pergunta Fernando Pessoa:
“o que é o tempo para que eu o perca?”
ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?
ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?
se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?
se eu for buscar inspiração
perderei o meu tempo?
se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?
se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
e como isso funcionaria?
a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?
ganharei o meu tempo
engendrando planos?
ou ganharei o meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?
ganhar tempo
é ser útil a mim
e à humanidade?
mas o que seria
útil a mim
e à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho
*Poema reelaborado e republicado.
17 agosto 2015
15 agosto 2015
Ninguém melhora Nínguém
I - não escrevo
para que os outros me leiam
me entendam
me decifrem
escrevo
para eu fazê-lo
com os outros
II - não escrevo
para melhorar ninguém
(só o si
se melhora a si)
escrevo a meu ser
que saindo da miséria de mim
se vá além
III - ser poeta
é perceber
que não se percebe
é dar-se conta
de que não se dão conta
13 agosto 2015
Bebida Forte
I
a poesia
a poesia
(pelos olhos)
é pouco lida
porque exige
(pela alma)
muita lida
II
em termos de poesia
II
em termos de poesia
as pessoas
preferem os eventos
já eu
ao termo da poesia
prefiro os ventos
III
a poesia é vida
e onde há vida
há morte
a poesia
também pode ser festa
mas com bebida forte11 agosto 2015
Álcool e Cigarro
claro, sou a favor
das proibições
do cigarro e do álcool
proibição total:
devem ser banidos
extirpados
do seio imaculado
da civilização avançada
o cigarro
é um atentado
à celestialidade da nossa saúde
(meu Deus, como somos saudáveis!)
o álcool
é um crime
contra a vastidão da nossa consciência
(meu Deus, como somos conscientes!)
sou a favor
da proibição de ambos
mas somente depois
de se proibir a hipocrisia
não, não estou tirando sarro:
para se suportar tanta máscara
(inclusive a minha)
(inclusive a minha)
só tomando um trago
e fumando um cigarro
08 agosto 2015
Petição para evitar a Extinção da Fundação Zoobotânica do RS
O (des)governo do Sartori, em meio ao seu tropel fantástico de absurdos, desrespeitos, irresponsabilidades, afrontas, intransigências, desumanidades, em meio ao seu desmanche do estado com o propósito de entregá-lo à iniciativa privada, agora nos apresenta mais uma ideia imbecil: a extinção da Fundação Zoobotânica do RS, conforme proposta apresentada dentro de seu pacote ridículo de "ajuste fiscal".
De acordo com o biólogo Paulo Brack, professor da UFRGS, a extinção da Fundação Zoobotânica consistiria em "um retrocesso inaceitável que colocará o Rio Grande do Sul na idade das trevas em termos de conhecimento e defesa da nossa biodiversidade."
"É importante lembrar que a Fundação é composta por órgãos executivos consagrados, como o Museu de Ciências Naturais, o Jardim Botânico e o Parque Zoológico. Segundo a ex-diretora da FZB, Arlete Pasqualetto, o Museu de Ciências Naturais é Fiel Depositário de Componentes do Patrimônio Genético, sendo uma das poucas instituições no Brasil credenciadas pelo Conselho do Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente, mantendo em volta de 400.000 registros de plantas e animais tombados em suas coleções científicas, sendo a base de conhecimento da biodiversidade gaúcha.
A instituição mantém convênios com a grande maioria das universidades do sul do Brasil, proporcionando formação especializada de bolsistas e estagiários, que atuarão na necessária conservação da biodiversidade. Milhares de trabalhos científicos foram gerados nestas mais de 40 décadas da FZB, principalmente pelo Museu de Ciências Naturais, Jardim Botânico, em parceria com pesquisadores de outras instituições, levando luz também ao conhecimento dos ecossistemas do Estado.
Com o possível fechamento da FZB, qual o futuro do Jardim Botânico (JB), com seus quase 40 hectares de área em Porto Alegre, abrigando coleções vivas de grupos de plantas representativas dos diferentes ecossistemas do Estado? Como ficará a continuidade do desenvolvimento de pesquisas científicas e técnicas para a conservação de suas espécies endêmicas, ameaçadas de extinção, medicinais, alimentares e ornamentais?
Futuro incerto sofre também o Parque Zoológico, localizado em Sapucaia, o qual mantém uma coleção de animais vivos, representantes da fauna nativa e também exótica, compondo um plantel de aproximadamente 1500 animais, de mais de 180 espécies, em grande parte, oriundas de apreensões e retenções. Os técnicos do Zoológico e do Museu de Ciências Naturais desenvolvem atividades de pesquisas e de manejo para a conservação da fauna. O Parque recebe anualmente mais de 500.000 pessoas visitantes, promovendo também programas de educação ambiental, visando conscientizar a comunidade quanto à importância das espécies e da preservação e proteção do meio ambiente. Caso a área seja privatizada, estas e outras atividades (conservação irrestrita de espécies mais chamativas ou não aos visitantes) estarão inevitavelmente comprometidas."
Assine aqui a petição: Petição Contra a Extinção da Fundação Zoobotânica do RS
06 agosto 2015
à Ruína
há alma na ruína
algo de belo
no que se acaba
algo de denso
no que se perde
há alto na ruína
algo de vasto
no que se sangra
algo de imenso
no que se resta
há astros na ruína
algo de luz
no que agoniza
algo de fundo
no que se finda
há asas na ruína
algo de pássaro
na despedida
algo de música
no que se morre
há Arte na ruína
(Na imagem, o quadro "A Morte de Chatterton" , de Henry Wallis)
algo de belo
no que se acaba
algo de denso
no que se perde
há alto na ruína
algo de vasto
no que se sangra
algo de imenso
no que se resta
há astros na ruína
algo de luz
no que agoniza
algo de fundo
no que se finda
há asas na ruína
algo de pássaro
na despedida
algo de música
no que se morre
há Arte na ruína
(Na imagem, o quadro "A Morte de Chatterton" , de Henry Wallis)
04 agosto 2015
Desprezo
uma das grandezas do homem
é ser simples com os humildes
e altivo com os arrogantes
umas das inteligências do homem
é ser simpático com os autênticos
e irônico com os hipócritas
umas das sabedorias do homem
é se importar com o ser humano
e desprezar a humanidade02 agosto 2015
A origem da dívida do RS e a "covardia e vilania" de Sartori.
Amanhã é dia de paralisação geral dos servidores públicos estaduais, não só pelo atraso e parcelamento de seus salários, mas pelo total desrespeito e, pior, desumanidade com que os funcionários estaduais estão sendo tratados. É um absurdo que não se pode permitir que prossiga. Tendo isso em vista, publico na íntegra postagem do blog do amigo Milton Ribeiro , onde ele realiza uma comparação entre governadores estaduais e suas respectivas dívidas deixadas.
Mas o mais interessante vem a seguir. Um desabafo indignado e verdadeiro do ex-procurador do estado Paulo Roberto Thomsen Zietlow. As conclusões deixo para os leitores:
"Vamos lá: de governador em governador, desde os anos 70.
Euclides Triches aumentou a dívida do RS em 194%, <—
Synval Guazzelli em 36%, <—
Amaral de Souza em 79%, <—
Jair Soares em 39%, <—
Pedro Simon em 0,1%,
Alceu Collares em 24%, <—
Antônio Britto em 122%, <—
Olívio Dutra em -0,3%,
Germano Rigotto em 1,8%,
Yeda Crusius em -1%
Tarso Genro em por volta de 10% (não encontrei o valor exato).
Desabafo do Procurador Geral do Estado aposentado, Paulo Roberto Thomsen Zietlow (publicado no Facebook):
Um desabafo de quem perdeu a saúde trabalhando. O Sr. Sartori merece críticas não por ser o responsável por esta situação. Merece críticas por sua covardia e vilania. Deixou para avisar aos servidores públicos do parcelamento no último dia e sequer publicou os contracheques, com o nítido propósito de não recorrermos ao Judiciário. Aliás, publicou o contracheque com valores integrais para tentar dar alguma defesa processual ao Estado. Pagou em dia CCs políticos da AL, que só servem para fazer campanhas para estes políticos inúteis. Borrou-se para nos dar explicações, deixando o Estado sem a voz de seu comandante. Deixou o Banrisul, um banco público, cobrar dos servidores estaduais todos os empréstimos e juros, sem observar o calendário de pagamento parcelado. Desrespeitou os servidores, acima de tudo. Tenta vender a imagem de que seus Secretários também serão afetados é uma mentira: A MAIORIA DE SEUS SECRETÁRIOS SÃO DEPUTADOS E GANHARAM DA ASSEMBLÉIA OU DA CÂMARA FEDERAL, EM DIA. Não é pela falta de dinheiro. É PELA FALTA DE RESPEITO COM OS SERVIDORES! Deixou velhos e inválidos como eu sem grana para sequer comprar os remédios. Não teve o mínimo critério humanitário em suas escolhas. Esconde-se como guri de colégio que fez merda! É tão incapaz, que nem à herança maldita atribui o caos. Quanto ao Secretário Feltes, EU NÃO SOU TEU “COLEGA SERVIDOR”! Eu fiz concurso público. Não entrei no Estado fazendo conchavos e demagogias eleitoreiras como Vossa Excelência! Eu estudei. Não entrei pela portas dos fundos! Se não tivesse estudado, talvez hoje eu fosse um político como o Senhor. Felizmente, não sou. Tenho dignidade na cara. Já vi muitos inúteis serem Secretários ou até Governador, mas como este pessoal aí, eu não tinha visto ainda. Meu Deus, o que o Rio Grande fez! Este é o Timoneiro que conduzirá o barco avariado até um porto seguro? Hoje é um dos dias mais tristes da minha vida como servidor do Estado do Rio Grande do Sul. Dia igual, só vivi quando me comunicaram de minha triste aposentadoria."
30 julho 2015
Patético*
Beethoven compôs
a Sonata Patética
na época
que patético
significava “trágico”
estando de acordo
com o romântico
daquela época
hoje mudou-se rápido
e patético
significa “ridículo”
e escrevo um poema patético
estando de acordo
com o homúnculo
desta época
agora
a humanidade é prática
como sinônimo de hipócrita:
as coisas passam súbitas
estúpidas
e logo o tudo é nada
atônito
fogo de palha
mísera
palha assada
* Poema reelaborado e republicado
28 julho 2015
Campanha de Camiseta
“seja você mesmo”
diz a sociedade
mesma
e diz a mesma coisa
a todos
seja você mesmo
desde que
seja o você mesmo
aceito pelos outros
mesmos
que
no fundo
são os mesmos mesmos
“seja você mesmo”
diz a mocinha mesma
autoajudante
pleonástica
e é tão mesma
em sua mesmice
quanto todo mundo
mesmo
e pensa que não é
como todo mundo
ensimesmado em ser igual
aos iguais
que gostam andam agem
pensam sentem fazem
o mesmo
sendo eles mesmos
como mandava a camiseta
que todos vestiam
a mesma
26 julho 2015
Lavouras de Soja, Destruição do Bioma Pampa e Envenenamento da População
Nesta postagem, retiro trechos de três matérias, todas publicadas no jornal Sul21, cujos temas estão intimamente relacionados, as quais demonstram o enorme risco que o Bioma Pampa vem correndo em função da sua progressiva e implacável destruição em nome do lucro financeiro sem limites. Tal destruição, logicamente, não afeta somente a flora e a fauna do bioma, mas também a saúde e a vida humana, a qual depende do equilíbrio ecológico para existir .Fato que as pessoas insistem em ou não enxergar ou em fingir que não estão enxergando. Abstenho-me de maiores comentários e deixo as conclusões a cargo do leitores. Peço apenas que atentem para os trechos destacados em vermelho.
Matéria 1: Os Campos do Sul vão virar uma grande lavoura de soja? Entrevista com Valério Pillar, professor do Departamento de Ecologia da UFRGS (A íntegra, aqui.)
Os campos que cobriam vastos territórios no Sul do Brasil, Uruguai e Argentina estão sofrendo uma profunda transformação que, além de alterar suas paisagens típicas, ameaça sua biodiversidade. Eles já desapareceram em muitas áreas e, em outras, correm o risco de desaparecer, sendo substituídos por lavouras (de soja, principalmente) e plantações de árvores. Nos três estados do Sul do Brasil, estima-se que esses campos já estejam reduzidos a menos de 40% de sua área original. Os riscos que essa transformação representa para a biodiversidade dessas regiões é um dos temas centrais do livro “Os Campos do Sul”, uma publicação da Rede Campos Sulinos, com apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que reúne trabalhos de mais de 80 autores e autoras de textos, imagens fotográficas e ilustrações.
São as lavouras, principalmente a lavoura de soja, que têm pressionado tremendamente os campos. Este ano, inclusive, isso está ocorrendo de maneira expressiva, em função do preço atraente. Está se plantando soja mesmo em regiões onde as condições de clima e solo não são as melhores para essa produção. A silvicultura, em um determinado momento, pressionou bastante os campos aqui no Estado, mas essa pressão diminuiu um pouco por questões econômicas. Com a silvicultura parece que a população percebeu melhor a importância dos campos, pois ela cria uma barreira visual e as pessoas percebem que alguma coisa aconteceu. Quando se transforma campo ou pastagem cultivável em lavoura parece que as pessoas não percebem o que está ocorrendo. Parece que antes da lavoura tinha algo ali que não tinha valor…
Muitas espécies que nem eram conhecidas podem já ter se extinguido em algumas regiões onde a transformação foi brutal como ocorreu no Planalto Médio. Nesta região, praticamente não temos mais campos. Há espécies ameaçadas e o livro mostra quais são. As ameaças geralmente decorrem destas mudanças que provocam fragmentação e perda de áreas campestres.
Matéria 2 : .MP ingressa com ação contra o estado para a proteção do bioma pampa. (A íntegra aqui.)
O MP questiona a distinção feita pelo governo do Estado entre as áreas rurais consolidadas por supressão de vegetação nativa por atividade pecuária e as áreas remanescentes de vegetação nativa. Na avaliação dos promotores, o decreto “desconsiderou evidências científicas no sentido de que a atividade pecuária não causa supressão do campo nativo, de modo que os remanescentes de vegetação nativa, no Bioma Pampa, convivem há 300 anos com a pecuária”.
A consequência prática desta distinção, segundo a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, é a dispensa da reserva legal para os imóveis rurais de até quatro módulos fiscais localizados no Bioma Pampa, já que o artigo 67 do Novo Código Florestal, considerado como inconstitucional na ação civil pública, prescreve que, para as áreas rurais consolidadas, a reserva legal será constituída com os remanescentes de vegetação nativa em 22 de julho de 2008.
A ação postula que, quando da aprovação da localização da reserva legal no CAR, o Estado do Rio Grande do Sul respeite o percentual de 20% da área do imóvel, mantida com campo nativo, ainda que ocorra a atividade de pecuária na área de vegetação nativa remanescente. Além disso, pede que “seja reconhecida a ilegalidade da anistia em relação às infrações administrativas praticadas no período de 22 de julho de 2008 a 25 de maio de 2012, já que esta anistia não está prevista no Novo Código Florestal”.
Matéria 3: Análise aponta que 90% de uma população argentina estava contaminada pelo glifosato. (A íntegra aqui.)
Uma pesquisa realizada pela Associação Civil BIOS diagnosticou que 90% das pessoas que participaram do estudo realizado na comarca bonaerense de General Pueyrredó tinham glifosato ou seu metabólito na urina. Participaram do estudo tanto moradores da zona rural como da urbana. Tendo em conta que muitos alimentos industrializados contêm soja, o resultado é preocupante. Também foi demonstrado que os agrotóxicos evaporam e caem com a chuva. E de todos eles, o glifosato foi o herbicida mais encontrado. Em março, a OMS qualificou o glifosato como uma substância “provavelmente cancerígena”. Além disso, pode provocar diabete, Mal de Parkinson e até Alzheimer.
A coordenadora da BIOS assegurou que “o problema é que o nosso corpo recebe centenas de substâncias em diferentes níveis, e moléculas que sozinhas eram relativamente inócuas, mas combinadas, podem ser tóxicas. Por exemplo, em Sierra de los Padres não há grandes plantações e, no entanto, foram encontrados restos de órgãos clorados que simulam ser um hormônio, mas que na verdade desestabilizam o organismo. E não há herbicidas ‘menos danosos’: tudo o que termina com o sufixo ‘cida’, mata. Lamentavelmente, os proprietários de terras, até em períodos de alqueive (quando se deixa de semear em um ou vários ciclos vegetativos) passam glifosato”.
Buján citou um estudo realizado pelo Centro de Pesquisas do Meio Ambiente (CIMA), da Universidade de La Plata, com a assinatura de Lucas Alonso, Alicia Ronco e Damián Marino, no qual se demonstrou que os agrotóxicos também evaporam e depois caem com a chuva. “É como dizer que chove agrotóxicos. O glifosato é um ‘apaixonado evaporador’ e foi encontrado em todas as amostras de água de chuva, que por derivas atmosféricas pode atravessar longas distâncias”.
24 julho 2015
“A esperança, demônio de olhos verdes...”
disse Machado de Assis.
irmã-gêmea do medo
esse demônio virado em olhos
digo eu:
quem o medo olha
mais é olhado
do que olha
o medo cega
e quem espera teme:
ter esperança é não ver
que o que há de vir
vindo ou não
sempre vem
o tormento do medo
o tormento do medo
é proporcional
ao tamanho da espera
mas há um algo a temer:
a Deus?
não sei se é certo
mas é certo
o Adeus22 julho 2015
do que vê um verme
I - as pessoas
querem ser queridas
ser gostadas
agradáveis
já a mim não importa
a verdade
raramente agrada
bem poucos
são os que a gostam
mais raros
os que a querem
II - as pessoas se importam
com que elas importem
como se houvesse importância
em ser-se importante
ser importante
implica em quem
dá a importância
vermes
dão importância a vermes
não a águias
aliás as águias
os vermes nem as veem
querem ser queridas
ser gostadas
agradáveis
já a mim não importa
a verdade
raramente agrada
bem poucos
são os que a gostam
mais raros
os que a querem
II - as pessoas se importam
com que elas importem
como se houvesse importância
em ser-se importante
ser importante
implica em quem
dá a importância
vermes
dão importância a vermes
não a águias
aliás as águias
os vermes nem as veem
20 julho 2015
Despromessa
que minha poesia
se funda
ou vazia
não tenha nenhum compromisso
nem com compra
nem com trocos
nem com missa
que minha poesia
se foda
ou vadia
seja qualquer vão de hospício
faz de conta
sem um conto
só preguiça
que minha poesia
não seja
nem cela
que só siga regras
nem sela
que alguém encilhe
a minha poesia
que só seja ela
e que eu possa sê-la18 julho 2015
O que é Literatura?
Literatura
é saber a arte forte
e o homem fraco
e ser desde beijo
dado em ambos
os lábios
ou o bater em político
com a ponta
de aço
de um taco
pode ser tiro
troco
traço
de bala
buraco
ou um brinde
e um acinte
junto
a Baco
um dia abraço
um laço
um frasco
longínquo
no espaço
outra vez tristeza
desprezo
cansaço
sem nenhuma
(anos) luz acesa
pela vida aos cacos
pode ser sublime
ou crime
volvido em névoa
tabaco
ou ser tragédia
ou tédio
trago
lago
dedicado ao vago
pode ser um bolso
vazio
em ruínas
de um casaco
ou droga
coca
sexo
mesmo
só tendo a noite
mesmo
nem tendo nexo
pode ser chute
na bunda
de algum ricaço
palhaço
velhaco
pode ser sangue
sopro
vento
atormentado
pode ser música
cósmico
ou túmulo
ou tóxico
pode ser alto
ou muito baixo
desde sorriso
até risada
de algum macaco
em Fim
Literatura
pode ser tudo
só não pode
puxar o saco
16 julho 2015
Sartori penaliza Funcionalismo Público, mas nada faz contra Sonegação Fiscal
O governo de Sartori já completou meio ano de absolutamente nada, ou melhor, antes fosse só de nada. Além de não ter efetivado uma única medida que favoreça a população gaúcha, vem sistematicamente penalizando o funcionalismo e os serviços públicos de uma forma que beira o absurdo e a desumanidade (se é que já não os atingiu). Por fim, como sempre, quem paga a conta é a sociedade, que verá o sucateamento progressivo de serviços fundamentais, como Educação, Saúde e Segurança.
Esta semana, a Assembleia Legislativa aprovou por 31 votos contra 19 o congelamento dos salários dos servidores estaduais, proposto por Sartori. No entanto, nosso governador, antes disso, não titubeou em aprovar o aumento de seu próprio salário, de seu vice, secretários, deputados e de arranjar um cargo de alto escalão para sua esposa. E, o que é ainda pior, enquanto promove o arrocho salarial do funcionalismo, não estabelece uma só medida efetiva contra a Sonegação Fiscal. Alguém sabe qual é o tamanho do prejuízo para os cofres do estado ocasionado pela sonegação? São números milionários, todos os meses. Mas quem paga a conta são os servidores estaduais e a sociedade. Por quê?
Como escreveu Antônio Escosteguy Castro no jornal digital Sul 21:
"Nem de longe o Estado do Rio Grande do Sul perdeu sua capacidade de intervir , positiva e fortemente , no processo de desenvolvimento econômico. O que de fato houve foi uma opção política e ideológica do Governo, agora formalmente enunciada naquela entrevista, em afastar-se deste cenário e concedê-lo à iniciativa privada, abrindo mão de sua capacidade de intervenção própria.
Se é real que o Estado se encontra em crise, também o é que ainda há espaço fiscal para buscar recursos, graças à lei aprovada no final do ano passado. E há, igualmente, os recursos que podem ser buscados no reexame das isenções fiscais, reduzindo ou eliminando aquelas que não atingiram suas metas.
Acontece que Sartori não tem condições objetivas de fazer um reexame a fundo das isenções fiscais, porque é politicamente dependente dos grupos econômicos que se beneficiam destes 13 bilhões que o estado abre mão anualmente. Ele simplesmente não tem força política para fazê-lo."
Não só Sartori, mas todos os 31 deputados que aprovaram o congelamento de salários dos servidores são filhotes das grandes empresas, das grandes corporações privadas que financiam suas campanhas e depois exigem "resultados" de seus "marionetes". Porque é o que são tanto o governo Sartori quanto sua bancada de sustentação: marionetes de corporações privadas, que desejam o enfraquecimento do estado e de seus serviços para poderem assumir o seu controle através das privatizações (as quais já foram prometidas por Sartori) e da famosa "Terceirização".
E então tais corporações implantam seus métodos de trabalho e de "progresso", que se resumem ao lucro a qualquer custo em cima da exploração do trabalhador e do descumprimento e revogação dos seus direitos. É por isso que Sartori, alegando sua fatídica "crise", instaura uma guerra contra os servidores públicos, mas não ataca a sonegação das empresas.
Ao final de seu mandato, os dois terços de gaúchos que elegeram Sartori, iludidos por seu papo-furado de "amigo da galera", amargarão um arrependimento sem precedentes ao observar um estado sucateado e entregue à barbárie da sede de lucros da iniciativa privada.
14 julho 2015
Como Ganhar Dinheiro com a Palavra
I – há três maneiras
de se ganhar dinheiro
com a palavra escrita:
- conte sobre fofocas
- conte sobre acidentes e tragédias
- escreva autoajuda
(que é tudo a mesma coisa:
está se querendo dizer
que a sua vida não é tão fodida
quanto você pensa)
II – há três maneiras
de se ganhar dinheiro
com a palavra falada:
- seja um homem público
- seja um homem público
- seja um pastor
- dê palestras motivacionais
(que é tudo a mesma coisa:
em qualquer dos casos
se está mentindo)
III – mas só há uma forma
de se ganhar dinheiro
escrevendo poesia:
- escreva algumas dezenas
de bons poemas
reúna-os num livro
publique-o
venda um exemplar:
com os 10 pilas
jogue na loteria
e reze para acertar
(que é tudo a mesma coisa:
poesia ou loteria
é tempo perdido)
12 julho 2015
rico só dá pra rico
dinheiro chama dinheiro:
que quem o tem quanto mais
no quanto mais quer retê-lo
(e esse é seu único anelo)
e te percebas que os ricos
sempre se unem a outros ricos
que se protegem em mútuos
pois o que importa é seus lucros
então conclui-se que os ricos
por em tudo estarem juntos
(sendo a menor minoria)
mantêm seu poder em dia
mas o pobre que é mais número?
foi convencido que é nada
que não pode apoiar pobre...
é a regra: pobre se fode
10 julho 2015
dos Tipos de Homens
I – há os homens de sucesso
e há os grandes homens
II – há os homens felizes
e há os profundos
III – há os homens corretos
e há os verdadeiros
IV – há os homens que sabem das coisas
e há os que sabem
V – há os homens que vivem com metas
e há os que vivem com alma
08 julho 2015
Desaforadas (ou Após Ouvir Shostakovich)
há risos gargalhadas
em cascatas cataratas
assanguinadas
cantatas de gargalhas
das risadas alastradas
em zombarias pelas águas
compassos de risadas
de asa garra e brasa
nas rubras russas geadas
o deboche dos abutres
o gaguejo de macacos
gorgolejo de galinhas
aquela língua de lagartos
o sarcástico dos asnos
macabras cabras gárgulas
ironias desbocadas
metralhas e sarcasmos
grotescos e catarras
há danças valsas facas
essa desgraça engraçada
a lembrar que a humanidade
é uma piada
(Na imagem, detalhe de "Cristo Carregando a Cruz" de Hieronymus Bosch)
Assinar:
Postagens (Atom)