10 julho 2013

A Gloriosa, Magnânima e Sublime Imprensa Santiaguense

Não posso concordar com e nem mesmo tolerar aqueles que afirmam revoltosos e enganosos que a impressa santiaguense não é isenta, que é parcial e tendenciosa, que favorece e privilegia alguns lados, alguns grupos, alguns indivíduos, em detrimento de outros, que atua conforme seus próprios interesses e de seus patrocinadores e não em benefício da comunidade. Não, isso é uma afronta à ética dos nossos jornais (que primam pela qualidade inigualável de conteúdo, diga-se de passagem), blogs compromissadamente noticiosos e jornalistas abnegados, verdadeiros, sinceros, desinteressados, humildes e inflexíveis.

Desconheço completamente a existência, por exemplo, de favorecimentos aos nossos coronéis. E mesmo que haja algum, qual o problema que veem no fato? Nossos coronéis são todos grandes homens que honram o fio do bigode (mesmo que não o tenham) que eternamente têm controlado nossa cidade com seu reto certo, digo, reto cetro, com o único e sagrado objetivo de torná-la mais próspera e livre da canalha preguiçosa e anarquista, principalmente essa juventude corrompida e libertina que anda maculando o santo nome da Terra dos Poetas, estragando a beleza esfuziante de nossas ruas e levando a infâmia à paz das famílias progressistas.

Que nossos órgãos de imprensa beneficiem os coronéis, os homens que fazem, a gente da classe alta, a elite (afinal, o que significa a palavra elite que não “os melhores”, e classe alta é o mesmo que pessoas nobres)  é algo verdadeiramente louvável, uma vez que provam que estão alinhados e comprometidos com o que é inquestionavelmente certo, correto, justo, claro e progressista. Não, ao mencionar “progressista”, não pensem os senhores que fiz uma alusão maliciosa ao Partido dos Pobres, ou PP. O que quero dizer é que nossos órgãos de imprensa demonstram que são compromissados com o nosso desenvolvimento. Alguns invejosos, caluniosos, vagabundos, chegam ao cúmulo inaceitável de pronunciar a grosseira e grotesca palavra “cabresto” para a nossa imprensa, dizendo que foi encilhada pelos coronéis, o que, é, logicamente, um absurdo, uma atitude de má-fé e covardia. Essa gente têm provas do que afirma? Duvido muito.

Também nunca soube de casos, por exemplo, de pessoas que tenham sido excluídas dos jornais por dizerem certas verdades inconvenientes, ou seja, nunca nem mesmo ouvi falar de censura, de discriminação, de impedimento, ou daquela expressão popular e de mau-gosto: “fulano foi cortado...”. A democracia é o lema pujante, o pendão glorioso da imprensa santiaguense, onde qualquer indivíduo, mesmo que seja um pobre coitado assalariado, pode deixar livre e desimpedido a sua opinião e mesmo assim seguir trabalhando. Nem mesmo no Facebook soube de algum caso de algum jornalista ter excluído algum amigo por este estar incomodando ou perturbando as verdades já estabelecidas em nosso município.

Digam-me, cavalheiros de bem, digam-me damas espetaculares da sociedade, que magnificamente e semanalmente frequentam as páginas de glamour e badalação social de nossos jornais, digam-me se há algo mais belo, mais saudável, mais edificante do que a chegada de um honrado e ilibado homem de imprensa a algum evento, a alguma festa, enfim, a qualquer acontecimento digno de nota? Olhem, observem, admirem a divina sinceridade e alegria espontânea estampadas em seus sorrisos, que lembram as celestialidades mozartianas, e são um alento, uma esperança, uma saudação de paz e benignidade à inteligente e culta sociedade santiaguense.

Como alguém pode caluniar tais homens, próximos à grandeza dos semideuses, afirmando que são um bando de interesseiros vaidosos e narcisistas que andam atrás de vultuosos patrocínios, chegando mesmo a usar termos chulos e vulgares, como este que ouvi esses dias, mais ou menos assim: “esse pessoal da imprensa quer é encher o cu de dinheiro...”?

E como podem afirmar essas pessoas, sem amor ou bondade ou moral em seus corações, que os nossos homens de imprensa enchem seus veículos de informação de fofocas, de sensacionalismos baratos, ou de frivolidades, banalidades, futilidades, inutilidades e outras “dades” mais? Como podem?

Só falta agora cometerem o sacrilégio criminoso de dizer que nossa impressa oculta ou distorce ou omite algum fato, alguma verdade. Não, isso seria demais, ainda acredito na sensatez, no bom senso da humanidade, e espero que jamais surja uma pessoa capaz de pronunciar tamanha ideia descabida.

E eu não são serei o primeiro.

Obs.: Deixo a foto acima daquele simpático macaquinho para que nossos jornais e blogs, sempre preocupados com a questão ambiental, publiquem-na, como forma de contribuir com a preservação do raríssimo Macaco-de-Saco-Azul. Só espero que não venha algum malicioso desaforado metido a engraçadinho insinuar que publiquei a foto para que os puxa-sacos de Santiago fiquem felizes em finalmente poderem puxar um saco azul.  

09 julho 2013

Não Sirvo* (Poema Antissubmissão)

vós me perguntastes
em algum (de nenhum) tom
entre o fútil e o vago
(como se perguntar
respondesse algo)
o para quê?
serviria um poeta

respondi
(como se nem estivesse aqui)
que poeta
(se poeta)
não serve pra nada
e não serve a ninguém

poeta
(estando sempre em riste)
é o que ainda resiste
em ser-se

a função do poeta
é ser o ser em si
num mundo
onde todos são como todos
e ninguém é ninguém

sou-me
(ainda
que em um além)...

mas jamais
ser-vos


* Tendo em vista a onda de submissão e subserviência em Santiago, republico este poema.

05 julho 2013

Às Três Sonatas para Violino e Piano de Brahms

I

melodia do que me dia
e companhia
à matilha de finais
quanto mais
eu quanto contigo
canto e ergo-me
sigo-te
quantifico-me
no que me frio
deixando rastro
e foice
no dia-a-dia
que é mais um arrasto
um fogo-fátuo
do que não-fosse

II

melodia do que me tarde
tempestade-sereno
sonático beijo
em pizzicatos sinais
nota que não me acorde
rosa deixada em arpejo
esmagada por entre o ver-te
ou rosa que amarelece
a messe
por entre o meu verde

III

melodia do que noturna
sangue de cordas
de cadências de lua
friccionada em íris
piano no que te alma
enquanto tu nua
corte no opus dos olhos
látegos flagelos açoites
melodia e grito
solo e sexo
e baladas nas frontes
empunhaladas nos sonhos
melonoites

04 julho 2013

274 Espécies de Animais em Extinção no RS. 11 já Extintas

Foi divulgada este mês a lista dos espécies de animais com risco de extinção no RS. Realizada por 129 pesquisadores, a pesquisa avaliou no total 1580 espécies de animais, entre mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados. Abaixo, publico trechos da entrevista concedida por Glayson Bencke, pesquisador do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (MCN/FZB):

"Sabemos que 22% das espécies de mamíferos no estado estão ameaçadas. Quer dizer, uma em cada quatro ou cinco espécies de mamíferos está ameaçada. As aves são 14%, aproximadamente uma em cada seis espécies. Répteis são 11%, uma em cada dez espécies ameaçadas. Anfíbios são 15%; esse é um grupo que subiu bastante em relação à lista anterior. Em 2002 contabilizamos uns dez anfíbios, e agora estamos com 16, houve um aumento de 60%. Houve um aumento da extinção de peixes também; passou de 28 espécies em extinção para 69."

"As espécies campestres estão em extinção, porque os pampas e os campos de cima da serra sofreram uma redução significativa nos últimos oito e 15 anos, respectivamente, com a expansão da soja e da silvicultura, além de problemas oriundos de espécies exóticas."

"O avanço da silvicultura no Estado contribui para a extinção de algumas no sentido de eliminar o habitat das espécies que dependem do campo. A expansão ocorre nas regiões campestres, assim como a agricultura eliminou os ambientes florestais há décadas com a expansão do trigo. É um processo que se repete com as paisagens campestres, e isso preocupa porque se percebe o declínio de espécies por conta dos monocultivos. Também destaco a situação crítica de algumas espécies de peixes ao longo da costa do Rio Grande do Sul, que chegam a limites inaceitáveis, como as populações de peixes que foram levadas a zero por uma sobrepesca, chegando à beira de extinção, como os pequenos tubarões."

"Os grupos de espécies florestais, especialmente das florestas de planícies das terras baixas do litoral norte, das florestas do alto Uruguai e do planalto, que são mais degradadas, despontam como as que sustentam espécies em situação mais crítica. Nós podemos citar o norte do estado, com o Parque Estadual do Turvo, e outras poucas áreas no entorno, onde existem a anta, a onça pintada, o porco-queixada, e outras espécies praticamente restritas a essas poucas grandes manchas do norte."

Abstenho-me de comentar.

Fonte: clique aqui.


03 julho 2013

que se nubla como sangue...

nada me diz
o que não sei-me
que não fiz?
aquilo que não era
em que era
em fim será?

o que vejo
quando me sinto?
há imagem
no som
do não estar?
e o que há de meu
no íntimo
de tudo que é indistinto?

aquilo que sendo
me entardece
nuvens crepusculam tardes
aves que auroram campos
pelo inverso
solar do sono

sou eu
que tardo no que sinto
ou é o campo
que se nubla como sangue
seco e tinto?

noite que te atrás
entre a eternidade
da dúvida
o que é que tu me trazes
enquanto trago a chuva...?
e que olho de horizonte
me olha desde o ontem
entre o que vento
e o que silência
do ruir do monte?

que seja...
o que não sou
está sendo no que fiz
o que não fiz
está feito no que sou

02 julho 2013

"Doze profissões contra o Ato Médico"

O título é a manchete de uma pequena notícia veiculada no jornal Correio do Povo do dia 1° de julho, na página 15. Refere-se a uma manifestação contra o Projeto de Lei do Ato Médico realizada no centro de Porto Alegre com o objetivo de pressionar a presidente Dilma a vetar o projeto que dá exclusividade aos médicos para realizar diagnóstico e prescrição terapêutica. Psicologia, Enfermagem, Serviço Social, Biologia, Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia, Educação Física, Fonoaudiologia, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional uniram-se contra o absurdo e o retrocesso do "ato médico".

Loiva Leite, presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul afirma que "O ato médico fere não só as demais profissões, mas todo o paradigma de saúde que o Brasil conquistou na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). (...) Não concordamos que 12 profissões fiquem tuteladas pela profissão médica". 

Já escrevi no blog a respeito do assunto (clique aqui). Solidarizo-me com as profissões mencionadas acima, pois há muito considero não só um absurdo, mas um desrespeito, um atraso e uma burrice a dominação totalitária dos médicos na área da saúde. Por que mesmo os profissionais da Medicina saberiam  mais de saúde que outros profissionais que estudam tanto quanto eles? E como alguém pode considerar correto e justo um médico interferir (e mais que interferir, mas também dar o seu "aval") em outras áreas sobre as quais não tem o conhecimento necessário?

Entendo, no entanto, o porquê de o Congresso Nacional ter aprovado essa imbecilidade. É que o lobby dos  médicos, todos sabem, sempre foi e continua sendo fortíssimo por lá. Sem falar que rola muito dinheiro quando o assunto é medicina. Alem do mais,  o Brasil ainda é um país de caráter patriarcal onde o povo, inculto e geralmente submisso, vê o médico como dotado de poderes divinos. Longe de mim generalizar, mas há muitos médicos de uma arrogância e de uma frieza humana realmente estúpidas. Há alguns que tratam o paciente como um pedaço de carne ambulante (às vezes, nem ambulante...). Estou certo de que cada um dos leitores conhece, ao menos,  algum médico dessa categoria. Que acaba denegrindo a imagem dos médicos sérios e verdadeiramente preocupados com seus pacientes.

Da mesma forma, considero um roubo o preço de uma consulta particular. Sim, um roubo, um assalto autorizado por lei. Cobrar 300, 400, 500 reais por uma consulta de 10 minutos? Se não é roubo, é o quê? Em países europeus, por exemplo, o médico é visto como ele é: um profissional necessário e importante como todas as demais profissões, que deve dar o melhor de si assim como deve fazer todo e qualquer profissional sério e responsável. Não mais que isso. Nem menos. Por que aqui no Brasil querem manter e até ampliar um domínio burro, retrógrado e desrespeitoso?

E basta também dessa mania imbecil de se chamar médico e advogado de doutor. É doutor se tiver doutorado. O que também não torna ninguém melhor, pois há doutores reais (ou seja, com doutorado), em  diversas profissões, que mal sabem escrever e/ou falar em público. Não é para o Brasil acordar? Vamos ver se acorda para isso.

30 junho 2013

É sempre pior do que dizem...

eu acredito
que é sempre pior do que dizem
ou
há sempre mais do que é dito:
a humanidade tem por princípio
não saber
ou não deixar que se saiba

o que é o governo
além de controle?
e controlar é decidir
o que se pode saber ou não

o que é o povo
além de ignorância agradada?
para que o povo não saiba
o que não pode
de vez em quando
se passa a mão na sua cabeça
e dá-se um leitinho quente
para que ele durma
sonhando...

e o que é o gênio
além de develador de verdades
seja em letra em nota em cor...?

ser gênio é saber que há mais
onde não se suspeita de nada
e saber como extrair
o além
do que ali está

ser gênio
não é ser grande na humanidade
é justamente
não ser humanidade

28 junho 2013

O Problema

o problema
é que separaram tudo de tudo
como se o tudo
fosse parte
e não todo
ou como se cada parte
não fosse parte do todo

o problema
é que consideraram diferentes
todos os quase mesmos
ou mesmo mesmos
desligaram as polarizações
desigualizaram os iguais
e que uma coisa
era só uma coisa
e não poderia ser outra
como se a existência de um lado
impedisse a existência do outro
como se o som soado
(sendo Bach)
fosse uma coisa
e a música ouvida
(sendo Bach)
fosse outra
podendo ser cortada
pelo meio

o problema
é que consideraram
o que está abaixo
como sendo só o que está abaixo
inclusive o que está acima...

e então que o todo
venha tudo abaixo

26 junho 2013

da Opinião Unânime

desconfio
de toda opinião unânime
ou quase unânime:
pusilânime
desconfio
de tudo que é tido
como já tido
como aceito
do tipo
“isso é o certo
o correto
e não tem jeito.”

desconfio
de tudo que é dado
para se ficar
do lado
do que é dado
como fato
e ato
do que sensato

porque isso
me cheira
a enfático
a acrítico
midiático
patriótico
idiótico
mecânico
robótico

porque isso
me cheira
a coisas
enfiadas
pela goela
ou mais adiante
com cobertura
de chocolate
ou
com lubrificante

25 junho 2013

Entre as merdas das nossas vidas...

ela se infiltra
pelas ruas e avenidas
e pelos buracos deixados
nos caminhos mesquinhos
do que foram
as merdas das nossas vidas
ela se infiltra
entre os apodrecimentos das metrópoles
rasteja pelos corredores
em silêncios e estertores
da decadência das instituições
entre medos horrores
e alucinações
ela penetra na toca de ratos
que chamamos de tribunais
saindo de pútridas vaginas
e de vácuos sacos escrotais
exala seu cheiro úmido
como o que sai de um túmulo
no gorduroso das autoridades
e de suas supostas
desenvolmentísticas verdades
e se ouve seu mantra hipnótico
perfurando o mecânico-robótico
esclerótico coração humano..,

abrindo caminho
pelos papagaios das universidades
e lambendo com língua lisa lépida
o gosto insosso e igual
da baba de um político
e da teoria de um intelectual
ela vai formando ser círculo cíclico
entre as máquinas das indústrias e usinas
por escolas escritórios igrejas oficinas
quieta e lenta no desastre dos laboratórios

enroscada

ela prepara seu bote
e o fim da picada...

23 junho 2013

Contra a Imbecilidade do "Ato Médico"

Só para não perder o costume, é o Brasil na contramão. Enquanto a tendência mundial é dar mais autonomia às demais profissões da área da saúde, para que os médicos não tenham o monopólio absoluto tornando a área completamente deles, o Brasil retrocede, e o Congresso aprova o "Ato Médico", que coloca nas mãos dos médicos brasileiros o cetro monárquico absoluto. Em outras palavras, é dizer que só eles, médicos, sabem de saúde, e os demais profissionais da área, enfermeiros, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros, são uns imbecis que não sabem nada. Bem, o que se esperar de políticos dominados pelo lobby dos médicos, em um país culturalmente atrasado onde ainda tem gente que vê um médico como um representante de Deus na terra?

Os hospitais brasileiros, além das parcas verbas, sofrem com intermináveis e às vezes gravíssimos erros médicos. Não que médico não possa errar, todos os profissionais podem. Porém, há erros gritantes, e, pior que o erro, a negligência corre solta. Nem preciso comentar mais sobre isso, todo brasileiro conhece, ao menos, um caso de negligência médica. Alguns, vergonhosos. Ou não é?

O que um médico estuda mais em sua área do que estuda, por exemplo, um enfermeiro na sua? Ambos são profissionais com cursos superiores e que podem especializar-se em qualquer área da saúde. Conheci profissionais da enfermagem que sabiam mais de medicina do que alguns médicos. Isso sem falar na tradicional frieza e até arrogância de alguns destes, tratando o paciente  de forma distante, às vezes até com descaso, ou então como se ele, o paciente, fosse algum ser mecânico insensível, um boneco em que se pode dar um chute na bunda e ele não tem o direito de reclamar. Há muitos que tratam a vida como se fosse território deles. 

E quando o povo precisa de médicos, o que fazem? Abandonam a Saúde Pública, porque o SUS paga mal para o "nível" de um médico, isto é, fogem da luta, e se refugiam em seus consultórios, cobrando 400 reais por 10 minutos de consulta, ou seja, bem de acordo com as condições do povo brasileiro. É claro que existem grandes médicos, profissionais sérios que têm meu respeito. Mas ainda assim, nada justifica o monopólio do "Ato Médico". Este foi mais um dos projetos impopulares aprovados pelo nosso Congresso enquanto as pessoas, desatentas, protestavam nas ruas... Resta a esperança de que a presidente Dilma vete. Irão protestar para que ela o faça?

Já postei aqui, mas vale a pena postar de novo:

"hospitais são onde eles tentam matar você sem explicar por quê. a fria e calculista crueldade dos hospitais não é causada por médicos que estão sobrecarregados de serviços e que estão habituados e entediados com a morte. é causada por médicos QUE GANHAM DEMAIS PRA FAZER TÃO POUCO e que são admirados pelos ignorantes como feiticeiros que curam, quando na maior parte do tempo não sabem diferenciar seus próprios cabelos do cu de barbas de milho."

Charles Bukowski

Sem mais.

22 junho 2013

Cinismo

escrever bem
é como entender
o ser da  mulher:
dificílimo
coisa de louco

e nunca tu sabes
se conseguiste
ou um ou outro

mas tu (quase) sabes
que a entendeste
quando
além dos sorrisos
ela fica puta contigo

e tu (quase) sabes
que algo escreveste
quando
além dos sorrisos
fizeste mais um inimigo

20 junho 2013

Quero ver agora apoiar as Greves, a melhor forma de Protesto

A sociedade brasileira em geral não apoia greves. Quase sempre fica contra os grevistas e favor dos governantes, e exige que os grevistas voltem a trabalhar e negociem sem paralisações. É que a greve não é um protesto festivo e descompromissado. A greve, quando bem feita e organizada, fere profundamente o seio da sociedade. Porque é só neste momento, no da greve, é só nesse momento que todos sentem na pele como determinada categoria trabalhadora faz falta às pessoas.

Mas então, o que ocorre? Por que quase sempre as greves não dão resultado no Brasil? Porque os governos ficam na situação cômoda de ter a sociedade a seu favor. As pessoas, sentindo-se prejudicadas com as paralisações do serviços, não são capazes de se solidarizar com as reivindicações autênticas dos grevistas, daqueles trabalhadores oprimidos pelo mecanismo injusto do sistema. Não saem para as ruas com cartazes e palavras de ordem. Não exigem que o Brasil "acorde". Não saem trancar o trânsito e invadir congressos. Assim, ao invés de pressionar os políticos, pressionam os grevistas e acabam por tirar toda a força do movimento. 

É o que tem acontecido com as greves do magistério. A hipocrisia que reina na sociedade brasileira quando o assunto é educação é gritante. Todos garantem estar a favor da educação, porém, na hora do "pega pra capar", quando a classe dos professores quer se manifestar de forma real e efetiva, não com protestos inofensivos, o que é que faz a sociedade? Indigna-se contra os professores, afirma que estão reclamando de "barriga cheia", que estão prejudicando inocentes, que são os seus filhos, que terão que recuperar aulas, e que não poderão aproveitar direito as férias de verão indo para a praia.

Quero ver agora todos esses manifestantes que protestam por educação apoiar a primeira greve de professores que surgir em qualquer canto deste país. Quero ver a sociedade ficar a favor dos professores, como tem ficado com relação às atuais manifestações.

Sinceramente, eu duvido. Insisto no que afirma o trecho de Fernando Pessoa publicado no texto abaixo. As pessoas querem revolucionar o país, o mundo externo, sem revolucionar a si próprios. Não se apercebem de que o todo é a extensão da parte. De que a massa é a extensão do indivíduo. O que é nossa nação é o que é cada um de nós. Se o país ou o mundo estão mal, é porque nós, interiormente, estamos mal. Mas mudar a si próprio é dificílimo. Melhor protestar para que os outros mudem. 

18 junho 2013

A Onda de Protestos. Protestos ou Onda?

Os protestos e manifestações que se proliferam pelo Brasil é algo a se aplaudir e apoiar. Sem dúvida, sou inteiramente a favor de que se proteste. Mas não sou alguém que se deixa levar por entusiasmos. Todo entusiasmo tem algo de ingenuidade. Estou ciente de que sou um chato pessimista desmancha-prazeres. Principalmente quando o assunto é “evolução” da humanidade. Não sou dos partidários de que esses protestos são um real começo de mudança no Brasil. Para mim, constituem muito mais uma moda, uma onda, algo como “maria-vai-com-as-outras”, não vejo tais manifestações como uma verdadeira consequência de evolução da consciência do brasileiro. Pode ser que eu esteja errado, é claro, mas deixarei meus argumentos.

Não consigo ver nesses protestos um amadurecimento de consciência e de visão sociopolítica. Começa que não há um direcionamento consciente às manifestações. Pelo que estão protestando mesmo? Por tudo? Mas tudo o quê? Por exemplo: há protestos de pessoas a favor PT e protestos de pessoas contra o PT. Não há nenhuma coerência nos manifestantes. Não que tenham que ser 100% coerentes, mas deve, ou deveria haver algum direcionamento, um sentido de combate. Será que todos sabem os motivos dos seus protestos?

Parece-me que cada um protesta por algo diferente, muitas vezes em sentidos opostos. Será que não há manifestantes que estão ali apenas pela diversão de protestar, em fazer um novo tipo de “festa”, para “dar uma mão à galera”, para fazer uma bagunça que apareça na mídia, seja pela lado que for? Bem, ainda que os motivos sejam esses, não deixa de ser válido, ainda assim é um protesto, e só o fato de enfrentar as autoridades e os abusos dos policiais já é alguma coisa. Porém, parece-me que falta algo, e algo essencial. Falta a consciência individual. Falta algo semelhante ao que afirmou Fernando Pessoa, como Bernardo Soares, em seu polêmico “O Livro do Desassossego”:

“Revolucionário ou reformador - o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo revolucionário, todo o reformador, é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível."

Não digo para se concordar necessariamente com Fernando Pessoa, mas não há dúvida que aí está um sério ponto a se refletir. Fora isso, creio ser interessante deixar algumas questões:

- Há pessoas protestando contra o governo do PT. Tudo bem, mas querem tirar o PT e seus aliados para colocar o PSDB e seus aliados? Ou será que alguém tem alguma ilusão de que saindo PT e Cia entrará qualquer outro partido que não PSDB e Cia? E dos males o menor. O governo do PT é ruim? Tem muita merda nele, sem dúvida, mas havia ainda mais no de FHC. Para não se dar conta disso só sendo ou um desmemoriado ou um alienado completo alienado ou um direitista babaca endinheirado. O PSDB e Cia representam da maneira mais perfeita todo o ranço das elites brasileiras, o apoio à ditadura, ao colonialismo. Aqui em Santiago, representado pelo PP. Sempre apoiados pelo poder financeiro e pela grande mídia.

- Por que, então, não votam em outros partidos, nos partidos pequenos, que não têm dinheiro nem apoio da mídia? É o que eu sempre fiz, muitos antes desses protestos. O problema é que a garotada quer só votar “em quem pode ganhar”. Essa é a verdade. Protestam, protestam, mas na hora de votar, votam sempre nos mesmos. Querem o novo votando no velho. Acabam sempre convencidos pela mídia. Depois reclamam. E protestam contra a mídia.

- Os que estão protestando contra a Copa do Mundo irão depois assistir e vibrar com os jogos tomando uma cervejinha?

- Por que também não protestam contra os grupos de funk, contra o Michel Teló, contra o sertanejo universitário? Será que ninguém percebe que são merdas desse tipo as responsáveis pela atrofia mental e emocional dos brasileiros?

- Será que os que protestam para que o governo dê mais verba para educação irão depois apoiar os professores quando estes fazem greve, ou ficarão do lado da sociedade em geral, que julga que os professores fazem greve “de barriga cheia” e que é um crime contra seus filhinhos paralisar as aulas?

- E grande parte desse pessoal todo que agora está se manifestando, daqui a algum tempo estará onde? Lendo um livro, por exemplo, ou tomando cerveja na praia, ouvindo sertanejo universitário, discutindo os novos modelos de carro, atropelando animais nas estradas e planejando a próxima balada?

É por essas e outras que não me deixo levar por entusiasmos. Como diria Machado de Assis,  “a esperança, esse demônio de olhos verdes...”

Além do mais, governos sempre existirão, e governos quase sempre servem para oprimir. Aproveito para publicar um dos meus poemas sobre o assunto:


Contra Governos e Leis e Autoridades

I

governo
é o empregado
pago e autorizado
por todo o povo
para mandar no povo
em benefício de alguns
que fazem do povo
um bando de nadas
e de nenhuns

II

lei
é estabelecer
que todos são iguais
desde que não 
sejam os alguns
para que o povo
se iguale sempre ao povo
e jamais
se desiguale do seu nada
a lei é a ordem
e a ordem
é sempre se manter
dentro dos limitados
limites da estrada

III

autoridade
é o imbecil
escolhido entre imbecis
amparado por imbecis
aplaudido por imbecis
para tentar impedir 
que os grandes
combatam os imbecis
(e acima de governo e lei)
ponham os pingos nos is


17 junho 2013

Sem Encilho

que minha poesia
se funda
ou vazia
não tenha nenhum compromisso
nem com compra
nem com missa

que minha poesia
se foda
ou vadia
seja qualquer vão de hospício
faz de conta
só preguiça

poesia
não é cela
não é sela
é só sê-la