25 março 2010

Nestlé Devastando Florestas Tropicais


Que a Nestlé é uma das maiores empresas alimentícias do mundo todos sabem. Porém, poucos são os que sabem que ela está envolvida na destruição de florestas tropicais na Ásia, particularmente nas da Indonésia. Por que será que a grande mídia não divulga tal fato no Brasil? Grandes são as manifestações na Europa para que a Nestlé pare de comprar óleo de palma de plantações que se proliferam conforme as florestas tropicias do Sudeste Asiático são devastadas.

Sim, é exatamente isso que acontece. As florestas da Indonésia e do outros países estão sendo varridas do mapa para a plantação de palmas que produzem óleo para chocolates, do qual a Nestlé é a maior compradora. Ou seja, estamos comendo chocolate à custa do massacre de uma das maiores, mais ricas e mais importantes florestas tropicais do mundo.

Até o ano passado, este mesmo óleo era comprado pela Unilever para a fabricação do sabonete Dove. A pressão foi tão grande sobre a empresa na Europa que ela anunciou no final do ano passado que rompeu com os plantadores de palma da Indonésia. Mas a Nestlé continua.

A Nestlé, que tem como seu símbolo um ninho com pássaros... Que ironia... Quantos milhões de ninhos e pássaros será que a Nestlé já ajudou a destruir pelas florestas do mundo afora? Seria cômico, se não fosse trágico.

Todos falam na preservação da Amazônia. Mas só a Amazônia? E as outras florestas? As outras podem ser destruídas? Ainda temos 80% da Amazônia. Deveríamos ter quase 100%. Mas das florestas tropicais da Indonésia, de uma exuberância tão imensa quanto a amazônica, restam apenas 50%. É uma das florestas de maior biodiversidade do planeta, sua biodiversidade animal é ainda maior que a da Amazônia. É o onde vive, por exemplo, o orangotango, cada vez mais ameaçado de extinção, para que os seres humanos tomem banho com sabonetes de luxo e comam chocolates mais cremosos.

De minha parte, não comprarei mas produtos Nestlé, não até que tenha certeza que a multinacional não esteja mais comprando óleo de áreas de florestas devastadas. Se é que é possível ter tal certeza... E seria demais pedir aos leitores que também não consumam mais produtos Nestlé? É, talvez seja...

Até quando o homem se empenhará ao máximo para tornar a Terra um inferno? Até o dia em que a natureza dizer basta. E ela já pronuncia o "b"... A salvação do planeta é o fim da humanidade...

(Na imagem, o contraste nítido entre a floresta intocada e a área destruída devido à plantação de palmeiras para a produção de óleo na Indonésia.)

24 março 2010

Algumas Fotos do Lançamento de Meu Livro Poemas do Fim e do Princípio





Deixo algumas fotos do lançamento de meu 2º livro, Poemas do Fim e do Princípio, ocorrido dia 20/03/2010, no centro cultural de Santiago. Mais uma vez agradeço a presença de todos.

23 março 2010

Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz XI


Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 12º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Anjos Rolando a Pedra do Sepulcro" de William Blake.

Passos da Cruz - Soneto XI

Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro de mim gela,
E o leve Outono, e as galas, e o marfim,
E a congruência da alma que se vela
Com os sonhados pálios de cetim?

Disperso… E a hora como um leque fecha-se…
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar…
O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se…

E, abrindo as asas sobre Renovar,
A erma sombra do voo começado
Pestaneja no campo abandonado…

22 março 2010

a Ele

ó Tu
Rio sem fim
que percorre o universo...
quatro letras de arcanos
tem o Teu nome no eterno...
os Teus coros de anjos
elevam-nos em luz e sombra
às alturas do céu da alma...
Tu nos consolas na dor
e na calma...
Tua mão de Pai
engendrou a música das esferas
criou mundo e sonhos
astros e quimeras...
Teu espírito paira
pelo espaço pela noite pelo mar
Teu coração
nos ensinou a amar...

Dirão que Tu és DEUS...
Mas Tu és BACH.

(Poema em homenagem aos 325 anos de Johann Sebastian Bach, comemorado ontem, dia 21/03/2010. Lembro aos leitores que Bach significa "rio" em alemão.)

21 março 2010

Agradecimento

Esta postagem é extremamente simples: venho deixar meus sinceros agradecimentos a todos os amigos que estiveram presentes no lançamento de meu livro Poemas do Fim e do Princípio. Espero ter correspondido às suas expectativas. E espero que a obra não decepcione aos que a adquiriram.

Agradeço em especial ao Giovani Pasini, por seu imprescindível auxílio na organização do evento; à profª Rosane Vontobel, por sua perfeita análise da obra; à Janice Trombini, por sua competente assistência no protocolo; ao Luiz Paulo Milani, pela ajuda na distribuição do material; à Liziane Serafini, pela excelente atuação como fotógrafa.

Todos os que estiveram presentes, e os que não puderam comparecer por motivo de forças maiores, merecem meus mais profundos agradecimentos. No ano que vem, pretendo lançar meu 3º livro, e conto com todos vocês novamente.

19 março 2010

Poemas do Término e Contos do Fim nº 38 em Versão Digital e Gratuita


A edição 38 do zine literário Poemas do Término e Contos do Fim será lançada amanhã, dia 20/03, juntamente com meu livro Poemas do Fim e do Princípio. Incluirá o conto "A Lenta Morte da Bela Mulher" e mais 3 poemas que não estarão no livro.

O zine 38 virá com uma importante inovação: será distribuído também digitalmente, gratuito como a versão impressa. Para recebê-lo, basta que o leitor me passe seu e-mail, que então ele será enviado.

Em Santiago, os pontos de distribuição da versão impressa são os seguintes: locadoras Fox, Classic e Stop, biblioteca pública, biblioteca da Uri, Ponto Cópias e Livraria Santiago. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, mediante o pagamento das despesas de correio.

Agradeço a colaboração dos seguintes amigos na distribuição do zine em outras cidades: Liziane Serafini (Santa Cruz do Sul/RS), Luana Serafini (Santa Maria/RS), Alberto Ritter (Porto Alegre/RS), Gracieli Persich (Santo Ângelo/RS), Louise Wagner (São Leopoldo/RS), Marcus Vinícius Manzoni (Frederico Westphalen/RS), Lilene Leverdi (São Gonçalo/RJ), Héder Duarte (São Gonçalo/RJ), Agnes Mirra (Goiana/PE) e Paulo Soriano (Salvador/BA). Agradeço também ao amigo Guilhermes Damian pelo excelente trabalho de design do zine.

18 março 2010

ARCAHDIA

O site Arcahdia, dedicado aos novos escritores brasileiros de literatura fantástica, criou uma página para divulgação de minhas obras. Para acessá-la:
http://arcahdia.webnode.com.br/alessandro-reiffer

Poemas do Fim e do Princípio


Venho informar (e convidar) aos amigos leitores do blog que neste sábado, dia 20 de março de 2010, às 20h, no Centro Cultural de Santiago, será lançado meu 2º livro, Poemas do Fim e do Princípio.

Como já mencionei aqui no blog, meu livro conta com 245 poemas em quase 250 páginas e já está disponível nas versões impressa e digital no site da editora Livros Ilimitados, que publicou o livro. Acima desta postagem, logo abaixo do cabeçalho do blog, está o link do site da editora, onde o leitor pode acessar os livros.

Poemas do Fim e do Princípio foi composto ao longo de 5 anos. Durante este período, compus mais de 500 poemas. Porém, nem todos considero publicáveis em livro. Outros seriam publicáveis, mas fugiriam um pouco da temática e objetivo da obra. E ainda, vários dos poemas incluídos no livro foram revisados e sofreram alterações. Então, os 245 poemas que publiquei vieram de uma seleção que realizei considerando qualidade e temática. Meu objetivo foi construir um livro onde estivesse o melhor de mim durante estes últimos 5 anos (lembrando que os 5 anos a que me refiro vão até final de 2009) sem perder a coerência de temática. Espero ter alcançado tal objetivo.

16 março 2010

Que as Leve...

dentro em mim
há levas de palavras em lavas
larvas de palavras não-livres
livros não lavrados mal lidos
lendas em velórios levadas

dentro em mim há tanto
que não é nada...
as minhas palavras
largarei letra a letra
deixarei que escorram bem lentas
como os pingos derretidos da vela
como o grão a grão da areia
que desmorona da catedral condenada
como as folhas mortas que caem
da floresta ensopada em napalm
como o gota a gota ainda quente
da garganta do carneiro carneado...

quem quer saber da luz que digo?
o que em mim de belo canta
eu levarei comigo...

e as minhas palavras de sombra
deixo que o Ocaso as entregue
e o Fim as carregue...

15 março 2010

Fernando Pessoa e Seus Passos da Cruz X


Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 11º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "Campo de Trigo Sob o Céu Nublado" de Van Gogh.


Passos da Cruz - Soneto X

Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida. Através de nevoeiros,
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e através estranhos ritos

De sombra e luz ocasional, e gritos
Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito…

Caiu chuva em passados que fui eu.
Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma coisa de alma do que é meu.

Narrei-me à sombra e não me achei sentido.
Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido…

13 março 2010

Confissão

confesso-me que não-ser:
não fui-me.
admito que bebi demais
bebi a própria sede de beber
e assim explodiu-me o vinho
e quando a sede me confessava imensa
me foi negada a água
e quando a água se admitia a mim
me foi secada a boca

confesso-me que me fim:
não fiz-te.
pedir o vinho é vir vinagre
que Deus dá água
a quem não tem sede
e vida a quem não tem sangue
que o sangue é a alma
e admito que me sangrei
porque minha alma era demais
e quanto mais sangrava meu ser
mais sangue se sede em mim

confesso-me que não sou-te:
não... nada.
admito a sede
admito o vinho
admito o sangue.
foi-me o sonho sa(n)grado...

Eu me declaro culpado.

12 março 2010

Quando?

quando à manhã de céu azul
cruzará aquela ave sombria,
se eu trago uma vela no escuro?
eu escrevo com o que procuro...

se eu pudesse sonhar, dormiria.

quando incensarão pela tarde
as tulipas que eu te colhia,
se eu trago uma espada no braço?
eu escrevo com o que não abraço...

se eu te pudesse mirar, pintaria.

quando aos fluidos deste ocaso
encherei esta taça vazia,
se eu trago uma brasa na testa?
eu escrevo com o que me resta...

se eu te pudesse falar, cantaria.

quando virão na minha noite
sonatas da morte do dia,
se um beijo nos lábios sustenho?
eu escrevo com o que não tenho...

se eu te pudesse viver, morreria.

E-mail enviado ao amigo Júlio Prates, sobre o anonimato na blogosfera

Prezado Júlio:

Obviamente, não tenho, nem de longe, o conhecimento e a experiência que tu deves ter nas áreas do Direito e do Jornalismo. Não tenho e não pretendo ter, visto que não é o meu chão. Busco me aprofundar nas áreas de meu ofício, de minha vocação. Portanto, não possuo o embasamento necessário para debater contigo tais assuntos. E nem pretendo debater, eu apenas deixei a minha visão sobre a função de um blog. Creio que uma de suas funções é permitir esse debate de ideias, essa interatividade, e a permissão aos comentários acredito ser algo fundamental nesse sentido. Quando disse que julgo o ato de impedir os comentários como algo antidemocrático, não quis dizer que tu estás sendo deliberadamente antidemocrático, não foi uma acusação, essa é apenas a impressão que um blog onde não é possível comentar me transmite. Mas entre impressão e realidade, pode haver uma grande diferença. Certamente, tu tens teus motivos para torná-lo assim, não compete a mim julgar.

Os blogs que conheço todos eles permitem os comentários. Alguns permitem comentários anônimos, outros não, mas permitem comentários. O teu blog é o único que conheço onde eles não são permitidos, certamente deve haver outros, mas desconheço. Não te condeno por isso, quem sou eu para fazê-lo? Cada um sabe de seus motivos, e creio que os teus são perfeitamente justos e compreensíveis. Sem dúvida, entre o meu e o teu blog há uma grande diferença de temáticas, e os assuntos que abordas, o objetivo de teu blog, são bem mais suscetíveis a ataques e a reações pessoais do que meu. Por isso, talvez, no teu caso, impedir os comentários tenha sido a decisão mais acertada, mas, sinceramente, não sei até que ponto. Já o meu blog não tem intenções jornalísticas ou políticas. É um blog direcionado à arte, mas, como a arte é muito ampla, permito-me discorrer, vez que outra, de forma crítica sobre os assuntos que a amplitude da arte me proporciona, como os ligados a questões culturais, que, por sua vez, estão relacionados com assuntos políticos. E a interatividade do leitor através dos comentários faz parte de tudo isso, parece-me algo da própria essência do blog, algo natural, não vejo por que impedi-la, no meu caso.

Até porque, impedir o anonimato na internet, ou na sociedade em geral, é impossível. Se a lei diz que o anonimato é vedado, ela está sendo contraditória. Aliás, a lei é muito contraditória e nem sempre está correta. O anonimato sempre existiu e sempre vai existir, é uma forma de expressão do ser humano. Pode-se enviar um e-mail anônimo. Uma carta anônima. Existe a denúncia anônima amparada por lei. Uma pessoa honesta pode muito bem vir a ser investigada por uma denúncia anônima caluniosa. O voto é anônimo.Se não fosse, seria correto? É correto o voto anônimo dos deputados? Eu não acho, mas a lei permite. Por quê? Quantos poetas e escritores escreveram sob pseudônimos que durante muito tempo mantiveram-se secretos? Isso é crime? O crime é o que diz a lei ou o crime é o que diz nosso bom senso? Nem sempre a lei é sensata. Muito pelo contrário, a lei protege, muitas vezes, certos interesses de poucos. É claro que tu deves saber disso melhor do que eu. Eu, particularmente, não gosto do anonimato. Mas entre não gostar e julgá-lo como um crime, são outros quinhentos. O anonimato pode ser usado para o crime, mas em si, ele não é um crime. Assim como a internet não é um crime, o orkut não é um crime, mas podem ser usados para o crime. Não importa o que diga a lei. A minha consciência diz a mim que o anonimato não é um crime. Assim como ela me diz que não é crime um pobre roubar um pão por fome. Mas a lei diz que é. O voto, para mim, não precisaria ser anônimo. Eu faria questão de dizer a todos em quem votei. Mas por que o voto anônimo não é crime? Não é para proteger o indivíduo? Pois é isso, o anonimato é uma forma de proteção. E pode ser também uma forma de crime. Assim como a lei, também, pode ser criminosa. Contra o anonimato ofensivo ou calunioso, é perfeitamente justo que a lei haja. Mas não se pode julgar todo anonimato como um crime porque alguns o utilizam para isso. Essa é a minha visão, contra a qual qualquer um pode se manifestar e argumentar.

Estou ciente que devo me responsabilizar pelos comentários que estão em meu blog. Assim como me responsabilizo pelo que escrevo. Eu, como artista, sou a favor da expressão absolutamente livre do ser humano. Mas claro que aquele que se expressa deve estar ciente das consequências dessa expressão. Disse certo escritor que agora não me recordo: "Ninguém escreve impunemente". O escritor deve aceitar aqueles que se posicionam contra ele, seja aberta ou anonimamente. Isso faz parte. Obrigado, Júlio, pela oportunidade deste diálogo.

11 março 2010

Hieronymus Bosch - O Profeta


A capa de meu livro “Poemas do Fim e do Princípio”, a ser lançado no próximo dia 20, apresentará uma pintura de Hieronymus Bosch, “A Tentação de Santo Antônio”. Bosch é um dos mais geniais pintores de todos os tempos. É justo que eu fale um pouco desse mestre de quem sou um grande admirador.

Não se sabe bem ao certo a data de nascimento de Bosch, porém acredita-se que foi por volta de 1450, em Hertogenbosch, na Holanda. Seu sobrenome, Bosch, vem do nome de sua cidade. Mas não falarei de sua vida, a qual é envolta em indecifráveis mistérios, assim como suas obras. Mas falarei um pouco destas últimas.

Os quadros de Bosch apresentam três temáticas básicas: crítica social grotesca, inspiração ocultista/mística e devaneios fantásticos. Tais temáticas podem estar todas englobadas em uma mesma obra, ou serem tratadas separadamente. E foi na exploração desses temas que Bosch atingiu um alcance de visão artística raras vezes presenciado. Podemos ver em seus quadros uma visão pessimista, caótica e absurda da humanidade, demonstrando um profundo conhecimento da alma humana, de suas sombras, de seus medos, de suas fraquezas, de seus defeitos e desejos, de suas obsessões, de suas insanidades, do seu destino, dos enigmas de seu inconsciente coletivo.

Suas visões povoadas de monstros aberradores, de demônios semi-humanos, de homens e mulheres perversos e/ou enlouquecidos, submergidos em um universo de sombras e caos são intensamente simbólicas. Podemos perceber alusões altamente enigmáticas ao ocultismo (do qual era profundo conhecedor), críticas ao catolicismo, na forma de padres sendo retratados como diabos, tarados sexuais, seres humanos corruptos e decadentes, transformados em animais, ou animais transformados em seres humanos, toda uma multidão de seres depravados, medíocres, imbecilizados, totalmente bestializados, jogados em infernos de tormentos que causaram a si mesmos. Bosch pintou a miséria humana, o homem mergulhado em sua mediocridade, enquanto o mistério do cosmo o cercava, dominava-o, influenciando-o secretamente e rindo de sua ignorância. Tal análise impiedosa da humanidade ergue-se como algo universal, válido para todas as épocas e todos os lugares. E muito mais agora, em que vemos uma humanidade cada vez mais idiotizada e mecânica, desprovida de sensibilidade e alheia às questões de maior transcendência. Os homens tornam-se os monstros de Bosch, e o mundo agonizante dos homens torna-se os infernos tão horripilantemente expressos em suas pinturas.

E essa arte apocalíptica e visionária serviu de inspiração para, 400 anos depois, alguns artistas criarem o surrealismo e o expressionismo. Tais artistas consideravam Bosch como o seu mestre e precursor. Ou seja, Bosch antecipou-se na arte em 400 anos. Vejam bem, meus amigos, antecipou-se em 400 anos! De onde foi que obteve tanta imaginação? O misterioso e introspectivo Hieronymus Bosch, que teve inúmeros de seus quadros de transcendência e transfiguração queimados pelos católicos por julgarem que eram pinturas demoníacas, conseguiu adentrar no mais oculto da alma humana e expressar, lá na Idade Média, o que hoje vivenciamos no século XXI.

(na imagem, o quadro “Inferno”, o qual é o lado esquerdo do tríptico “O Jardim das Delícias”, de Hieronymus Bosch - clique sobre a imagem, para vê-la ampliada)

09 março 2010

O Poema Mais Puro

eu queria fazer o poema mais puro
como as sublimes águas
que celestam musicais
como os perfumes lagos
que profundam nos florais
e soprar verso luz
a tudo de claro que existe...

mas pensei em desistir
ao perceber que o verso meu
seria sempre triste...

mas também há pureza na melancolia
como os sublimes olhos
que lacrimam pelos rios
como os concertos anjos
que sentençam por sombrios
e soprar verso alma
ao que se voa pelo amor...

mas pensei em desistir
ao perceber que o verso meu
teria sempre dor...

mas também há pureza pelo sofrimento
como o sublime mártir
que se noite na verdade
como o transcendo gênio
que na arte sempre há-de
e soprar verso cruz
ao que se eleva em sacrifício...

mas pensei e... e desisti
ao perceber que o verso meu
teria sempre eu.

08 março 2010

Homenagem à Mulher


Hoje, Dia Internacional da Mulher, devo deixar a elas minha humilde homenagem. Deixo, então, o soneto de minha autoria abaixo, que está em meu livro "Poemas do Fim e do Princípio". Que cada um tire sua própria conclusão.

Soneto a Ela

E paira alta grandeza sobre as nuvens
e pesa mau destino sobre os homens.
Em negro mundo os anos se consomem
e mais clara em tua alma tu nos surges...

Caem raios das horas que refulges,
como sonhos de morte que em mim somem
como fins teus ocultos que há em Beethoven
como sombra em ti fêmea viva em luzes...

Tua voz nas tormentas que há nos céus,
teu olhar cataclísmico nos vela
nos sinais do Infinito dos teus véus...

E por ser Una, arcanamente bela,
alguém dirá talvez que vós sois Deus,
mas canto que vós sois no Eterno Ela...

(na imagem, o quadro "Flor ao vento" de Waterhouse)

Os Bugios Resistem


Passei este fim de semana na fazenda de meu tio, na região do rio Itacurubi. Estive lá harmonizando-me na imensidão dos campos, na profundidade das matas, na magia das águas, na pureza dos ares. De modo que retornei revitalizado.

Fora isso, o que também me deixou muito feliz foi constatar que os bugios estão lá, ainda, apesar da febre amarela que assolou o RS ano passado. Talvez agora não haja tantos bugios como havia até o verão de 2009. Mas ainda há várias famílias por lá. Apesar de não poder fotografá-los desta vez, como o fiz ano passado, fiquei satisfeito em ouvir os seus roncos magníficos, que já é um símbolo de nossas terras

Agora pergunto: os gaúchos que "amam sua terra" vão acabar com mais esse símbolo? Sim, por que os bugios no RS não morreram só de febre amarela. Muitos deles foram mortos envenenados por agrotóxicos (e ainda o são) e outros foram assasinados por perversos ignorantes que não sabem que o bugio não transmite a febre amarela ao homem, é o mosquito que transmite. Os bugios também são vítimas dos mosquitos. E ainda servem como um espécie de "termômetro" para sabermos se os mosquitos de determinda região estão contaminados ou não com o vírus da febre amarela. Quando um bugio morre pela doença, está dado o alrme. Se não há bugios, o alarme só será dado quando humanos adoecerem.

E mais uma coisa: o haemagogus, mosquito selvagem transmissor da febre amarela, não gosta de picar próximo ao solo, pois acha o ambiente muito úmido e escuro, o haemagogus prefere picar nas copas das árvores, onde é mais claro e seco. Por isso, os macacos são suas principais vítimas, lembrando que esse mosquito se alimenta predominantemente do sangue dos primitas. Porém, quando não há macacos, o haemagogus vê-se obrigado a descer ao chão para se alimentar. E então, pica o homem. Por isso, matar os bugios, ou qualquer outro macaco, além de ser uma maldade imperdoável, é de uma ignorância vergonhosa.

Na foto, uma família de bugios. O observador atento poderá constatar que ali há 5 bugios. Pai, mãe e 3 filhotes.

06 março 2010

Nem Tu És o que És

verás que o ser de tudo que é
não é aquilo que demonstra ser,
o ser das coisas
não é o que elas são...

vê mais fundo
no alto fundo que não se olha
e verás que por trás do todo
há um outro outro além de tudo...

o que se mostra
não é o que está ali,
ninguém vê o que olha:
o que está ali
não pode ser tido como estado...

o que sabes não é o que conheces,
o tudo que pensas saber
é aquilo que há em ti
mas não em teu ser,
o que há em teu ser
talvez agora esteja longe
e esse longe talvez seja o real...

há sempre outro verso
em tudo que é reverso:
verás que quanto mais com a luz
universares pelo escuro
mais começo e fim
verás em faces a existirem...

nem tu és o que és:
teu eu não é teu ser,
talvez teu eu agora seja noutro abismo,
como um sismo,
talvez teu ser então te chame mais acima,
noutra rima...

05 março 2010

Fernando Pessoa e seus Passos da Cruz IX


Continuo postando os sonetos de Passos da Cruz de Fernando Pessoa, conforme explicado na seguinte postagem: http://artedofim.blogspot.com/2009/12/fernando-pessoa-o-predestinado-passos.html . Na próxima semana, o 10º passo. Na imagem que acompanha o poema, o quadro "O Naufrágio" de William Turner.

Passos da Cruz - Soneto IX

Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.

Um soslaio de sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido…

E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,

Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando…

04 março 2010

Poema Amargo



...nada
é o tudo que o Todo nos dá
quando a garganta é ao máximo erguida
e a esperança é ao extremo elevada

por mais que tua vida
esteja já arquitetada
verás como o sonho se torna caduco
e como a grave promessa da sorte
conta em deboche
sua sarcástica piada...

como a lua pela noite encarnada
a desilusão será sempre a amante
do sol frágil que te ilumina na estrada...

e terás, por fim, que fazeres uma sopa
com as letras já duras e secas
da felicidade
imagi...
nada...