O estudo do IBGE sobre o nível de preservação dos ecossistemas brasileiros apresentou dados assombrosos. Excetuando a Amazônia e o Pantanal, os demais ecossistemas encontrados no país já sofreram a destruição de cerca de 50% de sua área original, ou mais do que isso. Da Mata Atlântica nem se fala, só restou pouco mais de 10% da floresta original, a floresta de maior biodiversidade do planeta. Do Cerrado restam 50,9% e da Caatinga 54,4%.
Já do nosso Pampa, o que sobrou foi 46% da vegetação original. Alguns podem pensar que se ainda estamos com cerca de 50% dos ecossistemas brasileiros preservados significa que estamos bem. Para muitos, metade já está bom demais. Porém o que se deve levar mais em conta não é tanto a área já destruída, mas a velocidade com que o foi. Por exemplo: até 1950, mais de 80% do Cerrado estava em pé, plenamente preservado. Ou seja, em 60 anos destruímos mais de 30% da área original do Cerrado. E todos sabem que o Cerrado é extensíssimo. Com mais 60 anos teremos destruído mais 30%? E dentro de 100 anos não haverá NADA do nosso Cerrado? Mantidos os níveis de devastação atuais, a resposta é: não, não haverá mais Cerrado dentro de um século. Ou menos.
Algo semelhante ocorre com a Amazônia. Aproximadamente, 80% da floresta está preservada. Parece muito. Porém, em 1980 a preservação era de 95%. Repito, 95% da Amazônia estava em pé no início dos anos 80. Em 30 anos, acabamos com 15% da floresta. É um índice de devastação altíssimo, catastrófico. Que se torna ainda mais assustador se considerarmos a dimensão titânica da Amazônia brasileira. Está certo que o desmatamento na região reduziu-se significativamente nos últimos anos, mais ainda é relativamente alto. E será que com toda a pressão para a produção de mais e mais alimentos e com a aprovação do nefasto novo Código Florestal a tendência de queda no desmatamento será mantida? E há ainda o problema das hidrelétricas para a geração de energia. O desmatamento diminuiu, mas a construção de hidrelétricas não cessa, só cresce. E todos sabem que hidrelétricas também aniquilam a floresta e a fauna.
Mas... voltando ao nosso tão querido pampa... Quer dizer então que o gaúcho ama profundamente a sua terra? Sim, percebo... Às vezes, a minha vontade é de laçar esses gauchinhos de merda que adoram andar derrubando terneiros indefesos em rodeios, eles e os pais deles, que se acham muito gaúchos, e esfregar as fuças desses covardes gananciosos, exploradores de peões, na terra deste Pampa. Na terra ressequida pelas secas, na terra contaminada por agrotóxicos, na terra vazia, desolada, sem campos, sem matas, sem fauna. É essa a terra que esses imbecis amam? O que amam são as moedas que extirpam às custas do sangue do Pampa Gaúcho. Finalizo com um poema que escrevi ao Pampa há alguns anos atrás:
Ao Fim do Pampa
quero-quero vasto que me olha denso,
o que é que alarma no teu sino antigo?
pampa que crepúsculas,
não te sones antes que eu me vide...
folha de angico que te nervas sopro,
o que é que julga na tua chama acesa?
pampa que te noites,
não te lues antes que eu me ocase...
sanga que adaga por um céu de chumbo,
o que é que marcha no teu grito frio?
pampa que te sangues,
não te doenças antes que eu me febre...
coxilha em cosmo que me fúria um sonho,
em quais sentenças é que te levantas?
pampa que te fins,
não te mortes antes que eu te ame...