31 julho 2012

E ele veio enquanto todos dormiam...

Veio no meio da noite, enquanto todos dormiam. A família, moradora da casa, havia realizado um jantar com os amigos. Fora muito divertido. Aliás, há muito não se divertiam tanto. Ao final, estavam todos bêbados. E assim foram dormir. Alegres e satisfeitos. E no meio da noite ele veio.

            Devia ser por volta das três e meia da madrugada. Quem iria esperar que ele fosse vir justamente naquela noite? Em qualquer noite ele seria inesperado, é claro, ou melhor, seria absolutamente inimaginável que ele viesse em qualquer noite ou em qualquer dia, porém, o fato de ele ter vindo justamente naquela noite foi uma absurda surpresa muito além do terrível.

Porém, seja como for, a verdade é que ele veio. Veio enquanto todos dormiam. Cinco pessoas viviam na casa. O marido, gerente de uma grande empresa, dormia num quarto bastante aconchegante com sua esposa, vereadora. Havia ainda mais três quartos. Cada um ocupado por um filho. O mais velho trabalhava na empresa com seu pai. A filha do meio cursava direito em uma universidade pública. O filho mais moço, ainda adolescente, não participara da janta, pois passara todo tempo no quarto com a bela namorada. Olhavam filmes. Por volta da 1h da madrugada, ele fora a levar para sua casa. E voltara para dormir. Mesmo sendo sábado, o moço teria aula pela manhã, cursava a série final do Ensino Médio.

            E ele veio enquanto todos dormiam. Ele veio enquanto todos sonhavam. Sonhavam com os seus dias seguintes. Com seus planos. Com o que fariam na próxima semana, no próximo mês, no próximo ano. E nunca a vida da família esteve tão próspera, tranquila e promissora. Não obstante, ele veio naquela noite, enquanto ninguém esperava.

            Não que não fossem alertados por outros, conhecidos da família. Foram. Porém, não deram atenção, muito embora tivessem dito que iriam procurar saber mais sobre o assunto.  E foi que, mesmo não sendo esperado em absoluto, ele veio. Assim, de uma hora para outra, sem avisar, obviamente. Então ele veio, enquanto estavam todos desatentos.

            Não poderia haver uma noite mais serena, mais plácida. As estrelas cintilavam apaziguadoras no céu de verão. A família havia dado uma festa. Todos estavam muito bem, apesar da embriaguez. Muito embora os problemas, comuns a toda e qualquer família, eles não chegavam a ser afetados pelos dissabores da vida, não permitiam que os afetassem. “A vida é bela”, diziam, “devemos vivê-la e sermos felizes”. Tal pensamento era como se fosse um lema daquela família.

            Não obstante, ele veio naquela noite mesmo, enquanto todos se riam.

2 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

É tão ruim quando estamos desprevenidos e então "algo vem"...

F. Carolina disse...

Pus-me a imaginar quem girou essa maçaneta...