gavião azul
em limoeiro escuro:
flor lilás.
os meus versos brancos
vêm de castanhos olhos
para o sol voltados:
revoltadas flechas...
astro-rei
de violeta ultra
vindo em fachos roxos...
o meu inverno verde
doura os lábios rosas
do começo ao fim
no vermelho ocaso.
um gavião azul
no vermelho ocaso.
20 setembro 2010
17 setembro 2010
“A política e o crime são a mesma coisa.” (FINAL)
O político fala:
Como não posso desabafar com ninguém, nem mesmo com minha família, que não sabe de nada, nem com meus correligionários, para quem eu pareceria ser um fraco, vou aliviar essa pressão que está me consumindo escrevendo algumas linhas. Dizem que escrever é uma ótima forma de descarregar tensões.
Nem sei por onde começar, o que sei é que devo dar um jeito naqueles miseráveis, filhos-da-puta, que não param mais de sugar o meu dinheiro, que é meu por direito, afinal, eu fui eleito, fui eu que o povo escolheu para cuidar de seus problemas, de seus anseios, e não eles, aqueles ladrões, desgraçados! Ah, como fui tão burro, logo eu, que sempre me julguei tão esperto, o mais esperto de todos, fui aquele dia cair na conversa daquela miserável. Mas como ela era bonita... e gostosa, meu Deus! Como eu iria resistir? Também sou humano, não sou um deus, não tinha como não cair naquela conversa doce e macia, naquele olhar ao mesmo tempo sedutor e desamparado, parecia ser tão puro... o qual percebi que há vários dias procurava os meus em nossas reuniões do partido.
Então ela veio, dizendo que estava apaixonada por mim, que queria ao menos ser minha amante, pois sabia que seria impossível ser minha esposa, afinal, amo minha esposa. Como, meu Deus! Como não me apaixonar também? Como não acreditar em suas palavras que pareciam ser tão sinceras, tão profundas, tão intensas... Não, eu não tive culpa, fui uma vítima. Apaixonei-me, e no afã cego da paixão, e para mostrar a ela como eu era um homem esperto, poderoso, muito rico, contei tudo, tudo! Eu contei tudo a ela! Que idiota! Como não desconfiei que poderia ser uma armadilha daqueles desgraçados, ladrões, porcos chantagistas! Agora eles sabem de tudo, têm provas, tudo gravado por aquela prostituta, aquela cadela vadia, que ainda roubou meus documentos. Eu devia ter lembrado daquela frase que li certa vez, não lembro onde: “O sexo é a pedra de tropeço.” Sim, é isso mesmo, tropecei nele, e caí. Maldito amor! O amor é mesmo uma piada. Mas agora não adianta ficar me lamentando, terei que fazer algo, mas o quê? Eles não param de me sugar, sabem o quanto sou rico e o quanto estou comprometido. À polícia não posso ir... Mas posso ir até eles e matá-los! Não, eu até poderia pagar alguém para matar alguns, mas jamais todos, e as provas continuariam com eles. Tenho que jogar como eles jogam, conseguir alguém que se infiltre naquela maldita organização e resgate as provas para mim... Sim, sim, acho que essa é a saída, farei isso! Ah, mas ela, aquela puta! Ela eu tenho que matar!
Meu Deus, como é difícil ser político neste país! Dei meu sangue por esse povo ingrato e agora sou vergonhosamente roubado, de um dinheiro que é meu, MEU! Sim, tudo bem que ele não faz parte de meu salário de deputado, mas o salário é muito baixo, ridículo, para todos os problemas e preocupações que tenho que passar. Nada mais justo do que pegar uma partezinha desse montão de verbas que aí esta, e de que todos pegam um pouco para si. Sim, sim, todos pegam, todos sabem disso, e qualquer um que for eleito e vir para cá, vai fazer o mesmo, vai pegar uma parte para si, por muito honesto que se ache. E eu acho isso perfeitamente justo, porque a verdade é que somos muito mal pagos, deveríamos receber muito mais, temos obrigação de ser ricos perante a sociedade, somos um espelho no qual o povo se reflete. Só o que fiz foi corrigir pelas minhas próprias mãos algo visivelmente errado. Mereço esse dinheiro que peguei do povo, porque trabalho pelo povo. Eu que tenho que decidir quanto devo ganhar, não os outros, o poder é meu, eu o mereci, fui escolhido.
Isso não é desonestidade, é uma questão de justiça, ainda que não esteja na lei. A lei também erra. Eu sou um homem honesto, honrado, digno da confiança que o povo depositou em mim. Cumpro minhas obrigações, apresentei e apresento inúmeros projetos para o bem de meu país, sou um pai de família respeitado. Só eu sei o que sofro na pele por ser político, todas as acusações falsas, as piadinhas que tenho que aguentar, todo o trabalho de ir até o povo, aos pobres, às favelas, e ter que estar sempre sorrindo e de bom-humor, apertando a mão, correndo o risco de pegar doenças, porque essa é a realidade. E essa gente é uma gente traiçoeira. Diz que vai votar em nós, mas depois não vota. Agora eu, eu tenho que falar sempre a verdade e ser sempre simpático! Ah, vão à merda! Então, se eu pego um dinheiro pra mais, é para fazer justiça a mim mesmo, para recompensar todos esses males por que tenho que passar como homem público. E quem não faria? Quem não pegaria uma justa recompensa para si?
Mas agora, agora surgiram esses vagabundos, que não querem trabalhar, e ficam roubando o dinheiro de quem trabalha, miseráveis! E ainda se utilizam de vagabundas sedutoras, fazendo com que eu, além de trair minha amada esposa, conte, como um patinho, meus segredos para aquela vaca, aproveitando-se do meu coração apaixonado e bondoso. Às vezes fico pensando que talvez eu devesse ouvir meu pai, quando dizia: “filho, seja um grande político, mas um político honesto, nunca vá roubar o dinheiro do povo.” Bem, o pai era um ingênuo, um romântico, eu sou um homem prático. O pai não entendia nada de política, não sabia que pegar algumas verbinhas não é roubar, mas ser justo consigo mesmo. Mas se eu tivesse ouvido o pai, agora não teria que dar a metade do meu dinheiro para aqueles ladrões. Talvez ser “honesto” fosse mais lucrativo...
16 setembro 2010
"A política e o crime são a mesma coisa." (Continuação)
Muitas vezes me perguntei, tomado por crises de escrúpulos, se não deveria entregar todos esses cafajestes à imprensa, ao julgamento da opinião pública. Pensei sobremaneira nessa possibilidade quando pude comprovar definitivamente que os políticos são muito mais desonestos do que inicialmente imaginava. Sim. Dissera no princípio deste relato que esperava lucrar com minha organização criminosa o suficiente para ter um bom nível de vida. No entanto, os lucros foram imensamente superiores aos imaginados. Hoje sou um homem rico. E vários outros membros importantes da organização também o são. É que o número de políticos sujeitos às nossas extorsões era bem superior ao que inicialmente esperávamos.
No início, eu ficava atônito ao verificar que aqueles homens públicos, de aparência tão respeitável, muitas vezes ilibados pais de família, cujos discursos seriam capazes de nos fazer chorar por irradiarem tanto amor pelo povo e pela sua terra, com tão comovente sinceridade, com tão elevada disposição, com tão inflamadas frases, que duvidar de tais homens, de seus incontestáveis argumentos, de suas emoções à flor da pele, de suas intenções angelicais, de seus sorrisos puros e ingênuos, de seus motivos fulgurantes de justiça consistiria em um tremendo sacrilégio. Eram os homens mais dignos e honrados da humanidade, sempre dispostos a dar o sangue pelo bem comum, enfim, seres sublimes!
Mas que belos atores, haha! Sim, não passam de ótimos atores. Quanto fingimento, quanta hipocrisia! Aquele mesmo político, amigo, que tu colocarias a mão no fogo por ele, é tão criminoso quanto eu. Não, é mais.
Por isso, como disse, senti em vários momentos o desejo de entregá-los e vê-los na cadeia. Mas o que digo? Na cadeia? Político na cadeia em nosso país? Só se for um político honesto. Por isso que não há nenhum preso, haha! Então, se eu os entregasse, o que aconteceria? No máximo seus crimes seriam divulgados por alguns jornais, às vezes com bem pouco destaque, seriam processados (ou talvez nem isso) e não cumpririam um só dia na cadeia. E o povo, ora, o povo é formado por imbecis, e em alguns meses já teria esquecido todas as cafajestadas de seus amados políticos, seus dignos representantes, haha, que piada! Logo, logo, estariam votando nos mesmos canalhas que eu denunciara. Não é assim?
Então, considerei melhor não delatá-los, mas extorqui-los, extorqui-los cada vez mais, de forma mais impiedosa. E o dinheiro obtido com nosso crime, não é apenas para nos enriquecer. Também ajudamos um número incontável de pessoas pobres, de doentes e aposentados miseráveis, de jovens e crianças esquecidas, realizamos doações a entidades que atuam no campo social e ambiental. Afinal, o dinheiro é deles. E assim também obtemos o reconhecimento e a gratidão de um sem-número de indivíduos. E um dia poderemos vir a precisar de seus favores... É ostensível que para lavar o nosso dinheiro, abrimos várias empresas filantrópicas.
Claro que houve e há políticos que não se sujeitam de início às nossas chantagens e exigências. Dizem não temer nossas delações, que sempre dariam a volta por cima, enfim, essas baboseiras de político metido a macho. Mas a coragem sempre se desvanece com uma pistola automática enfiada na boca, com algumas unhas arrancadas, ou com uma sutil menção à beleza e tranquilidade da vida em família... Como seria triste perder a esposa, ou um filho, uma filha... Bem, creio que nossa organização sabe ser devidamente convincente.
Mas tais casos são raros. E agora, quase impossíveis. Digo “agora”, porque com a Lei da Ficha Limpa, nenhum político que queira continuar nos governos para poder exercer a sua sagrada rapinagem dos cofres públicos se arriscaria a ter um processo nas costas que impeça sua (re)eleição. De modo que mais do que nunca estamos com a faca e o queijo nas mãos...
Amanhã, o final.
15 setembro 2010
“A política e o crime são a mesma coisa.”
O criminoso fala:
Inicio este meu relato com essa frase de Mario Puzo porque estou certo de que ela é uma indubitável verdade. Quando fundei minha organização criminosa, esperava lucrar o suficiente para manter um razoável nível de vida, sem necessidade de ser empregado de ninguém, sem ter que me sujeitar a oito horas de um desgastante e frustrante trabalho diário que me recompensaria tão somente com alguns trocados medíocres. É mentira que o trabalho dignifica. O trabalho degrada o homem. Por tais motivos parti para o crime. Mas não queria, entretanto, ser um criminoso que agisse contra os inocentes, ou contra os pobres. Pelo contrário, queria lucrar às custas de gente ainda mais criminosa do que eu. Foi então que pensei nos políticos...
Sim, isso mesmo, comprovei, após amplas e exaustivas investigações secretas, aquilo que todos já sabem, mas não querem falar, mas que não têm provas: que os políticos não só constituem uma fonte inesgotável de dinheiro, como também de culpas, crimes e corrupções. Pronto, estava decidido, eu ganharia meu dinheiro sujo extorquindo o dinheiro sujo dos ladrões do povo.
Reuni amigos de confiança, explanei meus planos e intenções, e não foi difícil convencê-los de formarmos uma organização criminosa especializada em descobrir todos os podres dos políticos, os seus desvios de verbas, os caixas-dois, sonegação fiscal, participações em licitações de fachada, lavagens de dinheiro, peculato, apropriação indébita, propinas, nepotismo, evasão de divisas, tráfico de influência, formação de quadrilha, enfim... o rol, todos sabem, é imenso.
O nosso procedimento é relativamente simples. Uma vez descobertos todos esses “mau-cheirosos segredos”, entramos, com a maior das cautelas e com a máxima discrição, em contato com o político “desvelado” e oferecemos nosso preço para que algumas informações indesejáveis não caiam no conhecimento da imprensa, da justiça, da opinião pública. É claro que nossas propostas são quase que invariavelmente aceitas. Quem iria recusá-las? O que podem fazer? Ir à polícia? Ora, a polícia está conosco. Nos dois sentidos.
E mais claro ainda é que tomamos todas as devidas precauções para não sermos assassinados. Não somos ingênuos. Aprendemos a viver sob tensão, sob o constante perigo de morte. E, devo dizer, é algo que nos traz um infinito prazer. Vemos em tal perigo a emoção maior em estar vivo. Enfim, gostamos do que fazemos. A vida é um jogo, viver é saber jogar. E nós somos jogadores. E, até agora, nenhum de nós foi assassinado. Apenas dois foram baleados. Mas sabemos nos defender muito bem. Um de nossos membros ferido equivale a um político corrupto morto. Aprendemos que é assim que funciona.
Infiltrarmo-nos nas instituições, nos partidos, nos governos, para obtermos seus segredos pode até parecer difícil para o leigo, porém, afirmo que não é tanto assim. Subornar funcionários públicos, políticos menores mas conhecedores dos bastidores, acessar dados pretensamente sigilosos, todos esses procedimentos não são tão complicados quanto parecem à primeira vista. Obviamente, a grande maioria das pessoas pode ser comprada. É só uma questão de estabelecer o preço adequado. E, além do mais, é claro que temos entre nosso pessoal alguns dos melhores hackers, e entrar em sistemas sigilosos não é algo fora de série...
Principiamos nossa organização de forma bastante modesta. Éramos apenas em cinco pessoas. Amigos de absoluta confiança. Compramos uma pistola, foi a nossa primeira arma das muitas e várias que viríamos a possuir. E então, filhamo-nos a determinado partido político, um dos maiores do país. Quanto a escolher um partido, ficamos bastante em dúvida, pois em quase todos há muitos corruptos e desonestos. Mas creio que escolhemos muito bem. E as nossas vítimas caíram em nosso jogo. Em pouco tempo obtivemos informações altamente comprometedoras de políticos considerados importantes. Entrar em contato direto com eles e chantageá-los não foi difícil. Inicialmente, as somas de dinheiro exigidas para nosso silêncio foram relativamente pequenas. Esse dinheiro foi investido na compra de mais armas, em subornos, em automóveis, em computadores... Aos poucos, fomos aumentando o número efetivo de nossos homens, sempre através de exigentes provas. Não pode ser qualquer um a ter o direito de entrar em nossa organização. Devemos ter uma confiança total na pessoa. Ou a confiança máxima possível, pois a confiança total nos negócios talvez não exista. É claro que a quebra do código de silêncio é punida com a morte. Felizmente, isso ainda não ocorreu.
Amanhã, a continuação. (na imagem, o quadro "A Reprodução Proibida", de Magritte)
13 setembro 2010
Nada a (me) Declarar
para que ler os teus jornais de hoje
se no outro fatídico dia
as notícias já irão ser outras
e logo tudo estará passado?
e não ficará nada mais a meu lado...
tu, humanidade,
o que é que tens a me dizer?
tuas filosofias são cadáveres de boca-aberta
tuas esperanças são finais de piadas
e tuas políticas o princípio delas...
têm mais a me dizer as cadelas.
lá vão os teus intelectuais babando
sobre o nada-adiantar do nada de suas babas
as suas teorias que a tudo explicam
a não-ser o que se precisa saber...
aqui neste planeta exangue
(tu bem o sabes)
o que importa é o Sangue...
se no outro fatídico dia
as notícias já irão ser outras
e logo tudo estará passado?
e não ficará nada mais a meu lado...
tu, humanidade,
o que é que tens a me dizer?
tuas filosofias são cadáveres de boca-aberta
tuas esperanças são finais de piadas
e tuas políticas o princípio delas...
têm mais a me dizer as cadelas.
lá vão os teus intelectuais babando
sobre o nada-adiantar do nada de suas babas
as suas teorias que a tudo explicam
a não-ser o que se precisa saber...
aqui neste planeta exangue
(tu bem o sabes)
o que importa é o Sangue...
12 setembro 2010
Morta
à esta humanidade tudo é inútil:
a ela não se diz verdades
nem fundas filosofias...
ela é burra como uma porta.
aos humanos não se fala de flores
ou de altos aromas sublimes...
eles são podres como uma porca.
e não se canta os amores
nem em idiomas celestes...
a alma não lhes importa.
e mais inútil ainda
é ser agora um poeta:
a poesia no homem está morta.
a ela não se diz verdades
nem fundas filosofias...
ela é burra como uma porta.
aos humanos não se fala de flores
ou de altos aromas sublimes...
eles são podres como uma porca.
e não se canta os amores
nem em idiomas celestes...
a alma não lhes importa.
e mais inútil ainda
é ser agora um poeta:
a poesia no homem está morta.
11 setembro 2010
O Grande "Boca do Inferno" é Sempre Atual
A prova de que a humanidade não muda (ou talvez mude para pior), está na poesia rebelde, indomável, impiedosa, de Gregório de Matos, que há 3 séculos "botou a boca" em nossa sociedade corrompida. Era corrompida, continua corrompida. E quantas podridões teria agora o maldito Boca do Inferno para vomitar sobre a cara dessa sociedade brasileira? Em qualquer cidade que ele pisasse agora, inclusive na nossa querida Santiago, poderia estampar a fúria e a indignação de seus versos com absoluta propriedade. Então, pergunto-vos, como ter esperança no homem?
Deixo abaixo o poema "Epílogos" do mestre Gregório. Tomei a liberdade de excluir algumas estrofes para que a leitura da obra ficasse mais dinâmica, pois o poema é extenso para os padrões atuais, ainda mais para um blog. Acompanha o poema um detalhe de "O Jardim das Delícias" - "Inferno", de Hieronymus Bosch.
Epílogos
Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?...........HonraFalta mais que se lhe ponha..........Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
Quem a pôs neste sacrócio?..........Negócio
Quem causa tal perdição?.............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura.
Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas
Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos.
E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?......................Vendida
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.
E nos frades há manqueiras?.........Freiras
Em que ocupam os serões?............Sermões
Não se ocupam em disputas?.........Putas.
Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.
O açúcar já se acabou?..................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu
Logo já convalesceu?.....................Morreu.
À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.
A Câmara não acode?...................Não pode
Pois não tem todo o poder?...........Não quer
É que o governo a convence?........Não vence.
Que haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera e pobre
Não pode, não quer, não vence.
Gregório de Matos
09 setembro 2010
Agora que a Humanidade Morre...
agora que a humanidade morre
(digam o que quiserem,
mas a humanidade morre...)
que a humanidade morre,
não há mais porque
buscar o que é mortal...
por isso busco nos teus olhos
os sóis que possam brilhar atrás deles
(que os sóis são quase imortais...)
e nas lágrimas que talvez derrames
irei buscar as mais potentes dores
(que as dores não se findam jamais...)
e em tua boca de que o verbo lanças
encontrarei talvez a música
(que as notas são artes mais divinais...)
e no que pulsa em teu peito e veias
buscarei tudo o que for ânsias
(que as ânsias é que mandam sinais...)
e no que dorme no que for teu sono
alcançarei teu pesadelo e sonho
(que os sonhos é que são eternais...)
e no que viver em teu corpo em chama
me queimarei no que for tua alma
(que só a alma significa algo mais...)
(digam o que quiserem,
mas a humanidade morre...)
que a humanidade morre,
não há mais porque
buscar o que é mortal...
por isso busco nos teus olhos
os sóis que possam brilhar atrás deles
(que os sóis são quase imortais...)
e nas lágrimas que talvez derrames
irei buscar as mais potentes dores
(que as dores não se findam jamais...)
e em tua boca de que o verbo lanças
encontrarei talvez a música
(que as notas são artes mais divinais...)
e no que pulsa em teu peito e veias
buscarei tudo o que for ânsias
(que as ânsias é que mandam sinais...)
e no que dorme no que for teu sono
alcançarei teu pesadelo e sonho
(que os sonhos é que são eternais...)
e no que viver em teu corpo em chama
me queimarei no que for tua alma
(que só a alma significa algo mais...)
07 setembro 2010
Versos Escritos em Desalento, de Yeats
William Butler Yeats, indubitavelmente um dos maiores nomes da poesia no século XX, nasceu em 13 de junho de 1865 (vale lembrar que Fernando Pessoa, outro gênio da poesia deste mesmo século XX, também nasceu em um 13 de junho), em Dublin, capital da Irlanda. Foi poeta e autor teatral, e diferentemente de Pessoa, conquistou, em 1923, o prêmio Nobel de Literatura. É considerado o maior poeta moderno irlandês. Abaixo, um de seus místicos e melancólicos poemas, inspirados pela mitologia celta, que tanto o fascinava.
Versos Escritos em Desalento
Quando é que eu vi pela última vez
Os olhos verdes redondos e os corpos longos vacilantes
Dos leopardos vacilantes da lua?
Todas as bruxas selvagens, aquelas senhoras muito nobres,
Dos leopardos vacilantes da lua?
Todas as bruxas selvagens, aquelas senhoras muito nobres,
Por todas as suas vassouras e as suas lágrimas,
Suas lágrimas de raiva, fugiram.
Os santos centauros das colinas desapareceram;
Não tenho nada para além do amargado sol;
Banida mãe lua heroica e desaparecida,
E agora que cheguei aos cinquenta anos
Tenho que aguentar o tímido sol.
W.B.Yeats
06 setembro 2010
(des) Graça
é engraçado
como a humanidade tornou-se risível
(nos dois sentidos)
neste mundo-circo sem graça
(nos três sentidos)
quanto mais a terra é aniquilada
mais há razões para piada
quanto mais o grave é preciso
mais há motivos de riso
sobre o pesar das aves massacradas
revoa a leviandade das gargalhadas
aos olhos da desgraça dos tempos
a dor tornou-se um sarcasmo
o amor, um deboche
a poesia, uma ironia...
é mais esbranquiçada a risada
quanto mais a situação é sombria...
este planeta aos estilhaços
tornou-se um palco de palhaços...
como a humanidade tornou-se risível
(nos dois sentidos)
neste mundo-circo sem graça
(nos três sentidos)
quanto mais a terra é aniquilada
mais há razões para piada
quanto mais o grave é preciso
mais há motivos de riso
sobre o pesar das aves massacradas
revoa a leviandade das gargalhadas
aos olhos da desgraça dos tempos
a dor tornou-se um sarcasmo
o amor, um deboche
a poesia, uma ironia...
é mais esbranquiçada a risada
quanto mais a situação é sombria...
este planeta aos estilhaços
tornou-se um palco de palhaços...
04 setembro 2010
Concordas?
de nada adiantam
os teus coros a quatro vozes
levados pelo vento
já tantas vezes...
ou os teus acordes
com cordas
no pescoço
ou as notas do teu piano
que o Tempo
nem mais nota...
o que surge errado não encontra acerto:
não adianta, Humanidade,
tu não tens concerto.
os teus coros a quatro vozes
levados pelo vento
já tantas vezes...
ou os teus acordes
com cordas
no pescoço
ou as notas do teu piano
que o Tempo
nem mais nota...
o que surge errado não encontra acerto:
não adianta, Humanidade,
tu não tens concerto.
03 setembro 2010
Gota a Gota ( um horrível poema pós-moderno)
gota a gota
derramarei um poema pós-moderno
legítimo:
começo
espremendo o líquido verde
das minhas esperanças
gota a gota
sobre o sangue de um graxaim
que gota a gota
escorreu pelo asfalto fervente
até ser absorvido pela terra seca
que gota a gota
espargiu seu pó
sobre os meus olhos pingando lágrimas
gota a gota
não de tristeza ou de sensibilidade
porque isso há muito morrera
mas porque sobre mim caía
uma chuva ácida
gota a gota
e caía também sobre o cedro morto
de que há muito
extirparam sua seiva
gota a gota
e as cinzas de suas antigas folhas
agora fumaça pelo ar
caiam como fuligem sobre meus olhos
gota a gota
mas ainda pude olhar para os meus pés
atolados num rio
que transbordava fezes
gota a gota
e ao lado havia um cadáver
de um homem com as mãos abertas
caindo moedas
gota a gota...
derramarei um poema pós-moderno
legítimo:
começo
espremendo o líquido verde
das minhas esperanças
gota a gota
sobre o sangue de um graxaim
que gota a gota
escorreu pelo asfalto fervente
até ser absorvido pela terra seca
que gota a gota
espargiu seu pó
sobre os meus olhos pingando lágrimas
gota a gota
não de tristeza ou de sensibilidade
porque isso há muito morrera
mas porque sobre mim caía
uma chuva ácida
gota a gota
e caía também sobre o cedro morto
de que há muito
extirparam sua seiva
gota a gota
e as cinzas de suas antigas folhas
agora fumaça pelo ar
caiam como fuligem sobre meus olhos
gota a gota
mas ainda pude olhar para os meus pés
atolados num rio
que transbordava fezes
gota a gota
e ao lado havia um cadáver
de um homem com as mãos abertas
caindo moedas
gota a gota...
02 setembro 2010
O Labirinto, de Jorge Luis Borges ( que merecia o Nobel...)
Borges é para mim o maior escritor da América Latina. Talvez não o maior poeta (embora esteja entre os maiores, certamente), mas na prosa é insuperável. Melhor, na minha opinião, que Gabriel García Márquez, e merecia mais que este um Nobel. Só que o Nobel, como a maior parte das premiações artístiscas, é uma piada. Sim, prêmios literários o que expressam? O gosto de alguns. Não venham me falar de imparcialidade, de conhecimento dos críticos, essas baboseiras todas. Arte é subjetividade. E ponto final. Ninguém tem a capacidade objetiva de determinar o que é melhor ou que é pior na arte, quando, é claro, trata-se de autores de níveis semelhantes. Poderia mencionar inúmeros exemplos aqui do que digo. Basta dizer, no entanto, que Fernando Pessoa perdeu um concurso com seu genial "Mensagem" para um padre literariamente medíocre que hoje ninguém sabe quem é.
Talvez seja até melhor que Borges não tenha ganhado o Nobel. Isso fala ainda mais alto em favor de sua genialidade, tanto como prosador como poeta. E como poeta, deixo aqui um de seus enigmáticos poemas, incluído no livro "Elogio da Sombra" de 1969. (Na imagem que acompanha o poema, "O Sonho do Pastor", de Füssli)
O Labirinto
Nem Zeus desataria essas redes
de pedra que me cercam. Olvidado
dos homens que antes fui, sigo o odiado
caminho de monótonas paredes
que é meu destino. Retas galerias
encurvando-se em círculos secretos
com o passar dos anos. Parapeitos
que se racharam na usura dos dias.
Já decifrei no pó esbranquiçado
rastros que temo. Tenho percebido
no ar das côncavas tardes um rugido
ou o eco de um rugido desolado.
Sei que na sombra há Outro, cuja sorte
é exaurir as solidões sem fim
que este Hades fiam e desfiam,
sugar meu sangue e devorar minha morte.
Nós dois nos procuramos. Quem me dera
fosse este o dia último da espera.
Jorge Luis Borges
01 setembro 2010
Quando a Água faz Falta...
Dizer que só se valoriza algo quando se perde, seria um lugar-comum. Mas é o que vivenciamos hoje no Brasil. A seca brutal, catastrófica, que vem dizimando florestas, cerrados, lavouras, criações, que vem transformando rios e lagos em desertos, que vem entupindo os céus de todo o Brasil com uma fumaça venenosa (o Brasil, um país tropical, equatorial em grande parte, conhecido pela sua água abundante!) faz agora com que pensemos que a água, a imprescindível água, pode acabar mais rápido do que imaginamos, e quem sem ela a humanidade, obviamente, está acabada. As pessoas pensam nisso. Mas depois, a seca passa, e voltam todos a maltratar a água como sempre fizeram, como estamos acostumados a fazer, como fomos condicionados, ensinados a agir.
Bem, tendo em vista esse momento dramático em nosso país, creio ser oportuno republicar aqui dois poemas meus que tratam do mau uso da água. O primeiro postado foi escrito em 2005. O outro, no ínicio deste ano. Na imagem, um lago quase totalmente seco no estado do Amazonas. No Amazonas, um dos mais úmidos lugares do mundo...
Águas do Fim
fúnebre
águas de marçoseco
águas alvas
brancas
águas claras
de espuma: de ter gente
águas belas?
águas plásticaschuvas ácidas
gotas trágicaságua da morte
dá medo
dá peste
e morre
a humanidade
e a água:
perdida
acabada.
e o que tu fazes?
fezes,
sem mágica...
e que água que resta?
a Lágrima.
a água do teu lábio
agora já é saliva
a saliva de uma lepra
a saliva do teu lábio
agora já é uma lágrima
e essa lágrima tu sorves
a lágrima do teu lábio
agora já é um sangue
o sangue que te nutre
o sangue do teu lábio
agora já é veneno
o veneno que te vives
o veneno do teu lábio
é a água que tu bebes
e estes versos que vomito
são à água do planeta...
30 agosto 2010
Aceito...
aceito o meu destino
com todas as pedras jogadas da Torre
no meio do meu caminho...
mais que a pedra de Drummond
é a pedra que soa como um sino
há um “Louco Alphonsus, Louco Alphonsus!”
no trilo do meu destino...
aceito mas não me inclino
deixo que o vidro se quebre
em seu cristal hialino
mas não junto os cacos do seu som...
mais que a pedra de Drummond
há um mantra-sino
no meio do meu des(a)tino.
com todas as pedras jogadas da Torre
no meio do meu caminho...
mais que a pedra de Drummond
é a pedra que soa como um sino
há um “Louco Alphonsus, Louco Alphonsus!”
no trilo do meu destino...
aceito mas não me inclino
deixo que o vidro se quebre
em seu cristal hialino
mas não junto os cacos do seu som...
mais que a pedra de Drummond
há um mantra-sino
no meio do meu des(a)tino.
28 agosto 2010
Soneto ao Tempo
deixa que passe o que de mim se corre
verás então que cada vez mais rápido
cada vez mais o que se bebe ao trágico
é todo um sonho em correnteza em porre...
deixa que esguiche e que de mim se jorre
tudo que sinto ao cada vez mais ávido
verás então que é cada vez mais válido
este meu Fim que a outro Fim socorre...
verás ao não como ocultei meu lago
com som de pulso este meu sim pressago
inundará tudo o que em ti derrama...
o teu dormir eu sempre sou que trago:
quando se dorme o sangue queima em chama
quando se morre o rio de Deus se inflama...
verás então que cada vez mais rápido
cada vez mais o que se bebe ao trágico
é todo um sonho em correnteza em porre...
deixa que esguiche e que de mim se jorre
tudo que sinto ao cada vez mais ávido
verás então que é cada vez mais válido
este meu Fim que a outro Fim socorre...
verás ao não como ocultei meu lago
com som de pulso este meu sim pressago
inundará tudo o que em ti derrama...
o teu dormir eu sempre sou que trago:
quando se dorme o sangue queima em chama
quando se morre o rio de Deus se inflama...
27 agosto 2010
“Eu Estava Lá...” (poema-conto)
então, Ele fitou-me nos olhos e disse:
“eu estava lá
quando em símbolo
Adão e Eva foram expulsos do Paraíso
eu estava lá
simbolicamente
sendo a última gota
alastrada pelo final da cruz
do Cristo crucificado
eu gotejei com o sangue
da marcial espada romana
na forma do punhal
no rubro da força de César
eu estava lá
pairando sobre os cadáveres
de um terço da Europa
devastada pela Peste Negra
entre as sombras medievas
e sonhei nos delírios de Bosch
enquanto absurdos se derramavam
de sua visão apocalíptica
e estava na alma de Shakespeare
adejando ao final de suas tragédias
e deixei minha marca
na lâmina afiada da guilhotina francesa
e na neve russa
que aniquilou o exército de Napoleão
como também fiz ressoar meu canto
no último quarteto
que compôs Beethoven ensurdecido
estive em forma líquida
no delirium tremens de Poe
fui às duas grossas lágrimas
que derramou Brahms em seu leito de morte
e eu estava lá mais tarde
nas balas mortíferas da Máfia
e lancei-me em fúria
pelas metralhadoras dos alemães
durante o sangue da Segunda Guerra
espargido pelos buracos na carne dos soldados
eu voei segundos antes
das bombas atômicas sobre o Japão
eu estava lá
chegando ao coração das mães
que perderam seus filhos
no verde-fogo do Vietnã
e larguei ao vento os derradeiros gritos
dos animais mergulhados nos mares da extinção
e irradiei meus suspiros
pelo céu que encobria enfumaçado
o tombar das gigantes florestas
eu estava lá
e agora estou aqui
fitando fundo e firme e forte
os olhos encovados de toda humanidade...”
Ele então me disse todas essas coisas
e depois disse seu nome
e seu nome era Adeus...
“eu estava lá
quando em símbolo
Adão e Eva foram expulsos do Paraíso
eu estava lá
simbolicamente
sendo a última gota
alastrada pelo final da cruz
do Cristo crucificado
eu gotejei com o sangue
da marcial espada romana
na forma do punhal
no rubro da força de César
eu estava lá
pairando sobre os cadáveres
de um terço da Europa
devastada pela Peste Negra
entre as sombras medievas
e sonhei nos delírios de Bosch
enquanto absurdos se derramavam
de sua visão apocalíptica
e estava na alma de Shakespeare
adejando ao final de suas tragédias
e deixei minha marca
na lâmina afiada da guilhotina francesa
e na neve russa
que aniquilou o exército de Napoleão
como também fiz ressoar meu canto
no último quarteto
que compôs Beethoven ensurdecido
estive em forma líquida
no delirium tremens de Poe
fui às duas grossas lágrimas
que derramou Brahms em seu leito de morte
e eu estava lá mais tarde
nas balas mortíferas da Máfia
e lancei-me em fúria
pelas metralhadoras dos alemães
durante o sangue da Segunda Guerra
espargido pelos buracos na carne dos soldados
eu voei segundos antes
das bombas atômicas sobre o Japão
eu estava lá
chegando ao coração das mães
que perderam seus filhos
no verde-fogo do Vietnã
e larguei ao vento os derradeiros gritos
dos animais mergulhados nos mares da extinção
e irradiei meus suspiros
pelo céu que encobria enfumaçado
o tombar das gigantes florestas
eu estava lá
e agora estou aqui
fitando fundo e firme e forte
os olhos encovados de toda humanidade...”
Ele então me disse todas essas coisas
e depois disse seu nome
e seu nome era Adeus...
25 agosto 2010
A Destruição é a Essência do Desenvolvimento
É claro que não deveria. Mas é. No Brasil é, e não só no Brasil, mas em quase todo o mundo. Eu não preciso dizer que de norte a sul o Brasil arde em chamas. Está todos os dias nos noticiários.
Seca nesta época do ano é normal. O que não é normal é a umidade relativa do ar estar abaixo de 15% na Amazônia! A Amazônia, uma região equatorial, que aprendemos na escola que é úmida todo o ano. Isso nunca tinha sido visto. O que não é normal é uma das maiores reservas de cerrado do Brasil, o Parque Nacional das Emas, ter sido devastada pelo fogo em 70%. 70%! Vai precisar de 200 anos para se recuperar. Só isso. E não foi só essa reserva a ser quase totalmente destruída. O que não é normal é ter caído chuva ácida até em Porto Alegre, devido aos gases das queimadas concentrados nas atmosferas.
E as queimadas apocalípticas não foram só aqui. Há poucos dias, EUA, Rússia, Espanha, Portugal também tiveram enormes áreas aniquiladas pelo fogo, incluindo vilas e pequenas cidades. E depois há alguns intelectuais brilhantes que afirmam que não há aquecimento global, em sua ânsia consciente ou inconsciente de dar respaldo para que o homem continue explorando e consumindo o planeta.
O número de focos de queimadas em território brasileiro aumentou em quase 100% com relação a 2009. Por que tantos focos? Além do clima excepcionalmente seco, há uma outra explicação, dada pelo coordenador do Monitoramento de Queimadas do Inpe, Alberto Setzer. Ele afirma o seguinte:
"O aumento expressivo dos focos de queimadas de um ano para o outro também se deve à dinâmica do setor agropecuário e ao período eleitoral. O momento econômico favorável à expansão dos rebanhos e das áreas agrícolas leva ao aumento do uso de fogo pelos produtores rurais, para abrir pastagem e limpar a terra para o cultivo. Com a estiagem e a vegetação seca, o risco de perder o controle da queimada é quase inevitável. Já o período eleitoral influenciaria na fiscalização."
Vejam bem, amigos, "o momento econômico favorável à expansão dos rebanhos e das áreas agrícolas leva ao aumento do uso de fogo pelos produtores rurais..." É assim, lamentavelmente, que ocorre o "desenvolvimento". E agora, a bancada ruralista quer facilitar ainda mais esse sublime desenvolvimento, degradando o próprio Código Florestal. Já não chega tudo o que já foi destruído. Há que se destruir mais. Só estarão satisfeitos quando não houver uma só árvore em pé.
Mas não adianta. Só se pensa em "desenvolvimento" a qualquer custo. Quase todos pensam assim. Inclusive 90% dos políticos e dos candidatos a cargos públicos. E não me venham dizer que não é bem assim, que muitos se preocupam, e blá blá blá. Mentira. Só fingem que se preocupam. Porque é moda. No fundo não estão nem aí. E essas queimadas absurdas são a prova. Uma das provas. Porque há muitas outras. Diante dos fatos, não há argumentos.
Nada mais a declarar.
24 agosto 2010
Relação Oculta
quando ouço aquela sonata de Schubert
um cavalo vem bater na minha porta:
sinto que estou me insanecendo...
tenho que estranhar o peso
dos olhares dos sapos
enquanto escrevo poemas (que) não-sãos.
antes eu fosse aquele conto de Poe nunca-lido
ou um silêncio desolado de flauta na mata na tarde
tão tarde...
aquele detalhe de um quadro de Bosch
não me sai mais do meu pesadelo
e do meu sonho como sol cada vez mais ao norte
um vento que nunca foi visto
ou grande ave que plana em correntes
antes fosse...
carta com selos vermelhos
quem foi que me deste há final?
...planeta por trás dos espaços
e a ponta de um dedo em meu dedo
que não leu meu sinal...
um cavalo vem bater na minha porta:
sinto que estou me insanecendo...
tenho que estranhar o peso
dos olhares dos sapos
enquanto escrevo poemas (que) não-sãos.
antes eu fosse aquele conto de Poe nunca-lido
ou um silêncio desolado de flauta na mata na tarde
tão tarde...
aquele detalhe de um quadro de Bosch
não me sai mais do meu pesadelo
e do meu sonho como sol cada vez mais ao norte
um vento que nunca foi visto
ou grande ave que plana em correntes
antes fosse...
carta com selos vermelhos
quem foi que me deste há final?
...planeta por trás dos espaços
e a ponta de um dedo em meu dedo
que não leu meu sinal...
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