano
em vórtices vazados de não-taças

o infindo decair do que se faça
no em-vão irrevogável do não-plano
a esperança vencida pelo insano
nas vastas pradarias da desgraça

passo a passo de um algo que maldito
sobre as patas-serpentes de um cavalo
entre os olhos sedentos do inaudito...

a nulidade do ato de salvá-lo
dessangra entre vermelhos de infinito
e o Horror levanta a força do seu falo...

03 janeiro 2014

Quantos Sábios há no Mundo?*

cada humano
tem sua própria razão
e cada um tem razão
em tudo o que faz
por mais que não tenha
razão alguma
afinal quem determina
a razão de quem tem ou não?

ninguém se julga errado
porque se se julgasse errado
não faria o que se faz
porque mesmo quando
se julga em erro
logo transforma o erro em acerto
pelas mil e uma justificativas
e um milhão e meio de motivos
justos em absoluto
(para o seu si mesmo)
ainda que em justiça
não haja justiça alguma
em nenhum dos seus motivos
porque quem determina
o que é justo
para um ou outro?

quem é que pensa que não é certo
aquilo que pensa
por mais que só pense em engano?
quem é que age
julgando errado o que agiu
por mais errado que seja?
quem matou alguém
(por exemplo)
de três, uma:
ou julga justo ter matado
e assim está certo para si
ou diz que se arrepende
mas no fundo não se arrepende
porque no fundo
se julga certo para si
ou se arrepende mesmo
e por se arrepender
se julga correto
após o arrependimento
e assim está certo para si

quando dizemos que estamos errados
no fundo apenas dizemos
para que os outros não nos digam
que estamos errados
admitimos o erro
para poder viver tranquilos
no que julgamos acerto
mas não que nos admitamos
como de fato errados

quem é que muda
quando se julga errado?
se não muda
é porque no fundo
se julga correto

cada um de nós
e todos nós
nos julgamos donos
de toda a verdade
ainda que em verdade
não saibamos de verdade alguma
porque quem determina
o que é verdade
para um ou outro?

cada um de nós
por mais que saiba que não sabe
(que em verdade não sabe
pois quem pode dizer
quem sabe ou não?)
no fundo pensa age e vive
como se tudo soubesse

há 7 bilhões de sábios no mundo
que vai cada vez mais
do poço
ao desconhecido fundo

*Poema reelaborado e republicado

02 janeiro 2014

A Imagem do HCS, Câmara de Vereadores e Política da Fachada

Inicio com o que foi publicado no site Nova Pauta no dia 30/12/13:

"Conforme noticiado pela Rádio Santiago, a direção do Hospital está reavaliando a permanência do Pronto-Socorro em suas instalações. O local é de responsabilidade do município e, conforme Rúderson Mesquita, é onde ocorrem os maiores problemas, que acabam comprometendo a imagem do hospital. O administrador diz que o valor repassado pela Prefeitura está defasado..."

Parece que tudo em Santiago se resume a fachadas. Os santiaguenses já perceberam o fato? Comecemos com a declaração do administrador do Hospital de Caridade de Santiago. Eu até acho uma boa que o Pronto-Socorro saia do hospital. Agora, o motivo declarado para sua saída pelo administrador do HCS seria risível se não fosse deprimente. O Pronto-Socorro, segundo ele, deve sair do hospital porque prejudica a IMAGEM do mesmo. A imagem? É só isso que importa? Não importam as pessoas doentes, feridas, em casos de emergência, sendo mal-atendidas? Importa a IMAGEM do HCS? Que tipo de humanidade há nessa declaração?  Há alguma relação com a nova FACHADA do hospital? Ou seja, o que importa é fachada, é a imagem?

E será mesmo que os maiores problemas do HCS estão só no Pronto-Socorro? Acho que não, hein. Meu avô, por exemplo, que pagava a baixíssima qualidade do plano de saúde do HCS, em 2011, não estava no Pronto-Socorro e ficou 24h sem atendimento de um médico. E será que não há outros casos semelhantes a esse aqui em Santiago? Acho que sim. O problema do mau-atendimento no HCS não é só no Pronto-Socorro.

Já afirmei e volto a afirmar. O maior problema do nosso hospital é que ele coloca em primeiro plano o físico, as estruturas, e relega a segundo plano a questão humana. Tanto no que se  refere a pacientes quanto a funcionários. A construção da nova fachada, da clínica e as declarações do administrador atestam o que afirmo. Enquanto fachadas são erguidas, o mau-atendimento aos pacientes continua, e os salários para técnicos seguem como um dos mais baixos do Brasil. Confira clicando aqui a média salarial dos profissionais da enfermagem. Depois se informem quanto paga o HCS. Para técnicos, no Brasil é o seguinte: Técnico de Enfermagem : R$ 1.305,84 (média) - R$ 1.009,24 (menor) - R$ 1.554,36 (maior). Isso em 15 de março de 2013.  Quanto será que pagava o HCS para um técnico nessa época? Os leitores sabem? 

Outro motivo alegado pelo administrador para retirar o Pronto-Socorro do hospital é que o valor a ser repassado pela Prefeitura Municipal estaria defasado. O problema da questão é que foi realizada um investigação pela Câmara de Vereadores de Santiago em que se concluiu (leiam o texto da imagem abaixo) que o administrador municipal não pode ser responsabilizado por desvios ou mau emprego dos  recursos públicos destinados ao Pronto-Socorro. Sendo assim, entende-se que os valores são repassados corretamente, sem defasagem, ao contrário do que alega a administração do HCS. Ou não é isso que se entende? Onde está o erro aqui? Alguma não está fechando. Onde está a fachada aqui?

Um outro assunto, que também tem a ver com a Política da Fachada, foi o ato lamentável do vereador Sandro Palma, que cortou de forma autoritária e sem justificativa plausível  a fala da vereadora Iara Castiel. Que eu saiba, o partido do vereador Sandro Palma, o PTB, foi um dos pilares da luta contra a ditadura militar, sendo proscrito em 1965 pela mesma. E agora ele, como presidente da Câmara de Vereadores de Santiago, age como aqueles que o seu partido combatia. Qual sua ideologia política, vereador Sandro Palma? Tem alguma? Independente do partido de um vereador, todos têm o direito a se manifestar livremente, desde que não ofenda a terceiros, e imposição arbitrária do silêncio não se coaduna com um estado democrático. 

Será que o ato do sr. Sandro Palma é também mais um reflexo da Política da Fachada, em que se tenta manter, pelo silêncio forçado dos outros, a aparência de que tudo está bem? 

31 dezembro 2013

Mensagem Antipática de Ano-Novo (ou A Marmelada)

as pessoas dizem
que fazem
o que elas têm que fazer
mas o que é que
elas têm que fazer?
quem disse que o que é feito
é o que deveria ser feito?
e por que uma pessoa
acha que deve fazer tal coisa
e não outra?

as pessoas acham que cumprem
com seus deveres
mas qual seriam os seus deveres?
e por que tais deveres e não outros?
quais são os deveres
que de fato deveriam ser deveres?

nosso mundo é o que é
porque cumprimos com nossos deveres?
achamos que outros
não cumprem seus deveres
mas sempre achamos
que cumprimos os nossos
e se todos acham que cumprem seus deveres
então não há ninguém errado
e se não há ninguém errado
o mundo deveria estar correto ao extremo
e qual seria o mundo correto?

cumprir seus deveres
é se ter a vida que temos?
quem é que estipula os nossos deveres?
em que momento da vida
e por quais motivos
as pessoas se dizem:
tenho que fazer isso
e não aquilo?

fizemos uma escolha
ou fomos convencidos
ou fomos obrigados
ou achamos que escolhemos
mas fomos convencidos
ou obrigados
sem que percebamos que o fomos?

nos Anos-Novos
as pessoas falam em mudanças
mas durante os Novos-Anos
fazem o que estão certas
que devem fazer
e sempre acham
que devem fazer as mesmas coisas
e que estão certas no que fazem
e que cumprem seus deveres
que são sempre os mesmos
e cumpridos da mesma forma
e não há mudança alguma

ninguém nunca se questiona nada
e no fim das contas
anos-novos sucessos felicidades
parecem um banquete da virada
mas  são apenas o de sempre:
marmelada

30 dezembro 2013

Fragmento Absurdo de Uma Existência Futura n°1 – Com as mãos sujas de miolos

Fumando mais um cigarro, sentado na merda da minha cozinha, recordo-me, em indiferença, indiferença pura e simples (que tem sido a tônica da minha vida), os tempos em que eu assaltava bancos com alguns amigos.  Bons tempos. Agora devem estar todos mortos. Eles, meus familiares e aquelas mulheres, poucas, bem poucas, que amei. Ou quase isso. Na verdade, nem sei se estão mortos ou não. Nunca mais soube deles. Nem tenho como saber, por mais que eu deseje. E também, agora, já nem desejo tanto assim.  De que adiantaria? Mas devem estar mortos, é o lógico, dadas as circunstâncias. E em breve eu também estarei morto, é só uma questão de tempo. Sinto-me realmente doente. Não sei de qual doença se trata, é tudo tão confuso, uma reunião de sintomas de que nunca ouvi falar, sobre os quais nunca li, mesmo com os razoáveis conhecimentos de medicina que possuo. 

É como se minha pela ardesse e coçasse, saindo pequenas feridas purulentas em várias partes do corpo. Meus olhos ardem e estão sempre vermelhos. Às vezes, tenho pequenos sangramentos do nariz, dos olhos, das feridas da pele. Meu catarro grosso e amarelado volta e meia está manchado de sangue. Seguidamente, tenho febre. Por vezes, alta. Minha cabeça dói. Tenho tonturas, vertigens. De vez em quando, algum tipo de alucinação. Além de outros sintomas menores. Deve ser alguma doença oriunda da água contaminada ou da comida apodrecida. Ou, talvez, levando-se em conta os problemas de pele, pode ser efeito da radioatividade. Afinal, ela deve estar muito alta nessa região. E não só aqui, obviamente.  Mas talvez aqui onde vivo a concentração radioativa seja particularmente alta, levando-se em conta que, além da guerra que afetou a todos,  uma usina relativamente próxima à minha casa explodiu.

Aliás, a doença não deve ser A doença, mas o mais provável é que seja AS doenças. Devo estar com um monte de merda em meu corpo. Só sei, ou acho que sei, que não é aquele vírus que dizimou a cidade, porque o principal sintoma da epidemia era a diarreia, e isso, pelo menos, eu não tenho. Ou também pode ser uma mutação do vírus, como ocorreu com várias outras doenças agora mortais, sei lá. Mas enfim, e agora, o que é que isso tudo importa? Como sei que não há forma de me curar, ainda que eu soubesse do que se trata, aguardo a morte, resignado e indiferente. E mesmo que eu pudesse me curar, viveria pra quê? Lembro que naqueles tempos passados, dizia-se que o homem não seria tão louco, ou doente ou estúpido para cometer determinados absurdos. No entanto, cometeu. Se eu pudesse viajar no tempo, para o passado, com a intenção de alterar o futuro, se isso fosse possível, deixaria este meu relato como um terrível alerta. E na verdade, nem sei por que escrevo isso. Talvez, inconscientemente, com algum tipo absurdo de esperança de que realmente ele sirva de advertência. Além de doente, devo estar louco.

Bom, saindo de meus devaneios, devo dizer que a doença não me tirou o apetite. Tenho fome. E muita. Agora mesmo, estou pensando no que vou comer. Há meses, eu e alguns vizinhos, que já estão mortos, saqueamos todos os supermercados da cidade. Eu e meus vizinhos fomos os únicos que sobrevivemos após a epidemia do vírus desconhecido. O vírus havia contaminado a rede de água da cidade, mas nunca bebíamos água da torneira. Bebíamos de um grande poço artesiano que mantínhamos em conjunto. Quando a população inteira foi morrendo rapidamente, defecando sangue e pedaços de órgãos, isolamo-nos em nossas casas, bebendo água somente do poço e nos alimentando de nossos estoques. Mas, quando os estoques acabaram, tivemos que sair para procurar comida.

Nas ruas, cadáveres e mais cadáveres, todos mortos, todos. O fedor era insuportável. É interessante notar como a necessidade imperativa, imediata, de alimentos parece debochar daquilo que chamamos de “humanitarismo”, “compaixão” “amor ao próximo”. Pisando por entre cadáveres, sofríamos com a morte de outros seres humanos, havia vários conhecidos meus, mas isso não impedia que corrêssemos por entre eles esmagando  seus crânios ou afundando os pés na sua carne apodrecida, ou chutando seus corpos para abrir caminho o mais rápido possível, sem nada daquilo que chamaríamos “respeito pelos mortos”. E quanto aos meus vizinhos, em nenhum momento eu pensei em auxiliá-los na busca por alimentos, ou em dividir parte do que eu tinha conseguido saquear. Faria algum sentido ser solidário naqueles momentos? Não. Muito pelo contrário, era cada um por si, e o que conseguíamos pegar antes que algum outro pegasse era comemorado como uma gloriosa vitória. Era natural, natural ao extremo, que brigas existissem, e violentas. Eu mesmo tive que matar dois de meus vizinhos. Quando digo que tive de matar, era porque a questão era simples: ou eles ou eu. O primeiro, matei com um espeto que estava ao meu alcance em um supermercado, pois disputávamos os últimos pedaços de carne fresca. Ou quase fresca. O segundo, estourei os miolos com minha pistola, para poder ficar com um imenso estoque de frutas secas que ele tinha roubado.

De modo que agora, logo ao acabar de fumar meu cigarro, comerei algumas nozes. É curioso notar a forte semelhança do formato interno das nozes com o cérebro humano. Mais interessante ainda é o fato de eu ter obtido essas nozes estourando o cérebro de um vizinho que era tido por todos como inteligentíssimo. O cara até era meu amigo. Ah, foda-se! Remorso? O que significaria agora o remorso? Se um dia ocorrer o impossível de alguém ler este relato num tempo passado, sei que eu serei compreendido e perdoado. Não que o perdão me importa. Eu nem sei o que me importa, se é que algo me importa... Bom, agora me importam as nozes. Fiz o que deveria ter feito. E isso é tudo. Quem teria agido diferente no meu lugar?... Valeu a pena pelas nozes que comerei agora. Com as mãos sujas de sangue e miolos.

(Este conto, primeiro da série "Fragmentos Absurdos de uma Existência Futura", foi reelaborado e, agora, republicado.)


28 dezembro 2013

Devastação florestal sem limites em Madagascar traz de volta a Peste Negra

A ilha africana de Madagascar ficou conhecida atualmente pelo filme infantil de mesmo nome, onde uma infinidade de animais de diversas espécies aparentam viver felizes e em paz. Lamentavelmente, a realidade do país é bem outra. Madagascar, e muitos não sabem, possui a maior biodiversidade do planeta, ou seja, é o país que mais apresenta diferentes espécies de seres vivos.

Ou apresentava. Cerca de 97% de suas florestas já foram destruídas. Eu disse 97%. Da Floresta Tropical de Madagascar, a mais rica do mundo, restam míseros 3%. Que continuam a ser devastados. É a floresta tropical mais destruída do planeta, mais que a nossa Mata Atlântica, da qual ainda restam seus imensos 7%. Quanto à extraordinária fauna de Madagascar, 90% já desapareceu. Foi levada junta com as árvores derrubadas para extração de madeira, agricultura e extração mineral.

Madagascar é um paraíso com seus dias contados. Nem mesmo as pequenas reservas ambientais do país, onde vivem os famosos lêmures do filme infantil, estão a salvo. O que não é muito diferente do Brasil.

Pois bem, um dos resultados catastróficos de toda essa devastação absurda foi a volta de umas das piores doenças da história da humanidade: a peste bubônica, ou peste negra, que matou cerca de um terço da população europeia durante a Idade Média. A peste bubônica, que tem esse nome porque causa bulbos (inchaços infecciosos dos gânglios linfáticos) pelo corpo, geralmente de coloração escura, é causada por uma bactéria que é transmitida ao homem pela picada da pulga do rato, e pode matar em 3 dias.

Na Idade Média, devido ao desconhecimento e às precárias condições de higiene que se desenvolveram com o crescimento caótico dos cidades, os ratos se proliferaram muito e passaram a conviver com os homens nas cidades sujas. As pulgas passaram para os homens, e a peste negra se transformou numa das piores epidemias da história. Com o tempo, com os avanços científicos e com a melhoria das condições de higiene, a doença foi quase erradicada (embora sempre tenha existido casos isolados em países pobres).

Agora, em Madagascar, o motivo da volta da enfermidade é outro. Deve-se ao desmatamento impiedoso da região. Os ratos que viviam nas florestas, não tendo para onde ir e sem alimento, estão invadindo as casas e trazendo com eles suas pulgas infectadas. Até o momento, foram confirmados 86 casos da doença, com 39 mortes. E trata-se da peste bubônica pulmonar, caso mais grave da doença, que pode ser transmitido não só pela pulga, mas de pessoa para pessoa. As autoridades sanitárias ao redor do mundo consideram a peste bubônica como uma doença re-emergente, assim como a tuberculose, ou seja, doenças quase erradicadas que estão voltando. Há alguns poucos anos, um surto de peste bubônica atingiu a Índia, matando dezenas de pessoas. O desmatamento também foi responsabilizado pela doença na Índia.

(Na imagem, foto de uma área de floresta tropical quase que completamente destruída em Madagascar, onde corre um rio morto de águas vermelhas devido ao barro das erosões. Uma cena infernal em meio ao que antes era um paraíso.)

Fonte: http://exame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/noticias/peste-causa-39-mortes-em-madagascar

26 dezembro 2013

do Funcionamento de uma Câmara de Vereadores

I

uma câmara de vereadores
funciona
de acordo com o seguinte princípio:
antes das eleições
é tudo in festança
depois das eleições
é tudo in festada

II

alguns vereadores
e demais políticos
quando reúnem-se
em suas campanhas
causam-me insuportáveis ascos
só em pensar
no ranço daquelas picanhas
e na graxa daqueles churrascos

III

o povo medíocre
em seu imediatismo
acha que vereador
é quem troca logo o bico
e depois o pobre
leva um chute de bico
do edil medíocre
e nobre
em seu imerdiatismo

IV

enfim
uma câmara de vereadores
(com todo respeito e deferência)
fede
a merda de gente
e a mijo de bode
seguindo o regimento maior:
“eu tiro vantagem
e o povo se fode”

25 dezembro 2013

Poema de Natal a um Urutau

naquela noite
tu serás tu mesmo:
ao que homens se mostram
tu te ocultas
como se não
como se nem fosses

os sábios sopram
que sendo tu
tu nada sabes
pois o que é que leste?
mas tu
tu nem estás
em teu não estar
do que dizem
tu te escondeste

não sendo nada
só o teu Ser é que é:
e teu ser não seria
se te mostrasses em aberto
alardeando sob o sol
o que só vê
teu olho noturnal...
mostrar-se
não é de um urutau

paira de ti
o espectro do que não
um verbo que se fantasma
grito não-dito
e lamento-punhal
no invisível
és toda a dor de uma era
final

quem te vê quando cantas?
o que cantas é um susto
que não nos deixa sinal...
por isso este poema:
também ninguém vê o Natal

Obs.: o urutau é uma ave noturna que se utiliza muito bem da sua incrível capacidade de camuflagem. Por isso, raramente é vista. Vive da Costa Rica até a Argentina. Seu nome, urutau, em tupi-guarani significa "Ave-Fantasma". O motivo do nome, além de sua quase "invisibilidade", é que o seu canto melancólico é uma espécie de gemido muito triste, que lembra um lamento humano. 

(Este poema foi escrito para o Natal de 2012. Republico-o, com algumas poucas alterações.)

24 dezembro 2013

Aquecimento Global: gelo está desaparecendo e Ártico está ficando mais verde (e o Papai Noel pode ficar sem renas)

Para aqueles que estão certos de que o Aquecimento Global é balela, esta notícia pode cair como um balde de água fria, quer dizer, de água quente: pesquisadores afirmam que desde a década de 80 a temperatura do Ártico vem aumentando de forma gradual, ocasionando degelo marinho progressivo, surgimento de vegetação em locais anormais (cada vez mais ao norte, no lugar do gelo) e redução da população de animais nativos, principalmente renas e caribus.

Foi o que destacou a edição de 2013 do Arctic Report Card, um informe anual publicado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA). 

Ranga Myneni, do Departamento da Terra e do Meio Ambiente da Universidade de Boston, em um comunicado de imprensa da NASA, afirmou:

 “As latitudes maiores do Norte estão ficando mais quentes, o gelo do mar Ártico e a duração da cobertura de neve estão diminuindo, a estação de crescimento está ficando mais longa e as plantas estão crescendo mais, No Ártico e nas zonas boreais do Norte, as características das estações do ano estão mudando, causando grandes perturbações para plantas e ecossistemas associados. (...) Isso põe em movimento um ciclo de reforço positivo entre o aquecimento e a perda de gelo do mar e da cobertura de neve, que chamamos de efeito estufa ampliado. O efeito estufa poderia ser ainda maior no futuro, enquanto os solos no Norte descongelam, liberando quantidades potencialmente significativas de dióxido de carbono e metano.”

Nos últimos diferentes espécies de plantas, inclusive árvore típicas de clima temperado, foram vistas crescendo no Ártico em um raio de 250 a 430 milhas mais ao norte do que o normal. Ao mesmo tempo, as população dos caribus e das renas, estas últimas famosas por puxarem o trenó do Papai Noel, têm diminuído de forma contínua ano após ano.

Continuando assim, num futuro próximo, o Papai Noel vai ter que contratar vaquinhas para puxarem seu trenó.