Para um país com quase 200 milhões de habitantes, 6ª economia do mundo, com uma extensão territorial das maiores do planeta, com uma diversidade de povos imensa, conquistar apenas 17 medalhas em uma Olimpíada, sendo míseras 3 medalhas de ouro, é, no mínimo, um fracasso. Que se torna ainda maior se levarmos em consideração que as próximas olimpíadas serão no Brasil.
A maioria culpa pelo desastre a falta de investimentos nos esportes e em nossos atletas. O que é uma parte da verdade. Embora os investimentos e incentivos aos esportes tenham quase dobrado nos últimos 4 anos, ainda é pouco. O governo investe pouco e as empresas, principalmente as privadas, menos ainda. Estas só querem saber de lucros imediatos. Principalmente no Brasil. As maiores empresas aqui são de outros países, por que vão querer investir em nossos atletas? Preferem, é claro, investir nos atletas dos países deles.
Mas há um ponto da questão que quase ninguém toca: um bom atleta não é formado depois que se decide a ser atleta, já na fase adulta. Um bom atleta começa ainda criança, na escola, tendo o incentivo e a estrutura para a prática dos mais diversos esportes e atividades físicas. Porém não há incentivo e muito menos estrutura em nossas escolas públicas para tal. Sem educação, sem nada. Inclusive, sem bons atletas. E sem medalhas. Mas no Brasil, o que todos desejam, em todas as coisas, são os resultados imediatos. Investir em educação? Não, isso demora muito, leva tempo, exige muito dinheiro, há que se começar pagando bem os professores, enfim, não vale a pena. O povo quer ver resultados imediatos, coisas que saltem aos olhos, obras faraônicas, que ostentam uma majestosa aparência.
Tanto é que o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Brasil é ridículo. E dizer ridículo ainda é um eufemismo. É catastrófico! Nas Olimpíadas ficamos em 22º lugar, e fomos mal. E na educação, então? Na educação, estamos em 53º lugar entre os países analisados, atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, países que superamos nas Olimpíadas. Nossos jovens saem do Ensino Básico sem saber interpretar um texto. Só isso. Não há nem mais o que comentar.
E quando surge uma rara boa notícia na educação brasileira, bem, aí os ricos não gostam. Agora, os riquinhos estão putos da cara porque 50% das vagas das universidades públicas devem ser destinadas para estudantes que tenham cursado somente o ensino fundamental e médio em escolas públicas. Nada mais justo. As universidades públicas são pagas com dinheiro de todo o povo (e todos sabem que os pobres são os mais penalizados com os altos impostos brasileiros), mas os que mais preenchem as vagas dessas universidades são os filhos de ricos, que podem pagar as melhores escolas particulares e ainda cursinhos. Sem contar que não precisam trabalhar, podem se dedicar somente aos estudos. E adquirir os livros que necessitam, que quase sempre custam os olhos da cara em nosso país. O ensino público deve ser melhorado a ponto de se equiparar ao particular? Óbvio que sim. É o que estou sempre dizendo e pelo que sempre combati aqui no blog. Mas enquanto isso não ocorre (e vai demorar, se é que vai acontecer), a medida do governo é um paliativo muito bem-vindo como forma de ajudar a equilibrar um pouco as enormes diferenças sociais do Brasil.
Quanto à charge acima, eu poderia realizar uma simples alteração. No lugar do atleta, poderia ser um escritor. Que vai até os governos, até as empresas pedir apoio e patrocínio, mas recebe sempre um polido, mas definitivo, não. Depois, governos, empresas e população em geral querem que os escritores sejam difusores de cultura, de saber, de pensamento, de sensibilidade, enfim, em um país absolutamente carente de todas essas coisas. Ou então querem dar e ostentar títulos a determinados municípios, como “Terra dos Poetas”.