01 abril 2010

Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz XII


Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 13º passo. Na imagem, o quadro "Jovem Camponesa com Um Bastão", de Camille Pissarro.

Passos da Cruz - Soneto XII

Ela ia, tranquila pastorinha,
Pela estrada da minha imperfeição.
Segui-a, como um gesto de perdão,
O seu rebanho, a saudade minha...

"Em longes terras hás de ser rainha
Um dia lhe disseram, mas em vão...
Seu vulto perde-se na escuridão...
Só sua sombra ante meus pés caminha...

Deus te dê lírios em vez desta hora,
E em terras longe do que eu hoje sinto
Serás, rainha não, mas só pastora _

Só sempre a mesma pastorinha a ir,
E eu serei teu regresso, esse indistinto
Abismo entre o meu sonho e o meu porvir...


(Receba gratuitamente o zine Poemas do Término e Contos do Fim em sua versão digital. Para receber a edição 38, basta deixar aqui seu e-mail)

31 março 2010

"O Brasil Não é Um País Sério"


"Le Brésil n’est pas um pays sérieux"(O Brasil não é um país sério). Foi o ex-presidente da França, Charles de Gaulle, que afirmou tal verdade, nos anos 60. Sim, desgraçadamente, é uma verdade. Eu poderia dar mil e um motivos para isso. E estou certo que o leitor conheceria todos eles. Mas vou deixar apenas um exemplo, um vergonhoso exemplo.

Acessando um site de notícias, a excepcional manchete que me saltou aos olhos, com destaque, dizia algo de uma importância extrema... Dizia que a aluna que foi à aula com uma minissaia que permitia ver suas calcinhas (lembram dela?) vai agora lançar uma grife de vestidos "provocantes", aproveitando-se da polêmica e de todo o destaque dado pela mídia ao caso, com o objetivo de ganhar muito dinheiro.

Não lembro o nome da moça, e faço questão de não lembrar, nem vou me dar ao trabalho de procurar no google. Muito menos gostaria de estar falando sobre isso. Mas isso prova o que afirmou De Gaulle: O Brasil não é um país sério. Não é, não pode ser. Se fosse sério, não aconteceria aqui de uma moça que vai com uma minissaia à aula virar manchete nacional. E pior, ficando famosa com tamanho absurdo, aproveitando-se de todo seu destaque, lançar uma grife e, provavelmente, enriquecer por um dia ter mostrado as calcinhas na faculdade.

Aqui, enriquece-se por mostrar as calcinhas. Ou enriquece-se por ficar alguns meses trancado em uma casa de luxo transando e falando imbecilidades. E pior: enriquece-se, fica-se famoso, torna-se manchete em todos os jornais e vira-se herói ou heroína nacional. Não, o Brasil não é um país sério.

Agora, os verdadeiros heróis brasileiros, aqueles que produzem nas artes, nas ciências, na cultura em geral, na educação, os que defendem nosso meio-ambiente com unhas e dentes, esses não viram manchetes, não têm "ibope", não enriquecem, não ficam famosos, não são reconhecidos como aquilo que autenticamente são: heróis. E depois querem que eu não concordem com o de Gaulle? Querem que afirme uma patriotada idiota: sim, o Brasil é sério sim... Gostaria de dizer isso, mas os fatos me impedem. O povo me impede. Povo idiota, país idiota.

E, para completar, naquele site onde a manchete principal era sobre a grife "provocante" da moça que mostrou as calcinhas, lá, num canto, bem pequeno, dizia algo sem importância: "Brasil ainda é o país que mais desmata no mundo". Sim, isso não tem importância nenhuma, em um país que não é sério. O Brasil é uma piada.

29 março 2010

Destino...

animais-irmãos que vos extinguis
a que oculto
o mistério vos leva...?
o que vos leva
a que mistério é oculto?...

quando vos fordes
ocultai convosco
o que me mistério
quando partirdes
deixai que parta o que deixo
o que se parte em meu peito
carregai ao longe
o longe que pulsou no que sinto
não deixeis comigo
meu pulso que sangrou pela terra
o derramar do meu verso
pela morte que erra
escondei o que me esperanço
nos confins a que vos destinais...

quero esquecer-me de mim
em vossos eternos jamais...

mas guardai em vossas almas
a minha arte dos tardes
guardai-a
para quando voltardes...

28 março 2010

As Almas do Fantástico na História do RS – História 6ª: O Último (Final)

- Eu sei que vou morrer. Não preciso da tua ajuda. Eu sou o último. E quando eu morrer, morrerá comigo o meu povo. O meu povo era o mais bravo desta terra que tu agora pisas. O meu povo era o dono desta terra. E o meu sangue, que se mistura a ela agora, faz parte dela e a ela voltará. Vocês, que agora pisam na terra que era nossa, são uns covardes. Não souberam lutar como verdadeiros guerreiros, vieram aos milhares para massacrar meu povo com armas de covardes. Mas nós resistimos até a última gota de sangue, e a última gota será a minha.

- Sim, mas isso faz muito tempo, eu nem era nascido, nem meus avós o eram. Eu não tenho nada a ver com isso, sinto muito pelo teu povo, mas só o que posso fazer agora é te ajudar...

- Eu desprezo a tua ajuda. Vocês queriam nos fazer de escravos, mas não conseguiram, nós resistimos até o último homem, e o último homem sou eu. Queriam nos pacificar, nos domesticar, nos impedir de correr livres e soberanos pelos campos. Pelos campos que eram nossos. Mas nós, nós não permitimos. Nós preferimos a morte a ser domados pela covardia e pela desonra do teu povo. Queriam nos impor os seus costumes, seus hábitos, suas crenças, mas não conseguiram. Vocês são fracos. Tão fracos que fomos nós que empurramos a vocês o que nós somos, ou éramos.

- Sinceramente, eu não estou te entendendo...

- O teu povo não conseguiu fazer com que nós vivêssemos como vocês queriam. Nós resistimos, lutamos até a morte, como os guerreiros terríveis que somos, matamos muitos dos de vocês, vendemos muito caro o nosso fim, mas jamais fomos domados. Somos da guerra, da luta, somos livres como o vento, fortes como o sangue. Mas vocês, vocês agora querem ser como nós... Até os nossos costumes vocês pegaram pra vocês, querem nos imitar. O churrasco que vocês comem, fomos nós que inventamos, a carne assada com fogo de chão em espeto de pau. O mate, o mate é nosso! A erva-mate faz parte do nosso sangue. E essas boleadeiras que vocês usam? E o xiripá? E o pala? Tudo nosso, tudo foi imitado do meu povo. Vocês quiseram nos impor os costumes de vocês... Haha! Mas, no final, foram vocês que se dobraram aos nossos. Porque nós nunca nos dobramos, nunca nos curvamos!

- Sim, devo confessar que tu tens razão... Muitos dos costumes dos gaúchos foram herança de alguns grupos indígenas do pampa. Mas... me diga quem és tu? De onde vens, qual tua tribo? Jamais soube que tivesse índios por aqui...

- E olha agora para estes campos, estas matas, estes rios estes animais... Eles estão todos morrendo, vocês, povo de covardes, estão os matando. O meu povo amava tudo isso. Eu falava com os animais, sim, eu os compreendia, e eles me compreendiam. E foi por conversar com os animais que nos tornamos grandes cavaleiros, os melhores destes campos. Eu conversava com as plantas, com as árvores, tratava-as com amor, como se fossem gente, e elas me curavam das minhas doenças. Eu falava com as águas, com os ares, com a terra, eu sabia que eles também tinham alma, eu falava com a alma deles. E assim eles nos ajudavam, e assim meu povo vivia, em paz com a natureza e com seus filhos.

Mas o teu povo de covardes, o teu povo sem respeito, sem honra, sem alma, não vê alma na natureza, só vê nela coisas a serem usadas, a serem destruídas. O teu povo está espalhando a morte por estes campos, matas e rios. E quem espalha morte vai colher morte. E é o que virá pra vocês. Vocês pensam que a natureza e seus filhos ficarão quietos pra sempre, que eles não irão se erguer para impor a sua força de justiça... Mas eles virão, eles se erguerão com fúria e colocarão tudo novamente em seu devido lugar. Então eu terei pena de vocês... Não, não terei pena nenhuma, o teu povo terá o que merece. Eu sinto no ar, sinto o cheiro da guerra que a natureza prepara aos poucos...

- Sim, mas...

- Ah, tu queres saber quem eu sou... Eu sou o último. O último dos Minuanos, os índios mais bravos, os mais guerreiros, os mais indomáveis que já pisaram estes campos. Aqueles que foram covardemente massacrados por vocês com suas armas de fogo e com muitos mais homens do que nós. Mas o meu sangue, o nosso sangue está vivo, e vivo ele volta a esta terra de que faz parte e fará parte da guerra que virá, fará parte da nossa vingança...

E após alguns opressivos segundos, o índio faleceu, esvaído em sangue. Tentei, então, aproximar-me de seu cadáver para examinar alguns sinais estranhos desenhados em seus braços, mas nesse instante... me acordei. Sim, estive desacordado por todo esse tempo, completamente inconsciente, que creio que não foi muito longo, pois ainda raiava o sol.

Acredito que por efeito de alguma substância tóxica do espinho perdi a consciência por alguns minutos. Então, o índio e toda a sua conversa não passaram de alucinação? Sonhei? Tive uma visão? Seja como for, tudo me pareceu pungentemente real. Tão real quanto o meu sangue que ainda estava sobre as pedras da margem do rio, o meu sangue, em que há o sangue dos índios do pampa...

(Obs.: as 7 histórias que compõem esta série estão relacionadas entre si, mas são independentes, ou seja, uma não é a sequência da outra. Todas as histórias são baseadas em fatos reais e misteriosos da história do RS, mas seu desenvolvimento é fictício. A 7ª história ainda não foi finalizada.)

27 março 2010

As Almas do Fantástico na História do RS – História 6ª: O Último


O crepúsculo caía lento. Mas parecia mais denso, mais dramático, mais carregado que o normal. Atravessando aquele imenso campo ancestral que parecia infinito, inexplicavelmente fui invadido por uma estranha tensão. Deveria chegar à fazenda antes que anoitecesse completamente. Apressei o passo.

Uma gigantesca mata surgiu diante de meus olhos cansados, quando atingi o alto da coxilha. Um lindo espetáculo se descortinou, um bosque de um verde puro e intenso, com imensas árvores frondosas, algumas delas paradisiacamente floridas. Porém, a tensão, o insondável nervosismo que me afligiu sem que eu encontrasse uma explicação plausível para ele não se arrefeceu, pelo contrário, ele se intensificava mais e mais.

Deveria atravessar a mata e, mas adiante, o riacho que nela se ocultava, para atingir o outro lado e, finalmente, chegar ao campo que me levaria à fazenda. O sol ainda brilhava, mas não poderia perder tempo. Caminhei rápido em direção à mata e penetrei em sua beleza deslumbrante e misteriosa, sentindo que o pulsar de meu coração tornava-se mais célere. Minha inquietação era sobremaneira anômala. Anômala porque não era a inquietação natural, compreensível, de quem entra em uma mata fechada sem saber exatamente o que ali poderá encontrar, correndo o risco de entrar em contato com serpentes e outros animais perigosos. Minha inquietação relacionava-se com algo que me parecia bem mais ameaçador e enigmático, que eu não saberia dizer a mim mesmo o que poderia ser. Sentia apenas uma sombria intuição, um pressentimento angustiante, como se alguma coisa de anormal, de sobre-humano, estivesse para acontecer.

Todavia, eu não tinha outra saída, a não ser entrar e atravessar toda a mata. Obviamente, ao fazê-lo, minha cautela era enorme. A rapidez com que caminhava pelo campo deu lugar a um avanço muito lento por entre a vegetação fechada do bosque. Conforme penetrava na mata de árvores imensas e regada de arbustos, trepadeiras e plantas rasteiras, meus receios e angústias inflamavam-se.

Cada local em que pisava era por mim observado com extrema atenção. Dirigia meus olhares para todos os lados, para o alto das árvores, para seus galhos, na terrível expectativa de avistar algum perigo em potencial. Porém, atingi o riacho sem nada divisar de ameaçador, vi tão somente alguns animais inofensivos.

Atravessei o belo e pequeno rio em um trecho onde ele era bastante raso. Poderia ter aproveitado melhor aquelas agradáveis e límpidas águas, no entanto, minha tensão não me permitiu. Nervoso, já na outra margem do rio, ainda com muita cuidado, ia entrando novamente na mata, quando senti dolorosamente que algo espetou meu antebraço esquerdo. Havia cravado um enorme espinho que se aprofundou em minha pele. O espinho era de um alto arbusto de uma espécie para mim desconhecida. Retirei-o de meu braço, e o sangue escorreu abundantemente. Senti então uma febre no local e uma leve tontura, e imediatamente imaginei que poderia haver no espinho alguma substância tóxica. Como a tontura não passava, sentei-me na margem do rio, sobre algumas pedras, não poderia prosseguir naquele estado.

Creio que alguns minutos após sentar-me, ainda levemente tonto, principiei a ouvir um som estranho advindo da outra margem. Voltei-me para ela e lá e contemplei um homem sentado nas pedras que apresentava um grave ferimento no peito, o qual sangrava abundantemente. O homem era, sem dúvida, um indígena, um típico índio, aliás, que eu nem sequer suspeitava que pudesse existir por aqueles campos, não obstante eles terem sido habitados por povos indígenas pampianos há séculos.

O índio era jovem, não devia ter mais que 25 anos de idade.Vestia somente uma calça de estilo bastante antigo. Da cintura para cima, o índio estava nu, e os seus pés, descalços. Possuía uma aparência aguerrida e robusta, um rosto de traços fortes e duros e um corpo aparentemente bastante possante. Porém, demonstrava uma profunda extenuação, quase uma agonia. O lado direito do seu peito trazia um considerável buraco, o qual, tudo indicava, fora feito a bala.

O seu sangue jorrava incessante, derramava-se por todo seu corpo e misturava-se às pedras, à areia e à água do rio. Sua respiração começava a ser estertorante. Levantei de onde eu estava e tentei, ainda que com muito receio, aproximar-me para ajudá-lo:

- Não, não te aproximas. Se vieres perto de mim, te mato! Pra isso ainda tenho forças.

A voz do índio, apesar de fraca e quase soluçante, era expelida com uma intensa determinação, a qual assustava, pois se combinava com um olhar firme, fulminante, enfebrecido. Seu sotaque soava bastante estranho, porém compreensível. Detive-me e retorqui:

- Mas assim como estás, vais morrer. Precisas de ajuda.


(Amanhã, o final - Na imagem, o quadro "Moema", de Victor Meirelles)

26 março 2010

Lembrança

luz que adeja sobre meu sonho
não pensas que eu te esqueci:
sei do teu canto vasto pelos finais
sei que te acimas, sei que te imensas
ouço teus dedos, cheiro teus olhos
não pensas que te descri
dos mares em que te oceanas
do sempre em que tu te eternas
do todo em que te infinitas...

por ti
eu caí das verdades
mergulhei no que erra
abismei-me no Fim

se cada vez mais
me aprofundo na sombra
é pra fincar tua bandeira
nos abismos em que hás de brilhar
inclusive
dentro de mim

25 março 2010

Petição para a Nestlé

Amigo leitor, peça à Nestlé para que pare de comprar óleo de palma de florestas devastadas. Assine a petição:

http://www.greenpeace.org.br/kitkat

E assista ao vídeo no mesmo link.

Obrigado.

Nestlé Devastando Florestas Tropicais


Que a Nestlé é uma das maiores empresas alimentícias do mundo todos sabem. Porém, poucos são os que sabem que ela está envolvida na destruição de florestas tropicais na Ásia, particularmente nas da Indonésia. Por que será que a grande mídia não divulga tal fato no Brasil? Grandes são as manifestações na Europa para que a Nestlé pare de comprar óleo de palma de plantações que se proliferam conforme as florestas tropicias do Sudeste Asiático são devastadas.

Sim, é exatamente isso que acontece. As florestas da Indonésia e do outros países estão sendo varridas do mapa para a plantação de palmas que produzem óleo para chocolates, do qual a Nestlé é a maior compradora. Ou seja, estamos comendo chocolate à custa do massacre de uma das maiores, mais ricas e mais importantes florestas tropicais do mundo.

Até o ano passado, este mesmo óleo era comprado pela Unilever para a fabricação do sabonete Dove. A pressão foi tão grande sobre a empresa na Europa que ela anunciou no final do ano passado que rompeu com os plantadores de palma da Indonésia. Mas a Nestlé continua.

A Nestlé, que tem como seu símbolo um ninho com pássaros... Que ironia... Quantos milhões de ninhos e pássaros será que a Nestlé já ajudou a destruir pelas florestas do mundo afora? Seria cômico, se não fosse trágico.

Todos falam na preservação da Amazônia. Mas só a Amazônia? E as outras florestas? As outras podem ser destruídas? Ainda temos 80% da Amazônia. Deveríamos ter quase 100%. Mas das florestas tropicais da Indonésia, de uma exuberância tão imensa quanto a amazônica, restam apenas 50%. É uma das florestas de maior biodiversidade do planeta, sua biodiversidade animal é ainda maior que a da Amazônia. É o onde vive, por exemplo, o orangotango, cada vez mais ameaçado de extinção, para que os seres humanos tomem banho com sabonetes de luxo e comam chocolates mais cremosos.

De minha parte, não comprarei mas produtos Nestlé, não até que tenha certeza que a multinacional não esteja mais comprando óleo de áreas de florestas devastadas. Se é que é possível ter tal certeza... E seria demais pedir aos leitores que também não consumam mais produtos Nestlé? É, talvez seja...

Até quando o homem se empenhará ao máximo para tornar a Terra um inferno? Até o dia em que a natureza dizer basta. E ela já pronuncia o "b"... A salvação do planeta é o fim da humanidade...

(Na imagem, o contraste nítido entre a floresta intocada e a área destruída devido à plantação de palmeiras para a produção de óleo na Indonésia.)

24 março 2010

Algumas Fotos do Lançamento de Meu Livro Poemas do Fim e do Princípio





Deixo algumas fotos do lançamento de meu 2º livro, Poemas do Fim e do Princípio, ocorrido dia 20/03/2010, no centro cultural de Santiago. Mais uma vez agradeço a presença de todos.

23 março 2010

Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz XI


Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 12º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Anjos Rolando a Pedra do Sepulcro" de William Blake.

Passos da Cruz - Soneto XI

Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro de mim gela,
E o leve Outono, e as galas, e o marfim,
E a congruência da alma que se vela
Com os sonhados pálios de cetim?

Disperso… E a hora como um leque fecha-se…
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar…
O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se…

E, abrindo as asas sobre Renovar,
A erma sombra do voo começado
Pestaneja no campo abandonado…

22 março 2010

a Ele

ó Tu
Rio sem fim
que percorre o universo...
quatro letras de arcanos
tem o Teu nome no eterno...
os Teus coros de anjos
elevam-nos em luz e sombra
às alturas do céu da alma...
Tu nos consolas na dor
e na calma...
Tua mão de Pai
engendrou a música das esferas
criou mundo e sonhos
astros e quimeras...
Teu espírito paira
pelo espaço pela noite pelo mar
Teu coração
nos ensinou a amar...

Dirão que Tu és DEUS...
Mas Tu és BACH.

(Poema em homenagem aos 325 anos de Johann Sebastian Bach, comemorado ontem, dia 21/03/2010. Lembro aos leitores que Bach significa "rio" em alemão.)

21 março 2010

Agradecimento

Esta postagem é extremamente simples: venho deixar meus sinceros agradecimentos a todos os amigos que estiveram presentes no lançamento de meu livro Poemas do Fim e do Princípio. Espero ter correspondido às suas expectativas. E espero que a obra não decepcione aos que a adquiriram.

Agradeço em especial ao Giovani Pasini, por seu imprescindível auxílio na organização do evento; à profª Rosane Vontobel, por sua perfeita análise da obra; à Janice Trombini, por sua competente assistência no protocolo; ao Luiz Paulo Milani, pela ajuda na distribuição do material; à Liziane Serafini, pela excelente atuação como fotógrafa.

Todos os que estiveram presentes, e os que não puderam comparecer por motivo de forças maiores, merecem meus mais profundos agradecimentos. No ano que vem, pretendo lançar meu 3º livro, e conto com todos vocês novamente.

19 março 2010

Poemas do Término e Contos do Fim nº 38 em Versão Digital e Gratuita


A edição 38 do zine literário Poemas do Término e Contos do Fim será lançada amanhã, dia 20/03, juntamente com meu livro Poemas do Fim e do Princípio. Incluirá o conto "A Lenta Morte da Bela Mulher" e mais 3 poemas que não estarão no livro.

O zine 38 virá com uma importante inovação: será distribuído também digitalmente, gratuito como a versão impressa. Para recebê-lo, basta que o leitor me passe seu e-mail, que então ele será enviado.

Em Santiago, os pontos de distribuição da versão impressa são os seguintes: locadoras Fox, Classic e Stop, biblioteca pública, biblioteca da Uri, Ponto Cópias e Livraria Santiago. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, mediante o pagamento das despesas de correio.

Agradeço a colaboração dos seguintes amigos na distribuição do zine em outras cidades: Liziane Serafini (Santa Cruz do Sul/RS), Luana Serafini (Santa Maria/RS), Alberto Ritter (Porto Alegre/RS), Gracieli Persich (Santo Ângelo/RS), Louise Wagner (São Leopoldo/RS), Marcus Vinícius Manzoni (Frederico Westphalen/RS), Lilene Leverdi (São Gonçalo/RJ), Héder Duarte (São Gonçalo/RJ), Agnes Mirra (Goiana/PE) e Paulo Soriano (Salvador/BA). Agradeço também ao amigo Guilhermes Damian pelo excelente trabalho de design do zine.

18 março 2010

ARCAHDIA

O site Arcahdia, dedicado aos novos escritores brasileiros de literatura fantástica, criou uma página para divulgação de minhas obras. Para acessá-la:
http://arcahdia.webnode.com.br/alessandro-reiffer

Poemas do Fim e do Princípio


Venho informar (e convidar) aos amigos leitores do blog que neste sábado, dia 20 de março de 2010, às 20h, no Centro Cultural de Santiago, será lançado meu 2º livro, Poemas do Fim e do Princípio.

Como já mencionei aqui no blog, meu livro conta com 245 poemas em quase 250 páginas e já está disponível nas versões impressa e digital no site da editora Livros Ilimitados, que publicou o livro. Acima desta postagem, logo abaixo do cabeçalho do blog, está o link do site da editora, onde o leitor pode acessar os livros.

Poemas do Fim e do Princípio foi composto ao longo de 5 anos. Durante este período, compus mais de 500 poemas. Porém, nem todos considero publicáveis em livro. Outros seriam publicáveis, mas fugiriam um pouco da temática e objetivo da obra. E ainda, vários dos poemas incluídos no livro foram revisados e sofreram alterações. Então, os 245 poemas que publiquei vieram de uma seleção que realizei considerando qualidade e temática. Meu objetivo foi construir um livro onde estivesse o melhor de mim durante estes últimos 5 anos (lembrando que os 5 anos a que me refiro vão até final de 2009) sem perder a coerência de temática. Espero ter alcançado tal objetivo.

16 março 2010

Que as Leve...

dentro em mim
há levas de palavras em lavas
larvas de palavras não-livres
livros não lavrados mal lidos
lendas em velórios levadas

dentro em mim há tanto
que não é nada...
as minhas palavras
largarei letra a letra
deixarei que escorram bem lentas
como os pingos derretidos da vela
como o grão a grão da areia
que desmorona da catedral condenada
como as folhas mortas que caem
da floresta ensopada em napalm
como o gota a gota ainda quente
da garganta do carneiro carneado...

quem quer saber da luz que digo?
o que em mim de belo canta
eu levarei comigo...

e as minhas palavras de sombra
deixo que o Ocaso as entregue
e o Fim as carregue...

15 março 2010

Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz X


Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 11º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Campo de Trigo Sob o Céu Nublado" de Van Gogh.


Passos da Cruz - Soneto X

Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida. Através de nevoeiros,
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e através estranhos ritos

De sombra e luz ocasional, e gritos
Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito…

Caiu chuva em passados que fui eu.
Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma coisa de alma do que é meu.

Narrei-me à sombra e não me achei sentido.
Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido…

13 março 2010

Confissão

confesso-me que não-ser:
não fui-me.
admito que bebi demais
bebi a própria sede de beber
e assim explodiu-me o vinho
e quando a sede me confessava imensa
me foi negada a água
e quando a água se admitia a mim
me foi secada a boca

confesso-me que me fim:
não fiz-te.
pedir o vinho é vir vinagre
que Deus dá água
a quem não tem sede
e vida a quem não tem sangue
que o sangue é a alma
e admito que me sangrei
porque minha alma era demais
e quanto mais sangrava meu ser
mais sangue se sede em mim

confesso-me que não sou-te:
não... nada.
admito a sede
admito o vinho
admito o sangue.
foi-me o sonho sa(n)grado...

Eu me declaro culpado.

12 março 2010

Quando?

quando à manhã de céu azul
cruzará aquela ave sombria,
se eu trago uma vela no escuro?
eu escrevo com o que procuro...

se eu pudesse sonhar, dormiria.

quando incensarão pela tarde
as tulipas que eu te colhia,
se eu trago uma espada no braço?
eu escrevo com o que não abraço...

se eu te pudesse mirar, pintaria.

quando aos fluidos deste ocaso
encherei esta taça vazia,
se eu trago uma brasa na testa?
eu escrevo com o que me resta...

se eu te pudesse falar, cantaria.

quando virão na minha noite
sonatas da morte do dia,
se um beijo nos lábios sustenho?
eu escrevo com o que não tenho...

se eu te pudesse viver, morreria.

E-mail enviado ao amigo Júlio Prates, sobre o anonimato na blogosfera

Prezado Júlio:

Obviamente, não tenho, nem de longe, o conhecimento e a experiência que tu deves ter nas áreas do Direito e do Jornalismo. Não tenho e não pretendo ter, visto que não é o meu chão. Busco me aprofundar nas áreas de meu ofício, de minha vocação. Portanto, não possuo o embasamento necessário para debater contigo tais assuntos. E nem pretendo debater, eu apenas deixei a minha visão sobre a função de um blog. Creio que uma de suas funções é permitir esse debate de ideias, essa interatividade, e a permissão aos comentários acredito ser algo fundamental nesse sentido. Quando disse que julgo o ato de impedir os comentários como algo antidemocrático, não quis dizer que tu estás sendo deliberadamente antidemocrático, não foi uma acusação, essa é apenas a impressão que um blog onde não é possível comentar me transmite. Mas entre impressão e realidade, pode haver uma grande diferença. Certamente, tu tens teus motivos para torná-lo assim, não compete a mim julgar.

Os blogs que conheço todos eles permitem os comentários. Alguns permitem comentários anônimos, outros não, mas permitem comentários. O teu blog é o único que conheço onde eles não são permitidos, certamente deve haver outros, mas desconheço. Não te condeno por isso, quem sou eu para fazê-lo? Cada um sabe de seus motivos, e creio que os teus são perfeitamente justos e compreensíveis. Sem dúvida, entre o meu e o teu blog há uma grande diferença de temáticas, e os assuntos que abordas, o objetivo de teu blog, são bem mais suscetíveis a ataques e a reações pessoais do que meu. Por isso, talvez, no teu caso, impedir os comentários tenha sido a decisão mais acertada, mas, sinceramente, não sei até que ponto. Já o meu blog não tem intenções jornalísticas ou políticas. É um blog direcionado à arte, mas, como a arte é muito ampla, permito-me discorrer, vez que outra, de forma crítica sobre os assuntos que a amplitude da arte me proporciona, como os ligados a questões culturais, que, por sua vez, estão relacionados com assuntos políticos. E a interatividade do leitor através dos comentários faz parte de tudo isso, parece-me algo da própria essência do blog, algo natural, não vejo por que impedi-la, no meu caso.

Até porque, impedir o anonimato na internet, ou na sociedade em geral, é impossível. Se a lei diz que o anonimato é vedado, ela está sendo contraditória. Aliás, a lei é muito contraditória e nem sempre está correta. O anonimato sempre existiu e sempre vai existir, é uma forma de expressão do ser humano. Pode-se enviar um e-mail anônimo. Uma carta anônima. Existe a denúncia anônima amparada por lei. Uma pessoa honesta pode muito bem vir a ser investigada por uma denúncia anônima caluniosa. O voto é anônimo.Se não fosse, seria correto? É correto o voto anônimo dos deputados? Eu não acho, mas a lei permite. Por quê? Quantos poetas e escritores escreveram sob pseudônimos que durante muito tempo mantiveram-se secretos? Isso é crime? O crime é o que diz a lei ou o crime é o que diz nosso bom senso? Nem sempre a lei é sensata. Muito pelo contrário, a lei protege, muitas vezes, certos interesses de poucos. É claro que tu deves saber disso melhor do que eu. Eu, particularmente, não gosto do anonimato. Mas entre não gostar e julgá-lo como um crime, são outros quinhentos. O anonimato pode ser usado para o crime, mas em si, ele não é um crime. Assim como a internet não é um crime, o orkut não é um crime, mas podem ser usados para o crime. Não importa o que diga a lei. A minha consciência diz a mim que o anonimato não é um crime. Assim como ela me diz que não é crime um pobre roubar um pão por fome. Mas a lei diz que é. O voto, para mim, não precisaria ser anônimo. Eu faria questão de dizer a todos em quem votei. Mas por que o voto anônimo não é crime? Não é para proteger o indivíduo? Pois é isso, o anonimato é uma forma de proteção. E pode ser também uma forma de crime. Assim como a lei, também, pode ser criminosa. Contra o anonimato ofensivo ou calunioso, é perfeitamente justo que a lei haja. Mas não se pode julgar todo anonimato como um crime porque alguns o utilizam para isso. Essa é a minha visão, contra a qual qualquer um pode se manifestar e argumentar.

Estou ciente que devo me responsabilizar pelos comentários que estão em meu blog. Assim como me responsabilizo pelo que escrevo. Eu, como artista, sou a favor da expressão absolutamente livre do ser humano. Mas claro que aquele que se expressa deve estar ciente das consequências dessa expressão. Disse certo escritor que agora não me recordo: "Ninguém escreve impunemente". O escritor deve aceitar aqueles que se posicionam contra ele, seja aberta ou anonimamente. Isso faz parte. Obrigado, Júlio, pela oportunidade deste diálogo.