09 abril 2009

Motivo

meu sonho
seria cantar o não-cantável
não-vistas visões-mistério
de Dante Alighieri

seria vibrar o arquetípico
vitória sublime e trágica
de Ludwig Van Beethoven

seria voar além da altura
asas de titão e águia
de Wolfgang Von Goethe

seria fitar a luz-sentença
astrais anjos-demônios
de Leonardo da Vinci

seria viver em Deus e sombra
espirituais noites e sóis
de Sebastian Bach

seria ver o ser da alma
labirintos de verdade e dor
de Fernando Pessoa

seria sentir o peito em chamas
ânsias de amor e força
de Johannes Brahms

queria cantar tudo
que realmente importa a mim
e por isso
não sendo Eles
eu canto o Fim.

07 abril 2009

As Almas do Fantástico na História do RS - História 5ª: O Final Súbito


Durante a Revolução Farroupilha, no ano de 1839, as tropas federalistas assassinaram três indígenas que cruzavam por um local de vastas coxilhas, numa região próxima ao rio Ibicuí. Os índios assassinados eram músicos, dos melhores da época entre os povos indígenas do sul. Haviam aprendido a tocar seus instrumentos, violino, flauta e violão, nas missões jesuíticas instaladas em solo gaúcho. Os corpos dos índios, que foram covardemente baleados por dois cavaleiros que treinavam suas pontarias, permaneceram sobre a coxilha em que tombaram. Ali apodreceram e serviram de repasto aos urubus. No momento em que foram mortos, não portavam seus instrumentos musicais, apenas alguns punhais que foram levados pelos militares.

Em 1886, por volta das 5h da tarde, o tropeiro José Luiz da Costa conduzia o seu gado exatamente pela região onde morreram os três índios músicos. Ao aproximar-se da coxilha onde jazeram seus restos mortais, o tropeiro principiou a ouvir uma estranha música, cuja origem ele não soube identificar. Chegando a uma vila da região, José Luiz relatou o que ouviu ao padre Antônio Ferreira, o qual anotou sua descrição em um diário que chegou aos nossos dias. Abaixo, estão alguns trechos do relato do tropeiro José Luiz da Costa, conforme redigido pelo padre Ferreira:

“O senhor José Luiz da Costa, jovem tropeiro desta localidade, contou-me hoje que ouviu uma música muito estranha ao cruzar uma região de coxilhas próximas ao rio Ibicuí. Disse o senhor José que escutou um som como um concerto de três instrumentos, que ele identificou com certa dificuldade como sendo um violão, um violino e uma flauta. Tal música, segundo o tropeiro, parecia provir do nada, como que do ar, pois ele procurou exaustivamente pela origem do som, pelo local onde poderiam estar os supostos músicos, porém nada encontrou.”

“Disse-me ainda que a música era belíssima, ‘muito bonita e acalmava gente’, segunda suas próprias palavras, e de uma intensa alegria, algo que ele nunca havia ouvido antes. Mesmo achando muito estranho ouvir uma música que não podia saber de onde vinha e sentindo um certo receio, o senhor José Luiz afirmou, quando por mim questionado, que sentiu-se muito bem ao escutar o som dos instrumentos, algo como uma sensação de tranquilidade e alegria de viver. Completou dizendo que não sentiu nada de tristeza ou de qualquer outro tipo de sentimento grave. O tropeiro não acreditava que a música pudesse ser alguma forma de manifestação sobrenatural, até que mencionei sobre os três índios músicos mortos em 1839. Concluiu afirmando que a música não durou mais que 5 minutos e parou de repente.”

O relato do tropeiro José Luiz da Costa é o primeiro conhecido e documentado sobre a audição de estranhas músicas naquela região do pampa gaúcho. Após esse, vários outros habitantes da localidade relataram experiências bastante similares à vivenciada por José Luiz. No entanto, a grande maioria não foi documentada. Algumas ainda hoje são transmitidas oralmente pelas pessoas mais idosas. O que se percebe em praticamente todas as histórias é que a música sempre parecia provir do ar sobre as coxilhas, que era muito bem executada, e que o som parecia ser o dos mesmos instrumentos que eram tocados pelos índios mortos.

Porém, há um ponto discordante nas várias narrativas. Refere-se ao sentimento, às sensações que a música deixava em seus estarrecidos ouvintes. Nas narrativas mais antigas, algumas do final do século XIX e outras do começo do XX, o sentimento despertado pela música é bastante similar aos descritos pelo tropeiro José Luiz: uma profunda alegria, uma luminosa tranquilidade. Porém, os relatos mais recentes, situados por volta dos anos 1940 até os 1980, descrevem uma música bem menos alegre e serena, porém transmitindo certa melancolia, uma bela e vaga tristeza, que causava alguma inquietação nos corações de quem a escutava. No entanto, em nenhuma das narrativas, seus ouvintes declararam ter se sentido mal ou desconfortáveis, pelo contrário. O que também é perceptível nesses relatos mais recentes é que, conforme mais atuais eles são, maior é a descrição dos sentimentos melancólicos irradiados pela música. O último ponto em comum entre todos os relatos é que os instrumentos invisíveis sempre cessavam de soar de forma súbita, deixando nos ouvintes uma duradoura e intensa sensação, a qual sempre era comentada com alguma espécie de receio ou inquietação não explicável.

Entre os raros relatos escritos sobre o caso, há um de 1968 deixado por Maurício Crestani Borges, onde ficam claras as diferenças de sentimentos despertados pela música, quando comparado com o relato de 1886. A descrição realizada por Maurício Borges é bastante precisa e bem elaborada, uma vez que o mesmo era escrivão da polícia civil na cidade de Porto Alegre. Maurício realizava uma pescaria no rio Ibicuí, quando foi surpreendido pelas misteriosas melodias. A seguir, os trechos mais importantes do relato do escrivão:

“Aquela música surgiu de repente, como que do nada, e deixou-me um tanto perplexo. Já havia escutado comentários sobre supostas músicas fantasmais que de tempos em tempos eram ouvidas naquela região do vale do Ibicuí. No entanto, nunca dera real atenção aos boatos. E não é que acabei sendo umas das testemunhas! Por volta das 18h, quando dava uma caminhada pelo campo, ouvi o som de um violão. Olhei atentamente ao meu redor, não vi nada, apenas um céu azul bordado de nuvens, infindas coxilhas que se perdiam no horizonte e, pelo outro lado, uma bela mata verdejante.”

“Segundos após o som do violão, surgiram melodias de flauta (creio que era uma flauta, talvez um clarinete) e violino, todas belíssimas, maravilhosamente executadas. Nesse instante, lembrei-me com certo medo, das narrativas sobre a música fantasmagórica. Procurei pela mata até cansar, subi e desci coxilhas, mas realmente não havia ninguém nas imediações.”

“As melodias permaneceram constantes e intensas por cerca de 5 minutos, ao que cessaram subitamente e de forma muito estranha. A música transmitiu-me uma sensação de dilacerante tristeza, ainda que fosse muito bela. Tocavam o coração de uma maneira esquisita e pungente, e eu teria ido às lágrimas, não estivesse um tanto assustado e confuso. Posso dizer que me sentia bem ouvindo aquelas melodias, porém uma sensação de profunda dor e inquietação espiritual tomou conta de mim após o final inesperado e abrupto que ainda não consigo esquecer e muito menos expressar...”

Esse é o relato do escrivão Maurício Borges. E agora, para finalizar, deixarei o meu relato. Sim, eu estive no local, com a precisa intenção de ouvir os músicos invisíveis. Acampei em agosto de 2008 na região de onde se originaram as narrativas. Vaguei pelas coxilhas supostamente assombradas durante as manhãs, tardes e as noites de quase toda uma semana, até que no princípio da noite do 6º dia de meu acampamento, uma desolada melodia de flauta iniciou a entristecer meus ouvidos.

Em seguida, surgiram as notas lúgubres de um violão desesperado, que foram imediatamente repetidas em cânone, de forma trágica, pela beleza mórbida de um violino. Sentei-me sobre o campo e mergulhei extasiado naquela música de sofrimento indizível. Uma sensação de sangue sendo derramado e um clima absolutamente sombrio de ocaso iminente tornaram-se quase que palpáveis pelos ares densos da noite que iniciava.

Os músicos invisíveis foram intensificando a força de execução, e a música, em um furiosíssimo crescendo, assumiu uma velocidade frenética e sublimemente desesperada. Aquele som enfebrecido encerrou-se de uma forma anômala, canhestramente súbita, deixando uma sensação arrepiante, catastrófica, apocalíptica. Eu estava sentado sobre as coxilhas do pampa. Insano. Chorei.

06 abril 2009

Dor-me

dor mir...
esquecer-me da dor
nos mares mornos da morte
recordar-me de mim
nos dentes-deleite que mordem
que martelam de sonos
nos confins de astros de marte
de amarte
nas asas de um corvo-condor
minha alma de amar amarguras
em mar de noites procura
as chaves dos olhos de lua
que dormem em teu rosto que sonha...
...dor em a dor-me ser
que tu dormes
na minha tristeza de cosmos
e os que pensam
dirão que sou-me insensato
e os que agem
dirão que fujo do mundo
mas eu só
sonho
no que me deixas
Sonho
em que me beijas

03 abril 2009

Ir...

e se esvai
veloz
sai
das minhas veias
como vinho
que se vai
velho
pelas mãos
vaso
vazio
derrubado
várias vezes
várias vozes
que me vieram
e se foram
vãs
do meu lado
vinho
mal sangrado
que tu vinhas
às minhas veias
e não vieste
e eu me venho
não te vi
viva
e me vou
vendo
vazo
derramado

02 abril 2009

Schiller e Beethoven: a Força do Romantismo


Em 1782, aconteceu, na Alemanha, a primeira apresentação da genial obra teatral "Os Ladrões", do poeta e dramaturgo alemão Friedrich Von Schiller, um dos pioneiros do Romantismo na literatura. Era então o início do movimento romântico, no auge do "Sturm und Drang" (Tempestade e Ímpeto), e a obra de Schiller surgiu com força titânica ao servir de bandeira contra as injustiças sociais, contra o massacre da liberdade e erguendo o homem com todos os seus sonhos e ideais


O herói da obra, Karl Moor, torna-se líder de um bando de ladrões para lutar contra as injustiças que havia sofrido na sociedade. O fato de Karl não conseguir converter em realidade seus altos anseios e ideais não diminui a força do retrato de Schiller, a imagem emblemática de um único homem lutando para mudar o mundo. O ímpeto, a fúria e o desespero dessa obra revolucionária ficaram profundamente gravados na mente e no coração de seus expectadores.


Este trecho da resenha da primeira apresentação de "Os Ladrões", citada por Lewis Lockwood, deixa bem claro toda a força e impacto da obra:


"O teatro parecia um hospício - olhos esbugalhados, punhos fechados, gritos roucos no auditório. Pessoas se jogavam nos braços de desconhecidos, soluçando, mulheres a ponto de desmaiar se apressavam para a saída. Houve uma comoção universal, como num caos do qual irrompesse uma nova criação."


Anos mais tarde, em 1808, Beethoven, o gênio precursor do Romantismo na música, estreava a sua Quinta Sinfonia, a do Destino, impregnada do mais intenso e devastador espírito romântico. Esse hino à liberdade cheio de fúria e grandeza, trágico e vitorioso, causou em seu público o mesmo choque avassalador que a apresentação de "Os Ladrões", algo como um despertar da consciência.


A força do Romantismo irrompia como uma tempestade naqueles tempos. Na alma de alguns poucos homens, ela ainda continua...

(na imagem acima, Friedrich Schiller)


31 março 2009

Poema Agradável Para Vencer Concursos Literários

Eu sou feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá positivo)

Tu és feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá certinho)

Ele é feliz.
blá blá blá
blá blá blá...
(blá blá blá saudável)

Então
unamos nossos blablablás
para construirmos de mãos dadas
um mar de rosas
de felicidades
mascaradas.

28 março 2009

Meus Pêsames

ser o filho último
da Tragédia e do Crepúsculo
no leito de fins do cosmos
e ver as pombas me golfando sangue
por um surdo céu de gritos longes
lá no extremo de uma dança insana
onde meus olhos te serpeiam em sol
e caem velhos em teu poço frio
e ver-se em vinho afogar-se estrelas
e não tocar aquela luz que sinto
numa tormenta que me cega o cheiro
quando o amor me caiu nas costas
e derrubou-me pela lama rubra
e não voltar meu rosto a quem me derruba
ver voarem águias na montanha em chamas
e na noite lenta que me corre os sonhos
olhar a um anjo que me dá adeus
sem jamais tocar naquela mão que acena
e ver a verdade sorrir...

mas louco
sem poder vivê-la
me fecho os olhos...
dormir

27 março 2009

Da Genialidade de Poe (Outra Pequena Homenagem aos seus 200 Anos)


A seguir, dois fatos pouco conhecidos sobre Edgar Allan Poe, que demonstram, porém, o alcance de sua genialidade:

1º - Em 1842, em Nova York, ocorreu o assassinato de Mary Cecilie Rogers. Tal crime permaneceu sem solução até novembro do mesmo ano, quando Poe escreveu o conto “O Mistério de Marie Roget”. Nesta obra, o autor, sob o pretexto de relatar a sorte de uma parisiense, seguiu em todas as minúcias os fatos essências do assassinato real de Mary Rogers, enquanto acompanhava os não essenciais. Ou seja, na verdade, Poe tratou em seu conto de tentar solucionar o mistério do crime, o que a polícia não havia feito até então. Escrevendo, pois, uma obra aparentemente fictícia, Poe, distante do cenário do crime e apenas acompanhado o desenrolar dos fatos pelos jornais, reuniu todas as informações possíveis sobre o assassínio. Utilizando-se de sua mente e de sua imaginação fenomenais, de sua espantosa capacidade dedutiva, chegou sozinho à solução do mistério. Mais tarde, foi comprovado que a conclusão geral de Poe sobre quem seria o assassino de Mary Rogers estava corretíssima. E não só isso: absolutamente todos os principais pormenores hipotéticos por meios dos quais foi essa conclusão obtida também foram desenvolvidos de forma integralmente correta.

Impressiona enormemente que Poe tenha chegado sozinho à solução de um crime, muito antes da polícia, e distante do cenário do assassinato. Não é à toa que foi ele o criador do gênero policial na literatura. Se não fosse um gênio da arte, Poe seria um genial detetive.

2º - Poe escreveu um ensaio que une um caráter científico, filosófico, metafísico e poético intitulado “Eureka (Ensaio sobre o Universo Material e Espiritual). Nessa extensa obra, de profunda e densa beleza artística, Poe, entre outros assuntos, transmite-nos a sua visão da origem do universo. Porém, o que mais nos surpreende é que nesse ensaio, escrito durante a primeira metade do século XIX, Poe antecipa-se em mais de um século às teorias científicas do século XX sobre o universo e sua origem. Em “Eureka”, o gênio nos passa a visão de que o universo se originou de um único todo informado, um átomo inicial, como afirma a teoria do “Big Bang”. Poe ainda escreve que, ao fim, tudo o que foi formado no universo voltará ao seu seio inicial, ao “átomo” primordial.

Esses são apenas alguns exemplos da obra de um dos maiores gênios da história da humanidade: Edgar Allan Poe.

25 março 2009

Esquecimento...

um passo de luz pela mata
cegando meu sonho em tormento –

esquecimento esquecimento –

de tudo o que não me lembrei

um astro de som pela noite
esmagando o meu pensamento –

esquecimento... esquecimento –

de tudo o que um dia esperei

um vago sinal destas artes
lá acima de meu sentimento –

esquecimento... ah esquecimento –

de tudo que em mim eu guardei

um sopro de sol dos teus olhos
em lábios de falecimento –

esquecimento... oh Esquecimento!

do que jamais esquecerei..

23 março 2009

Sem Saída

al-cansei-me:
voou anoitecer-me na luz
no reterno do tempo
horando...
anoitecer-me
à minha-noite

em quanto
a humanidade
ao sol se esquenta:
tomara
que venha
uma Tormenta

22 março 2009

Manifesto contra a Tirania

A Liberdade está acima de tudo. Todos os grandes artistas lutaram incansavelmente pelo liberdade em todos os sentidos. O direito à liberdade individual deve ser sempre a maior bandeira do artista, desde que essa liberdade respeite a liberdade dos outros indivíduos. Agora, que a liberdade de expressão é um dos assuntos em voga em nossa cidade, decidi republicar o texto abaixo, que aborda exatamente a questão da Liberdade. Já me manifestei contra a tirania de Oracy Dornelles, que intenta impor suas regras e valores como as únicas corretas. E é muito estranho que tal senhor assim queira agir, uma vez que Beethoven, gênio que ele tanto admira, foi um dos mais ferrenhos adversários de todos os tipos de tirania. Certamente, desprezaria Oracy pelos seus atos.

O texto abaixo é como um grito pela liberdade em todos os sentidos um protesto contra todos aqueles que julgam que podem estabelecer suas regras como válidas para todos os indivíduos e que acreditam ter o poder de estabelecer o que é certo ou errado.

E Nunca Vou Por Ali...

Vocês sentaram em seus tronos de certeza vazia e de sabedoria inútil para tentar ditar-me as regras de como devo viver. Quem disse que vocês as conhecem? Onde estão as leis que garantem que as suas regras estão corretas? Onde estão as verdades que garantem o que é correto? As suas verdades são a Verdade? Vocês estão certos que chegaram até ela para preconizá-la para todo mundo em absoluta e arrogante segurança? A realidade é exatamente o que vocês vêem? Não há outras realidades, só a que vocês determinam como realidade? Mas que mania de querer convencer-me daquilo que vocês julgam que sabem!

Então quer dizer que vocês chegaram à verdade e eu não? Os caminhos de vocês são os corretos e os meus não? Quer dizer que eu preciso de intermediários para chegar à verdade, e os intermediários são vocês? Então eu devo entre dezenas, centenas de gênios que mortificaram suas vidas em busca do conhecimento escolher dentre eles uns 2 ou 3 como corretos e desprezar todos os outros? E, coincidentemente, esses 2 ou 3 gênios que devo escolher para seguir são os mesmos que vocês escolheram?

Então vocês intentaram com sua sabedoria resolver o mundo, salvar a humanidade, não fizeram nada disso, mas querem que eu acredite que vocês estão certos? Intentaram, com a limitação de seus conhecimentos, limitar o que é infinito, enquadrar tudo o que é misterioso dentro de seus miseráveis conceitos, emparedar o eterno dentro de suas diretrizes egoístas, intentaram podar todos os sonhos, massacrar todas as esperanças, reduzir a vida a um punhado de teorias mecânicas, e agora vêm com esses sorrisos estúpidos e hipócritas me dizer que eu devo segui-los?

O que foi que vocês fizeram com suas sabedorias? O que foi que construíram? Um mundo desesperado? Uma vida sem nenhum sentido? O conhecimento de vocês só serviu para deixar claro que todo o sentido da vida é o dinheiro ou tudo o que ele pode adquirir, isto é, tudo o que é material? Como vocês querem uma humanidade justa, equilibrada, harmoniosa, se vocês pregam que não há justiça, nem equilíbrio, nem harmonia nas existências universais?

Os frutos da sua sabedoria é esse mundo que aí está? Então o mais alto conhecimento é aquele que destrói o planeta? É aquele que aniquila as almas? É aquele que por pregar que a alma é uma ilusão julgou que poderia explorar até o esgotamento toda a vida natural? Combateram crenças fanáticas com outras crenças fanáticas? Tentaram destronar os que ditavam leis para sentar no trono deles e ditar as suas leis? Tentaram sair da escuridão com uma ciência que mergulhou o mundo em treva? A treva do Fim! Fizeram crer que as verdades dos gênios das artes não passam de ilusão e depois ainda vêm falar-me de arte? Querem que eu acredite que a arte é inútil? E a sua ciência materialista a salvação?

Vocês sentem o que eu sinto, vêem o que eu vejo, percebem o que eu percebo? Não? Então por que querem que eu sinta, veja e perceba como vocês? Quer dizer então que se eu tenho asas devo cortá-las porque vocês não as têm? Quer dizer que o que vocês não sabem mais ninguém pode saber? Que se vocês acreditarem que algo não existe, definitivamente esse algo não pode existir?

Na lógica de vocês, muito mais valeria a pena viver para satisfazer prazeres, um absoluto hedonismo, cujos únicos valores seriam o do dinheiro. É assim que vive a humanidade. Sim, para que fazer mais do que isso se tudo irá se perder no dia da morte? Não viver dessa forma seria uma incoerência na sua lógica. E depois ainda vêm me falar de contradições? Na lógica de vocês, a sabedoria não pode valer a pena. Se tudo é injusto, se a lei de ação e reação não age em nossas vidas, se tudo é por acaso, se nada tem um sentido, se a felicidade de uma pessoa é medida pelos bens físicos que adquiriu, pela saúde que teve, pela sua beleza física, pelos prazeres que viveu, para que sabedoria? Para depois de se abarrotar com ela, morrer e jogá-la fora, deixar que ela apodreça com nosso corpo?

Se é assim, não vale a pena buscá-la, e a pessoa de vida mais correta seria alguém como a Gisele Bündchen, ou como o Ronaldinho, ou como qualquer gângster por aí. Sim. Se nada tem sentido, a sabedoria teria muito menos. Sabedoria deve servir para se ensinar a amar. Se no universo não há leis, leis que valem para todas as vidas, se não há justiça, se não há equilíbrio, se não há sentido para as coisas, se tudo veio por acidente, então também não há amor. Se não há amor no universo, então para que amarmos entre nós? E se não se é possível amar, então não há motivos para a sabedoria.
Então, não me venham com as suas sabedorias. A sabedoria que busco é outra. É como disse José Régio:

"Vem por aqui"
- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...”

Águas do Fim*


águas em marcha
fúnebre
águas de março
seco
águas alvas
brancas
águas claras
de espuma: de ter gente
águas belas?
águas plásticas
chuvas ácidas
gotas trágicas

água da vida?
água da morte
dá medo
dá peste
e morre

a humanidade
e a água:
perdida
acabada.
e o que tu fazes?
fezes,
sem mágica...
e que água que resta?
a Lágrima.

*Poema ao Dia Mundial da Água: 22/03/2009

21 março 2009

O Hipócrita*

traz açúcar nos olhos
faz veneno com a alma

colhe flores com os dedos
chuta pedra com os pés

grande amigo nos lábios
vil demônio no peito

canta amor pelas ruas
rói rancor pelos cantos

aponta com a mão a verdade
carrega no bolso a mentira

enxerga o mal que há nos outros
e quebra o espelho em sua face

enfim
o hipócrita é a luz
do fogo-fátuo
da podridão

*poema publicado no jornal Zero Hora, na coluna Almanaque Gaúcho, em 19/03/2009

20 março 2009

Só a Lua...

a lua nasce para todos...
bem mais que o sol

que o sol não sonha
só a lua é sono
ao sim de sinos
sem sangue e susto
só luz e lábio
ser longe e langue
ao som de seres
sonata e lágrima
só a lua alenta
só o sono é santo
que a lua é lenda
por lagos longos
soneto e lobo
suspiro e sinto
sou louco e livro
me leva em lenta
só a lua é lava
e a língua é bela...

se a lua é livre
teu olhar é ela...

19 março 2009

Quem é Oracy Dornelles?

Há momentos em que falar é um delito. Há outros, em que o delito é calar. O poeta Oracy Dornelles mais uma vez afirma que não há bons poetas em Santiago. Ou seja, no seu julgamento somente ele é um bom poeta. Tem todo o direito de expor sua opinião. Se bem que suas opiniões são um tanto paradoxais. Há bem pouco tempo, para o Oracy havia, fora ele, somente um bom poeta em Santiago: o poeta Froilam de Oliveira. E sempre se derramava em elogios ao seu livro “Ponteiro de Palavras”. Curiosamente, de uns tempos para cá, por motivos que não me cabe analisar, voltou-se contra o Froilam e agora o considera um mau poeta. Eu pergunto: qual das duas opiniões de Oracy deve ser levada em conta, afinal? Será que suas opiniões têm mesmo algum valor, se são sempre levadas a cabo de acordo com seus interesses pessoais e não de acordo com um julgamento imparcial? Para mim, as opiniões de Oracy são como suas piadas: vazias. No entanto, jamais devemos ficar calados às tentativas da tirania.

Bem, mas eu também tenho o direito de expor a minha opinião. Eu sou o único santiaguense a afirmar sem medo que a poesia atual de Oracy se tornou aquilo que ele se propôs construir: uma piada. Antes de tudo, de que adiantou todo o estudo teórico que ele afirma ter efetuado, se foi para encerrar sua carreira escrevendo piadas com baixíssimo valor literário. Afinal, onde se fala em Oracy hoje em dia? Sinceramente, não vejo nos meios literários do Brasil qualquer alarde sobre sua obra. Somente se fala sobre seu ridículo e inútil circo de pulgas. Agora, somente porque ele vendeu três livros para o exterior, julga-se no direito de ditar o que é bom ou ruim? Convenhamos que para um poeta de quase 80 anos com 10 livros publicados e que se considera um fenômeno literário, ter três livros vendidos no exterior é muito pouco. Eu mesmo vendi alguns de meu livro de contos para Portugal e Uruguai. Só que eu tenho 31 anos. Além do mais, se procurarmos no Google, há 7.750 ocorrências para Alessandro Reiffer e 2.250 para Oracy Dornelles. Isso significa alguma coisa? Claro que não. O fato de eu possuir mais ocorrências no Google que ele não significa absolutamente nada. E muito menos significa alguma coisa ele ter vendido três livros para o exterior, comprados por colecionadores, que sempre adquirem qualquer bobagem. A verdade é que o Oracy como poeta, depois de escrever por 64 anos, mal ultrapassa as barreiras de Santiago.

Tal poeta crê que somente ele estuda poesia, literatura, arte em Santiago, ninguém mais, que só ele sabe o que pode ser feito ou não, crendo que todos os outros nunca ouviram falar em metrificação, por exemplo. Convido o Oracy para conhecer a literatura que é feita hoje pelo mundo, onde cada vez mais se despreza o poema-piada. Além do mais, ele fala como se o poema-piada fosse uma criação sua. Não só todos sabem que não é, como há centenas de poetas no Brasil que cultivam o estilo. Estilo esse cada vez mais caindo em descrédito, uma vez que é algo extremamente pobre em conteúdo, em sensações e em expressividade poética. Assim são os poemas-piada de Oracy. Impecáveis na técnica, vazios de conteúdo. Qualquer conhecedor de literatura e arte que não esteja condicionado pela mentalidade provinciana de Santiago reconhece tal fato imediatamente.

Isso sem falar nas suas caricaturas, as quais qualquer estudante de desenho faz melhor. Que o diga meu amigo PC. Suas micropinturas são outro exemplo de técnica apurada, porém sem nenhuma emoção ou profundidade. Suas esculturas estão absolutamente dentro da média. Há milhares de outros escultores melhores que ele no Brasil. O problema de Oracy Dornelles é que ele pôs na cabeça que é um gênio, e muitos em Santiago acreditaram. Fora daqui, ele cai ao seu verdadeiro valor. Tem talento para escrita, nada mais. Talento esse que ele vem desperdiçando com uma poesia ridícula que ele julga o suprassumo da literatura pós-moderna. Isso é, no mínimo, uma ignorância e uma vergonhosa mania de grandeza.

O que há de mais na poesia de Oracy? Na atual só há de menos, e na antiga, o que há são bons poemas dentro da média da produção brasileira da época. Poemas clássicos ou modernistas, mas absolutamente normais, não vejo realmente nada de fantástico ou fenomenal. O Oracy fala de outros poetas como se ele fosse mundialmente reconhecido como um dos maiores poetas da atualidade. Só ele e alguns santiaguenses ignorantes pensam assim. Onde está o reconhecimento da poesia de Oracy como sendo tudo isso que ele diz? Sinceramente, não vejo em parte alguma. Ah, ele espera ser reconhecido dentro de 50 anos? Ah, isso eu também espero. Vamos ver se alguém vai ser, não é mesmo? A diferença é que quando ele tinha 30 anos ele também devia pensar que seria reconhecido dentro de 50 anos. Lamento informar, senhor Oracy, mas já passaram 50 anos. Veremos então, poeta Oracy, se as suas piadas terão algum valor em 50 anos. Em 50 anos, o mundo não mais terá condições psicológicas de rir de uma piada, não haverá bom humor para suas brincadeiras literárias, que indignariam Beethoven, por exemplo, se ele soubesse que o senhor as classifica como arte. É melhor fazer montes de versos do que montes de piadas.

Na Noite... (Conto dedicado à Noite)


Finalmente anoitecera... Há muito que eu esperava que a noite caísse sobre a minha alma exausta. O odioso dia ocultava-se desesperado atrás do sangue dos horizontes enfermos. A noite descia lenta e agonicamente, e com ela meus sonhos eclodiam furiosos e tomavam conta de minha existência destituída de sorte. Infinitas vozes dos céus enegrecidos desciam em voos sobre os meus olhos. Uma alegria espiritual advinda dos meus sonhos em desespero invadia-me como um incêndio invade os campos da humanidade por onde eu perambulava minha solidão.

Não havia lua na escuridão fúnebre de um romantismo absurdo. Minhas pernas avançavam lentamente por entre campos vastos, arbustos imensos, árvores gigantes, flores que eu reconhecia pelos aromas de incensos densos e nervosos que me inebriavam. Insano, eu não sabia para onde iria. Sabia apenas que iria encontrá-la. E somente o silêncio aterrador, o mistério indecifrável, a morbidez sem freios, o desejo infinito e insatisfeito que se alastrava como o pio das corujas pela treva poderia me permitir que eu a encontrasse. Mesmo não sabendo quem ela era, eu saberia a encontrar...

Mais e mais eu me aprofundava na Noite. E a Noite se aprofundava em minha alma. E quanto mais eu anoitecia, mais eu era eu mesmo e sentia-me liberto de toda a sensatez da medíocre vida humana. Rumores do desconhecido e de seres inexistentes cruzavam-se pelos meus lábios, roçavam seus dedos pelos meus olhos e sussurravam canções sensualmente entristecidas nos meus ouvidos.

Eu não sabia para onde me dirigia. Não sabia em que lugar estava, embrenhava-me como um embriagado de sensações em conflito pelas matas sombrias, que de forma lenta, lugubremente lenta, surgiam e se expandiam diante de minha face perplexa que nada enxergava. Apenas sabia que iria encontrá-la por entre a Noite absoluta.

A Noite era a minha felicidade, pois a Noite descia e me afastava dos homens e de seus valores inúteis para mim. A Noite era a minha liberdade única. As canções inflamadas de uma febre sem destino nasciam de todos os cantos da escuridão. Falavam-me de sonhos e desejos cósmicos jamais conhecidos. Sentia um ruflar de asas sobre minha respiração estertorosa. Alguma coisa batia suas asas sobre mim e foi gradativamente se afastando, deixando uma impressão escarlate, como alguém que deixa um sentencioso aviso e parte.

Com esse aviso, senti sua aproximação. Ela estava próxima. Eu bendizia a Noite por permitir-me encontrá-la. Por afastar-me da revoltante vida humana sob a luz inútil do dia. Só na Noite eu poderia sonhar e amar e viver minha vida que não era a vida humana.

Uma sensação de crepúsculo assomou-me aos olhos, quando uma tênue luz de velas surgiu fantasmagórica por entre as densas árvores da mata onde penetrei inebriado de delírio. Foi então que pude distinguir que lá estava ela, envolvida por dezenas de velas rubras de onde resplandeciam, como fogos-fátuos, sublimes chamas azuis. Foi nessa luminosidade que a vi, em êxtase absoluto. Então soprou um vento morno e arrepiante que abriu todo o céu antes carregado com as tempestuosas nuvens. Uma lua cheia e brilhante como os olhos dela surgiu sendo rainha absoluta da escuridão. Estrelas imensas assomaram como por encanto nos céus agora límpidos. Era estranho e belo uma noite anomalamente iluminada por uma lua cheia e por estrelas anormais ao mesmo tempo.

Lenta e misteriosamente ela se aproximou de mim. Abraçou-me em incêndios, beijou-me em lavas vulcânicas e sussurrou-me aos ouvidos palavras ardentes, tais como estas:

- Dize teu adeus definitivo ao dia. Vem comigo e abraça o fogo da Noite, o único que te levará ao amor... O sol, a luz, o calor do dia sempre te farão mal. O dia é o trabalho, o movimento, a sensatez, a turbulência dos afazeres da inútil existência comum dos homens. O dia é tudo que é alegre e aberto, claro e correto, tudo o que é finito e transparente. A Noite é o oposto de tudo isso. Esquece a vida dos homens e dê-me tua mão pelo infinito da Noite. Somente pelas suas sombras castas e protetoras nos será permitido o amor, ocultos dos mesquinhos e miseráveis olhares humanos. Que a treva da noite seja o nosso arcanjo confidente, que conhece e cuida dos nossos mais fundos segredos.

- Vem comigo, que a Noite é o descanso e a paz tão almejados por ti. A Noite é o desconhecido, a Noite é a arte, a Noite é o mistério, a Noite é o amor. Eu te levarei por entre o além das existências e te libertarei de tudo o que é dia... De tudo aquilo que massacra o sonho, de tudo o que perturba as águas tranquilas e cristalinas dos lagos astrais. O mundo diurno das preocupações dos homens mais nada tem a te dizer. Esquece as palavras dos homens e escuta a dos anjos.

A ela somente respondi que a Noite era os olhares e os beijos dela, e por isso eu iria mergulhar-me mais e mais na escuridão noturna.

Nesse instante, ela puxou-me pela mão e levou-me em uma lenta caminhada até uma elevação situada no centro da mata. Escalamos a elevação com uma estranha suavidade e ao atingirmos o topo, percebi que de lá poderíamos avistar infinitos horizontes ao nosso redor. Então ela depositou um intenso beijo em meus lábios, disse-me para observar o que aconteceria nos horizontes e desceu a elevação como que flutuando etericamente.

Ali permaneci, sozinho e em terrível expectativa. Até que ao fundo penumbroso dos montes, um sol de um vermelho febricitante e incendiado surgiu com uma violência e rapidez absurdas. Em questão de minutos, subia ao alto dos céus, enquanto por todos os lugares incêndios se alastraram com velocidade vertiginosa, até onde minha vista alcançava. Pessoas em multidões incontáveis surgiam de todos os cantos, em uma correria desesperada e assustadora.

Tais pessoas destruíam de forma implacável tudo o que viam pela frente, inclusive elas mesmas, utilizando-se de avançadas e mortíferas máquinas. Massacres colossais derramavam oceanos de sangue por todos os campos em chamas, e o vermelho do líquido sanguíneo e das chamas nebulosas se confundiam e imperavam absolutas.
E enquanto o dia absurdo chegava ao seu auge, eu ali permanecia em solidão, sendo bombardeado sem proteção pelos raios devastadores do sol. Perguntava-me onde estaria ela, e quando finalmente retornaria a Noite...

17 março 2009

Aquecimento Global

vermelho sol de raios
fez dourar o azul sem nuvens
do céu da minha alma

chuva de fogo em chamas
alagou de incêndios vivos
os campos do meu peito

as geleiras da minha mente
derreteram gota a gota
em mar de pensamentos

ferveram as águas do que sinto
acendeu-se um sonho nos meus olhos
arderam rios pelo meu corpo...

com os teus beijos na minha boca

16 março 2009

Juremir contra Yeda

O colunista do jornal Correio do Povo, Juremir Machado da Silva, sempre muito acertado, incisivo, devastador em suas análises sociais (ainda que isso não aconteça em suas análises artísticas, na minha opinião), mais uma vez foi contundente em suas críticas contra o governo Yeda, no que se refere a sua relação com o magistério, ao tratamento revoltante dado à educação.

A seguir, transcrevo um trecho de sua coluna do dia 14 de março: "A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo em empilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala de aula para fazer economia a curto prazo e agradar o Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver no piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa. A punição foi para os professores grevistas. A recompensa, para o PMDB."

Genial, Juremir, genial! E eu ainda acrescentaria que há uma grande hipocrisia no Brasil. Todos falam que os trabalhadores devem se organizar de forma séria para lutar por seus objetivos, seu direitos, para mostrar à sociedade a importância de sua categoria, de sua profissão, para não serem exploradas pelos governos, o blábláblá de sempre. Porém, quando isso acontece, como é o caso do CPERS, toda a sociedade volta-se contra, dizendo que os professores tem que trabalhar e parar de reclamar. É o que dizem muitos senhores que se julgam cultos. É o que afirmam muitos jornais. E é assim que querem que os trabalhadores obtenham seus direitos? De boca fechada, aguentando quieto, como na ditadura? É por essas e outras que o Brasil é atrasado. E com a categoria de povo que tem, que prefere a acomodação ao protesto, vai continuar assim por muito tempo.

15 março 2009

Desprezo


quero ser aquele gato
negro bicho tão noturno
que não tem culpa de nada
que com nada mais se importa
que não tem seu rabo preso
pra fugir da humanidade
me ocultar entre o oculto
e miar para o infinito
pra ser sempre vagabundo
vendo almas e fantasmas
sem provar pra todo mundo
pra sonhar sem ter os sonhos
e dormir por entre a lua
quero ser aquele gato
ser sagrado e ser profano
ser um deus ser um demônio
e no fundo bem no fundo...

desprezar o ser humano

13 março 2009

A Perversidade Europeia


Uma quadrilha de traficantes de animais foi desarticulada pela polícia ambiental nesta semana em vários estados brasileiros, incluindo o RS. Tal quadrilha roubava das matas de nosso país mais de 500.000 animais por ano (500 mil animais por ano, meus senhores, estão conscientes desse número?). Os animais indefesos eram torturados para servirem aos interesses perversos do tráfico (sendo que mais de 80% deles morrem devido aos maus tratos) e depois vendidos para países europeus.


O pior é que todos esses monstros criminosos que massacram o que há de mais belo e puro em nosso país - seus animais - muito pouco pagarão por seus crimes, tendo em vista a tragédia que é a nossa justiça. Por mim, se aqui houvesse prisão perpétua, teriam prisão perpétua. E se aqui houvesse pena de morte, teriam pena de morte. Mas o Brasil é uma vergonha. Uma piada.


Mas ainda pior que esses traficantes imundos, são os perversos que compram nossos animais, inclusive sabendo como são tratados. E são os europeus, os norte-americanos, os que mais os compram, são os ricos. Para mim, eles também merecem prisão perpétua. No caso dessa quadrilha, seus compradores e cúmplices do crime eram europeus.


Sempre se diz que os países europeus devem servir de exemplo para todo mundo. Mas até que ponto? Como foi que a Europa enriqueceu? Será que foi somente por méritos próprios ou será que também foi pela exploração impiedosa que sempre fez recair sobre os países pobres, porém donos de incomensuráveis riquezas naturais? Todos sabem que países como Inglaterra, Espanha, Itália, Holanda, Portugal, França, Alemanha exploraram o máximo que puderam suas colônias na América, Ásia, África, e grande parte das riquezas que acumularam e permitiram seu desenvolvimento veio dos países hoje pobres.


E acabou essa exploração? Claro que não, hoje permanece através de suas multinacionais e da pilhagem de nossas riquezas naturais através do tráfico de animais e plantas, além de outras formas menos conhecidas. O custo da prosperidade de muitos dos países da Europa, e de vários outros, como os EUA, é a miséria de muitos outros povos ao redor do mundo. Ou alguém acha que o dinheiro que existe no mundo nao é suficiente para acabar com toda a pobreza que existe? É mais do que suficiente, mas se concentra nas mãos de muito poucos. E não vai deixar de ser assim.


E todos sabem, ou deveriam saber, que são esses mesmos países ricos os principais responsáveis pela poluição e degradação ambiental do planeta, pois são os que mais consomem e, assim, os que mais destróem o planeta, direta ou indiretamente.


Claro que a cultura europeia com todos os seus gênios do passado merece nossa mais profunda admiração, bem como o valor que dão a tais questões culturais e educacionais. Porém, a verdade é que nem mesmo a grande Europa salva-se da catástrofe que aniquila nosso planeta. Sua prosperidade custou e custa um alto preço para todo o mundo (incluindo-se aqui os demais países ricos de outros continentes), e a Terra não mais suportará manter seus níveis de consumo e de depredação natural por muito tempo...


(Na imagem acima, estão mais de 400 pássaros mortos pelas maus tratos causados pelo tráfico de animais, pássaros estes que seriam vendidos no mercado europeu)